sexta-feira, março 13, 2009

A linguagem da cura pelo espírito - parte 02 (fim)


Joel S. Goldsmith


A cura pelo espírito é algo maravilhoso, quando se nos torna tão natural como o nadar ou como o respirar. Se não for isto, pode ser mais fatigante que o mais duro trabalho diário. O curador espiritual, quando está alicerçado na Verdade divina, mantém-se livremente suspenso em Deus e permite que o espírito de Deus flua através dele. Deixa jorrar a Verdade, e a Verdade o libertará, seja a ele mesmo, seja o seu paciente. Isto é obra da Verdade, nunca do homem.

É esta a atitude realmente humilde, que repousa no espírito: “Eu, de mim mesmo, nada posso fazer” – mesmo que o tentasse. Flutuando livremente na atmosfera da Verdade, será a obra realizada pela Verdade... Ao nadares, deixa que as águas suspendam o teu corpo – ao curares, deixa que o espírito de Deus realize a cura. Não tentes influenciar a verdade com a tua mente. A Verdade é infinita – o teu intelecto é finito. Não procures modificar a verdade infinita até que caiba dentro do recipiente da tua mente finita.

A inteligência e o corpo nos foram dados como instrumentos a nosso serviço. Não somos daqueles que negam a existência do corpo ou tentam libertar-se dele – assim como não tentamos extinguir a mente ou excluí-la da nossa vida. O corpo nos foi dado para que pudéssemos entrar em contato com esse mundo material. O corpo, com seus órgãos e suas faculdades, é um instrumento a serviço do nosso Todo, admiravelmente sintonizado para esta tarefa. É um instrumento de Deus para manifestar a sua glória. O verdadeiro uso do corpo consiste em que o ponhamos a serviço de Deus e o deixemos guiar e controlar por Ele. E isto nos leva àquele estado de leveza em que “o império repousa sobre os ombros do Senhor”. Não há nenhum caminho capaz de promover, por meio de pensamentos ou preocupações, o processo da alimentação, digestão ou eliminação; a mente não nos foi dada para esse fim. A mente é um intermediário pelo qual percebemos a Verdade, e esta Verdade rege todo órgão e toda função do nosso corpo. A Verdade fortalece os nossos músculos. A Verdade nos dá a possibilidade de sabermos tudo que for necessário.

Toda e qualquer palavra da Verdade que o teu consciente receber se tornará uma parte integrante da tua mente e do teu corpo. Não és tu que dominas o teu corpo, não és tu que dás ordens à tua mente – mas e a atuação da Verdade em tua consciência, atuação essa que se serve naturalmente do teu intelecto, que o conserva puro e claro, ativo, vivo e harmonioso. E o intelecto, por sua vez, orienta o teu corpo, dá-lhe ordens e o domina. A atuação da Verdade funciona como estímulo que purifica tanto a mente como o corpo.

Há em ti um único centro, e neste centro se acha armazenado todo o teu patrimônio espiritual – imortalidade, eternidade, vida, amor, lar, infinita plenitude. Este centro não se encontra em teu corpo, e é tempo perdido procurá-lo ali. Esse centro é o teu consciente, e esse consciente não está no teu corpo; o teu corpo está nesse consciente, que é ilimitado. E é por isso que podes, após pesquisas e exercícios, fechar os olhos e saborear a paz e achar-te dentro ou fora do teu corpo, ou onde quiseres estar; então serás capaz de haurir, de dentro do ilimitado tesouro da consciência, tudo que houveres mister para a tua evolução, hoje, amanhã, até o fim do mundo e para além deles, através de toda a humanidade.

Muitos dos curadores metafísicos acham difícil a terapia de sofrimentos físicos por meios espirituais, porque lhes falta a compreensão da verdadeira natureza do corpo. Esta incompreensão nasce de uma idéia inexata da palavra “matéria”. Desde o início, andaram os adeptos de doutrina metafísica desorientados por esse conceito.

A maior parte dos que usam conscientemente o vocábulo “matéria” ignoram totalmente o seu verdadeiro sentido; ouviram que a matéria é irreal, uma simples ilusão dos sentidos, e que é inanimada; e, em se tratando da matéria do corpo, negam a realidade e a existência do corpo, procurando deste modo superá-lo e aboli-lo.

Como poderia a matéria ser irreal, se ela é indestrutível? A ciência provou que a matéria é uma substância indestrutível; ela pode, sim, mudar a sua forma e assumir outra, mas não pode ser aniquilada; ela pode ser dissolvida em moléculas ou átomos – e o que resta? Resta energia. A matéria não deixou de existir, em consequência desta redução ao seu constitutivo básico; mudou apenas de forma. Não há nenhuma possibilidade de aniquilar a matéria, porque ela é indestrutível.

Na realidade, a substância da matéria é espírito; matéria é espírito tornado visível; espírito tornado visível em forma de matéria. A água, por exemplo, pode transformar-se em vapor; mas este processo nada destrói, e seu peso é conservado em qualquer forma. Um copo de vidro pode ser reduzido a pó de vidro e desaparecer da vista, mas os seus componentes continuam indestrutíveis, e no laboratório se pode provar que continuam a existir e que têm o seu peso.

A mais antiga crença de que a matéria seja irreal e que os objetos que vemos, ouvimos, tangemos, cheiramos e saboreamos sejam ilusórios, é atribuída a Gautama Siddhartha, mais tarde chamado o Buda (Iluminado). Sobre esta base, realizavam, ele e seus discípulos, curas maravilhosas. Os seus discípulos posteriores, porém, descompreenderam a palavra “Maya” ou “ilusão”, e a interpretaram como algo alheio ao seu próprio Ser, como algo externo. Quando, no século passado, o mundo recebeu pela primeira vez a doutrina metafísica, afirmaram seus adeptos que os nossos sentidos estavam sujeitos à ilusão. Em vez de afirmarem esta doutrina, começaram os assim chamados metafísicos a ensinar, infelizmente, que tudo que há no mundo é ilusão, inclusive o corpo. Mas este mundo não é uma ilusão – ilusão é a idéia que nós formamos do mundo.

A cura espiritual baseia-se na afirmação de que pecado, doença e morte não têm realidades em si mesmos, mas que consistem somente na opinião ilusória da nossa parte. Entretanto, a matéria não é irreal, o nosso corpo não é irreal; este mundo não é irreal. Este mundo é belo, imortal, eterno. Este mundo não será jamais dissolvido em nada; mas os nossos conceitos sobre este mundo sofrerão modificação, bem como se modificará a idéia que temos do corpo. Todo adulto admitirá que ultrapassou a idéia do seu corpo de criança e aceitou a idéia de seu corpo adolescente; e ultrapassou também o conceito sobre este, quando se desenvolveu em homem maduro. Na medida que progredir no caminho da compreensão espiritual aceitará uma idéia espiritual do corpo, mas não possuirá um corpo mais espiritual do que esse que já possui agora.

Provavelmente, haverá quem zombe dos metafísicos e dos místicos por causa do uso de palavras como “real” e “irreal”, “realidade” e “irrealidade”. Os metafísicos são, muitas vezes, ridicularizados por causa de expressões como “isto é irreal”. Dois carros colidem na estrada, e se desfazem em fragmentos; aparece o metafísico e afirma: “Isto é irreal; nada aconteceu; pura ilusão”. Poderemos levar a mal o mundo quando se ri de semelhante linguagem? O mundo não compreende o sentido da palavra “irreal” – e o pior é que nem o próprio metafísico, que tais palavras emprega, sabe o que elas querem dizer.

Em nossos livros sobre auto-realização entendemos por “real” ou “realidade” somente aquilo que é espiritual, eterno, imortal, infinito, Real, realidade somente é aquilo que é Deus. E, neste sentido, é evidente que não podemos ver, ouvir, tanger, cheirar ou saborear a realidade.

Por outro lado, os termos “irreal”, “irrealidade” se referem a tudo que não é permanente, seja agradável ou desagradável à nossa percepção.

E, neste ponto particular, costuma o metafísico cometer o seu grande erro: quando vê uma pessoa sadia, ou alguém que considera como bom e moral, diz, geralmente, desta situação que ela é real; mas, se encontra um doente ou um pecador, diz que isto é irreal. Entretanto, essa interpretação é inaceitável à luz da compreensão filosófica. Real é somente aquilo que é do Espírito, de Deus, da alma. Só a alma é capaz de perceber o real. O que não é perceptível pela faculdade interna da alma não é real. A isto se refere Jesus quando diz: “Vós tendes olhos, e não vedes; tende ouvidos e não ouvis”.

Quando falamos de pecado e doença como sendo irreais, não queremos negar a sua existência objetiva. Enganamos a nós mesmos quando afirmamos que essas coisas não existem. Mas como, desde a nossa infância, nos foi impingido que o mundo material é real e que nosso corpo material é real, para nós também existem as doenças. Quando afirmamos que doença, pecado e morte são irreais não queremos com isto afirmar que estas coisas não existem; negamos apenas a sua existência como parte integrante de Deus e como pertencentes à Realidade divina.

No âmbito do real, no reino de Deus, as desarmonias que os sentidos percebem não têm existência, realidade. Mas isto não elimina o fato de que temos de sofrer sob o impacto dessas desarmonias; a sua realidade e inexistência, da parte da realidade divina, não diminui nem elimina as nossas dores, as nossas necessidades, as nossas deficiências, porque, em virtude da nossa percepção sensorial, sofremos com esses fenômenos.

No princípio do toda a sabedoria está o conhecimento de que estas coisas não necessitam de existir. A libertação destas desarmonias não é alcançada pelo fato de recorrermos a Deus por socorro, mas sim pelo fato de descobrirmos o Deus verdadeiro, de subirmos até aquelas alturas da vida onde há somente Deus: Não há tal coisa como libertação de desarmonias, libertação de pecados, libertação de desejos impuros; não há libertação de pobreza – há somente liberdade, a liberdade em Deus, a liberdade no Espírito, o Deus-Liberdade.

Quem descobre o Deus-Liberdade não necessita de libertar-se de coisa alguma, porque na Liberdade não há escravidão.

Se te encheres plenamente com o Espírito, verás que a Lei espiritual te encherá com todas as coisas de que necessitas. E assim se realiza também a cura do corpo; não porque Deus pense em palavras ou conceitos de um corpo doente – nem sequer de um corpo fisicamente sadio – mas porque tu, superando o conceito material pela realização do espiritual, a tua consciência se transformou e realizou harmonia, em uma linguagem e em uma forma que te são compreensíveis.

Não usemos jamais de expressões como estas: “É irreal – não é verdade – não aconteceu”, antes de compreendermos que aquilo de que falamos só é irreal, não-verdadeiro, inexistente na zona do Reino Espiritual. Somente à luz desta compreensão, podemos afirmar que doença, pecado, pobreza, deficiência, são irreais e não participam da verdadeira Realidade.

O divino Mestre via a irrealidade do poder, do poder maligno, quando respondeu à ameaça de Pilatos “Não sabes que eu tenho o poder de crucificar-te, e o poder de soltar-te?”, com as palavras “Não terias poder algum se não te fora dado do alto”. Jesus admitia o poder temporal de Pilatos; mas, em virtude da sua consciência crística, que vivia na Realidade, sabia também que nenhum poder temporal tinha poder sobre a sua consciência espiritual. Do mesmo modo curou a orelha do soldado decepada por Pedro, e não opôs resistência à violência física; também na cruz proferiu as palavras “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Ele enxergava para além desses atos humanos e sabia que não eram reais, isto é, que não participavam da Realidade permanente, eterna, imutável, imortal. Foi também em virtude dessa faculdade de discriminação espiritual que ele foi capaz de sair vivo do sepulcro. À luz da sua consciência espiritual, não havia poder algum na crucificação.

Esta mesma consciência espiritual, iluminada – essa mesma consciência crística – está presente, aqui e agora, através dos séculos e milênios. E é esta mesma consciência crística que dá aos curadores espirituais dos nossos dias a possibilidade de curar doentes e libertar os pecadores; é a convicção de que as formas do mal são irreais, não-participantes da harmonia do reino de Deus, e que essas formas do mal são inconsistentes em face da permanente realidade de Deus. Homem! Cultua a Deus, na firme convicção de que o Reino Espiritual é íntegro e invulnerável, e que nenhuma doença, nenhum pecado, nenhuma pobreza, nenhuma deficiência faz parte do Reino de Deus; que em nada há substância permanente, que em nenhum desses males reside uma lei, uma legalidade real e duradoura.

Depois de firmarmos esta convicção em nosso interior, passemos a considerar mais algumas expressões usadas no ministério da terapia espiritual.

Por via de regra, não falamos de uma enfermidade como sendo doença, mas sim um aspecto, uma aparência. Assim, por exemplo, designamos a tuberculose, o câncer, a paralisia, como aspectos ou fenômenos. Perguntará o leitor se faz alguma diferença usar esta ou aquela palavra. Faz, sim, uma vez que a terapia espiritual representa a atuação da consciência, e enquanto as sutis particularidades do processo curativo não estiverem claramente apreendidas, não pode a verdade exercer a sua atuação nos consciente do curador, realizando a cura.

Tomemos um exemplo. Alguém viaja pelo deserto. De repente, como acontece não raro, vê o caminho todo coberto de água. Automaticamente pára o carro; pois não pode atravessar um lago de automóvel. Provavelmente, o primeiro pensamento será este: “E agora, o que devo fazer? Como atravessar a água? Como remover da estrada essa água?”

O viajante olha em derredor, mas não há possibilidade de socorro. Olha novamente para a estrada, mais atentamente – e verifica que não existe nenhuma água. O que ele vira era uma dessas miragens do deserto, uma fantástica fada-morgana, reflexo aéreo de algum lago longínquo. Sorrindo da sua ilusão, põe em movimento o carro e prossegue viagem. Enquanto o homem via água no caminho, esperava inutilmente que a água fosse removida; mas, no momento em que reconhece que o fenômeno não passa de uma simples ilusão, nada mais o impede de prosseguir.

É exatamente isto que se dá no campo da cura espiritual. Enquanto nos ocupamos com câncer, tuberculose, paralisia, tumor, resfriado, gripe, etc., estamos em um beco sem saída. Que fazer contra esses males? Como libertar-nos deles? Será que temos o poder de os eliminar? Ou haverá algum Deus que os possa remover? Milhares de orações sobem a Deus, pedindo-lhe que cure os nossos males, que modifique as circunstâncias ingratas – mas é inútil... Deste modo nada acontecerá...

Mas, então, o que fazer?

Enquanto a doença permanecer em nossa consciência como doença, nada poderá ser feito contra ela. Mas, se uma consciência mais iluminada nos fizer ver que não se trata de uma doença, mas sim de uma ilusão ou miragem criada por nós, então foi dado o primeiro passo para a cura. Na realidade, é fácil o processo curativo, seja qual for a doença, contanto que o mal, a doença ou pecado seja reconhecido na reconhecido na consciência como inexistente no plano da realidade divina, mas apenas existente no plano do nosso ego humano.

Enquanto uma doença for realidade para ti, enquanto creres que a febre tem de seguir o seu curso, enquanto tentas reduzi-la com certos expedientes, enquanto tentas reprimir um tumor, enquanto acreditas que uma doença deva necessariamente percorrer este ou aquele processo – estás fora da terapia espiritual, embora a tua mente esteja desempenhando o seu papel.

Cura espiritual total consiste em não reconhecer a realidade de uma situação negativa. Eu, tu, ou outro homem qualquer que queira curar pelo espírito, deve crear em si um estado de consciência em que Deus e as obras de Deus – o Verbo de Deus, o Universo de Deus, o Homem de Deus – sejam tão intensamente reais que nenhum contrário, nenhum negativo, nenhum mal, nenhuma doença, possam coexistir com esse Deus do Universo ou esse Universo de Deus. Porque Deus é tudo.

A eficiência do processo curativo baseia-se, sobretudo, na realidade de Deus e na realidade da sua creação – quer ela se manifeste como homem, como corpo ou como Universo: e, em segundo lugar, se baseia no reconhecimento da não-realidade de tudo aquilo que nos aparece em forma de doentes ou pecadores, de enfermidades ou de circunstâncias indesejáveis.

Importa que compreendamos o sentido correto das expressões “real” e “irreal” – a sua significação em sentido espiritual. Com outras palavras: tudo o que podemos perceber com os sentidos físicos não passa de uma ilusória miragem no deserto, porque a mente, servindo-se desse material dos sentidos, o interpreta erradamente. Discernindo essa miragem a doença sede lugar a saúde. Mais ainda: quando o homem começa a compreender espiritualmente todas as coisas que o cercam – flores, nuvens, estrelas, o nascer e o pôr-do-sol – tudo começa a aparecer de modo diferente, ultrapassando a capacidade da mente humana. Para além do invólucro visível destas coisas se revela algo mais, algo que nem os sentidos percebem nem a mente concebe. Quando percebemos as coisas pelo poder espiritual, descobrimos o homem verdadeiro, assim como Deus o creou, segundo a sua imagem e semelhança – e é precisamente esta faculdade, de conhecer a realidade, que realiza a cura pelo espírito.

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