terça-feira, abril 09, 2013

A Instrução Silenciosa - 4/5

 Ramana Maharshi


Discípulo: Que é a Luz da Consciência?

Mestre:  É o Ser-Consciente (Sat-Chit) auto-efulgente que ilumina os nomes e as formas revelando-os interiormente como pensamentos e exteriormente como o mundo sensível. Este Sat-Chit não pode ser objetivado, mas sua existência é inferida pelo fato de iluminar os objetos.

Discípulo: Que é Vijnãna (conhecimento)?

Mestre: É o estado de Consciência pura imutável semelhante a um oceano sem ondas ou a amplidão do espaço imóvel. É a Consciência pura sem atributos.

Discípulo: Que é Ananda?

Mestre: É a experiência de Felicidade suprema da Paz perfeita no estado de Vijnãna. Semalhante ao sono profundo, é inteiramente livre depensamentos. A este estado também se denomina Kevala Nirvikalpa Samadhi.

Discípulo: Que significa Anandatita?

Mestre: Ter atingido o estado de Felicidade suprema, ou Ananda que se assemelha ao sono profundo, isento de pensamentos, e assim permanecer realizando a Paz perfeita, ininterrupta, absolutamente imutável, ainda mesmo quando se está completamente desperto. Em tal estado, chamado Shaja Nirvikalpa Samadhi, o Sábio está em perfeito repouso, embora pareça estar em atividade. Sua condição é análoga à da criança alimentada quando está dormindo, a qual é inconsciente dos movimentos de seu próprio corpo.

Discípulo: Afirma-se que todas as coisas, sensíveis ou insensíveis, dependem unicamente do Atman. Essa  afirmação baseia-se em experiência ou conclusão teóricas?

Mestre: O Atman (ou Eu Real) é o Ser incorporado, mas não se deve tomá-lo como se fosse o corpo. A energia desse Poder Indefinível permanece latente quando estamos em estado de sono profundo e desperta como eu-consciência quando acordamos. Só, então, é que percebemos os objetos. Sem a presença do Eu não há percepção de objetos. Isso mostra claramente que todas as coisas surgem do Atman, n’Ele permanecem e por Ele são recolhidas.

Discípulo: Como se pode dizer que existe um só Atman, se remos inúmeros corpos que , a julgar por seus movimentos autônomos, devem ser animados por muitas almas (ou “eus”)?

Mestre: A noção de existência de muitas almas (ou eus) provém da idéia de “eu-sou-o-corpo” e desaparece quando o Atman se revela. E como em tal estado de consciência não existe o menor senso de dualidade, certamente não se pode negar que só existe um Atman.

Discípulo: Baseia-se em experiência a afirmação de que Brahman pode e não pode ser realizado com a mente?

Mestre: Sim. Costuma-se dizer que a mente pura o realiza ao integrar-se n’Ele, e que a mente impura é incapaz disso.

Discípulo: Que é mente impura? Que é mente pura?

Mestre: O poder de Brahman permanece indefinível. Ao emergir de sua fonte, identifica-se com o seu reflexo, que é suscetível de muitas “distorções” e tem assumido muitas formas, constituindo, assim, a mente impura. Enquanto, a esse mesmo Poder, uma vez desfeita sua união com o referido reflexo e respectivas distorções mediante o discernimento entre o Real e o Irreal, se denomina Mente pura.

Discípulo: Pode-se extinguir a prarabkha (Karma passado que começa a produzir seus frutos desde o nascimento do corpo) e continuar incorporado?

Mestre: Sim. O Karma é do fazedor (o ego), falso eu interposto entre o Eu Real (ou Atman) e o corpo, que é insensível. Esse ego, ao mergulhar em sua fonte (o Eu Real), cessa de existir e, na sua ausência, não pode haver prarabdha.

Discípulo: Se o Atman é Sat-Chit (Ser-consciência), porque é caracterizado como algo que não é Sat nem Asat (não-ser), Chit nem Achit (inconsciência)?

Mestre: Porque como Sat, o Atman é absoluto, universal, estando além de concepções correlativas, tais como, “sat e asat” e, similarmente, como Chit é Consciência Pura, estando, também, acima de opostos como “chit e achit”.
Cont...


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