- Masaharu Taniguchi -
Mente que anseia pelo infinito
Para atingir o estado mental de aceitar uma situação tal qual ela se apresenta, com docilidade e gratidão, é necessário conscientizar que o homem é originariamente perfeito e puro, um ser que já está naturalmente purificado e remido. Nada há que liberte a Vida do homem como esta Verdade.
O homem não foi criado originariamente de modo imperfeito e restrito, que só consegue se purificar por meio de práticas religiosas ou lavando o corpo com água. "O homem é filho de Deus" – eis a Verdade vertical anunciada pela Seicho-No-Ie.
Conforme já disse anteriormente, a religião tem, em princípio, o objetivo de fazer o homem reconquistar verdadeira e totalmente a liberdade da Vida. Todavia, existem pessoas que pensam ser a religião algo que nos dá a sensação de estarmos salvos, ao receber a leitura da sutra após a morte do corpo carnal, ou ao ouvir de boca alheia a comprovação de que, após a morte, conseguiremos ir para o paraíso celestial. A religião, porém, é aquilo que nos dá a liberdade total da Vida. Ficar curado de doença, conseguir ganhar dinheiro, ter sucesso na vida, ter sorte, todas essas coisas não fazem parte do objetivo primário das religiões. Não são senão uma parcela da projeção daquilo que resulta da perfeita reconquista da liberdade da Vida.
Como anseio originário da Vida, o homem possui basicamente, no seu interior, desejos relacionados com o infinito, como o de conseguir liberdade infinita, ou, então, capacidade infinita, ou sabedoria infinita. Na questão de ganhar dinheiro, por exemplo, ele nunca se satisfaz: mesmo que ganhe 100 ienes, deseja a seguir 1.000 ienes; mesmo ganhando 1.000 ienes, que mais ainda. Se ganhar 100.000 ienes, deseja ganhar 1.000.000 de ienes e, assim, infinitamente. Se passar a ganhar dinheiro à vontade, começa a desejar outras coisas. Deseja fama, poder e, conseguindo poder cada vez maior, no final passa a ter a ambição infinita de dominar o mundo, como teve Napoleão. Assim é a natureza do ser humano. Em seu interior estão armazenados anseios relacionados com o infinito. Entretanto, por mais que vá satisfazendo esses desejos, um após outros no mundo material, será impossível satisfazer plenamente todos os desejos e anseios infinitos por intermédio deste corpo físico, de apenas cento e tantos centímetros. É aí que surge a angústia do ser humano.
Os quatro sofrimentos de Sakyamuni
Os quatro sofrimentos padecidos por Sakyamuni – viver, envelhecer, adoecer e morrer – também foram restrições em relação à liberdade infinita do homem. O sofrimento do viver, ou seja, o sofrimento da luta pela sobrevivência, também é, em suma, uma consequência de atrito com a vida alheia quando tentamos viver livremente a nossa vida, segundo nosso desejo. Ou seja, surge conflito por incongruência entre a liberdade intrínseca da Vida que brota do nosso interior e os obstáculos externos, relacionados com o meio ambiente e a vida alheia. Assim, surgem naturalmente limitações na manifestação plena da liberdade intrínseca da Vida. Se não houvesse essas limitações, não haveria o sofrimento do viver, mas isso é difícil acontecer.
O sofrimento de envelhecer, ou seja, a tristeza e a angústia de ir envelhecendo, também resulta do desejo intrínseco do homem de viver eternamente, de manter-se eternamente jovem e saudável, jamais se definhar. Apesar desse desejo, quando observamos nosso corpo carnal, notamos que ele não deixa de envelhecer. Na Seicho-No-Ie existem muitos idosos que rejuvenesceram, mas, mesmo assim, a vida na Terra terá um fim, eles acabarão se aproximando passo a passo da morte do corpo. Nisso surge uma lacuna, uma condição entre o eu real e o desejo de liberdade infinita que brota do seu interior, dando origem ao sofrimento.
A seguir, vem o sofrimento da doença. Todos os homens desejam viver sempre com saúde. Contudo, geralmente adoecem. Constituem exceção as pessoas que compreenderam a Verdade da Seicho-No-Ie, mas mesmo elas, quando se aproxima a hora da morte, apresentam o processo de chemicalization (processo de autodesintegração) que, na visão do médico, é manifestação semelhante à doença. Isso constitui uma divergência entre a realidade e o ideal, causando sofrimento.
No final, vem o sofrimento da morte. Naturalmente, no plano da Imagem Verdadeira o homem vive eternamente, mas surge a contradição entre o eu real e o desejo de ser imortal até no plano do corpo carnal, que é uma imagem temporária. O que resulta dessa divergência são os quatro sofrimentos: do viver, do envelhecer, do adoecer e do morrer. O verdadeiro objetivo da religião é conceber aos homens a total liberdade da Vida, libertando-os completamente desses sofrimentos. Portanto, as graças mundanas como a de ganhar dinheiro, a de curar-se das doenças, não constituem uma parte, a metade nem dez por cento do seu objetivo.
Desejo ardente de se libertar dos quatro sofrimentos
O sofrimento de envelhecer, ou seja, a tristeza e a angústia de ir envelhecendo, também resulta do desejo intrínseco do homem de viver eternamente, de manter-se eternamente jovem e saudável, jamais se definhar. Apesar desse desejo, quando observamos nosso corpo carnal, notamos que ele não deixa de envelhecer. Na Seicho-No-Ie existem muitos idosos que rejuvenesceram, mas, mesmo assim, a vida na Terra terá um fim, eles acabarão se aproximando passo a passo da morte do corpo. Nisso surge uma lacuna, uma condição entre o eu real e o desejo de liberdade infinita que brota do seu interior, dando origem ao sofrimento.
A seguir, vem o sofrimento da doença. Todos os homens desejam viver sempre com saúde. Contudo, geralmente adoecem. Constituem exceção as pessoas que compreenderam a Verdade da Seicho-No-Ie, mas mesmo elas, quando se aproxima a hora da morte, apresentam o processo de chemicalization (processo de autodesintegração) que, na visão do médico, é manifestação semelhante à doença. Isso constitui uma divergência entre a realidade e o ideal, causando sofrimento.
No final, vem o sofrimento da morte. Naturalmente, no plano da Imagem Verdadeira o homem vive eternamente, mas surge a contradição entre o eu real e o desejo de ser imortal até no plano do corpo carnal, que é uma imagem temporária. O que resulta dessa divergência são os quatro sofrimentos: do viver, do envelhecer, do adoecer e do morrer. O verdadeiro objetivo da religião é conceber aos homens a total liberdade da Vida, libertando-os completamente desses sofrimentos. Portanto, as graças mundanas como a de ganhar dinheiro, a de curar-se das doenças, não constituem uma parte, a metade nem dez por cento do seu objetivo.
Desejo ardente de se libertar dos quatro sofrimentos
A seguir, apresenta-se para nós a questão: "De que modo a liberdade infinita em nós se manifesta do nosso interior, de modo realístico, e não apenas como potencialidade?". Se, dentro de nós, não estivesse latente a originária liberdade infinita, não teríamos o desejo de conquistar essa liberdade. E não nos satisfazemos apenas com o fato de essa liberdade infinita estar alojada em nosso interior. Temos a necessidade de manifestá-la. Então, desde a Antiguidade, filósofos, sábios e santos do mundo religioso vieram se esforçando e descobrindo modos de conseguir essa liberdade infinita.
Na minha opinião, há, em linhas gerais, duas formas de alcançar isso.
O esforço próprio leva, no fim, a um impasse
Uma das formas é tentar tornar concreta a liberdade infinita imanente por meio de esforço próprio, e a outra é consegui-la por meio de fé na força alheia. A tentativa de conquistar a liberdade infinita neste mundo concreto por meio da força própria manifesta-se ora como um projeto de enriquecimento, ora como ambição de dominar o mundo, conquistando-se poder com muito esforço. Mas os senhores já comprovaram que é impossível adquirir a liberdade infinita por meio do esforço próprio. Até mesmo Napoleão, que afirmou não existir em seu vocabulário a palavra impossível, não conseguiu conquistar a liberdade infinita por meio da sua própria força. Ele conquistou até certo ponto o mundo, mas só com isso lhe foi impossível dominar todas as coisas. Ou seja, não conseguiu, enfim, conquistar a liberdade infinita.
A humanidade já comprovou que é impossível ter liberdade infinita na vida física, por meio de conquistas feitas com esforço próprio. Quando esse esforço em conquistar a liberdade infinita por meio da força própria passou a ser direcionado para o interior, tentando dominar a ilusão própria – em vez de se dedicar simplesmente às conquistas externas deste mundo –, surgiram as práticas religiosas de auto-adestramento. Dentre as pessoas que tiveram sucesso nesse tipo de esforço estão Bodhidharma, Kobo Daishi, Dögen e outros numerosos sábios que pertenceram à Shodomon (Escola budista que procura exteriorizar a natureza búdica originária através do esforço próprio)., como a seita zen-budista e a Shingon.
As práticas religiosas que utilizam a força própria para alcançar a iluminação se originaram da faculdade que os homens têm de conscientizar a priori, ou seja, antes da experiência, o fato de que em seu interior está alojado o infinito. A intuição de que o infinito existe dentro de si evoca do âmago do ser o esforço para buscar a liberdade infinita alojada em si. E como se faz para manifestar essa liberdade infinita? Excetuando os geniais sábios que citei há pouco, quanto mais pessoas comuns lutarem para dominar o mundo fenomênico, mais ficarão presas e sujeitas a ele e mais aumentarão os sofrimentos da sua mente.
Averiguar a origem do sofrimento
Quanto mais nos esforçamos para curar a doença, tentando subjugá-la, mais doentes ficaremos. Ou então, por mais que tentemos nos recuperar de um fracasso nos negócios, enquanto estivermos sendo arrastados e perseguidos pelos fatos fenomênicos imediatos, isso só aumentará o nosso sofrimento. Então, que faremos com esse sofrimento, a fim de manifestar a liberdade infinita da Vida latente em nós? É preciso, primeiramente, averiguar a origem desse sofrimento. Por que sofremos quando acontece algo? É preciso investigar sua causa fundamental. Pensando bem, a causa dos sofrimentos se encontra na mente ilusória que é arrastada pelos acontecimentos fenomênicos. Devido a essa mente, nos apegamos aos fenômenos externos e sofremos. A origem das preocupações e sofrimentos está na ilusão que se apega a esses fenômenos. É essa mente e ilusão que nos faz sofrer. Se descobrirmos a causa dos sofrimentos e nos livrarmos dela, as consequências, ou seja, os sofrimentos, deverão desaparecer.
Quando as pessoas passaram a se esforçar para se livrar da mente que se apega aos acontecimentos fenomênicos, a fim de afastar a causa dos sofrimentos, surgiu a escola religiosa que adota a força própria para alcançar a iluminação. Seus seguidores procuram reprimir ao máximo os desejos do eu fenomênico por meio do esforço próprio. Se conseguirmos abandonar totalmente a mente que se apega ao fenômeno, manifestar-se-á naturalmente a liberdade infinita latente em nosso interior desde o início, e alcançaremos a liberdade originária da nossa Vida.
Se dominarmos toda a agitação da mente ilusória manifestada externamente, revelar-se-á naturalmente a magnífica liberdade infinita do interior. Isso equivale a ter dentro de nós um cristal coberto de barro ou nuvens. Limpando-o, se manifestará um maravilhoso cristal, totalmente translúcido, que estava originalmente alojado em nosso interior. O princípio é simples e o ritual também.
Entretanto, colocando-os em prática, perceberemos que limpar uma por uma as nódoas da nossa mente é uma prática que exige muito autodomínio. A nossa mente, a força motriz que domina e ordena a nossa mente em ilusão, muitas vezes é a própria mente ilusória, tornando extremamente difícil o disciplinamento mental, que só seria possível de ser realizado por pessoas especiais, por gênios do mundo religioso. Esse disciplinamento mental por meio da força própria é praticado na seita xintoísta Mitake-kyo, no zen-budismo e no cristianismo, sendo que neste último equivale ao que foi praticado pelo seu precursor, João Batista.
O ascetismo não leva à iluminação
Tanto Sakyamuni quanto Jesus Cristo praticaram o ascetismo, e eu também me dediquei a isso num período da minha vida. Quando digo que em certa época pratiquei jejum ou passei cem dias praticando suigyô (prática que consiste em banhar-se numa cachoeira, ou jogar água fria no corpo em pleno inverno, a fim de purificar o corpo), refiro-me a isso.
Precisamos nos alimentar para viver. Para conseguir alimentos, precisamos disputá-los com os outros. Mesmo que possamos ter os alimentos sem disputar com os demais, precisamos, pelo menos, sacrificar micro-organismos. Para nos alimentar, usamos o fogo para cozinhar os alimentos e, nisso, acabamos eliminando inúmeros micro-organismos. E, ainda, a nossa alimentação é acompanhada de diversas outras mortes. Assim, até o ato de nos servir das refeições não é uma ação verdadeiramente perfeita. É uma imagem de morte e disputa. Se não conseguirmos viver sem matar outro ser, esse modo de viver não deve ser o verdadeiro. Deverá haver em algum ponto do nosso interior a Vida verdadeira, que consegue viver sem prejudicar o outro. Eu desejava descobrir isso de alguma forma e experimentei praticar o jejum e o suigyô.
Será que, tomando banhos frios e ficando sem comer nada, manifestou-se em meu interior a liberdade infinita? Não. Não se revelou a liberdade infinita nem senti que os meus pecados foram purificados. Ao ficar sem me alimentar, apenas tive sofrimento. Em vez de me levar à liberdade, o jejum fazia me sentir fraco e próximo da morte. Não era possível viver sem me alimentar. Se não me alimentasse, não precisaria matar outros seres vivos, mas acabaria matando este ser vivo que sou eu. Assim, estaria sendo bondoso com outros seres vivos, mas não comigo. Entretanto, sendo eu próprio um ser vivo, se tenho compaixão pelos outros seres vivos, preciso tê-la também por mim mesmo. Se não quero matar os micro-organismos, preciso matar a mim mesmo. Tanto de um lado, como de outro, acabo cometendo o pecado da matança. Fui assim atormentado por um sofrimento insolúvel: o de não conseguir viver sem cometer algum mal. Imaginando com base nesse meu sofrimento, creio que o sofrimento do viver, o primeiro dos sofrimentos padecidos por Sakyamuni, tenha sido algo assim. Esse é um sofrimento pelo que passou a maioria das pessoas que fundaram alguma organização religiosa.
Mesmo que consigamos dominar as ilusões por meio de disciplinamentos exteriores, não é possível viver sem prejudicar outro ser. E, uma vez que vivemos prejudicando o outro, o que existe aqui é uma imagem imperfeita. Portanto, a não ser que sejamos dotados de uma genialidade especial, não conseguiremos manifestar a perfeição infinita interior por meio desse método. Contudo, uma vez que o ser humano possui o desejo interior de manifestar a perfeição infinita, teria de pensar num método mais adequado e, finalmente, surgiu a escola Takiri (seitas budistas que creem na força alheia).
Na minha opinião, há, em linhas gerais, duas formas de alcançar isso.
O esforço próprio leva, no fim, a um impasse
Uma das formas é tentar tornar concreta a liberdade infinita imanente por meio de esforço próprio, e a outra é consegui-la por meio de fé na força alheia. A tentativa de conquistar a liberdade infinita neste mundo concreto por meio da força própria manifesta-se ora como um projeto de enriquecimento, ora como ambição de dominar o mundo, conquistando-se poder com muito esforço. Mas os senhores já comprovaram que é impossível adquirir a liberdade infinita por meio do esforço próprio. Até mesmo Napoleão, que afirmou não existir em seu vocabulário a palavra impossível, não conseguiu conquistar a liberdade infinita por meio da sua própria força. Ele conquistou até certo ponto o mundo, mas só com isso lhe foi impossível dominar todas as coisas. Ou seja, não conseguiu, enfim, conquistar a liberdade infinita.
A humanidade já comprovou que é impossível ter liberdade infinita na vida física, por meio de conquistas feitas com esforço próprio. Quando esse esforço em conquistar a liberdade infinita por meio da força própria passou a ser direcionado para o interior, tentando dominar a ilusão própria – em vez de se dedicar simplesmente às conquistas externas deste mundo –, surgiram as práticas religiosas de auto-adestramento. Dentre as pessoas que tiveram sucesso nesse tipo de esforço estão Bodhidharma, Kobo Daishi, Dögen e outros numerosos sábios que pertenceram à Shodomon (Escola budista que procura exteriorizar a natureza búdica originária através do esforço próprio)., como a seita zen-budista e a Shingon.
As práticas religiosas que utilizam a força própria para alcançar a iluminação se originaram da faculdade que os homens têm de conscientizar a priori, ou seja, antes da experiência, o fato de que em seu interior está alojado o infinito. A intuição de que o infinito existe dentro de si evoca do âmago do ser o esforço para buscar a liberdade infinita alojada em si. E como se faz para manifestar essa liberdade infinita? Excetuando os geniais sábios que citei há pouco, quanto mais pessoas comuns lutarem para dominar o mundo fenomênico, mais ficarão presas e sujeitas a ele e mais aumentarão os sofrimentos da sua mente.
Averiguar a origem do sofrimento
Quanto mais nos esforçamos para curar a doença, tentando subjugá-la, mais doentes ficaremos. Ou então, por mais que tentemos nos recuperar de um fracasso nos negócios, enquanto estivermos sendo arrastados e perseguidos pelos fatos fenomênicos imediatos, isso só aumentará o nosso sofrimento. Então, que faremos com esse sofrimento, a fim de manifestar a liberdade infinita da Vida latente em nós? É preciso, primeiramente, averiguar a origem desse sofrimento. Por que sofremos quando acontece algo? É preciso investigar sua causa fundamental. Pensando bem, a causa dos sofrimentos se encontra na mente ilusória que é arrastada pelos acontecimentos fenomênicos. Devido a essa mente, nos apegamos aos fenômenos externos e sofremos. A origem das preocupações e sofrimentos está na ilusão que se apega a esses fenômenos. É essa mente e ilusão que nos faz sofrer. Se descobrirmos a causa dos sofrimentos e nos livrarmos dela, as consequências, ou seja, os sofrimentos, deverão desaparecer.
Quando as pessoas passaram a se esforçar para se livrar da mente que se apega aos acontecimentos fenomênicos, a fim de afastar a causa dos sofrimentos, surgiu a escola religiosa que adota a força própria para alcançar a iluminação. Seus seguidores procuram reprimir ao máximo os desejos do eu fenomênico por meio do esforço próprio. Se conseguirmos abandonar totalmente a mente que se apega ao fenômeno, manifestar-se-á naturalmente a liberdade infinita latente em nosso interior desde o início, e alcançaremos a liberdade originária da nossa Vida.
Se dominarmos toda a agitação da mente ilusória manifestada externamente, revelar-se-á naturalmente a magnífica liberdade infinita do interior. Isso equivale a ter dentro de nós um cristal coberto de barro ou nuvens. Limpando-o, se manifestará um maravilhoso cristal, totalmente translúcido, que estava originalmente alojado em nosso interior. O princípio é simples e o ritual também.
Entretanto, colocando-os em prática, perceberemos que limpar uma por uma as nódoas da nossa mente é uma prática que exige muito autodomínio. A nossa mente, a força motriz que domina e ordena a nossa mente em ilusão, muitas vezes é a própria mente ilusória, tornando extremamente difícil o disciplinamento mental, que só seria possível de ser realizado por pessoas especiais, por gênios do mundo religioso. Esse disciplinamento mental por meio da força própria é praticado na seita xintoísta Mitake-kyo, no zen-budismo e no cristianismo, sendo que neste último equivale ao que foi praticado pelo seu precursor, João Batista.
O ascetismo não leva à iluminação
Tanto Sakyamuni quanto Jesus Cristo praticaram o ascetismo, e eu também me dediquei a isso num período da minha vida. Quando digo que em certa época pratiquei jejum ou passei cem dias praticando suigyô (prática que consiste em banhar-se numa cachoeira, ou jogar água fria no corpo em pleno inverno, a fim de purificar o corpo), refiro-me a isso.
Precisamos nos alimentar para viver. Para conseguir alimentos, precisamos disputá-los com os outros. Mesmo que possamos ter os alimentos sem disputar com os demais, precisamos, pelo menos, sacrificar micro-organismos. Para nos alimentar, usamos o fogo para cozinhar os alimentos e, nisso, acabamos eliminando inúmeros micro-organismos. E, ainda, a nossa alimentação é acompanhada de diversas outras mortes. Assim, até o ato de nos servir das refeições não é uma ação verdadeiramente perfeita. É uma imagem de morte e disputa. Se não conseguirmos viver sem matar outro ser, esse modo de viver não deve ser o verdadeiro. Deverá haver em algum ponto do nosso interior a Vida verdadeira, que consegue viver sem prejudicar o outro. Eu desejava descobrir isso de alguma forma e experimentei praticar o jejum e o suigyô.
Será que, tomando banhos frios e ficando sem comer nada, manifestou-se em meu interior a liberdade infinita? Não. Não se revelou a liberdade infinita nem senti que os meus pecados foram purificados. Ao ficar sem me alimentar, apenas tive sofrimento. Em vez de me levar à liberdade, o jejum fazia me sentir fraco e próximo da morte. Não era possível viver sem me alimentar. Se não me alimentasse, não precisaria matar outros seres vivos, mas acabaria matando este ser vivo que sou eu. Assim, estaria sendo bondoso com outros seres vivos, mas não comigo. Entretanto, sendo eu próprio um ser vivo, se tenho compaixão pelos outros seres vivos, preciso tê-la também por mim mesmo. Se não quero matar os micro-organismos, preciso matar a mim mesmo. Tanto de um lado, como de outro, acabo cometendo o pecado da matança. Fui assim atormentado por um sofrimento insolúvel: o de não conseguir viver sem cometer algum mal. Imaginando com base nesse meu sofrimento, creio que o sofrimento do viver, o primeiro dos sofrimentos padecidos por Sakyamuni, tenha sido algo assim. Esse é um sofrimento pelo que passou a maioria das pessoas que fundaram alguma organização religiosa.
Mesmo que consigamos dominar as ilusões por meio de disciplinamentos exteriores, não é possível viver sem prejudicar outro ser. E, uma vez que vivemos prejudicando o outro, o que existe aqui é uma imagem imperfeita. Portanto, a não ser que sejamos dotados de uma genialidade especial, não conseguiremos manifestar a perfeição infinita interior por meio desse método. Contudo, uma vez que o ser humano possui o desejo interior de manifestar a perfeição infinita, teria de pensar num método mais adequado e, finalmente, surgiu a escola Takiri (seitas budistas que creem na força alheia).
Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 36", pp. 91-100
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