quinta-feira, março 29, 2018

Entregue-se ao que é

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- OSHO -


Três sutras básicos para a transformação da vida, que, de certa forma, são supremos. O primeiro: "Seja não-ambicioso."

Destrua totalmente a ambição.

A menos que a ambição seja destruída, você permanecerá na miséria. A ambição é a fonte de todas as misérias. O que é ambição? “A” quer ser “B”, o pobre quer ser rico, o feio quer ser lindo. Todo mundo ambiciona ser algo mais, algo diferente daquilo que é. Ninguém está contente consigo mesmo. Isso é ambição.

Você nunca está contente com aquilo que você é, seja o que for. Isso é ambição. Então você permanecerá irremediavelmente miserável, porque você não pode ser outra coisa. Você só pode ser você mesmo; nada mais é possível. Tudo o mais é fútil, prejudicial, perigoso. Você pode desperdiçar sua vida inteira, toda a sua existência.

Aquilo que você é, seja o que for, é você. Aceite-o; não deseje ser diferente. A não-ambição significa isso. A ausência de ambição é fundamental a toda transformação espiritual, pois quando você se aceita, muitas coisas começam a acontecer. Mas a primeira coisa... se você se aceitar totalmente, a primeira coisa que lhe acontecerá será uma vida não-tensa. Não haverá tensão. Você não deseja ser algo mais; não há nenhum lugar para ir. Então você pode estar aqui e agora. Não há comparação. Você próprio é único. Não pensa mais em termos de outros.

Então não há mais futuro. A ambição precisa de futuro, precisa de espaço para crescer. Ela não pode crescer aqui e agora; não há espaço. Este momento é tão pequeno, tão atômico. A ambição precisa do futuro; quanto maior a ambição, maior o futuro de que se necessita.

Se sua ambição for tão grande a ponto de não poder ser satisfeita nesta vida, então você criará uma vida após a morte. Criará o céu, criará moksha, criará a idéia de renascimento. Não quero dizer que o renascimento não exista. Estou dizendo que você acredita no renascimento, não porque ele exista, mas devido a suas ambições serem tão grandes que não podem ser satisfeitas numa única vida. Sua crença no renascimento, na reencarnação, não deriva de que isso seja um fato. Deriva de sua ambição e desejo. A reencarnação pode ser um fato, mas, para você, não passa de uma ficção. Para você é apenas uma questão de futuro, de mais espaço para se mover.

Lembre-se: você não pode ser ambicioso no momento presente. É impossível. Não há espaço. O momento presente é tão atômico, tão pequeno, que você não pode se mover nele. Você pode estar nele, mas não pode desejar. Ele é suficientemente amplo para o ser, mas não o é para o desejo. Para desejar, você precisa do futuro, do tempo. Na verdade, o tempo existe por causa do desejo. Para estas árvores, não há tempo. Para estes pássaros que cantam, não há tempo. Para as estrelas, para o Sol e para a Terra, não há tempo. O tempo existe por causa do desejo humano. Se a humanidade não estivesse na Terra, não haveria tempo; não haveria passado nem futuro.

Seu desejo cria o futuro. Sua memória cria o passado. Ambos são partes de sua mente. Não deseje, e o futuro desaparecerá. E quando não há futuro, como você pode ficar tenso? Como? Não há possibilidade de se ficar tenso se não há futuro. E se não há passado – se você sabe que o passado é apenas a memória, a poeira acumulada durante o caminho – como pode haver qualquer ansiedade? Com o passado vem a ansiedade. Com o futuro – planos, imaginações, projeções – surge a tensão. Quando o passado desaparece e o futuro não está aberto, você está aqui, agora. Nenhuma ansiedade, nenhuma tensão, nenhuma angústia.

A não-ambição significa aceitar-se tal como você é. Mas isso não quer dizer que não haja possibilidade de crescimento. Ao contrário. Quando você se aceita tal como é, a transformação se inicia. Você começa a crescer, mas em outra dimensão. Então a dimensão não está no futuro, mas no eterno.

Conheça bem essa distinção. Você pode se mover de dois modos. Se você se move no futuro, está se movendo na mente; num mundo de ficção, de sonho. Se você não se move no futuro, então uma dimensão diferente se abre para você a partir desse exato momento. Você está se movendo no eterno. O eterno oculta-se no momento. Se você puder estar aqui, agora mesmo, no momento, você penetrou no eterno. Se continua pensando no futuro e no passado, está vivendo no temporal. O temporal é o mundo, o eterno é o nirvana.

Conta-se que Buda repetia frequentemente que, se você puder permanecer no agora, não há necessidade de qualquer técnica de meditação. Isso é suficiente. Não é necessário mais nada. Mas como você poderá permanecer no agora se for ambicioso?

A mente ambiciosa não pode estar no agora. Pode estar em qualquer outra parte, mas não pode estar no agora. A mente ambiciosa sempre se move para longe do presente. Ela pensa no que está por vir; pensa no amanhã. Pensa numa vida após a morte; não se interessa pela vida que está aqui. Interessa-se por algo que poderia ser. Não se interessa pelo que é; está sempre interessada pelo que deveria ser, pelo que poderia ser. Esse interesse é não-religioso. Uma mente religiosa, uma consciência religiosa, interessa-se pela existência tal como ela é. O primeiro sutra é: Destrua totalmente a ambição para que você possa penetrar no eterno.

"Destrua o desejo pela vida" - o segundo sutra.

Destrua o desejo pela vida. As leis da vida são muito paradoxais. Se você desejar a vida, a perderá. Esse é o caminho mais seguro para perdê-la. Se você desejar a vida, a perderá; mas se você não a desejar, vida abundante acontecerá a você.

Através do desejo você se move contra a vida. Parece paradoxal, e é. Essa lei paradoxal precisa ser profundamente entendida.

Por que é que quando você deseja a vida, você a perde? Por quê? Não deveria ser assim. Logicamente, matematicamente, não deveria ser assim. Se alguém deseja a vida, por que a perderia? O mecanismo é tal que, ao desejar, você se moveu novamente para o futuro. E a vida está aqui! A vida já existe – como você pode desejá-la? Apenas aquilo que não existe pode ser desejado. Mas a vida é. Como você pode desejá-la? Ela já é; já está acontecendo. Você é vida.

Se você desejar a vida, a perderá. Através do desejo, você se distancia da vida. Todo desejo a leva cada vez mais longe. Por isso há tanta insistência na ausência de desejo. Isso não significa que Buda ou todos aqueles que falam sobre a ausência de desejo estejam contra a vida. Ao contrário, eles são, de fato, a favor da vida. Mas dizem: “Não deseje” – e isso nos soa como se eles fossem contra a vida, como se fossem negadores da vida. Eles não o são.

Através do desejo, estamos perdendo a vida. É por isso que Buda diz: “Não deseje.” Que acontece se você não deseja? A vida acontece a você. Ela já está acontecendo, mas você não pode olhar para ela porque seus olhos estão fixados no futuro. Você está em outro lugar; sua mente não está aqui. A vida está aqui e você não está aqui; portanto, o encontro torna-se impossível. Então, você ansiará pela vida, a desejará, mas continuará a perdê-la.

Permita que a vida aconteça a você. Como isso pode ser feito? Estando atento ao que se passa aqui. Não tendo desejos de estar em outro lugar.

No momento em que você começa a desejar a vida, torna-se temeroso da morte. Isso é inevitável, porque o desejo pela vida cria o medo da morte. Não existe nenhuma morte. Na verdade, nada morre; nada pode morrer. É impossível. A morte nunca acontece; a morte não existe. Então por que sentimos tanto a morte e a tememos tanto? Por que tememos algo que não existe?

Tememos a morte devido ao nosso desejo pela vida. O desejo pela vida cria um medo pelo oposto: o medo da morte. Não conhecemos a vida, mas a desejamos. Então surge o medo de que a vida seja destruída.

Vemos a morte acontecendo... alguém morre. Você já reparou no fato de que é sempre outra pessoa que morre, nunca você? É sempre outra pessoa. Você vê a morte do lado de fora; nunca a vê do lado de dentro. Você vê alguém morrendo, mas não sabe o que está acontecendo no fundo do seu ser. Sabe apenas o que está acontecendo na periferia. A periferia está morta; não está mais viva, a pessoa não pode mais respirar. Mas o que aconteceu no âmago da pessoa, no próprio ser, no centro? Você não sabe.

Ninguém testemunhou a morte. E isso não é possível, pois há apenas um modo de testemunhá-la: você precisa se mover até o íntimo de seu ser, e aí testemunhá-la. Mas aí a morte nunca acontece. É por isso que um Buda, um Krishna, riem da morte.

Krishna diz a Arjuna no Gitã: “Não receie. Não pense que alguém morrerá.” Ninguém morre; você não pode matar ninguém. É impossível. Neste mundo, nada pode ser destruído, nem mesmo um microorganismo pode ser destruído. A destruição não é possível. Só a mudança é possível.

A vida continua a se mover. Uma onda morre (parece morrer) e então uma outra se levanta. Só as formas desaparecem e novas formas aparecem, mas nada morre e nada nasce.

Se nada morre, então nada nasce, pois a morte só é possível se algo nasce. Nascimento e morte são duas ilusões. Você existiu antes do seu nascimento - de outro modo o nascimento não teria sido possível - e você existirá após a sua morte - caso contrário, não lhe seria possível estar aqui e agora. Mas o desejo de se apegar à vida cria o medo da morte.

Se você parar de desejar a vida, o medo da morte desaparecerá imediatamente. E quando o medo da morte desaparece, você pode saber o que é a vida. Uma mente trêmula, com medo e angústia, não pode saber. O saber requer uma consciência calma e destemida.

O desejo pela vida significa medo da morte. O sutra diz: Destrua o desejo pela vida, para que o medo da morte desapareça. E quando não houver morte, nem nenhum apego à vida, você saberá o que é a vida, pois ela está acontecendo a você. Você é a vida! A vida não é algo extrínseco; é algo intrínseco. Já está acontecendo. Você está respirando nela. Você é exatamente como um peixe no oceano da vida, mas não está consciente disso porque sua atenção está obcecada pelo futuro. Desejo significa obsessão pelo futuro. Não-desejo significa viver aqui e agora.

E o terceiro sutra: "Destrua o desejo de conforto, O desejo de felicidade. Destrua-o."

Isso parece muito melancólico, triste, negativo. Não é. Quanto mais você desejar conforto, mais desconforto estará criando para si mesmo, porque o desconforto é proporcional ao desejo de conforto.

Quanto mais você procurar felicidade, tanto mais sofrerá. O sofrimento é uma sombra. Quanto maior o desejo de felicidade, maior será a sua sombra. Procure a felicidade e você nunca a obterá. Somente sentirá frustração. Por que? Porque há apenas um modo de ser feliz, que é ser feliz aqui, agora. A felicidade não é um resultado. É um modo de vida.

A felicidade não é o resultado final do desejo. É uma atitude, não um desejo. Você pode ser feliz aqui e agora se souber como ser feliz, mas você nunca será feliz se não souber como ser feliz e continuar desejando a ser feliz. A felicidade é uma arte. É um modo de vida.

Neste exato momento, se você puder permanecer calado e consciente da vida ao seu redor e no seu interior, você será feliz. Os pássaros estão cantando, o vento está soprando. As árvores estão felizes, o céu está feliz, todas as coisas existentes estão felizes, exceto você. A existência é felicidade, é uma celebração eterna, uma festividade. Olhe para a existência! Cada árvore está em festa, cada pássaro está em festa. Exceto o homem, tudo está em festa. Toda a existência é um festival, um constante e contínuo festival. Nenhuma tristeza, nenhuma morte, nenhuma miséria existe em lugar nenhum, a não ser na mente humana. Algo está errado com a mente humana, não com a existência. Algo está errado com você, não com a situação.

Por que o homem é infeliz? Nenhum animal é tão infeliz, nenhum pássaro é tão infeliz, nenhum peixe é tão infeliz quanto o homem. Por que o homem é tão infeliz? Porque o homem deseja a felicidade, mas os pássaros estão felizes neste exato momento; as árvores estão felizes neste exato momento. O homem deseja a felicidade; ele nunca está feliz aqui e agora. Ele sempre deseja a felicidade e continua a perdê-la. A felicidade está aqui. Ela está acontecendo ao seu redor. Permita que ela entre em você.

Faça parte da existência. Não se mova para o futuro. A existência nunca se move para o futuro; apenas a mente se move.

É a isso que chamo meditação: estar aqui, sem se mover para o futuro. Não seja ambicioso, destrua todo desejo pela vida, não deseje a felicidade, e então você será feliz e ninguém poderá destruir a sua felicidade. Ser-lhe-á impossível ser infeliz. Então você será imortal e a vida eterna terá acontecido. Na verdade, ela já aconteceu, mas você não está consciente dela. Então você estará realizado. Sem ambição, você estará realizado.

Você é único. Tudo, toda experiência máxima que é possível a alguém também é possível a você; mas acontecerá de um modo único. Aconteceu a Buda, a Jesus, a Zaratustra, e acontecerá a você também. Mas nunca acontece do mesmo modo. Não acontecerá a você do mesmo modo que aconteceu a Buda. Não lhe acontecerá assim como aconteceu a Jesus. Acontecerá a você de um modo único, individual. Quando acontecer a você, será absolutamente nova. A essência da experiência será a mesma - a mesma bem-aventurança, o mesmo silêncio, a mesma iluminação - mas na periferia tudo será diferente.

Portanto, não imite ninguém. Isso faz parte da ambição. Não imite Buda, não imite Jesus. Tente ser você mesmo. Ou melhor: seja você mesmo, pois tentar ainda é fútil. Quando você é você mesmo, está aberto a todas as responsabilidades. Quando você é você mesmo, toda a existência começa a ajudá-lo. Você não briga com ela.

Quando você não está em luta... É isso o que significa confiar. Quando você não está em luta, a existência acontece a você. Se você está lutando com a existência, está simplesmente se destruindo, destruindo suas possibilidades, sua energia, sua vida, sua existência. Não lute! Entregue-se à existência. Aceite a si mesmo, do modo que o todo quer que você seja; não tente ser outra coisa, e a iluminação pode acontecer a qualquer momento. Pode acontecer neste exato momento; não é preciso esperar.


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segunda-feira, março 26, 2018

A Nascente e o Pântano

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- Omraam Mikhael Aivanhov - 


Escutai uma nascentezinha. Ela diz-nos: "Sede semelhantes a mim, sede vivos, jorrantes, senão tornar-vos-eis semelhantes aos pântanos." Sim, há que ouvi-la, porque, se a vossa nascente interior secar, produzir-se-ão em vós fermentações. E, quando há fermentações, já sabeis o que se passa: começam a pulular os mosquitos, as moscas, toda a espécie de animalejos; mesmo que tenteis acabar com eles, nada conseguireis, pois eles não param de se reproduzir. A única solução é secar o pântano e deixar correr a nascente, porque onde corre uma nascente não há putrefações, tudo é vivo e puro. 

Já vos falei muitas vezes da nascente e não somente da pequena nascente das montanhas, mas dessa nascente muito mais poderosa, a nascente única: o sol. Infelizmente, quando se observa os humanos, percebe- se, em função dos seus raciocínios e das suas atitudes, que eles nunca se preocuparam com a nascente, com o ponto que vibra, que brota, que projeta. Eles dirão: "Mas o que é que pode trazer-nos o facto de nos determos nessa imagem da nascente?" Coitados! Talvez sejam eruditos, mas não viram o essencial. Não viram que toda a orientação da sua existência e dos seus atos depende exclusivamente da imagem que colocaram na sua cabeça. Eles escolheram imagens vivas, jorrantes, como a nascente, como a fonte, como o sol, ou imagens mortas como o pântano? Tudo reside nisto. Em função das observações que faço diariamente, como a nascente, eu descubro que tudo depende da escolha que o homem faz, do ponto de vista simbólico, entre a nascente e o pântano; esta escolha revela a sua compreensão da vida. 

Ouve-se muitas vezes as pessoas queixarem-se de que tudo lhes corre mal. E por que é que tudo lhes corre mal? Porque elas não entenderam que no seu intelecto, na sua alma, deveriam ter colocado em primeiro lugar o que existe de mais puro e de mais divino – a nascente –, para que esta nascente, ao correr, purifique tudo neles e faça crescer todas as suas sementes divinas. Nos seus pensamentos e nos seus desejos não se sente esta preocupação essencial com um centro, uma nascente, um sol, um espírito, um amor. Elas detiveram-se em coisinhas insignificantes e não conseguem compreender, não querem compreender. Chafurdam continuamente em águas estagnadas e poluídas onde se agita toda a espécie de animalejos e até zombam da filosofia dos Iniciados, que insistem sempre na importância mágica da ligação à nascente, à fonte. Como podem elas estar convencidas de que o que está a apodrecer, a criar bolor, a desagregar-se, vai ajudá-las? 

Há quem não compreenda por que é que nós vamos ver o sol nascer... É simbólico. É para conseguirmos perceber que em todos os domínios da vida devemos ligar-nos ao sol, quer dizer, à fonte. Mas tentai convencer todas essas pessoas inteligentes a ir ver o nascer do sol! Elas dirigem sempre a sua atenção para o que está morto, estagnado, poluído, e depois, quando lhes acontecem infelicidades, perguntam porquê. É porque nelas têm impurezas, porque não tomaram a nascente como modelo!

Eu pergunto a alguém: "Já viu uma nascente? Pode dizer-me o que se passa junto de uma nascente?". "Claro que sim!", responde a pessoa. Mas, na realidade, ela não observou bem... Por isso, eu faço perguntas: 

– "Então, o que há à volta da nascente?" 
– "Plantas, vegetação."
– "E o quê mais?"
– "Insetos, aves, animais." 
– "E além disso?" 
– "Também há homens que vieram instalar-se."
– "Muito bem. E já reparou no que se passa quando a nascente seca?"
– "A erva desaparece imediatamente, depois os animais, depois os homens. As árvores são o que resiste mais tempo."
– "Compreendeu realmente tudo isto?"
– "Claro que sim, é muito simples."
– "Então, por que é que deixou secar a sua nascente?". 

E a pessoa diz: 

– "Qual nascente? Não compreendo..." 

Como vedes, a pessoa não compreende. As pessoas creem sempre que compreendem, mas isso só acontece aparentemente. Então, eu digo: 

– "Estou a falar da nascente que jorra no seu interior. Por que a deixou secar?".

– "Qual nascente? Eu não deixei secar nascente nenhuma.".

– "Sim, deixou secar a sua nascente: já não tem amor. Alguém o ofendeu, lesou, roubou ou enganou um pouco e você disse: 'Acabou-se! Não voltarei a ser generoso, bom, caridoso, não vale a pena, os homens não merecem.' E agora a sua nascente já não corre. Evidentemente, já ninguém o enganará ou o lesará e você julga ter ganho alguma coisa, mas, na realidade, perdeu tudo. Deveria ter continuado a deixar-se enganar, se necessário, o importante era que a nascente nunca secasse! Alguém o ofendeu, o roubou, mas isso não é nada comparado com a bênção que é ter em si uma nascente que corre, pois ela traz-lhe tudo, limpa tudo, restabelece tudo."

Os humanos têm necessidade desta filosofia, a mais maravilhosa, a mais verídica: a filosofia da nascente. Com a desculpa de que sofreu uma pequena injustiça, uma pessoa decide já não ter amor por quem quer que seja – então, acabou-se! –, ela fica morta. E um morto, o que é que ganhou? É formidável a maneira como os humanos raciocinam! E é junto deles que eu deverei ir instruir-me? O que é que aprenderei? Irei, isto sim, pra junto de uma nascente, ficarei horas inteiras a escutá-la, a olhar para ela, a tocar-lhe, a falar com ela, e em seguida pensarei nessa outra fonte – o sol –, e em todas as nascentes do universo, até à única verdadeira nascente, que é o próprio Deus, irei ligar-me a Ele para compreender finalmente o essencial. Perguntareis: "Mas o que é que se pode compreender junto de uma nascente?"... Tudo! 

Meditai longamente nesta imagem da nascente a fim de baseardes a vossa vida nessa única nascente que é Deus e cujo representante mais perfeito para a terra é o sol. Deveis trabalhar diariamente sobre esta imagem, imitar esta nascente, o sol, a fim de dardes de beber a todas as criaturas, a fim de as aquecerdes, de as vivificardes, de as ressuscitardes. Direis: "Mas isso é impossível, é irrealizável...".

Até é estúpido! Se pensais assim, é porque não percebestes nada. O importante não é que o vosso ideal seja realizável, o importante é que, ao fazerdes este trabalho interior, é em vós que começais por produzir grandes transformações. O sol é imenso, não se pode ser tão grande e poderoso como ele; mas no seu domínio, à sua escala, o homem também pode tornar-se um sol. 

Em vez de reter sempre, de ser como uma cova, como um abismo, como um pântano, e de introduzir a desagregação em tudo, ele pode dar, purificar, vivificar. Na realidade este ideal é realizável, mas é necessário pelo menos querer estudar, experimentar e verificar que ele é realizável. Infelizmente, quanto mais eu ando pelo mundo, mais constato que os humanos não compreenderam o aspecto mágico da nascente, a força da nascente, a ciência extraordinária que ela representa. Se tivessem compreendido, eles saberiam sempre fazer sair de si próprios algo puro, algo vivo. Mas estão sempre sombrios, baços, fechados, crispados. Só pensam em resolver os seus assuntos com os meios e os métodos do pântano... Mas o pântano nada pode resolver! Só é bom para prolongar a vida dos girinos e de todos os animalejos que se agitam na sua água. 

Nesta água que nunca se renova, os pobres habitantes do pântano são obrigados a respirar e a absorver todos os dejetos uns dos outros. É o que, infelizmente, se passa com os humanos. Uma grande cidade, e até o mundo, não são outra coisa senão um pântano. Todos os humanos que aí se movimentam são obrigados a absorver os excrementos uns dos outros. Os que sabem como de lá sair aspiram de vez em quando um trago de pureza, mas os outros deixam-se intoxicar, sufocar, envenenar. A atmosfera de uma cidade é um pântano, e se fôsseis clarividentes veríeis como os humanos enviam sujidades uns aos outros, se comem entre eles e não sabem como de lá sair, mesmo por alguns minutos. E depois riem-se da nossa filosofia solar!... Pois bem, tanto pior para eles. Que fiquem no seu pântano! Que quereis que vos diga? Um dia eles serão obrigados a compreender. 

E que conclusão se pode tirar do que eu vos disse? Que todos os mal-entendidos, todas as infelicidades, todos os sofrimentos, advêm do facto de o homem não estar ligado ao Céu, à nascente; ou, quando está, é apenas por dois ou três minutos; em seguida, tudo é cortado e ele fica de novo ligado ao pântano. Eu não quero ofender-vos; estou falando em geral. Mas é verdade: em vez de estarem ligados à nascente que purifica, que cura, que ilumina, a maior parte dos humanos ligam-se ao pântano (que pode ser, aliás, um homem, uma mulher ou um grupo de pessoas) e é aí que bebem. Eles preferem este pântano à nascente porque têm medo da opinião do pântano! Que dirão os girinos que nele se agitam? Se estes se pronunciassem negativamente a seu respeito, que seria deles?

Talvez estejais pouco ofendidos com palavras. Mas, quereis? Eu não estou aqui para agradar, sou obrigado dizer-vos verdade. Sei bem que não é agradável ouvir semelhantes coisas. Hoje estais aborrecidos com minhas palavras; mas se eu nada disser, seguireis adiante na mesmice de suas vidas e um dia estareis duas, três, cem vezes mais aborrecidos com a realidade. Se vos mantiverdes na ignorância, tristezas esperar-vos-ão por todo o lado, ao passo que, avisados, se fordes esclarecidos, pelo menos podereis escapar pelas escadas de serviço e os vossos inimigos voltarão as costas sem ter conseguido nada. 

Refleti, pois, nestas duas imagens: a nascente e o pântano. Quando tendes finalmente o desejo de amar, de fazer sacrifícios, de ajudar os outros e de dar em vez de tirar, é porque a nascente já corre. E, uma vez que ela corre, as flores e as árvores crescem, os pássaros cantam, ou seja, há espíritos magníficos que vêm instalar-se em vós, no vosso cérebro, no vosso coração, na vossa vontade, porque são alimentados. A nascente alimenta-os. Então, vós tornais-vos ricos, sois semelhantes a uma região florescente, com todo um povo e toda uma civilização. Sim, porque a nascente corre. É este aspecto simbólico que é necessário compreender.

Junto de uma nascente seca ninguém aceita ficar. Quando a nascente para de correr no homem, já não há criações, nem poesia, nem música, nem alegria, já não há nada, é o vazio, o deserto, porque já não há água, já não há amor. Pelo mundo afora só se vê desertos passeando... Assim se explica o estado miserável dos humanos, a sua angústia, o vazio que há neles. Talvez sejam muito inteligentes, mas deixaram secar a sua nascente, porque nunca pensaram em dar, em irradiar, em amar. Quando eu vejo seres cuja nascente secou ou, até, nunca correu, sei que o seu destino será miserável. Porquê? Porque nada virá instalar-se neles, nenhum anjo, nenhum espírito, nenhuma beleza, nenhum esplendor, nada!

Bem-aventurados os que compreenderam e se decidiram a mudar! Para esses, hoje, tudo estará explicado, pois estas duas imagens – o pântano e a nascente – são realmente suficientes para explicar tudo. Se estais estagnados, se fazeis tudo sem entusiasmo, sem inspiração, sem alegria, ficai a saber que deixastes secar a nascente que deveria correr em vós. Mas vós não vos apercebestes disso e estais sempre a criticar os outros. Abri a vossa nascente, limpai-a e a água jorrará, porque todas as criaturas nasceram para ser uma nascente. Sim, quando o Senhor enviou o homem à terra, preparou-o para ser uma nascente; mas o homem deixou acumular tantas impurezas em si próprio que a nascente ficou tapada; por isso, é o deserto, o vazio. E nada é pior do que o vazio, nada é pior do que estar num deserto, ser um deserto.

Será que começais finalmente a compreender esta imagem da nascente? A nascente é a vida, é o amor, e o amor é omnipotente, é ele que faz nascer todas as inspirações, todas as alegrias. Não há maior verdade. Eu sei bem que, apesar de todas as verdades que ouvem há anos, muitos de vós estais num triste estado; é porque não tendes qualquer método de trabalho. O que quer que escuteis, quaisquer que sejam as verdades que poderiam ajudar-vos, não anotareis nem fixareis nada. Se escrevêsseis pelo menos uma verdade e a colocásseis diariamente diante dos vossos olhos para a verdes, para estardes em contacto com ela!... Mas, não, uma hora depois tudo se apagou. Criaturas assim estão predestinadas a viver indefinidamente nos pântanos ou nos desertos. E a culpa é delas, pois, mesmo quando se lhes diz como hão de fazer para se abrirem, para se desenvolverem, não entendem nada, não retêm nada. 

Eu sei que vos tenho falado frequentemente da nascente, mas vós precisais que vos repitam muitas vezes as mesmas coisas. O sol nasceu ontem, mas isso foi para ontem, hoje ele deve nascer de novo. Aparentemente, a água que corre é sempre a mesma, no entanto ela é sempre nova. É por isso que há anos vos repito: "Pensai todos os dias em fazer jorrar a vossa nascente!... Abri-a, limpai-a, tornar-vos-eis uma terra tão fértil que até os reis virão provar os frutos do vosso pomar." Mas tenho de repetir e voltar a repetir. Depois de tantos anos, por que é que ainda não plantastes nem colhestes nada, se possuís em vós próprios um terreno incrivelmente rico? O vosso cérebro, o que é? É a melhor das terras. Pois bem, é justamente esta terra que deveis cultivar, que deveis semear e regar. Pelo pensamento, pela oração, ligai-vos diretamente à Nascente Celeste. 

Como nós somos à imagem do Senhor, o microcosmos semelhante ao macrocosmos, possuímos também uma nascente em nós próprios, mas ela aguarda condições propícias para começar a correr. É, pois, ligando-nos à Nascente Celeste que faremos brotar a nossa própria nascente, e todas as nossas células serão regadas, vivificadas, a vida divina correrá. Graças a esta nascente o amor, a vida, a água viva tornamo-nos um instrumento perfeito nas mãos do Senhor."

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quinta-feira, março 22, 2018

A Lei Cármica não provém de Deus

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- Joel S. Goldsmith -


Todos os sofrimentos que o mundo vivencia vêm da ideia de separação de Deus, por não aceitar um Deus que está “tão perto quanto o fôlego, mais próximo que as mãos e os pés”, um Deus que deseja que frutifiquemos com abundância.

No tempo do paganismo, afora talvez um sentido de gratidão, as pessoas adoravam tudo aquilo que parecesse poder aniquilá-las, e começaram a atribuir a tais coisas o poder da Divindade.

À medida que a consciência humana evoluiu, apareceu a ideia de um Deus único, mas, aparentemente, o homem não estava preparado para perceber Deus como realmente é, e assim encontramos um tipo estranho de Deus na Escritura hebraica.

Assim como sabemos que o sol, a lua e as estrelas não são Deus, sabemos hoje que Jeová, o Deus da ira e da vingança, não é Deus.

O Deus do Velho Testamento – que se refere a ira e à vingança – não é Deus: é a lei de Carma ou da mente humana (pensamento humanos). É a lei que diz que “o que você semear, colherá”. E a lei que diz que, se fizermos o bem, o bem virá até nós; por outro lado, se fizermos o mal, este recairá sobre nós. “Como o homem pensa em seu coração, assim ele é”.

Essa definição não corresponde ao que é Deus: é a lei cármica que foi reconhecida como Deus.

A lei nunca foi Deus, como João nos esclareceu ao revelar que: “a lei foi-nos dada por Moisés, mas a Graça e a Verdade nos vêm de Jesus Cristo”. Ai está a grande diferença entre a Graça e Verdade de Jesus Cristo e a lei de Moisés.

Há um mundo de diferenças entre lei cármica e Deus. E, embora seja necessário que todos conheçam e compreendam a lei cármica/mental, é também necessidade vital que ultrapassemos essa velha lei, rumo ao Reino da Graça.

Nunca conseguiremos esse objetivo violando a lei do Carma (da mente humana), mas compreendendo seu lugar e significado em nossa vida.

Os dez mandamentos com que estamos familiarizados são parte dessa lei.

Por exemplo, vejamos a ordem “honrar o pai e a mãe”. Alguém chamaria essa ordem de ensinamento espiritual? Qualquer um que tenha sido tocado pelo Espírito de Deus, mesmo no mais leve grau, seria incapaz de fazer outra coisa senão honrar o pai e a mãe, e amar seu próximo como a si mesmo.

Teria existido alguém que tivesse pretensão, mesmo em sonho, de dizer a Jesus Cristo, ou a João de Patmos, ou Buda ou Lao-Tsé para honrar o pai e a mãe e amar os inimigos como a si próprio? Poderá alguém que tenha sido tocado pelo Espírito de Deus ter manifestado intolerância, parcialidade ou preconceito contra raças ou religiões?

Essas leis são para os que se reconhecem como seres humanos que ainda não tem a Percepção Espiritual de sua Real identidade, que ainda precisam ser lembrados de que não podem cobiçar a propriedade do vizinho, sua mulher, sua terra.

Houve, de fato, nos primórdios da humanidade, a necessidade da lei, quando era necessário que nos dissessem como agir uns com os outros; se porém continuarmos nesse reconhecimento de sermos carnais, nosso caminhar rumo à liberdade espiritual será muito lento.

Todos os que estão na terra um dia estarão no Céu; todo o mundo poderá um dia se elevar acima da doença e do pecado mortal, e aceitar a herança de sua filiação divina; mas ninguém poderá fazê-lo vivendo sob a lei, e nem aprendendo a seu um bom ser humano.

Essa tarefa não poderá ser levada a cabo apenas por alguma forma humana de adoração, nem pelo fato de alguém se tornar honesto e ético. Essas são apenas as primeiras etapas.

Deixando nossos desejos carnais, mortais, egoísticos, apenas provamos que estamos progredindo rumo a um estágio mais alto de humanidade.

Por fim, virá o dia em que de fato atingiremos a realização do Espírito de Deus que habita em nós, quando estaremos face a face com Ele, quando Ele tocará nosso ombro, nossa cabeça ou nosso coração; quando, de um modo ou de outro, Ele anunciará a sua Presença.

Até alcançarmos a Percepção Espiritual de nossa identidade Real, não seremos mais que bons homens ou mulheres; até lá, não estaremos muito isentos da lei do prêmio e do castigo e, desse momento até o fim de nossos dias na Terra e pela eternidade afora, estaremos sob a Graça.

Então já podemos ter os primeiros vislumbres dessa grande verdade que estivemos vivendo tantos dias de esforço sob a lei de Carma, da mente humana, violando-a ou obedecendo-a, acreditando que, se fôssemos bons hoje, as coisas boas do mundo fluiriam amanhã até nós, e que poderíamos trapacear amanhã, burlando a lei.

Foi-nos dito que se pecássemos Deus nos puniria, mas essa é a versão de Deus do Velho Testamento; nenhum desses ensinamentos, que tenha sido consignado por Jesus Cristo, aparece no Novo Testamento.

Ao contrário, ficou claro que Deus alegra-se mais com um pecador que alcança a percepção do Pai do que com noventa e nove que passem pela Terra como justos. Não seria pois o caso de imaginar que todos os noventa e nove justos não agradam tanto a Deus quanto um só pecador que “acorde”?

O Deus de muitas pessoas na terra é aquele que pune o mal e recompensa o bem. Essa representação não é de Deus, e nos induz a tentar influenciá-lo ou a fazer sacrifícios a Ele.

Deus é o mesmo, para o santo e para o pecador. Deus é bom, é amor; Deus é eterno, imortal, espiritual, princípio criativo do Universo, princípio que mantém e sustenta a criação.

E poderá alguém acreditar que Deus seja assim hoje, e amanhã, por termos cometido um erro, seja diferente?

Não é de estranhar que o mundo hebraico tenha reagido com violência ao ouvir de Jesus, o Cristo, que os sacrifícios animais e monetários não agradavam a Deus. Naqueles tempos, as pessoas acreditavam que Deus deveria ser agradado, aplacado, abrandado; acreditavam que de algum modo Deus seria influenciado pela conduta humana. E o mesmo ocorre ainda hoje, quando algum devoto adorador acende uma vela para Deus, paga o dízimo pensando em subornar Deus, ou observa jejuns e dias santos com a ideia subconsciente de que tal conduta possa influenciar favoravelmente Deus em seu próprio benefício.

Deus nunca premia a virtude – e nem pune o pecado. Na verdade o pecado é punido pelo próprio pecado. Noutras palavras, se alguém fizer uma ligação elétrica errada, será queimado, mas não poderá censurar a eletricidade por isso. A eletricidade não quis puni-lo: ele trouxe para si a própria punição, agindo erradamente. A pessoa que entrar na água ficará assustada, se debaterá e quase se afogará, sem poder repreender a água, mas sim a própria ignorância de como se portar dentro d’água.

Ninguém pode violar a lei e não ser punido pela violação, mas ninguém poderá censurar Deus pela conseqüente punição. A culpa disso não está em Deus, mas na conduta individual e na não-compreensão individual da natureza da lei.

Uma vez que tenhamos compreendido que há uma lei cármica, e que quando acreditamos que somos seres humanos estamos a ela sujeitos, nossa primeira tarefa será nos colocarmos em harmonia com a mencionada lei.

Noutras palavras, se há uma punição para o roubo devemos em primeiro lugar aprender a parar de roubar.

Se há punição para a mentira, devemos nos treinar a não mentir, mesmo que, no momento, pareça haver alguma vantagem no deslize da falsidade.

De fato, podemos mentir e enganar em nosso negócios, e talvez ganhar algum proveito provisório; mas, se compreendermos que toda mentira, engano ou trapaça nos fará por fim naufragar, mais que provavelmente começaremos a nos treinar a não indulgir em relação a métodos inescrupulosos de agir na vida, quer pessoal, quer social e comercial.

O primeiro esforço, pois, quando entendemos que há uma lei cármica (lei da mente), é nos livrar dos males que trariam más conseqüências para nós.

É indubitavelmente melhor viver nesse estado de consciência que num estado inferior, mas devemos atentar para o fato de que tal estágio de vida é o estágio hebraico vivido sob a imposição “tu não podes de Moisés: tu não podes fazer isso, e assim não trarás o castigo sobre ti. Tu não podes cobiçar a casa do teu vizinho, e assim não atrairás problemas para ti.

Tu não podes roubar, tu não podes cometer homicídio: deves honrar teu pai e tua mãe, o que significa que não deves esquecê-los, ignorá-los ou maltratá-los.

Não se discute o fato de que, quando obedecemos aos Dez Mandamentos, nos colocamos em harmonia com a lei cármica, ou seja, com a lei mental e nos beneficiamos com isso.

Não podemos porém esquecer que estamos ainda sob a lei, e que uma próxima violação pode trazer problemas; pelo tempo que vivermos apenas sob os Dez Mandamentos, estaremos todavia vivendo humanamente e sob as leis humanas.

Essa é a maior parte de Deus que a Bíblia revela, mas não é Deus; essa é a lei, é o Deus-Senhor, é o Deus-lei, a lei cármica, a lei de causa e efeito. “O que semeares, colherás.”

A parte que a Bíblia fala acerca de Deus – relacionado à ira e a vingança – não é Deus; é a lei, é o Deus-lei, a lei cármica, a lei de causa e efeito, a lei da mente: “O que semeares, colherás.”

Isto não é Deus: o que “tu” semeares, “tu” colherás. Não se faz menção a Deus. Apenas nos avisa que, quando fizermos o certo ou errado ao semear, teremos o certo ou errado ao colher, mas certamente está claro que Deus nada tem a ver com a semeadura ou com a colheita. E, pois, nada disso guarda referência com Deus. Refere-se, sim, à lei cármica, à lei de causa e efeito encontrada ao longo da Bíblia.

Mas, como acreditou-se que isso fosse Deus, essa ideia foi perpetuada pelas pessoas que ousaram ler a Bíblia com objetividade.

Tentemos agora ver o que seja realmente Deus, se é que o podemos, já que desse ponto depende toda a nossa experiência. É justo e correto ser um bom hebreu, isto é, obedecer aos Dez Mandamentos. É justo e correto ser um homem de negócios honesto ao invés de desonesto, e um ser humano saudável ao invés de doente. Tudo isso porém não tem relação alguma com o caminho espiritual nem com nosso destino final, que é retornar à casa do Pai, para a Teo-consciência, ou seja para a Consciência Divina que somos.

Para alcançarmos nosso intuito final, devemos compreender a natureza divina; e assim certamente surgirá uma pergunta em nossa mente: que é Deus?

Antes de mais nada, temos de saber que nossas orações e meditações não influenciam Deus para que faça ou não o bem para nós – e que nós não podemos trazer a Glória de Deus para nós mesmos e nem para qualquer outro. Tudo o que podemos fazer é reconhecer que Deus, que está em nós, é poderoso, e não por nossa causa, mas exatamente porque nos foi dada a Graça de reconhecer que É aquele que sempre É.

Eis por que Jesus disse aos discípulos para não se glorificarem por terem subjugado os demônios, mas por terem os seus nomes escritos nos Céus. Eis por que ninguém deve ousar se glorificar por causa de uma cura – nenhum ser humano jamais efetuou uma cura –, ela é trazida por um estado divino do ser espiritual que atua, e só pode atuar, por meio e como a consciência de alguém que conheça a natureza de Deus,e possa assim trazer a cura para a esfera da manifestação visível. Esse é o nosso papel nesse glorioso trabalho espiritual. Apenas esse é nosso papel: conhecer Deus e conhecê-lo corretamente, como Vida Eterna.

Quando conhecermos a natureza de Deus como Amor e Vida Eterna, nunca mais nos ocuparemos com a morte, a velhice ou a doença, como se houvesse uma realidade que pudéssemos mudar, trazendo Deus para ela.

Compreendamos que não há nada a fazer quanto a Deus: há o que fazer quanto ao “o que semeares colherás”.

Se acreditamos numa lei de pecado, de matéria, de doença ou numa lei punitiva, será essa a marca que iremos imprimir à nossa vida e à vida dos que esperam de nós uma orientação espiritual.

Quando compreendemos que a natureza de Deus é amor, compreendemos também a palavra Graça. Compreendemos que o nosso bem nos vem pela Graça, e não por sermos merecedores ou dignos dela. Qual ser humano pode ser bom o bastante para merecer Deus?

Em relação a isso, quanto mais qualidades humanas tivermos, mais teremos o que varrer de nós antes de podermos perceber Deus.

Não podemos chegar ao ponto de merecer Deus: só podemos galgar o ponto em que a parte de nós que quer ser meritória, ou parece não sê-lo, seja removida do caminho e o nosso verdadeiro Eu seja revelado.

Nosso bem – físico, mental, moral ou financeiro – é nosso pela Graça divina, como um presente de Deus.

Não podemos ganhá-lo ou merecê-lo; não podemos influenciar Deus para que nô-lo dê, e nenhum ato, fato ou pensamento nosso é poderoso o bastante para impedir Deus de agir e de continuar operando.

Ainda que acreditemos que nossos pecados sejam escarlates, no momento exato em que percebemos nossa verdadeira identidade tornamo-nos brancos como a neve.

De fato, enquanto aceitarmos o Carma, isto é, enquanto aceitarmos a nós mesmos como apenas seres humanos,teremos a lei de Carma agindo em nossa vida, mas a lei pára de atuar tão logo assim meditemos: “Eu estou saindo, me separo, e agora vou viver sob a Graça”. E, no momento em que realmente estivermos vivendo sob a Graça, cairá em desuso a palavra “eu”.

Paramos de nos vangloriar de que o “eu” é bom e meritório, e paramos de nos condenar por ser o “eu” mau e indigno. Esquecemos mesmo o passado e reconhecemos que não vivíamos, uma hora atrás, e que não podemos viver daqui a uma hora.

O único momento em que podemos viver é AGORA, e agora estamos vivendo na Graça.

Agora não há pecado, doença, morte ou iniquidade – nada age em nossa consciência a não ser o Amor, o Amor de Deus, não o seu ou o meu amor, não um amor humano, mas o amor divino que é pura luz e nele não há trevas alguma.


segunda-feira, março 19, 2018

"Deixa os mortos sepultar os próprios mortos"

Omraam Mikhaël Aïvanhov


“DEIXA OS MORTOS SEPULTAR OS SEUS PRÓPRIOS MORTOS”

O ensinamento de Jesus é um ensinamento da vida, um ensinamento da vida divina. A compreensão que tinha da vida é que fez de Jesus um verdadeiro filho de Deus. Fico sempre maravilhado diante da profundidade dessa compreensão, quando ele diz a um homem encontrado no caminho: “Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos.” Se a frase for tomada literalmente, o que Jesus diz é monstruoso, pois ele parece aconselhar que deixemos os corpos de nossos parentes e de nossos amigos sem sepultura... Pior ainda, essa frase não tem o menor sentido: como é que os mortos poderiam enterrar outros mortos?

Ao dizer: “Deixa os mortos sepultar os seus próprios mortos”, Jesus não se referia aos mortos que levamos ao cemitério; é necessário conduzi-los aonde devem estar, e por sinal, ainda que estejam mortos, suas almas continuam vivas. Jesus tinha em mente outros mortos. Pois mesmo vivos os seres humanos trazem algo que, do ponto de vista de Jesus, está morto e os conduz à morte: sua natureza inferior. Sim, as manifestações da natureza inferior devem ser incluídas entre os mortos. E aqueles que tanto buscam satisfazê-las, atender aos seus caprichos, acabam por sua vez por morrer também. Nossa maneira de pensar e o modo como nos comportamos fazem com que nos mortifiquemos ou nos vivifiquemos. Tudo aquilo que em nós não está impregnado da vida da alma e do espírito conduz-nos para a morte.

A natureza inferior do homem está viva, e bem viva, é ela que vemos manifestar-se em tantos livros, espetáculos, jornais e no rádio, na televisão... Mas do ponto de vista espiritual essa vida é na realidade a morte para nós e para os outros. Por isso é que devemos levar a sério o conselho de Jesus. Na cabeça, no coração, quantas pessoas passam o tempo “enterrando os mortos”! Cuidam deles, eles os acompanham... E esses mortos não são necessariamente seres humanos, mas também objetos, idéias, opiniões, sentimentos. Essas palavras de Jesus devem ser compreendidas de todos os pontos de vista e aplicadas em todos os domínios: na filosofia, na literatura, na religião, na arte, na economia, na vida cotidiana.

“Segue-me”, diz também Jesus. Por quê? Para estar vivo. Pois é junto a Jesus que está a vida divina. Na realidade, experimentamos a dimensão da vida e da morte quase simultaneamente. Existem pessoas cheias de vitalidade no corpo físico, mas que estão mortas, pois cuidam de outros mortos. E existem mortos que não deixaram de estar vivos, pois durante sua existência terrestre buscaram em todas as circunstâncias colocar o espírito em primeiro lugar. Esses optaram por seguir Cristo e entraram vivos na morte.

Para optar por seguir Cristo é preciso ter aprendido a localizar onde está o essencial. Ora, os seres humanos buscam satisfação em tudo o que é secundário. Passam a vida entregues a ocupações que nada proporcionam à sua alma e ao seu espírito. Vocês responderão, naturalmente, que a alma e o espírito não podem participar tanto assim das atividades banais da vida cotidiana, nem daquelas que devemos exercer para, como se diz, “ganhar a vida”. Questiono se é tão certo assim... O que fazem as pessoas quando voltam do trabalho ou têm tempo livre? Quais são suas preocupações, suas conversas, suas atividades, suas distrações? Elas talvez não façam nada de realmente repreensível, mas em vez de construir nelas mesmas algo de sólido, de estável, perdem tempo e forças com futilidades. É, portanto, como se deixassem a morte introduzir-se nelas. Tudo que não é essencial é o que Jesus chama de “os mortos”: lixo, restos que devemos jogar fora, pois perderam os elementos da vida divina e espiritual.

Entender o essencial é sentir a necessidade de organizar nossa vida ao redor desse centro, o espírito, essa centelha que nos habita e que é o indício de nossa filiação divina. Dessa forma é que todas as nossas atividades, e até mesmo nossas distrações, contribuirão para alimentar a vida em nós. O espírito que habita no homem não rejeita o fígado, os intestinos ou os pés, sob o pretexto de não serem órgãos ou membros tão nobres quanto ele. Tudo está em seu devido lugar, e o espírito faz uso de tudo. Mas ele permanece no centro, caso contrário, é a morte; e quando a morte está presente, não há mais nada a fazer.

Por que tantos homens e mulheres que se adoravam acabam cansados uns dos outros e se separam? Porque se voltaram demais para os “mortos” e acabaram por morrer também. Se tivessem cuidado de preservar a vida neles, de embelezá-la, de torná-la poética, continuariam a se entender e a se amar. Não quero intrometer-me muito nessas coisas, mas de que serve, por exemplo, a maquiagem nas mulheres? Para dar a ilusão da vida. Elas sentem instintivamente que é a vida que os homens buscam, e acentuando no rosto as cores da vida tentam tornar-se mais atraentes. Pode funcionar, é claro, mas não basta, e, além disso, não dura.

Em certos contos lemos que, para seduzir homens, demônios femininos adquirem, mediante procedimentos mágicos, fascinante aparência juvenil. Naturalmente, os pobres infelizes se deixam apanhar, a ponto de casar com essa encantadora criatura, mas algum tempo depois eles acabavam enlouquecendo e, em alguns casos, perdiam a vida... Até o dia em que um, mais sábio e mais instruído que os outros, se conscientiza da natureza dessa entidade que tem diante de si: consegue quebrar o encanto e a jovem de aparência tão sedutora vira pó, gritando alucinada. Sim, uma metáfora sobre a morte espiritual que procura adquirir a aparência da juventude da vida... Esses contos têm um significado profundo.

Como Deus fez as coisas, como a natureza fez as coisas? Eis as questões que vocês devem estudar, para entender Deus e mesmo imitá-lo. Esforcem-se sempre para colocar o essencial no centro de sua vida e instalar-se no essencial, procurando identificar-se com ele. Então, todo o resto, a família, os amigos, as posses, as ocupações e até as diversões encontram seu devido lugar, pois vocês os associam ao essencial, caso contrário... Enquanto não tiverem entendido sobre o quê edificarem sua existência, nada do que possuírem permanecerá com vocês por muito tempo: sua mulher, seus filhos, seus amigos, suas posses, sua saúde... de uma maneira ou de outra, vocês hão de perdê-los. Faltando no centro essa força que unifica, que preserva, que governa, todos os elementos começam a se dispersar, e nesse momento ocorre a morte espiritual.

Os seres humanos têm seu corpo, vivem com ele, cuidam dele, o alimentam, o lavam, o vestem e até o maquiam, mas não procuram compreender o que esse corpo quer lhes dizer com seus membros e seus órgãos. Pois bem, nesse corpo animado por um espírito eles devem aprender uma lição: como Deus pensou as coisas, pondo seu corpo à serviço de seu espírito; e que se inspirem nessa lição para conduzir sua vida, isto é, que ponham tudo que é material e efêmero a serviço do essencial...

O material e o efêmero sempre terão um papel a desempenhar em nossa vida, mas para que esse papel seja benéfico devemos fazer com que ele participe das atividades do espírito. Quantas pessoas não passam a vida em busca de conhecimentos e aventuras! O resultado dessa busca lhes proporciona, depois de algum tempo, a impressão de estar vivendo a verdadeira vida, mas quando ouvimos falar a respeito, anos depois, temos a impressão de que a experiência foi como areia que deixaram escorrer por entre os dedos.

Os turcos dizem: “até os 40, gastamos dinheiro para ficar doentes; depois dos 40 gastamos dinheiro para recuperar a saúde.” Eu me lembro de ouvir isso quando era jovem, na Bulgária. Essa é a situação da maioria dos homens: valem-se de todos os meios à sua disposição para usar e abusar de seus recursos físicos e psíquicos. No momento, têm a sensação de estar vivendo, Mas não é “o momento” que conta, e sim, anos depois, quando fazemos o balanço de nossa vida. Por isso é que, de vez em quando, é preciso rever nossas escolhas e atividades, perguntando-nos: “O que me proporciona tudo o que escolhi?... Será que não estou enterrando mortos? Que posso fazer para estar vivo?”

Acreditem, a única ciência que realmente vale a pena aprofundar é a ciência da vida, pois funciona como uma chave e abarca todas as outras. Vocês lêem e estudam, isso é ótimo, mas não é a leitura que lhes dará a vida. Em compensação, poderão entender melhor o que lêem se já tiverem avançado no campo da vida. E ainda que passem o tempo ouvindo ou tocando música, por mais bela e inspirada que seja, que poderá proporcionar-lhes essa música? Será que saberão, graças a ela, orientar-se melhor? Não, pois é necessário também um outro saber. Sem a ciência da vida, nada tem sentido. Conseguimos tudo o que queremos sem entender o desejo que nos move e sem saber o que deve ser feito com o que obtemos. Por isso, somos incapazes de aproveitar plenamente mesmo as conquistas mais difíceis.

Ficou claro por que Jesus insiste tanto na vida? Porque é a compreensão dela que nos permite entrar em relação com Deus, nosso Pai. Até então, só podemos ter concepções errôneas do Criador, pois são superficiais. Em vez de buscar Deus em nós mesmos, nessa vida que Ele nos deu, contentamo-nos com o que foi dito por outros a seu respeito, e então pesamos os prós e os contras, levantamos questões, duvidamos, nos perguntamos se Ele existe ou não... Dessa maneira nunca chegamos a nada. Mas faça com que a vida brote em você e nunca mais terá dúvidas sobre a existência de Deus.

Quando um Iniciado, instruído na ciência da vida, vê os motivos de preocupação dos seres humanos e como raciocinam... oh! Ele não fica indignado, não se irrita, apenas sorri... Ainda que alguns sejam muito capazes, eruditos, na realidade são ignorantes. Não têm consciência de que a vida é limitada no tempo e no espaço e está restrita ao que vêem; não sentem que há uma Existência acima da sua, e que é para Ela que deveriam voltar o pensamento. Suas buscas, suas aquisições são tão limitadas! Não lhes dão a mínima noção do que é a verdadeira vida que sai de Deus. Então, um Iniciado sorri gentilmente, muito amistosamente, sem magoar ninguém. Ele vê – e muitas vezes fica triste. Gostaria de ajudar, mas não só elas não o ouvem como se sentem muito satisfeitas consigo mesmas, dizendo: “Nós, os que compreendemos... nós, os inteligentes... nós, os normais... nós, os sensatos...”, e o olham com piedade: quem é esse velho com tantas idéias ultrapassadas?

Mas vocês, que estão numa Escola onde lhes ensinam a ciência da vida, o modo de entendê-la e realizá-la, tratem de levar a sério essa ciência! Ao longo das atividades do dia, procurem colocar-se em um estado de espírito em que a vida divina possa fluir através de vocês, vivificando todas as criaturas e todos os objetos ao seu redor. Quando o homem adquire consciência de que é o depositário da vida divina, a Mãe Natureza o considera um ser inteligente, verdadeiro filho da luz, e começa a amá-lo, abre suas portas e lhe oferece trajes de festa para que ele participe de seus banquetes e de seus mistérios.

O estudo da vida deve prosseguir por milhões de anos, pois é uma ciência sem fim. E é isto que a torna tão apaixonante. Uma vez tendo começado, você sente que jamais poderá parar. Eu escolhi essa ciência para minha profissão. Sim, foi essa ciência que escolhi, a mais desprezada, a mais desdenhada, sabendo de antemão que não encontraria muitos interessados em estudá-la comigo. Então, por que insisto? Porque aquilo que é desprezado hoje será apreciado amanhã. A ciência da vida é essa pedra de que fala Jesus: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.”

Evidentemente, como eu me concentrei na vida, negligenciei os outros campos; por isso tenho grandes lacunas. Sou ignorante sobre uma série de coisas, mas isso não me preocupa. Se fosse possível, é claro que eu preferiria saber tudo, conhecer tudo, mas precisaria dedicar a isso muito tempo, muita energia, em detrimento da vida. Por outro lado, também cursei universidades, e poderia falar-lhes uma grande variedade de temas, como fazem milhares de professores e conferencistas pelo mundo afora. Só que me sentiria deslocado, fora de propósito, como se não fosse o meu trabalho, o meu dever, a minha vocação, o meu elemento... como se estivesse pisando num terreno que não é meu. Por isso, deixo todos os demais temas aos especialistas e me concentro na vida. Aprender a receber e a transmitir a vida, porque aí está a verdadeira magia.

Vocês jamais lamentarão ter dado à vida o lugar mais importante. Portanto, não esperem que ela os abandone para, só então, buscarem entender o que perderam ao correr atrás de todo o resto. Eu apelo ao Céu apenas isto: que me dê a vida, sem grandes preocupações em ter longevidade, mas apenas essa sensação de pertencer à vida cósmica, à vida do universo, das estrelas. E para poder falar-lhes assim da vida sou obrigado a trabalhar em minha própria vida. Caso contrário, o que poderia transmitir-lhes?

Embora esteja também fora de nós, a vida divina está em nosso interior. E embora não sejam lá muito numerosos, existem na Terra seres que já entenderam a importância e a beleza dessa vida. O que fazer, senão decidir participar do seu trabalho? Pois àquele que busca a verdadeira vida, Deus mostra onde estão os seres que a encontraram, para que possam ajudá-lo e levá-lo com eles. Mesmo em meio às maiores dificuldades, ninguém está completamente isolado. Veja o que costuma acontecer durante uma guerra: resistentes se agrupam em organizações, mudam de nome, passam a usar códigos, para que só possam reconhecer-se aqueles que decidiram lutar juntos pela liberdade de seu país... e acabam triunfando. Pois bem, o mesmo acontece com os filhos de Deus: dispõem de todos os meios necessários para se reconhecer e trabalhar juntos.

E quando houver na Terra muitos seres capazes de viver essa vida divina, ela transbordará por toda parte, como ondas de água pura; será verdadeiramente a nova vida, não só para alguns indivíduos aqui e ali, mas para toda a humanidade. Isso levará muito tempo, claro, mas pouco importa o tempo, é preciso dar início a esse trabalho, o trabalho dos filhos e filhas de Deus. Os filhos e as filhas de Deus só pensam em melhorar a vida, torná-la pura, luminosa, bela, abundante, a fim de propagá-la, distribuí-la, compartilhá-la com todos. Não será deles que Jesus dirá que são mortos ocupados em enterrar outros mortos; não, eles estão vivos, pois trabalham com ele para fazer fluir a vida divina.


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sábado, março 17, 2018

PARAÍSO: UMA QUESTÃO DE PERCEPÇÃO

Superbook's Heaven #2 ceasle of God by AngeloVergil
- Dárcio Dezolt -


Assim como num cinema alguém é capaz de “ver o que se passa na tela”, e, também, “ver o que se passa fora dela”, isto é, no cinema em que se encontra, apenas dependendo de qual dos dois referenciais sua ATENÇÃO PLENA estiver focalizada, igualmente nos é possível “perceber que estamos no Reino de Deus” enquanto, aparentemente, “estivermos percebendo o suposto mundo material”.

Enquanto a maioria luta na matéria, sem saber contar com as leis mais altas que lhe estão disponíveis, há também aqueles que ainda consideram que “viver o Reino de Deus” significa viver uma vida terrena harmoniosa ou trabalhando em prol do próximo.

Isso se dá por ser a consequência confundida com a causa.

“Buscai o Reino de Deus em primeiro lugar”, e “TODAS AS DEMAIS COISAS – VOS SERÃO ACRESCENTADAS”.

Quem “busca o Reino” se torna apto a perceber que não existe mundo material em parte alguma! Deus é Tudo! A Luz é Tudo!

Portanto, o paraíso não é “outro lugar”, mas “este lugar”, apenas sendo espiritualmente discernido, ou seja, é quando assumimos a mente de Cristo e contemplamos as coisas como realmente elas são.

A partir disso, a nossa suposta ação visível deixará de ser vista como ação de um ser humano voltado a si mesmo ou ao próximo! Desaparecem as intenções de agirmos para o bem ou para o mal, e a frase “o Pai em MIM faz as obras”, dita por Jesus, fica plenamente entendida!

O paraíso, sendo percebido como sendo aqui mesmo, nos deixa a todos alinhados com a Verdade e sendo esta Verdade! Este discernimento nos leva à chamada “vida pela Graça”, isto é, a vida que flui espontaneamente em tudo e todos é discernida como sendo ação única de Deus, ou sendo Oniação.

A noção de vida humana pessoal é falsa e geradora de conflitos na aparência!

Por isso é fundamental mantermos esta visão iluminada dos fatos reais ou verdadeiros, em que nos vemos agindo em unidade com Deus e discernindo o mesmo Deus em todas as ações que estivermos percebendo além da nossa!

A visão da Unidade é a visão correta; é esta percepção de que o “paraíso” é aqui, não por fazermos algo de bom ou por deixarmos de fazer, mas, por reconhecermos nossa ação e a de todos como unicamente sendo Deus agindo! Isso nos elimina preocupações, inquietações e tensões, por estarmos ocupados unicamente em contemplar o Universo Oniativo de Deus.


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segunda-feira, março 12, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 11/11

- Masaharu Taniguchi - 


O QUE DECIDE O DESTINO DA HUMANIDADE

A lei do carma

Vou discorrer sobre o tema "O que decide o destino da humanidade". Para falar sobre isso, preciso explicar o que é o destino. Costuma-se dizer "Entrego a Deus o destino", mas o destino não é algo imposto a nós, compulsoriamente, por Deus. O ideograma un (sorte, destino) tem o sentido de mover-se circularmente. Diz um ditado: "O que acontece uma vez, volta a acontecer". O destino, é, portanto, uma sucessão de acontecimentos que ocorrem segundo a lei da causalidade, ou seja, determinada causa gera determinado efeito, e esse efeito cria uma nova causa, e assim sucessivamente.

Portanto, praticando o bem, com certeza, acontecerão coisas boas. Praticando o mal, com certeza, acontecerão cosias ruins. Se a pessoa odiar o outro, será odiada. Se der, receberá. Se usurpar, será usurpada. Desse modo, a humanidade é regida fundamentalmente pela lei da causalidade. Essa lei é chamada também de lei do carma, ou ainda, lei da mente. Cada um de nós também cria o seu próprio destino e colhe seus efeitos.

Já me perguntaram se o destino de um indivíduo está traçado ao nascer, mas digo que, em geral, um terço do seu destino está definido. Contudo, não foi Deus que o definiu. Nós nascemos neste mundo inúmeras vezes, e os carmas acumulados nas vidas passadas definem uma parte do destino da encarnação atual.

O budismo classifica os carmas em três categorias: carma mental, carma verbal e carma físico. O carma mental refere-se aos pensamentos. O carma verbal, às palavras faladas, que ficam acumuladas em forma de energia latente, a qual se manifestará de algum modo.O carma físico é o conjunto de ações e trabalhos expressados através do corpo. Essas ações ficam acumuladas em forma de energia latente em alguma parte do Universo. E vem o momento em que esses carmas se manifestam em forma concreta. Desse modo, nascemos neste mundo trazendo conosco esses carmas de maneira latente.

Nascemos trazendo em nossa bagagem o "balanço" dos carmas mentais, verbais e físicos que nós mesmos criamos no passado. Por isso, apesar de todas as pessoas serem igualmente filhas de Deus, não nascemos num mundo igualitário. Uns nascem em lares miseráveis; outros, em lares abastados. Uns nascem com o físico debilitado; outros, com o corpo extremamente forte e robusto. Uns nascem com inteligência deficiente, enquanto outros, com inteligência superior. Assim, cada pessoa vem a este mundo com diferentes características, materializando os carmas do passado.

Há quem reclame dizendo que Deus é muito injusto, mas isso não é verdade. Deus avalia as pessoas exatamente de acordo com o seu desempenho no passado e é, portanto, muito justo. O resultado do cálculo está exatamente de acordo com o que a pessoa veio acumulando. Quem multiplicou 2 por 2, teve o resultado 4; quem multiplicou 2 por 3, teve o resultado 6; e quem multiplicou 4 por 4, teve o resultado 16. Comparando os resultados 16, 4, 6, parece haver injustiça, mas, considerando que são resultados do balanço dos carmas de cada pessoa, não há injustiça alguma. São, pelo contrário, muito justos.

Desse modo, fomos criados imparcialmente como filhos de Deus, no entanto, nascemos com um destino desigual criado por nós próprios. Nascemos com o destino parcialmente traçado, resultante dos balanços dos nossos carmas do passado, de modo semelhante a uma empresa que, terminado um ano fiscal, inicia um novo ano. Há empresas que iniciam o novo ano transportando o lucro do ano anterior, enquanto outras iniciam transportando o prejuízo. As pessoas que transportam o prejuízo das vidas passadas para esta vida, nascem com um destino infeliz.


Contudo, é possível mudar o destino

Será que esse destino é definitivo? Não, em absoluto. Uma empresa cujas ações até então não chegavam a gerar dividendos, pode entrar num novo período e, com grande esforço da diretoria, mudar seus planos administrativos, tomar medidas positivas e, assim, seus negócios podem se desenvolver de forma favorável, acompanhando o crescimento da economia. Uma empresa que não distribuía dividendos até o período anterior, pode no período seguinte se recuperar e gerar lucro de 10 a 15 por cento.

Da mesma maneira, o destino de um indivíduo também pode melhorar muito conforme a postura mental na vida presente, mesmo que os carmas acumulados nas encarnações anteriores sejam reprováveis. Quando nasce, um terço do destino de uma pessoa já está determinado, exatamente como ela própria definiu no passado, mas outro terço pode ser mudado pra melhor dependendo do esforço empenhado após o nascimento. Ocorre isso também de acordo com a lei "Esforçando-se, tem-se a devida recompensa".

Conta-se, numa antiga história da China, que havia um famoso monge budista muito versado em fisiognomonia. Sempre acertava nas suas premonições baseadas na leitura fisiognomônica. Certo senhor solicitou-lhe uma análise da sua fisionomia e ele prenunciou: "Fique preparado, porque hoje à noite, às tantas horas e tantos minutos, você deixará este mundo". Ciente de que as premonições desse monge sempre davam certo, ele tomou o caminho de volta para casa, já com a mente preparada para aceitar a morte.

Nessa época, essa região havia sofrido uma longa estiagem e o rio estava quase seco, havendo água apenas na parte mais profunda do leito. Na parte seca, havia inúmeros peixes se debatendo, prestes a morrer. Ao atravessar o rio, esse senhor pensou "Coitados! Se continuarem assim, esses peixes morrerão todos. Vou salvá-los" e, pegando cada peixe com as mãos, transportou-os até o lugar onde havia água. Fez isso até anoitecer e, não se sabe quantos, mas salvou um grande número de peixes.

Regressou depois para casa, reuniu a vizinhança e distribuiu tudo o que possuía, porque achou que iria deixar o mundo às tantas horas e tantos minutos dessa noite e não precisaria de mais nada. E, pouco antes da hora pronunciada para sua morte, purificou seu corpo e permaneceu sentado esperando o momento. Contudo, ele não morreu. Não morreu, mas pensou "Espere aí, eu não morri até agora, mas posso morrer a qualquer momento" e permaneceu sentado esperando a morte. Pensava "Houve um atraso de dez a vinte minutos, mas morrerei com certeza, pois as premonições daquele monge sempre dão certo". Assim ficou esperando, porém não morreu até chegar a manhã seguinte.

Ele sentiu fome e pensou em cozinhar arroz para comer, mas, tendo dado tudo que possuía, não encontrou nada. "Que farei agora? Fui enganado por aquele fisiognomonista" – pensou e foi até o templo budista exigir explicações do monge.

– O senhor me disse que eu iria morrer às tantas horas e tantos minutos da noite passada, mas, como não morri, estou passando muitos apuros.

O monge examinou detalhadamente seu rosto e disse:

– É muito interessante! Você deveria morrer, mas, observando agora a sua fisionomia, vejo que está completamente mudada. Que mistério! Seu rosto já não é o mesmo de ontem. Certamente, ontem, no caminho de volta, você salvou muitas vidas.
– Não, não salvei ninguém.
– Salvou sim. pense bem. No caminho de volta, após ouvir minha premonição, com certeza salvou alguém. isso está registrado na sua fisionomia. Pense bem e tente se lembrar. Com certeza você salvou muitas vidas.

O monge insistiu e, pensando bem, o homem se lembrou de que salvara os peixes que se debatiam no leito seco do rio, levando-os para os locais onde havia água.

– Falando nisso, salvei os peixes que estavam morrendo por causa da seca.
– É isso! Como você salvou inúmeras vidas, agora terá de viver mais 30 anos – assim disse o monge.

Desse modo, o destino do ser humano já pode estar definido, porém, não sendo algo peremptório, muda conforme a atitude mental e condutas posteriores.


Caso da pessoa que escapou da pena de morte

Em um livro que escrevi, narro a história do sr. Yoshio Endo, que esteve em combate na ilha Hainan, na Segunda Guerra Mundial, e que, terminada a guerra, foi considerado criminoso guerra e condenado à morte. Após receber a sentença de morte, o sr. Yoshio Endo ficou aguardando a execução da pena, que era realizada pouco a pouco, uma pessoa de cada vez. Certo dia, um capitão, quando se dirigia ao local da execução, jogou na sua cela o volume 6 da coleção A Verdade da Vida e uma transcrição da Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade feita em papel higiênico. O capitão fez isso porque iria ser morto e não tinha mais razão para ficar com o livro.

Curioso, o sr. Endo pegou o livro e viu que era o volume 6 de A Verdade da Vida. Nele consta que a Seicho-No-Ie não é uma religião sectária e que ela prega que todas as religiões convergem a uma única Verdade: "O homem não é corpo carnal, é um ser espiritual". O sr. Yoshio Endo, não tendo o que fazer na cela, leu repetidas vezes esse volume e a transcrição da Sutra Sagrada. Com isso, ele compreendeu que o homem não é corpo carnal, não é matéria. Soube que o corpo carnal é uma espécie de vestimenta da Vida do homem e que existe como um instrumento para realizar um trabalho neste mundo. Adquiriu, então, a convicção de que, mesmo que essa "vestimenta" fosse executada, ele não morreria, porque o corpo carnal não era ele, nada mais sendo que uma espécie de vestimenta dele.

Em diversas partes desse livro, havia recomendação da prática da Meditação Shinsokan, mas ele não sabia como devia proceder, porque o modo de realizar essa meditação está descrito no volume 8 dessa coleção. Lendo, porém, as referências sobre a Meditação Shinsokan encontradas em várias passagens do volume que tinha em mãos, pôde concluir que deveria sentar-se ereto sobre as pernas, juntar as palmas das mãos e entoar o Canto Evocativo de Deus. No papel com a transcrição da Chuva de Néctar da Verdade estava escrito o Canto Evocativo de Deus, e o sr. Endo passou amentalizá-lo compenetradamente, com as mãos postas e os olhos fechados, totalmente absorto na Meditação Shinsokan.

A ilha Hainan está localizada ao sul da China e, sendo uma  região quente, estava infestada de mosquitos aedes aegypti. Permanecendo sentado, quieto, o corpo ficava totalmente coberto de mosquitos, mas, enquanto praticava a Meditação Shinsokan, o sr. Endo não levava uma só picada. Terminada a meditação e movimentando o corpo, os mosquitos saiam voando de uma vez, mas, apesar de ter ficado coberto por eles, não havia levado nenhuma picada. Os percevejos, por sua vez, mudaram-se em "caravana" da cama do sr. Endo para algum outro local e nunca mais o incomodaram. Ocorreram esses fatos extraordinários. Aliás, isso não foi propriamente um milagre, pois mudando-se a mente, muda-se também o destino da pessoa, que antes estava programado para ela ser picada pelos percevejos.

O sr. Endo achava que já deveria estar na hora de ser levado para a execução da pena de morte, mas demorava chegar a sua vez. o carcereiro, antes, o vigiava com olhar prudente e severo; porém, após o sr. Endo começar a praticar a Meditação Shinsokan, passou a tratá-lo com muita gentileza, pois o via sempre com as mãos postas, numa postura piedosa. Certo dia, esse carcereiro lhe disse:

– Sr. Endo, o senhor não será executado.
– Como assim, se já me condenaram à morte?
– É que, sr. Endo, eu vim observando até hoje inúmeras pessoas condenadas à morte, e todas elas revelavam traços da morte no rosto, mas não vejo isso em seu rosto. O senhor enviou a Chiang Kai-shek requerimento de absolvição relatando os fatos que o inocentam?
– Não, enviei para o Exército, mas não para Chiang Kai-shek
– É inútil enviar para o Exército. Esses requerimentos desaparecem no caminho. É preciso enviar diretamente ao governo central de Chiang Kai-shek. Escreva que eu me encarrego de enviar.

O carcereiro disse-lhe isso, gentilmente, e p sr. Endo requereu habeas corpus ao governo central de Chiang Kai-shek, foi absolvido e regressou ao Japão são e salvo. Tomou, então, a decisão de vender sozinho dez mil exemplares do volume 6 de A Verdade da Vida e proferiu palestras em diversos locais.

Esse caso do sr. Yoshio Endo também nos faz compreender que a mudança da mente mudou o destino dele, pois estava destinado a morrer como condenado à pena de morte, e o dia da execução estava bem próximo.


Deus como lei, e deus como personalidade individual

De acordo com o que citei até aqui, compreendemos que um terço do nosso destino depende do acúmulo dos carmas em vidas passadas, e outro terço, dos esforços, boas ações e mudança mental na vida atual. O terço restante pode ser modificado pela correção amorosa de Deus, efetuada por vibrações mentais de espíritos superiores. Espíritos superiores são aqueles que alcançaram altos níveis de aprimoramento, reencarnando inúmeras vezes e efetuando treinamentos no mundo espiritual. Esses espíritos, porém, não podem ser chamados de "Lei que permeia o Universo", pois eles não são Deus. Se fossem lei, seria impossível ocorrer mudanças, pois duas vezes dois seriam sempre quatro. Nisto não há possibilidade alguma de introduzir qualquer mudança por meio de livre vontade ou livre-arbítrio.

Os espíritos superiores possuem personalidade individual e, portanto, a atuação deles não é necessariamente rigorosa como a lei que diz "Duas vezes dois é impreterivelmente quatro". Por exemplo, um veredicto judicial é: "Você tomou emprestado 20 mil ienes, duas vezes, portanto, é preciso devolver 40 mil ienes". Não há nenhum atenuante para esse veredicto. Assim é a lei. Entretanto, sendo o credor alguém que tem personalidade individual, há possibilidade de ele dizer o seguinte: "Emprestei-lhe 20 mil ienes duas vezes, totalizando 40 mil, mas simpatizei-me com sua índole e resolvi não lhe exigir a devolução. Aliás, se precisar de mais dinheiro, me diga que lhe arranjarei".

Desse modo, os espíritos superiores, que têm personalidade própria, corrigem o destino do homem, transcendendo a lei, usando o livre-arbítrio.

Em todas as boas religiões atuam espíritos superiores, em maior ou menos escala. Em consequência, acontecem diversos fenômenos misteriosos que parecem milagres. Ocorrem tais fenômenos porque há a interferência desses "deuses" dotados de personalidade individual. Eles possuem vontade própria e, transcendendo a lei, podem realizar fenômenos misteriosos que contrariam as leis físicas.


O milagre de não se ferir mesmo sofrendo acidentes

Na ocasião do Grande Seminário realizado no Auditório Público Central de Osaka, conheci uma jovem que não se ferira mesmo sendo atropelada por um caminhão. Um dia, quando ela passava de bicicleta no cruzamento de uma rua bastante movimentada, foi atropelada por um caminhão. A roda do caminhão havia passado sobre a sua canela. Contudo, quando foi levada por sua mãe ao médico para ser examinada na sala de raio-X, constatou-se que não havia fratura alguma.

Desse modo, ocorreu um milagre inadmissível segundo as leis físicas. Ocorrem esses milagres porque os espíritos superiores corrigem o destino. Eles possuem força sobrenatural. Não significam que eles transcendam as leis da física e atuam com outra lei. Os espíritos superiores dão apoio físico, ou seja, no exato momento do acidente, eles sustentaram o caminhão de alguma forma, não deixando que o peso recaísse sobre a vítima. Portanto, não há nada de estranho nem misterioso no fato de uma vítima não se ferir. Apenas parece ter ocorrido um fato que contraria a lei da física, porque os espíritos superiores são invisíveis.

Acontecem com frequência essa espécie de correção do destino efetuada pelos espíritos superiores. Em qualquer religião que tenha vida, ou seja, não sendo uma entidade que apenas mantém tradicionalmente resquícios de religião, podem ocorrer esses acontecimentos miraculosos.

Por ocasião do Grande Seminário realizado em Fukuoka, certa pessoa, cujo nome não me lembro agora, não se feriu ao ser atropelada por um bonde. Num Grande Seminário de Kokura, um adepto relatou a experiência de não ter se ferido ao cair da plataforma da estação sobre os trilhos, pois ficou entre a plataforma e o trem. Ocorrem esses fatos concretos porque os espíritos superiores corrigem voluntariamente o destino da humanidade.

Fatos semelhantes ocorreram durante a guerra. Os jovens Oomori e Koji, como também inúmeros outros soldados, não se feriram misteriosamente, mesmo estando sob uma chuva de balas inimigas. Há até casos de pessoas como o sr. Shizuo Amatatsu e o sr. Nobuyoshi Kai que não sofreram nada apesar de terem recebido impacto direto da bomba atômica. Nesses casos, também houve a interferência de espíritos superiores que participam do Movimento de Iluminação da Humanidade. Eles impediram, de alguma forma, que as radiações da bomba atômica atingissem essas pessoas.


Quando a salvação do anjo protetor não atinge a pessoa

Como vimos, professando uma religião que tem vida, somos protegidos por espíritos superiores. Entretanto, mesmo que eles nos estejam protegendo, quando nosso estado mental não está em ordem, essa proteção pode falhar. ocorre isso quando as nossa ondas espirituais não estão em sintonia com as dos espíritos superiores. Eles nos protegem por meio de suas ondas espirituais, assim como se controlam à distância os mísseis intercontinentais. Essa proteção se realiza por meio de ondas espirituais e, quando nossas ondas estão em total harmonia com essas ondas espirituais, há sintonia e eles vêm imediatamente evitar uma tragédia. Se, porém, o nosso estado mental não está em ordem, apesar de desejarem nos proteger, eles não o conseguem, porque não há sintonia entre as nossas e as suas ondas espirituais.


Que é anjo protetor?

Em geral, todos nós nascemos com um anjo protetor. Também é conhecido como anjo da guarda. Logo que nascemos, deus nos designa um espírito bem elevado, que passa a nos acompanhar até a hora da nossa morte. E não se limita a isso. Posteriormente, de acordo com a nossa função ou missão, teremos outros anjos protetores. Quando recebemos missões importantes durante a nossa vida, além do anjo protetor designado a nós na hora do nosso nascimento, outros anjos protetores nos acompanharão em caráter extraordinário, para nos auxiliarem na execução desses missões. Por exemplo, quando alguém é nomeado preletor da Seicho-No-Ie, um espírito superior passa a protegê-lo e presta assistência necessária para ele executar a missão de preletor.

Por esse motivo, quando um adepto recebe a importante missão de orientar na qualidade de preletor, inúmeras pessoas que sofrem com problemas de saúde ou subsistência, ou de relacionamento familiar, procuram-no pedindo orientação e, enquanto ele dá orientação respondendo às indagações do consulente, palavras extraordinárias que, jamais surgiriam do cérebro dele, começam a surgir em sua mene. Dizendo essas palavras ao consulente, este soluciona seus problemas. com certeza, os preletores que têm orientado as pessoas, tiveram esse tipo de experiência. Ideias, que em ocasiões normais jamais surgiriam em sua mente, apareceram de repente e eles puderam dar conselhos que realmente salvaram o consulente, impressionando-o muito.

Em tais ocasiões, a ideia não surgiu do cérebro do preletor. Foi o anjo protetor que, trabalhando à serviço de Deus, transmitiu esse pensamento à mente dele. É preciso, então ao salvar as pessoas, sempre glorificar a Deus, pensando humildemente "Sou uma trombeta de Deus que divulga estes ensinamentos". Por isso, Cristo disse: "O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer o Pai". Que dizer que "Eu próprio não possuo capacidade para salvar os outros, mas o Pai do céu que está em mim faz-me orientar as pessoas e curar suas doenças".

Portanto, as atividades do Movimento de Iluminação realizada pelos senhores não são feitas apenas através de seus corpos carnais, mas junto com espíritos superiores, que trabalham para realizar as obras de Deus. Por isso conseguem elaborar grandiosos trabalhos. Entretanto, se o estado mental de alguém se tornar negativista e deixar de sintonizar com o espírito superior, este não conseguirá realizar atividades de proteção a contento. Portanto, se os senhores mantiverem sempre a mente purificada a fim de emitirem vibrações mentais que possibilitem entrar em sintonia com os espíritos superiores, prontos a se dedicarem sinceramente à missão com a convicção "Darei a vida para realizar o ideal", perceberão com sensibilidade cada vez maior as atuações do espírito superior e realização magníficos trabalhos.


segunda-feira, março 05, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 10/11

- Masaharu Taniguchi - 


COMO VIVER A VERDADE VERTICAL E A VERDADE HORIZONTAL

Em que consiste basicamente a doutrina da Seicho-No-Ie? Ela é constituída de "Verdade horizontal" e "Verdade vertical". A "Verdade horizontal" é a de que o mundo fenomênico não é existência real, sendo mera projeção da mente e, portanto, nele podemos manifestar qualquer situação, seja prosperidade ou pobreza, saúde ou doença, felicidade ou desgraça, segundo nossa própria atitude mental. A "Verdade vertical" é a de que o ser humano é filho do Ser Supremo, sendo, portanto, dotado de Vida infinita, sabedoria infinita e todos os demais atributos do Pai, perfeição essa inerente à sua Imagem Verdadeira. Dito isso, agora esclarecerei algumas questões importantes em uma carta que recebi.


A questão da "inexistência da mente"

Li sua carta e me emocionei com a profundidade da sua fé. Segundo consta nessa carta, ultimamente os preletores da Seicho-No-Ie, que realizam palestras e orientações em diversos locais, não pregam muito a Verdade Vertical "O homem é originariamente filho de Deus, saudável, perfeito, sem doenças e infortúnios". Eles pregam que "Tal doença é projeção de tal estado mental" ou "Sem curar a mente, não adianta dizer que o homem é filho de Deus, pois não conseguirá curar-se de doença alguma", dando a entender que a mente humana cura a doença. Ouvindo esses preletores, reforçando apenas a Verdade horizontal, você diz que estão invertendo a ordem dos valores. E você próprio tem realizado inúmeras curas sem tocar na Verdade horizontal de cunho psicanalítico, dizendo categoricamente "O homem é filho de Deus, a doença não existe, o corpo carnal não existe, nem mesmo a mente existe. Se a mente não existe, não é preciso se preocupar com o que ela pensa. Não é preciso temer nada". Diz ainda que "A força que cura não está na mente do homem, pois só existe Deus e só Ele cura". Considero essas experiências realmente valiosas.

Na sutra Kan Fugen Bosatsu Gyoho consta "Não há mente para contemplá-la", referindo-se à inexistência da mente, e "O darma não está dentro do darma", referindo-se à Verdade de que "A matéria não existe como matéria". Significa que a imagem que aparece na tela do cinema (darma) não está dentro da imagem projetada na tela (darma), pois existe unicamente a Imagem Verdadeira.

O budismo prega com frequência a inexistência da mente e conta que o sacerdote budista Eka procurou certo dia o mestre Dharma e solicitou-lhe:

– Mestre, minha mente vive confusa, cheia de ilusões, e não consigo me livrar dessa situação. Por favor, retire essa ilusão da minha mente.
– Traga aqui essa mente cheia de ilusões que eu lhe retirarei as ilusões – respondeu o mestre Dharma.
Eka foi em busca dessa mente iludida, mas, não a encontrando em parte alguma, disse ao mestre:
– Fui buscá-la, mas não a encontrei.
Então, disse Dharma:
– Eu já o tranquilizei.

Ele quis dizer com isso que não adianta procurar a mente iludida que ninguém a encontrará, pois ela não existe. Se alguém fica confuso é porque pensa que ela existe e fica apegado a essa mente. Ao conscientizar que a mente em ilusão não existe e desligar-se dela, desaparecerão todos os sofrimentos.

Como vemos, o budismo também prega a inexistência da mente e parece-nos que a explicação acima nos convence disso, mas, pensando mais profundamente, ainda não compreendemos o fato se a mente existe ou não.

Ao aprenderem "Conscientize que a mente confusa não existe e desligue-se dela que todos os sofrimentos e angústias desaparecerão", muitas pessoas deixaram de se agarrar à mente que sofre e conseguiram sentir paz espiritual, com o que desapareceram os sofrimentos e as doenças.

Contudo, o que é que admite a inexistência da "mente que sofre" e se desliga dela? "Admitir" ou "se desligar" é uma ação da mente. É a mente que admite e se desliga. Então, não é que a mente inexista – ela existe e é ela que admite.

Conclui-se com isso que, ao se manifestar a mente que sofre, existe uma mente que se desliga dela admitindo que a mente que sofre não existe. Ao saber que essa "mente que se desliga" também não existe, a pessoa se sentirá totalmente liberta e esclarecida? Irá concluir, certamente, que saber ou admitir também são questões da mente e, portanto, terá de admitir que também essa mente não existe e, por mais que repita esse raciocínio/processo, ficará dando voltas eternamente no mesmo ponto.


É suficiente conhecer apenas a Verdade vertical?

Interrompendo a explicação acima, vamos ponderar sobre as suas experiências de curar muitas pessoas enfermas dizendo-lhes categoricamente que "O homem é filho de Deus. A doença não existe, o corpo carnal também não existe, nem mesmo a mente existe. Se a mente não existe, não é preciso se preocupar com o que ela pensa. Não é preciso temer nada".

Já que ocorre isso, você afirma que não há necessidade de ensinar a lei mental, nem explicar com detalhes a Verdade horizontal dizendo "Se não mudar a mente, não conseguirá curar sua doença", bastando que transmitam a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, e a doença não existe", pois, não existindo, ela desaparece. Com razão, para determinadas pessoas, é suficiente falar da Verdade vertical "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".

Na Academia de Treinamento Espiritual de Tobitakyu, pertencente à Sede Internacional da Seicho-No-Ie, têm ocorrido inúmeras curas de viciados em Philopon (uma espécie de estimulante) e de diversos outros vícios, pregando somente a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".

Se ficarmos explicando às pessoas o modo de corrigir a mente, dizendo "Corrijam essa mentalidade errada", elas se apegarão mentalmente a esses defeitos da mente e, apegando-se a esses defeitos, eles se solidificarão e não desaparecerão. Ou, então, as pessoas passarão a sentir revolta contra o orientador que diz para se corrigirem e aumentarão mais ainda os defeitos da mente. Por essa razão, quando a pessoa ouve "O homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso", deixa de se apegar à mente errada e volta seu pensamento para a Imagem Verdadeira maravilhosa e perfeita. Desse modo, a mente errada que causa vícios e doenças desaparece por completo, sendo natural que ocorra a cura de viciados em Philopon, como também o desaparecimento de diversos vícios e inúmeras doenças pregando apenas a Verdade vertical "o homem é filho de Deus, perfeito e maravilhoso".


Salvação pela própria força e salvação pela força alheia

Não significa, porém, que não haja necessidade de pregar sobre a lei mental. Se o nosso objetivo fosse apenas salvar certos doentes e viciados, muita vezes seria suficiente pregar a Verdade vertical "Homem, filho de Deus, perfeito", mas é importante que as pessoas empenhem seus esforços em limpar as nódoas de suas mentes, refletindo sobre suas condutas.

Há duas maneiras de limpar as nódoas da mente: desligar-se da mente ou observá-la fixamente e esforçar-se para eliminar os defeitos mentais. Essa é uma questão que os budistas vieram debatendo desde a Antiguidade, e os que defendem a salvação pela força alheia entregam-se totalmente à força de Amida (Imagem Verdadeira), não dando maior importância à reflexão e ao esforço próprio. Em consequência, usavam o método de "desligar a mente da mente" a fim de "eliminar todos os sofrimentos e infortúnios" (nascer na Terra Pura). Entretanto, no Shodomon (salvação pela própria força) davam maior importância à reflexão, ao esforço, ao disciplinamento pessoal.

Contudo, na seita zen-budista, pertencente ao Shodomon, era uma questão de grande importância saber escolher entre esforçar-se para limpar as nódoas da mente fazendo uma reflexão, ou voltar a mente para a Imagem Verdadeira originalmente pura e limpa. Portanto, é absolutamente natural que haja preletores da Seicho-No-Ie que se dedicam à salvação dos semelhantes dando maior importância à aplicação da lei mental, enquanto outros enaltecem a Imagem Verdadeira originalmente pura e limpa do homem.

No preceito nº 23 do livro Mumonkan, escritura mais importante da seita zen-budista, consta o koan (questão para meditação no zen budismo): "Não pense no bem nem no mal". O quinto patriarca Hung Jen, já idoso, reuniu seus discípulos e pediu: "Componham uma estrofe relacionada ao despertar espiritual que cada um atingiu. Certamente o autor da melhor obra será o meu sucessor". Shen Hsiu, o primeiro entre seus discípulos, compôs uma estrofe que dizia:

O corpo é a árvore Bodhi,
a mente é como um espelho polido.
Deves ter o cuidado de limpá-lo constantemente,
não permitindo que um único grão de pó
possa manchá-lo.

Hui Neng compôs os seguintes versos e os apresentou:

Em princípio Bodhi não é uma árvore,
o espelho limpo não está em parte alguma.
Fundamentalmente, nada existe:
Onde está, então, o grão de pó?

A primeira composição se refere à lei mental (Verdade horizontal) e significa que a mente deve ser mantida sempre pura e limpa através de reflexões e esforços. Equivale aos preletores da Seicho-No-Ie que pregam a Verdade horizontal dizendo: "De nada adianta afirmar que o homem é filho de Deus, como se já tivesse alcançado a iluminação, se não mudar a mente. É primordial que cada um reflita sobre sua postura mental e mantenha a mente sempre correta e limpa".

Entratanto, Hui Neng compôs uma estrofe que significa "O homem é filho de Deus, e não existem fundamentalmente o corpo carnal, a matéria nem a mente. Então, que necessidade teremos de nos esforçar para limpar os grãos de pó?". Equivale aos preletores da Seicho-No-Ie que pregam a Verdade vertical de que só Deus é o princípio de tudo, nada existindo além d'Ele. Não se pode definir qual dessas Verdades é superior, pois, quanto à profundidade sobre a Imagem Verdadeira, é a Verdade vertical, mas quanto à explicação ampla que faz do fenômeno, é a Verdade horizontal.


A comunhão entre a  força própria e a força alheia

Hung Jen, em primeira instância, considerou Hui Neng pessoa apropriada para ser o sexto patriarca. Hui Neng fundou a Escola do Sul, mas Shen Hsiu foi um insigne mestre zen que foi venerado como mestre fundador da Escola do Norte e o erudito sacerdote de Jiang Ling Toyosan.

A Seicho-No-Ie prega ambas as Verdades, a vertical e a horizontal, adequando-as a cada pessoa. Quanto à opção de dar maior importância a uma dessas Verdades, depende do temperamento do preletor, mas, conforme a pessoa, orienta-se reforçando a Verdade vertical homem-filho-de-Deus e, em outras vezes, orienta-se pregando a Verdade horizontal a fim de induzi-la à reflexão mental.

O missivista critica o fato de os preletores da Seicho-No-Ie pregarem dando maior importância à lei mental, mas há ocasiões em que a explicação sobre a lei mental, que é a Verdade horizontal, faz com que os ouvintes compreendam melhor a Verdade vertical "O homem é originalmente filho de Deus, perfeito e harmonioso".

Por exemplo, ao orientar uma pessoa que tem doenças manifestadas em seu corpo, o preletor lhe diz: "O homem é filho de Deus, Deus é absolutamente perfeito, é Amor infinito, Sabedoria infinita, Força infinita e não criou algo imperfeito como a doença. Portanto, a doença não existe". Mas, que fará ele se a pessoa retrucar "A doença existe aqui em meu corpo. Isso comprova que a doença existe e que Deus perfeito não existe"? Se, nesse caso, não lhe explicar sobre a lei mental, não conseguirá esclarecer por que a doença se manifestou como se existisse de fato, e desencadearia uma discussão interminável sobre a existência ou não de um Deus perfeito.

No entanto, fazendo com que a pessoa reflita dizendo-lhe, por exemplo, que "Não foi um Deus imperfeito que criou a doença. Foi sua mente que se iludiu e criou a doença. A medicina Psicossomática atual comprova isso. Quando a mente fica irada e sente ódio, ocorre uma secreção anormal de hormônios pela hipófise e pelo córtex adrenal, desequilibrando as funções fisiológicas do organismo, o que ocasiona a doença. Não estaria você odiando alguma pessoa do sexo feminino? As articulações do lado direito representam a mulher", ela perceberá o erro de estar odiando alguém do sexo feminino e efetuará a Meditação Shinsokan de reconciliação. Desse modo, ficará curada das dores articuladas do lado direito (ocorre isso com frequência).

A pessoa, então, perceberá que Deus não criara as dores que sentia nas articulações, e sim que eram produto da sua própria mente, portanto, que ela fora a responsável por esse estado físico, e não Deus. Vendo o fato de ter recuperado a saúde ao eliminar as nódoas da mente, despertará para a Verdade de que a sua Imagem Verdadeira criada por Deus é perfeita e maravilhosa.

Em suma, nesse caso, pregou-se a Verdade horizontal "O fenômeno é sombra da mente" para elucidar a Verdade vertical "O homem é filho de Deus, originariamente perfeito e harmonioso". Por isso, a Seicho-No-Ie salva as pessoas pregando livremente ambas as Verdades, a vertical e a horizontal.


Pregar a Verdade de modo absolutamente livre

Entretanto, se reforçarmos muito a lei mental, a pessoa ficará presa à mente e fará com que se solidifiquem seus defeitos mentais, o que a impedirá de alcançar a libertação. Para evitar isso, pregamos a inexistência da mente. Essa mente que não existe não é a mente da Imagem Verdadeira e sim a mente em ilusão. É a mente inquieta, e não a  mente serena e límpida.

Se ao ouvir sobre a inexistência da mente, a pessoa pensar que nenhuma mente existe, estará enganada. A mente inquieta como ondas do mar não é uma Realidade, sendo apenas um estado manifestado temporariamente quando está inquieta, ou quando se apega a essas ondas. Se a mente se tornar límpida e serena, manifestando a mente fundamental (mente da Imagem Verdadeira), a mente inquieta como ondas do mar retornará ao nada originário, comprovando sua inexistência. Usamos a palavra mente tanto para a mente inquieta quanto para a mente da Imagem Verdadeira, podendo gerar confusões. É preciso saber distingui-las.

mente da frase "Não há mente para contemplá-la" refere-se à mente inquieta como ondas do mar (mente ilusória). Se contemplarmos com a mente límpida, serena e imparcial, não haverá mente ilusória. Contudo, a mente da frase "A mente tal qual é, é o próprio Buda", refere-se à mente da Imagem Verdadeira.

Quando a Ciência Cristã ou a New Thought se refere à mente da Imagem Verdadeira, usa a letra inicial maiúscula – Mind – e, quando se refere à mente ilusória humana ou ao pensamento, escreve-se false-mind ou simplesmente mind, com letras minúsculas.

Você escreveu que "Não é a mente humana que cura a doença. Apenas Deus a cura", mas essa expressão "Apenas Deus cura a doença", também é metafórica, não sendo verdadeira. Parece-me que você é adepto da Ciência Cristã, mas a sra. Eddy disse: "A doença não existe porque Deus não a criou". Como é que Deus poderá curar uma doença que não existe? Se ela não existe, não existe cura também. Isso está de acordo com o que consta na Sutra da Sabedoria: "Não existem velhice nem morte, logo, não há como eliminá-las". Não obstante, prega-se "Deus cura a doença", usando uma expressão metafórica.

Contudo, a expressão "A mente cura a doença" é mais racional e científica, visto que a recente Medicina Psicossomática também está comprovando que estados mentais de ira, ódio, de temor, etc., provocam doenças. O homem é fundamentalmente saudável, mas manifesta-se doente quando sua mente errada encobre a superfície da Imagem Verdadeira saudável, tal como as nuvens, e a esconde. A Imagem Verdadeira saudável existe sempre e é imutável, mas, quando a doença se manifesta, ocorre o mesmo que acontece com a lua cheia, que sempre existe redonda e iluminada, porém manifesta-se cheia de manchas quando há nuvens encobrindo-a. A lua nada faz para retirar essas nuvens. São as nuvens (mente sombria) que se afastam fazendo com que a brilhante lua cheia (a saúde originária) se manifeste. Portanto, seria mais racional dizer que a mente cria e cura a doença.

A sra. Eddy também disse que os erros mentais criam doenças e que as pessoas morrem tomando arsênico porque a mente da humanidade acredita que essa substância química tem poder de causar dano ao corpo humano, e essa crença se manifesta. Ela, portanto, não nega o poder da mente. Ao elucidar o desempenho da mente, está, ao contrário, comprovando a existência da Imagem Verdadeira eternamente perfeita no âmago da mente.

Os preletores devem se esforçar para eliminar as ilusões mentais das pessoas, pregando livremente ora a Verdade vertical, ora a Verdade horizontal. Assim, devem pregar de maneira diversa de acordo com a conveniência, e é incorreto uma terceira pessoa observá-los de lado e tecer críticas injustas a respeito deles.