domingo, junho 08, 2014

Ensinamentos Essenciais da Seicho-No-Ie - 1/3


Masaharu Taniguchi


A EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DO SR. SAWADA

Sawada - Permitam-me falar um pouco de mim. Como já disse, pude contemplar o esplendoroso e magnificente mundo da Imagem Verdadeira (Jissô). Mas depois dessa experiência maravilhosa, fiquei no chove-não-molha e, para falar a Verdade, vivia um tanto inebriado com o estado de iluminação que julgava ter alcançado. Mas, por outro lado, tinha uma sensação incômoda, como se a viseira de um boné estivesse me atrapalhando a visão. Sentia que havia algo impedindo-me de apreender a Imagem Verdadeira da Vida com maior clareza. O problema era que eu não conseguia saber, exatamente, do que se tratava. Então, sucederam-se dias de vento e chuva e, embora eles não fossem tão fortes, fiquei sem disposição de sair e permaneci no quarto da pensão onde estou morando. Não compareci nem mesmo na Seicho-No-Ie. Depois de faltar vários dias às sessões de treinamento, voltei; e nessa mesma noite, estava praticando a Meditação Shinsokan aqui mesmo, neste recinto, quando uma luz espiritual, que irradiava obliquamente de algum ponto do céu, desceu bem à minha frente. A princípio, pensei que fosse a luz da lâmpada, mas constatei que a única lâmpada do recinto ficava do lado oposto do ponto de onde vinha a luz, e então compreendi que se tratava de luz espiritual. E dentro dessa luz, vi uma asa alvíssima, que se movia suavemente, num vôo silencioso. Era de uma alvura que superava qualquer outra deste mundo. A alvura deste mundo nunca é genuína, tendo sempre algum tom, como por exemplo, o azulado. Mas a alvura que eu vi naquela noite era pura, genuína. Compreendi que essa asa alvíssima simbolizava a pureza do mundo da Imagem Verdadeira e o movimento livre e incessante da Vida.

Na noite seguinte, fiz novamente a Meditação Shinsokan, um tanto curioso de saber que visão teria dessa vez. A verta altura, vi um estranho animal pardo, maior que um homem e semelhante a uma doninha, o qual levantou uma das patas dianteiras e ficou encarando-me com os olhos rutilantes. Pude ver claramente os pelos que lhe cobriam o corpo e também seu longo rabo; constatei que não se tratava de nenhum animal feroz, nem monstro terrível. No entanto, senti um calafrio percorrer-me o corpo. Imediatamente tratei de me controlar e mentalizei que, sendo eu um filho de Deus, nenhum espírito maligno poderia aproximar-se de mim. Em poucos instantes aquela visão se apagou.

Terminada a Meditação Shinsokan, fiquei a pensar no que acontecera, e cheguei à conclusão de que, se eu havia visto um animal como aquele na hora da sagrada Meditação Shinsokan, devia haver em mim uma falha que propiciava a tentação de Satanás. Refleti qual seria essa falha, e compreendo que ela consistia no seguinte: Pela prática da Meditação Shinsokan, eu alcançara um certo grau de despertar espiritual, chegara até mesmo a vivenciar diversos fenômenos mediúnicos e a apreender a Imagem Verdadeira da Vida, no nível do sentimento e da ideia; mas deixando-me levar pela presunção, senti-me extasiado, fiquei satisfeito comigo mesmo, preenchi de alegria somente a mim, e nada fiz para transmitir aos outros e partilhar com eles essa alegria. Esquecendo-me de que Deus é Amor, de que a Imagem Verdadeira da Vida de todas as pessoas é uma só, e de que o despertar espiritual só é verdadeiro quando ele se estende aos outros, deixei-me levar pela ufania e fiquei à toa no quarto da pensão durante vários dias, simplesmente porque não tinha vontade de sair. Compreendi que nisso consistia a minha falha. Era preciso passar para a ação.

Com a firme determinação de eliminar completamente os resquícios da ilusão que há muito vinha me incomodando como a aba de um boné acima dos olhos e começar a agir em conformidade com a Imagem Verdadeira da Vida, voltei para cá no dia seguinte. Nessa ocasião, o prof. Taniguchi estava lendo o Juryô-hon da Sutra do Lótus. Mostrando-o a mim, ele explicou o seguinte: "Sakyamuni não se tornou Buda a partir do momento em que alcançou a iluminação; ele foi Buda sempre, desde o princípio dos tempos. Precisamos conscientizar que o mesmo se dá conosco, isto é, não nos tornamos filhos de Deus no momento em que alcançamos o despertar, pois somos filhos de Deus desde o princípio dos tempos. Precisamos conscientizar que a Vida de Sakyamuni, o qual fazia pregações há 3.000 anos na Índia, é a mesma Vida que pulsa em nós; e que também a Vida de Jesus Cristo, o qual fazia pregações há 2.000 anos na Judéia, é a mesma Vida que pulsa em nós. Somente através  dessa conscientização será verdadeiro o nosso despertar".

Ouvindo essas palavras do mestre, percebi porque tinha a sensação de algo impedindo-me de alcançar o completo despertar, como se a aba de um boné estivesse atrapalhando-me a visão. Então, eu disse ao mestre: "Até certo ponto, compreendi a sua explicação. Compreendi que a nossa Vida, essencialmente, é uma com a Grande Vida. Mas, no tocante à grandeza, acho que não posso me comparar, de modo algum, à Grande Vida, pios me sinto incomparavelmente menor que Ela. Num dos poemas da Coletânea de Poemas Sagrados, que faz parte de um dos volumes da coleção 'A Verdade da Vida', está escrito que a voz do Anjo se fez ouvir, dizendo: 'Tu és a própria Imagem Verdadeira'. Mas eu não consigo pensar que sou a própria Imagem verdadeira, embora possa compreender que, essencialmente, a Imagem Verdadeira e eu somos um só".

Então, o prof. Taniguchi explicou-me usando a metáfora do fluxo de um rio. Disse-me ele: "Imagine que você é como o rio Yodo. O rio Yodo é relativamente pequeno, com largura e profundidade limitadas. Você talvez o considere muito pequeno, comparado com o grande lago Biwa, de onde ele se origina. Que tal se você, ao contemplar esse rio, pensar que é o lago Biwa que está ali fluindo sob a forma de rio Yodo? Do mesmo modo, em vez de você pensar que é apenas um diminuto fluxo de Vida chamado Sawada, que tal pensar que é a Grande Vida que está fluindo sob a forma de um homem chamado Sawada?". Essas palavras me fizeram despertar realmente para a Verdade. Depois disso, passei a vir aqui todas as noites para receber orientação sobre a prática da Meditação Shinsokan; e pude compreender o quanto é grande a diferença entre praticar a Meditação Shinsokan conhecendo a Verdade e pratica-la sem conhecer a Verdade, como que tateando no escuro.

Numa das vezes em que eu estava fazendo a Meditação Shinsokan, aconteceu o seguinte: apesar de estar com os olhos fechados, puder "ver" minhas próprias mãos, justapostas em posição de prece; elas pareciam enormes como as mãos de um gigante, e de suas extremidades emanava uma luz ofuscante, de tonalidade lilás. Mas logo as mãos gigantescas se apagaram, e em seu lugar apareceu algo que poderia ser o eixo central do Universo, que atravessava o céu e a terra. E vi-me instalado nesse centro do Universo. Senti-me expandir no tamanho do Universo e tornar-me completamente uno com ele. Vi planetas orbitando diante de mim e, no entanto, sentia que eles orbitavam dentro de mim. Eu não estava em estado de hipnose, nem estava sonhando. Podia ouvir o murmúrio do córrego, o ruído de passos, enfim, ouvia claramente todos os rumores do mundo ao meu redor, conseguia distingui-los e julgá-los; e no entanto sentia que tudo aquilo estava dentro de mim: sentia o fluir do córrego dentro d mim, sentia como se as pessoas que caminhavam lá fora estivessem andando dentro de mim. Percebi, então, que o córrego, as pessoas, enfim, tudo que existia ao meu redor não eram elementos isolados de mim, mas sim partes integrantes do meu próprio ser. E, pela primeira vez, compreendi o significado do verso sagrado que diz "Tu és a própria Imagem Verdadeira".

Prosseguindo a Meditação Shinsokan, perguntei a mim mesmo se realmente existe o que se chama "eu", e imediatamente me veio a resposta: "Existe". Mas a palavra "eu" não existiria se não tivesse sido formulada na mente. Em seguida, perguntei: "Deus existe?"; e de algum lugar, dentro de mim, veio a resposta: "Deus existe; você próprio é Deus". Quando pensamos, formulando palavras na mente, a resposta logo surge. Mas, se não formulamos palavras na mente, não surge coisa alguma. Com efeito, no versículo inicial do capítulo 1, do Evangelho Segundo João, está escrito: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Graças à experiência que vivi naquela noite, pude compreender o verdadeiro significado dessas palavras.

A partir daquele dia, a minha visão do mundo mudou completamente. Ao ver um poste, sinto que ele realmente faz parte de mim; ao ver o inocente sorriso de uma criancinha no bonde ou no ônibus, sinto realmente que aquela criancinha que está sorrindo alegremente faz paetê do meu ser, e fico alegre e feliz. Isso é o que realmente sinto, não é mera teoria. Até então, teoricamente sabia que "eu" e "os outros" somos um e que tudo se irmana em Deus, mas não conseguia sentir isso realmente. Porém, depois daquele dia, tem acontecido justamente o inverso: mesmo que eu procure argumentar comigo mesmo que "eu" e "os outros" somos seres distintos, não consigo deixar de sentir-me totalmente identificado com "os outros". Dizem que, desde tempos remotos, os grandes santos têm feito da tristeza dos outros a sua própria tristeza, e da alegria dos outros a sua própria alegria. Pela minha experiência pessoal, pude constatar que realmente é possível alcançar esse nível espiritual.
Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 11", pp. 178 -184

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