quinta-feira, maio 31, 2018

Transcendendo a visão dos personagens

- Núcleo - 

Filhos de Deus!

Observem com atenção este modelo:

Surge num determinado tempo e local um “Iluminado”; ou seja, surge num tempo – há milhares, centenas ou a dezenas de anos; e num local – na Índia, na Judéia ou no Japão. Então os personagens percebem que se trata realmente de um “personagem incomum”, e passam a reverenciá-lO como “Iluminado”, “Mestre”, ”Filho de Deus”! A partir de então legiões de seguidores criam uma religião em torno da figura desse “personagem incomum” e então se dividem em budistas, cristãos, Seicho-No-Ie, ou outras religiões e denominações.

Sobre o que falou o Mestre?
- Falou sobre o Amor!

O que ensinou o Mestre?
- A irmandade entre os homens e a paternidade de Deus!

O que revelou o Mestre?
- O "reino de Deus” e o acesso a este reino.

Então, nesse ou em algum outro ponto começam as divergências entre os personagens sobre Quem é o “verdadeiro Mestre” e sobre o que Ele ensinou.

Este é o ponto aonde  quero chegar!

No instante em que começam as divergências entre os homens sobre "Quem é o 'verdadeiro Mestre' e sobre o que Ele ensinou”, o principal tema, o Amor, sobre o que falou o Mestre, foi deixado de lado; os personagens perderam o foco...

Os personagens “perdem o foco” toda vez que escolhem falar em vez de ouvir.

Por isso Jesus disse que o que contamina o homem não é o que entra pela boca, mas o que sai dela.

Os personagens “perdem o foco” quando, em vez de estarem atentos ao que “sai da boca”, começam a falar sobre o que deve ou não entrar pela boca.

Contudo, o que entra ou não pela boca é matéria e diz respeito a “este mundo”; mas o que sai pela boca está vindo da “mente dos personagens” ou da “Consciência do Ser”! E é a isto que devemos estar atentos! Ou seja, devemos estar atentos a ”o que estamos falando”, porque aquilo sobre o que estamos falando revela nosso estado de consciência ou de inconsciência sobre Quem somos!

Os personagens buscam relacionar o que “entra pela boca” com a natureza divina do Ser; mas é “o que sai pela boca” [se provém da Consciência do Ser] o que revela esta natureza divina; porque o que “entra pela boca” expressa ”um fazer” humano e o que “sai da boca” expressa “um estado de ser” divino.

Em um de seus escrito, Masaharu Taniguchi conta que, durante os vários anos de práticas ascéticas na floresta, Sakyamuni se policiou quanto ao que “entrava pela boca” e demais coisas que “fazia”. E foi no momento em que, após ter meditado sob uma árvore e estar com fome, aceitou um prato de arroz com leite de uma jovem e teve a “experiência de iluminação”… e então que passou a falar, a ensinar, sobre a Realidade de Quem somos e a expressar [pela boca], a real natureza do Ser.

Não se deve inferir do que foi dito acima que o ser humano não deva atentar ao que “entra pela boca” porque as escolhas humanas sobre nossas ações denotam o tipo de “personagens” que estamos escolhendo representar e os personagens normalmente se unem aos grupos de semelhantes. Assim, o que “entra pela boca” pode levar a nos aproximar de certos grupos de pessoas e nos afastar de outro grupo. O que Jesus quis chamar a atenção ao revelar que “o que contamina o homem não é o que entra pela boca mas o que sai” é que as pessoas não devem se distanciar ou se aproximar umas das outras pelo que ingerem, mas que devem se irmanar pela comunhão do Espírito e se unir na busca do reino de Deus. Por isso disse que todos deveriam buscar em primeiro lugar o reino de Deus e Sua Justiça e que não deveriam se inquietar sobre o que haveriam de comer ou o que haveriam de vestir.

Tanto no tempo de Jesus quanto nos dias de hoje existem grupos de personagens que se sentem “melhores seres humanos” em função do que comem. Há até os que veem nesta escolha uma efetiva e real ligação com Deus e procuram influenciar outros para que adotem a mesma escolha, e façam crescer o grupo dos que acreditam ser este o critério correto pelo qual o ser humano deve realizar suas ações e assim se conectar com Deus.

Contudo, Deus não faz acepção de pessoas!

Todos os “seres humanos” continuam sendo Quem são [seres divinos] aos olhos do Ser. Assim é porque todo ser humano é em realidade um “Nyorai” [significa: aquele provém da Grande Fonte] e o que os distingue ”neste mundo” é a percepção deste fato, que se revela pelo que compartilham com todos, sem diferenciar as pessoas pelo que comem ou pelo que usam.

Quando Sakyamuni aceitou um prato de arroz com leite de uma jovem donzela, ele estava - do ponto de vista de seus companheiros de práticas ascéticas - quebrando todas as regras! Mesmo assim, este foi o momento em que ele se tornou Buda; foi o momento em que Sakyamuni transcendeu a percepção da mente do “seu personagem”, que está na representação, e se conscientizou de que tudo está na Consciência de Quem Ele É, que é a única Realidade!

Assim, Sakyamuni percebeu que montanhas, nuvens, rios, arroz, leite, pássaros e a jovem donzela, enfim, todos os seres e todo o cenário, bem como o próprio personagem Sakyamuni que ele estava sendo [representando] estão na Consciência do Ser, que é Buda!

Notem com atenção que esta visão de Sakyamuni não é de fato a percepção do personagem Sakyamuni, mas sim, trata-e da percepção de Quem ele É.

Com esta visão é possível perceber que Sakyamuni não se tornou Buda, mas que ele sempre foi Buda! O divino personagem Sakyamuni que aparece na representação divina não é existência real. Enquanto personagem, na representação divina, ele nasce, envelhece, adoece e morre. Contudo, o Ser Real não é “quem está sendo”´; o Ser é “Quem É”. Assim, apenas Buda é existência real e Vive na Realidade do Ser.

Da mesma forma, com esta visão é possível perceber que você, leitor, não se torna Buda, mas que você sempre foi Buda! O seu divino personagem que aparece na representação divina não é existência real. Quem você É surge num determinado tempo e local, ou seja, surge na representação divina como um “Iluminado”. Então os personagens ao perceberem que se trata realmente de um “personagem incomum”, seguindo o modelo daquele comportamento mental condicionado passarão a reverenciá-lo como “Iluminado” ou irão querer crucificá-lo, assim como Sakyamuni foi reverenciado, e Jesus crucificado. Os personagens que assim agem estão julgando; o resultado do julgamento depende do critério que usam. Você será julgado como bom ou como mau, porque a mente humana não percebe o real; ela percebe apenas aquilo que consegue ver. Como o “real iluminado” não é o personagem mas o Ser, o julgamento estará sempre falho.

Apresentar-se como “um espelho” dá a chance àquele julga de perceber que está julgando e vendo a si mesmo no ”espelho” ou a chance de transcender a percepção de si mesmo.

Jesus deu a todos a chance de transcender a percepção de si mesmos quando disse: “Quem vê a mim vê Aquele que me enviou”.

Esta é a chave para a transcendência da visão dos personagens: ver com o olhar de Deus, ver com Amor! Só o Amor desvela o Amor.

Masaharu Taniguchi disse: “Cada um de vocês é um Masaharu Taniguchi.”

Sakyamuni ao se iluminar percebeu: "Eu Sou Buda. E não há nada que não seja Buda!"

Enfim, nenhum critério humano, nenhuma prática ascética, nenhuma alimentação especial, nenhum exercício físico, nada do que algum personagem “faça” poderá alçá-lo à condição de Buda, de Mestre ou de Filho de Deus. Uma única percepção e o real se revela. Contudo, é apenas Deus Quem Se percebe!

Busque esta dimensão que está em nós, o reino de Deus, e Ele Se revela!

Notem que a prática da Meditação Shinsokan pode nos alçar à percepção da Realidade divina, mas atentem ao fato de que ela é realizada com a "percepção da Imagem Verdadeira" em nós, e não com a percepção da mente de um personagem.

Meu personagem compartilha percepções com plena consciência de que estas percepções não vem da mente de um personagem, e então diz: “Isto sou Eu!” Da mesma forma meu personagem compartilha percepções conscienciais de outros personagens e diz: “Isto sou Eu!”

Compartilhar estas percepções é uma forma de fazer com que outros personagens olhem para a direção certa! Isto faz com que se despertem para o fato de que não é o que fazemos que revela Quem somos, mas sim, o que percebemos consciencialmente! As percepções compartilhadas por Sandy Nat, pelo padre Charles Ogada e pelo senhor Sawada, já citadas em outros textos do Núcleo, são exemplos de percepções da Realidade de Quem Somos. Meu personagem as enfatiza porque é o algo a ser percebido, que nos revela uma visão transcendida da realidade de personagens.

Com esta visão da Realidade de Quem Somos sabemos que somos seres divinos, não sujeitos a nascimento, envelhecimento, doença e morte. E sabemos que a simples percepção desta Realidade torna esta representação algo ainda mais divino, porque é divino estar na representação com percepção de que é a própria representação divina que está em nós!

Então percebemos que o Mestre que apareceu em algum tempo e local, em realidade está EM nós!

E compreendemos a revelação do Mestre de que “virá novamente”; de que Cristo voltará, de que Masaharu Taniguchi irá nos reencontrar; e a revelação de Sakyamuni de que somos Buda desde o início dos tempos!

É esta a visão consciencial que meu personagem tem desfrutado e que a está compartilhando, usando como exemplo percepções conscienciais compartilhadas por outros personagens para que esteja evidente que estas percepções não pertencem a um personagem em especial, mas sim a Quem Somos. Assim, fica também evidente que o real iluminado, o Mestre, é Quem Somos [o Ser Real] e não quem estamos sendo [o personagem].

É o que percebo, desfruto e compartilho.

Saúdo a todos os Nyorais.

terça-feira, maio 29, 2018

A experiência de "Iluminação"

- Núcleo -


A questão é: Pode um “personagem” se iluminar?

Pode o “cebolinha” [personagem criado por Maurício de Souza] se tornar consciente de que ele é uma ficção do próprio Maurício de Souza?

Mesmo que o Maurício de Souza escreva um texto no qual o cebolinha adquira esta consciência, ou seja, se “ilumine”, seria esta uma experiência real do cebolinha? O fato é que a “experiência de iluminação”, como toda “experiência”, está no campo da “representação”, na qual estão inseridos os personagens do Ser. Assim, a experiência de iluminação ocorre apenas na “representação”. O que todos os que se “iluminaram” descrevem é que eles se tornaram conscientes de que eles não são “personagens”, e que sua real identidade é a de Quem sempre foram, que é o Ser Real, porque nenhum personagem é real.

Se o “personagem” não é real, não há alguém [real] para se iluminar… e Aquele que é o real iluminado, a real identidade de todos os seres, o Real “Autor” dos personagens criados, não está na representação, mas sim em Sua própria Realidade! Assim, a experiência de iluminação é isso: uma experiência que ocorre apenas no âmbito da própria representação e que, então , altera “a fala” do personagem a respeito de Quem ele É e de Quem todos Somos.

O algo a ser notado aqui é que a “percepção” de Quem Somos não está na “mente do personagem” que estamos sendo, mas sim, está na “Consciência do Ser” que [já] somos. Ou seja, esta percepção está em Quem sempre fomos e sempre seremos; está além da realidade de “quem estamos sendo”, pois, a “realidade de quem estamos sendo” é uma representação divina e não a Realidade.

Apenas em certo sentido é possível que um personagem se ilumine… no sentido de que ele perceba que não é quem está sendo, que é Quem sempre foi, “antes que houvesse mundo…”, ou seja, antes que houvesse a representação. Aqui a palavra “antes” é empregada não no sentido temporal, mas no sentido de “a despeito de haver” ou “independentemente de” haver alguma representação. A percepção é a de que não há um personagem que se ilumina; não há um personagem que percebe Sua real identidade, e que é o próprio Ser Real Quem Se percebe, como sempre Se percebeu. Na representação vai parecer que um personagem teve a “experiência de que se iluminou”!

Porém, nossa real identidade é que somos o Ator, não os personagens! Já somos Quem Somos, somos o Ser Real antes que houvesse mundo [antes que houvesse a representação divina…].

O que a “mente do personagem” pensa sobre isso não altera a realidade! Se pensa que a iluminação é possível ou que não é possível; se pensa que é algo real ou não, isso não altera a realidade de que a “iluminação” é uma “percepção”, não um pensamento. Essa percepção não é do personagem e nem mesmo de um personagem específico. Apenas o Próprio Ser Se percebe, e percebe que não há nenhum “outro”, não há nada além de Si mesmo e de Sua Realidade! E a bem-aventurança dessa percepção divina também só é percebida por Si mesmo!

Mas, enquanto se identificando como sendo um personagem, ninguém deve se desesperar pensando que não terá a experiência de iluminação. Não pense assim, pois, ela é inevitável! É o próprio ato de “pensar” que ativa a percepção da mente do seu personagem e cria a “ilusão de separação”, a visão dual de que existe o personagem e o Ser; você e Deus... Pois só o Ser é real. Enquanto a mente do personagem pensa em termos de “existência” [que significa “ex-sistere”, ou seja, algo que está fora] a Consciência do Ser percebe a “seidade”, no sentido de aquilo que É em si mesmo, ou seja, algo que é o próprio “Ser”, e que É em “Si mesmo”; aquilo que É o que É! Portanto, não pense! Simplesmente perceba! Perceba Quem percebe em você e perceberá que não há um “você”, mas apenas Quem percebe… “Aquieta-te e saiba: Eu Sou Deus!”

Perceba apenas: “Eu Sou Aquilo”
É o que na representação divina… percebo, desfruto e compartilho!

Assim seja!
Assim É…


segunda-feira, maio 21, 2018

Samadhi - O Filme (Parte 2)

(Para visualizar a legenda em português, clique no botão "detalhes" e selecione a opção das legendas)


E para acessar o vídeo Samadhi - O Filme (Parte 1), clique Aqui
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quinta-feira, maio 17, 2018

A Voz Silenciosa

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"Está escrito que, para aquele que está no limiar da divindade, nenhuma lei pode ser criada, nenhum guia pode existir. Contudo, a fim de instruir o discípulo, o esforço final pode ser expresso da seguinte maneira: Agarre-se firmemente àquilo que não tem nem substância nem existência."

"Está escrito que, para aquele que está no limiar da divindade, nenhuma lei pode ser criada, nenhum guia pode existir..." 

O supremo é desconhecido. Nada se pode dizer sobre ele porque nada que possa ser dito será verdadeiro. Ele permanece indefinível, desconhecido, inexplorado, por muitas razões. Não somente desconhecido, mas, em certo sentido, incognoscível.

A primeira razão é que aqueles que nele penetram nele se dissolvem. Eles não podem permanecer eles mesmos. São totalmente destruídos por ele. Eles renascem, são totalmente novos. E somente o velho pode definir.

Tente compreender isto. Somente o velho pode definir. Se eu vejo você e já o vi antes, reconheço-o prontamente. Quem o reconhece? O passado. Porque o conheci antes, lembro-me do seu rosto, reconheço-o. O reconhecimento ocorre devido ao passado. Mas se minha mente estiver totalmente limpa e eu tiver esquecido completamente o passado, ou se minha memória for eliminada e não houver nenhuma conexão com o passado, não posso reconhecê-lo. Aquele que penetra no supremo perde completamente seu passado; assim, ele não pode reconhecer o que está acontecendo agora. Não há nenhuma referência.

Em segundo lugar, você pode reconhecer apenas aquilo que conheceu antes. E este fenômeno do divino é absolutamente desconhecido. Você nunca o conheceu antes. Em que termos interpretá-lo, defini-lo? Você não tem nenhuma referência, não possui nenhum termo, não tem nenhuma definição. A experiência é absolutamente nova – como traduzi-la numa linguagem?

Em terceiro lugar, quando você penetra no supremo, a linguagem torna-se impossível, pois toda a linguagem se baseia na dualidade. Você define a vida pela morte. Talvez não esteja consciente desse absurdo. Você define a matéria pela mente, define a mente pela matéria. Se alguém pergunta: “Que é matéria?” – você responde: “É aquilo que não é mente.”... Mas tem certeza? Que é mente? Então você define a mente como aquilo que não é matéria. Você se move em círculos.

Quando lhe é feita a pergunta a respeito da matéria, você fala a respeito da mente como se conhecesse a mente. Você diz: “Aquilo que não é mente.” Mas se alguém lhe pergunta: “Que é mente?” – você passa a defini-la em termos de matéria: “Aquilo que não é matéria.” Ambas são desconhecidas. Mas você está enganando a si mesmo. Quando lhe perguntam a respeito de uma, você a define pela outra. Quando lhe perguntam a respeito da outra, você a define pela primeira. Ambas são indefiníveis.

No que se refere às atividades terrenas, não há nada de mal em agir dessa maneira. É proveitoso, útil. Não verdadeiro, mas útil. Porém, quando você penetra no supremo, esse dualismo não será de nenhuma serventia. Você não pode definir o divino por alguma coisa que esteja em oposição a ele, porque não há nada que esteja em oposição a ele. Ele é o todo.

Você pode dizer que a matéria não é mente, ou pode dizer que a mente não é a matéria, porque a mente não é o todo e a matéria não é o todo; matéria e mente existem como opostos um do outro. Você pode definir cada um deles pelo seu oposto. Pode dizer que a vida não é morte; pode dizer que a morte não é vida. Pode dizer que a escuridão não é luz e que luz não é escuridão. Pode dizer que homem não é mulher e que mulher não é homem. Pode continuar definindo através do oposto.

Mas qual é o oposto do divino? Não há nada em oposição a ele. “Divino” significa o todo, a totalidade; portanto, como defini-lo? Ele é indefinível, porque todas as definições se baseiam nos opostos e nada está em oposição a ele. A linguagem mostra-se inútil. Ela diz: “Não posso penetrar nessa dimensão.” – A linguagem existe na dualidade e não pode penetrar no não-dual.

O divino é desconhecido porque é exatamente como o céu. Não é como a Terra. Se você caminha sobre a Terra, deixa pegadas atrás de você; outros podem segui-lo. Você passou por um certo lugar –outros podem segui-lo. Seguindo suas pegadas, eles podem chegar ao lugar onde você chegou. Mas a totalidade – o divino, ou Deus, ou como você preferir chamá-lo: X, Y, Z, o Todo – é exatamente como o céu. Pássaros voaram através dele mas nenhum rastro foi deixado. Você não pode segui-los. Precisa começar do ABC.

Sempre que você penetra no divino... Buda penetrou antes de você, Jesus penetrou antes de você, Krishna penetrou antes de você, mas não há pegadas. Quando você penetra no divino, é como se o homem estivesse penetrando pela primeira vez. O céu permanece virgem, intacto, sem marcas. Mas isso é bom. Essa absoluta virgindade é boa porque então a experiência é unicamente sua.

De outro modo, se você encontrasse as pegadas de Buda, as pegadas de Krishna – mapas, definições, manuais – tudo seria de segunda mão. Muitos conheceram isso, muitos chegaram antes de você. Eles diriam tudo o que você poderia chegar a conhecer. Tudo seria de segunda mão.

Mas o divino não é de segunda mão; é sempre de primeira mão. Sempre que você penetra nele, é como se estivesse penetrando pela primeira vez. Ninguém penetrou antes de você e ninguém penetrará depois, porque nenhuma pegada pode ser deixada; cada um é único.

É por isso que todas as experiências terrenas tornam-se cansativas. Ficamos fartos porque tudo se torna de segunda mão; tudo se torna emprestado. Algum outro já conhece; nada é virgem.

O divino é sempre virgem, absolutamente virgem. Você não pode estragá-lo, não pode torná-lo velho, não pode torná-lo repetitivo. É por isso que nada pode ser definido, nada pode ser mapeado, nenhum guia pode ser fornecido.

"Contudo, a fim de instruir o discípulo, o esforço final pode ser expresso da seguinte maneira..." Mas apenas para instruir o discípulo - aquele que ainda não penetrou mas que está a um passo, pronto para dar o salto – pode-se tentar dizer alguma coisa, podem ser dadas algumas indicações. Mas não se deve tomá-las em nenhum sentido absoluto. Trata-se apenas de uma ajuda, de última ajuda que pode ser dada.

Esta é a última instrução do Mestre:

"Agarre-se firmemente àquilo que não tem substância nem existência."

Agarre-se firmemente àquilo que não tem substância nem existência. Temos aqui duas coisas. A matéria tem substância; é substancial. Se eu atirar uma pedra em você, há nela substância, massa. Ela o atingirá; matéria é substância. Mas o que é a mente? O que é você, em seu interior, em sua consciência?

A consciência não é uma substância. Ela existe, tem existência, mas não é uma substância. Não posso atirar uma consciência em você. E, mesmo se eu pudesse, você não seria atingido. A consciência existe; a matéria subsiste. A matéria tem substância; a consciência tem existência.

Este sutra diz: "Agarre-se firmemente àquilo que não tem nem substância nem existência." 

O divino não tem nem uma nem outra. Ele não é como a matéria, não é como a substância. Ele não é como a mente ou a consciência. Você não pode dizer que Deus é substância e não pode dizer que Deus existe.

Há muitas razões para isso. Quando você diz que Deus existe, está fazendo uma afirmação tautológica, uma repetição. Quando digo que esta mesa existe, essa afirmação é significativa, porque a mesa pode deixar de existir; podemos destruí-la. Mas quando digo que Deus existe, trata-se de uma afirmação sem sentido, porque Deus não pode deixar de existir e não pode ser destruído. A existência é significativa somente se a não-existência for possível. Se a não-existência é impossível, a existência não tem sentido.

Quando você diz que Deus existe, o que você quer dizer? Que Deus pode não existir? Então, essa afirmação seria significativa. Mas se você quer dizer que ele não pode estar num estado de não-existência, então o que você realmente está dizendo é que Deus é existência, e não que Deus existe.

Deus não pode existir; Deus somente pode ser a existência. Quando digo que a mesa existe, a mesa não é a existência. Ela pode sair da existência; portanto, a proposição é significativa. Quando digo que Deus existe, a proposição é sem sentido, porque ele não pode sair da existência. Quando digo que Deus existe, estou dizendo que a existência existe. Uma tautologia, uma repetição, inútil. Até mesmo dizer que Deus é trata-se de uma proposição sem sentido, porque ele é o próprio estado-de-ser. Não há necessidade de se dizer é. Deus não é; ele é o estado-de-ser.

Você não pode dizer que Deus é substância, assim como não pode dizer que ele existe. Ele está além de ambos: além da matéria e além da mente. Ou, ele é as duas. De qualquer maneira, ele transcende.

Assim, estas são as últimas instruções para o discípulo, quando está prestes a penetrar no templo do divino. Nada mais pode ser dito.

Lembre-se, Deus não é matéria. Possuímos uma ideia de Deus enquanto matéria. É por isso que criamos ídolos, criamos templos, fazemos imagens. Substâncias!

O islamismo não permite que se façam ídolos de Deus justamente por este motivo: para que Deus não seja identificado, de modo algum, com a matéria. Nenhum ídolo, nenhuma imagem pode ser feita de Deus, porque uma imagem produz a idéia de substância, e ele não é substância.

Mas então concebemos Deus enquanto mente: o controlador, o criador, o que dá o sustento. Temos uma vaga ideia de Deus como uma mente suprema, que está sentado em algum lugar no céu controlando todas as coisas. Mas, nesse caso, Deus torna-se a mente. Ele pode ser um notável engenheiro ou, como diz Platão, um grande matemático, mas a ideia é de que ele é a mente. Ele não é nem mente nem matéria. Ele está além de ambas.

Este sutra diz: lembre-se dessa transcendência. Ele não é nem o exterior nem o interior. Não é nem o corpo nem a mente. Não é nem uma coisa nem um pensamento. Antes de você penetrar no templo supremo de onde nenhum retorno é possível, lembre-se disto: "Agarre-se firmemente àquilo que não tem nem substância nem existência."

"Ouça apenas a voz que é silenciosa."

Ouça apenas a voz que é silenciosa. Todos os sons são criados. Todos os sons que conhecemos são, de um modo ou de outro, criados. O vento sopra, e um som é criado. Você bate palmas e um som é criado. Eu falo, e um som é criado. Mas todos estes sons são criados. Eles morrerão, porque aquilo que nasce está destinado a morrer, aquilo que é criado será destruído.

Há algum som que seja incriado? Se há algum som incriado, a verdade pode ser expressa somente através dele – porque aquilo que pode morrer não pode expressar a verdade. É por isso que se diz frequentemente que a verdade só pode ser expressa no silêncio; não pode ser dita através das palavras.

As palavras podem levá-lo ao silêncio, mas não podem exprimir a verdade. As palavras morrerão, e aquilo que é imortal não pode ser dito através de palavras mortais. Como poderão sê-lo? É impossível. Como aquilo que é eterno pode estar contigo no temporal? Como aquilo que é atemporal pode ser trazido para o tempo? Como aquilo que está além do espaço pode ser colocado em algum lugar num templo, num espaço? A verdade só pode ser revelada através de alguma coisa que seja eterna.

Por intermédio da meditação, muitos buscadores chegaram a conhecer, em seu interior, um som sem som, um som silencioso. As palavras são contraditórias: "um som sem som". Ele é sem som porque você não pode ouvi-lo através de seus ouvidos. Ele é sem som porque o som é sempre criado através do conflito, e não há nenhum conflito. O som é sempre criado através da dualidade, duas coisas em conflito; mas não há duas coisas no coração. Ele é sem som porque não pode ser ouvido; só pode ser vivenciado.

Lembre-se: "Ouça apenas a voz que é silenciosa."

Como se pode ouvir uma voz que é silenciosa? Há, no Zen, um koan: ouvir o som de uma única mão batendo. Os monges zen chamam a isto de a mais profunda meditação: tentar ouvir um som incriado. Se você ficar meditando, meditando – apenas sentado e meditando, tentando ouvir – ouvirá muitas coisas. Esta é uma das técnicas mais belas. Feche os olhos, sente-se sob uma árvore e comece a ouvir. Você ouvirá muitos sons novos, dos quais nunca esteve consciente antes. Pássaros, insetos... Lentamente, muito lentamente, você se tornará consciente de muitos sons ao seu redor. Continue procurando qual som é incriado.

Todo som é criado. Um pássaro começa a cantar e então pára. Aquilo que foi criado moveu-se agora para a não-existência. Continue ouvindo, continue ouvindo. Continue tentando encontrar qual é o som incriado. Aos poucos, sons ainda mais sutis serão ouvidos. Você começará a ouvir as batidas do seu próprio coração, começará a ouvir sua própria respiração. Mas isso também é criado. Seu coração parará, sua respiração não pode continuar eternamente. Ela não esteve sempre aí. Quando uma criança nasce, não há nenhuma respiração. Então, de repente, a criança começa a chorar e a respiração se inicia.

Continue ouvindo profundamente. Estes não são sons-sem-som. Jogue-os fora, elimine-os. Você começará a ouvir o som de sua circulação sanguínea. Ainda mais sutil. Você não tem, habitualmente, consciência da circulação de seu sangue. Você o ouvirá circulando, ouvirá o som. Mas este também é um som criado, criado pela circulação, pelo conflito. Continue eliminando. Se você persistir o bastante, chegará finalmente um momento em que todos os sons terão desaparecido, você não pode ouvir nada. Uma brecha é criada; todos os sons desaparecem. E, com esses sons, todo o universo desaparece para você, como se você tivesse caído num vazio.

Agora, ao chegar a este ponto, não tenha medo. Caso contrário, você recuará novamente para o mundo dos sons. Permaneça sem nenhum receio. Isto será semelhante à morte, e é uma morte porque quando todos os sons são perdidos, você também perdeu sua mente. Sua mente é apenas uma caixa barulhenta. Você não tem mais nenhuma mente. Com a ausência dos sons, o mundo não está mais presente. Você se sentirá como se tivesse morrido; você não existe mais. Você não era mais do que uma combinação, uma reunião de sons.

Persista. Esta morte é bela porque é a porta para o divino. Continue tentando ouvir o que está agora aí. Depois desse intervalo, se você passou por ele sem se tornar amedrontado e assustado...

Se você se amedrontar, recuará novamente; correrá de novo para o mundo dos sons. A mente começará a funcionar outra vez. Mas se você permanecer sem nenhum temor e conseguir persistir nesse intervalo, onde não há som algum, tornar-se-á consciente de um novo som, que é incriado. Este som é chamado pelos hindus de omkar: aum. Aum é apenas um símbolo para o som que está sempre presente no centro mais profundo. Aum, aum, aum – esse som está vindo de dentro, incriado. Ninguém o está emitindo. Ele apenas está ali.

Esse é o som sem som – incriado. E somente com esse som você pode penetrar no santuário.

"Olhe somente para aquilo que é igualmente invisível aos sentidos internos e externos."

Olhamos para o mundo com os sentidos externos. A matéria é percebida. Mas a matéria não está realmente ali. Os físicos dizem, atualmente, que a matéria não existe. Ela é simplesmente energia, energia vibrando. A matéria é ilusória. Isso é muito estranho. No Oriente, os místicos sempre disseram que a matéria é ilusória, maya. Com isso, eles queriam dizer que tudo não é o que parece. Os físicos de hoje concordam com Shankara; Einstein concorda com o Vedanta. Os cientistas também afirmam, atualmente, que a matéria é ilusória. Jamais alguém pensou ou imaginou que algum dia também a ciência afirmaria que a matéria é ilusória.

A matéria parece ser, mas não é. Ela é energia. Mas é uma energia movendo-se com tamanha velocidade, com uma velocidade tão incrível, que não é possível vê-la se mover. É por isso que ela parece ser matéria imóvel. Os elétrons se movem com uma velocidade tão espantosa que você não pode vê-los em movimento. Eles dão a ilusão de imobilidade, de substância.

A matéria não existe realmente. Mas, através de seus sentidos externos, a matéria aparece. Trata-se de sua interpretação. A mente também não existe; mas através de seus sentidos internos ela parece existir. Então, o que é real? Se você olha através de seus sentidos externos, a matéria aparece, mas ela é irreal, não-real; e se você olha com seus sentidos internos, a mente aparece, mas ela também é irreal, também é uma interpretação dos sentidos. O misticismo oriental diz que o real só pode ser encontrado quando você deixou de usar tanto os sentidos externos quanto os internos. Quando nenhum sentido é usado, não há possibilidade de se distorcer a realidade. Então, imediatamente, você está na realidade.

Os sentidos fazem distinções. Eu olho para você. Não sei o que você é, como você é, mas meus olhos olham para você e me fornecem uma determinada informação. Não posso chegar em você diretamente; os olhos são os mediadores. Seja o que for que eles disserem, tenho de acreditar.

Seja o que for que seus sentidos disserem, você tem de acreditar. Não pode saber se é uma realidade ou não. Seus sentidos podem ser deficientes, ou podem estar interpretando o mundo de uma maneira errônea. Não há nenhum modo de saber se os seus sentidos estão interpretando de forma errada ou correta. Não há como saber, pois, seja o que for que você souber, saberá através dos sentidos. Não há outro modo de saber, de julgar e de comparar.

Por esse motivo, Emmanuel Kant disse que nenhuma coisa pode ser conhecida em si mesma. Não há nenhuma maneira de se conhecer uma coisa em si mesma, pois, seja o que for que você conheça, você a conhece através dos sentidos. Você não pode conhecer nada diretamente, apenas indiretamente. Você tem de acreditar em seus sentidos. Quem sabe o que é que está realmente ali? Você nunca esteve ali. Seus sentidos vão até ali e o informam. Você está sempre à distância, interpretando.

A mesma coisa acontece quando você começa a usar seus sentidos internos. Eles o informam a respeito daquilo que se encontra do lado de dentro: o que é a alma, o que é o eu. Mas isso também é apenas uma interpretação dos sentidos.

Este sutra diz: "Olhe somente para aquilo que é igualmente invisível aos sentidos externos e internos.". O real é invisível a ambos. Não pode ser conhecido através da mente; não pode ser conhecido através da meditação. Quando tanto a mente como a meditação são lançadas fora, só então você pode penetrar na realidade. Quando não há meditação, quando você chega diretamente até ela, quando você penetra nela, quando não há mais distância, quando você tornou-se a realidade, só então você pode conhecê-la.

Isso pode ser dito de um modo diferente: Você não pode conhecer Deus, a menos que se torne o próprio Deus. Se você diz que pode conhecer Deus sem tornar-se Deus, está dizendo algo que é impossível. Por causa disso, uma coisa muito estranha tem acontecido. Tanto o cristianismo como o maometismo pensam que afirmar que você pode tornar-se Deus é sacrilégio, profano, irreligioso; não demonstra respeito. A atitude maometana a esse respeito tem sido tão obstinada que os maometanos mataram Mansoor e outros místicos sufis por terem declarado que eram Deus.

Mansoor disse: “Analhaque. Eu sou o divino.” Ele foi morto, porque isso é demais! Um ser humano dizendo que é Deus? Mas o que Mansoor está dizendo é uma verdade muito simples, básica. Ele está dizendo que você, ou pode dizer que Deus não pode ser conhecido, ou pode admitir que o homem pode tornar-se Deus. Pois, como pode Deus ser conhecido, a menos que você esteja nele? A menos que você penetre nele e torne-se um com ele, como pode conhecê-lo? Você pode apenas ficar dando voltas e mais voltas ao redor dele. Mas, seja o que for que venha a conhecer, é apenas uma informação obtida do exterior; não é um conhecimento direto.

Mansoor diz que você pode conhecer Deus somente se se tornar o próprio Deus. Não há outro modo. Como você pode conhecer a partir do exterior? Como pode conhecer, a menos que se torne o próprio coração da divindade, a menos que você mesmo se torne divino?

Este sutra diz que a realidade não pode ser conhecida, quer pelos sentidos externos – os sentidos externos interpretam a realidade como matéria –, quer através dos sentidos internos – os sentidos internos interpretam a realidade como mente. A realidade só pode ser conhecida quando você dá um salto na própria realidade, sem quaisquer mediadores; quando você perde sua mente e também sua meditação.

A meditação está concluída quando você é capaz de largá-la. Então você entra em samadhi, entra na realidade, no supremo.

"Que a paz esteja com você."

Só então a paz pode estar com você; nunca antes. Antes disso, você permanecerá, de um modo ou de outro, angustiado; permanecerá, de um modo ou de outro, tenso. Você é a tensão, é a angústia, é o conflito. O problema é o seu sentimento de que "você é". Quando você não é, o problema não existe.

Como você pode estar num estado de não-existência? Como pode cessar de existir? Esse é o caminho para a paz. Se você pode cessar de ser, você penetra na realidade; penetra na paz infinita, na paz absoluta.

Seu ser, enquanto separado do todo, é o problema. Você se sente como um intruso, um estranho, um alienado. Essa alienação cria a perturbação, essa alienação cria o medo, essa alienação cria a morte. Você não pode estar em paz. Quando você joga fora completamente sua alienação e se dissolve na realidade, funde-se nela, perde-se a si mesmo nela – quado você não é mais, e só a realidade é –, então, e apenas então, você pode encontrar aquela paz que é impossível de ser perturbada, que nada pode ameaçar.

Lembre-se de que você é a doença. Você não pode ser curado porque você é a doença. Se a doença fosse outra coisa qualquer, poderia ser curada, mas você é a doença. Não pode ser curado; você é incurável. Jogue fora a doença. Jogue fora a si mesmo, sinta como se você não existisse. Crie, cada vez mais, o sentimento de ser ninguém, de ser o nada.

Mova-se para o não-ser, porque o não-ser é a porta para o ser supremo. Quando você cessar completamente de ser, você será divino. Quando você não for, você será o próprio Deus.


segunda-feira, maio 14, 2018

O Segredo Derradeiro


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"Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que ele guarda para você através dos tempos.

A grande e difícil vitória, a conquista dos desejos da alma individual, é um trabalho que requer tempo; portanto, não espere obter sua recompensa, enquanto não forem acumulados muitos anos de experiência. Quando o momento de aprender esta regra é chegado, o homem está a ponto de se tornar mais do que homem.

O conhecimento, que agora é seu, só lhe pertence porque sua alma tornou-se una com todas as almas puras e com o mais íntimo. Ele é um bem que lhe é confiado pelo Supremo. Traia-o, faça mal uso de seu conhecimento ou negligencie-o, e é possível que, mesmo agora, você caia do elevado estado que alcançou. Seres notáveis já caíram, até mesmo do limiar, incapazes de sustentar o peso de suas responsabilidades, incapazes de passar adiante. Portanto, aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento, e esteja preparado para a batalha."
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"Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que ele guarda para você através dos tempos." Somos muitos apenas na periferia; a multiplicidade existe apenas na circunferência. Quanto mais nos movemos em direção ao centro, mais nos movemos em direção ao uno. No centro, somos um.

Na periferia, existimos como muitos. Sua personalidade é diferente da personalidade do seu vizinho. Sua individualidade é diferente de todas as demais. Mas seu centro mais profundo não é diferente. Seu centro mais profundo é o centro mais profundo de tudo. Quando você o alcança, alcança o uno.

O mundo todo é apenas a circunferência. O centro – você pode chamá-lo de Deus ou pode chamá-lo de Alma Suprema ou do que preferir – mas quando você alcança o seu centro mais profundo, alcança o centro mais profundo de tudo. E aí, nesse uno, todos os segredos estão ocultos. Aí, todos os mistérios podem ser revelados a você.

Você não pode conhecê-los antes disso. A menos que penetre no templo mais profundo do uno, os mistérios permanecerão mistérios. Você pode criar muitas teorias e filosofias sobre eles, mas não serão de nenhuma utilidade; serão fúteis, insignificantes. Você pode filosofar à vontade, mas nada pode ser concluído. Isso tem acontecido por muito tempo. Muitos séculos se passaram e os homens estiveram filosofando, criando milhares e milhares de filosofias, teorias e sistemas sem nenhum resultado. Você pode criá-los, mas trata-se de algo mental. Você não conhece verdadeiramente.

Você pode apenas imaginar. Pode criar um sistema bastante coerente de pensamentos, mas não será outra coisa senão seus pensamentos, seus sonhos. Os filósofos são criativos, mas criam sonhos, fantasias. Criam sistemas lógicos, apresentam argumentos para defendê-los, mas a verdade não pode ser criada através de sistemas lógicos; a verdade não pode ser alcançada por argumentos. Seja o que for que você alcance, será apenas uma hipótese. A verdade só pode ser alcançada através da experiência.

Essa é a diferença entre filosofia e religião. A religião diz que a verdade não é conhecida porque você não é capaz de conhecê-la. A menos que você seja totalmente transformado – a menos que se torne um ser diferente, a menos que sua perspectiva mude, que seu modo de ver mude, que seus olhos mudem, que seu coração mude – você não conhecerá a verdade. A verdade não pode ser conhecida através da contemplação; ela só pode ser conhecida através da sua transformação interior.

A contemplação é possível, mas você permanece o mesmo; apenas continua a pensar com a sua cabeça. Você pode criar muitas coisas em sua cabeça. Pode acreditar nelas, mas sabe que elas são criações suas. A verdade não é uma criação; você não pode criá-la. Pode apenas revelá-la, descobri-la – ela está oculta. Os argumentos não serão de nenhuma ajuda. Somente uma autêntica viagem para dentro será de alguma utilidade.

A religião é antifilosófica. Ela diz que a filosofia não tem nenhuma utilidade; trata-se apenas de uma ginástica intelectual. Você pode apreciá-la; é um jogo de palavras, de lógica, de argumentos, mas não lhe dará nada; você não chegará a parte alguma. Estará apenas sentado em sua cadeira confortável, com os olhos fechados, pensando, pensando e pensando. Você pode continuar pensando por muito tempo. Pode pensar coerentemente, consistentemente, mas, mesmo assim, não dará um passo sequer na direção da verdade.

Você pode até mesmo se afastar cada vez mais, porque a verdade não é uma construção mental. Ela já está aí; não é uma construção mental. Ao contrário, por causa de sua ação mental, devido à excessiva atividade de sua mente, a verdade fica ocultada. Sua mente cria as nuvens. Você fica se movendo nas nuvens e o céu é ocultado. Disperse as nuvens, disperse os pensamentos, disperse os argumentos, a lógica, as filosofias, e subitamente a verdade se revela. Ela sempre esteve aí; ela já é um fato. Você não precisa fazer nada para criá-lo. Você precisa simplesmente ser dócil a ela, render-se a ela, sem pensamentos, alerta, atento, e ela se manifesta. Ela sempre esteve aí. A verdade está oculta dentro de você; portanto, você não precisa ir a parte alguma. Não há necessidade de ir para o Himalaia. A única coisa necessária é ir para dentro.

Este sutra diz: "Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que ele guarda para você através dos tempos."

Mas somente através do não-pensar é que você pode perguntar. Isso parece contraditório, pois sempre que perguntamos utilizamos o pensamento. O nosso método habitual de perguntar consiste em pensar e pensar. Mas esse questionamento, o questionamento religioso, não consiste em pensar. O questionamento religioso pode ser feito somente quando você está alerta e sem pensamentos.

Lembre-se disto: dou ênfase ao estado de se estar alerta, sem pensamentos, porque quando você não está pensando, se não estiver também alerta, poderá adormecer. Então não será de nenhuma utilidade. Quando você está pensando, está alerta, mas de nada adianta, porque o pensamento cria as nuvens. Ou então, você pode estar sem pensamentos e não-alerta, e adormecido. Isso também de nada adianta, porque o céu está ali mas você está adormecido e não pode vê-lo. Portanto, duas coisas são necessárias: o não-pensar e o estar alerta. Consciência, sem nenhum pensamento. Atenção, sem nenhuma mente. Se você pode criar este fenômeno em seu interior (de um lado, nenhuma mente, de outro, atenção), isso é meditação; é a isso que denomino dhyana.

Nesta situação, a verdade torna-se revelada. E essa verdade é una, a mais profundamente una. Ela não é sua. Esse centro é o centro de toda a existência.

Você existe apenas na periferia, na circunferência. Quanto mais para dentro você se move, menor você se torna. Quando alcança o centro mais profundo, você não existe mais. Num certo sentido, você não existe mais; o velho morreu. Mas, num outro sentido, você existe pela primeira vez, pois agora a realidade mais profunda lhe é revelada, o eterno lhe é revelado. Agora você alcançou aquilo que nunca muda.

O sutra continua:

"A grande e difícil vitória, a conquista dos desejos da alma individual, é um trabalho que requer tempo; portanto, não espere obter sua recompensa, enquanto não forem acumulados muitos anos de experiência. Quando o momento de aprender esta regra é chegado, o homem está a ponto de se tornar mais do que homem."

Quando você vai para dentro, em direção ao uno, atinge um novo estado de existência e de ser. Torna-se mais do que homem; torna-se um super-homem. Você vai mais alto que a condição humana; o animal humano é transcendido.

O animal humano vive adormecido, num sono profundo, inconsciente. Você vai fazendo coisas enquanto está profundamente adormecido. Anda pela rua e está adormecido. Come seu alimento e está adormecido. Ouve minhas palavras e está adormecido. Você não está alerta, não está atento. Interiormente, a mente continua a tecer coisas, o sonho continua.

Você pode estar aqui fisicamente. Psicologicamente, você pode não estar aqui. Então, você está adormecido. Em sua mente, você pode ter se movido para alguma outra parte. Se você se moveu para alguma outra parte, então, conscientemente, você não está aqui. Apenas seu corpo físico está aqui.

Lembre-se disto: o que quer que esteja fazendo, faça-o de tal modo alerta, com tamanha atenção, que sua consciência esteja ali; não permita que ela se mova. Só então você saberá o que significa estar atento. A cada instante, mova-se no presente. Não se distancie do presente, ou terá ido para os sonhos. Essa atenção torna-se totalmente diferente da humanidade comum. Você está alerta. Tornou-se mais do que homem.

"O conhecimento, que é agora seu, só lhe pertence porque sua alma tornou-se una com todas as almas puras e com o mais íntimo."

Assim, não assuma de modo algum uma atitude egoística em relação a esse conhecimento, não pense que adquiriu um estado super-humano porque você está alerta. Você está alerta, está atento, transcendeu a humanidade apenas porque agora você está se tornando uno com todas as grandes almas. Está se tornando uno com a própria existência.

Não assuma uma atitude egoística em relação a isso, porque, se isso acontecer, a jornada cessa. Você pode recuar novamente. O egoísmo é o último ponto pelo qual o sono pode entrar outra vez. O egoísmo é o ponto pelo qual a inconsciência pode, de novo, vir a você. Você pode cair de volta na armadilha, pode começar a sonhar novamente.

"Ele é um bem que lhe é confiado pelo Supremo." 

Essa consciência é um bem que lhe é confiado pelo Supremo, pela unidade mais profunda.

"Traia-o..."

Você pode trai-lo. Mesmo agora, a essa altura da jornada, você pode traí-lo; pode recuar novamente. Você ainda é fluido; ainda não está cristalizado. O velho estado foi-se embora, o novo ainda está se formando... está num estado fluido. Você pode voltar atrás, pode recuar. A transformação não aconteceu em sua totalidade. Você está diferente apenas em parte. Uma parte de você ainda é o velho.

Ele é um bem. "Traia-o, faça mal uso de seu conhecimento..." Você pode traí-lo. Se assumir uma atitude egoística, se disser: “Este conhecimento é meu”... se disser: “Eu consegui conhecer. Eu compreendi. Eu conheci Deus. Eu me tornei isto e aquilo”... se você reivindicar, terá traído. A reivindicação mostra que o ego ainda persiste em você; o ego está por trás dela. Você tornou a cair na armadilha. Aquele que conheceu não alegará que conheceu. Não há nenhuma necessidade de se reivindicar. Toda a reivindicação vem do ego; reivindicação significa ego. Se você reivindica, está traindo esse bem.

"Faça mal uso de seu conhecimento..." Você pode usá-lo mal. Pode usá-lo para explorar os outros, pode usá-lo para dominar os outros, pode usá-lo para fins que não são espirituais, mas então você recuará. O conhecimento é perigoso porque conhecimento é poder, e se você o usar para fins que não sejam corretos, perderá o controle; você recuará. Aquilo que lhe foi dado pode ser tomado de volta. Ninguém o retira de você – você, você mesmo, é que o perde.

"Ou negligencie-o..." Você pode negligenciá-lo. Se negligenciá-lo, ele cessará de se desenvolver. E lembre-se: se alguma coisa não está se desenvolvendo, você está voltando para trás. Na existência, nada é estático. Ou você se desenvolve ou você retrocede; ou se move para a frente ou se move para trás. Você não pode permanecer em repouso. Eddington disse, em algum lugar, que a palavra “repouso” é a palavra mais ilusória. Não há no mundo nada que se assemelhe a isso. Ou as coisas estão avançando ou estão retrocedendo. Ou você está crescendo em alguma coisa, ou está decrescendo. Não há nada semelhante ao repouso; seja onde for que você esteja, você não pode repousar. Se estiver tentando repousar, você recuará. Mesmo se quiser repousar no ponto em que se encontra, precisa se desenvolver mais. Somente através do desenvolvimento você pode repousar. De outro modo, recuará.

"... negligencie-o – você pode negligenciá-lo – e é possível que, mesmo agora, você caia do elevado estado que alcançou. Seres notáveis já caíram, até mesmo no limiar, incapazes de sustentar o peso de suas responsabilidades, incapazes de passar adiante. Portanto, aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento, e esteja preparado para a batalha."

Até mesmo do próprio limiar do templo do divino você pode se afastar. Bastaria uma batida e a porta teria sido aberta; mas se você não bater, poderá ir-se embora. Quanto mais perto você está, maior a possibilidade de se afastar, porque você se torna mais seguro de que alcançou o conhecimento. Isto é ainda mais perigoso. A menos que você tenha alcançado o conhecimento tornando-se uno com a chama, não fique demasiado seguro. Você pode perdê-lo a qualquer momento. A segurança pode ser perigosa.

Ocorre que, sempre que você chega bem perto da meta, sente-se muito cansado. Quer repousar. Você sabe que agora o templo está bem próximo e que pode alcançá-lo a qualquer momento; não há nenhuma dificuldade. “Posso relaxar um pouco, repousar um pouco.” Então você pode perder aquilo que estava bem próximo. Ele pode se distanciar. Relaxar perto da meta é perigoso porque, no momento em que você relaxa, pode recuar. E quando você se tornar novamente atento, descobrirá que o templo desapareceu.

Quando a meta está próxima, não relaxe seu esforço. Ao contrário, concentre agora toda a sua energia nisso; deixe-se absorver totalmente. Este é o momento referido no sutra, quando diz "aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento". Não relaxe. Não há relaxamento enquanto você não se tornar uno com Deus. Antes disso, nenhum relaxamento é possível.


quinta-feira, maio 10, 2018

O Caminho Foi Encontrado


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"Tendo adquirido o uso dos sentidos internos, tendo vencido os desejos dos sentidos externos, tendo vencido os desejos da alma individual, e tendo adquirido conhecimento, prepare-se agora, ó discípulo, para entrar realmente no caminho. O caminho foi encontrado: esteja pronto para trilhá-lo."

Tendo adquirido o uso dos sentidos internos... Conhecemos a respeito de nossos sentidos externos, mas cada sentido possui uma dupla dimensão. Por exemplo, os olhos. Eles podem olhar para fora. Esta é apenas uma dimensão de sua função. Eles podem também olhar para dentro. Esta é sua outra função. Ou os ouvidos. Você pode ouvir o que está acontecendo no exterior. Esta é uma função, uma dimensão. Você pode também ouvir o que está acontecendo no interior. Esta é a outra função, a outra dimensão.

Cada sentido possui duas portas. Uma se abre para o mundo exterior; a outra se abre para o mundo interior. Cada sentido é tanto externo como interno, mas usamos nossos sentidos somente de uma única maneira. Tornamo-nos fixos; esquecemos que esses mesmos sentidos podem ser usados para se alcançar o interior.

Tendo adquirido o uso dos sentidos internos... Tendo adquirido as dimensões ocultas dos sentidos, muitas coisas podem tornar-se possíveis. Um novo mundo se abre diante de você. O interior é tão vasto quanto o exterior, o interior é tão imenso quanto o exterior. Você se encontra exatamente no meio: encontra-se entre o universo interior e o universo exterior.

O exterior é vasto. Dizem que é infinito, sem fim, sem começo – que não há limites para ele. A mesma coisa também é verdadeira para o interior. Nenhum limite. O espaço interior é, por sua vez, infinito. O exterior está sendo pesquisado por métodos científicos. O interior pode ser pesquisado através de métodos iogues.

A ciência se desenvolveu bastante e adquiriu um imenso conhecimento a respeito do mundo exterior. Mas o mundo interior foi esquecido; não se pensa mais nele. Atualmente, somos ricos no que diz respeito ao mundo exterior, às experiências exteriores, e tornamo-nos absolutamente pobres, mendigos, no que diz respeito ao interior. Mas qual a vantagem de conquistar o mundo exterior se, ao conquistá-lo, você perde a si mesmo? Perdendo-se a si mesmo, o que se ganha? Mesmo se você conquistar o mundo todo, nada será ganho. Se você perde a si mesmo, então, o próprio sentido da vida, sua própria significação, a beleza, a verdade, o bem, tudo é perdido. O homem pode acumular coisas, acumular poderes, à custa de perder a si mesmo. Então, o ponto fundamental é perdido.

A ciência tenta ampliar os sentidos externos. Hoje em dia, através de aparelhos mecânicos, podemos olhar para o espaço longínquo. Os olhos são ampliados pelo método científico. Podemos, atualmente, ouvir a longas distâncias. A tecnologia científica amplia nossos ouvidos.

A mesma coisa também é possível para os sentidos internos. Através da meditação, da ioga, do tantra – tecnologias internas – seus sentidos internos são ampliados. E, uma vez ampliados, muitas coisas são reveladas a você.

A menos que elas lhe sejam reveladas, sempre parecerão ser mitos, superstições. Ouvimos e lemos muitas coisas sobre Buda, Jesus, Krishna, nas quais não conseguimos acreditar. Maomé, Zaratustra, Moisés – todos eles parecem, hoje, mitológicos, porque tudo o que eles dizem não podemos experimentar por nós mesmos. Perdemos o contato. Moisés diz que ouviu a voz de Deus no Monte Sinai. Como podemos acreditar nisso? Jamais ouvimos algo semelhante.

Se você for a uma tribo primitiva e contar que, através do rádio, podemos ouvir vozes emitidas a partir de enormes distâncias, as pessoas dessa tribo não poderão acreditar nisso. Ou, se você contar-lhes que, pela televisão, vemos imagens de coisas que estão acontecendo em lugares bastante distantes, eles não acreditarão, porque nunca experimentaram tal coisa.

Do mesmo modo, tornamo-nos primitivos no que diz respeito ao interior. Moisés diz que ouve Deus. Jesus conversa com seu pai que está no céu. Aos nossos olhos, eles parecem neuróticos. Devem ser loucos. Há muitos estudos sobre Jesus, estudos psicológicos, que afirmam que ele deve ter sido insano. “O que ele quer dizer com conversar com Deus? Onde está Deus? Como você pode conversar com ele? E como pode Deus conversar com você? Jesus deve ter sido insano. Deve ter tido algumas alucinações e deve ter acreditado nelas. Era um neurótico.” Ele parece um neurótico porque nos tornamos primitivos no que diz respeito ao mundo interior.

Se seus sentidos forem apurados, se seus sentidos interiores estiverem vivos, se você chegar a conhecer o modo de usá-los, poderá também entrar em sintonia com o divino. Você poderá ouvir, poderá escutar, poderá ver, poderá entrar em contato com os mistérios. Eles existem sempre. Moisés não é um neurótico – nós é que nos tornamos primitivos. Jesus não é um louco – nós é que perdemos o contato com o interior.

Tendo adquirido o uso dos sentidos internos, tendo vencido os desejos dos sentidos externos... Porque, se os desejos dos sentidos externos ainda estão vivos, você não pode se mover para dentro. Desejo significa o modo de se ir para fora; o desejo é o caminho que leva para fora. Se sua mente ainda está desejando, você não pode se mover para dentro.

É por isso que há tanta insistência no estar-sem-desejo. Não se trata de um conceito moral. O estar-sem-desejo é um conceito científico. Se você quer se mover para dentro, sua mente precisa perder todo o desejo de se mover para fora. De outro modo, como você pode se mover para dentro? É pura matemática. Se você quer ir para a esquerda, precisa abandonar o desejo de ir para a direita. Caso contrário, uma perna se move para a direita, enquanto a outra se move para a esquerda. Você enlouquecerá; ficará insano. É impossível se mover em duas direções ao mesmo tempo. O desejo leva para fora. O estar-sem-desejo, para dentro.

"...tendo vencido os desejos externos, tendo vencido os desejos da alma individual...". Se você ainda é egocêntrico, pensa sempre em função de seu próprio ego; pensa sempre em função de sua própria individualidade, de seu próprio interesse. Nesse caso, as mais profundas verdades da existência não lhe podem ser reveladas. Você não está pronto para elas; não é digno delas. Além disso, essa revelação, nesse momento, pode ser perigosa. Tente entender isso.

A ciência, por exemplo, conseguiu compreender atualmente alguns mistérios básicos a respeito da matéria. A ciência forçou a matéria a lhe revelar alguns segredos a respeito da energia atômica. Isso tornou-se destrutivo. O homem ainda não está pronto, ainda não é digno de conhecer um segredo tão poderoso. A ciência forçou a matéria. A ciência é agressiva.

Atribuem-se a Einstein as seguintes palavras: “Se eu nascesse de novo, não desejaria ser um cientista. Preferiria ser um encanador. Tudo o que fiz é destrutivo. Tudo o que revelei, durante toda minha vida, é inútil e nocivo. Tudo indica que poderei ser uma das pessoas responsáveis pela destruição de toda a humanidade.”

Seus últimos dias foram de profundo sofrimento. Um segredo havia sido revelado, mas a humanidade ainda não estava pronta, ainda não era digna dessa revelação. O homem ainda é infantil, estúpido, tolo. Esse imenso poder – a energia atômica – não lhe podia ser entregue.

Mas agora os políticos se apoderaram do segredo. E os políticos só podem ser estúpidos, não podem ser outra coisa, porque qualquer pessoa que tenha ambições políticas é egoísta. O desejo de conquistar o poder é o desejo do ego, e o ego é a coisa mais estúpida que pode haver. Obriga-o a fazer qualquer coisa; o ego é louco. A ambição política é uma obsessão do ego.

Os cientistas descobriram alguns segredos e os políticos se apoderaram desses segredos. Então eles destruíram Hirochima e Nagazaki. E agora, estão prontos para destruir todo o planeta. A Terra inteira pode ser destruída a qualquer momento. Temos atualmente mais forças destrutivas do que seria necessário para destruir a Terra; temos sete vezes mais. Podemos destruir sete Terras iguais a esta; esta não é nada. E estamos desenvolvendo mais e mais poderes destrutivos. Para quê? Por que há tanto desejo de morte e destruição? Einstein diz que foi uma tolice da parte dos cientistas forçar a natureza a revelar certos segredos, dos quais o homem ainda não era digno. Mas você pode fazê-lo, porque a matéria pode ser violentada.

Você não pode fazê-lo interiormente. A consciência não pode ser forçada. Nenhum segredo interior lhe pode ser revelado, a menos que você esteja pronto para isso. A não ser que ele seja benéfico a você e aos outros, não pode ser revelado. Assim, este sutra diz, "tendo vencido os desejos da alma individual" – a ambição, o ego, o desejo de poder, a ideia de se considerar o centro do universo –, a menos que você tenha vencido esses desejos, os segredos mais profundos da consciência não lhe podem ser revelados.

"...tendo vencido os desejos da alma individual, e tendo adquirido conhecimento, prepare-se, agora, ó discípulo, para entrar realmente no caminho." 

Tudo aquilo com o que nos ocupamos até agora foi um trabalho dedicado à consciência: à sua própria consciência, à consciência subjetiva. Até o momento, todos os sutras eram para trabalhar, atuar, alterar, transformar, mudar a consciência subjetiva. Quando alguém se torna totalmente consciente de seu mundo subjetivo, pode entrar na realidade.

Lembre-se disto: se você se move para dentro, move-se para o subjetivo; se você se move para fora, move-se para o objetivo. E se você se move para além de ambos, move-se na realidade. O objetivo não é realidade; o objetivo é apenas uma parte da realidade. O subjetivo também não é a realidade. Ele é, por sua vez, uma parte da realidade. Quando a subjetividade e a objetividade são, ambas, transcendidas, você entra na realidade.

Se você usar seus sentidos para a jornada exterior, alcançará os objetos. Se usar seus sentidos para a jornada interior, alcançará o sujeito, o conhecedor. Através do exterior, o objeto: o conhecido. Através do interior, o conhecedor: o sujeito, o eu. Mas cada um deles é apenas uma parte. A realidade consiste em ambos.

De fato, os dois são um. A isso denominamos brahma: a realidade suprema. Você não pode entrar na realidade suprema através do objeto ou através do sujeito. Precisa perder os dois. É por isso que para conhecer a alma você precisa usar os sentidos internos, e para conhecer a matéria precisa usar os sentidos externos; mas para conhecer brahma não precisa usar nenhum sentido, seja externo, seja interno. Se você quer entrar na realidade suprema, os sentidos precisam ser totalmente abandonados, tanto os externos quanto os internos. Sem os sentidos, entra-se na realidade.

É por isso que Shankara não pode admitir que a ciência conheça a realidade. Ele diz que a ciência conhece apenas o objetivo. E ele não pode admitir que aqueles que defendem a inexistência de brahma conheçam a realidade, porque conhecem apenas o eu subjetivo. Somente aqueles que vão além de ambos – além dessa dualidade de sujeito-e-objeto – conhecem a verdade suprema.

"... prepare-se, agora, ó discípulo, para entrar realmente no caminho. O caminho foi encontrado: esteja pronto para trilhá-lo."

"Pergunte à terra, ao ar e à água, a respeito dos segredos que eles guardam para você."

Se você está disposto a abandonar as distinções entre o objetivo e o subjetivo, pode perguntar diretamente. 

"Pergunte à terra, ao ar e à água, a respeito dos segredos que eles guardam para você."

Você pode perguntar diretamente aos elementos. Se você está disposto a abandonar a divisão entre o sujeito e o objeto, se está disposto a abandonar todos os pensamentos, se está disposto a abandonar sua mente, sua ação mental, se está disposto a abrir espaço em você e se tornar vazio, pode perguntar aos elementos a respeito dos segredos que eles reservam para você.

E que segredos eles guardam? Buda aconteceu neste mundo. Ele está registrado na terra, no ar, na água, no céu, no espaço, em todas as coisas. O acontecimento de um Buda é um fenômeno tão imenso que o universo registra como ele acontece. Krishna dançou nesta terra. Ele está registrado. O próprio fenômeno é tão culminante que a terra não pode esquecê-lo, o céu não pode esquecê-lo. Eles o registram. Tudo o que acontece de tamanha magnitude é registrado pelos elementos.

Você pode perguntar diretamente. Se você se encontra totalmente vazio, pode perguntar diretamente, e a terra revelará seus segredos. Se Krishna proferiu realmente o sermão do Gita no campo de batalha de Kurukshetra, isso deve estar oculto em alguma parte do ar, no coração do ar. Se você está pronto, se você merece, o ar pode lhe revelar as mais secretas doutrinas.

Você se sentirá muito estranho quando isso lhe for revelado, sentir-se-á muito confuso, porque o Gita que foi registrado pelo homem nada significa; está profundamente errado. Muitas coisas foram projetadas nele, muitas coisas foram suprimidas dele. Ele não é a coisa real; é apenas um registro humano. E é natural à mente humana errar.

Mas as forças elementares da natureza também registram, e seus registros são absolutamente verdadeiros, porque não há nenhuma mente que interprete, altere, acrescente ou suprima. O mais puro está ali registrado. Se Maomé falou, se Jesus falou, isso está registrado ali. A Terra não pode perder o contato com seres tão altamente evoluídos, tão altamente desenvolvidos, com seres transformados. Ela não pode perder o contato com eles; o contato permanece. Ele pode ser revelado a você. O desenvolvimento de seus sentidos interiores fará com que você se torne capaz de penetrar nisso.

"Pergunte aos santos da Terra a respeito dos segredos que eles guardam para você. A conquista dos desejos dos sentidos externos lhe fornecerá esse direito."

"Pergunte aos santos da Terra a respeito dos segredos que eles mantém para você." Nós existimos no corpo, mas há muitos santos ao seu redor que existem num estado incorpóreo. O espírito humano pode existir tanto num corpo como numa forma não-corpórea. A forma não-corpórea ainda faz parte do universo; ainda está no mundo. Não escapou dele; a liberação não aconteceu ainda. Essa forma incorpórea está sujeita a voltar, tende a voltar. Simplesmente aguarda pelo útero certo.

Há muitos mestres sagrados que existem numa forma não-corpórea, que não estão totalmente iluminados. Quando um ser se ilumina totalmente, ele desaparece do corpo e da própria forma. Desaparece completamente; dissolve-se na fonte do mundo. Buda, Jesus – eles se dissolveram, regressando à Fonte original. Porém, há muitos outros que não estão totalmente iluminados, mas que chegaram a conhecer muitas coisas, a compreender muitas coisas belas, muitas verdades (mas não “a” verdade). Eles compreenderam muitas, muitas coisas e alcançaram um certo nível. Eles não estão iluminados, mas alcançaram um certo nível. Por isso, são denominados “santos”. Eles podem ajudá-lo muito. Se você está aberto a eles, pode entrar em contato com eles. Na teosofia, eles são denominados “os Mestres”.

O livro Luz no Caminho foi ditado pelos Mestres a Mabel Collins. Os Mestres conhecem muitos segredos que desapareceram da Terra, dos registros da humanidade, ou foram distorcidos. Ou simplesmente não podemos lê-los porque a linguagem foi esquecida. Ainda não é possível saber o que está escrito na cultura Harappa Mohenjodaro. Continua a ser um segredo. Sabemos que alguma coisa está escrita, mas o que está escrito não sabemos. A forma permanece, mas as chaves estão perdidas. Conhecemos muitas escrituras de diversas culturas, mas a linguagem se perdeu.

Esses santos podem revelar muitas coisas que permanecem conservadas. Eles podem fazer-nos lembrar. Você pode entrar em contato com elas se estiver silencioso, inocente, movendo-se para dentro. Se você está usando seus sentidos internos, pode entrar em contato com eles e sua vida pode ser transformada muito facilmente. Você, sozinho, pode levar muitas vidas para alcançar a meta; mas, com esses santos, isso pode se tornar mais fácil.

E há muitos deles. Você precisa apenas estar aberto, sem medo, disposto a receber a orientação, e então a orientação lhe será dada. Mas antes que possa recebê-la, você precisa predispor-se à receptividade, à profunda receptividade. Através da meditação, essa receptividade se manifestará em você. E não há outro caminho. Apenas através do silêncio você se tornará capaz de ouvir alguma coisa que venha do além.

Lembre-se constantemente de uma coisa: você precisa se tornar cada vez mais silencioso e concentrado em seu interior. Sempre que tiver algum tempo, feche os olhos e mova-se para dentro. Não se ocupe quando não houver nenhuma ocupação, não permaneça ocupado desnecessariamente.

Vejo pessoas que estão desnecessariamente atarefadas. Tenho visto pessoas que leem o mesmo jornal várias vezes. Elas não têm nada para fazer, então leem o mesmo jornal repetidas vezes. Não podem permanecer vazias, não podem permanecer desocupadas. Ser meditativo significa aprender a permanecer desocupado, vazio.

Feche os seus sentidos externos e dirija-se para dentro. Utilize qualquer tempo que encontrar para isso, e logo chegará o dia em que isso se tornará tão fácil quanto entrar e sair de sua casa. Você sai de sua casa sem nenhuma dificuldade; você volta para sua casa sem nenhuma dificuldade. Você não precisa nem sequer pensar a respeito de como sair e entrar. Você sai quando precisa sair; entra quando precisa entrar. O fenômeno de ir para dentro de si mesmo torna-se igualmente simples se você o praticar. Então, você pode saltar para fora a qualquer momento, e pode saltar para dentro a qualquer momento.

E, uma vez que você se torna capaz desse simples movimento, torna-se livre. Então, o mundo não pode perturbá-lo. Nada pode perturbá-lo, porque nada o atinge quando você se encontra em seu centro mais profundo. Quando você está na periferia, o mundo o atinge. Quando está no centro, você está além do mundo.


segunda-feira, maio 07, 2018

Soltar as Amarras da Personalidade

Osho Video DVDs
- OSHO - 


"Respeite mais intensamente o seu coração."

"Pois através do seu coração surge a única luz que pode iluminar a vida e torná-la clara a seus olhos."

“... Só uma coisa é mais difícil de se conhecer: o seu coração. Antes que as amarras da personalidade sejam soltas, o profundo mistério do Eu não pode começar a ser visto. Enquanto você não sair do caminho, ele não se revelará, de modo algum, à sua compreensão. Só então, e jamais antes, você poderá apreendê-lo e governá-lo. Só então, e jamais antes, você poderá usar todos os seus poderes e devotá-los a um trabalho valioso.”

A coisa fundamental a ser entendida é que você não pode conhecer sua própria natureza, seu próprio coração, seu próprio ser, por causa de sua personalidade, por causa de uma entidade falsa que você criou ao seu redor. Vivemos encerrados dentro de personalidades. As personalidades são falsas. Elas são, simplesmente, máscaras, fachadas a serem mostradas aos outros. Mas esse hábito torna-se tão arraigado que você se esquece completamente de sua face original. Mostrando suas falsas faces aos outros, aos poucos você se identifica com elas e começa a pensar que elas são as suas faces. Então sua face original, sua face real, permanece oculta.

O que quer que você faça, como quer que você aja, seja o que for que você diga, lembre-se sempre de ver se isso vem de seu coração ou de sua personalidade. Distinga claramente. Isso lhe será de grande auxílio na busca interior.

Quando você diz a alguém: “Eu te amo” – de onde estão vindo estas palavras? De onde? Qual é a sua origem? Estão vindo do seu coração? Seu coração está realmente repleto de amor? Ou estão vindo meramente de sua personalidade, de sua face falsa? Você as está dizendo apenas de um modo polido, como uma formalidade, uma etiqueta, ou as está dizendo para expressar algo mais?

Por exemplo, se você se sente magoado, triste interiormente, mesmo assim, você continua a sorrir. Considere se o seu sorriso é apenas um sorriso pintado em seus lábios, um exercício dos lábios ou se ele nasce lá dentro e se espalha pelos lábios. A fonte se encontra em algum lugar lá dentro, ou não há nenhuma fonte, e ele é apenas um sorriso pintado? Quando você sorrir, observe o seu sorriso e poderá saber se ele é falso ou real.

Quando alguém está triste, ou sofrendo, por ter perdido um amigo, a namorada, o marido ou a esposa, aproxime-se dele. Você se mostrará triste e pesaroso. Lembre-se, e observe profundamente em seu interior, se essa tristeza é real, ou se você está apenas aparentando-a enquanto no fundo está enfadado, tentando descobrir uma desculpa para ir embora, ou está pensando em outras coisas e não está de modo algum interessado na pessoa: em seu sofrimento, em sua mágoa. Fique observando isso e conhecerá duas camadas diferentes das personalidades em seu interior. A camada falsa é a personalidade.

A palavra “personalidade” é muito significativa. Ela se origina da palavra grega persona. Persona significa “máscara”. Nos dramas gregos, os atores usavam máscaras, faces falsas. Essas faces falsas eram chamadas personae. E foi dessa palavra que se originou a palavra “personalidade”. Ela é perfeita. Significa que você está agindo com uma face falsa. Ela não é você. Você está se ocultando por trás da face falsa, porque não pode revelar a sua verdadeira face.

Não estou dizendo para você sair por aí mostrando sua verdadeira face por toda parte. Não é necessário. Em alguns lugares, a persona é necessária. Mas deve ficar claro que, nesses casos, trata-se da persona, não se trata de você. Interiormente, você precisa saber quando está representando e quando é verdadeiro. Você não deve se deixar enganar por sua representação! Não deve se identificar com a sua representação! Eu sei que as faces são necessárias. De outro modo, seria difícil viver em sociedade, muito difícil. De certo modo, as faces são boas. Elas facilitam, servem para lubrificantes. E numa grande sociedade, com tantas pessoas, você não precisa revelar sua realidade por toda parte.

Alguém se encontra com você pela manhã. Você se sente incomodado com esse encontro. Você pensa: “Por que tenho de ver esse homem esta manhã? Sua presença pode estragar todo o meu dia.” Mas, exteriormente, você sorri e diz: “Bom-dia. Fico feliz em vê-lo.” Interiormente, você não está de modo algum feliz!

Contudo, no que se refere à educação, não há nada de errado nisso. Não seria adequado dizer ao homem: “Sinto-me totalmente infeliz. Você estragou a minha manhã. Sua presença é um infortúnio. Receio que, pelo fato de tê-lo visto, meu dia esteja arruinado.” Isso não seria adequado. Desnecessário. Iria perturbar desnecessariamente o outro homem. Não há necessidade disso.

Mas você precisa saber o que é uma máscara e o que é real. Precisa estar ciente daquilo que está acontecendo dentro. O que acontece no interior é o seu ser real e o que acontece na superfície é apenas uma utilidade social. Se você pode fazer uma distinção nítida entre você e sua personalidade, então a personalidade torna-se como uma roupa. Você pode abandoná-la a qualquer momento e ficar nu.

Se você pode abandoná-la, isso significa que você está tão preso a ela que não consegue distinguir-se dela, separar-se dela; não há nenhuma distinção. Essa distinção é necessária para que, pelo menos em seu quarto, em seu banheiro, você possa colocar sua personalidade de lado e tornar-se real; pelo menos em meditação, você pode jogar sua personalidade fora e tornar-se real. Ali ela não é necessária.

A meditação não é social. Ela não diz respeito a ninguém mais; só diz respeito a você mesmo. Assim, nenhuma máscara é necessária; você pode ser autêntico. Mas você não pode ser autêntico porque não conhece a distinção. Até mesmo ao meditar, eu sinto que você está fazendo muitas coisas falsas.

Freud se conscientizou – quando iniciou a psicanálise ele ainda não havia se conscientizado disso, mas, aos poucos, percebeu que os pacientes diziam coisas que não eram verdadeiras, apenas para deixá-lo feliz, para confirmar suas teorias porque, quando Freud ficava feliz, eles também ficavam felizes – somente depois de vinte anos de psicanálise foi que ele se conscientizou de que o que os pacientes diziam não era verdadeiro.

Por exemplo: Freud diz que o sexo é a raiz de toda perturbação mental. Os pacientes iam vê-lo e contavam-lhe a respeito de suas perturbações. Então eles revelaram que o sexo era a raiz de suas perturbações. Freud pensava que suas teorias estavam sendo confirmadas por centenas e centenas de exemplos. Só mais tarde, ele se conscientizou de que muitos de seus pacientes estavam mentindo, apenas para deixá-lo feliz, para confirmar sua teoria.

Às vezes, eu sinto a mesma coisa. Quando digo: “Fique louco!” – e você fica louco, sei que você está fazendo isso apenas para me deixar feliz. Mas não há necessidade. Eu já sou muito feliz! Não há necessidade. Não faça nada que não seja verdadeiro, pelo menos em sua meditação – porque ela só diz respeito a você.

Tillich disse, em algum lugar, que a religião é algo que diz respeito ao indivíduo, é um assunto totalmente pessoal de cada um consigo mesmo. Ela não diz respeito a ninguém mais. A religião é individual; portanto, durante a meditação, você não precisa se preocupar com mais ninguém, nem mesmo comigo. Seja verdadeiro. Jogue fora suas máscaras. Qualquer coisa autêntica o ajudará a mover-se para dentro, qualquer coisa não verdadeira o ajudará a mover-se para fora.

Essa é a razão pela qual Shankara chama o mundo de ilusão. Quanto mais você se move para fora de si mesmo, tanto mais você se move na ilusão; e quanto mais você vai para dentro, mais você se move na realidade. Sua personalidade é a porta para a ilusão, para um mundo irreal de sonhos. Livre-se dessa parte, livre-se completamente dessa ponte. Pelo menos na meditação.

Não estou lhe dizendo para ser autêntico ao comportar-se na sociedade. Você ficará em dificuldades. Se tiver vontade de fazê-lo, pode fazê-lo, mas não estou pedindo isso; não me responsabilize. A sociedade lhe criará problemas. Ela não quer as suas faces verdadeiras; quer as suas faces falsas.

Mas, no que se refere à sociedade, não há nenhum problema quanto à isso. Use uma face falsa quando se dirigir para fora, mas quando se dirigir para dentro livre-se completamente dessa face. Não permaneça identificado com ela, não a carregue para dentro. Um dia poderá vir no qual você se tornará tão forte que até mesmo na sociedade você gostará de se comportar com sua face verdadeira, mas isso depende de você. Primeiro olhe para dentro e, pelo menos momentaneamente, coloque de lado sua personalidade.

"Pois, através de seu coração, surge a única luz que pode iluminar a vida e torná-la clara a seus olhos."

“... Só uma coisa é mais difícil de se conhecer: o seu coração. Antes que as amarras da personalidade sejam soltas, o profundo mistério do eu não pode começar a ser visto.”

A personalidade age como uma barreira e a luz de seu coração não pode chegar até você. Desfaça-se da personalidade, mesmo que momentaneamente, temporariamente, e a luz o inundará, e você penetrará num mundo diferente: o mundo do coração.

“Enquanto você não sair do caminho, ele não se revelará, de modo algum, à sua compreensão.”

Você precisa se colocar de lado: sua personalidade, seu ego.

"Enquanto você não sair do caminho, ele não se revelará de modo algum à sua compreensão. Só então, e jamais antes, você poderá apreendê-lo e governá-lo. Só então, e jamais antes, você poderá usar todos os seus poderes e devotá-los a um trabalho valioso.”

E enquanto você mesmo não entrar em profundo contato com o âmago do seu coração, não poderá fazer nada que seja bom, que seja valioso. Não poderá prestar nenhuma ajuda a ninguém. Tudo o que você fizer, mesmo que seja com boa intenção, criará o mal, porque aquele que faz o mal é ignorante. O que você faz não é importante. Mais importante é quem você é.

Se você é ignorante, se vive em total escuridão – se a luz do coração não penetrou em você, ainda não o preencheu – você pode ter boas intenções, boa vontade, mas tudo o que fizer resultará em mal, porque nada de bom pode vir de um coração escuro. Assim, não tente prestar nenhuma ajuda a alguém, a menos que você tenha alcançado a luz interior. Então, toda a sua vida tornar-se-á uma ajuda. Não haverá mais necessidade de fazer disso um dever; você não ajudará mais a alguém por mera obrigação. Então, a ajuda fluirá espontaneamente de você.

E quando a ajuda se torna espontânea, isenta de qualquer noção de dever, quando ela se torna amor, você não pode fazer outra coisa senão ajudar; quando não há a preocupação de fazer os outros felizes, quando, na verdade, ocorreu o contrário: você está tão feliz que agora a felicidade transborda de você e atinge os outros – só então tudo o que você fizer terá bons resultados.

Se você está repleto de luz, de felicidade, o bem acontece, sem que qualquer boa vontade se faça necessária. Contudo, boa vontade em demasia, sem que haja luz interior, pode ser perigosa aos outros. As pessoas que se ocupam em ajudar os outros, sem possuírem qualquer sadhana interior, criam muito mal. Toda a sociedade está sofrendo por causa dessas pessoas que se põem a ajudar os outros sem terem, de algum modo, realizado sua própria luz interior. Lembre-se disto: a primeira coisa é a sua própria auto-realização. Ajudar os outros é secundário. E não pense que, por ajudar os outros, você pode se realizar. É realizando-se que você poderá ajudar os outros, e não o contrário.

“É impossível ajudar os outros antes de ter alcançado algum conhecimento de si próprio. Quando você tiver aprendido as primeiras 21 regras e tiver penetrado no Saguão do Saber com seus poderes desenvolvidos e sua inteligência liberada, então você descobrirá que há em seu interior uma fonte da qual nascerá a fala.”

“...Essas palavras estão escritas só para aqueles que podem ler o que escrevi tanto com o sentido interior como o exterior.”

Lembre-se disto. É impossível ajudar os outros antes de ter alcançado algum conhecimento de si próprio. Resista à tentação de ajudar os outros. Será desastroso, a menos que você tenha algum conhecimento de si próprio. Não tente ser um guru, não tente prestar nenhuma ajuda, porque você causará danos, criará mais problemas. Não se esqueça de que você não pode ajudar, não pode orientar ninguém, a menos que tenha alcançado a luz interior. Quando a luz interior está presente, a ajuda, a orientação, fluirá de você.

Resista à tentação. A tentação é enorme porque o ego se sente muito satisfeito. Alguém lhe pede um conselho. Você é tentado a dar o conselho sem saber o que está fazendo, sem estar consciente de que não sabe. Se alguém lhe pergunta se Deus existe, você não é suficientemente forte para dizer: “Eu não sei.” Você diz alguma coisa. Ou diz: “Sim, Deus existe. Sou um crente” – ou então “Não, Deus não existe. Sou um descrente” – mas, em ambos os casos, você deu a sua opinião. Em ambos os casos, você confirmou algo que não sabe.

Lembre-se disto: trata-se de um ponto básico, muito importante a qualquer buscador espiritual: confirme aquilo que você sabe realmente. Se não sabe, é melhor dizer: “Não sei.”

Uma vez perguntaram a Albert Einstein: “Qual a diferença entre ciência e filosofia?”

Sua resposta foi uma das mais sábias. Ele disse: “Se você procurar um cientista e lhe fizer uma centena de perguntas, para noventa e nove dessas perguntas ele lhe dirá: ‘Não sei.’ Apenas a uma delas ele dirá: ‘Eu sei.’ Contudo, acrescentará: ‘Mas trata-se apenas de um conhecimento relativo. Amanhã ele pode mudar. Não é absoluto. Mas se você procurar um filósofo e lhe fizer uma única pergunta, ele lhe dará uma centena de respostas. E com absoluta convicção de que essas são as respostas corretas. Se alguém der alguma outra, será escorraçado. O filósofo dirá: ‘Ele está errado!’.”

É por isso que a filosofia não leva a parte alguma. Respostas e respostas e respostas não levam a parte alguma. Tantas respostas para não responder nem mesmo a uma única pergunta. Falta o fundamental: o filósofo não é bastante forte para dizer: “Não sei.”

O cientista é mais forte. Ele pode dizer: “Não sei.” E mesmo quando ele diz: “Eu sei” – acrescenta: “Até o momento isto é considerado verdadeiro. Mas nada posso dizer quanto ao amanhã. As coisas podem mudar, muitos fatos novos podem se tornar conhecidos e então a verdade terá de ser reajustada.”

Eu gostaria de dizer que a ioga também é uma ciência; não é uma filosofia. A meditação é uma ciência; não é uma filosofia. Lembre-se disto: não dê nenhuma orientação a ninguém, a menos que você tenha algum conhecimento, alguma experiência. E, mesmo nesse caso, não deixe de dizer aos outros que “essa é a minha experiência. Pode não ser assim para você. É a maneira pela qual eu cheguei a isso. Seu caminho pode ser outro; isto pode não se mostrar verdadeiro para você. Portanto, não siga o meu conselho cegamente. Você pode experimentá-lo. É uma experiência aberta.”

Então você pode ser de alguma ajuda. De outro modo, poderá criar perturbações. Não se deixe levar pelas tentações. Não aconselhe, a menos que saiba realmente. Não oriente. Primeiro, seja um discípulo; não tente ser um mestre. Um dia você será um mestre. Quando tiver se tornado um discípulo total e completo, o mestre emergirá de você. Mas não antes desse momento, não antes desse tempo. Aguarde. O tempo virá.