segunda-feira, agosto 27, 2018

O Eu Místico - 10/12

- Joel S. Goldsmith - 


O Eu Místico

CAPÍTULO 10
UM ATO DE COMPROMISSO

Enquanto eu estava sentado em meditação, estas palavras vieram a mim: "o Ventre do Silêncio"; e nessa experiência era como se houvesse um tremendo silêncio, grande e completo  era o Ventre do qual emergiu toda a criação. Toda a criação foi formada neste Ventre do Silêncio. Criou-se não um homem, mas um universo: a terra, as rochas, as árvores, riachos, mares, céus, sóis, luas e planetas; tudo isso fluindo como um desdobramento deste enorme Ventre de quietude, de silêncio penetrante, completo, absoluto.

Esse Silêncio move-se em um certo ritmo. E este ritmo não apenas forma, mas sustenta toda a criação, mantendo todas as coisas no seu devido lugar. Olhando para este universo, você pode ver que existe frio, neve e gelo no norte, e calor no sul; flores e árvores de uma natureza no norte, e de outra natureza no sul. Este ritmo  o ritmo que está fluindo daquele Silêncio  sustenta lindamente a criação, em toda a sua ordem.

Então, eis que o homem aparece aqui e ali na face do globo, também mantido por este ritmo que flui dentro de sua Consciência. É o fluir desse ritmo que mantém a atividade do corpo, dos órgãos e de suas funções. Tudo parece responder a este ritmo; e todo este ritmo flui para fora a partir desse "Ventre", em forma de Graça, Beleza, Ordem, Paz. A relação entre todas essas formas é harmoniosa. Poderíamos usar a palavra "amor", mas não há amor (em sentido humano): há apenas uma naturalidade de Paz e Contentamento  este é o ritmo em expressão, o ritmo do universo.


Estar Fora do Ritmo Resulta em Desarmonia

Quando algo dá errado em nossa experiência, é porque estamos fora de sintonia com este ritmo. Podemos observar como o salgueiro se move com a brisa, como ele flui quando a brisa sopra, e então imaginemos o que aconteceria se ele tentasse resistir ou ficar ereto naquela brisa: ele se quebraria. E assim também o homem é quebrado no momento que ele se move fora do ritmo, fora do fluxo que o trouxe à manifestação e expressão.

O ritmo da Fonte mantém toda a criação em harmonia, na lei e na ordem. Seja lá o que for que nos permita mover-nos por nós mesmos (senso de separação), ou por vontade própria, indo em uma direção de nossa autoria, nos tira do fluxo do ritmo; e então estaremos em oposição ao ritmo, tentando permanecer ereto ou resistindo a ele, tal como o salgueiro em face da brisa. Cada senso de discórdia e desarmonia que toca nossa experiência é uma evidência de que estamos desalinhados ou fora de sintonia com o ritmo do universo; e a discórdia e desarmonia vão persistir em nossa experiência até que tornemos a sintonizar espiritualmente e ritmicamente.


Como Retornar ao Ritmo

Pode não haver uma possibilidade de explicar neste momento por quê ou como saímos da sintonia; mas devemos reconhecer que, como raça humana, não estamos sengo governados pelo ritmo do Espírito, o ritmo do Silêncio. Pode muito bem ser porque insistimos em nosso pensamento: insistimos em seguir um caminho próprio, à nossa própria maneira, por nossa própria vontade, ou em ter uma família estritamente nossa, em vez de reconhecermos a Unicidade de toda a Vida. Pode ser que voltemos ao menos parcialmente ao ritmo, se reconhecermos que há apenas uma família, e que somos descendentes da Casa de Deus, unindo-nos assim com os povos de todas as raças, de todas as religiões, e de todas as nacionalidades, reconhecendo a paternidade universal de Deus; e isso, num certo sentido, restauraria a harmonia.

A sabedoria do dízimo nos mostra algo diferente. Mas esta prática não deve ser mal compreendida. Esse antigo ensinamento do dízimo não significava que, ao fazer uma doação, pudéssemos esperar alguma bênção. Não podemos entrar em qualquer merchandising, negociação ou acordo com Deus, dando a Ele dez por cento e esperar que Ele nos retorne em noventa por cento. Mas ao realizar o dízimo  conhecendo o relacionamento que temos, não apenas com os nossos parentes de carne e sangue, mas reconhecendo a relação ou parentesco que temos com toda a humanidade – entramos novamente no ritmo desse relacionamento. Ao providenciar para outras pessoas além das nossas, não estaremos apenas conhecendo intelectualmente um relacionamento, mas estaremos vivenciando o seu ritmo. Entramos no ritmo de nosso relacionamento com a humanidade quando, em primeiro lugar, reconhecermos a existência dessa relação e, em seguida, tomamos a ação em relação a ela, providenciando alguma medida de provisão para os outros, aqueles que não fazem parte da nossa família de carne e sangue, da nossa família religiosa, ou família nacional. 


A Relação Universal da Humanidade Deve Ser Confirmada por um Ato

Está claro agora que, para nos restabelecermos neste ritmo original, necessitamos fazê-lo mediante um ato? O conhecimento intelectual não é o suficiente: deve ser seguido por uma ação. É um ato de compromisso. Se declararmos que todos somos a Família de Deus, e em seguida continuarmos vivendo apenas para a nossa própria família, para os que comungam da nossa própria religião, ou para a nossa própria nação, estaremos virtualmente nos contradizendo e gerando atrito; e nossa condição, então, é pior do que a da pessoa que é ignorante dessa relação universal.

Uma vez que tomamos o conhecimento de que essa relação universal é estabelecida por um ato de compromisso, devemos entrar no ritmo e começar a agir de alguma forma que nos vincule ao bem-estar daqueles que estão fora da relação de nossa casa, comunidade, nação ou igreja. Se nos limitarmos a meramente reconhecer a nossa Cristandade, ao invés de vivê-la a partir de atos concretos, imediatamente nós estabeleceremos um conflito dentro de nosso próprio ser, o que é muito pior do que se nós nunca tivéssemos ouvido falar dessa Cristandade; porque, tendo ouvido falar dela, devemos agora vivê-la.

É necessário haver um ato de compromisso a fim de vivermos como o Cristo, e para compreender isso, podemos tomar exemplos tais como Gautama, o Buda, e Jesus, o Cristo, e testemunhar a natureza da vida que eles viveram. Não é que tentaremos igualar a nossa vida à vida deles. Isso, é claro, nunca seria possível. Cada um de nós é um indivíduo, cujo ser se expressa individualmente. Mas ao olhar para eles, ao menos podemos perceber o que significa aceitar e viver a própria Cristandade, e então dar o primeiro passo agindo a respeito, mesmo que seja muito pouco, "até... ao menor destes meus irmãos", a fim de que este pouco que fizemos possa continuar a aumentar em alcance, profundidade, amplitude e visão.


Reconhecimento da Cristandade de Nosso Companheiro Deve Ser Expressado em Ação

Reconhecer a Natureza Crística de nosso próximo nos vincula a um ato de compromisso. Não só devo agir a partir da percepção de minha Natureza Crística na medida em que a Luz me é dada, mas no momento em que eu reconheço o Cristo em você, sou chamado a tomar uma ação coerente com a verdade que percebo  de que você é o Cristo. Se eu curvo a minha cabeça diante da Presença do Mestre, então também devo me inclinar e reverenciar a todos aqueles que eu encontrar.

Muitas vezes os alunos ficam a imaginar se o seu professor espiritual está ciente da natureza ou do grau do desenvolvimento espiritual em que se encontram, ou da ausência dele. Podem ter certeza de que é tão impossível esconder de um professor o seu grau de progresso espiritual quanto seria esconder de Deus, porque há um sinal, e esse sinal é um ato de compromisso. Até que o professor veja esse sinal vindo à tona, ele sabe exatamente como está o desenvolvimento espiritual do aluno. No momento em que testemunha o sinal de compromisso, ele sabe que o aluno venceu as tribulações e alcançou um lugar além da humanidade. Isso, todavia, ocorre apenas quando o ato de comprometimento é observado, de uma forma ou de outra. Não é necessário que essa observação ocorra fisicamente. Não é preciso estar a milhares de quilômetros do aluno para saber quando o compromisso aconteceu.


Nossa Consciência Individual é o Juiz

Isso nos leva a uma parte importante da revelação do Caminho Infinito. Não é difícil convencer uma pessoa de que ela pode fazer o mal conforme bem entender, e não ser detectada por Deus. Mas nós poderíamos acabar com todas as prisões do planeta, se ensinássemos corretamente que ninguém pode fazer o que bem entender, porque o juiz está mais perto do que a própria respiração: ele é a verdadeira consciência de cada um.

O juiz não age da maneira como muitas pessoas acreditam que Deus age, sentado e anotando em um caderno as boas ações e as más ações, e pesando-as umas contra as outras. Ele age mais como a lei da matemática: contanto que continuemos a multiplicar duas vezes dois, e obtendo quatro, ou três vezes três, e obtendo o nove, tudo está indo bem dentro do nosso reino matemático. Ninguém está sendo recompensado, a matemática não está sendo recompensada, e os números não estão sendo recompensados. Apenas ocorre que tudo está se desdobrando normal e naturalmente dentro das leis da matemática e da ciência. Por outro lado, se anotarmos que duas vezes dois é igual a cinco, não receberemos nenhuma punição: simplesmente quebraremos o ritmo da harmonia. Ninguém está sendo punido; os números não estão sendo punidos; a aritmética não está sendo punida. Há apenas o fruto errôneo de se ter rompido o ritmo da matemática. 

A fórmula "H2O" é água, e enquanto continuarmos unindo duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, nós obteremos a água, mas não como uma recompensa de Deus: será o ritmo natural e normal da ordem divina da ciência. Tente coligar uma molécula de hidrogênio e duas de oxigênio, e a água não será obtida. Mas ninguém estará sendo punido  nem mesmo o cientista que errou. O ritmo foi simplesmente quebrado.


Violar a Lei Espiritual Rompe o Ritmo

Todas as vezes que violamos a lei espiritual, o ritmo é quebrado; e nós violamos a lei espiritual a cada vez que não reconhecemos a Deus como Onipotência, Onisciência e Onipresença, e toda vez que não amamos ao nosso próximo como a nós mesmos. Esses são os dois únicos mandamentos espirituais que existem. Esse é o ritmo de toda a criação e expressão do Universo, incluindo o homem.

Não há meio de violar o ritmo, exceto aceitar dois poderes: o bem e o mal no lugar da Onipotência do Espírito; aceitar outra mente além da Mente de Deus; aceitar outra presença que não a Presença de Deus. Fazer isso rompe o ritmo. Ninguém o quebra para nós. Enquanto andarmos obedientemente no reconhecimento da Presença de Deus em todos os nossos caminhos, conhecendo-O verdadeiramente como o único Poder, a única Presença e a única Inteligência, e amar ao próximo como a nós mesmos – reconhecendo a Natureza Crística de nós próprios, bem como de nosso próximo –, e agirmos a partir desse Amor, "nenhuma arma que se levante contra nós prosperará". E se alguém tentar enviar algum malefício contra nós, ele acabará por destruir a si mesmo, desde que conheçamos essa verdade.

Por outro lado, no momento em que violamos esses mandamentos, a lei é quebrada; e, então, qualquer discórdia ou desarmonia que possam se apresentar, nós próprios é que as pusemos em movimento. Nós mesmos fizemos isso ao violar os dois únicos mandamentos que existem no Reino espiritual. Mas, e quanto ao roubo? E quanto a cometer adultério? Não está claro que, se estivermos honrando ao nosso próximo como o Cristo, dificilmente adulteraríamos ou cometeríamos um roubo contra ele? Tais atos não estariam de acordo com a lei espiritual de amar ao nosso próximo como a nós mesmos.


O Ritmo do Universo Providencia Todas as Coisas Necessárias

Há um ritmo, e este ritmo do universo faz de cada um de nós um ser individual, um indivíduo completamente governado e suprido pelo Espírito de Deus, com todas as coisas supridas para nós de acordo com a necessidade de cada momento, a fim de que nunca precisemos invejar o nosso próximo, sentir ciúmes ou luxúria, porque, estando sintonizados com este ritmo, nossas próprias Vontade são satisfeitas para nós.

Isto é o que John Burroughs realmente quis dizer em seu poema, "A Espera". Esse poema é muito mal compreendido, e há muitas pessoas acreditando que tudo o que precisam fazer é sentar e esperar, e tudo o que desejam acontecerá para elas. Há pessoas que esperaram por toda a vida, sem que nada jamais acontecesse, porque elas ainda estavam nesse estado humano de consciência, fora do ritmo do universo. Mas, em seu poema, John Burroughs falou a partir do estado do Espírito; e já que ele estava no ritmo do Espírito, sua experiência era a de que a nossa vontade vem a nós, nós não necessitamos procurar por ela. Nós fechamos os olhos e ficamos conscientemente imersos no fluxo; e tudo o que é nosso vem.

Enquanto estivermos no fluxo de andar em obediência à Deus  amando-O supremamente, reconhecendo-O como o Eu Infinito, a Consciência Infinita, como o único Poder, a única Presença, a única Sabedoria, e amando ao próximo como a nós mesmos, fazendo ao próximo como gostaríamos que fizessem a nós –, estaremos vivendo no ritmo.

Sentar em Silêncio, e reconhecer o Eu do meu Ser, reconhecer Aquele que é Onisciente, Onipotente e Onipresente  esse é o Caminho. Esse é o modo de restaurar a harmonia, mas que deve sempre ser acompanhado de um ato de compromisso.


O Silêncio é o "Ventre" da Criação

Devemos encontrar a nossa realização e prover o nosso ato de confiança. Mas então não poderemos separar o ensinamento de "amar a Deus acima de todas as coisas" do ensinamento de "amar ao teu próximo como a ti mesmo", como se eles fossem dois mandamentos distintos. Virtualmente eles são duas partes de um mesmo mandamento. Se reconhecêssemos a Deus, o Eu infinito, sem contudo amar ao próximo como a nós mesmos, a nossa fórmula não funcionaria. Devemos perceber o fluir desse ritmo a partir do Silêncio, que é o Ventre de onde surge toda a criação. O Silêncio que atingimos interiormente é o Ventre, e a partir desse Silêncio interior flui toda a criação na medida do necessário para nossa experiência individual. 

Também é a partir do Silêncio que flui o amor ao próximo como a nós mesmos. Isso vem claramente, mas deve rapidamente ser posto em prática. Deve haver um ato de compromisso, algo como "na medida em fizestes isso a um destes pequeninos irmãos, o fizestes a vós mesmos", ou então, "quando a um destes pequeninos não o fizestes, não o fizestes a vós mesmos".

Enganamos a nós mesmos por não fazer nada ao próximo, pois o nosso "próximo" é o nosso próprio Ser. Se limitarmos o nosso "próximo" aos nossos parentes, compatriotas, e colegas religiosos, estaremos enganando o nosso Ser, porque somente quando fizermos algo pelo outro estaremos fazendo-o ao Eu que somos.

O ritmo do universo é produzido pelo reconhecimento do Eu como Deus, Onisciência, Onipotência, Onipresença, e por um ato de compromisso. O amor ao nosso próximo como a nós mesmos é um ato de compromisso. Deve haver dedicação e devoção a este princípio  não à pessoas , mas a este princípio. Não deveria fazer nenhuma diferença para nós se os russos colhem os benefícios de nossas benfeitorias, se os chineses, ou os cubanos. O que nos deve importar é o nosso ato de compromisso com todos aqueles que estão fora de nosso círculo familiar, nacional, religioso, de aliados ou de amigos.


A Consciência Projetando a Si Mesma

O homem deve viver pela Palavra, e não apenas pelo pão. À medida que recebemos a Palavra fluindo de nossa Consciência, através do Silêncio, e realizamos um ato de compromisso que nos vincule e nos relacione a Ela, que nos identifique com Ela, então nos tornamos separados do resto do mundo. Nosso mundo é uma emanação do nosso estado de consciência. Quanto mais o nosso estado de consciência se eleva em obediência aos dois mandamentos, mais alegre, pacífico e harmonioso se torna o mundo criado, porque o mundo criado é uma expressão da nossa consciência.

Se pudéssemos ver ou sentir que por detrás da nossa cabeça há esta grande Consciência projetando a Si Mesma, e não ficássemos no caminho da manifestação dessa Consciência por fazer uso do pensamento, então essa Consciência fluiria em Suas infinitas formas e variações, e nenhuma limitação haveria na manifestação de nosso universo e de sua harmonia. É apenas quando nós, em alguma medida, ficamos no caminho desse fluxo com o sentido pessoal de "eu" – eu e meu –, que o nosso universo se torna um pouco menos infinito do que ele deveria ser.

Você pode acreditar que está seguindo este Caminho Infinito de vida, por estar lendo os livros ou ouvindo as mensagens, mas eu digo que você o não está seguindo, até que você chegue ao ponto de firmar um ato de compromisso. Você pode acreditar que está sob a lei de Deus, mas eu digo que você não está, até que você se ponha debaixo dela mediante um ato de compromisso. Você pode acreditar que a Graça de Deus vai cuidar de você, mas eu digo que isso não será assim, até que você realize um ato de compromisso.


A Razão da Meditação

A partir daí, você pode perceber a importância da meditação  uma meditação que não é parar o pensamento, não é um amortecimento da consciência, nem uma fuga do mundo , mas uma meditação na qual a escuridão ou o silêncio são tão grandes que você pode olhar através deles e ver toda a Consciência infinita por detrás de você, pronta para em seguida derramar-Se em seu ouvido interno e expectante, sempre que você A convidar, dizendo: "fala, Senhor, pois o teu servo escuta".

Você quase pode sentir aquela grande, grande área de Consciência atrás de você,  pressionando, empurrando, e enviando a Si mesma para expressar-Se através de sua consciência, como a sua Consciência, como a Palavra, como a "Voz pequena e silenciosa", repetindo sempre e sempre: "Eu vim para que todos tenham vida... Eu vim para que você tenha vida em abundância... Não vos preocupeis com vossa vida, Eu estou aqui." 

E então você diz, "Ah, entendi! É por isso que eu tenho o maná oculto, é por isso que eu tenho o alimento que o mundo não conhece. Eu tenho esse Eu nas profundezas desta escuridão e quietude interior, na profundidade deste Ventre interior do Silêncio. Eu estou aqui. 'Aquietai-vos, e sabei que Eu Sou Deus'... Isto é o maná escondido. Este é o alimento que o mundo não conhece. Este é o maná que eu devo guardar como sagrado e secreto, compartilhando apenas com aqueles que vêm a mim e estão prontos".

Não pense, sequer por um momento, que você poderá valer-se desse ritmo do Espírito para fazer com que sua vida seja mais saudável, mais rica, ou mais sábia. Não há nenhuma provisão para isso no reino espiritual. Você se volta para dentro a fim de que a palavra de Deus flua através de você para o mundo. Você será bem cuidado, certamente. "O caminho que não supre o viajante não é um caminho para se seguir". Esse caminho do Eu nos concede toda a provisão. Mas essa não é a razão pela qual nós meditamos.

A razão porque meditamos é para que o Reino de Deus possa ser estabelecido na terra, assim como já o é no Céu. Deus não nos permite desejar que o Reino de Deus seja estabelecido na terra apenas para nós mesmos.

Isso se assemelharia muito àquelas pessoas que compram abrigos à prova de bombas para a própria proteção e, depois, quando o mundo inteiro explodir, saíssem e constatassem que elas são as únicas pessoas deixadas na terra. Imagine que tipo de mundo solitário no qual elas viveriam – um inferno na terra. Ou isso se assemelharia com aquelas que estocam alimentos em seus esconderijos à prova de bombas e, depois de o mundo ter sido destruído, saíssem para constatar que ninguém mais teria comida, exceto elas próprias. Você consegue imaginá-las capazes de comer um pedaço sequer?


Os Iluminados: Mestres ou Servos?

Nós não meditamos a fim de encontrarmos a nossa paz, mas para que através de nós a paz possa fluir para o mundo. Moisés não recebeu sua iluminação para tornar-se um rei glorioso, mas para que pudesse descer ao vale com o povo hebreu, e sofrer com eles, trazendo-os para a liberdade. Gautama, o Buda, não recebeu sua iluminação para ficar sentado aparte, no topo de uma montanha, e ser reverenciado ou adorado, mas sim para que ele andasse por toda a extensão da Índia, ensinando os discípulos e estabelecendo ashrams de cura. Jesus Cristo não recebeu sua iluminação para ser colocado separado, acima do resto do mundo, para cantar hinos e tocar harpas, enquanto o resto do mundo estaria em escravidão. A ninguém é dado ser iluminado por sua própria causa. Jamais isso aconteceu na história do mundo.

E ainda hoje há milhares e milhares de pessoas que estão buscando a iluminação espiritual acreditando que, quando a receberem, serão saudáveis, ricas e sábias para todo o sempre, totalmente por si mesmas. Não, não alimentemos tais ilusões. E se você está buscando a iluminação, você irá recebê-la, desde que você não sonhe com ela posicionando você separado do mundo, ou fazendo de você um "mestre" na terra. 

A iluminação fará de você um servo. Outras pessoas podem chamá-lo de mestre, mas em seu coração você apenas sorrirá para elas: "vocês me chamam de mestre, mas eu conheço na verdade o quanto eu sou um servo. Eu sei muito bem o quanto sou chamado pela Luz para servir. Todo o resto do mundo é parece ser meu mestre". Sim, a iluminação não lhe concede títulos ou túnicas pomposos, nem uma vida de paz isolada do mundo: ela lhe traz uma vida de dedicação, de devoção, de serviço. Quando o Mestre disse a seus discípulos que deixassem suas redes, ele estava pedindo um sinal de compromisso; e se eles receberam dele a iluminação espiritual, foi para que pudessem se tornar "pescadores de homens".

Leia a história da vida de Paulo e observe os açoites, os aprisionamentos e a fome que sofreu para levar a mensagem do Cristo à humanidade. Examine a vida de todos os místicos e veja os mal-entendidos, e às vezes as prisões, que foram destinados a suportar. Iluminação carrega um preço: deixar o mundo, deixar mãe, irmão, irmã e pai, se necessário, por "Minha causa". Tenha certeza de que, se houver iluminação, haverá um ato de compromisso com o mundo inteiro, não apenas com uma seita, não apenas com uma comunidade. Não é o mesmo que fixar três horas por dias, três vezes por semana, e se dedicar a elas, como fazemos em um escritório. Receber a Iluminação significa um ato de compromisso e dedicação com o mundo, sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia.

Deus não Se revela facilmente para aqueles que possuem finalidades egoístas, nem para aqueles que O usariam como um poder. Os puros de coração são aqueles que entendem a natureza dos dois mandamentos que constituem o ritmo do universo; por obedecer a esses dois mandamentos, eles estão em sintonia com o ritmo do universo que flui do Silêncio que eles encontram dentro de si mesmos. "Na quietude e na confiança é que está sua força". Fique quieto e saiba que Eu, no meio de você, sou Deus. Fique quieto e deixe o ritmo fluir desse Silêncio dentro de seu próprio Ser, e então acompanhe-o realizando um ato de compromisso que alinhe você com as pessoas deste mundo.

Se o nome de alguém tiver de sobreviver na história como um líder espiritual ou professor, ele deve ser um indivíduo que entrou em sintonia com o Espírito de Deus, que é o Espírito de toda a humanidade: de todos os homens, de todas as mulheres e todas as crianças, em todos os lugares. Ninguém é deixado de fora. Há um Espírito no homem; é com Ele que nos sintonizamos, e então recebemos os frutos por alcançar o estado de consciência que nos permite realizar o ato de compromisso. Quer seja "deixar as nossas redes", "vender tudo o que temos para comprarmos a pérola de grande valor", ou deixar pai e mãe, há um ato de compromisso que nos une com Deus e ao homem.


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