domingo, junho 15, 2008

Encobrimento da Natureza Divina do Homem

Masaharu Taniguchi


O homem verdadeiro, criado por Deus, à imagem e semelhança do Pai, traz em si a vida de Deus; ele simboliza a perfeição de Deus, sente alegria em viver como extensão do próprio Deus, e só se sente feliz quando ama a Deus, e a seus semelhantes -- que também são filhos de Deus -- e trabalha junto com eles, unindo forças. É contra sua natureza repudiar seus semelhantes ou conquistar a vitória somente para si mesmo, prejudicando os outros.

Por que, então, os seres humanos que habitam este mundo fenomênico não desfrutam da mesma vida perfeita do Paraíso da Imagem Verdadeira, e estão sempre em conflito uns com os outros? Na Sutra do Lótus consta: "O Paraíso permanece indestrutível. Mas a humanidade parece ser consumida pelo fogo, e este mundo se afigura cheio de tristeza, medo e sofrimento". No capítulo 1 do Gênesis está descrita a Imagem Verdadeira deste mundo, conforme foi criado por Deus: frutas e vegetais abundam nos campos e nas florestas, e o homem, criado à Imagem de Deus, ali vive repleto de felicidade. No entanto, no capítulo 2 do Gênesis, afirma-se que, quando a terra foi criada não havia nenhuma planta, nem havia homem para lavrar o solo, e que o homem foi criado do pó da terra, sendo posteriormente enganado pela astúcia da serpente, expulso do Jardim do Éden e condenado a obter o sustento com muito trabalho, "até que volte novamente a ser o pó da tera, de que foi criado". Isso é o que significa a queda do homem, do estado perfeito da Imagem Verdadeira para o estado imperfeito do aspecto fenomênico; do estado de homem autêntico para o estado de falso homem.

Então pergunta-se: Por que ocorreu essa queda? A verdade, porém, é que o homem verdadeiro (Imagem Verdadeira) jamais sofreu tal queda, embora assim pareça. Ele é imortal, indestrutível, jamais sofreu queda alguma, e continua vivendo tranquilo e feliz no Paraíso da Imagem Verdadeira, trabalhando na gratificante obra da criação. Porém, devido às ilusões da mente, a humanidade vê o ser humano como um ser material, um ser humano formado a partir do pó da terra.

Essencialmente, na Sutra do Lótus e no Gênesis é contada a mesma vedade: o homem verdadeiro (Imagem Verdadeira), ou seja, o "homem enquanto ser espiritual", é imortal e indestrutível; mas em vez de ver esse aspecto perfeito, a humanidade vê o homem material e o considera existência real. Essa é a primeira ilusão que constitui o primeiro "invólucro" (pecado) que encobre a Imagem Verdadeira. O primeiro e fundamental pecado é não ver o homem espiritual e real, mas apenas o homem material, acreditando ser real esse homem fenomênico e material.

O Reino de Deus -- o Mundo da Imagem Verdadeira, a criação autêntica de Deus -- não é algo incerto que existe ou deixa de existir ao sabor das ilusões da mente humana, isto é, não é algo que passa a existir se acreditarmos que ele "existe". O Paraíso da Imagem Verdadeira não é um mundo que esteja sujeito a surgir ou desaparecer, dependendo de acreditarmos ou não em sua existência. Ele continua a existir sempre, quer acreditemos ou não em sua existência.

Já as coisas do mundo fenomênico surgem se acreditarmos que elas "existem", e desaparecem se acreditarmos que elas "não existem". Por exemplo: acreditando que a doença existe, ela se manifesta; e, acreditando que ela não existe, isso a faz se extinguir. Acreditanto que "o homem está sujeito à pobreza" surge-nos a situação de pobreza; e, acreditando que "o homem é originariamente imune à pobreza", desaparece a situação de pobreza. Tais fatos tem sido muito vivenciado por muitos adeptos da Seicho-No-Ie. Como podemos perceber, as coisas do mundo fenomênico surgem ou se extinguem de acordo com nossa mente; vemos as situações e aspectos que nossa própria mente projetou e "coloriu".

Portanto, conforme está escrito na Sutra do Lótus, mesmo quando o mundo fenomênico parece "consumido pelo fogo e repleto de tristeza, medo e sofrimento", o Mundo da Imagem Verdadeira, de perene felicidade, mantém-se indestrutível. Se o mundo da Imagem Verdadeira continua intacto e perfeito, é impossível que exista como parte dele o mundo fenomênico repleto de sofrimentos. Na verdade, o mundo fenomênico repleto de sofrimentos não existe. O mundo da matéria não existe.

Então, o mundo fenomênico repleto de sofrimentos é um mundo ilusório, totalmente alheio ao Mundo da Imagem Verdadeira de perene felicidade? Também não é assim. O mundo fenomênico é o mundo que se nos apresenta através da "lente embaçada" de ilusões que cobrem o Mundo da Imagem Verdadeira. Na verdade, somente o Mundo da Imagem Verdadeira existe realmente. O mundo fenomênico não reflete o aspecto real do Mundo da Imagem Verdadeira, sendo apenas um mundo aparente que vemos através da "lente" embaçada pelas nossas ilusões. O mundo fenomênico que vemos através dessa "lente" é mutável e nele se alternam sofrimentos e alegrias; mas, não obstante esse aspecto do mundo fenomênico, e independente de o homem fenomênico extinguir-se ou não, o Mundo da Imagem Verdadeira de perene felicidade continua a existir intacta e indestrutivelmente. Assim mesmo como somos, aqui e agora, estamos vivendo dentro do Mundo da Imagem Verdadeira; não é que o mundo fenomênico exista numa "área" delimitada dentro do Mundo Imagem Verdadeira e que o homem se transfira para a área pura do Mundo da Imagem Verdadeira após a morte do corpo carnal. Isso não ocorre.

O primeiro capítulo do Gênesis refere-se à Imagem Verdadeira perfeita do homem-espírito. Já o segundo capítulo vê o homem como uma criatura imperfeita, formada do pó da terra. Isto constitui a primeira ilusão da humanidade, o primeiro pecado. É ilusão pelo fato de não se enxergar o Aspecto Verdadeiro; é pecado pelo fato de se ocultar a Imagem Verdadeira com o "invólucro" chamado "ilusão" (Em japonês, pecado é tsumi, termo derivado da palavra tsutsumi que significa invólucro ou envoltório).

O primeiro pecado consiste, pois, em encobrir e ocultar a natureza espiritual do homem e vê-lo como um ser material; consiste em encobrir e ocultar a Imagem Verdadeira do homem-espírito e vê-lo como homem-matéria; consiste em acreditar que o Reino de Deus é um mundo que se alcança somente depois que se deixa este mundo, e em acreditar que o homem não poderá "nascer no reino de Deus" a não ser quando sua existência física chegar ao fim. Em outras palavras, consiste na não-conscientização de que o Reino de Deus é um mundo eterno e ilimitado que já existe aqui e agora, e na não-conscientização de que o homem é filho de Deus e, portanto, um ser eterno. Dito na linguagem do cristianismo, esse primeiro pecado constitui o "pecado original cometido por Adão".

Devido ao pecado original (o primeiro encobrimento da natureza divina do homem), a humanidade passou a considerar o ser humano "pó da terra" -- um mero corpo material --, e a considerar o mundo um aglomerado de elementos materiais. Fisicamente, cada indivíduo é separado dos outros; por isso, enquanto o homem considerar a si próprio como um ser material, sempre surgirá o egoísmo. Todos os elementos materiais são limitados; por isso, enquanto o homem encarar o mundo como um aglomerado de elementos materiais, ele se empenhará em lutas, saques e disputas, defendendo a posse de coisas materiais, movido pela idéia de que "as coisas se diminuem se forem compartilhadas com os outros". Eis porque apesar de o homem verdadeiro -- que é filho de Deus -- jamais se empenhar em lutas, saques e disputas, o homem fenomênico vive se envolvendo em lutas, saques e disputas.


3 comentários:

  1. Tenho duas perguntas:
    Por que a nossa mente nos lançou na ilusão do mundo fenomênico?
    E por que existe miséria e dor no mundo fenomênico se todos os adeptos do mestre não acreditam nessas coisas?
    Por que Vcs. vêem a ilusão da doença se ela não existe de fato?
    Vcs. também estão presos na ilusão?

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  2. Lauro,

    Você é da Seicho-no-Ie? Vou responder à sua pergunta considerando que você seja, pois pelo modo como você perguntou parece que você é.


    "Por que a nossa mente nos lançou na ilusão do mundo fenomênico?"

    Você já reparou que na Sutra Sagrada, muitas vezes a palavra "mente" aparece? Que ora a palavra aparece escrita com "m" maiúsculo (Mente) e ora aparece escrita com "m" minúsculo (mente)? Quando o Mestre escreve a palavra "Mente", ele faz alusão à mente de Deus. É justamente por se tratar da mente de Deus, da mente divina, da ÚNICA mente existente (pois só existe um Deus, não pode haver mais de um), que o Mestre escreve "Mente" com "m" maiúsculo. Essa Mente é a mente de Deus, e ela é a única mente real. Essa Mente nunca nos lançou na ilusão. A ilusão não existe para a Mente.

    Por outro lado, quando você lê na Sutra a palavra "mente " com "m" minúsculo, isso está se referindo à mente humana (que não existe, não é vista/percebida pela Mente divina). A mente humana não existe para a Mente de Deus, Deus simplesmente não consegue vê-la porque ela não existe. E o mesmo vale para a mente humana: para a mente humana, a Mente divina não existe. Consegue perceber esses dois referenciais? O segredo para entrar no Jisso está nisso.

    A mente humana capta a realidade da matéria, o mundo dos cinco sentidos; Ela é um instrumento que capta a existência da Realidade (que é percebida pela Mente de Deus) e "traduz" a Realidade (que possui dimensões infinitas) para uma existência tri-dimensional, de três dimensões. A mente humana traduz o Jisso. Por exemplo, é como se alguém estivesse traduzindo um texto do idioma japonês para o português, sem que a tradução mantenha-se fiel ao texto original . A mente humana é o "interprete" que traduz pessimamente a Realidade infinito-dimensional (pois ela capta o infinito e o traduz em linguagem "finita"). Com qual mente você vai escolher se identificar? Se buscar a identificação com a Mente com "m" maiúsculo, e se esforçar nesse sentido, chegará a hora quando você irá conseguir. E, quando conseguir, verá que a Mente nunca esteve presa nem lançada em nenhuma "ilusão de mundo fenomênico". Será preciso paciência e perseverança para alcançar este despertar espiritual.

    A nossa mente nos lançou no mundo fenomênico, porque nós de alguma forma nos identificamos com ela. Na Verdade (falando do referencial verdadeiro), nós não nos identificamos nunca com a mente humana. Simplesmente porque para a Mente de Deus não há nenhuma mente humana com a qual ela possa se identificar. Então, eu tenho duas respostas pra você - duas repostas porque existem dois referenciais.

    "Por que a nossa mente nos lançou na ilusão do mundo fenomênico?"

    Falando do referencial da mente, você caiu na ilusão porque fez sua identificação com a mente, com as coisas finitas - um corpo carnal, um sentido pessoal e ilusório de "eu" (ego). Tudo isso são coisas finitas. E, ainda à respeito deste referencial, você precisa buscar perceber a Realidade vista pela Mente do Jisso.

    Mas, falando do referencial do Jisso, você não nunca foi lançado na ilusão do mundo fenomênico. Portanto não necessita fazer nada para livrar-se de uma "ilusão de mundo fenomênico". Você não precisa buscar alcançar lugar algum, tampouco precisa "sair" de ilusão alguma. No Jisso, não existe um corpo carnal, nem existe um sentido pessoal de eu (ego), porque só há o infinito.

    Medite. Leia os livros da Verdade da Vida, até entender o "truque" destes referenciais. Os referenciais são a "porta" que vão lhe mostrar e concerder o entendimento sobre o que é realidade e o que é ilusão.

    (continua...)

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  3. (continuando...)

    "E por que existe miséria e dor no mundo fenomênico se todos os adeptos do mestre não acreditam nessas coisas?"

    Acreditar somente não basta. São muitas as pessoas que buscam acreditar que "a matéria não existe", "doença não existe", "pecado não existe", e mesmo assim tudo isso ainda é bem real na vida delas. Isso não é o suficiente para fazer a pessoa livrar-se da ilusão. O que fará a pessoa perceber a inexistência de tudo isso é o DESPERTAR ESPIRITUAL, e não uma mera crença de que "o mal é inexistente". A pessoa que fica apenas repetindo para si mesma "pecado não existe", "doença não existe", "matéria não existe", está apenas criando para si uma crença de que todas essas coisas são inexistentes. Ela está se hipnotizando. Ela ainda estará em meio em todas essas coisas, mas estará acreditando que não, por causa da hipnose que fez em si mesma. E mesmo assim sofrerá. Neste caso, ela estará apenas se enganando. Você pode trabalhar com a crença, pode criar em você uma crença bonita e saudável. É melhor acreditar em coisas boas do que em coisas ruins. Mas, não dependa da crença etertnamente. Você deve trabalhar com a crença de modo que ela facilite a você alcançar o seu despertar. Se o despertar for alcançado, as crenças poderão ser abandonadas, porque a Verdade não depende de crenças para subsistir, não depende de crenças para ser verdadeiras.

    Assim, não se preocupe com os outros. Nem se preocupe com o mundo. Procure compreender o Jisso. Para compreender, é preciso despertar primeiro (falando do referencial da mente). Busque este despertar. Mais uma vez, medite, leia os livros, tenha paciência e persista.

    A doença não existe de fato.

    Do referencial do Jisso, ninguém está preso à ilusão.

    E o Referencial do Jisso é o único existente. Não existe outro referencial.


    Abraços.

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