Masaharu Taniguchi
PERGUNTA:
Sassaki - Lendo os primeiros volumes de A Verdade da Vida, senti alegria e também um grande assombro. Isto porque esse livro, ao mesmo tempo que fala do caminho da Verdade que tenho procurado trilhar, prova ser possível alcançar um estado que considero ideal mas que ainda não consegui alcançar. Eu acredito que a salvação se concretiza quando apreendemos a "realidade tal como ela é". Considero as alegrias e os sofrimentos desta vida meras tonalidades da mente que dão colorido a realidade pura e simples. Por isso, tenho me esforçado em abandonar as preocupações e contemplar a Essência Perfeita (Jissô) da Vida. Acredito que é este o caminho que levará, finalmente, ao estágio que torna possível ao indivíduo superar não só os sofrimentos espirituais mas até mesmo os sofrimentos físicos, e com essa crença venho encetando a jornada da vida. Mas, na prática, é muito difícil atingir essa meta.
Por isso, ultimamente andava cheio de dúvidas. Principalmente no que se refere às dores físicas, vinha me questionando: Já que as dores físicas se fazem sentir ainda que não pensemos nelas, não será inútil tentar superá-las enquanto levarmos esta vida terrena como seres humanos sujeitos a sensações físicas? Tenho perguntado a diversos estudiosos do assunto se é realmente possível superar as dores físicas, mas nenhum deles soube me esclarecer satisfatoriamente, apresentando provas evidentes. Eu próprio pesquisei o assunto, fazendo incursões na História da antiguidade, mas não encontrei evidências de que o ser humano consegue transcender as dores físicas. Li a história de um mestre budista hindu do século III que, ferido gravemente pela espada de um herege, morreu sorrindo; a história de São Francisco de Assis que, certa vez, vendo o fogo começar a queimar a roupa do corpo, exclamou alegremente: "Oh, fogo, tu também és meu irmão!" e deixou que o fogo se espalhasse; ou a história do sacerdote Kaicen, que, no incêndio que destruiu o Templo Erin, permaneceu em seu interior juntamente com outros sacerdotes e, mesmo quando o fogo se alastrou em suas vestes, manteve-se imóvel e morreu sentado. Não podia, porém, deixar de pensar que mesmo essas pessoas não transcenderam realmente a dor física, tendo-a apenas suportado estoicamente. Por isso, encontrar na época atual alguém que possua prova da superação da dor constituía ultimamente o meu maior interesse. Claro que também na época atual existem pessoas que praticam excentricidades como, por exemplo, pôr a mão no fogo, usando forças paranormais. Mas isso não é a prova que eu procurava.
Empregar forças paranormais é praticamente o mesmo que usar apetrechos; a única diferença é que as forças paranormais são invisíveis. O que eu buscava não era um meio de chegar a um estado de insensibilidade à dor, usando faculdades paranormais, mas sim o caminho para transcender a dor, pura e simplesmente. E ao ler o livro escrito pelo senhor, constatei, maravilhado, que ali estava o caminho que eu buscava. Decidi que, doravante, empenhar-me-ei no estudo e na prática do caminho pregado pelo senhor. Peço-lhe que me oriente sempre.
Recentemente um jovem de Etigo escreveu-me, dizendo que se encontrava à beira da loucura devido aos sofrimentos físicos e mentais insuportáveis e pedindo-me que o socorresse. Sem saber como ajudá-lo pessoalmente, informei-o a respeito do senhor e enviei-lhe um exemplar de seu livro. Estou certo de que isso trará resultados positivos.
Não sei se é de seu conhecimento, mas o dramaturgo Hyakuzo Kurata compartilha minhas dúvidas quanto à libertação do homem das dores físicas. Será que ele já falou com o senhor sobre esse assunto? Gostaria de fzer-lhe algumas perguntas.
Essa libertação significa que a realidade da dor deixa de existir? Ou significa que, apesar da realidade da dor continuar existindo, a pessoa se liberta dela? Naturalmente, eu também admito que as doenças do corpo melhoram ou saram quando a pessoa consegue transcendê-las. Mas penso que a melhora e a cura são efeitos secundários, e acredito que a questão principal deve ser a eliminação do sofrimento mesmo que a realidade da dor permaneça tal como é. Eu considero a realidade da dor e a sensação de sofrimento dois fatos distintos. Acredito que a realidade em si, a realidade tal como ela é, não pode ser modificada, mas que as sensações humanas, como sofrimentos, alegrias, etc., são produtos da ilusão e podem ser modificadas. Que acha do meu ponto de vista? Penso que o fundamental é atingir o estado em que se é possível sorrir mesmo estando em plena realidade da enferma dor, e considero efeito sencundário o fato de isso conduzir à cura em si. Tenho aqui um papel, em que anotei rapidamente os meus pensamentos, a fim de submetê-los ao julgamento de meus professores e amigos. Peço lincença para lê-lo diante do senhor e dos demais.
MINHA ATITUDE PERANTE A VIDA
- Sigo em frente, tendo como meta tornar-me uma pessoa capaz de sentir-se satisfeita com todas as coisas tais como elas são, e de realizar qualquer coisa com alegria.
- Creio que sofrimento e alegria, simpatia e ódio, etc., são produtos da ilusão e que, portanto, é possível libertar-se deles escancarado a "realidade tal como é".
- Considerando todos os sofrimentos como punição contra a ilusão, procuro aceitá-los docilmente em vez de tentar escapar deles, e esforço-me para apreender a essência de tudo.
- Creio que tanto a hesitação face às circunstâncias, como o fato de agir ora corretamente e ora erroneamente, são produtos da ilusão, e que, portanto, apreendendo a essência de tudo e todos, poderei agir sempre de modo absolutamente correto.
- Esforço-me para nunca dexar de apreender a "realidade tal como ela é", antes de passar para a ação.
O ESTADO NATURAL E VERDADEIRO
O estado natural e verdadeiro não pode ser outro senão o "estado real, tal como é", anterior a qualquer artifícios da mente. No entanto, nós, seres humanos, classificamos tudo e todos com critérios de nossa própria mente, estabelecemo-lhes limites com palavras, e ainda por cima atribuímo-lhes os mais variados "coloridos" com nossos sentimentos e emoções, e assim interpretamos, nós mesmos, a tragicomédia da vida. Acho que assím, é, em síntese, a vida mundanal.
Por conseguinte, para libertarmo-nos realmente dos sofrimentos, é imprescindível eliminar totalmente os artifícios da mente e voltar ao "estado real, tal como é". Penso que as doutrinas pregadas pelos santos da antiguidade também visavam isso.
No "estado real, tal como é" não há interferência da ação da mente. Portanto, quando a ele retornamos, todos os seres e todas as coisas deixam de se apresentar com distinções, limites e valores que nossa mente lhes havia atribuído, e revelam-se tal como são, com suas características e seus valores autênticos. Assim, torna-se possível reverenciar neles o infinito, que transcende todo e qualquer valor atribuído pela mente, e surge-nos espontaneamente o amor e respeito para com eles. Ademais, não havendo interferência das ações da mente, obviamente não seremos dirigidos nem pelo raciocínio nem pela vontade, e podemos apreender os fatos exatamente como eles são, o que nos permite, em quaisquer circunstâncias, agir livre e desembaraçadamente, sem hesitações e sem a necessidade de nos apoiar em algo. Alcançando tal estado espiritual, é lógico que podemos resolver todos os problemas deste mundo.
Como podemos, então, alcançar tal estado? É decidirmo-nos a seguir docilmente, com espírito isento, a "ordem" proveniente da "realidade tal como é", que pode ser assim traduzida: "Nada há que fazer. Está bem assim como é". Essa obediência deve ser imediata, sem a interferência de nenhuma intenção da mente. Quando nos habituamos a ouvir a "ordem" provinda da "realidade tal como é", passamos a ter espírito verdadeiramente isento, e então percebemos que a própria realidade se manifesta, revelando por si a resposta. A própria realidade, emitindo ordens e revelando por si mesma as respostas, vai eliminando as ilusões e manifestando eternamente o mundo da harmonia. considero esse processo a manifestação da vontade de Buda.
(O sr. Sassaki termina a leitura).
RESPOSTA:
Taniguchi - Os termos de suas declarações por escrito, intituladas "Minha atitude perante a vida" e "O estado natural e verdadeiro", que o senhor acabou de ler, parecem-me bastante parecidos com o que a Seicho-no-ie ensina. Todavia, a questão está na expressão "a realidade tal como é", usada pelo senhor. Se o significado dela é o mesmo da expressão "Essência da Vida" por mim usada, então podemos dizer que a sua filosofia coincide com a da Seicho-no-ie. Porém, se o senhor entende que aceitar a "realidade tal como é" significa aceitar docilmente a realidade do mundo perceptível aos cinco sentidos (por exemplo, a realidade da doença), considerando que "assim como é, está bem", e se essa é a sua atitude perante a vida, não podemos dizer que sua filosofia é a mesma da Seicho-no-ie.
A filosofia da Seicho-no-ie parte da negação de tudo quanto pode ser captado pelos sentidos. Em vez de ensinar que devemos aceitar docilmente a "realidade do mundo apreensível aos sentidos, tal como ela é", ensina que o mundo captado pelos sentidos não é realidade. A "realidade tal como é" existe no mundo verdadeiro (mundo do Jissô) e é a realidade da perfeição, da bondade e beleza supremas, na qual não há lugar para sofrimentos e tristezas. Em outras palavras, a Seicho-no-ie admite, não a realidade do mundo visível tal como ela é, mas sim a realidade do mundo que transcende os sentidos, o qual pode ser apreendido naturalmente após a negação total do universo visível aos olhos carnais.
O mundo perceptível aos sentidos é projeção imperfeita do mundo do Jissô (mundo verdadeiro). Assim sendo, quando afirmamos o mundo verdadeiro após havermos negado a "sombra projetada" (o mundo apreensível aos sentidos) e apagado todas as ilusões - do mesmo modo que traçamos a figura correta de algo no quadro-negro, após apagar o desenho mal feito -, o aspecto perfeito do mundo verdadeiro projeta-se corretamente neste mundo material. E então encontramos a salvação também neste mundo dos cinco sentidos. De fato, muitos são os adeptos que conseguiram a cura da doença ou a solução dos problemas financeiros.
A projeção da perfeição do mundo verdadeiro não significa tornarmo-nos capazes de permanecer no meio do fogo sem sentir a dor da queimadura, mas sim surgir naturalmente ordem e harmonia na nossa vida de modo que nunca acontecerá de ficarmos cercados pelo fogo. A conscientização da nossa essência eterna e perfeita não nos leva a atos insensatos como o de permanecer no meio do fogo e saudar com sorriso as chamas que queimam as nossas vestes, mas sim estabelece a harmonia entre nós e o fogo, fazendo com que ele seja sempre o nosso aliado, fornecedor de calor para aquecer o corpo, cozinhar alimentos, etc., e nunca um agressor que queima nossas roupas ou o nosso corpo. A conscientização da nossa essência eterna e perfeita não nos torna insensíveis à dor do ferimento causado por um projétil, mas faz com que nunca sejamos atingidos, como foi o caso do sr. Guizô Kubota, de Xangai. Em suma, a conscientização de nossa essência eterna e perfeita não nos confere a capacidade de realizar proezas fantásticas, mas sim, faz com que nós, vivendo conforme as leis da natureza, possamos manifestar neste mundo apreensível aos sentidos a harmonia do mundo verdadeiro.
O senhor disse, há pouco, que "a realidade em si, a realidade tal como ela é, não pode ser modificada". Se o senhor se referiu à realidade do mundo apreensível aos sentidos, então devo dizer que sua ideia difere consideravelmente da filosofia da Seicho-no-ie. Nós, seguidores dessa filosofia, não consideramos a dor física como um fato real; sabemos que a dor é mera "sombra da ilusão", e conseguimos transcender a dor através dessa conscientização. Sabemos que o sofrimento atual é reflexo dos carmas do passado, é mera "sombra" projetada e não um elemento real, e temos a convicção de que, contanto que mentalizemos a perfeição do Jissô (ser verdadeiro) e não nos deixemos prender aos fatos aparentes nem tornemos a criar carmas que venham a projetar aspectos negativos, o mundo concreto (mundo da projeção) que surgirá em seguida será bem melhor que antes. E temos tido provas reais disso.
Quanto ao sr. Hyakuzô Kurata, de que o senhor falou há pouco, só tive algum contato na época em que ele era editor da revista literária Seikatsu-sha. Ouvi dizer que, no últimos tempos, ele vem se dedicando ao aprimoramento espiritual junto à seita Oomoto e também no templo de Narita-Fudô. Portanto, não sei dizer até que ponto nossas ideias coincidem, hoje em dia.
Sassaki - Lendo os primeiros volumes de A Verdade da Vida, senti alegria e também um grande assombro. Isto porque esse livro, ao mesmo tempo que fala do caminho da Verdade que tenho procurado trilhar, prova ser possível alcançar um estado que considero ideal mas que ainda não consegui alcançar. Eu acredito que a salvação se concretiza quando apreendemos a "realidade tal como ela é". Considero as alegrias e os sofrimentos desta vida meras tonalidades da mente que dão colorido a realidade pura e simples. Por isso, tenho me esforçado em abandonar as preocupações e contemplar a Essência Perfeita (Jissô) da Vida. Acredito que é este o caminho que levará, finalmente, ao estágio que torna possível ao indivíduo superar não só os sofrimentos espirituais mas até mesmo os sofrimentos físicos, e com essa crença venho encetando a jornada da vida. Mas, na prática, é muito difícil atingir essa meta.
Por isso, ultimamente andava cheio de dúvidas. Principalmente no que se refere às dores físicas, vinha me questionando: Já que as dores físicas se fazem sentir ainda que não pensemos nelas, não será inútil tentar superá-las enquanto levarmos esta vida terrena como seres humanos sujeitos a sensações físicas? Tenho perguntado a diversos estudiosos do assunto se é realmente possível superar as dores físicas, mas nenhum deles soube me esclarecer satisfatoriamente, apresentando provas evidentes. Eu próprio pesquisei o assunto, fazendo incursões na História da antiguidade, mas não encontrei evidências de que o ser humano consegue transcender as dores físicas. Li a história de um mestre budista hindu do século III que, ferido gravemente pela espada de um herege, morreu sorrindo; a história de São Francisco de Assis que, certa vez, vendo o fogo começar a queimar a roupa do corpo, exclamou alegremente: "Oh, fogo, tu também és meu irmão!" e deixou que o fogo se espalhasse; ou a história do sacerdote Kaicen, que, no incêndio que destruiu o Templo Erin, permaneceu em seu interior juntamente com outros sacerdotes e, mesmo quando o fogo se alastrou em suas vestes, manteve-se imóvel e morreu sentado. Não podia, porém, deixar de pensar que mesmo essas pessoas não transcenderam realmente a dor física, tendo-a apenas suportado estoicamente. Por isso, encontrar na época atual alguém que possua prova da superação da dor constituía ultimamente o meu maior interesse. Claro que também na época atual existem pessoas que praticam excentricidades como, por exemplo, pôr a mão no fogo, usando forças paranormais. Mas isso não é a prova que eu procurava.
Empregar forças paranormais é praticamente o mesmo que usar apetrechos; a única diferença é que as forças paranormais são invisíveis. O que eu buscava não era um meio de chegar a um estado de insensibilidade à dor, usando faculdades paranormais, mas sim o caminho para transcender a dor, pura e simplesmente. E ao ler o livro escrito pelo senhor, constatei, maravilhado, que ali estava o caminho que eu buscava. Decidi que, doravante, empenhar-me-ei no estudo e na prática do caminho pregado pelo senhor. Peço-lhe que me oriente sempre.
Recentemente um jovem de Etigo escreveu-me, dizendo que se encontrava à beira da loucura devido aos sofrimentos físicos e mentais insuportáveis e pedindo-me que o socorresse. Sem saber como ajudá-lo pessoalmente, informei-o a respeito do senhor e enviei-lhe um exemplar de seu livro. Estou certo de que isso trará resultados positivos.
Não sei se é de seu conhecimento, mas o dramaturgo Hyakuzo Kurata compartilha minhas dúvidas quanto à libertação do homem das dores físicas. Será que ele já falou com o senhor sobre esse assunto? Gostaria de fzer-lhe algumas perguntas.
Essa libertação significa que a realidade da dor deixa de existir? Ou significa que, apesar da realidade da dor continuar existindo, a pessoa se liberta dela? Naturalmente, eu também admito que as doenças do corpo melhoram ou saram quando a pessoa consegue transcendê-las. Mas penso que a melhora e a cura são efeitos secundários, e acredito que a questão principal deve ser a eliminação do sofrimento mesmo que a realidade da dor permaneça tal como é. Eu considero a realidade da dor e a sensação de sofrimento dois fatos distintos. Acredito que a realidade em si, a realidade tal como ela é, não pode ser modificada, mas que as sensações humanas, como sofrimentos, alegrias, etc., são produtos da ilusão e podem ser modificadas. Que acha do meu ponto de vista? Penso que o fundamental é atingir o estado em que se é possível sorrir mesmo estando em plena realidade da enferma dor, e considero efeito sencundário o fato de isso conduzir à cura em si. Tenho aqui um papel, em que anotei rapidamente os meus pensamentos, a fim de submetê-los ao julgamento de meus professores e amigos. Peço lincença para lê-lo diante do senhor e dos demais.
MINHA ATITUDE PERANTE A VIDA
- Sigo em frente, tendo como meta tornar-me uma pessoa capaz de sentir-se satisfeita com todas as coisas tais como elas são, e de realizar qualquer coisa com alegria.
- Creio que sofrimento e alegria, simpatia e ódio, etc., são produtos da ilusão e que, portanto, é possível libertar-se deles escancarado a "realidade tal como é".
- Considerando todos os sofrimentos como punição contra a ilusão, procuro aceitá-los docilmente em vez de tentar escapar deles, e esforço-me para apreender a essência de tudo.
- Creio que tanto a hesitação face às circunstâncias, como o fato de agir ora corretamente e ora erroneamente, são produtos da ilusão, e que, portanto, apreendendo a essência de tudo e todos, poderei agir sempre de modo absolutamente correto.
- Esforço-me para nunca dexar de apreender a "realidade tal como ela é", antes de passar para a ação.
O ESTADO NATURAL E VERDADEIRO
O estado natural e verdadeiro não pode ser outro senão o "estado real, tal como é", anterior a qualquer artifícios da mente. No entanto, nós, seres humanos, classificamos tudo e todos com critérios de nossa própria mente, estabelecemo-lhes limites com palavras, e ainda por cima atribuímo-lhes os mais variados "coloridos" com nossos sentimentos e emoções, e assim interpretamos, nós mesmos, a tragicomédia da vida. Acho que assím, é, em síntese, a vida mundanal.
Por conseguinte, para libertarmo-nos realmente dos sofrimentos, é imprescindível eliminar totalmente os artifícios da mente e voltar ao "estado real, tal como é". Penso que as doutrinas pregadas pelos santos da antiguidade também visavam isso.
No "estado real, tal como é" não há interferência da ação da mente. Portanto, quando a ele retornamos, todos os seres e todas as coisas deixam de se apresentar com distinções, limites e valores que nossa mente lhes havia atribuído, e revelam-se tal como são, com suas características e seus valores autênticos. Assim, torna-se possível reverenciar neles o infinito, que transcende todo e qualquer valor atribuído pela mente, e surge-nos espontaneamente o amor e respeito para com eles. Ademais, não havendo interferência das ações da mente, obviamente não seremos dirigidos nem pelo raciocínio nem pela vontade, e podemos apreender os fatos exatamente como eles são, o que nos permite, em quaisquer circunstâncias, agir livre e desembaraçadamente, sem hesitações e sem a necessidade de nos apoiar em algo. Alcançando tal estado espiritual, é lógico que podemos resolver todos os problemas deste mundo.
Como podemos, então, alcançar tal estado? É decidirmo-nos a seguir docilmente, com espírito isento, a "ordem" proveniente da "realidade tal como é", que pode ser assim traduzida: "Nada há que fazer. Está bem assim como é". Essa obediência deve ser imediata, sem a interferência de nenhuma intenção da mente. Quando nos habituamos a ouvir a "ordem" provinda da "realidade tal como é", passamos a ter espírito verdadeiramente isento, e então percebemos que a própria realidade se manifesta, revelando por si a resposta. A própria realidade, emitindo ordens e revelando por si mesma as respostas, vai eliminando as ilusões e manifestando eternamente o mundo da harmonia. considero esse processo a manifestação da vontade de Buda.
(O sr. Sassaki termina a leitura).
RESPOSTA:
Taniguchi - Os termos de suas declarações por escrito, intituladas "Minha atitude perante a vida" e "O estado natural e verdadeiro", que o senhor acabou de ler, parecem-me bastante parecidos com o que a Seicho-no-ie ensina. Todavia, a questão está na expressão "a realidade tal como é", usada pelo senhor. Se o significado dela é o mesmo da expressão "Essência da Vida" por mim usada, então podemos dizer que a sua filosofia coincide com a da Seicho-no-ie. Porém, se o senhor entende que aceitar a "realidade tal como é" significa aceitar docilmente a realidade do mundo perceptível aos cinco sentidos (por exemplo, a realidade da doença), considerando que "assim como é, está bem", e se essa é a sua atitude perante a vida, não podemos dizer que sua filosofia é a mesma da Seicho-no-ie.
A filosofia da Seicho-no-ie parte da negação de tudo quanto pode ser captado pelos sentidos. Em vez de ensinar que devemos aceitar docilmente a "realidade do mundo apreensível aos sentidos, tal como ela é", ensina que o mundo captado pelos sentidos não é realidade. A "realidade tal como é" existe no mundo verdadeiro (mundo do Jissô) e é a realidade da perfeição, da bondade e beleza supremas, na qual não há lugar para sofrimentos e tristezas. Em outras palavras, a Seicho-no-ie admite, não a realidade do mundo visível tal como ela é, mas sim a realidade do mundo que transcende os sentidos, o qual pode ser apreendido naturalmente após a negação total do universo visível aos olhos carnais.
O mundo perceptível aos sentidos é projeção imperfeita do mundo do Jissô (mundo verdadeiro). Assim sendo, quando afirmamos o mundo verdadeiro após havermos negado a "sombra projetada" (o mundo apreensível aos sentidos) e apagado todas as ilusões - do mesmo modo que traçamos a figura correta de algo no quadro-negro, após apagar o desenho mal feito -, o aspecto perfeito do mundo verdadeiro projeta-se corretamente neste mundo material. E então encontramos a salvação também neste mundo dos cinco sentidos. De fato, muitos são os adeptos que conseguiram a cura da doença ou a solução dos problemas financeiros.
A projeção da perfeição do mundo verdadeiro não significa tornarmo-nos capazes de permanecer no meio do fogo sem sentir a dor da queimadura, mas sim surgir naturalmente ordem e harmonia na nossa vida de modo que nunca acontecerá de ficarmos cercados pelo fogo. A conscientização da nossa essência eterna e perfeita não nos leva a atos insensatos como o de permanecer no meio do fogo e saudar com sorriso as chamas que queimam as nossas vestes, mas sim estabelece a harmonia entre nós e o fogo, fazendo com que ele seja sempre o nosso aliado, fornecedor de calor para aquecer o corpo, cozinhar alimentos, etc., e nunca um agressor que queima nossas roupas ou o nosso corpo. A conscientização da nossa essência eterna e perfeita não nos torna insensíveis à dor do ferimento causado por um projétil, mas faz com que nunca sejamos atingidos, como foi o caso do sr. Guizô Kubota, de Xangai. Em suma, a conscientização de nossa essência eterna e perfeita não nos confere a capacidade de realizar proezas fantásticas, mas sim, faz com que nós, vivendo conforme as leis da natureza, possamos manifestar neste mundo apreensível aos sentidos a harmonia do mundo verdadeiro.
O senhor disse, há pouco, que "a realidade em si, a realidade tal como ela é, não pode ser modificada". Se o senhor se referiu à realidade do mundo apreensível aos sentidos, então devo dizer que sua ideia difere consideravelmente da filosofia da Seicho-no-ie. Nós, seguidores dessa filosofia, não consideramos a dor física como um fato real; sabemos que a dor é mera "sombra da ilusão", e conseguimos transcender a dor através dessa conscientização. Sabemos que o sofrimento atual é reflexo dos carmas do passado, é mera "sombra" projetada e não um elemento real, e temos a convicção de que, contanto que mentalizemos a perfeição do Jissô (ser verdadeiro) e não nos deixemos prender aos fatos aparentes nem tornemos a criar carmas que venham a projetar aspectos negativos, o mundo concreto (mundo da projeção) que surgirá em seguida será bem melhor que antes. E temos tido provas reais disso.
Quanto ao sr. Hyakuzô Kurata, de que o senhor falou há pouco, só tive algum contato na época em que ele era editor da revista literária Seikatsu-sha. Ouvi dizer que, no últimos tempos, ele vem se dedicando ao aprimoramento espiritual junto à seita Oomoto e também no templo de Narita-Fudô. Portanto, não sei dizer até que ponto nossas ideias coincidem, hoje em dia.
Cont...
(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 12", pgs. 24-33)
Caro Gugu,
ResponderExcluirMuitíssimo boa a pergunta. Achei a expressão " a realidade tal como é" bastante pertinente. Acho que ele quis dizer é como lidar com situações que nos atingem, completamente isentos, sem a influência da nossa mente condicionada. Ou seja, sem criar uma história pessoal, sem nos colocarmos no papel de vítima, sem julgar. Acredito que mesmo empregando tais ensinamentos como o de transcender aos 5 sentidos, ninguém está completamente livre de "acontecimentos ruins". O modo como lidamos com tais acontecimentos é que trará o sofrimento ou não.
Talvez o Osho ou E. Tolle tivessem respondido de forma diferente.
Grato.
Matheus,
ResponderExcluirEntendo que o texto está dizendo que, embora ninguém esteja completamente livre de "acontecimentos ruins" neste mundo visto pelos 5 sentidos, tal mundo é ilusório e não está abrangido pelo mundo Real. A mente é uma espécie de "ser híbrido" que parece estar no limirar entre um mundo e o outro. Entretanto, a Seicho-no-ie afirma que essa própria mente inexiste e, em decorrência disso, inexistem todas as coisas projetadas/vistas/percebidas por ela. Só o Espírito (Deus) é real.
Grande Abraço.