segunda-feira, março 31, 2014

A Verdade da Budificação do Homem - 7/7

Masaharu Taniguchi


Entretanto, compreender que "eu, assim mesmo, sou Buda" é compreender a essência da liberdade absoluta; e, se transmitirmos isso a quem não está preparado, este poderá abusar dessa liberdade em seu estágio intermediário de aprimoramento. É por isso que as práticas secretas do esoterismo não são transmitidas facilmente a qualquer um, e recomenda-se que o interessado as aprenda diretamente dos mestres do esoterismo. Quanto à prática da Meditação Shinsokan da Seicho-No-Ie, quem a aprende e pratica, no começo consegue concretizar tudo o que deseja, e, então, certas pessoas passam a se aproveitar dela para satisfazer seus desejos egoísticos. Tais pessoas logo perdem o poder de suas práticas e caem em desgraça. Por isso, o esoterismo Shingon não ensina facilmente o seu segredo a pessoas comuns.

Pensando bem, o esoterismo constitui coração de Vairocana e cérebro de Shukôngo-Himitsushu. Se você o transmitir aos que não estão preparados, estará cometendo pecado de sangrar o corpo do senhor do esoterismo. A respeito disso, Vairocana disse outrora a Himitsushu: "Não deves transmitir a quem não esteja preparado. Se o fizeres, estará comentendo o pecado de sangrar o corpo de Buda". E Himitsushu disse a Nargajuna: "Respeitosamente digo que Buda Vairocana prega o esoterismo pelo bem da humanidade. Todos os seres vivos recebem a sua graça. Entretanto, essa Verdade é como a parábola do nyoi-hôju. Ouvimos falar em nyoi-hôju, mas ele não se mostra. Porém, ele origina mil e um tesouros e beneficia todos os seres. Ele está oculto no Ryugu (palácio do dragão), no fígado do rei dos dragões, mas não se mostra. Assim também é o ensinamento mais precioso do esoterismo. Por isso, julgando-te bom conhecedor da Verdade, não transmitas levianamente o segredo do esoterismo aos que não estejam preparados. Se encontrares alguém com excelente dom para o despertar, transmite-lhe apenas os ensinamentos notáveis e observa-lhe a evolução espiritual. Após isso, transmite-lhe uma parte da grande Verdade esotérica." (da obra póstuma de Kobo-Daishi)

Pelo que acabamos de ver, não posso escrever claramente sobre os métodos secretos do esoterismo Shingon, mesmo porque eu próprio não os aprendi diretamente de um ajari (mestre habilitado para transmitir o esoterismo).

Mas será que o esoterismo é algo tão difícil de entender? Aprendê-lo formalmente é muito complicado, pois é necessário estudar a forma de entrelaçar os dedos das mãos, o modo de recitar o mantra, o modo de purificar o corpo, o modo de queimar o incenso, etc. Isso não é possível ser descrito em palavras. Não há outro meio senão aprender diretamente de um ajari e, mesmo que alguém pretenda aprendê-lo, não o ensinam para quem não tem dom para isso. Porém, não será difícil se o tentarmos pela introspecção, pois "o coração de Buda Vairocana e o cérebro de Shukôngo Himitshushu" estão dentro de nós mesmos. Se Buda Vairocana está dentro de nós, a sua Imagem Verdadeira também está dentro de nós, assim como o seu espírito do despertar, obviamente. A questão é "Como manifestar isso?". Será que isso consiste em formalidades físicas e rituais complicados?

Como já disse anteriormente, a budificação do homem não consiste em ele tornar-se Buda no futuro. O homem já é Buda, e o que já é Buda torna-se realidade por meio de contemplação (visualização) e mentalização. Todas as formalidades, os cerimoniais e rituais não passam de meios para ajustar a visão e a mentalização. Não são os cerimoniais e os rituais que levam à budificação. A Imagem Verdadeira do homem já é Buda desde o princípio. Mas, se a nossa mente for perturbada pela interferência de pensamentos mundanos e ilusórios, não poderemos enxergar a Imagem Verdadeira perfeita, harmônica e pura, muito menos manifestá-la nas atividades do dia a dia. Então, precisamos recorrer a algum meio para afastar essas interferências de pensamentos ilusórios. Esse meio consiste nas diversas práticas secretas do budismo Shingon.

Não são os meios ou as práticas em si que promovem a budificação; aquele que já é Buda é que se manifesta quando, por meio dessas práticas, se eliminam as impurezas que o encobrem. Se não houvesse outro modo para eliminar essa cobertura a não ser pela orientação direta de um ajari, não haveria salvação (manifestação de Buda – Imagem Verdadeira) para os que não têm chance de aprender as práticas secretas diretamente de algum ajari. Assim, a grande maioria das pessoas não poderia ser salva. Será que isso é vontade de Buda-Vairocana? Devo responder que não é. Se o homem não pode ser salvo a não ser submetendo-se a tais rituais complicados, a maioria das pessoas comuns não terá meio de salvação.

Surgiu, então, um grande mestre chamado Shinran (fundador da seita Shin, uma ramificação do budismo) para resolver essa situação. Ele pregou que basta recitar "Namu Amida-Butsu" para ser salvo. Assim, ele inventou uma religião que elimina, por um método tão simples, a ideia ilusória que diz "não posso ser salvo". Referindo-se a difíceis práticas e rituais preconizados pelo budismo de até então, ele os qualificou como "práticas e rituais inúteis" ou "caminho difícil de entender e seguir". Considerando-os como práticas inadequadas a pessoas comuns, ele abriu um outro caminho, o caminho de fácil prática.

Naturalmente, o ensinamento de Shinran não diz que a recitação "Namu Amida-Butsu" seja para eliminar a atuação de pensamentos ilusórios. Diz que o homem é salvo pelo infinito poder de Buda, por maior que seja a interferência dos pensamentos ilusórios. Isso é semelhante à sugestão inversa aplicada no hipnotismo. Quando o hipnotizador sugestiona o paciente dizendo "Afaste as preocupações e se concentre para poder entrar em estado de hipnose", o paciente pode pensar "Como afastar as preocupações? Como vou conseguir me concentrar? Será que vou conseguir entrar em transe?", e essas preocupações agitam a mente e impedem a hipnotização. Nesses casos, o hipnotizador diz "Pode se preocupar o quanto quiser. Quanto mais você ficar preocupado, torna-se mais suscetível à sugestão. Quanto mais você resistir, mais facilmente será hipnotizado. Quanto mais se agitar a sua mente, mais aumenta o meu poder de adormecê-lo. Viu, você ficou com sono!" (um exemplo de método para hipnotizar os resistentes).

Sugestionando desse modo, desaparece da mente do paciente a preocupação de afastar a preocupação, a mente se concentra, e o paciente entra rapidamente em transe. Da mesma forma, eliminando a ideia "não posso ser salvo" com a sugestão "Vairocana tem um poder tão grande que nem dá pra imaginar (igual à sugestão: 'O hipnotizador tem infinito poder de hipnotizar'); você será salvo, mesmo que tenha muitos pecados, mesmo que esteja perturbado por muitos pensamentos ilusórios (equivalente à seguinte sugestão do hipnotizador: 'Por mais que você tenha preocupações, não importa, pois vai ficar com sono'); se até os bons vão para o céu, com muito mais razão os maus (semelhante à sugestão hipnótica: 'Quanto mais preocupações tiver, mais facilmente entrará em transe'). Desta forma, a salvação pela força alheia pregada pela Shinsu consiste em budificar o homem eliminando a ideia ilusória que diz "não posso ser salvo". Por que o homem se realiza como Buda quando se elimina a ideia de que "não pode ser salvo"? É porque ele é originariamente Buda.

"Toda a humanidade é satva (bodhi) por toda a vida, mas, por estar dominada por avareza, ira e ignorância, os misericordiosos budas pregam sabiamente a concentração mental altamente secreta, ensinando os praticantes a visualizar e contemplar com sua mente o Sol ou a Lua. (...) Todas as pessoas encerram dentro de si a mente do Fugen-bosatsu." (trecho já citado: Hotsu-bodai-shin-ron, de autoria de Nargajuna)

A obra Ichigodaiyô-Himitsushu, de autoria de Kobo Saishi, também diz:

Todos os seres que possuem mente são dotados de cento e oito sabedoria dos cinco sábios, que são Dainichi-Nyorai, Ashuku-Nyorai, Hôsho-Nyorai, Mida-Nyorai e Fuku-Nyorai, e também de uma infinidade de budas sábios e budas racionais, e, portanto, não existe nenhum ser humano que não se realize como Buda; deves conduzi-los todos ao despertar.

A sutra Kan-fugen-busatsu-gyohô-kyô, que é uma das três partes que compõem a Sutra do Lótus, ensina a contemplar (visualizar) Fugen-bosatsu, e o esoterismo Shingon ensina a visualizar a lua cheia e contemplar a letra A (अ) dentro da lua cheia. Cada religião tem o seu ritual secreto que é transmitido diretamente do mestre para o discípulo, mas "todas as pessoas encerram dentro de si a mente de Fugen-bosatsu" e "toda a humanidade é Buda realizado na sua Imagem Verdadeira. E a Imagem Verdadeira, que é existência verdadeira, é mais poderosa do que qualquer força da falsa aparência (a nuvem, por mais poderosa que seja, não pode apagar a Lua; apenas a encobre). Basta então, acalmar a mente presa à falsa aparência, que aparecerá a perfeita e harmoniosa Imagem Verdadeira.

Mentalizar simplesmente o mantra "Namu Amida-Butsu" é um método para eliminar a mente que se prende à falsa imagem; visualizar a imagem de Fugen-bosatsu para serenar a mente e contemplar a mente de Fugen que existe dentro de nós é também uma forma; outra forma é aquela do esoterismo Shingon, que consiste em representar externamente a imagem de Buda por meio de zaho (postura específica com que se senta) e inkei (entrelaçamento de dedos das mãos - carma corporal), recitando Shingon (palavras de Buda - carma verbal), e, ainda, visualizando a lua cheia, contemplar a letra A (अ) que se mostra dentro do círculo lunar (carma mental). Além disso, existem complicados rituais e mantras praticados por ascetas esotéricos, tais como dharani (um tipo de mantra), kiai (emissão de voz), gomá (queima de incenso) e diversas práticas tão difíceis que pessoas comuns não conseguem praticar e nem dá pra descrever.

Porém, partindo do princípio básico de que o homem "já é Buda realizado" e "bodhi por toda a vida", acredito que pronunciar simplesmente "Namu Amida-Butsu" ou praticar o Shikan-taza (praticar concentradamente a meditação zen) ou contemplar Fugen-bosatsu, ou ainda praticar os rituais do esoterismo Shingon, todos eles são bons meios para eliminar "avareza e ignorância" (tipos de pensamento ilusório) e permitir a manifestação do estado natural (Imagem Verdadeira).

Bem, diante do que foi exposto até aqui, podemos compreender que o caminho para tornar o homem Buda também no mundo fenomênico, que já é Buda na sua Imagem Verdadeira, basta que seu estado mental se torne natural. Porém, se o tentarmos por meios formais e externos, será muito difícil e complicado, pois cada religião tem o seu método peculiar, esconde-o dizendo que é secreto, que somente pessoas com dom especial conseguem aprendê-lo, ou que não pode transmitir o seu segredo a não ser para quem faça um donativo vultoso. Desse modo, é muito difícil que todas as pessoas sejam salvas. Uma religião democrática precisa se tornar mais universal. Se o zen é praticado por quaisquer pessoas e se o "Namu Amida-Butsu" é recitado por quaisquer pessoas, é porque são simples. Acredito que, compreendendo o princípio básico, qualquer pessoa poderá aprender mais facilmente as praticas secretas do esoterismo Shingon e alcançar a salvação.

A seguir, vou extrair da Ichigo-daiyô-himitsushu, de autoria do mestre Kobo, a explicação da letra अ (A, em sânscrito) e expor o método para contemplar o círculo lunar e, com a mente serenada, conscientizar a Mente da Imagem Verdadeira, perfeita e pura.

Pergunta: Como é o método para contemplar isso corretamente?

Resposta: Desenhe a letra अ ou a Lua. Pinte-a de branco-pérola, de modo a torna-la sublime e bela, e afixe-a num lugar limpo. Sente-se diante dela, a uma distância de 4 pés (aproximadamente 122cm). Ao abrir os olhos, olhe-a gradualmente de baixo para cima. Ao fechar os olhos, olhe-a gradualmente de cima para baixo. Olhe-a e contemple-a acompanhando a respiração. Inspirando lentamente, vá abrindo os olhos, vendo a imagem da lua cheia de baixo para cima. Expirando lentamente, veja a imagem de cima para baixo. Controlando a respiração e serenando a mente, repita isso várias vezes, para entrar no estado de concentração. No início, essa prática pode ser difícil, mas, com o passar dos dias, ela se torna fácil. Mesmo com os olhos fechados e sem olhar para a imagem, esta passa aparecer na visão mental. Se isso acontecer, não olhe mais para a gravura. Serene a mente apenas por meio da sensação dos olhos cerrados.

É simplesmente isso. A explicação é longa, mas a prática é simples. Desenha-se uma lua cheia de uns 60 centímetros de diâmetro, pairando acima de uma flor de lótus, e contempla-se essa imagem. Quanto a mim, como não tenho disposição para desenhar uma lua cheia, tomo a postura de Meditação Shinsokan, com os olhos fechados e mãos postas, e, por trás das pálpebras, visualizo uma flor de lótus branca e, acima dela, pairando uma lua cheia de uma 60 centímetros de diâmetro. Fito-a, vejo-a, se aproximar de mim lentamente até envolver todo o meu ser, visualizo a aura emanada do meu ser como uma lua cheia límpida e, quando sinto que minha mente está praticamente concentrada, pronuncio ou mentalizo "A minha aura é como a lua cheia límpida e, a minha imagem é a de lua cheia límpida". Dessa forma, dissolvo-me na imagem em que estou identificado com a lua cheia límpida e serena.

Quando, assim, entro em estado de concentração mental, visualizo em forma de letra अ (A, em sânscrito) o meu corpo assentado dentro da luz cheia. Este método é conforme a explicação da contemplação da letra अ feita pelo mestre Kobo: "Na flor de lótus branca com oito pétalas de cinquenta centímetros, a letra अ emite claramente a luz de cor branca". Em seguida, mentalizo: "A letra अ é o corpo espiritual de Buda Grande Sol". E finalizo mentalizando e visualizando "Sou a letra अ, sou o corpo espiritual de Buda Grande Sol: a aura serena da lua cheia me envolve; assim como a lua cheia é perfeita, eu também sou perfeito, sou dotado de todas as virtudes, sou plenificado da sabedoria de Buda".

A contemplação da letra अ praticada na Seicho-No-Ie pode ser um tanto diferente do método secreto do esoterismo Shingon, mas será suficiente se a praticarmos com base na Verdade de que a Imagem Verdadeira do homem é Buda realizado. Se nos prendermos a um método complicado, nossa mente ficará apenas confusa. O importante é praticá-la todos os dias e acumular experiência. Algumas pessoas podem duvidar que se possa alcançar o despertar com meditação contemplativa como essa, mas o mestre Kobo, na sua obra retro criada, responde à pergunta "Que devo contemplar para alcançar o despertar?"

Resposta: Se deseja alcançar o supremo despertar (despertar de Buda), contemple com profunda fé o corpo espiritual de Buda.

Contemplar a letra अ é contemplar o corpo espiritual de Buda. Contemplar (ver) é manifestar, é o fato de a mente se transformar naquilo que está contemplando.

Pergunta: Quem treina a concentração mental levará quanto tempo para alcançar o despertar?
Resposta: Se treinar continuamente, conseguirá resultados materiais em menos de doze anos, e obterá também resultado imateriais em seguida.
Pergunta: Conseguirei realizar-me como Buda somente com essa contemplação?
Resposta: sim, somente com essa contemplação, e não precisará de mais nenhum outro tipo de treinamento. Até preguiçosos e menos dotados conseguirão alcançar o paraíso. Os esforçados e mais dotados conseguirão a budificação do corpo e resultados maravilhosos.

Como vimos, o mestre Kobo afirma categoricamente que por esse método se consegue a budificação, sem sombra de dúvida. Porém, diante da necessidade dessa prática por doze anos, o leitor poderá pensar que os jovens tem tempo pra isso e duvidará que os idosos moribundos alcancem a budificação.

Mas o leitor pode ficar tranquilo, pois já é Buda realizado. A ilusão, que é falsa existência, parece existir, mas não existe verdadeiramente, e não é possível levar doze anos para eliminar o que não existe. Mentalize agora, já, o seguinte: "Eu sou a letra , sou o corpo espiritual de Buda Vairocana; a serena aura de lua cheia me envolve. Assim como a Lua é perfeita e harmônica, minha mente é perfeita, é dotada de todas as virtudes e da suprema sabedoria de Buda" – e contemple essa imagem (contemplação da perfeição da luz mental). Nesse momento, você já está realizado como Buda. Isso porque o tempo não existe na Imagem Verdadeira.

Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 225-237

12 comentários:

  1. Excelente blog!
    Adicionei aos meus favoritos! :)

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  2. Grato!
    Fazemos o melhor possível!
    Seja sempre bem vindo!

    Namastê! _/\_

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  3. Muito boa esta série!

    Principalmente a parte final!

    Grato, Gustavo!

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  4. Sou eu quem agradece pelo acompanhamento e pela participação, SERgio.

    Como viram, esta série de textos apresenta um estudo aprofundado das escrituras do budismo. Parabéns aos amigos que conseguiram acompanhar tudo até o final, esse não é um livro fácil de se ler. Mas o seu conteúdo é importantíssimo.

    Foi apresentada a história da vida Sakyamuni, seu despertar, suas pregações (pequeno e grande veeículo), sutras budistas escritas por grandes mestres e bodisatvas, comparações do budismo com o cristianismo, interpretações das sutras explicitando passagens/vivências conscienciais... e sem contar que o tempo todo o livro aborda essas questões de forma a incitar a compreensão/despertar espiritual de quem o lê.

    Tudo o que foi apresentado no livro é importante! Mas, dentre essas mensagens importantes, se eu pudesse destacar uma que vale a pena interiorizar e manter sempre em mente, seria: "Todos nós somos Buda desde o princípio. Essa é a nossa natureza. Não foi preciso fazer nada para sermos Buda desde o princípio, simplesmente recebemos da existência essa natureza. E é pelo fato de já sermos Budas, que podemos conscientizar e realizar Buda em nossas vidas neste mundo: manifestá-Lo em nossos atos, pensamentos, sentimentos, palavras, em nossa mente e em nossa consciência. Se, fenomênicamente, podemos despertar espiritualmente, é porque já somos seres despertos. Sakyamuni só alcançou a iluminação porque ele sempre foi um ser iluminado, desde o início. Ter essa compreensão nos proporciona algum grau de paz, tranquilidade e relaxamento (que são necessários para acessar o estado de consciência desperta). Tenta a todo custo se tornar Buda (considerando que ainda não é), é como querer ver calma/tranquilas/paradas as águas de um lago e ficar se debatendo dentro dele. Por mais que a pessoa lute, se debatendo, as águas do lago nunca ficarão aquietadas.

    É por isso que a mentalização/visualização constitui um dos meios para "trazer à superfície" Aquilo que já é. Ao mentalizar/visualizar, não estamos criando (com o poder de nossa mente) determinada realidade. Ao contrário, estamos acessando uma que já existe (na Consciência do Ser). Esse é o fundamento da prática meditativa Shinsokan. Essa meditação pode ser usada como uma ferramenta mental, ou como feramenta consciencial - depende de como a pessoa a compreende.

    "Somos Budas desde o princípio. Já somos Buda realizado." A partir disso, tudo decorre. É importante manter essa conscientização onde quer que estejamos: principalmente na hora de nossas práticas espirituais, na meditação. Isso nos previne de querer alcançar um estado/consciência que julgamos não ter.

    Obrigado por ter acompanhado. A presença das pessoas aqui faz uma grande diferença.

    Reverências!
    Namastê!

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  5. Sobre esse assunto (de que "Já somos Buda realizado"), lembrei de um texto do Osho, já postado aqui. Nele, Osho fala exatamente disso.

    http://www.busca-espiritual.blogspot.com.br/2012/12/o-buda-interior.html


    Namastê!

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  6. Disse tudo!...o que É já É.

    Muitos ainda não entenderam isso:
    querem "alcançar", "se iluminar", achando que ainda "não alcançaram"
    E esse que quer(eu-ego)nunca "chegará lá" mesmo! Não há um caminho desta suposta entidade para o "Budato". Buda(o Ser Real onipresente) é o Caminho! Só quando percebermos que não somos o que pensamos que somos (e que já somos o Buda), é que cai esse "querer","do lado cá", de "desper-
    tar". Essa 'coisa' de querer iluminação só tem aparente sentido
    para a fenomenalidade.

    O Ser único/uno/onipresente já é,
    por assim dizer, "desperto"!

    Reverências!
    Namastê!

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  7. Divinos personagens,
    Que excelente série e que excelentes comentários!
    Tudo isso me inspira a compartilhar o que se segue.
    Foi dto: “Não há quem alcance o despertar, nem há despertar a ser alcançado. Da mesma forma, não há aquele que pratica, nem há prática a ser praticada. Por isso, no Dainichi kyoshô está escrito: "Praticar sem a prática, e atingir sem atingir; não há quem entre, nem local para se entrar; por isso se diz igualdade". Praticar sem a prática significa ser assim mesmo como é. Assim mesmo, somos Vairocana, somos Fugen e somos Kanzeon. Não é após a prática que somos Vairocana; já somos Buda. Nós simplesmente perdemos o "assim mesmo como somos". Para recurerar o "assim mesmo como se é", na Tendai (ramificação do budismo, no Japão) se pratica o Shinkan (meditação que consiste em afastar a mente ilusória e se identificar com a sabedoria superior); no esoterismo Shingon se pratica Ajikan (contemplação da letra A do sânscrito: अ); e na Seicho-No-Ie se pratica a Meditação Shinsokan. Todos eles são formas de concentração mental. É necessário não só entender com o cérebro a verdade da fusão de este corpo com Buda, mas assimilá-la.”
    O ensinamento do Núcleo facilita a assimilação do que foi dito fazendo uma diferenciação para fins didáticos entre personagem (do Ser) e o próprio Ser; e também entre mente (do personagem) e Consciência (do Ser).
    Assim, o que foi dito seria assim traduzido:
    “Não há quem alcance o despertar (porque o “personagem do Ser” não é real), nem há despertar a ser alcançado (porque o “Ser Real” já é plenamente desperto). Da mesma forma, não há aquele que pratica (porque o “personagem do Ser” não é real), nem há prática a ser praticada (porque a “prática” está na “representação”, que sendo uma “representação” não é real, não é Realidade). Por isso, no Dainichi kyoshô está escrito: "Praticar sem a prática, e atingir sem atingir; não há quem entre (porque o “personagem do Ser” não é real), nem local para se entrar (porque a “representação” não é Realidade); por isso se diz igualdade". Praticar sem a prática (é encenar estar praticando) significa ser assim mesmo como é (ser um ator encenando). Assim mesmo, somos Vairocana (somos o Ator encenando), somos Fugen (um dos nomes ou aspecto do Ator divino) e somos Kanzeon (outro dos nomes ou aspecto do Ator divino). Não é após a prática que somos Vairocana (não é após a encenação que nos tornamos Quem somos); já somos Buda (o Ator). Nós simplesmente perdemos o "assim mesmo como somos" (para poder encenar divinamente aparentemente perdemos a percepção de nossa real identidade e de que estamos representando, e de que “assim mesmo como somos”, ou seja, como atores divinos encenando uma peça teatral divina, somos o Ser Real, somos Quem somos).

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  8. Para recuperar o "assim mesmo como se é", na Tendai (ramificação do budismo, no Japão) se pratica o Shinkan (meditação que consiste em afastar a mente ilusória e se identificar com a sabedoria superior); no esoterismo Shingon se pratica Ajikan (contemplação da letra A do sânscrito: अ); e na Seicho-No-Ie se pratica a Meditação Shinsokan.
    Todos eles são formas de concentração mental. É necessário não só entender com o cérebro a verdade da fusão de este corpo com Buda, mas assimilá-la.”
    O divino personagem (do Ser que já somos) que “alcança o despertar” está na “representação”. Assim sendo, o despertar está na representação, pois, Quem somos já é desperto!
    Masaharu Taniguchi descreve que seu “personagem” se despertou, assim:
    “Naquele momento, compreendi claramente que a mente em ilusão é
    inexistente e, consequentemente, não existe também a “mente que
    alcança a iluminação por meio do despertar”. Compreendi que é um
    equívoco pensar que a mente em ilusão evolui, alcança a iluminação e
    se torna Buda. Compreendi que só existe a Mente (EU) da Imagem
    Verdadeira, que é Buda, que é Deus desde o princípio. Só existe o
    Universo do Jissô, que é a extensão da Mente-Jissô. O Buda fenomênico (Sakyamuni), que saiu do palácio do seu pai, Suddhodana, e meditou sob uma figueira durante seis anos para alcançar a iluminação, não era existência verdadeira. Unicamente o Buda eterno a quem ele se referiu na declaração “Eu sou Buda desde o princípio dos tempos” é existência verdadeira, e esse Buda eterno vive aqui e agora. Jesus Cristo na condição de homem fenomênico, que,
    pregado na cruz, clamou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, não era existência verdadeira. Unicamente o Cristo eterno, a quem ele próprio se referiu na declaração “Antes que Abraão existisse, eu sou” é existência verdadeira, e esse Cristo eterno vive aqui e agora. Conscientizei-me de que eu também não sou um homem fenomênico nascido de minha mãe em 22 de novembro de 1893 e que só agora alcançou o despertar. Compreendi que sou um ser divino, um ser
    búdico, desde o princípio dos tempos.”
    (Trechos do livro “A Verdade da Vida, vol. 20″, páginas 158 à 164)
    Na representação, a seguinte pergunta poderia surgir na mente do personagem:
    Partindo da representação, o que pode o “personagem” fazer para se despertar? Uma resposta possível seria: Perceber que “assim mesmo como é” já é Quem É!
    Ou seja, perceber que é o Ator representando!
    Contudo, essa “percepção” é do próprio Ator; não é a “percepção” do personagem.
    Portanto, é preciso que haja uma mudança de visão; uma mudança de percepção!

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  9. O segredo sobre o que fazer foi revelado nesta série, na parte 5/7 nestas palavras:
    “A mente que contempla uma flor torna-se ela própria uma flor.
    A mente que contempla o bodisatva Fugen torna-se bodisatva Fugen.
    A mente humana, se visualizar o mortal, torna-se mortal.
    Se visualizar Buda, torna-se Buda.
    Se visualizar os pecados alheios, ela própria se torna pecadora.
    Se ficar olhando apenas o mundo dos mortais, realizar-se-á um mundo cheio de problemas e conflitos.
    Por isso, não se deve visualizar o mundo humano cheio de conflitos.
    É necessária a mudança de visão.
    Se Sudhana (Zenzai Dôji) (um divino personagem) entrou repentinamente no mirante (no domínio do Ator) cujo portão (a percepção do Ator) se abriu com o estalido dos dedos de Maitreya (o Ator divino), foi devido ao poder da visão.
    O segredo – para a mudança de visão - está revelado bem aqui nesta passagem...
    Atentem bem em como criar a ambiência para que haja a mudança de percepção!
    Foi dito: “Se Sudhana (Zenzai Dôji) entrou repentinamente no mirante cujo portão se abriu com o estalido dos dedos de Maitreya, foi devido ao poder da visão.
    O segredo está nos detalhes desta passagem que diz: “Sudhana (Zenzai Dôji) entrou repentinamente no mirante...”
    Sudhana (Zenzai Dôji) é um divino personagem, que poderia ser o meu ou o seu...
    Foi revelado que este divino personagem “entrou repentinamente no mirante...”
    Aqui há uma referência implícita a aquelas “formas de concentração mental”.
    Poderia ser dito que:
    “Sudhana (Zenzai Dôji) entrou repentinamente no mirante, porque o visualizou...”
    Considerando que foi revelado que:
    “A mente que contempla uma flor torna-se ela própria uma flor.
    A mente que contempla o bodisatva Fugen torna-se bodisatva Fugen.
    A mente humana, se visualizar o mortal, torna-se mortal.
    Se visualizar Buda, torna-se Buda.
    Ou seja: “A mente que contempla... torna-se ela própria aquilo que contempla”

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  10. Duas são as palavras chaves aqui:
    Concentração e Contemplação!
    Uma se refere ao foco, outra ao conteúdo!
    Concentração no foco, o significante;
    Contemplação do conteúdo, o significado.
    Ambas estão resumidas na palavra “visualização”.
    Aquelas duas percepções (a percepção da mente do personagem e a percepção da Consciência do Ser) são dois espelhos divinos, que refletem o que visualizam...
    A mente humana (a mente do personagem) visualiza o universo dos personagens [a representação] e o reflete.
    A Mente divina (a Consciência do Ser) visualiza o universo de Deus [a Realidade] e a reflete.
    Considerando que foi dito: “...mirante cujo portão se abriu com o estalido dos dedos de Maitreya, foi devido ao poder da visão”; devemos atentar ao fato de que “o portão se abre com o estalido dos dedos de Maitreya”. Ou seja, é Maitreya [o próprio Ser, o Ator divino] Quem comanda a abertura do portão do mirante [é o Ser Quem percebe]... e não Sudhana (Zenzai Dôji)... Porque Maitreya é o Ser real e Sudhana (Zenzai Dôji) é o personagem...
    Ao personagem cabe visualizar, se concentrando no significante e contemplando o significado daquilo em que está se focando. Repentinamente esta visualização [do personagem] se converte na visão [do Ser], que é a meditação [a percepção do Ser pelo próprio Ser]. Por isso é dito que o personagem Sudhana (Zenzai Dôji) entra repentinamente no mirante cujo portão se abriu [entra, ou seja, adentra na percepção de Quem faz, de Quem “estala os dedos”] com o estalido dos dedos de Maitreya [que é Quem faz], “devido ao poder da visão” [que é a meditação].
    E como observação final desta série que se completa compartilho a seguinte percepção: Todas as citadas são “práticas meditativas”, ou seja, tanto a Shinkan (que consiste em afastar a mente ilusória e se identificar com a sabedoria superior); quanto a Ajikan (que consiste na contemplação da letra A do sânscrito: अ); quanto a própria Meditação Shinsokan são, tal como já foi dito, “formas de concentração mental”.

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  11. A meditação propriamente dita é, do ponto de vista da representação, a culminância do processo de visualização e também algo que transcende este processo. Assim, quem se concentra e contempla é o personagem, mas Quem medita é o Ser! Quem visualiza é o personagem mas Quem tem a visão é o Ser! Meditação é a percepção do Ser pelo próprio Ser; É a prática “Shin-Shin”... Embora não pareça, a meditação é o estado natural de percepção, é a percepção consciencial. A percepção mental é um estado alterado de percepção, um estado alterado de consciência, que torna possível visualizar uma grande miragem, que é a representação...
    A percepção mental é algo que faz parecer haver separação entre quem escreve e quem lê este texto; entre nós e Quem Somos... É, por fim, algo que faz parecer haver uma separação entre discípulo e mestre; ou que faz parecer haver distância entre o personagem e o Ser...
    Certa vez o próprio Masaharu Taniguchi, autor do texto “a budificação do homem”, revelou que: “Cada um dos senhores é um Masaharu Taniguchi.”
    E com esta revelação não há mais o que se comentar. Apenas compartilho essa percepção de que “cada um dos leitores é um Masaharu Taniguchi”!
    Que esta revelação seja percebida, desfrutada e compartilhada por todos!
    E assim seja...
    Pois, assim É!
    Namastê.

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  12. Que maravilhoso esclarecimento este seu comentário, Silvano!
    Fechou com a chave áurea!

    "A meditação propriamente dita é, do ponto de vista da representação, a culminância do processo de visualização e também algo que transcende este processo. Assim, quem se concentra e contempla é o personagem, mas Quem medita é o Ser! Quem visualiza é o personagem mas Quem tem a visão é o Ser! Meditação é a percepção do Ser pelo próprio Ser"

    Podemos concentrar,visualizar,contemplar;
    mas meditar "não"!
    Meditar não está no alcance do personagem. Em meditação não há ninguém!

    Surgir,ou não,um personagem "como desperto" é critério "dAquele que Faz". Não adianta o aparente esforço de quem(?) pretende "alcançar".

    E mesmo quando um personagem parece fazer esforço, não é seu suposto "livre arbítrio". É Quem verdadeiramente tem Livre Arbítrio
    "fazendo acontecer"
    Personagem é só "personagem" -nada faz!

    Mas...não somos personagens originalmente; então,é Quem somos( o Ser),quem faz...o Ser quem medita, que percebe.

    Sou grato ao seu comentário, e ao do Gustavo.

    Reverências!
    Namastê!


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