segunda-feira, janeiro 24, 2011

Encontrando o Cristo em nós mesmos - 01

H. EMILIE CADY


Em todos os seus ensinamentos Jesus tentou mostrar àqueles que O escutavam qual era a Sua relação com o Pai e ensiná-los que eles também estavam relacionados ao mesmo Pai e exatamente do mesmo modo. Vezes após vezes, experimentou explicar-lhes de diferentes maneiras que Deus habitava no íntimo deles, e que Ele era um Deus dos vivos e não dos mortos. Nunca Ele manifestou que fazia as coisas por Si mesmo, mas disse sempre: - “Eu por mim mesmo nada posso. O Pai que habita em mim é quem faz as obras”. Era, porém, difícil ao povo compreendê-Lo, como ainda é difícil para nós compreendermo-Lo hoje.

Havia, na pessoa de Jesus, duas regiões distintas: a parte carnal, mortal, que era Jesus, o filho do homem; e a parte central, viva e real – o Cristo, o Ungido. Assim, cada um de nós tem duas regiões no ser: uma, a parte carnal e mortal, que está sempre sentindo a sua insuficiência e fraqueza, em todas as coisas, e está sempre dizendo, “Não posso”; ao passo que, no mais profundo do nosso ser, há alguma coisa que nos nossos momentos mais elevados sabe ser mais do que conquistador sobre todas as coisas. Ela diz sempre: – “Eu posso, eu quero”. É o infante Cristo, o Filho de Deus, o Ungido, em nós. “A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus”.

Aquele que nos criou não nos formou e nos pôs à parte de Si mesmo como um artífice que fabrica uma cadeira ou mesa e a põe de lado, como coisa acabada e que é apenas trazida de novo, ao artífice que a fez, quando precisa de conserto. De modo algum. Deus não somente nos criou no princípio, mas é sempre a Fonte da Vida, habitando em nós. Dessa fonte, constantemente, jorra nova vida para restaurar os corpos mortais. Ele é a Inteligência que habita sempre em nós, que enche e renova as nossas mentes. As Suas criaturas não existiriam um só momento estivesse Ele ou pudesse Ele estar separado delas. “Sois o santuário de Deus… e o Espírito de Deus habita em vós”.

Suponhamos que uma linda fonte seja suprida por um manancial oculto e inesgotável. Em seu centro está ela cheia de vida, forte, vigorosa e borbulhando continuamente, com grande atividade; mas em sua superfície a água está quase parada a ponto de se tornar impura e coberta de espuma. Isso representa exatamente o homem. Ele é composto de uma substância infinitamente mais sutil, mais real do que a água. “Porque dele também somos geração”. O homem é o descendente – ou o trazimento à visibilidade – de Deus, o Pai. No fundo ele é puro Espírito, feito à imagem e semelhança de Deus, Substância do Pai, um com o Pai, alimentado e renovado continuamente pelo inexaurível Bem, que é o Pai. “Nele vivemos, nos movemos e existimos”. A superfície onde a estagnação tem lugar (que é o corpo do homem) não há muito que se assemelhe à Divindade, sob qualquer aspecto. Fixamos nossos olhos na periferia ou na parte externa do nosso ser, e assim perdemos a Consciência de Deus, que habita em nós, sempre ativo e imutável em nosso íntimo, e por isso vemo-nos doentes, fracos e infelizes. E até que aprendamos a viver no centro e conhecer que temos poder para irradiar paz desse centro, essa vida incessante e abundante, não estaremos bem e fortes.

Jesus conservava os Seus olhos longe da exterioridade, e mantinha os Seus pensamentos voltados para o íntimo do Seu ser, que era o Cristo. “Não julgueis pela aparência”, disse Ele, isto é, de acordo com o exterior, “MAS JULGAI SEGUNDO A RETA JUSTIÇA”, de acordo com a Verdade real ou do Espírito. Em Jesus Cristo, a Centelha Interior, que era Deus, a mesma que vive em cada um de nós, hoje, foi exteriorizada para se mostrar perfeitamente, sobre e acima do corpo, ou homem carnal. Ele operou todas as Suas poderosas obras não porque Lhe foi dado algum poder maior ou diferente daquele que Deus nos deu – não porque Ele era de alguma forma diferente, um Filho de Deus, e nós apenas criaturas de Deus – mas porque essa mesma Centelha Divina que o Pai implantou em cada nascituro, fora bafejada numa flama resplandecente, pelas Suas influências pré-natais, primeiras ambiências e pelos Seus esforços posteriores em manter-Se em constante e consciente comunhão com o Pai, a Fonte de todo o amor, vida e poder.

Ser tentado não significa que as coisas lhe advenham e que embora possam afetar os outros em muito, não lhe afetem de nenhum modo, por causa de alguma superioridade sua. Significa ser experimentado, sofrer e ter que fazer esforço para resistir. Paulo refere-se a Jesus como “alguém tentado em todas as coisas à nossa semelhança”. E o próprio Jesus confessou haver sido tentado quando disse aos seus discípulos: – “Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações” (Lc. 22: 26). A humanidade do Nazareno “sofreu tentação” ou experiência, do mesmo modo que você ou eu sofremos hoje, por causa das tentações ou sofrimentos e por igual maneira.

Sabemos que, durante o Seu ministério público Jesus dedicou horas, em cada dia, a sós com Deus; e nenhum de nós sabe o que Ele passou nos anos de Sua pré-maturidade – como você e eu estamos fazendo hoje – superando o mortal, os Seus desejos carnais, as Suas dúvidas e medos, até que atingiu o perfeito conhecimento dessa íntima Presença, esse “Pai em mim”, ao qual Ele atribuiu a autoria de todos os seus maravilhosos feitos; Ele teve que aprender como temos de aprender, Ele teve de se manter firme como nós o temos de fazer hoje; Ele teve de tentar muitas e muitas vezes, como nós o temos, ou então Ele não foi “tentado em todas as coisas à nossa semelhança”.

Precisamos todos reconhecer, creio, que foi o Cristo, em nosso íntimo, que fez de Jesus o que Ele foi; e o nosso poder, agora, reside em nossa compreensão da Verdade – porque é uma Verdade, quer nos capacitemos ou não disso – que o mesmo Cristo que vive em nós é o que vive em Jesus. É uma parte Dele próprio que Deus colocou em nosso íntimo, que vive sempre aí com inexprimível amor e desejo para assomar à periferia do nosso ser ou do nosso consciente como a nossa suficiência em todas as coisas. “O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se regozijará em ti com alegria, descansará no teu amor, exultará sobre ti com júbilo” (Sofonias 3:17). Cristo, em nosso íntimo, é o “bem-amado Filho”, o mesmo que habitava em Jesus. Ele é o “Eu em vós e vós em mim para que sejamos perfeitos” do qual Jesus falou.

Em toda essa explanação, em nada queremos diminuir de Jesus. Ele é ainda o nosso Salvador, pois que padeceu indescritíveis sofrimentos, na perfeita crucificação do ego, para que pudesse nos conduzir a Deus; para que pudesse nos mostrar a saída do pecado, da doença, e da aflição; para nos mostrar como esse mesmo Pai nos ama e vive em nós. Amamos a Jesus e devemos amá-Lo sempre com um amor que é maior do que todos os outros, e para provar o nosso amor seguiremos de perto os seus ensinamentos e a Sua vida. De nenhuma forma poderemos fazer isso perfeitamente, exceto tentando aprender o significado real de tudo o que Ele disse, e permitindo que o Pai opere através de nós, como Ele o fez, através Dele, nosso perfeito Irmão mais velho e Salvador.

Jesus algumas vezes falou da Sua parte mortal, mas Ele vivia quase completamente na parte crística Dele mesmo, tão conscientemente no centro do Seu ser, onde a verdadeira essência do Pai borbulhava em incessante atividade que Ele usualmente falava dessa parte.

Quando Ele disse: – “Vinde a mim que vos aliviarei” não quis dizer que convidava a humanidade a vir à Sua personalidade, Seu ego mortal (humano), pois Ele sabia que milhões de homens e mulheres não poderiam jamais chegar até Ele. Estava falando do próprio Cristo Nele, não significando “Vinde a mim Jesus”, mas “Vinde a mim o Cristo”. Nem significou “Vinde ao Cristo habitando em mim”, porque comparativamente, pouquíssimos poderiam fazê-lo. Mas Ele disse: – “As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo, mas do Pai que me enviou”. Assim, o Pai não dizia “Vinde a Jesus”, mas “Vinde a mim”, o que significa “deixai a vossa parte mortal, onde tudo é doença, tristeza e aflição, e vinde para o Cristo, onde habito e onde vos darei paz. Vinde à capacitação de que sois uno com o Pai, que estais cercados e cheios do amor divino, de que nada há no universo que é real, senão o bem, que todo o bem é vosso e vos dará descanso”.

“Ninguém vem ao Pai senão por mim” não significa que Deus é um Pai severo a quem devamos adular e pacificar indo a Ele através de Jesus, Seu mais terno e mais suplicado Filho. Não disse Jesus: – “Quem me vê a mim, vê o Pai”? Ou, em outras palavras, “Assim como sou, em amor, em gentileza e acessibilidade, assim é o Pai”? Essas palavras significam que ninguém pode ir ao Pai a não ser através da parte crística, em seu íntimo. Você não pode ter esta realização por meio de outra pessoa ou por qualquer caminho externo. Alguém poderá ensiná-lo como realizar e assegurar-lhe que tudo será seu se o fizer, mas você terá de recolher-se dentro de sua própria alma, encontrar ali o Cristo, e buscar o Pai através do Filho, para aquilo que você deseje.

Jesus estava constantemente tentando afastar a atenção do povo da Sua própria personalidade e fixá-la no Pai que habitava Nele, como a fonte de todo o Seu poder. E quando estavam apegados ao Seu eu mortal, porque seus olhos ainda não haviam sido abertos no entendimento sobre o Cristo no íntimo das suas próprias almas, Ele disse: – “Convêm-vos que eu vá. Pois se eu não for, não virá a vós o Paráclito, mas se eu for, enviar-vo-Lo-ei”, isto é, se Ele permanecesse onde pudessem continuar olhando para Ele todo o tempo, eles nunca compreenderiam que o mesmo Espírito de Verdade e de Poder habitava neles próprios.

Há uma grande diferença entre uma vida cristã e uma vida crística. Viver uma vida cristã é seguir os ensinamentos de Jesus, com a ideia de que Deus e Cristo estão inteiramente no exterior do homem, para serem buscados, mas sem terem de responder sempre. Viver uma vida crística é seguir os ensinamentos de Jesus no conhecimento de que, a constante Presença de Deus, que é sempre vida, amor e poder em nosso íntimo, está agora sempre pronto, e à espera para fluir abundante e prodigamente em nossa consciência e através de nós a outros, desde o momento em que nos abrimos a ela e confiantemente esperamo-la. Uma coisa é seguirmos o Cristo, o que é belo e bom, no que isso concerne, mas que é sempre imperfeito, e outra coisa é deixar que o Cristo, o perfeito Filho de Deus, Se manifeste através de nós. Uma coisa é esperarmos ser eventualmente salvos do pecado, da doença e da aflição; outra coisa é saber que somos, em realidade, salvos agora, de todos esses erros, pela Presença do Cristo em nós, e pela fé afirmando isso, até que sua evidência se manifeste em nossos corpos.

Acreditar, simplesmente, que Jesus morreu na cruz para aplacar a ira de Deus nunca salvou nem salvará ninguém do presente pecado, da doença ou da necessidade; e não foi isso o que Jesus ensinou. “Os demônios creem e tremem”, disseram-nos, mas nem por isso eles são salvos. É preciso algo mais do que isso – um toque vital de alguma espécie, uma comunhão de nossas almas com a Divina Fonte de todo bem e suprimento. Temos que ter fé em Cristo, crer que Cristo habita em nós e em nós está o Filho de Deus; e que esse Uno, que habita em nós, tem o poder de salvar-nos e tornar-nos íntegros. Sim, e mais: Ele já nos tornou íntegros. Pois não disse o Mestre: – “Tudo quanto suplicais e pedis, crede que o tendes recebido e te-lo-eis”?

Se você manifesta doença, procure esquecer a aparência que é externa, ou a superfície da lagoa, onde a água está estagnada e a espuma subiu – e falando do âmago do seu ser, diga: – “Este corpo é o templo do Deus vivo; o Senhor está agora no Seu templo sagrado; o Cristo é a minha vida, o Cristo é a minha saúde, o Cristo é o meu vigor; o Cristo é perfeito, porque Ele habita em mim como vida perfeita, saúde e vigor”. Diga estas palavras com fervor, esforçando-se por se capacitar do que está dizendo e quase instantaneamente a perene Fonte da Vida, no íntimo do seu ser, começará a borbulhar e continuará com uma rápida e crescente atividade, até que nova vida irradie através da dor, da doença, da mágoa, e de todas as enfermidades, para a superfície, e o seu corpo mostrará a perfeita vida do Cristo.

Suponhamos seja dinheiro o de que você necessite. Pense: – “Cristo é o meu suprimento abundante (ao invés de o "meu supridor"). Ele está aqui, em meu íntimo, agora, e deseja ardentemente manifestar-Se como meu suprimento. O Seu desejo é cumprido agora”. Não cogite de como Ele o fará, mas mantenha o firme pensamento no suprimento aqui e agora, esquecendo-se de todas as demais fontes, e Ele, seguramente, honrará sua fé manifestando-Se como seu suprimento, muitas vezes mais abundante do que você havia pedido ou pensado. Lembre-se das sábias palavras de Tiago, o apóstolo: – “Porque quem duvida é semelhante à vaga do mar, que o vento subleva e agita. Não cuide esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa”.

Em nenhuma parte do Novo Testamento está expressa a ideia de que Jesus Cristo veio para que pudesse haver, depois da morte, uma remissão da pena para o pecado. Essa ideia é pura ficção da ignorante mente carnal humana, de época posterior. Em muitos lugares da Bíblia são feitas referências à “remissão de pecados”; e mesmo Jesus, de acordo com o relato de Lucas, disse que “pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações”. “Pecado”, no texto original, não significa crime merecedor de punição. Significa qualquer erro ou falha que traga sofrimento. Cristo veio para que haja remissão de pecados, de erros, de falhas, os quais são inevitavelmente seguidos pelo sofrimento. Ele veio para trazer “boas novas e grande alegria a todos os povos”. Boas novas de que? Boas novas de salvação. Quando? Onde? Não há salvação da punição depois da morte, mas salvação dos erros e falhas aqui e agora. Ele veio para nos mostrar que Deus, nosso Criador e Pai, anseia com profundo desejo inexprimível ser para nós, através do Cristo, a abundância de todas as coisas de que necessitamos ou desejamos. Mas a nossa parte é escolher tê-Lo, e depois de ter escolhido, “atermo-nos firmemente até que Ele venha”, não até que ele venha depois da morte, mas apenas atermo-nos firmemente à nossa fé até que Ele Se manifeste. Por exemplo, por essa forma pedindo-Lhe saúde, quando por um ato da própria vontade você deixa de buscar em meios materiais (e isso nem sempre é fácil de se fazer) e declara que o Cristo, em você, é a única vida do corpo e a vida sempre perfeita; é apenas necessário que você se atenha, firmemente, sem vacilação no pensamento, a fim de se tornar bom.
Cont...


Um comentário:

  1. Maravilhoso texto, como sempre. Agradeço por este blog. Sou frequentador assíduo. É realmente uma fonte de inspiração textos de tantos iluminados reunidos. Uma luz que brilha na internet.

    Quando neste escrito o autor diz:

    "Amamos a Jesus e devemos amá-Lo sempre com um amor que é maior do que todos os outros, e para provar o nosso amor seguiremos de perto os seus ensinamentos e a Sua vida. De nenhuma forma poderemos fazer isso perfeitamente, exceto tentando aprender o significado real de tudo o que Ele disse, e permitindo que o Pai opere através de nós, como Ele o fez, através Dele,...".

    Para mim, fica claro o que Jesus quis dizer quando disse que nem todo aquele que dissesse "Senhor, Senhor" entraria no reino do céu. Ele disse que diria não conhecer aqueles que dissessem "Senhor" para sua personalidade mortal, aspecto aparente, e não ao Cristo Nele e em nós. Esse equivoco não faz entrar no reino.

    Comprender cada vez mais o que disse Jesus é, sem dúvida, a melhor forma de amá-Lo. Bajulá-Lo apenas não leva a nada.

    Sds,
    Inácio

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