sábado, fevereiro 14, 2009

Trabalhe em honra da Grande Vida que vivifica toda a humanidade - 01

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Masaharu Taniguchi


Caro leitor, por mais que movimente suas mãos e seu corpo a ponto de se cansar, você não conseguirá realizar um trabalho que contenha "alma", enquanto não for capaz de trabalhar com "amor". Um trabalho que não contenha a "alma" de quem o executou, sempre apresenta alguma falha. Uma obra resultante do trabalho maquinal do cérebro, das mãos, etc., não se compara com uma obra que contém "alma", mesmo que sejam muito parecidas.

Os japoneses dos tempos antigos eram "pessoas de alma nobre", que trabalhavam por amor ao trabalho e não por interesses próprios. Eles prezavam a "nobreza da alma" acima de qualquer coisa. É por isso que, em tudo quanto faziam, eles visavam o "aprimoramento da alma". Assim, a arte de escrever letras evoluiu para "Sho-dô" ("sho" = escrita; "dô" = caminho espiritual); a arte de arranjos florais evoluiu para "ka-dô" ("ká" = flores); a arte de servir chá evoluiu para "Sa-dô" ("Sa" = chá). Os médicos daquele tempo sentiam satisfação em salvar os doentes sem visar interesses próprios. Por isso, a medicina era "I-dô" ("I" = medicina; "dô" = caminho para elevação espiritual); exercer a medicina era manifestar amor ao próximo.

Os espadeiros forjavam as espadas não com o intuito de obter lucro com suas vendas, mas sim por amor a esse trabalho, pela satisfação de fazer brilhar a sua própria alma em cada lâmina forjada com esmero. As espadas forjadas pelos exímios espadeiros de outrora fazem com que sintamos a nossa alma purificada só de olhá-las. Isto porque elas contêm a alma de quem as forjou. A responsabilidade dos antigos contrutores de castelos, ao se incubirem de um trabalho, era incomparavelmente maior do que a resonsabilidade com que os arquitetos de hoje assumem a contrução de um edifício. Esses construtores de castelos sabiam que, uma vez construído o castelo, não poderiam continuar vivendo, pois seriam os únicos conhecedores dos segredos dessa construção. Mesmo sabendo disso, realizavam todo o trabalho com empenho e amor e, assim que a obra ficava concluída, praticavam o haraquiri (apunhalavam o próprio corpo na região do plexo solar) com a maior serenidade. A construçãode castelo era, portanto, uma obra e que eles literalmente "empenhavam a própria vida".

Caro leitor, uma vez disposto a realizar um trabalho, empenhe nele a sua Vida, como faziam os antigos. Eu próprio tenho empenhado minha Vida na redação de artigos para a revista Seicho-no-Ie. Em vez de dizer "empenhar a Vida", poder-se-ia dizer "empenhar a alma" ou "dedicar todo o amor", pois, em última análise, a "Vida", a "Alma" e o "Amor" são essencialmente a mesma coisa. Amor é Deus, é Vida, é Alma. Trabalhar com Amor é manifestar Deus que habita dentro de nós; é vivificar a nossa própria Vida, a nossa própria alma. Quando a nossa alma consegue viver em toda a sua plenitude, alcançamos o elevado estado espiritual que nos permite aceitar serenamente a morte física, a qualquer momento. Um sábio da antiguidade disse: "Se de manhã eu escutar o Caminho, não me importaria de morrer ao entardecer". Com isso ele quis dizer que "quando uma pessoa consegue fazer com que sua alma viva plenamente, a morte física nada significará para ela". Por que razão os antigos construtores de castelos realizavam seu trabalho, mesmo estando cientes de que deveriam morrer tão logo terminassem as obras? É que, para eles, a morte nada significava, desde que suas almas pudessem viver plenamente através da dedicação total ao trabalho que eles tanto amavam.

Um trabalho ao qual dedicamos a nossa alma jamais nos deixa esgotados. Isto porque, em tal trabalho, quanto mais nos dedicarmos, a nossa Vida será manifestada com maior intensidade. O cansaço nada mais é que o estado no qual a nossa Vida não consegue manifestar-se livre e plenamente, e sente-se sufocada. Se você não gosta de um determinado trabalho, mas o executa porque é seu dever, certamente ficará muito mais cansado do que quando trabalha com amor. Amor é Deus e Deus é Vida. Se o amor não está sendo acrescentado ao trabalho, significa que a vida não está sendo vivificada, e por essa razão cansamo-nos facilmente.

Os trabalhos executados com amor sempre são melhor elaborados do que os trabalhos executados unicamente por senso de obrigação. Num trabalho feito com amor, faz-se presente a Vida, faz-se presente o próprio Deus. Por isso, esse trabalho será um trabalho repleto de Vida, repleto de alma. Será, portanto, uma obra divina. Mesmo com todos os conhecimentos científicos da civilização moderna, não se consegue forjar espadas tão perfeitas quanto aquelas forjadas à mão pelos espadeiros Masamune e Muramasa, na era Kamakura. Por que será que, em todos os campos, torna-se cada vez mais raro o surgimento de verdadeiras obras-primas? É que, atualmente, as pessoas não trabalham para vivificar o "amor", a "alma" e a própria "Vida", e só pensam em "produzir mais para lucrar mais".

Mesmo que uma pessoa trabalhe com amor, pode ser que no começo ela não consiga apresentar um trabalho bem feito, devido ao fato de seu corpo ainda não estar habituado a ele. Mas, trabalhando com amor, ela infalivelmente progredirá com espantosa rapidez. Isto porque Deus trabalhará através do cérebro e das mãos da pessoa. Quando uma pessoa não ama o seu trabalho e executa-o com má vontade, apenas por obrigação, ela está trabalhando unicamente com seu cérebro "carnal" e suas mãos "carnais", impedindo que Deus trabalhe através delas. Por isso, ela se cansará rapidamente, não alcançará o progresso no trabalho e, por mais que preste atenção, o seu trabalho apresentará falhas e imperfeições.

Portanto, ao executarmos um trabalho, devemos descobrir prazer nele e aprender a amá-lo realmente. Mesmo que se trate de um trabalho obrigatório, não devemos considerá-lo como tal. Quando a nossa mente se sente oprimida pela idéia de obrigatoriedade, achamos aborrecidos e cansativos até os trabalhos mais interessantes. Quando obrigamos as crianças a fazerem ginástica, elas a praticam com má vontade. No entanto, quando estão brincando com seus amigos, às vezes elas fazem espontaneamente os mesmos movimentos dessa ginástica, rindo e gritando alegremente.

Também o trabalho de lavrar a terra pesanos como um grande fardo, quando o consideramos como uma tarefa obrigatória. E acabamos por achar que nenhum outro serviço é tão pesado e monótono. Eis a razão por que a maioria dos jovens da zona rural deseja tentar a vida nas cidades. Mas tudo seria diferente se eles mudassem seu ponto de vista, e compreendessem a alegria de respirar o ar puro, de receber os raios solares sem a interferência da atmosfera poluída, de trabalhar em contato direto com a Vida" qua faz vicejar tudo no seio da "mãe-terra". Se a partir dessa compreensão, eles começassem a se sentir gratos pelo generoso amor da Grande Natureza, e amar o trabalho da lavoura que na verdade tem o sentido de "ajudar a obra de amor da Grande Natureza", então eles passariam a gostar desse trabalho que até então consideravam imundo, monótono e pesado; o trabalho deixaria de ser um fardo e, por trabalharem com prazer, eles conseguiriam desenvolver vários estudos e pesquisas referentes às técnicas de agricultura. Consequentemente, seus produtos melhorariam tanto em quantidade como em qualidade. Este é apenas um exemplo para mostrar que todo e qualquer trabalho torna-se um fardo pesado quando o consideramos uma obrigação, mas constitui uma fonte de alegria quando o executamos com amor.

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.7 -- págs.176 à 181)


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