quinta-feira, maio 02, 2019

A Arte da Meditação - 14


A ARTE DA MEDITAÇÃO
(Joel S. Goldsmith)

Capítulo 14 - O TABERNÁCULO DO SENHOR

- “Como é amável Vossa morada Senhor dos exércitos, suspira e desfalece minha alma pelos átrios do Senhor; Exultem meu coração e minha carne pelo Deus vivo!” (Salmos 84:1-2) 

- “Só uma coisa peço ao Senhor, esta, ardentemente a solicito, morar na casa de Deus todos os dias de minha vida, para fruir as delícias do Senhor e contemplar Seu Templo”. (Salmos 20:4) 

- “Senhor, quem há de morar em vosso tabernáculo, quem há de residir em vossa montanha sagrada? O que tem as mãos inocentes e o coração puro...”. (Salmos 15: 1-2) 

Povos de todas as crenças têm tido seu lugar sagrado de adoração, templo, mesquita ou igreja, onde o devoto possa dirigir-se a seu Deus. 

Dentro do santuário, com estrutura e objetos de devoção próprios para que a alma se volte para Deus. 

Na realidade, porém, o encontro com Deus face a face não depende de adoração em lugar determinado nem de adesão a qualquer cerimonial prescrito. 

Os ritos praticados são apenas símbolos externos de uma busca íntima de Deus e nesse sentido cada símbolo tem profundo significado e elevado alcance. 

Uma ilustração dessa busca de Deus repleta de simbologia é a adoração no tabernáculo do Senhor, minuciosamente descrita no Velho Testamento. 

O Templo hebreu tinha a forma de um paralelogramo de lados norte e sul e extremidades este e oeste. 

Compunham-no três partes: paço, lugar sagrado e santuário. O paço era franqueado a todos para adoração; aí, na parte da entrada se localizava um braseiro ardente, um grande altar bronzeado, em que eram queimadas oferendas voluntariamente trazidas pelo povo. 

Entre o braseiro e a porta de entrada do templo, situava-se um lavatório construído em mármore, onde os sacerdotes lavavam as mãos e pés antes de ofertar os sacrifícios ou de entrar no templo. 

O lugar sagrado era acessível apenas aos sacerdotes. Em uma mesa de madeira localizada na face norte, ficavam expostas doze fatias de pão ázimo divididas em duas pilhas. Esse pão significava abundância de Deus e da Graça e semanalmente era substituído. 

Alguns intérpretes da Bíblia chamavam-lhe “Pão da Presença”, símbolo da Presença de Deus. 

O lado oposto do templo, em sentido transversal à mesa sustinha um candelabro de ouro com três ramos de cada lado de onde pendiam saliências amendoadas que formavam receptáculos para sete lâmpadas, nestes, o óleo queimava constantemente. 

Junto à entrada do sacrário havia um altar dourado de feitio semelhante ao colocado no paço, no qual ardia incenso posto pelo Sumo Sacerdote, pela manhã e à tarde. 

No Tabernáculo, o lugar mais santo era o Sacrário, disposto além do lugar sagrado. 

Nesse recinto eram depositados símbolos do maior significado para o ritual e apenas uma vez por ano, tinham os sacerdotes permissão para atravessar os sagrados limites. Aí repousava a Arca da Aliança, uma caixa de madeira coberta de ouro, onde, segundo a crença, a Presença de Deus podia ser notada; mas apenas “os de mãos limpas e “coração puro” podiam encontrar o Caminho da Presença. 

Agora, através da Meditação, tentamos alcançar o significado espiritual do simbolismo desse templo de adoração. Comecemos pelo paço: no altar bronzeado, onde eram acolhidos todos os que entravam, os adoradores consumavam o sacrifício que consistia em entregar às chamas algum objeto material de valor intrínseco, como prova de sinceridade e vontade de a tudo renunciar na tentativa de alcançar Deus. Tinha o devoto de despojar-se de tudo o que constituísse barreira à sua comunhão com Deus, pronto a lançar no fogo purificador todas as coisas que se tornassem empecilho ao seu progresso. Essa prática simbolizava o sacrifício do senso da personalidade, já que ninguém pode aproximar-se da Presença de Deus, sem antes abandonar sua fé e confiança nas dependências humanas. Muitos de nós nunca entram num templo, igreja ou lugar sagrado, contudo, se verdadeiramente desejamos alcançar Deus, um sacrifício terá de ser feito. 

Qual será ele neste mundo moderno, se estivermos dispostos a alcançar o Sacrário? Qual a barreira que obstrui nosso progresso? Não será a velha prática de adorarmos tantos ídolos esquecendo o primeiro mandamento: “Não adorarás outros deuses ante mim?” Os deuses que adoramos hoje não são imagens esculpidas como outrora. Em seu lugar são idolatradas fama, posição, fortuna. Estamos continuamente à procura de alguém ou de alguma coisa para nossa satisfação e esperamos das pessoas amor e gratidão, ao invés de considerar Deus como Fonte ou mantermo-nos na crença de que nosso suprimento e segurança dependem de empregos, investimentos e contas bancárias. Não podemos nos aproximar da Presença de Deus oprimidos pelo peso de nossas cargas, mesmo que seja o desejo de que Deus interfira em nossos negócios mundanos. Lembrai-vos da Arca da Aliança: Deus está no recesso do Templo e antes de ser atingido, todas as barreiras devem ser removidas. Assim iniciamos a cerimônia do sacrifício, lançando figuradamente ao braseiro todas as nossas dependências humanas. Devemos renunciar nossa concepção material de riqueza e saúde, sem renunciar a elas. Ao contrário, como esses conceitos humanos são relegados a uma completa dependência de Deus, podem eles permanecer em abundância e harmonia crescentes. Portanto compreendamos, não é exigido lançar fora nossas posses pessoais, o que deve ser sacrifício é a crença de que a riqueza material constitui nossa garantia. A menos que essa crença seja rejeitada, não podemos realizar nossa integração em Deus. 

A carência e limitação são experimentadas na proporção em que aceitamos a concepção materialista de que “dinheiro” é sinônimo de fonte de suprimento. 

A recíproca é verdadeira, o abastecimento é feito na fonte, mas a Fonte é a substância de que o dinheiro é formado, que é a consciência da Verdade, a consciência de nossa ligação com Deus. 

Conscientizando a certeza dessa identidade, não sofreremos mais carência ou limitação, pois essa compreensão é a substância produtora de suprimento. 

O mesmo princípio de sabedoria ocorre com a saúde. Comumente a idéia de saúde refere-se a um coração que pulsa novamente, um fígado que segrega a quantidade adequada de bile, pulmões que inalam e exalam ritmicamente, de trato digestivo que assimila e elimina satisfatoriamente e de outros vários órgãos e partes do corpo que executam suas funções naturais. Deve ser abandonado o conceito de que órgãos e funções sadias constituem saúde. Saúde é a concepção de que Deus é a Fonte de toda atividade e substância de toda forma, Deus é a Lei em sua creação e essa sabedoria espiritual manifesta-se como saúde. Os conceitos citados, de riqueza e saúde, são dois entre muitos outros que devem ser eliminados. Comecemos onde, neste momento, nos encontramos em nível de consciência. 

No íntimo de nossas mentes e corações verificamos que abrigamos um conceito de natureza mortal, material, limitada, finita, seja sobre riqueza, saúde, família, amigos, posição social, fama, etc. 

Renunciemos aos conceitos humanos para aceitar em troca uma noção espiritual mais elevada do ser. 

Sacrifiquemos o desprezível para receber o que é divinamente real. Erram o caminho os que buscam Deus no intuito de obter satisfações pessoais. 

Deus só pode ser encontrado após a completa renúncia a todo desejo, exceto o desejo de se entregar ao Seu Amor e a Sua Graça. Nesta meditação iniciamos o sacrifício. Eu renuncio: eu renuncio a todo impedimento, a todo estorvo material e humano, a tudo o que possa se interpor entre mim e Deus. 

Em Tua Presença reside a plenitude da vida. Eu renuncio a todo desejo que acalentei a não ser um: “Tu és tudo que busco”. Deixa-me ficar em Tua Presença. Tua Graça me basta, apenas Tua Graça. Eu renuncio ao desejo de alguém, de lugar, de coisa, de circunstância. Eu renuncio até a minha esperança de um céu. Renuncio a todo desejo de reconhecimento, recompensa, gratidão, amor e compreensão. Estou satisfeito com Tua Graça. Se puderes sentar-se aqui e segurar Tua mão, nada mais reclamaria; jejuaria mesmo o resto dos meus dias. Permite que eu segure Tua Mão e jamais terei fome, jamais terei sede. Deixa-me apenas segurar Tua Mão, permanecer em Tua Presença. Havendo-nos despojado de todas as dependências humanas e materiais, lançando-as no braseiro ardente, estaremos prontos para o próximo passo. 

Á curta distância, para além do braseiro fumegante está o grande receptáculo cheio d’água. É o lavatório em que se realiza o rito da purificação. Este já não é simples operação física como foi o lançamento de nosso sacrifício ao fogo; aí, tem o adorador a oportunidade de purificar-se, tanto externa como internamente. Ninguém precisa ser informado ou informar à própria mente sobre as coisas das quais deveria se purificar, pois cada um conhece o próprio íntimo. 

O sacrifício e a purificação das concepções humanas sobre os valores nos preparam para o ingresso no lugar sagrado. Aí permanecemos frente à mesa do pão, mantido sempre fresco e abundante, não com o propósito de nos banquetear, mas como sinal evidente da onipresença de todos os bens. 

Contemplando essa mesa eleva-se de nós uma confissão silenciosa de que assim como o pão está sempre presente no Sacrário, assim também, neste momento, o pão da vida e tudo que representa plenitude aqui se encontra. E onde é aqui? – Onde eu estou. Exatamente onde eu estou, aí está a Onipresença da substância da vida, a insígnia da vida, a harmonia e o bem, porque tudo isso é dom de Deus. Essa dádiva é onipresente e infinita por constituir essência infinita da Vida. Sacrifício, purificação e contemplação da abundância de bens servem de preliminar para a expansão da consciência. 

A presença permanente da luz espiritual é representada pelo candelabro de sete braços, localizado no lado esquerdo do Sacrário. 

Os sacerdotes do templo usavam 7 lâmpadas porque “sete” exprime totalidade. 

Ante este símbolo de luz espiritual a Luz inextinguível do Cristo começa a interpenetrar a consciência, a invadir nosso ser e gradualmente ou subitamente a consciência desperta para a verdade de que precisamente no lugar onde estamos meditando, está a Onipresença, a totalidade da Sabedoria, da compreensão, da Vida Espiritual. 

À Luz de Deus, a plena iluminação espiritual se completa dentro de nós nesse momento; permanecendo em meditação, diante desse candelabro sete vezes iluminado, sentimos a convicção de nossa integração em Deus, e permitimos que essa Luz flua e se manifeste visivelmente. Passo a passo, caminhamos para o Santuário, para a Presença de Deus; cada ato da consagração nos aproxima do alvo. Algo mais é exigido, uma prova final de devoção. Dirigimo-nos em ação de graças ao sítio de adoração, simbolizado pelo incenso fumegante e aí ofertamos nosso louvor e gratidão a Deus pelas inúmeras bênçãos recebidas. 

Neste lugar sagrado, frente ao Santuário, rememoramos nosso progresso desde a entrada no paço. 

Cada rito de consagração representa um papel peculiar no aperfeiçoamento espiritual: o sacrifício lançado no braseiro ardente, a autopurificação no lavatório, a contemplação nos bens de Deus ante o altar dourado. Executando fielmente cada um desses ritos, encontramo-nos atrás do altar do incenso, ante um véu de neblina que finalmente se rompe revelando o Arco da Aliança. 

Se nossa meditação foi serena, tranqüila elevando-nos à realização de nosso ser divino de modo que nossos olhos se abram para a realidade espiritual, então, contemplamos o grande mistério, a névoa se desvanece, a cortina se descerra e nos encontramos na Presença de Deus que se anuncia e nos lembra: “Estou sempre Contigo. Contigo estava quando iniciaste tua busca, mas a névoa ante teus olhos nublava tua visão e tu não podias ver-Me. Tua consciência se achava adormecida por conceitos materialistas. A Névoa não podia dissipar-se enquanto os motivos que a determinavam não fossem removidos. Então e só então pudesses encontrar-Me, ouvir Minha voz, sentir Minha Presença”. 

Seja qual for o estado de consciência em que se encontre o buscador, sacerdote ou neófito, existe para ele um caminho, um caminho que finalmente o levará à Presença de Deus. Pode esse caminho ser singular ao indivíduo ou se assemelhar a qualquer forma estabelecida de adoração religiosa: jornadear do paço externo até o Santuário no templo hebreu; depositar uma flor aos pés da estátua de Budha; peregrinar à Meca; banhar-se no Ganges sagrado ou ajoelhar-se na Catedral em santa comunhão, beber o vinho simbólico e comer o pão sagrado. Seja qual for a simbologia empregada, será infrutífera enquanto não for discernido o significado da forma. 

A meditação em que nos empenhamos veste o símbolo da Realidade da Vida. O ato de sacrifício, purificação e devoção devem ser executados por todo aspirante, não como cerimonial exigido por regulamento, mas como ditame do coração. Poderemos chegar à Presença de Deus somente quando o coração clamar e a alma O reverenciar. 

Ninguém pode atingi-la a não ser em estado de sacralidade. Outrora, somente os sacerdotes eram considerados dignos de ser admitidos no Santuário; hoje, porém, com nosso esclarecimento, qualquer homem ou mulher que tenha compreensão de sua verdadeira identidade é um sacerdote e poderá encontrar o Caminho do Santuário interior. 

É sacerdote todo aquele que alcança determinado nível de consciência de Deus, tal pessoa serve a Deus e é por Ele mantido. O divino pão da vida o alimenta, tornando-o “Luz do Mundo”, canal através do qual sabedoria, amor, vida e a verdade espiritual fluem para aqueles que ignoram a Fonte de seus bens.


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