- Masaharu Taniguchi -
COMO VIVER A VERDADE VERTICAL E A VERDADE HORIZONTAL
Em que consiste basicamente a doutrina da Seicho-No-Ie? Ela é constituída de "Verdade horizontal" e "Verdade vertical". A "Verdade horizontal" é a de que o mundo fenomênico não é existência real, sendo mera projeção da mente e, portanto, nele podemos manifestar qualquer situação, seja prosperidade ou pobreza, saúde ou doença, felicidade ou desgraça, segundo nossa própria atitude mental. A "Verdade vertical" é a de que o ser humano é filho do Ser Supremo, sendo, portanto, dotado de Vida infinita, sabedoria infinita e todos os demais atributos do Pai, perfeição essa inerente à sua Imagem Verdadeira. Dito isso, agora esclarecerei algumas questões importantes em uma carta que recebi.
A questão da "inexistência da mente"
Li sua carta e me emocionei com a profundidade da sua fé. Segundo consta nessa carta, ultimamente os preletores da Seicho-No-Ie, que realizam palestras e orientações em diversos locais, não pregam muito a Verdade Vertical "O homem é originariamente filho de Deus, saudável, perfeito, sem doenças e infortúnios". Eles pregam que "Tal doença é projeção de tal estado mental" ou "Sem curar a mente, não adianta dizer que o homem é filho de Deus, pois não conseguirá curar-se de doença alguma", dando a entender que a mente humana cura a doença. Ouvindo esses preletores, reforçando apenas a Verdade horizontal, você diz que estão invertendo a ordem dos valores. E você próprio tem realizado inúmeras curas sem tocar na Verdade horizontal de cunho psicanalítico, dizendo categoricamente "O homem é filho de Deus, a doença não existe, o corpo carnal não existe, nem mesmo a mente existe. Se a mente não existe, não é preciso se preocupar com o que ela pensa. Não é preciso temer nada". Diz ainda que "A força que cura não está na mente do homem, pois só existe Deus e só Ele cura". Considero essas experiências realmente valiosas.
Na sutra Kan Fugen Bosatsu Gyoho consta "Não há mente para contemplá-la", referindo-se à inexistência da mente, e "O darma não está dentro do darma", referindo-se à Verdade de que "A matéria não existe como matéria". Significa que a imagem que aparece na tela do cinema (darma) não está dentro da imagem projetada na tela (darma), pois existe unicamente a Imagem Verdadeira.
O budismo prega com frequência a inexistência da mente e conta que o sacerdote budista Eka procurou certo dia o mestre Dharma e solicitou-lhe:
– Mestre, minha mente vive confusa, cheia de ilusões, e não consigo me livrar dessa situação. Por favor, retire essa ilusão da minha mente.
– Traga aqui essa mente cheia de ilusões que eu lhe retirarei as ilusões – respondeu o mestre Dharma.
Eka foi em busca dessa mente iludida, mas, não a encontrando em parte alguma, disse ao mestre:
– Fui buscá-la, mas não a encontrei.
Então, disse Dharma:
– Eu já o tranquilizei.
Ele quis dizer com isso que não adianta procurar a mente iludida que ninguém a encontrará, pois ela não existe. Se alguém fica confuso é porque pensa que ela existe e fica apegado a essa mente. Ao conscientizar que a mente em ilusão não existe e desligar-se dela, desaparecerão todos os sofrimentos.
Como vemos, o budismo também prega a inexistência da mente e parece-nos que a explicação acima nos convence disso, mas, pensando mais profundamente, ainda não compreendemos o fato se a mente existe ou não.
Ao aprenderem "Conscientize que a mente confusa não existe e desligue-se dela que todos os sofrimentos e angústias desaparecerão", muitas pessoas deixaram de se agarrar à mente que sofre e conseguiram sentir paz espiritual, com o que desapareceram os sofrimentos e as doenças.
Contudo, o que é que admite a inexistência da "mente que sofre" e se desliga dela? "Admitir" ou "se desligar" é uma ação da mente. É a mente que admite e se desliga. Então, não é que a mente inexista – ela existe e é ela que admite.
Conclui-se com isso que, ao se manifestar a mente que sofre, existe uma mente que se desliga dela admitindo que a mente que sofre não existe. Ao saber que essa "mente que se desliga" também não existe, a pessoa se sentirá totalmente liberta e esclarecida? Irá concluir, certamente, que saber ou admitir também são questões da mente e, portanto, terá de admitir que também essa mente não existe e, por mais que repita esse raciocínio/processo, ficará dando voltas eternamente no mesmo ponto.
É suficiente conhecer apenas a Verdade vertical?
Interrompendo a explicação acima, vamos ponderar sobre as suas experiências de curar muitas pessoas enfermas dizendo-lhes categoricamente que "O homem é filho de Deus. A doença não existe, o corpo carnal também não existe, nem mesmo a mente existe. Se a mente não existe, não é preciso se preocupar com o que ela pensa. Não é preciso temer nada".
Já que ocorre isso, você afirma que não há necessidade de ensinar a lei mental, nem explicar com detalhes a Verdade horizontal dizendo "Se não mudar a mente, não conseguirá curar sua doença", bastando que transmitam a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, e a doença não existe", pois, não existindo, ela desaparece. Com razão, para determinadas pessoas, é suficiente falar da Verdade vertical "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".
Na Academia de Treinamento Espiritual de Tobitakyu, pertencente à Sede Internacional da Seicho-No-Ie, têm ocorrido inúmeras curas de viciados em Philopon (uma espécie de estimulante) e de diversos outros vícios, pregando somente a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".
Se ficarmos explicando às pessoas o modo de corrigir a mente, dizendo "Corrijam essa mentalidade errada", elas se apegarão mentalmente a esses defeitos da mente e, apegando-se a esses defeitos, eles se solidificarão e não desaparecerão. Ou, então, as pessoas passarão a sentir revolta contra o orientador que diz para se corrigirem e aumentarão mais ainda os defeitos da mente. Por essa razão, quando a pessoa ouve "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso", deixa de se apegar à mente errada e volta seu pensamento para a Imagem Verdadeira maravilhosa e perfeita. Desse modo, a mente errada que causa vícios e doenças desaparece por completo, sendo natural que ocorra a cura de viciados em Philopon, como também o desaparecimento de diversos vícios e inúmeras doenças pregando apenas a Verdade vertical "o homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".
Salvação pela própria força e salvação pela força alheia
Não significa, porém, que não haja necessidade de pregar sobre a lei mental. Se o nosso objetivo fosse apenas salvar certos doentes e viciados, muita vezes seria suficiente pregar a Verdade vertical "Homem, filho de Deus, perfeito", mas é importante que as pessoas empenhem seus esforços em limpar as nódoas de suas mentes, refletindo sobre suas condutas.
Há duas maneiras de limpar as nódoas da mente: desligar-se da mente ou observá-la fixamente e esforçar-se para eliminar os defeitos mentais. Essa é uma questão que os budistas vieram debatendo desde a Antiguidade, e os que defendem a salvação pela força alheia entregam-se totalmente à força de Amida (Imagem Verdadeira), não dando maior importância à reflexão e ao esforço próprio. Em consequência, usavam o método de "desligar a mente da mente" a fim de "eliminar todos os sofrimentos e infortúnios" (nascer na Terra Pura). Entretanto, no Shodomon (salvação pela própria força) davam maior importância à reflexão, ao esforço, ao disciplinamento pessoal.
Contudo, na seita zen-budista, pertencente ao Shodomon, era uma questão de grande importância saber escolher entre esforçar-se para limpar as nódoas da mente fazendo uma reflexão, ou voltar a mente para a Imagem Verdadeira originalmente pura e limpa. Portanto, é absolutamente natural que haja preletores da Seicho-No-Ie que se dedicam à salvação dos semelhantes dando maior importância à aplicação da lei mental, enquanto outros enaltecem a Imagem Verdadeira originalmente pura e limpa do homem.
No preceito nº 23 do livro Mumonkan, escritura mais importante da seita zen-budista, consta o koan (questão para meditação no zen budismo): "Não pense no bem nem no mal". O quinto patriarca Hung Jen, já idoso, reuniu seus discípulos e pediu: "Componham uma estrofe relacionada ao despertar espiritual que cada um atingiu. Certamente o autor da melhor obra será o meu sucessor". Shen Hsiu, o primeiro entre seus discípulos, compôs uma estrofe que dizia:
O corpo é a árvore Bodhi,
a mente é como um espelho polido.
Deves ter o cuidado de limpá-lo constantemente,
não permitindo que um único grão de pó
possa manchá-lo.
Hui Neng compôs os seguintes versos e os apresentou:
Em princípio Bodhi não é uma árvore,
o espelho limpo não está em parte alguma.
Fundamentalmente, nada existe:
Onde está, então, o grão de pó?
A primeira composição se refere à lei mental (Verdade horizontal) e significa que a mente deve ser mantida sempre pura e limpa através de reflexões e esforços. Equivale aos preletores da Seicho-No-Ie que pregam a Verdade horizontal dizendo: "De nada adianta afirmar que o homem é filho de Deus, como se já tivesse alcançado a iluminação, se não mudar a mente. É primordial que cada um reflita sobre sua postura mental e mantenha a mente sempre correta e limpa".
Entratanto, Hui Neng compôs uma estrofe que significa "O homem é filho de Deus, e não existem fundamentalmente o corpo carnal, a matéria nem a mente. Então, que necessidade teremos de nos esforçar para limpar os grãos de pó?". Equivale aos preletores da Seicho-No-Ie que pregam a Verdade vertical de que só Deus é o princípio de tudo, nada existindo além d'Ele. Não se pode definir qual dessas Verdades é superior, pois, quanto à profundidade sobre a Imagem Verdadeira, é a Verdade vertical, mas quanto à explicação ampla que faz do fenômeno, é a Verdade horizontal.
A comunhão entre a força própria e a força alheia
Hung Jen, em primeira instância, considerou Hui Neng pessoa apropriada para ser o sexto patriarca. Hui Neng fundou a Escola do Sul, mas Shen Hsiu foi um insigne mestre zen que foi venerado como mestre fundador da Escola do Norte e o erudito sacerdote de Jiang Ling Toyosan.
A Seicho-No-Ie prega ambas as Verdades, a vertical e a horizontal, adequando-as a cada pessoa. Quanto à opção de dar maior importância a uma dessas Verdades, depende do temperamento do preletor, mas, conforme a pessoa, orienta-se reforçando a Verdade vertical homem-filho-de-Deus e, em outras vezes, orienta-se pregando a Verdade horizontal a fim de induzi-la à reflexão mental.
O missivista critica o fato de os preletores da Seicho-No-Ie pregarem dando maior importância à lei mental, mas há ocasiões em que a explicação sobre a lei mental, que é a Verdade horizontal, faz com que os ouvintes compreendam melhor a Verdade vertical "O homem é originalmente filho de Deus, perfeito e harmonioso".
Por exemplo, ao orientar uma pessoa que tem doenças manifestadas em seu corpo, o preletor lhe diz: "O homem é filho de Deus, Deus é absolutamente perfeito, é Amor infinito, Sabedoria infinita, Força infinita e não criou algo imperfeito como a doença. Portanto, a doença não existe". Mas, que fará ele se a pessoa retrucar "A doença existe aqui em meu corpo. Isso comprova que a doença existe e que Deus perfeito não existe"? Se, nesse caso, não lhe explicar sobre a lei mental, não conseguirá esclarecer por que a doença se manifestou como se existisse de fato, e desencadearia uma discussão interminável sobre a existência ou não de um Deus perfeito.
No entanto, fazendo com que a pessoa reflita dizendo-lhe, por exemplo, que "Não foi um Deus imperfeito que criou a doença. Foi sua mente que se iludiu e criou a doença. A medicina Psicossomática atual comprova isso. Quando a mente fica irada e sente ódio, ocorre uma secreção anormal de hormônios pela hipófise e pelo córtex adrenal, desequilibrando as funções fisiológicas do organismo, o que ocasiona a doença. Não estaria você odiando alguma pessoa do sexo feminino? As articulações do lado direito representam a mulher", ela perceberá o erro de estar odiando alguém do sexo feminino e efetuará a Meditação Shinsokan de reconciliação. Desse modo, ficará curada das dores articuladas do lado direito (ocorre isso com frequência).
A pessoa, então, perceberá que Deus não criara as dores que sentia nas articulações, e sim que eram produto da sua própria mente, portanto, que ela fora a responsável por esse estado físico, e não Deus. Vendo o fato de ter recuperado a saúde ao eliminar as nódoas da mente, despertará para a Verdade de que a sua Imagem Verdadeira criada por Deus é perfeita e maravilhosa.
Em suma, nesse caso, pregou-se a Verdade horizontal "O fenômeno é sombra da mente" para elucidar a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, originariamente perfeito e harmonioso". Por isso, a Seicho-No-Ie salva as pessoas pregando livremente ambas as Verdades, a vertical e a horizontal.
Pregar a Verdade de modo absolutamente livre
Entretanto, se reforçarmos muito a lei mental, a pessoa ficará presa à mente e fará com que se solidifiquem seus defeitos mentais, o que a impedirá de alcançar a libertação. Para evitar isso, pregamos a inexistência da mente. Essa mente que não existe não é a mente da Imagem Verdadeira e sim a mente em ilusão. É a mente inquieta, e não a mente serena e límpida.
Se ao ouvir sobre a inexistência da mente, a pessoa pensar que nenhuma mente existe, estará enganada. A mente inquieta como ondas do mar não é uma Realidade, sendo apenas um estado manifestado temporariamente quando está inquieta, ou quando se apega a essas ondas. Se a mente se tornar límpida e serena, manifestando a mente fundamental (mente da Imagem Verdadeira), a mente inquieta como ondas do mar retornará ao nada originário, comprovando sua inexistência. Usamos a palavra mente tanto para a mente inquieta quanto para a mente da Imagem Verdadeira, podendo gerar confusões. É preciso saber distingui-las.
A mente da frase "Não há mente para contemplá-la" refere-se à mente inquieta como ondas do mar (mente ilusória). Se contemplarmos com a mente límpida, serena e imparcial, não haverá mente ilusória. Contudo, a mente da frase "A mente tal qual é, é o próprio Buda", refere-se à mente da Imagem Verdadeira.
Quando a Ciência Cristã ou a New Thought se refere à mente da Imagem Verdadeira, usa a letra inicial maiúscula – Mind – e, quando se refere à mente ilusória humana ou ao pensamento, escreve-se false-mind ou simplesmente mind, com letras minúsculas.
Você escreveu que "Não é a mente humana que cura a doença. Apenas Deus a cura", mas essa expressão "Apenas Deus cura a doença", também é metafórica, não sendo verdadeira. Parece-me que você é adepto da Ciência Cristã, mas a sra. Eddy disse: "A doença não existe porque Deus não a criou". Como é que Deus poderá curar uma doença que não existe? Se ela não existe, não existe cura também. Isso está de acordo com o que consta na Sutra da Sabedoria: "Não existem velhice nem morte, logo, não há como eliminá-las". Não obstante, prega-se "Deus cura a doença", usando uma expressão metafórica.
Contudo, a expressão "A mente cura a doença" é mais racional e científica, visto que a recente Medicina Psicossomática também está comprovando que estados mentais de ira, ódio, de temor, etc., provocam doenças. O homem é fundamentalmente saudável, mas manifesta-se doente quando sua mente errada encobre a superfície da Imagem Verdadeira saudável, tal como as nuvens, e a esconde. A Imagem Verdadeira saudável existe sempre e é imutável, mas, quando a doença se manifesta, ocorre o mesmo que acontece com a lua cheia, que sempre existe redonda e iluminada, porém manifesta-se cheia de manchas quando há nuvens encobrindo-a. A lua nada faz para retirar essas nuvens. São as nuvens (mente sombria) que se afastam fazendo com que a brilhante lua cheia (a saúde originária) se manifeste. Portanto, seria mais racional dizer que a mente cria e cura a doença.
A sra. Eddy também disse que os erros mentais criam doenças e que as pessoas morrem tomando arsênico porque a mente da humanidade acredita que essa substância química tem poder de causar dano ao corpo humano, e essa crença se manifesta. Ela, portanto, não nega o poder da mente. Ao elucidar o desempenho da mente, está, ao contrário, comprovando a existência da Imagem Verdadeira eternamente perfeita no âmago da mente.
Os preletores devem se esforçar para eliminar as ilusões mentais das pessoas, pregando livremente ora a Verdade vertical, ora a Verdade horizontal. Assim, devem pregar de maneira diversa de acordo com a conveniência, e é incorreto uma terceira pessoa observá-los de lado e tecer críticas injustas a respeito deles.
Em que consiste basicamente a doutrina da Seicho-No-Ie? Ela é constituída de "Verdade horizontal" e "Verdade vertical". A "Verdade horizontal" é a de que o mundo fenomênico não é existência real, sendo mera projeção da mente e, portanto, nele podemos manifestar qualquer situação, seja prosperidade ou pobreza, saúde ou doença, felicidade ou desgraça, segundo nossa própria atitude mental. A "Verdade vertical" é a de que o ser humano é filho do Ser Supremo, sendo, portanto, dotado de Vida infinita, sabedoria infinita e todos os demais atributos do Pai, perfeição essa inerente à sua Imagem Verdadeira. Dito isso, agora esclarecerei algumas questões importantes em uma carta que recebi.
A questão da "inexistência da mente"
Li sua carta e me emocionei com a profundidade da sua fé. Segundo consta nessa carta, ultimamente os preletores da Seicho-No-Ie, que realizam palestras e orientações em diversos locais, não pregam muito a Verdade Vertical "O homem é originariamente filho de Deus, saudável, perfeito, sem doenças e infortúnios". Eles pregam que "Tal doença é projeção de tal estado mental" ou "Sem curar a mente, não adianta dizer que o homem é filho de Deus, pois não conseguirá curar-se de doença alguma", dando a entender que a mente humana cura a doença. Ouvindo esses preletores, reforçando apenas a Verdade horizontal, você diz que estão invertendo a ordem dos valores. E você próprio tem realizado inúmeras curas sem tocar na Verdade horizontal de cunho psicanalítico, dizendo categoricamente "O homem é filho de Deus, a doença não existe, o corpo carnal não existe, nem mesmo a mente existe. Se a mente não existe, não é preciso se preocupar com o que ela pensa. Não é preciso temer nada". Diz ainda que "A força que cura não está na mente do homem, pois só existe Deus e só Ele cura". Considero essas experiências realmente valiosas.
Na sutra Kan Fugen Bosatsu Gyoho consta "Não há mente para contemplá-la", referindo-se à inexistência da mente, e "O darma não está dentro do darma", referindo-se à Verdade de que "A matéria não existe como matéria". Significa que a imagem que aparece na tela do cinema (darma) não está dentro da imagem projetada na tela (darma), pois existe unicamente a Imagem Verdadeira.
O budismo prega com frequência a inexistência da mente e conta que o sacerdote budista Eka procurou certo dia o mestre Dharma e solicitou-lhe:
– Mestre, minha mente vive confusa, cheia de ilusões, e não consigo me livrar dessa situação. Por favor, retire essa ilusão da minha mente.
– Traga aqui essa mente cheia de ilusões que eu lhe retirarei as ilusões – respondeu o mestre Dharma.
Eka foi em busca dessa mente iludida, mas, não a encontrando em parte alguma, disse ao mestre:
– Fui buscá-la, mas não a encontrei.
Então, disse Dharma:
– Eu já o tranquilizei.
Ele quis dizer com isso que não adianta procurar a mente iludida que ninguém a encontrará, pois ela não existe. Se alguém fica confuso é porque pensa que ela existe e fica apegado a essa mente. Ao conscientizar que a mente em ilusão não existe e desligar-se dela, desaparecerão todos os sofrimentos.
Como vemos, o budismo também prega a inexistência da mente e parece-nos que a explicação acima nos convence disso, mas, pensando mais profundamente, ainda não compreendemos o fato se a mente existe ou não.
Ao aprenderem "Conscientize que a mente confusa não existe e desligue-se dela que todos os sofrimentos e angústias desaparecerão", muitas pessoas deixaram de se agarrar à mente que sofre e conseguiram sentir paz espiritual, com o que desapareceram os sofrimentos e as doenças.
Contudo, o que é que admite a inexistência da "mente que sofre" e se desliga dela? "Admitir" ou "se desligar" é uma ação da mente. É a mente que admite e se desliga. Então, não é que a mente inexista – ela existe e é ela que admite.
Conclui-se com isso que, ao se manifestar a mente que sofre, existe uma mente que se desliga dela admitindo que a mente que sofre não existe. Ao saber que essa "mente que se desliga" também não existe, a pessoa se sentirá totalmente liberta e esclarecida? Irá concluir, certamente, que saber ou admitir também são questões da mente e, portanto, terá de admitir que também essa mente não existe e, por mais que repita esse raciocínio/processo, ficará dando voltas eternamente no mesmo ponto.
É suficiente conhecer apenas a Verdade vertical?
Interrompendo a explicação acima, vamos ponderar sobre as suas experiências de curar muitas pessoas enfermas dizendo-lhes categoricamente que "O homem é filho de Deus. A doença não existe, o corpo carnal também não existe, nem mesmo a mente existe. Se a mente não existe, não é preciso se preocupar com o que ela pensa. Não é preciso temer nada".
Já que ocorre isso, você afirma que não há necessidade de ensinar a lei mental, nem explicar com detalhes a Verdade horizontal dizendo "Se não mudar a mente, não conseguirá curar sua doença", bastando que transmitam a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, e a doença não existe", pois, não existindo, ela desaparece. Com razão, para determinadas pessoas, é suficiente falar da Verdade vertical "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".
Na Academia de Treinamento Espiritual de Tobitakyu, pertencente à Sede Internacional da Seicho-No-Ie, têm ocorrido inúmeras curas de viciados em Philopon (uma espécie de estimulante) e de diversos outros vícios, pregando somente a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".
Se ficarmos explicando às pessoas o modo de corrigir a mente, dizendo "Corrijam essa mentalidade errada", elas se apegarão mentalmente a esses defeitos da mente e, apegando-se a esses defeitos, eles se solidificarão e não desaparecerão. Ou, então, as pessoas passarão a sentir revolta contra o orientador que diz para se corrigirem e aumentarão mais ainda os defeitos da mente. Por essa razão, quando a pessoa ouve "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso", deixa de se apegar à mente errada e volta seu pensamento para a Imagem Verdadeira maravilhosa e perfeita. Desse modo, a mente errada que causa vícios e doenças desaparece por completo, sendo natural que ocorra a cura de viciados em Philopon, como também o desaparecimento de diversos vícios e inúmeras doenças pregando apenas a Verdade vertical "o homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".
Salvação pela própria força e salvação pela força alheia
Não significa, porém, que não haja necessidade de pregar sobre a lei mental. Se o nosso objetivo fosse apenas salvar certos doentes e viciados, muita vezes seria suficiente pregar a Verdade vertical "Homem, filho de Deus, perfeito", mas é importante que as pessoas empenhem seus esforços em limpar as nódoas de suas mentes, refletindo sobre suas condutas.
Há duas maneiras de limpar as nódoas da mente: desligar-se da mente ou observá-la fixamente e esforçar-se para eliminar os defeitos mentais. Essa é uma questão que os budistas vieram debatendo desde a Antiguidade, e os que defendem a salvação pela força alheia entregam-se totalmente à força de Amida (Imagem Verdadeira), não dando maior importância à reflexão e ao esforço próprio. Em consequência, usavam o método de "desligar a mente da mente" a fim de "eliminar todos os sofrimentos e infortúnios" (nascer na Terra Pura). Entretanto, no Shodomon (salvação pela própria força) davam maior importância à reflexão, ao esforço, ao disciplinamento pessoal.
Contudo, na seita zen-budista, pertencente ao Shodomon, era uma questão de grande importância saber escolher entre esforçar-se para limpar as nódoas da mente fazendo uma reflexão, ou voltar a mente para a Imagem Verdadeira originalmente pura e limpa. Portanto, é absolutamente natural que haja preletores da Seicho-No-Ie que se dedicam à salvação dos semelhantes dando maior importância à aplicação da lei mental, enquanto outros enaltecem a Imagem Verdadeira originalmente pura e limpa do homem.
No preceito nº 23 do livro Mumonkan, escritura mais importante da seita zen-budista, consta o koan (questão para meditação no zen budismo): "Não pense no bem nem no mal". O quinto patriarca Hung Jen, já idoso, reuniu seus discípulos e pediu: "Componham uma estrofe relacionada ao despertar espiritual que cada um atingiu. Certamente o autor da melhor obra será o meu sucessor". Shen Hsiu, o primeiro entre seus discípulos, compôs uma estrofe que dizia:
O corpo é a árvore Bodhi,
a mente é como um espelho polido.
Deves ter o cuidado de limpá-lo constantemente,
não permitindo que um único grão de pó
possa manchá-lo.
Hui Neng compôs os seguintes versos e os apresentou:
Em princípio Bodhi não é uma árvore,
o espelho limpo não está em parte alguma.
Fundamentalmente, nada existe:
Onde está, então, o grão de pó?
A primeira composição se refere à lei mental (Verdade horizontal) e significa que a mente deve ser mantida sempre pura e limpa através de reflexões e esforços. Equivale aos preletores da Seicho-No-Ie que pregam a Verdade horizontal dizendo: "De nada adianta afirmar que o homem é filho de Deus, como se já tivesse alcançado a iluminação, se não mudar a mente. É primordial que cada um reflita sobre sua postura mental e mantenha a mente sempre correta e limpa".
Entratanto, Hui Neng compôs uma estrofe que significa "O homem é filho de Deus, e não existem fundamentalmente o corpo carnal, a matéria nem a mente. Então, que necessidade teremos de nos esforçar para limpar os grãos de pó?". Equivale aos preletores da Seicho-No-Ie que pregam a Verdade vertical de que só Deus é o princípio de tudo, nada existindo além d'Ele. Não se pode definir qual dessas Verdades é superior, pois, quanto à profundidade sobre a Imagem Verdadeira, é a Verdade vertical, mas quanto à explicação ampla que faz do fenômeno, é a Verdade horizontal.
A comunhão entre a força própria e a força alheia
Hung Jen, em primeira instância, considerou Hui Neng pessoa apropriada para ser o sexto patriarca. Hui Neng fundou a Escola do Sul, mas Shen Hsiu foi um insigne mestre zen que foi venerado como mestre fundador da Escola do Norte e o erudito sacerdote de Jiang Ling Toyosan.
A Seicho-No-Ie prega ambas as Verdades, a vertical e a horizontal, adequando-as a cada pessoa. Quanto à opção de dar maior importância a uma dessas Verdades, depende do temperamento do preletor, mas, conforme a pessoa, orienta-se reforçando a Verdade vertical homem-filho-de-Deus e, em outras vezes, orienta-se pregando a Verdade horizontal a fim de induzi-la à reflexão mental.
O missivista critica o fato de os preletores da Seicho-No-Ie pregarem dando maior importância à lei mental, mas há ocasiões em que a explicação sobre a lei mental, que é a Verdade horizontal, faz com que os ouvintes compreendam melhor a Verdade vertical "O homem é originalmente filho de Deus, perfeito e harmonioso".
Por exemplo, ao orientar uma pessoa que tem doenças manifestadas em seu corpo, o preletor lhe diz: "O homem é filho de Deus, Deus é absolutamente perfeito, é Amor infinito, Sabedoria infinita, Força infinita e não criou algo imperfeito como a doença. Portanto, a doença não existe". Mas, que fará ele se a pessoa retrucar "A doença existe aqui em meu corpo. Isso comprova que a doença existe e que Deus perfeito não existe"? Se, nesse caso, não lhe explicar sobre a lei mental, não conseguirá esclarecer por que a doença se manifestou como se existisse de fato, e desencadearia uma discussão interminável sobre a existência ou não de um Deus perfeito.
No entanto, fazendo com que a pessoa reflita dizendo-lhe, por exemplo, que "Não foi um Deus imperfeito que criou a doença. Foi sua mente que se iludiu e criou a doença. A medicina Psicossomática atual comprova isso. Quando a mente fica irada e sente ódio, ocorre uma secreção anormal de hormônios pela hipófise e pelo córtex adrenal, desequilibrando as funções fisiológicas do organismo, o que ocasiona a doença. Não estaria você odiando alguma pessoa do sexo feminino? As articulações do lado direito representam a mulher", ela perceberá o erro de estar odiando alguém do sexo feminino e efetuará a Meditação Shinsokan de reconciliação. Desse modo, ficará curada das dores articuladas do lado direito (ocorre isso com frequência).
A pessoa, então, perceberá que Deus não criara as dores que sentia nas articulações, e sim que eram produto da sua própria mente, portanto, que ela fora a responsável por esse estado físico, e não Deus. Vendo o fato de ter recuperado a saúde ao eliminar as nódoas da mente, despertará para a Verdade de que a sua Imagem Verdadeira criada por Deus é perfeita e maravilhosa.
Em suma, nesse caso, pregou-se a Verdade horizontal "O fenômeno é sombra da mente" para elucidar a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, originariamente perfeito e harmonioso". Por isso, a Seicho-No-Ie salva as pessoas pregando livremente ambas as Verdades, a vertical e a horizontal.
Pregar a Verdade de modo absolutamente livre
Entretanto, se reforçarmos muito a lei mental, a pessoa ficará presa à mente e fará com que se solidifiquem seus defeitos mentais, o que a impedirá de alcançar a libertação. Para evitar isso, pregamos a inexistência da mente. Essa mente que não existe não é a mente da Imagem Verdadeira e sim a mente em ilusão. É a mente inquieta, e não a mente serena e límpida.
Se ao ouvir sobre a inexistência da mente, a pessoa pensar que nenhuma mente existe, estará enganada. A mente inquieta como ondas do mar não é uma Realidade, sendo apenas um estado manifestado temporariamente quando está inquieta, ou quando se apega a essas ondas. Se a mente se tornar límpida e serena, manifestando a mente fundamental (mente da Imagem Verdadeira), a mente inquieta como ondas do mar retornará ao nada originário, comprovando sua inexistência. Usamos a palavra mente tanto para a mente inquieta quanto para a mente da Imagem Verdadeira, podendo gerar confusões. É preciso saber distingui-las.
A mente da frase "Não há mente para contemplá-la" refere-se à mente inquieta como ondas do mar (mente ilusória). Se contemplarmos com a mente límpida, serena e imparcial, não haverá mente ilusória. Contudo, a mente da frase "A mente tal qual é, é o próprio Buda", refere-se à mente da Imagem Verdadeira.
Quando a Ciência Cristã ou a New Thought se refere à mente da Imagem Verdadeira, usa a letra inicial maiúscula – Mind – e, quando se refere à mente ilusória humana ou ao pensamento, escreve-se false-mind ou simplesmente mind, com letras minúsculas.
Você escreveu que "Não é a mente humana que cura a doença. Apenas Deus a cura", mas essa expressão "Apenas Deus cura a doença", também é metafórica, não sendo verdadeira. Parece-me que você é adepto da Ciência Cristã, mas a sra. Eddy disse: "A doença não existe porque Deus não a criou". Como é que Deus poderá curar uma doença que não existe? Se ela não existe, não existe cura também. Isso está de acordo com o que consta na Sutra da Sabedoria: "Não existem velhice nem morte, logo, não há como eliminá-las". Não obstante, prega-se "Deus cura a doença", usando uma expressão metafórica.
Contudo, a expressão "A mente cura a doença" é mais racional e científica, visto que a recente Medicina Psicossomática também está comprovando que estados mentais de ira, ódio, de temor, etc., provocam doenças. O homem é fundamentalmente saudável, mas manifesta-se doente quando sua mente errada encobre a superfície da Imagem Verdadeira saudável, tal como as nuvens, e a esconde. A Imagem Verdadeira saudável existe sempre e é imutável, mas, quando a doença se manifesta, ocorre o mesmo que acontece com a lua cheia, que sempre existe redonda e iluminada, porém manifesta-se cheia de manchas quando há nuvens encobrindo-a. A lua nada faz para retirar essas nuvens. São as nuvens (mente sombria) que se afastam fazendo com que a brilhante lua cheia (a saúde originária) se manifeste. Portanto, seria mais racional dizer que a mente cria e cura a doença.
A sra. Eddy também disse que os erros mentais criam doenças e que as pessoas morrem tomando arsênico porque a mente da humanidade acredita que essa substância química tem poder de causar dano ao corpo humano, e essa crença se manifesta. Ela, portanto, não nega o poder da mente. Ao elucidar o desempenho da mente, está, ao contrário, comprovando a existência da Imagem Verdadeira eternamente perfeita no âmago da mente.
Os preletores devem se esforçar para eliminar as ilusões mentais das pessoas, pregando livremente ora a Verdade vertical, ora a Verdade horizontal. Assim, devem pregar de maneira diversa de acordo com a conveniência, e é incorreto uma terceira pessoa observá-los de lado e tecer críticas injustas a respeito deles.
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