quarta-feira, abril 01, 2009

Pratique a caridade todos os dias - 1/3

Masaharu Taniguchi


Talvez você conheça a seguinte fábula:

Era uma vez um país muito rico. O rei desse país tinha um filho muito inteligente. O jovem príncipe tinha tudo o que queria; todos os seus desejos eram satisfeitos. No entanto, o príncipe não era feliz. Em sua fisionomia havia sempre um ar de tristeza e insatisfação.

O rei não entendia por que o seu filho querido, a quem nada faltava, vivia sempre sombrio. Um dia, o rei mandou chamar o príncipe e perguntou-lhe com ternura: "Você tem tudo o que quer; não há nada que você deseje que não seja satisfeito. Apesar disso, você está sempre tristonho. Por que não consegue se sentir feliz? Guarda alguma dor secreta em seu coração?

O príncipe respondeu: "Como o senhor disse, não há nada que eu queira que não seja satisfeito. Eu tenho tudo, posso fazer o que eu quero. Assim sendo, não há razão para ter um sofrimento secreto. Acontece, simplesmente, que eu não consigo sentir alegria de viver. Eu mesmo não entendo por que me sinto assim.

O rei resolveu publicar uma nota oficial, em que prometia um grande prêmio em dinheiro a quem conseguisse tornar feliz o príncipe. Muitas pessoas tentaram, mas todas elas fracassaram.

Um dia, apareceu um mágico, o qual disse: "Eu vou conseguir tornar o príncipe feliz".

Ouvindo isso, o rei falou: "Se você realmente conseguir tornar feliz o príncipe, dar-lhe-ei tudo o que desejar. Mas tem certeza de que conseguirá?"

Com a permissão do rei, o mágico levou o príncipe para um outro aposento. Ali, pegou uma folha de papel em branco e nele escreveu alguma coisa, com uma tinta invisível. Entregou esse papel ao príncipe e disse: "Vá a um quarto escuro, acenda uma vela, e aproxime este papel. Então aparecerão as palavras que escrevi. Faça o que está escrito, e a partir de hoje mesmo Vossa Alteza poderá se tornar feliz."

Assim que terminou de falar, o mágico desapareceu. E nas mãos do príncipe ficou a folha de papel aparentemente em branco, igual a qualquer outra. Imediatamente o príncipe foi a um quarto escuro, acendeu uma vela e aproximou da chama o papel. Logo começaram a surgir nele letras em azul, onde se lia:


"Pelo menos uma vez por dia, pratique um ato de bondade."


Ah! Então era esse o segredo da felicidade! O príncipe seguiu esse conselho, e desde esse dia tornou-se feliz.





Caro leitor! Se você vive perseguindo apenas a sua própria felicidade, você é como uma criança que corre, querendo pegar a lua. Por mais que corra, nunca conseguirá agarrar a verdadeira felicidade.

Ninguém -- seja ele um rei, um príncipe ou um milionário, etc. -- não conseguirá se tornar verdadeiramente feliz, enquanto não conhecer a alegria de ser útil aos outros, de tornar feliz o seu próximo e sentir em si o reflexo da alegria do outro. Dando de si é que o homem consegue se tornar maior. Dando de si é que o homem consegue fazer com que o seu tesouro retorne a si próprio com o valor aumentado dezenas de vezes.

Assim como o valioso elemento químico "rádio" não se diminui, apesar de irradiar milhões de elétrons por segundo, o homem também em nada diminui por mais que ofereça de si mesmo aos outros, por mais que se dedique para tornar feliz o seu próximo. Pelo contrário, quanto mais a pessoa dá, mais abundantemente passa a fluir para si a "água da Vida". Isto acontece porque, na verdade, a Vida de uma pessoa e a Vida de seus semelhantes são "uma coisa só". Assim sendo, é na felicidade de seus semelhantes que o homem encontra a sua própria felicidade.

Quando minhas mãos tocam em uma pessoa doente, elas vão naturalmente para a parte enferma do corpo dessa pessoa. Atendendo à necessidade de curar essa pessoa, minhas mãos passam a trabalhar na parte afetada, ora afagando-a, ora pressionando-a, ora massageando com força e ora massageando suavemente, como se estivesse fazendo isso em meu próprio corpo. E, é interessante, ocorre a cura da doença. Este fenômeno pode ser explicado sob diversos ângulos, mas, fundamentalmente, a capacidade de um ser vivo captar os pontos deficientes do organismo de outro ser vivo sem enxergar esses pontos com seus olhos físicos, explica-se pelo fato de que, em sua essência, um e o outro serem "uma só Vida". Qualquer pessoa poderá passar por experiências semelhantes a essa, se aprofundar a conscientização de sua unidade com Deus e com seus semelhantes através de práticas meditativas como o Shinsokan da Seicho-no-Ie.

Meus semelhantes e eu somos uma só Vida, pois somos "irmãos na Vida" nascidos da mesma "Grande Vida". Ser útil aos outros é, em última análise, ser útil a si mesmo. No entanto, muitas pessoas consideram um desperdício de Vida trabalhar por uma causa que não envolva interesses pessoais, ou pensam que "não se ganha nada sendo bom para os outros". Essas pessoas pensam assim porque se deixam aprisionar pelo "invólucro da carne" que as separa dos outros. Da mesma forma que se quebra a casca de um ovo, devemos qubrar o "invólucro" que nos separa dos outros. É assim que podemos obter os fortificantes mais necessários para a nossa alma.

Não se mostrar bondoso para com os outros é tolerável. Mas o que é realmente reprovável é o fato de haver pessoas que se satisfazem praticando maldade para com os outros, tecendo comentários maldosos sobre a infelicidade alheia, dizendo palavras irônicas que agravam mais o sofrimento de seu semelhante, espalhando os segredos alheios, ou ridicularizando os defeitos dos outros e causando-lhes vergonha.

Aquele que só se sente importante ridicularizando ou diminuindo os demais, está dando prova da sua pequenez. Os possuidores de um coração pequeno e mesquinho não suportam ver os outros alcançarem êxito ou serem elogiados. Aquele que se alegra com o sucesso de seu próximo e, felicita-o como se felicita o êxito de seu próprio irmão, está dando provas da nobreza de sua alma.

Ao ouvir falar do sucesso de alguém ou das virtudes alheias, não diga palavras que possam colocar em dúvida tais sucessos ou tais virtudes. Não procure os defeitos; não pense que atrás do sucesso estão escondidos "pontos obscuros"; não pense que pode haver intenções desonestas atrás das atitudes virtuosas.

Pobre de quem, estando diante de uma luz, não vê a claridade e procura encontrar alguma mancha negra dentro da luz! Aquele que vê a luz fica iluminado, e aquele que vê a treva fica obscurecido pela treva.

Aquele que quer ser uma pessoa alegre e feliz deve olhar apenas o lado positivo dos atos alheios, e elogiá-los com o coração aberto. Aquele que deseja engrandecer a si mesmo deve procurar a nobreza nos atos das outras pessoas. Dominar os outros não constitui, de forma alguma, um meio para engrandecer a si mesmo.

Aquele que fica satisfeito descobrindo os pontos negativos dos outros, está comprovando que ainda não possui a grandeza de alma, digna de um Filho de Deus, e que ainda não conseguiu a profunda consciência da unidade entre ele e os outros. Os sentimentos como ciúme e inveja revelam a baixeza, fraqueza e subdesenvolvimento espiritual do indivíduo.

Aquele que possui uma alma realmente nobre, experiente e desenvolvida consegue manter a serena convicção da sua grandeza espiritual, sem recorrer a meios baixos como apontar as falhas alheias ou falar mal dos outros.

Uma pessoa generosa, capaz de se alegrar com a alegria dos outros, não só revela a sua grandeza espiritual, como também consegue elevar-se cada vez mais.

Quanto mais atos de bondade praticarmos, mais se elevará a nossa alma. Quanto menos olharmos para os defeitos dos outros, mais feliz será a nossa alma. Quanto mais louvarmos as qualidades dos outros, mais alegre e purificada se tornará a nossa alma.

As pessoas tolas tendem a acreditar que "quanto mais falarem mal dos outros, quanto mais depreciarem as virtudes alheias e quanto mais apontarem os defeitos dos outros, maior será a possibilidade de serem consideradas superiores". A verdade, porém, é justamente o oposto. Pode ser que muitas pessoas ouçam tais maledicências e comentários depreciativos sem contestar, mas, na verdade, elas dificilmente deixam de perceber a baxeza de caráter dos que as proferem. Aquele que deprecia os outros será também depreciado.

Eu gostaria de formar, entre os irmãos da Seicho-no-Ie, uma "Liga das pessoas que não falam mal dos outros". Eu disse "dos outros", mas naturalmente não devemos falar mal de nós próprios, nem de nossos familiares -- pais, irmãos, filhos, etc. Para os membros da Seicho-no-Ie, que possuem a consciência da sua condição de "Filho de Deus" e a firme convicção de que "a Palavra é força criadora", nada mais natural do que não falar mal das pessoas.

Esse mundo será um paraíso quando se tornar totalmente livre de pessoas que proferem palavras maldosas, e ficar repleto de bondade e louvor. Podemos dizer que, quando isto acontecer, terá sido atingido o objetivo com que surgiu a Seicho-no-Ie.

Continua...

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol. 7 -- págs. 87 à 93)


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