sábado, fevereiro 14, 2009

Trabalhe em honra da Grande Vida que vivifica toda a humanidade - 02

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Masaharu Taniguchi

São duas as causas que frequentemente nos impedem de sentir a "alegria de trabalhar". Uma é a atitude mental de considerar o trabalho como "algo que foi imposto", "algo coercitivo", ou seja, "algo que deve ser feito por obrigação", em vez de considerá-lo "algo que tomamos para nós, porque o queríamos". Quando a nossa mente está dominada pela idéia de obrigatoriedade do trabalho, msmo os trabalhos mais interessantes e agradáveis acabam nos aborrecendo.

Há alguns anos, o sr. Massao Takahashi, membro da seita Konko-Kyo, criou uma associação chamada "Sei-no-Kai" (grupo da Vida). Certa vez, os simpatizantes se reuniram durante vários dias na casa do sr. Takahashi, e decidiram pôr em prática uma grande verdade que se resume no seguinte: "Não precisamos nos preocupar para viver. Contanto que possamos fazer qualquer serviço que nos seja adequado, seremos vivificados naturalmente pela força do céu e da terra". Os participantes desse "treinamento espiritual" deviam, pois, oferecer-se para trabalhar gratuitamente para os outros. Assim, eles saíram para a rua, a fim de visitarem as casas e pedir a oportunidade de ajudar em algum trabalho que eles soubessem fazer. Era, por assim dizer, uma "tarefa" comparável à "mendicância religiosa" praticada pelos membros da seita Ittoen. Mais tarde um dos participantes escreveu um artigo para a revista Sei, relatando a sua experiência com as seguintes palavras:

"... Sabia que em muitas casas havia serviços adequados para mim, mas eu não tinha coragem de entrar e pedir que me deixassem fazer esses serviços. Ficava rondando a casa duas ou três vezes, sem ousar bater à porta. Foi um verdadeiro suplício! Assim, fui andando pelas ruas e acabei chegando ao limite da cidade, sem ter conseguido nenhum serviço. Quando me dei conta, estava num campo perto da cidade. Avistei um homem puxando um carrinho de mão e ofereci-me para ajudá-lo. Empurrei o carrinho até passarmos em frente à casa de um lavrador. Aí, parei e aproximei-me da casa. Como todos nessa casa pareciam muito ocupados, queria oferecer-me para ajudá-los. Porém, sem coragem de me anunciar, fiquei ali parado, apenas observando. De repente, alguém gritou para mim, com uma voz trovejante: 'Ei! O que é que você quer, rondando e espiando a casa dos outros?!' Levei um susto, mas tratei de me acalmar e expliquei-lhe o motivo por que me aproximara da casa. Porém, o homem não me compreendeu e continuou gritando: 'Ora, o que é que uma pessoa como você pode fazer aqui?! Vá! Vá embora duma vez!' Afastei-me apressadamente e voltei para a nossa sede, desanimado. Confesso que nunca na minha vida passei por uma experiência tão penosa...

Dias depois, o nosso professor deu-nos alguns conselhos sobre como proceder quando fôssemos nos oferecer para trabalhos voluntários. Ouvi com atenção para não falhar da próxima vez, pois a experiência por que pasei foi muito dura. Chegando em casa, olhei ao meu redor, e de repente dei-me conta de que ali mesmo, diante de meus olhos, havia uma porção de serviços que eu poderia fazer. Estava ali, à minha disposição, a 'oportunidade de trabalhar gratuitamente', que acabei buscando com tanto sacrifício! Repleto de sentimento de gratidão, comecei a fazer todos os serviços que encontrava diante de mim. Indo à loja, encontrei muitos serviços a fazer. Não era preciso pedir para queme deixassem trabalhar, nem corria o risco de receber 'broncas'. Era realmente uma bênção. Entre surpreso e admirado, perguntei a mim mesmo como é que eu só pensava em pedir o trabalho a outras pessoas, quando tinha, junto de mim mesmo, tantos e tão valiosos trabalhos... A partir de então, passei a efetuar com profunda gratidão, todos os serviços que via diante de mim, fossem serviços domésticos, serviços da loja, ou de outras pessoas. E fazia-os com a mente serena e satisfeita..." (Da revista Sei, nº 11, Vol. II)

Este é um relato sincero e eloquente de como uma pessoa conseguiu reeencontrar a "alegria de trabalhar", que ela havia perdido há muito tempo. Se você tem seus afazeres domésticos ou possui uma profissão definida, e no entanto não gosta de seu trabalho e não consegue dedicar-se seriamente a ele, isso é sinal de que você considera seu trabalho uma obrigação. Tudo será diferente se você, a exemplo do autor do relato mecionado, despertar para o fato de que ao seu redor existem inúmeros trabalhos à sua disposição e tomá-los para si espontaneamente, repleto de gratidão pela bênção de poder realizar esses trabalhos. A partir desse momento, até os trabalhos de que você não gostava e efetuava com má vontade, passarão a ser trabalhos agradáveis e gratificantes. Isto porque esses trabalhos, que até então você considerava uma obrigação, transformar-se-ão em "trabalhos que você mesmo buscou e encontrou".


A neve sobre meu guarda-chuva
nada pesa ao pensar "é minha neve"



Estes versos de um antigo poeta japonês ilustra muito bem o assunto que ora estamos tratando. Como seria penoso e desagradável carregar um guarda-chuva pesado, com uma espessa camada de neve sobre ele, numa tarde gelada de inverno, se alguém, propositadamente, tivesse depositado essa neve sobre o nosso guarda-chuva e tivéssemos sidos obrigados a transportá-lo. Porém, se olharmos para a neve acumulada naturalmente sobre nosso guarda-chuva e pensarmos que ela é uma dádiva que buscamos como apreciadores dos encantos da Natureza, ou uma bênção que Deus nos dá para acrescentar mais beleza ao cenário da Natureza, então deixaremos de sentí-la como um "peso" a ser carregado, e passaremos a sentir amor por ela; deixaremos de achar penoso carregar essa neve, e passaremos a nos sentir gratos Àquele que nos presenteou com essa dádiva. O mesmo acontece no tocante ao trabalho. Quando consideramos o trabalho como uma bênção de Deus, ocorre dentro de nós o despertar da "Vida que nos liga a Deus". Então, a nossa "força vital limitada" une-se à "força vital ilimitada", a qual passa a conduzir o trabalho. Consequentemente, passamos a trabalhar sem cansaço nem tédio, e quanto mais trabalhamos, mais aumenta o nosso vigor.

Quando não sentimos amor pelo trabalho, torna-se impossível concentrarmo-nos nele, o que vem constituir a segunda causa da perda da "alegria de trabalhar". Nada contribui mais para desperdiçar a força vital do que trabalhar com a mente dispersa, pensando ao mesmo tempo em diversas coisas, em vez de concentrarmos nossa mente naquilo que estamos fazendo. Nossa mente é a "brasa" que "põe fogo" na "força vital infinita" existente em nosso interior, fazendo-a arder intensamente. As pessoas peritas em acender fogueira procedem da seguinte forma: primeiramente, concentram num único ponto as brasas, fazendo-as apoiar umas nas outras e sobre elas vão colocando os pedaços de carvão. Instantes depois, o fogo passa para todos os pedaços de carvão, e a fogueira começa a arder intensamente. O mesmo acontece com a "chama" da força vital infinita que existe dentro de nós. Se deixarmos dispersos aqui e acolá os pedaços da brasa chamada "mente" ou "pensamento", não poderemos fazer arder intensamente a chama da nossa força vital.

O frio provoca a contração da matéria. Da mesma forma, o frio "senso de dever" e os frios "regulamentos" só provocam o retraimento da força vital. Assim como o calor faz crescer as coisas, e a amena primavera faz desabrochar as florese convida os pássaros a cantar, o "calor" (amor) leva-nos a fazer bons trabalhos. Quando trabalhamos unicamente pelo frio senso de dever ou apenas em conformidade com os regulamentos, a energia para efetuar o trabalho não provém da "Grande Vida Ilimitada". Se tentarmos levar avante o nosso trabalho, movido unicamente pela obrigatoriedade, regulamentos, responsabilidade ou coação, a "abertura" da nossa alma acabará se fechando e a "água da Vida" deixará de fluir abundantemente através dela. Em consequência, ficaremos abandonados como um mero corpo carnal isolado, e só poderemos manifestar a força limitada compatível com esse pequeno instrumento chamado "corpo". São muitas as pessoas que se cansam facilmente ao executar qualquer trabalho, não porque são fracas, mas porque trabalham apenas por obrigação.

Ai daqueles que trabalham apenas por obrigação! Eles acabam transformando a si próprios (que são Vida dinâmica) em simples "máquinas" sem vida. O "modo de viver da Seicho-no-Ie", que considera em primeiro lugar a Vida, não admite essa "mecanização" da Vida.

Mesmo um modo de vier pautado no senso de dever pode proporcionar alegria à Vida, quando é fundamentado no "amor". Por exemplo, quando o "amor à Pátria" e o "dever cívico" se juntam, ocorre a fusão desses dois elementos, ou sejam, "amor" e "dever". Quando alcança esse estado espiritual, o homem consegue cumprir os seus deveres cívicos com grande satisfação.

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol. 7 -- págs. 181 à 186)


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