- Masaharu Taniguchi -
A salvação por meio da força alheia
Com isso, se aqui existisse a essência da liberdade perfeita e infinita da Vida e, só de ligarmos a ela, fluísse em nós a força infinita da salvação – do mesmo modo que a energia elétrica vem até nós através de um fio ligado à usina elétrica –, e assim adquiríssemos a infinita liberdade da nossa Vida, não haveria nada melhor que isso. Em algum lugar deve existir essa essência da salvação infinitamente perfeita. Uma vez que é infinita, deve estar em todos os lugares e, portanto, a fé baseada na salvação por meio da força alheia consiste em confiar nessa onipresente força misteriosa. Quando nos unimos a essa onipresente força de salvação, só com isso, manifestar-se-á a liberdade infinita do nosso interior. É o mesmo que, só de passar corrente elétrica na bobina, o ferro que está dentro dela adquire o originário magnetismo. Assim se obtém, ou tenta-se obter, a salvação por meio da força alheia.
A consciência de pecado constitui obstáculo para a salvação
Entretanto, mesmo que pensemos em nos unir a essa essência da liberdade infinita, sentimos que não o conseguiremos. É a nossa consciência de pecado que está nos estorvando. Tratando-se da energia elétrica, se houver um material isolante, nele não passará a eletricidade, mesmo que venha da maior usina elétrica. De modo similar, desejamos nos conectar com o Ente infinito, perfeito e sem falha alguma – que pode ser chamado de Deus, de Amida Nyorai, ou algum outro nome – porque, se assim nos conectarmos com a fonte dessa salvação infinita e perfeita, estaremos perfeitamente incorporados a essa perfeição infinita. Mas surge a questão: "Será que conseguiremos isso?". Resta em algum canto da nossa mente a incerteza: "Será que um indivíduo repugnante como eu, que só consegue sobreviver matando outros seres vivos; que, por qualquer motivo, fica irado, nervoso, triste; que, às vezes, tem vontade de acabar com o outro; poderá se conectar com esse Ente infinitamente perfeito?". E, assim, deixamos de nos unir a essa grandiosa fonte da salvação. Em suma, essa consciência de pecado torna-se um "isolante" da salvação.
Significado da expiação
Então, surge a questão da expiação dos pecados. O ser humano nada pode fazer contra a consciência de pecado. Quanto mais nobre é o caráter da pessoa, mais intensa é a sua consciência de pecado. E quanto mais intensa é a consciência de pecado, maior é a sensação de que não merece a salvação. Essa pessoa pensa: "Já cometi homicídio, ou, mesmo que eu não tenha matado ninguém, matei diversos seres vivos, como também comi e matei muitos micro-organismos. Estou sendo egoísta em pensar que, por ter ficado em jejum apenas três semanas, ou por ter praticado suigyô durante cem dias, todos os meus pecados foram apagados. E, mesmo que tenham sido apagados, no dia seguinte precisarei me alimentar, acender o fogo e matar micro-organismos, pois, sem isso não conseguirei viver".
Assim, já no dia posterior ao da expiação dos pecados por meio de jejum e banhos frios, a pessoa estará cometendo pecados novamente e sentindo que não conseguirá conectar-se com a essência infinita, perfeita e livre. Portanto, nós, seres humanos, dificilmente conseguimos nos conectar com o Ente infinitamente perfeito, mesmo que o tentemos, realizando a expiação de todos os pecados de até agora com a nossa própria força. Por isso, nos afligimos e sofremos.
A essa altura, conclui-se que a humanidade não conseguirá se conectar com a essência da liberdade infinita e perfeita se não surgir um ser extraordinariamente superior, uma pessoa dotada de poder divino, que diga: "Como vocês não conseguirão jamais expiar os seus pecados sozinhos, vou expiá-los no lugar de todos. Vou me responsabilizar por todos os pecados da humanidade e os purificarei". E, de fato, surgiram pessoas com poderes sobrenaturais. No cristianismo foi Jesus Cristo e no budismo Hozo Bosatsu (Amida Nyorai). Jesus Cristo foi crucificado para expiar os pecados de toda a humanidade. Hozo Bosatsu meditou arduamente durante cinco kalpas (ciclos cósmicos), submeteu-se a disciplinamento espiritual durante infinitamente longo espaço de tempo, com o desejo de salvar toda a humanidade: "Venham a mim, que todos serão salvos. Se alguém não for salvo, não me tornarei Buda". Por sim, foi definido que só de ligar-se a ele todos os homens seriam salvos, e ele se tornou Buda.
Jesus Cristo se deixou crucificar e Hozo Bosatsu tornou-se Buda, ambos com o compromisso de apagar todos os pecados da humanidade, do passado e do futuro, transcendendo o tempo e o espaço só de unir-se a Cristo e ligar-se a Buda. Assim, quando passamos pelo processo de filtragem dos pecados através da cruz de Jesus Cristo ou de Amida Nyorai, que tomaram para si todos os pecados da humanidade os nossos pecados são purificados e a nossa mente recupera a pureza originária, conseguindo assim nos integrar na imaculada água do Universo. Isso é, em suma, a salvação por meio da força alheia.
Como mencionei até aqui, assim surgiram o processo da salvação por meio da força própria e por meio da força alheia. Diz-se que é bastante difícil alcançar a salvação por meio da força própria, porque é necessário que a própria pessoa seja o dispositivo de filtragem dos pecados, dedicando-se à prática da meditação zen ou de outras concentrações mentais, recorrendo a diversos meios para anular totalmente os próprios pensamentos negativos, reprimindo todos os seus desejos, esforçando-se de todas a maneiras para não causar aborrecimento aos demais, mas proporcionar a todos apenas alegria. Portanto, só pessoas especiais conseguirão realizar isso. Creio que Bodhidharma, que dizem ter praticado a meditação zen voltado para uma parede, durante nove anos, tenha realizado esse tipo de disciplinamento mental. Sakyamuni também praticou inicialmente disciplinamentos baseados na força própria. Consta na biografia dele que ele teve a iluminação após realizar diversas práticas de disciplinamento espiritual por meio da força própria, até se purificar, livrando-se totalmente de todos os desejos pessoais.
Sakyamuni foi inicialmente praticante da salvação por meio da força própria e, após severos disciplinamentos, tornou-se iluminado, demonstrando, no final, o que é o despertar espiritual. Assim, transmitiu a todos que descobriu, finalmente, por meio das práticas ascéticas o caminho que conduz à iluminação e que, portanto, ninguém precisa mais passar por esse auto-adestramento. Basta buscar o resultado. Ele disse: "Eu inventei, com muito esforço, o veículo que conduz à salvação, mas você não precisam se preocupar em fazer o mesmo. Apenas fiquem comodamente dentro desse veículo de salvação que eu projetei. Aqui está o veículo que já conduz todos à salvação. Tomem esse veículo".
Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 36", pp. 100-105
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