DEUS, A SUBSTÂNCIA DE TODA A FORMA
(Joel S. Goldsmith)
- Capítulo 5 -
TRATAMENTO COMO A CONSCIÊNCIA DA VERDADE
O tratamento é uma parte fundamental do nosso trabalho, e se não o entendermos corretamente não iremos desenvolver plenamente a consciência da verdade. Através dos meus escritos eu tenho enfatizado a importância tanto da apresentação quanto da compreensão corretas da mensagem da verdade. Quando isto é atingido, o Espírito ou consciência da verdade logo se segue.
Às vezes as pessoas pensam que eu seja tão radical ao ponto de não dar ou de não acreditar no tratamento. Nada poderia estar mais longe da verdade. O tratamento é uma parte muito importante do meu trabalho diário e também o será para você quando compreender a sua natureza. Em meus textos eu faço uma distinção entre tratamento e prece, mas em nenhum lugar eu disse que não utilizamos o tratamento. A objeção que tenho feito é quanto ao hábito de repetir-se mecanicamente uma série de afirmações e negações na esperança de que elas possam realizar ou curar algum coisa.
Há uma diferença entre tratamento e as afirmações e negações. Quando repetimos várias vezes uma afirmação ou negação, aquilo se torna hipnótico, mera sugestão, e se algum resultado for obtido, a natureza da cura não será espiritual mas apenas mental. As duas são completamente distintas. A cura mental é algo similar à cura física. Poderá ocorrer a cura hoje, mas a condição pode ser que retorne na próxima semana, no próximo ano ou até mesmo amanhã. Houve apenas uma sugestão para a condição sair do pensamento e é tão fácil sugestionar no sentido da cura quanto no sentido da produção daquela condição.
ESTABELEÇA A VERDADE DO SER NA CONSCIÊNCIA
A forma de tratamento de O Caminho Infinito não visa curar algo e nem agir sobre o pensamento com uma sugestão de saúde até que venha a resposta dizendo: “Eu estou bem.” Nossa forma de tratamento é mais uma narração da verdade do ser, uma tradução da crença mental ou material em verdade espiritual. As nossas palavras ou nossos pensamentos não constituem o poder curador, sendo apenas passos que nos levam àquela consciência que realiza a cura.
Desde o momento do nosso despertar matinal até chegar a hora de nosso repouso à noite, ficamos frente às sugestões de pecado, doença, falta, limitação e morte que nos vêm do mundo. Parece não haver um só momento do dia que não esteja preenchido com as sugestões vindas do rádio e dos jornais. Mesmo que não leiamos jornais ou escutemos rádio, estas sugestões acham-se no ar e encontram espaço em nosso pensamento, parecendo vir com mais velocidade do que temos condições de rejeitá-las ou refutá-las. Assim, no início do nosso ministério, no início de nossa prática nessa vida espiritual, é necessário fazermos um consciente esforço para refutar aqueles argumentos ou sugestões, não no sentido de negar ou afirmar que elas existem e nem de repetir seguidamente que eles não são reais. Vamos refutá-los à luz da ponderação da verdade espiritual.
Com os anos de prática, de meditação e conscientização, virá o tempo quando não mais refutaremos as sugestões humanas do mesmo modo com que não saímos a declarar que doze vezes dose são cento e quarenta e quatro. Após passarmos pela escola primária, e tivermos decorado a tabuada de multiplicação e chegado a um certo ponto de desenvolvimento, nenhuma razão haverá para sairmos recitando aquela tabuada. Aquela resposta estará ao nosso alcance sempre que a necessitarmos para resolver um problema de matemática. Também aqui, se estivermos diante de um problema, seja nosso ou de um paciente, amigo ou parente, ou mesmo da nação ou do mundo, a resposta nos é disponível instantaneamente. Mas somente após muitos e muitos anos de ponderação das verdades espirituais e de prática em refutar as sugestões vindas a nós, encontrando respostas a elas, é que poderemos finalmente dizer: “Eu não tenho de gastar muito tempo no sentido comum de tratamento”, ou, “É tão fácil cuidar de cem pacientes num só dia quanto o é cuidar de doze deles”.
Vamos deixar bem claro esse assunto do tratamento. Repetidas vezes eu tenho afirmado que nós não precisamos conhecer o nome do paciente. Isto é verdade. Em nenhum ponto, mesmo nos primeiros estágios da prática, há a necessidade de se saber o nome ou a identidade do paciente. Quando nossa ajuda é solicitada nós podemos dá-la sem conhecer a pessoa solicitante; ou se a ajuda é em prol de outro alguém, também não precisamos identificar tal pessoa e nem mesmo a natureza do problema dela.
ESTABELECENDO A NATUREZA DO PROBLEMA
Embora não seja preciso ser contada a natureza do problema, isto algumas vezes é útil, principalmente do ponto de vista do paciente. É frequente o fato de o paciente transportar em seu pensamento um medo terrível de alguma condição, condição esta que ele realmente acredita poder estar presente em seu corpo. A condição pode ser inteiramente de sua imaginação ou pode ter a sua origem em alguma reportagem de rádio ou jornal que ele tenha ouvido ou lido. Eu conheci muitas pessoas que vinham “sofrendo” de câncer por vários anos e encontram-se ainda hoje tão fortes e robustas quanto o foram há dezoito anos atrás. Existe um constante temor em relação ao câncer, tuberculose, paralisia infantil, gripe e pneumonia. Muitos sentem dores que lhes dão a firme convicção de serem possuidores deste ou daquele mal, e frequentemente são libertados de seus temores ao conversar sobre isto com o praticista. O desabafo permite que aquilo saia de seu sistema; além disso, sabendo que alguém mais está participando daquilo, ele consegue soltá-lo com maior facilidade.
Portanto, em casos assim, é útil às vezes deixar que o paciente conte a natureza de seu problema, caso ele desejar fazê-lo. No entanto é preciso que o praticista seja aqui dotado de sabedoria. Uma vez declarada a natureza do problema, não deverá ser permitido ao paciente retornar a ele repetidamente. A natureza do problema precisa ser desconsiderada tanto pelo paciente quanto pelo praticista.
Em segundo lugar, pode também ser útil ao praticista ter a natureza do problema estabelecida, pois sempre que alguém solicita ajuda, seja qual for o seu grau de avanço espiritual, algo toma lugar em sua consciência. Tenha ou não conhecimento deste fato, a verdade é que algo está a ocorrer naquele momento.
Por exemplo, alguém poderia telefonar dizendo: “Meu braço está paralisado.” Neste instante, mesmo que o praticista não esteja cônscio disto, há uma resposta interior direta ao problema de inatividade ou imobilidade, que reconhece ser a consciência – não o corpo ou os músculos – a causa única e origem de toda ação.
COMECE O SEU TRATAMENTO COM A PALAVRA DEUS
O problema poderá ser de ordem mental, e também nesse caso algo tomará lugar no pensamento do praticista trazendo-lhe a ideia de que Deus, ou a Sabedoria divina, é a inteligência universal, a única inteligência que há, e que tanto o cérebro quanto o corpo não possuem uma inteligência própria de si mesmos. Há apenas uma inteligência, que é Deus. Mesmo que o praticista não o perceba, esta conscientização está tomando lugar em sua consciência.
Mas para aqueles que estão neste trabalho há pouco tempo, e que ainda não sabem da ocorrência desse fenômeno até mesmo inconscientemente, torna-se necessário que eles deem o tratamento conscientemente. Se o caso for de deficiência mental, quem dá o tratamento precisa conscientizar: “Ora, inteligência é Deus, e não é pessoal! Não pode haver uma pessoa com mais inteligência que outra. A inteligência é uma atividade una da Alma universal, sendo por esse motivo universal impessoal, imparcial, apresentando-se em igualdade em todos os seres espirituais.”
Todo o nosso problema decorre da crença na existência de um ser – eu ou você – separado de Deus, vivendo sua própria vida em função de sua educação ou falta dela, em função das circunstâncias do ambiente ou das condições nacionais e internacionais. A crença é esta, mas a verdade é que Deus, sendo tudo que há e sendo ser infinito, nunca é vítima de discórdias. É este o tratamento que se aplica a qualquer situação. Você poderá defrontar-se com toda categoria de ilusão humana, principiando com a palavra Deus, e o tratamento correto exigido por cada caso será encontrado.
Comece sempre com a palavra Deus. Se o problema ou crença tiver a ver com a ação ou inteligência, você de imediato poderá pensar em Deus como sendo Inteligência, e tudo que você atribuir a Deus referente à inteligência será também atributo do indivíduo. Se o problema for relacionado com o temor à morte, você poderá abrigar a ideia de Deus como sendo Vida, e tudo que for encontrado a respeito de Deus como Vida aplicar-se-á ao indivíduo. Como a Vida é imortal, eterna e onipresente, estas qualidades serão também verdadeiras para o indivíduo. Assim seria o seu tratamento.
Após termos conscientizado ou pronunciado a verdade sobre o problema, é chegado o momento de nos sentarmos e assumirmos uma atitude de escuta. É como se nos colocássemos naquele local da consciência ou da conscientização na expectativa do recebimento de uma resposta, de uma certeza de que tudo está bem e que o problema foi depositado no devido lugar para ser cuidado.
Neste ponto, após ter sido dado o tratamento, é que a prece se inicia. No meu modo de entender a prece é a palavra de Deus. A prece não é algo feito por você; a prece é algo de que você toma consciência. A prece é a palavra de Deus que vem a você. É aquela “pequena voz suave” trazendo-lhe uma certeza de harmonia, paz, alegria, poder, domínio, saúde, plenitude e abundância. Após o término do tratamento dado a você ou a outro alguém, sente-se em quietude, abrindo a consciência: “Eis me aqui, Pai”. “Fala, Senhor, teu servo ouve” (I Samuel 3: 9), e aguarde vir a resposta.
A CONSCIÊNCIA CURADORA
Acima de tudo é preciso lembrar-se de que o mínimo desejo de receber benefício pessoal, a presença do menor traço de egoísmo, são fatores que anulam o processo todo. Não há nada que deva ser obtido, e não podemos trabalhar do ponto de vista que admitisse haver. Deus é o infinito ser que revela, desenvolve, manifesta e expressa a Si próprio infinitamente como sendo eu e você. O único objetivo do tratamento e da prece é dar a conscientização da perfeição que já existe.
Tudo que nós chegarmos a conscientizar como sendo verdade para nós mesmos, para o nosso ser, deve ser compreendido como sendo também verdade sobre todos os demais. Em outras palavras, não é possível haver uma prece visando que o sol brilhe em nosso jardim somente. Num caso destes, a prece deverá ser apenas para o sol brilhar. Devemos estar desejosos de que ele brilhe tanto em nosso pátio como no de nosso inimigo. Enquanto conservarmos no pensamento algum senso de ódio ou inimizade, o tratamento ou prece será inútil. O Mestre do Cristianismo nos ensinou:
Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta. (Mateus 5: 23-24)
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. (Mateus 5: 44)
Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo até sete, mas, até setenta vezes sete. (Mateus 18: 21-22)
Não é fácil perceber que seria pura perda de tempo haver tratamento ou prece sem esta qualidade de perdão? A consciência precisa ser uma transparência para Deus, isto é, uma transparência de caráter universal, impessoal e imparcial. Sua chuva cai tanto sobre os justos como sobre os injustos.
Os ensinamentos do Mestre são repletos de amor e de perdão, sem qualquer traço de juízo ou condenação. No caso daquele homem cego de nascença, quando indagado pelos discípulos sobre quem havia pecado, se ele ou seus pais, para que nascesse cego, Jesus respondeu: “Nem ele pecou, nem seus pais” (João 9: 2-3). E para a mulher adúltera, ele disse: “Nem eu também te condeno” (João 8: 11).
Na Cristo-consciência não pode haver lugar que abrigue qualquer ódio, inveja, ciúme ou malícia. A consciência que retém algum desses traços não é uma consciência curadora. A consciência de um curador deve ser a consciência de um indivíduo que não acolhe nenhum sentimento de ódio, inveja, ciúme ou malícia. É fácil determinar se o seu tratamento está sendo ou não efetivo, se você pode ou não realizar um bom trabalho de cura. Em que dimensão um sentido de mágoa pessoal em relação ao mundo tem acolhida de sua parte? Não estou querendo dizer que para curarmos precisamos ter atingido uma condição de anjos. Por estarmos pouco “aquém dos anjos”, estamos sujeitos a sentir antipatia por algum líder político ou mesmo por alguma pessoa na rua, mas o principal é não permitirmos que tais sentimentos se aprofundem em demasia. Rapidamente devemos desvencilharmo-nos deles todos, pois seria obstáculos nos trabalhos de cura. A consciência deve ser uma transparência para Deus, e como Deus opera na consciência do amor, quando qualidades opostas são acolhidas não há uma consciência curadora. É preciso desejar ardentemente que a verdade conhecida sobre si mesmo seja universalmente válida.
A pergunta que tem surgido é se eu encaro o tratamento como razão iluminada. Acho que há necessidade da razão iluminada porque com a razão comum da mente humana não haveria um tratamento muito bom. Em outras palavras, o tratamento como razão iluminada seria a conscientização da presença da vida até mesmo onde a morte parecesse estar. A mente raciona irá dizer: “Bem, isto é a morte; não há sentido tentar fazer algo referente a ela”, porém a razão iluminada saberia que no universo espiritual nunca existiu a chamada morte.
O TRATAMENTO NECESSÁRIO PARA TODAS AS APARÊNCIAS HUMANAS
Toda aparência que vem a nós, de manhã à noite ou da noite ao amanhecer, referente ao cenário humano, necessita de tratamento. Mesmo que a aparência seja boa é preciso que haja o tratamento. Uma pessoa poderá estar em perfeita saúde neste momento e, amanhã, o quadro todo estaria modificado. Poderíamos conhecer hoje, no cenário humano, alguém de caráter moral impecável e encontrar amanhã toda a situação invertida. Portanto, não se satisfaça por aceitar mesmo uma boa aparência humana; traduza-a, também, pelo que é espiritualmente real, e cujo bem constitui apenas a forma.
Compreenda que onde está a boa aparência humana, realmente Deus está presente. Todo senso de bondade não se trata de bondade pessoal; todo senso de saúde não se trata de saúde pessoal, pois Deus é realmente a bondade e Deus é realmente a saúde. A menos que isso seja reconhecido, você ficará vulnerável ao ponto mais fraco que temos, ou seja, estar satisfeito com riqueza humana ou saúde humana – as boas aparências humanas.
Qualquer pessoa tem períodos em que está saudável, mas isto não evita que ela adoeça em outra época. Portanto, o tratamento real não deve estar reservado apenas para aparências tais como pecado, doença, alcoolismo ou acidentes, mas deve também ser considerado de forma que não sejamos enganados pelas aparências mesmo de bem ou de saúde humanos. Se a aparência for de bem, o tratamento poderá ser: “Eu não sou enganado nem por aquela aparência. Deus é a saúde real e o bem real, e Deus é a saúde e o bem permanentes.”
No mundo metafísico, a maioria dos tratamentos é reservada para o pecado, doença, falta, limitação e morte; mas em nosso trabalho, o tratamento é necessário para as aparências de saúde e riqueza. A saúde e riqueza humanas presentes aqui hoje, poderiam estar ausentes amanhã. O tratamento é a conscientização de que a saúde e a riqueza humanas não são a realidade, mas que exatamente aqui encontram-se a saúde e a riqueza da Vida Única, Deus – permanente, infinito, onipotente e onipresente. Este é o tratamento para toda aparência humana. O tratamento para todas as aparência é necessário até nos tornarmos tão firmes em nossa consciência da realidade de Deus, que mesmo quando estivermos olhando para pessoas saudáveis, estaremos tratando. Não tratamos a elas, mas tratamos o nosso conceito do que vemos nelas.
No momento em que observamos alguma necessidade, é quando somos chamados para o tratamento. Por que? Nosso tratamento não visa uma pessoa; tratamos o nosso conceito do que está aparecendo. Deus é infinito e é tudo, portanto. Tudo que existe é Deus, e nós nunca damos tratamento a Deus. Mas suponhamos estarmos vendo lá fora uma humanidade doente e pecadora. Ela realmente estará lá fora para ser tratada, ou estará em nosso conceito daquilo que está aparecendo? Neste ponto nós diferimos da maioria dos ensinamentos metafísicos, onde os estudantes são instruídos a dar tratamento somente se for solicitado a eles. Em O Caminho Infinito isto não é aplicado. Nós não podemos aceitar e não aceitamos as aparências.
Em todo momento que alguma fase de ilusão é apresentada a mim, mesmo se for boa, eu a traduzo conscientemente e percebo que exatamente ali encontra-se Deus manifesto. Se o indivíduo for receptivo ele será curado, sabendo ou não que o tratamento está sendo ministrado. Existindo ou não receptividade por parte dele, a coisa mais importante, a meu ver, é que eu não tenha tomado a aparência por realidade. Desta forma, o tratamento é o mesmo, não importando o fato de a pessoa ter ou não solicitado ajuda. A verdade permanece a mesma. Não existe uma verdade para uma pessoa com conhecimento suficiente para solicitar ajuda e outra verdade diferente, para a pessoa sem aquele conhecimento. Há somente uma verdade, e esta é a verdade que devemos conhecer para que possamos ser livres.
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