Masaharu Taniguchi
Pensa você que não é possível haver "tesouro interno inesgotável" dentro do homem é que limitado? Se alguém vê o homem como ser limitado, é porque não vê o homem da Imagem Verdadeira que é filho de Deus, e vê o homem somático que é a imagem provisória. Você deve conhecer a fábula dos sapos do poço: em certo lugar havia um bando de sapos habitando um poço. A boca desse poço era muito estreita e não permitia ter ampla visão do exterior, sendo possível apenas enxergar um pedaço do céu azul. Certo dia, um sapo que morava num lago, em sua caminhada, passou por esse poço e olhou para dentro dele. "Quem está olhando daí?", perguntou um dos sapos de dentro do poço. "Sou o sapo que veio do lago. Por que você mora num lugar tão apertado como esse?", disse lá de cima o sapo do lago. "Lago? O que é lago? Onde existe isso?", perguntaram do poço. "O lago é um lugar que tem bastante água. Não é tão longe. Tanto é que pude vir passear até aqui". "O lago é grande?". "Se é grande? É bem maior do que isto!". "Que tamanho tem? Dessa pedra?", perguntaram apontando uma das pedras que cercavam a boca do poço. "Não é pequeno assim, não". "Então tem o tamanho desse poço inteiro?". "Que nada! Tem extensão bilhões de vezes maior do que este poço. Daqui também dá para ver o lago. Venham até aqui, que mostro para vocês", assim respondeu o sapo do lago, mas os sapos do poço não quiseram acreditar. E começaram a gritar ruidosamente em coro: "Onde se viu tamanho absurdo! Você deve ser mentiroso. Deve estar tramando alguma coisa contra nós. Não queremos mais saber da sua conversa. Vá embora daqui!".
O que vocês acharam dessa fábula? Se dessem um passo fora do poço, os sapos veriam o lago, quão vasto era o lago e quão livre é a vida fora do poço. "A verdade vos libertará". Sendo todos nós filhos de Deus, na verdade deveríamos estar vivendo num oceano vasto e sem restrições. Mas estamos vivendo num mundo cheio de inconveniências, insatisfações, provações e deficiências em todos os sentidos, porque iludimos a nós próprios e nos negamos a sair para o oceano da Verdade, como "os sapos do poço" desta fábula. Antes de mais nada, precisamos sair do poço pequeno. Esse "poço pequeno" simboliza a "sagacidade medíocre do homem". Se nós não abandonarmos a sagacidade medíocre do homem, jamais perceberemos que o nosso eu é capaz de alcançar a Sabedoria infinita e inesgotável de Deus. Dizer que não existe o oceano da Grande Sabedoria de Deus, não compreendê-lo, é iludir a si próprio.
A verdadeira evolução do homem ocorre quando ele se une internamente com a Sabedoria infinita e inesgotável de Deus; e com isto ela passa a manifestar-se externamente. Deixar fechado o canal da provisão infinita que vem do interior e desejar realizar a prosperidade somente no exterior é o mesmo que não deixar a água da rega penetrar até a raiz da planta e mortificar-se desejando que nasçam flores e folhas bonitas. Quanto mais tentamos fazer folhas crescerem numa planta sem raiz, mais depressa ela secará. Quando transplantamos uma muda, se as raízes da planta estão afetadas, deixamos os galhos e folhas podados até que as raízes se recuperem totalmente. Para cultivar a raiz, é preciso, por algum tempo, deixar podados os galhos e folhas que ficam do lado de fora. Quero dizer com isto que, se "podarmos" totalmente a "inteligência humana" externa por algum tempo, em breve a raiz interna se fortalecerá, e então, graças à força dessa raiz, brotará para fora também uma sabedoria realmente útil. Esta, sim, mesmo sendo sabedoria que surge no lado de fora, é sabedoria verdadeira, que, por estar ligada com o manancial que é sua fonte, não há como secar.
Se acontecer de errarmos o caminho a seguir na vida cotidiana, ficarmo doentes ou fracassarmos financeiramente, não foi porque nos faltou a "água subterrânea" da Grande Sabedoria de Deus, mas porque não firmamos bem as raízes para absorvê-la. Não é Deus o culpado; nós próprios somos os culpados. O defeito está em nós, assim como o fracasso; portanto, o meio de solucionar não é culpar Deus nem chorar as mágoas para Ele. Para a solução, basta cultivar as nossas próprias raízes para que passem a absorver a "água subterrânea" que vem de Deus. Se for para alguém cultivar por nós, pode parecer incerto; mas, como somos nós mesmos que o fazemos, o resultado é seguro e fácil.
Se procurarmos constantemente receber do "manancial da Grande Sabedoria" a provisão da sabedoria para o dia-a-dia, jamais cometeremos falhas. Isto porque do interior do nosso espírito surge uma luz para guiar-nos, que é a luz da sabedoria de Deus, infinita e perfeita, e jamais dá orientação errada.
Se você deparar com algum problema cuja a solução não é encontrada mesmo procurando em todas as direções exteriores, deve sentar-se, praticar a Meditação Shinsokan, orar e mentalizar por algum tempo: "Eu, sendo um com Deus, estou em harmonia com todas as coisas e fatos. Sendo assim, a inteligência necessária para resolver este problema nascerá dentro de mim espontaneamente". E obedecer à revelação que surgir na mente. Há entre os adeptos da Seicho-No-Ie muitos casos verídicos como o de uma pessoa que, não conseguindo encontrar o objeto desaparecido por mais que o procurasse, fez uma concentração mental através da Meditação Shinsokan, levantou-se em seguida e, no primeiro armário que ela abriu, achou o objeto procurado.
Se todas as manhãs praticarmos a Meditação Shinsokan, concentrarmo-nos mentalmente, mentalizando repetidas vezes que "a inteligência necessária para o trabalho de hoje fluirá do oceano da grandiosa Sabedoria de Deus e de maneira alguma fracassaremos", e só depois disso nos dirigirmos para o trabalho concreto, infalivelmente nascerão boas idéias para realizá-lo da melhor maneira possível. Nesse ponto, a Meditação Shinsokan pode ser considerada o "pão espiritual nosso de cada dia". Para a nossa vida é necessário também o pão material, mas o "pão espiritual" é muito mais necessário. Se a melhor idéia para cada dia nascer através da Meditação Shinsokan que fazemos pela manhã, nós não teremos necessidade de nos preocuparmos com os problemas de amanhã desde hoje - "A cada dia bastará o seu cuidado" -, nós já não correremos o perigo de ficar com insônia, stress ou neurastenia causados pela preocupação com o amanhã.
Nosso espírito provém de Deus, e, no momento em que ele se fundir com o Espírito infinito, que é a sua fonte, e se tornar transparente, tudo será dado ao nosso conhecimento, conforme se fizer necessário. Quando reconhecemos esse fato, libertamo-nos de todo tipo de ansiedade pelo futuro. Se, de acordo com a necessidade, podemos conhecer tudo, para que precisamos nos preocupar com o futuro? Há pessoas que não conseguem deixar de se preocupar por mais que lhe digamos para não fazê-lo. Mas isto acontece porque elas não acreditam realmente que, de acordo com a necessidade, tudo que é necessário será levado ao seu conhecimento. Por isso, em vez de lhes dizer "Não se preocupem desnecessariamente", o melhor é fazê-las conscientizar-se que elas são filhas de Deus que se originam de Deus, e que o Pai onisciente lhes ensina tudo o que a elas for preciso, conforme a necessidade. Se tivermos essa conscientização, poderemos realmente manter um estado de espírito pacífico, sem nos inquietarmos jamais com o futuro.
Quantas e quantas pessoas estão sendo constantemente perseguidas pela ansiedade, tornando-se prisioneiras do medo, buscando salvação para lá e para cá, perdendo dinheiro lá, a fortuna aqui, encurtando a vida do corpo carnal a cada dia que passa, só porque não conseguem acreditar em Deus como ser onisciente e amor infinito, que lhes dá as coisas materiais e também a inteligência, de acordo com a necessidade! Somente quando reconhecermos que TODA a provisão advém de Deus, que a verdadeira paz vem de Deus, e que ao mesmo tempo esse Deus é provisão infinita que preenche o Universo, tornamo-nos um internamente com essa provisão infinita; então, a verdadeira paz, a verdadeira tranquilidade tomam conta do nosso espírito.
Assim sendo, a verdadeira paz espiritual, a felicidade espiritual e a tranquilidade suprema são aquelas "paz", "felicidade" e "tranquilidade" que coisa alguma no mundo pode nos dar; não poderão ser conseguidas enquanto estivermos perseguindo-as no exterior. Não adianta acumularmos coisas materiais, dinheiro, e construir a casa pensando pensando que tendo coisas materiais não teremos mais ansiedades pelo futuro, que tendo dinheiro não teremos mais preocupação, que tendo casa não teremos mais insegurança, pois nem a ansiedade pelo futuro, nem a preocupação, nem a insegurança deixarão de existir. O que possui forma desintegra-se rapidamente quando, no mundo da mente, deixa de existir a força que mantinha essa forma. É o mesmo que um corpo carnal desprovido de espírito desintegrar-se rapidamente. Por isso, os artifícios e esforços no sentido de manter no mundo das formas os "bens materiais", o "dinheiro", a "casa", a "fortuna", quando não há em nosso interior força espiritual capaz de mantê-los, só podem deixar-nos exaustos e provocar depressão nervosa.
É por esse motivo que a maioria das religiões abomina os "bens materiais" ou o "dinheiro" como coisas que aumentam o apego e o sofrimento do homem, e aconselha a manter distância delas. Mas a Seicho-No-Ie não abomina os "bens materiais" e o "dinheiro", porque considera que eles não existem por si próprios e que não passam de sombra da mente; por isso, para a Seicho-No-Ie tanto faz ter ou não ter; mesmo que tenhamos em excesso, não há necessidade de afastá-los; e, da mesma maneira, mesmo que os percamos, não há necessidade de correr atrás deles. Se a mente se tornar rica, automaticamente os bens também se tornarão abundantes. Se a mente estagnar, automaticamente os bens também estacionarão. Mas, como a mente é originariamente LIVRE e ELÁSTICA, o acúmulo da riqueza estática não está revelando o aspecto elástico originário do espírito. Circular abundantemente, fartamente, de acordo com a necessidade, sem se ficar em nenhum lugar - este é o estado de riqueza projetada pela mente que conseguiu a liberdade. O mesmo acontece com o corpo carnal: acúmulo de gordura não quer dizer saúde, intestino preso não é saúde. O estado em que a energia flui abundantemente para dentro e para fora de nós, circulando sem estagnar, e no qual o metabolismo se realiza de modo perfeito - este é o estado de saúde no qual está se manifestando no corpo carnal a liberdade mental da pessoa.
Talvez o comum das pessoas pense que tanto os objetos como o dinheiro ou a saúde física surjam em consequência dos artifícios "externos" e do fato de terem se preocupado com isso. Mas os objetos, o dinheiro e a saúde conseguidos dessa maneira, ainda que temporariamente se tornem realidade, se não tiverem as raízes firmadas no mundo da mente acabarão se desintegrando rapidamente. Seja a verdadeira riqueza, seja a verdadeira saúde ou qualquer provisão, realizam-se quando, pelo fato de o nosso espírito se ligar firme e profundamente a Deus, naturalmente começar a atuar em nosso interior e em nosso ambiente idéias que não foram elaborações nossas. Assim sendo, como estaremos num outro mundo, firmemente arraigados na provisão infinita chamada Deus, mesmo que aos olhos alheios pareça estarmos numa situação insegura, não há estado mais seguro do que esse.
O cavalo que corre no zootrópico, mal desaparece, e surge de novo. Isto porque no centro há uma luz, e em volta dela existe uma placa na qual está recortada a silhueta do cavalo; desde que essa silhueta não seja desfeita, a imagem desaparece mas reaparece; vai mas volta, isto é, não desaparece para sempre, não é uma coisa que corre e vai embora. Ele está ligado à provisão infinita, a qual vem e escoa sem cessar. Compreendendo isso, podemos permanecer em paz sem que a mente se prenda às transformações do fenômeno, pois a provisão necessária flui conforme a necessidade e, seja sabedoria, seja força vital, "bens" ou "dinheiro", nada faltará quando se fizer necessário.
Ilustremos isso com a minha própria experiência:
Nos primeiro anos da revista mensal Seicho-No-Ie, eu a redigia ao mesmo tempo que trabalhava num emprego. Até me demitir da firma, em agosto de 1942, era pequeno o número de tiragem porque eram poucos os leitores, de modo que a renda da assinatura era escassa e eu precisava custear as despesas de publicação de cada mês com o salário que recebeia do emprego. Quando resolvi demotir-me da empresa, algumas pessoas ficaram preocupadas porque eu não teria como viver, mas eu, imperturbável, não recuei. Assim, dediquei-me apenas à Seicho-No-Ie. Então, paulatinamente o número de leitores começou a aumentar espontaneamente. Paralelamente, o livro sagrado A Verdade da Vida foi sendo vendido com velocidade de cinco a dez vezes maior do que o da revista; o "Folheto da Seicho-No-Ie" alcançou vendagens quase cem vezes maior. Naturalmente, tais vendas não constituíam altas rendas; mesmo assim, o intenso movimento começou a gerar o dinheiro necessário para a manutenção. Atualmente estou aliviado pois, afora os escritos e as palestras, tudo está a cargo de outras pessoas, desde a administração até a publicação, e eu só me encarrego da doutrinação. Naquela época, eu tinha de pensar também no custo da manutenção; mas quando faltava o dinheiro para a manutenção acontecia, por exemplo, de surgir alguém que nos enviava alguma importância, como gratidão pela cura de doença com a leitura do livro sagrado. Dessa forma, o necessário para a publicação da revista sempre fluiu sem parar, circulando livremente, surgindo, de fato, em nosso cotidiano, uma pequena concretização da "Imagem Verdadeira da Vida".
Alguns dias atrás, inclusive, uma pessoa relatou que antes de conhecer a Seicho-No-Ie despendia grande soma de dinheiro em medicamentos, e ainda vivia preocupada com sua eficácia. Seis meses depois de conhecer a Seicho-No-Ie, gastou só um décimo do que costumava gastar num mês, e mesmo assim em remédio de uso tópico.
Exemplos desse tipo são frequentes entre os leitores da revista Seicho-No-Ie. Aliás, muito mais do que frequentes: quase cem por cento deles parece ter tal experiência, e, como a alegria que sentem é muito grande, eles não deixam a Seicho-No-Ie permanecer no anonimato. Entre eles, há muitos que se curaram depois de serem desenganados por vários médicos, e a alegria daqueles que se salvam tem um valor infinito, impossível de ser calculado em dinheiro. Podemos dizer que tudo isso fica depositado no celeiro do Céu, para ser fornecido sempre que necessário; por isso, podemos dizer também que, embora seja pobre, a Seicho-No-Ie é possuidora de riqueza infinita.
Se chamarmos a riqueza, confirme surja a necessidade, ela virá. Como a riqueza é algo que, se deixar estagnada ao redor de mim em quantidade demasiada, apodrece e causa problemas, eu não a convoco desmesiradamente. Mas é frequente minha filha chamar doces ou frutas: às vezes, quando quer dices, diz para céu "Dê-me doces", e curiosamente, no dia seguinte, infalivelmente, alguém nos traz doces. Quando quer frutas, grita para o céu "Dê-me frutas", e alguém nos traz frutas. Consta que Jesus Cristo disse: "(...) se a este monte disserdes: Ergue-te e lança-te no mar, tal sucederá". A fé da criança é dócil e sincera, pois, ouvindo o que nós pais dizemos, acredita singelamente; por isso é pura e poderosa. Portanto, se nós nos dirigirmos ao céu com a singeleza da fé da criança, chamando a coisa que desejarmos e ordenando "Tal coisa, surja", o desejo se realizará. Este é o poder da fé e da palavra.
Cont...
(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 08"; pgs. 65 à 74)
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