quarta-feira, dezembro 11, 2013

O ser afundando-se abençoadamente no Ser

 
Nisargadatta Maharaj


"A permanência na consciência remove todos os problemas passados e futuros e estabiliza a pessoa no presente – Aqui e Agora.
 
Bem, é bom ter conversas desse tipo, mas embeber e realizar a essência é muito difícil, de fato. Por que? Porque você acredita firmemente que você é o corpo e vive de acordo, enquanto alimenta desejos apaixonados de que você vai conquistar algo bom no mundo, e mais tarde algo ainda melhor. Essas expectativas estão baseadas primeiramente numa noção errônea de que você é o corpo.
 
A consciência é o sentido de se estar ciente, “eu sou” sem palavras, e ela apareceu inconscientemente e sem ser solicitada. Ela é a força vital universal manifesta e, portanto, não pode ser individualista. Ela se estende dentro e fora, como o brilho de um diamante. Você vê um mundo de sonhos dentro de você e um mundo perceptível fora de você, previsto que a consciência prevalece. Do nível do corpo, você pode dizer dentro e fora do corpo, mas do ponto de vista da consciência, onde e o que é dentro e fora? Apenas no reino do sentido de estar ciente “eu sou” – a consciência – pode o mundo existir, e também uma experiência pode existir. Segure-se neste sentido de estar ciente “eu sou”, e a fonte do conhecimento irá nascer dentro de você, revelando o mistério do Universo, do seu corpo e psiquê, da interação dos cinco elementos, dos três gunas e prakriti-purusha; e de tudo o mais.
 
No processo dessa revelação, sua personalidade individualista confinada ao corpo se expandirá no universo manifestado e será realizado que você permeia e abarca o cosmos todo como seu “corpo” apenas. Isso é conhecido como o “Puro Super-Conhecimento” – shuddhavijnana. Não obstante, mesmo no estado sublime shuddhavijnana, a mente se recusa a acreditar que ela é uma não-entidade. Mas conforme afundarmos na consciência, desenvolveremos uma firme convicção de que o conhecimento “eu sou” – o sentido do seu ser – é a própria fonte do mundo. Apenas esse conhecimento faz você sentir que “você é” e que o mundo é. Na verdade, esse conhecimento manifesto, tendo ocupado e permeado o cosmos, reside em você como o conhecimento “você é”.
 
Segure-se a esse conhecimento. Não tente dar-lhe um nome ou um título. Agora chegando numa situação muito sutil: o que é isso em você que entende esse conhecimento “eu sou” – ou do seu ponto de vista “eu sou”, sem nome, título ou palavra? Afunde-se no centro mais íntimo e testemunhe o conhecimento “eu sou” e apenas Seja. Essa é a “bênção do ser” – o swarupananda.
 
Você deriva prazer e felicidade através da ajuda de vários auxílios e processos externos. Alguns gostam de apreciar uma boa comida, alguns gostam de ver um filme, alguns ficam absorvidos na música… e assim por diante. Para todas essas apreciações alguns fatores externos são essenciais. Mas para residir na “bênção do ser”, absolutamente nenhuma ajuda externa é requerida. Para entender isso, tome o exemplo do sono profundo. Uma vez que você esteja em sono profundo, nenhuma ajuda ou tratamento serão requeridos e você aprecia uma felicidade silenciosa. Por que? Porque nesse estado a identidade com um corpo masculino ou feminino é esquecida totalmente.
 
Alguns visitantes me perguntam: “Por favor mostre-nos o caminho que nos levará à Realidade”. Como eu poderia? Todos os caminhos levam à irrealidade. Caminhos são criações dentro do escopo do conhecimento. Portanto, caminhos e movimentos não podem transportá-lo para a Realidade, pois a função deles é enredar você dentro da dimensão do conhecimento, enquanto que a Realidade prevalece antes dessa dimensão. Para compreender isso, você deve fixar-se na fonte da sua criação, no início do conhecimento “eu sou”. Enquanto não atingir isso, você estará enrolado nas correntes forjadas por sua mente e ficará enredado nas correntes das outras pessoas.
 
Portanto, eu repito, você se estabilizar na fonte do seu ser, então todas as correntes irão se romper e você será liberado. Você irá transcender o tempo, estará além dos tentáculos dele e prevalecerá na Eternidade. Esse estado é de beatitude extática – o ser afundando-se abençoadamente no Ser. Esse êxtase está além das palavras, ele é também o estado de estar ciente em total quietude. A quintessência do discurso está clara. Sua posse mais importante é o “conhecimento” que “você é” anterior à emanação da mente. Segure-se a esse “conhecimento” e medite. Nada é superior a isso, nem mesmo a devoção ao guru – guru bhakti – ou a devoção a Deus – Iswara bhakti."
 
 

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