sábado, outubro 24, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 7/11


- Don Miguel Ruiz - 


O CAMINHO TOLTECA PARA A LIBERDADE

Quebrando velhos compromissos

Todos falam sobre liberdade. Ao redor do mundo, diferentes  pessoas, raças e países estão lutando por liberdade. mas o que é liberdade? Nos Estados Unidos, sempre dizemos que o nosso é um país livre. Mas somos realmente livres? Somos livres para ser quem realmente somos? A resposta é não, não somos livres.

A liberdade está relacionada com o espírito humano é a liberdade de sermos quem realmente somos.

O que nos impede de ser livres? Culpamos o governo, culpamos o tempo, culpamos a religião, culpamos Deus. Quem nos impede de ser livres? Nós nos impedimos. O que realmente significa ser livre? Algumas vezes nos casamos e dizemos que perdemos nossa liberdade, depois  nos divorciamos, e ainda não ficamos livres. O que nos impede? Por que não podemos ser nós mesmos?

Temos lembranças de muito tempo atrás, quando costumávamos ser livres e amávamos ser livres, mas esquecemos o que a liberdade realmente significa.

Se olhamos para uma criança que tem dois ou três anos, talvez quatro, estamos em frente a um ser humano livre. Por que esse ser humano é livre? Porque esse ser humano sempre faz o que ele deseja. O ser humano é completamente selvagem. Assim como uma flor, uma árvore ou um animal que não foi domesticado ... selvagem! E se observarmos os seres humanos que possuem dois anos de idade, descobrimos que na maior parte do tempo esses humanos têm um grande sorriso no rosto e estão se divertindo. Estão explorando o mundo. Eles não têm medo de brincar. Têm medo quando se machucam, quando ficam com fome, quando algumas de suas necessidades não são satisfeitas. Porém, não se preocupam com o passado, não se importam com futuro, e só podem viver no momento presente.

Crianças muito pequenas não têm medo de expressar o que sentem. São tão sensíveis ao amor que se perceberem amor, derretem-se em amor. Não têm medo de amar. Essa é a descrição de um ser humano normal. Assim como as crianças, não estamos com medo do futuro ou envergonhados pelo passado. Nossa tendência normal como seres humanos é apreciar a vida, jogar, explorar, ser feliz e amar.

Mas o que aconteceu com o ser humano adulto? Por que somos tão diferentes? Por que não somos selvagens? Do ponto de vista da Vítima, podemos dizer que algo triste aconteceu conosco; e do ponto de vista do guerreiro, podemos dizer que o que nos aconteceu é normal. O que aconteceu é que temos o Livro da Lei, o grande Juiz e a Vítima, que governam nossas vidas. Não somos mais livres porque o Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças não nos permitem ser quem realmente somos. Uma vez que nossas mentes foram programadas com tanto lixo, não somos mais felizes.

Essa corrente de treinamento de indivíduo para indivíduo, de geração a geração, é perfeitamente normal na sociedade humana. Não é preciso culpar seus pais por ensinar você a ser como eles. Que outra forma poderiam ensinar,

além da que conhecem? Fizeram o melhor possível, e se fizeram você sofrer, foi devido à própria domesticação deles, dos medos deles e das próprias crenças. Eles não possuíam controle sobre a programação que recebiam; portanto, não poderiam ter se comportado de forma diferente.

Não há necessidade de culpar seus pais ou qualquer outra pessoa, incluindo você mesmo, por tê-lo feito sofrer na vida. Mas é tempo de parar com esse sofrimento. Está na hora de libertar-se da tirania do Juiz ao trocar a fundação de seus próprios compromissos. É hora de libertar-se do papel de Vítima.

Seu" eu" verdadeiro ainda é uma criança que não chegou a crescer. Algumas vezes essa criança aparece quando você se diverte ou está jogando, escrevendo poesias ou tocando piano, enfim, expressando a si mesmo de alguma forma. Esses são os momentos mais felizes de sua vida:. quando o "eu" verdadeiro sai, quando você não se importa com o passado e não se preocupa com o futuro. Você fica como uma criança.

Mas existem algumas coisas que muda tudo: nós as chamamos de responsabilidades. O Juiz diz: "Espere um. segundo, você é responsável, tem coisas para fazer, precisa trabalhar, precisa frequentar a escola, precisa ganhar sua vida". Todas essas responsabilidades nos vêm à mente. Nosso rosto se altera e nos tomamos sérios outra vez. Se você observar as crianças brincando de adultos, vai perceber que os rostos delas mudam. "Vamos fingir que sou um advogado." E logo os rostinhos mudam; o rosto do adulto assume. Vamos para o tribunal, e esse é o rosto que enxergamos. Vamos para a corte, e esse é o rosto que enxergamos... o que enxergamos. Somos ainda crianças, mas perdemos nossa liberdade.

A liberdade que estamos procurando é a liberdade de ser nós mesmos, de nos expressar. Mas se examinarmos nossas vidas, veremos que na maior parte do tempo fazemos coisas para agradar aos outros, apenas para ser aceitos pelos outros, em vez de viver nossas vidas para agradar a nós mesmos. É o que acontece com nossa liberdade. Enxergamos em nossa sociedade, e em todas as sociedades ao redor do mundo, que para cada mil pessoas, novecentas e noventa e nove mil estão completamente domesticadas.

A pior parte é que a maioria de nós nem ao menos tem consciência de não ser livre. Existe algo no interior sussurrando para nós que não somos livres, mas não compreendemos o que é e por que não somos livres.

O problema com as pessoas é que vivem suas vidas e nem chegam a descobrir que o Juiz e a Vítima governam suas mentes e, portanto, não têm uma chance de ser livres. O primeiro passo na direção da liberdade pessoal é a consciência. Precisamos estar conscientes do problema para poder resolvê-lo.

A consciência é sempre o primeiro passo, porque se você não está consciente, não existe nada para mudar. Se você não percebeu que sua mente está cheia de ferimentos e veneno emocional, não pode começar a limpar e curar os ferimentos e continuará sofrendo.

Não existe motivo algum para sofrer. Com a consciência, você pode ser rebelde e dizer: "Chega!". Você pode procurar por uma forma de criar e transformar seu sonho pessoal. O sonho do planeta é apenas um sonho. Nem ao menos é real. Se você entrar no sonho e começar a desafiar suas crenças, vai descobrir que sofreu todos aqueles anos por nada. Por quê? Porque o Sistema de Crenças no interior de sua mente é baseado em mentiras.

Por isso, é tão importante que você domine o próprio sonho; por isso, os toltecas se tornaram mestres do sonho. Sua vida é a manifestação de seu sonho; é uma arte. E você pode mudar sua vida a qualquer momento em que não estiver gostando do sonho. Os mestres do sonho criaram obras- primas de vida; controlavam os sonhos fazendo escolhas. Tudo tem consequências e o mestre de sonhos está consciente das consequências.

Ser tolteca é uma forma de viver. Uma forma de viver em que não existem líderes nem seguidores, em que você possui sua própria verdade e vive de acordo com ela. Um tolteca se torna sábio, selvagem e livre outra vez.

Existem dois domínios que levam as pessoas a se tornar toltecas. O primeiro é o Domínio da Consciência. Significa tornar-se consciente de quem realmente somos, com todas as possibilidades, O segundo é o Domínio da Transformação ... como mudar, como ficar livre da domesticação. O terceiro é o Domínio da Intenção. Intenção, do ponto de vista tolteca, é aquela parte da vida que torna a transformação de energia possível; é o ser vivente que sem esforço envolve toda a energia, ou o que denominamos "Deus". Intenção é a própria vida; é amor incondicional. O Domínio da Intenção, portanto, é o Domínio do Amor.

Quando conversamos sobre o caminho tolteca para a liberdade, descobrimos que eles possuem um verdadeiro mapa para libertar-se da domesticação. Eles compara o Juiz, a vitima e o sistema de crenças a um parasita que invade a mente humana. Do ponto de vista tolteca, todos os seres humanos domesticados são doentes. São doentes porque existe um parasita que controla a mente e controla o cérebro. A comida, para o parasita, são as emoções negativas produzidas pelo medo.

Se repararmos na definição de "parasita", descobrimos que um parasita é um ser vivo que vive de outros seres vivos, sugando sua energia sem nenhuma contribuição útil em troca e machucando o hospedeiro pouco a pouco. O Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças se encaixam bem nessa descrição. Juntos, formam um ser vivo feito de energia psíquica ou emocional, e essa energia está viva. Claro que não se trata de energia material, mas tampouco as emoções são energias materiais. Nossos sonhos não são energia material da mesma forma, mas sabemos que existem.

Uma das funções do cérebro é transformar energia material em energia emocional. Nosso cérebro é uma fábrica de emoções. E temos dito que a função principal da mente é sonhar. Os toltecas acreditam que os parasitas - o Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças - controlam sua mente; controlam seu sonho pessoal. Os parasitas sonham pela sua mente e vivem sua vida por intermédio de seu corpo. Sobrevivem nas emoções que têm do medo, e se alegram com o drama e o sofrimento.

A liberdade que procuramos é usar nossa própria mente e corpo para viver nossa própria vida, em vez da vida do Sistema de Crenças. Quando descobrimos que a mente é controlada pelo Juiz, pela Vítima, e o "nós" verdadeiro fica num canto, temos apenas duas escolhas. Uma escolha é continuar vivendo da forma que somos, render-se a esse Juiz e a essa Vítima e continuar vivendo o sonho do planeta . A segunda escolha é fazer como quando éramos crianças e os pais tentavam nos domesticar. Podemos nos rebelar e dizer "Não!". Podemos declarar uma guerra contra os parasitas, uma guerra contra o Juiz e a Vítima, uma guerra pela nossa independência, uma guerra pelo direito de usar nossa própria mente e nosso cérebro.

Por isso nas tradições xamanistas em toda a América, desde o Canadá até a Argentina, as pessoas chamam a si mesmas de guerreiros, pois estão em guerra contra os parasitas em suas mentes. Esse é o real significado de um guerreiro. O guerreiro é o que se rebela contra a invasão dos parasitas. O guerreiro se rebela e declara guerra. Sermos guerreiros, porém, não significa sempre que iremos ganhar a guerra; podemos ganhar ou podemos perder, mas sempre damos o melhor de nós e temos uma chance de ser livres outra vez. Escolher esse caminho nos dá, no mínimo, a dignidade da rebelião e nos assegura que não seremos vítimas inocentes de nossas emoções frívolas ou do veneno emocional dos  outros. Mesmo se tivermos sucumbido ao inimigo - o parasita -,  estaremos entre aquelas vítimas que não reagiam.

Na melhor das hipóteses, ser guerreiros nos fornece uma oportunidade  de transcender o sonho do planeta e de alterar o sonho pessoal para um sonho que chamamos de céu. Assim como o inferno o céu é um local que só existe no interior de nossa mente. É um lugar de alegria, onde podemos ficar felizes, onde somos livres para amar e ser quem realmente somos. Podemos alcançar o céu enquanto somos vivos; não precisamos esperar até morrer. Deus esta sempre presente e o reino dos céus se encontra em toda a parte, mas primeiro precisamos ter olhos e ouvidos para enxergar e escutar a verdade. Precisamos estar livres de parasitas.

O parasita pode ser comparado a um monstro com mil cabeças. Cada cabeça do parasita é um dos medos que temos. Se queremos ser livres, temos de destruir o parasita. Uma das soluções é atacar o parasita de frente, o que significa enfrentarmos cada um dos nossos medos um por um. Esse é um processo lento, mas funciona. A cada vez que enfrentamos um dos medos, ficamos um pouco mais livres.

Uma segunda abordagem do problema é parar de alimentar o parasita .Se não dermos comida a ele, podemos mata-lo de fome. Para fazer isso é preciso aprender a controlar nossas emoções, conseguir controlar nossas emoções, precisamos nos abster  de  alimentar  as emoções que derivam do medo. Isso  é muito fácil de falar, mas difícil de realizar. É difícil porque o Juiz e a Vítima controlam nossa mente.

Uma terceira solução é chamada de iniciação dos mortos.

A iniciação dos mortos é encontrada em muitas escolas esotéricas e tradições ao redor do mundo, como no Egito, na Índia, na Grécia e nas Américas. Trata- se de uma morte simbólica, que mata o parasita sem, magoar nosso corpo físico. Quando "morremos" simbolicamente, o parasita tem de morrer. É uma solução mais rápida do que as duas primeiras, porém muito mais difícil de realizar. Precisamos de muita coragem para enfrentar o anjo da morte. Precisamos ser muito fortes.

Vamos examinar mais atentamente cada uma dessas soluções.


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