terça-feira, fevereiro 27, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 8/11

- Masaharu Taniguchi - 


SOBRE A EXISTÊNCIA OU NÃO DA ALMA

O carma e a alma

Recebi uma carta do sr. Yoshio Muramatsu dizendo o seguinte:

Os budistas, em especial, que não admitem a individualidade substancial do ser humano, criticam as novas religiões que admitem Deus e que a alma continua existindo após a morte do corpo, taxando-as de heréticas e inferiores, evitando uma ponderação mais profunda. Noto que há certa contradição no conceito da alma pregado pela Seicho-No-Ie. É de conhecimento geral que o budismo prega que os mundos do passado, presente e o futuro estão ligados pela lei da causalidade e que as consequências dos carmas desta vida podem aparecer durante esta vida, ou durante a próxima, ou durante a vida posterior à próxima. Observando também o fato de encontrarmos nas escrituras budistas passagens que fazem referência a entes espirituais, não creio que o budismo negue categoricamente a existência das almas.

Além disso, como a Seicho-No-Ie nega claramente a existência das almas fenomênicas, afirmando "o fenômeno não existe, existe apenas a Imagem Verdadeira", pode-se concluir por outro lado que está de pleno acordo com os ensinamentos de Buda, não havendo qualquer contradição. Apenas acho que a Seicho-No-Ie deu um salto maior ao fazer a distinção entre o fenômeno e a Imagem Verdadeira (Jisso), negando categoricamente a existência do fenômeno, mantendo a conotação do pensamento budista que prega o vazio, o nada, a inconstância, a negação do ego.

Desejo, contudo, receber melhores esclarecimentos acerca da seguinte questão: está correto interpretar o carma, pregado no budismo, por "alma", e a reencarnação por simples "transmigração do carma"?

No volume 6 da coleção A Verdade, expliquei sobre a questão do carma e da alma, fazendo um paralelo com a teoria budista da transmigração do carma, e peço que o leiam.

O sr. Yoshio Muramatsu é um adepto bastante antigo, e noto, através desta carta, que ele tem uma compreensão profunda dos ensinamentos, visto que, está admitindo a alma fenomênica, embora originalmente fosse partidário da não existência da alma.

Se o budismo fosse uma doutrina que simplesmente nega a existência da alma, não pertenceria ele a seita Jodo-shinshu que ensina "Pronunciando constantemente o nome de Amida Buda, a alma da pessoa irá, após a morte, para o paraíso". E os sacerdotes dessa seita que oram pela tranquilização da alma e recebem donativos lendo sutra aos mortos, estariam praticando fraude.

E, se não existisse a alma que renasce, a história de Amida Buda – que na encarnação anterior, quando era Bodhisatva Hozo, fez 48 promessas e efetuou treinamentos espirituais durante longos e longos anos, alcançando finalmente a iluminação, tornando-se Amida Buda que estabeleceu o paraíso do leste – seria um conto de fadas, e não uma Verdade que salva.

Se não existisse a individualidade substancial, quem teria passado por treinamentos durante longos e longos anos? Se não existisse o eu que se adestra, havendo apenas o carma, o treinamento espiritual, que vai se transmigrando, seria semelhante a um veículo que corre sozinho, sem motorista nem passageiros. Estaria correndo sem objetivo definido e jamais chegaria a algum fim.

Se o treinamento espiritual efetuado durante um tempo infinitamente longo fosse efetuado sem a presença do motorista (a individualidade substancial), portanto, sem objetivo definido, não haveria coerência nas práticas realizadas e, naturalmente, o objetivo de consumar as 48 promessas não seria atingido. Fica, então, evidente que existiu a personalidade de Amida Buda (a individualidade substancial que, após deixar um corpo carnal, reencarna em outro) que utilizou inúmeros adestramentos para chegar a um objetivo coerente e que colheu os seus méritos.

Se Amida Buda não possuísse essa personalidade, os adeptos da seita Jodo-shishu estariam pronunciando o nome de Amida Buda com que objetivo? O budismo, portanto, não é absolutamente uma doutrina que nega a existência da alma. Entretanto, na Índia da época em que surgiu Sakyamuni, proliferava o bramanismo, cuja doutrina prega: "Brahma, o Deus onipotente, criou o mundo a seu bel-prazer". Sakyamuni, porém, negou isso dizendo: "Não existe tal Deus criador que construiu o céu e a terra com a Sua força onipotente". Ele não aceitou a ideia de que Deus criador construiu algo usando ingredientes materiais como um ceramista que produz um objeto de cerâmica, e não negou a existência da mente que dá origem a tudo.

"Mugoku no tai" (Substância Real ou Eu Verdadeiro)

Shohô-muga, shogyô-mujô, nehan-jyakujô – são os três tópicos do darma no budismo hinayana (pequeno veículo). "Shohô" significa diversos fenômenos, e "muga" significa inexistência do eu. No mundo fenomênico inexiste o eu substancial porque é um mundo semelhante a um filme, cujos personagens, por exemplo, Helena de Tróia, são simplesmente sombra, não tendo personalidade viva. As pessoas do mundo fenomênico podem ser comparadas aos personagens da tela de um televisor: só "existem" enquanto estão aparecendo na tela, e deixam de existir quando sua imagens desaparecem.

Entretanto, no outro lado do televisor estão o apresentador e os atores em carne e osso. De modo similar, o mundo fenomênico é inconstante e nele não existe o eu substancial. Por trás do fenômeno é que existe o eu absolutamente sublime. Referindo-se a isso o budismo ensina que, quando nascermos no paraíso, adquiriremos o mugoku no tai. "Goku" significa limites fenomênicos. "Mugoku", portanto, significa ausência de limites fenomênicos. Então, conclui-se que "mugoku no tai" é a substância (corpo real) que transcende todas as limitações fenomênicas, ou seja, o Eu verdadeiro, o Buda. O mundo fenomênico é uma "projeção", e seria natural que um personagem projetado não possua individualidade substancial. O personagem parece estar se movimentando, mas, assim como as imagens do cinema ou da televisão, não passa de alternância de luzes e sombras.

No mundo fenomênico não existe a individualidade substancial, mas não significa que ela não exista também no homem da Imagem Verdadeira. Quando nos referimos ao homem fenomênico, pregamos que inexiste o eu, mas, quando nos referimos ao homem da Imagem Verdadeira, pregamos a existência do Eu perene, feliz e puro. Na Sutra do Nirvana consta "Existe o eu nas 25 existências ilusórias e essa é a imagem do Iluminado". Por "imagem do Iluminado" entende-se a natureza búdica que se manifesta do Iluminado. As 25 existências ilusórias fazem parte do mundo fenomênico onde reencarnamos (mundo da existência temporária), e podem ser classificadas a grosso modo em seis caminhos que, em divisões mais detalhadas, chega-se ao número 25. A pergunta "Existe o Eu nas 25 existências ilusórias?" significa "Existe o eu (individualidade substancial) nas 25 categorias do mundo das reencarnações?"

O que reencarna é "sombra", e nela não existe personalidade viva, mas, se há projeção da sombra, significa que existe a substância. É o mesmo que não existir personalidade viva nos personagens projetados na tela do cinema, mas, para que a imagem seja projetada, é preciso existir antes o ator com personalidade. Essa substância que está por trás da imagem projetada é a imagem do Iluminado, a natureza búdica, o Eu verdadeiro. Esse Eu verdadeiro é o mugoku no tai (a substância, o corpo real, que transcende todas as limitações) e não reencarna, mas o homem, que é sua sombra, reencarna.

É o mesmo que ocorre com um ator de cinema. Nos filmes em que ele participa, chora, grita, mata, é assassinado, e assim nasce e morre inúmeras vezes, mas o ator em si não morreu nem renasceu. O ator não nasce nem morre, mas nos filmes repete o nascer e o morrer. De modo semelhante, o homem verdadeiro não nasce nem morre, mas no mundo fenomênico repete o nascer e o morrer. Portanto, a alma que repete o nascer e o morrer, é a alma de existência temporária que assim aparece, que nasce sem nascer, que morre sem morrer, que reencarna sem reencarnar. Pode-se afirmar categoricamente que isso inexiste (o fenômeno é inexistente), como também pode-se dizer que "transmigra com o carma", segundo consta na Sutra Vimalakirti, explicando sobre o mecanismo que parece estar transmigrando.

Carma é ação, é uma conduta. Cito novamente o exemplo do cinema, mas o filme é projetado na tela porque houve trabalho – a ação do diretor, do cinegrafista, do técnico de gravação sonora, do iluminador, dos atores, etc. Pode-se afirmar que o carma transmigra e que ocorre isso porque, por trás disso, existe uma substancia que tem consciência do seu objetivo, ou seja, o espírito, e pode-se dizer que a alma reencarna. A alma, no entanto, não é o corpo real verdadeiro (natureza búdica), e sim o espírito que carrega um corpo feito de vibrações, resultante dos carmas. Sendo assim, pode-se dizer que reencarna sem reencarnar.


sábado, fevereiro 24, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 7/11

- Masaharu Taniguchi - 


A ESSÊNCIA DA FILOSIFIA DO JISSO

A Filosofia da Seicho-No-Ie

Pergunta - Segundo me consta, a filosofia da Seicho-No-Ie é espiritualista, mas é considerada assim porque prega que o mundo objetivo é produto da mente?

Resposta - Se dividisse a filosofia em duas grandes correntes, a materialista e a espiritualista, a Seicho-No-Ie pertenceria à corrente espiritualista, porém, a rigor, seria mais correto dizer que é a filosofia Yuishin-Jisso-ron.

Pergunta - Na história da filosofia não há nenhuma referência à respeito dessa filosofia.

Resposta - Sem dúvida, pois a filosofia Yuishin-Jisso-ron não foi baseada em nenhuma filosofia existente até hoje. É uma filosofia que a Seicho-No-Ie passou a preconizar pela primeira vez.

Pergunta - E como é essa filosofia? Gostaria que nos explicasse de modo simples e compreensível.


Resposta - Tudo que existe é expressão de Deus, da Vida, do Amor e da Sabedoria divinos e, sendo Deus o Bem absoluto, só existe o Bem. Essa filosofia, portanto, afirma que essa é a Imagem Verdadeira de tudo que existe. É uma filosofia positivista. Quando passamos a viver segundo esse conceito de vida, a perfeição da Imagem Verdadeira (Jisso) se projeta no mundo fenomênico e se manifesta aqui um mundo feliz.

Pergunta - Então, por que razão existe o mal? Ou seja, a guerra, a epidemia, a morte, a pobreza, etc.?

Resposta - A filosofia Yuishin-Jisso-ron prega que esses fenômenos maléficos não existem originalmente, que são meras ilusões. Diz que existem apenas Deus e os fenômenos benéficos, que são expressões de Deus.

Pergunta - Então, como se explica o fato de sentirmos que existem esses fenômenos maléficos originalmente inexistentes?

Resposta - Os fenômenos originalmente inexistentes aparecem de acordo com a lei da concretização do pensamento, ou seja, quando a nossa mente pensa nos fenômenos maléficos, eles se manifestam.

Pergunta - Quer dizer que existem fenômenos maléficos porque a nossa mente pensa nisso. Falando de modo concreto, que seria isso?

Resposta - Por exemplo, pensamos na guerra. A União Soviética procura se equipar com armas nucleares, pensando que um dia poderá ser invadida pelos Estados Unidos, porque eles são uma nação imperialista dotada de enormes recursos materiais e armas científicas. E os Estados Unidos pensam que devem reforçar seu armamento nuclear e desenvolver mísseis para impedir que a União Soviética domine o mundo através do comunismo. Esses pensamentos se concretizam (manifestam-se em forma) e são criados armamentos assustadores. A fabricação de tantas armas faz com que a mente humana fique tentada a utilizá-las. E acabam deflagrando guerras. Em conclusão, o pensamento da Unesco – a guerra se inicia na mente – é igual ao nosso.

Pergunta - Mesmo considerando que a guerra se inicia na mente, uma guerra que está sendo travada existe de fato, não é?

Resposta - Ela existe como uma manifestação ou projeção da nossa mente. Entretanto, não é uma Realidade. Considera-se Realidade aquilo que existe verdadeiramente, aquilo que foi criado por Deus, o que existe de modo firme e inabalável, que não desaparece ou se manifesta conforme os pensamentos do homem. As guerras, porém, desaparecerão a qualquer momento se os homens deixarem de alimentar ódio contra os semelhantes, de ter apegos materiais e, assim, decidirem parar de guerrear. Aquilo que pode ser modificado com a atuação da mente humana é projeção da mente, e não a Realidade. Nada mais é que fenômeno.


Realidade e existência

Pergunta - Apesar de o fenômeno ser projeção da mente humana, ele existe, não?

Resposta - Tanto pode existir quanto inexistir, dependendo do modo de definir a palavra existir.

Pergunta - Creio que não há outro modo de comprovar a existência a não ser sentindo-a com os nossos sentidos. O que a nossa vida apreende através dos sentidos existe.

Resposta - Exatamente. Porém, essa existência não é Realidade. Realidade é chamada de Reality ou Being em inglês, mas parece que está sendo traduzida como existenceExistence não é existência verdadeira, não é Realidade. Apenas se apresenta como tal quando a sentimos por intermédio dos sentidos. Pode ser comparada aos personagens de um filme. A filosofia Yuishin-Jisso-ron não diz que existe aquilo que percebemos por intermédio dos nossos sentidos. Diz que está manifestado em decorrência de alguma relatividade. A Realidade, isto é, aquilo que existe verdadeiramente, está além dos cinco sentidos.

Pergunta - Como se conscientiza a existência de algo que não pode ser sentido através dos órgãos sensoriais? Será que é pelo sexto sentido?

Resposta - Na Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade consta "O Deus da Criação transcende os cinco sentidos e também o sexto sentido". Deus e a Realidade criada por Ele transcendem os cinco sentidos e também o sexto sentido.

Pergunta - Os cinco sentidos e os cinco órgãos sensoriais são iguais?

Resposta - Os cinco órgãos sensoriais são os órgãos da visão, da audição, do olfato, da gustação e do tato. Aquilo que se percebe por intermédio desses cinco órgãos chama-se cinco sentidos. Deus e as existências criadas por Ele, ou seja, a Realidade, não podem ser captados pelos cinco sentidos que são as funções dos órgãos sensoriais.

Pergunta -  Se não pode ser captada pelos cinco sentidos, através do que apreenderemos a Realidade?

Resposta - Não é através de algo. Apreendemos a Realidade sem intermediário algum. Isso é extremamente importante. Aquilo que pode ser captado por intermédio dos órgãos sensoriais não é a coisa como ela é. Nada mais é que reconhecimento relativo que assim aparece quando percebido por meio desse órgão sensorial. Se captado por meio de outro órgão sensorial, pode aparecer de outro modo.

Por hipótese, está aqui uma bela senhora. Se seu marido não for um cego, percebe que sua mulher é bela por meio do órgão da visão. Entretanto, se ele for um deficiente visual, apalpará com as mãos os rosto da esposa e tirará conclusões acerca da sua beleza ou feiura através do tato. O rosto que um marido cego sente tem uma representação totalmente diferente do rosto que é visto por quem enxerga. E se esse marido tiver perdido os dois braços e a visão na guerra, não conseguirá ver nem tatear com as mãos o rosto da esposa. Se, assim, apenas puder ouvir a voz dela, a esposa será uma voz para ele. O rosto, porém, não é uma existência com saliências sentida pelo cego, nem a voz. O rosto que um marido normal vê com os olhos parece ser a esposa, mas não passa de representação manifestada no âmbito dos sentidos. O rosto captado pelo órgão da visão não é a esposa em si, assim como as saliências e a voz sentida pelo cego. Desse modo, os cinco sentidos não conseguem ver a esposa em si.

Para que possamos ver a Imagem Verdadeira daquilo que existe, ou seja, da Realidade, temos de tirar os "óculos" chamados órgãos sensoriais, retirar os cristalinos dos olhos, o globo ocular, os nervos ópticos, assim nos despirmos de tudo, tornando-nos apenas Vida, e fazer com que a nossa Vida entre em contato direto com a Vida da Realidade. Denominamos esse processo de "reconhecimento da Realidade absoluta". Não buscamos reconhecê-la por intermédio dos cinco órgãos sensoriais.


Através de que conheceremos a Realidade?

Pergunta - Se reconhecemos essa Realidade absoluta, não seria através de algum sentido, que não seja os cinco sentidos?

Resposta - Poderemos chamar esse sentido de sentido da Imagem Verdadeira. É uma apreensão direta através do contato entre a Imagem Verdadeira da nossa Vida e a Imagem Verdadeira daquilo que existe...

Pergunta - Não consigo compreender bem isso. O que é captado pelos cinco sentidos é simples projeção da mente e, pelas mudanças da mente que o capta, muda o aspecto captado pelos sentidos porque é projeção da mente. A mesma mulher é para certa pessoa uma voz, para outra saliências sentidas pelo tato, e ainda, para outra,  uma simples representação do órgão visual. Até aqui consigo acompanhar o raciocínio, mas, através de que conseguiremos saber que existe a "Imagem Verdadeira, perfeita e harmoniosa, que não adoece, não envelhece nem é ferida", além das coisas normais de percepção sensorial?

Resposta - Não há outro meio senão pela experiência. Se um nativo de uma ilha tropical perguntasse como é a neve, qual resposta você daria?

Pergunta - Será que ele compreenderia se eu dissesse que a neve é gelada como o sorvete e tem a aparência de um pó branco semelhante ao sal?

Resposta - Se der essa explicação, o nativo tirará uma conclusão bem diferente da neve em si, pois não saberá se é doce ou salgada e achará que é um misto de sorvete e sal. Se quiser sentir o que é a neve, ele deverá ir a um país onde neva e tocá-la. De modo similar, só poderemos conhecer a perfeição da Imagem Verdadeira quando tocamos diretamente a própria Imagem Verdadeira da Vida.

Poderemos dizer que estamos vestindo inúmeras "roupas" denominadas órgãos sensoriais. Despindo-as uma por uma, a Vida vai se manifestando e aproximamos da Imagem Verdadeira. Por isso, está escrito na Sutra da Sabedoria (Prajña Paramita Sutra) que alcançaremos o despertar da Imagem Verdadeira da Vida, quando a Vida em si ficar totalmente desnudada, despindo-se das cinco vestimentas – matéria, cinco sentidos, pensamento, ação efetuada pela vontade, reconhecimento das funções mentais – considerando-as nada, livrando-se dos sentidos da visão, da audição, do olfato, da gustação, do tato e até da consciência. Consta ainda que todos os budas do passado, do presente e do futuro compreendem que a Imagem Verdadeira do homem é perfeita e harmoniosa quando a Vida se conecta diretamente com a Vida, despida de todos os órgãos sensoriais.

Pergunta - Assim é o reconhecimento da Realidade absoluta? Mas como é que se sabe que Deus, a Realidade absoluta, é perfeito?

Resposta - O que é imperfeito desintegra-se e desaparece. Uma vez que Deus existe, só pode ser perfeito. Uma vez que existe o Mundo da Imagem Verdadeira, tem de ser perfeito.

Pergunta - E como é que se sabe que existe esse mundo perfeito da Imagem Verdadeira?

Resposta - Despindo-se das "roupas" denominadas cinco sentidos. Para isso pratica-se a Meditação Shinsokan, a meditação zen, a recitação do nome de Buda. Desse modo, manifesta-se um mundo desconhecido pelos cinco sentidos.

Pergunta - Tal mundo desconhecido pelos cinco sentidos, um mundo que na realidade não existe, não seria uma criação da nossa imaginação? Há alguma prova de que não é um mundo inventado pela imaginação?

Resposta - Se, ao ouvir a explicação sobre a neve, o nativo da ilha tropical contestar "Não é possível que exista a neve. É apenas uma invenção da sua imaginação", será impossível fazê-lo conhecer a neve. A neve derreterá se você a levar para uma ilha tropical. Levando-a numa geleira, ficará solidificada e perderá todo o aspecto de neve. É impossível transportar uma neve natural para o mundo onde vivem os nativos das ilhas tropicais. Do mesmo modo, o mundo da Imagem Verdadeira não pode ser transportado para o local onde estão as pessoas que vivem apenas no mundo dos sentidos, nem fazê-las compreender. Assim como é um erro dizer que a neve não existe, também é errado dizer categoricamente que não existe o mundo da Imagem Verdadeira perfeito e harmonioso.

Pergunta - Então, os nativos das ilhas tropicais não conheceriam jamais a neve?

Resposta - Não, eles podem conhecê-la, a não ser que não saiam um passo para fora da ilha onde moram. De modo similar, enquanto o homem não sair um passo sequer para fora do mundo dos sentido físicos, não poderá ver o perfeito mundo da Imagem Verdadeira. As palavras de Jesus constantes no capítulo 3 de Evangelho Segundo João, "Não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo", têm esse significado. Nós nascemos de novo ao escaparmos do mundo dos cinco sentidos.

É possível mostrar a neve aos nativos das ilhas tropicais. Basta fazê-los sair dessas ilhas e levá-los a um país onde existe neve. As ilhas tropicais seriam o mundo dos cinco sentidos. Por esse motivo, mentalizamos "Neste momento, deixo o mundo dos cinco sentidos e entro no mundo da Imagem Verdadeira" e, atingindo o estado mental de dissipação dos cinco sentidos, procuramos entrar em contato direto com o mundo da Imagem Verdadeira.

Pergunta - Então, conclui-se que não há outro meio de conhecermos o mundo da Imagem Verdadeira senão praticando seriamente a Meditação Shinsokan?

Resposta - Sim, pratiquem a Meditação Shinsokan com seriedade.


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quarta-feira, fevereiro 21, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 6/11

- Masaharu Taniguchi -


A PRÁTICA DO ASCETISMO, MEDITAÇÃO E DA ILUMINAÇÃO

A prática do jejum

Apresentador - Gostaria que o senhor nos ensinasse mais detalhadamente sobre a relação entre a prática do jejum, o desenvolvimento da espiritualidade e a iluminação espiritual.

Taniguchi - O jejum e as demais práticas que mortificam o corpo contribuem para o desenvolvimento da parte espiritual da pessoa, porque a negação do corpo carnal, a negação da matéria, atua concretamente na vida prática e, assim, facilita o despertar espiritual. Pode-se afirmar isso ao observar o modo como viveu Sakyamuni. É impossível desenvolver a potencialidade espiritual satisfazendo à exaustão os desejos carnais. Ainda hoje há pessoas que se retiram numa montanha e praticam jejum, abluções, banhos na cachoeira, para assim alcançarem algum despertar. Eu também já fiquei em jejum, mas não foi por isso que despertei. Não há dúvida de que essas práticas facilitam certo tipo de despertar.

Não estou, porém, recomendando o jejum aos senhores. A Seicho-No-Ie diz que as práticas ascéticas não levam ao despertar, ou seja, que mortificar desnecessariamente o corpo não contribui para o aprimoramento espiritual. No entanto, quando se satisfaz demasiadamente o corpo carnal, a balança mental pende mais para o lado dos desejos carnais e o peso espiritual fica mais leve, dificultando o despertar.

Há, contudo, um dano causado pela prática do jejum. Em contraposição ao enfraquecimento da psique física por meio do jejum, torna-se acurada a sensibilidade espiritual. Em consequência, a pessoa poderá ser incorporada por inúmeros espíritos baixos e, no caso de não contar com um bom espírito-guia ou um anjo protetor poderoso, poderá ser ludibriada por essas almas iludidas. Constatamos isso no fato do demônio Papiyas ter se manifestado em Sakyamuni momentos antes de este alcançar a iluminação e no fato de Satanás ter tentado Jesus pouco antes de ele conscientizar que era filho de Deus. Sakyamuni e Jesus Cristo não se renderam a esses espíritos maléficos e, certos de que não eram manifestações de Deus, afastaram-nos dizendo "Vai-te, Satanás".

Se alguém se retirar numa montanha e praticar o jejum, poderá receber a influência de espíritos de categoria inferior que vagueiam pela mata, adquirindo assim a clarividência por ação de parte do sexto sentido e passar a enxergar imagens de espíritos ou uma parte do mundo espiritual. Há também quem comece a dizer "palavras de Deus", afirmando que obteve esse poder sobrenatural. Ocorre isso porque a pessoa adquire uma espécie de mediunidade em consequência de sua sensibilidade espiritual ter se tornado mais aguçada. Há grande perigo de se desviar do caminho, ludibriado pela orientação desses espíritos, porque esse não é um estado em que a pessoa despertou para a Verdade, conscientizando-se da natureza divina da Imagem Verdadeira. Portanto, é melhor que não se retirem para as montanhas para praticar ascetismo.

Deus é onipresente e não há necessidade de ir para as montanhas. O melhor para alcançar o despertar é praticar a Meditação Shinsokan.


A Meditação Shinsokan

Apresentador - Dizem que para praticar a Meditação Shinsokan é muito importante tomar a postura física correta, mas, se a postura mental estiver correta, a pessoa não poderia praticá-la mesmo deitada?

Taniguchi - A postura física influencia a postura mental e vice-versa. Mesmo o aparelho de rádio não capta uma onda se mudarmos um pouco a posição do condensador variável, que é um dispositivo circular de metal que fica dentro do rádio, em local invisível. A pessoa não deve negligenciar a postura só porque sente um pouco de dor nos pés. Ao praticar a Meditação Shinsokan, é preciso ficar em postura realmente correta.

Há pessoas que, ao praticar a Meditação Shinsokan, atingem o despertar rapidamente, enquanto outras demoram. Isso é inevitável porque depende do grau de desenvolvimento espiritual de cada pessoa. Em todo ser humano está alojado o Espírito de Deus, mas cada um partiu em diferentes momentos e, mesmo que a alma da pessoa esteja com o seu desenvolvimento atrasado, não significa que seja de categoria inferior. Apenas nasceu mais tarde de Deus. Há espíritos adestrados porque renasceram inúmeras vezes, enquanto outros renasceram poucas vezes neste mundo. É natural que estes demorem mais para atingir o despertar do que aqueles.

Entretanto, dificilmente alguém consegue alcançar o derradeiro despertar. Ninguém consegue atingir o último despertar, supremo e perfeito, porque este é um mundo de evolução infinito. Significa que, por mais que a pessoa evolua, ainda resta um longo caminho pela frente. Se alguém pensar "Já sou iluminado. Já atingi o último despertar. Sou o mais erudito dos homens", significa apenas que se tornou presunçoso.

Há diversos níveis de despertar. E se, lendo livros e ouvindo palestras, a pessoa compreender, mesmo que apenas intelectualmente, que sua natureza real é Deus, significa que a Imagem Verdadeira – Deus – já se manifestou de alguma forma nessa pessoa. Por isso, sente "Sim, Deus existe, minha vida veio de Deus, e compreendo isso racionalmente", sem se antipatizar com o teísmo. Consegue aceitar isso porque a sua Imagem Verdadeira já se manifestou até esse grau. Se, porém, houver quem pense "Que idiotice! Tudo que prega a existência de Deus é crendice", a Imagem Verdadeira dessa pessoa ainda não se manifestou. Muita gente pensa assim. Ainda que seja um intelectual do naipe de professor universitário, se ele não admite a existência de Deus, ainda não manifestou a sua Imagem Verdadeira até o devido grau. Significa, portanto, que espiritualmente ainda está em nível inferior.

Mesmo que a pessoa compreenda intelectualmente a existência de Deus, ainda não atingiu, logicamente, o último estágio do despertar, apesar de a Imagem Verdadeira ter se manifestado até certo grau. Se tal pessoa praticar a Meditação Shinsokan, ler livros da Verdade, irá adquirindo progressivamente a convicção "Sou filho de Deus" e chegará o dia em que sentirá um inefável êxtase e uma alegria incontida.

Mesmo assim, não atingiu o último estágio do despertar. No entanto, ao adquirir essa convicção, sentimental e emocionalmente, atingiu um estado mental bem mais elevado do que aquele em que compreendeu a Verdade apenas racionalmente. Portanto, a Imagem Verdadeira se manifestou até um grau superior. É impossível expressar em palavras esse estado mental mais elevado. A seita zen-budista prega que, não sendo possível explicar sobre o despertar por meio de palavras escritas e faladas, deve-se "Ouvir a voz silenciosa" e "Sentar-se e meditar". O mestre Dogen também disse: "Sente-se e medite com toda a seriedade".


A apreensão prática do despertar

Há, no entanto, casos de pessoas que não entenderam a Verdade praticando a meditação zen durante vinte anos, mas a entenderam quando praticaram a Meditação Shinsokan. Não estou falando da superioridade ou não da Meditação Shinsokan em relação à zen, pois diferem os efeitos conforme o ensejo. Tanto a Meditação Shinsokan como a zen, levam ao despertar, porém, não ao derradeiro, pois até mesmo o mestre Hakuin disse que alcançou dezoito grandes despertares e infinitos pequenos despertares. Quando ele sentia que atingira o último grande despertar, percebia que fora apenas um estágio; quando achava que agora era o despertar absoluto, ainda era um estágio; e assim teve dezoito grandes despertares. Se alguém pensar que já chegou ao último estágio, não terá crescimento infinito.

Sendo assim, devemos ainda nos adestrar muito mais. A Verdade deve ser apreendida primeiro racionalmente, depois emocionalmente e posteriormente na prática. A caridade leva à apreensão prática da Verdade. Quando dedicamos amor ao próximo, sentimos a alegria de sermos filhos de Deus e a verdadeira razão de ser. Assim é a apreensão prática da Verdade. A apreensão pela ação não se restringe ao emocional nem ao racional. É uma compreensão mais concreta e significa atingir um estágio mais elevado do despertar.

Conclui-se, assim, que sentirmos a alegria do despertar verdadeiramente duradouro quando lermos livros da Verdade, praticarmos realmente a Meditação Shinsokan, atingirmos desse modo o despertar em nível sentimental e emocional e depois participarmos de um movimento concreto para salvar o próximo. Limitar-se a atingir o despertar apenas praticando a meditação zen ou Shinsokan é em certo sentido uma prática de egoísmo. Mesmo que alguém se sinta bem com esse despertar, mesmo que fique inebriado com a meditação zen ou sinta um júbilo divino com a prática da Meditação Shinsokan, essa alegria é apenas individual, restrita, pois está dissociada do desejo de salvar os outros. Não se deve ficar estacionado nesse estágio.


Não se deve praticar arbitrariamente a caridade

Não se deve pensar que basta salvar o outro. São inúmeros os casos de pessoas que pensam estar salvando o próximo, mas que na verdade estão prejudicando-o. Muitas pessoas incomodam os outros, pensando que estão lhes fazendo o bem. Ocorre isso porque praticam caridade com raciocínio egoístico. Desejam com o seu ego praticar uma bondade a alguém, mas agindo de modo errado impedem o crescimento da pessoa.

A pessoa pode ser salva temporariamente por receber algum dinheiro, mas isso pode contribuir para que ela deixe de se esforçar. Ou, então, podemos advertir o outro apontando-lhe o seu defeito, certos de que assim ele se corrigirá, mas isso poderá piorá-lo, fazendo com que ele fique sugestionado com a ideia de que é um sujeito imprestável, ao se conscientizar desse defeito.

Desse modo, a prática da caridade pode se tornar um ato arbitrário. A pessoa poderá estar pensando "Estou ajudando o próximo" e, na realidade, não estar ajudando ninguém, ou pior, estar prejudicando-o. É importante realizar a Meditação, unir-se e praticar a caridade com a Sabedoria que vem dEle.

Conclui-se, assim, que a apreensão de Deus se torna cada vez mais sólida quando a pessoa lê livros da Verdade, faz a Meditação Shinsokan, depois pratica a caridade, executando sempre, concreta e simultaneamente, essas três práticas. Bem, encerro este assunto por aqui.


domingo, fevereiro 18, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 5/11

- Masaharu Taniguchi -


A "MORTE" DA VIDA ETERNA

O verdadeiro significado da "morte"

Consta no Gênesis, Antigo Testamento da Bíblia, que Deus colocou Adão e Eva no jardim do Éden, o paraíso de infintas provisões e de infinitas delícias, e disse-lhes: "Podem usufruir à vontade de todas as coisas boas do jardim do Éden, mas não devem comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Se comerem, morrerão" (morrerás indubitavelmente).

Aparece aqui, pela primeira vez, a palavra morte na Bíblia. São Paulo disse: "O preço do pecado é a morte", mas a morte citada na Bíblia não diz respeito à morte do corpo carnal, nem ao desligamento da alma do corpo carnal. Diz respeito ao homem desligar-se de Deus que é a fonte de toda felicidade e da Vida eterna.


O verdadeiro significado da felicidade

A palavra felicidade na língua japonesa é sawai. A origem etimológica dessa palavra é sakihae, que significa primeira manifestação. É uma palavra criada intuitivamente pelo povo da Antiguidade, que significa ser a verdadeira felicidade do homem aquilo que se manifestou primeiro da fonte chamada Deus.

Não obstante Deus tenha advertido Adão e Eva que "se comerem do fruto da ciência do bem e do mal morrerão indubitavelmente", eles comeram desse fruto, mas não morreram. Há quem interprete essa passagem dizendo que Deus mentiu usando de um expediente, mas Ele não mentiu. A palavra morte, nesse caso, significa desligamento do paraíso eterno, da Vida eterna e da felicidade eterna. E, de fato, Adão e Eva foram expulsos para o leste do jardim do Éden, sendo desligados da felicidade eterna, e passaram a "dar a luz com dor os filhos e tirar o sustento com o sofrimento".


Que é pecado?

A palavra tsumi (pecado) originou-se de tsutsumi (encobrir, ocultar). Então, significa que, quando o homem desligou-se de Deus, ocultando a sua natureza divina, cometeu pecado. Comete-se pecado quando a pessoa se desliga da fonte da Vida, de Deus, ou seja, ela morre. Por isso dizem que o pecado traz a morte, ou que o preço do pecado é a morte.


Como passar da morte para a Vida

Jesus disse: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não incorre na sentença da condenação, mas passou da morte para a vida".

Disse "Aquele que me enviou", referindo-se a Deus. Ao estabelecer um vínculo com Deus, o homem se ligará à Vida eterna de Deus, adquirirá a vida eterna e não morrerá. Logicamente isso se refere à eternidade da Vida, e não à eterna continuidade do corpo carnal. O corpo carnal não é o homem verdadeiro, nada mais sendo que instrumento para realizar a missão durante sua permanência na Terra. Terminado o período de realização da missão, a Vida interior deixará de efetuar a restauração desse instrumento (corpo carnal) e, assim, o corpo irá se desgastando, manifestará doença e o homem se desligará dele. A seguir, começará a decomposição química do instrumento chamado corpo carnal, mas o homem não se decompõe. Ocorre o que Jesus disse: "Quem crê naquele que me enviou, tem a vida eterna... e passa da morte para a vida".


O que acontece com a alma após a aniquilação do corpo carnal

Certas ramificações do cristianismo acreditam que, após separar-se do corpo carnal, a alma permanece adormecida no mundo espiritual até a segunda vinda de Jesus Cristo. Entretanto, não há na Bíblia nada que leve a essa conclusão. A interrupção do despertar da alma é uma espécie de morte. Segundo recentes pesquisas parapsicológicas, almas inferiores (que não compreenderam suficientemente a Verdade) permanecem, após se separarem do corpo carnal, em estado de coma profundo, ou seja, no estado de morte temporária. Em contraposição, as almas superiores (almas que compreenderam a Verdade da imortalidade do homem, porque nele habita Deus) não sofrem morte temporária (estado de coma profundo) e, ao expirar, deixam o corpo e passam desta vida para outra. Referindo-se a isso, Cristo afirmou: "Quem crê naquele que me enviou tem a vida eterna... e passa da morte para a vida".

Essa interpretação coincide com as conclusões das recentes pesquisas parapsicológicas. A compreensão será melhor se ampliarmos a citação de Cristo: "Quem crê que aquele que me enviou (Deus) mora dentro de si, tem a vida eterna...". Desse modo torna-se possível aceitar racionalmente a razão por que só teremos a vida eterna quando nos conscientizarmos de que Deus habitou em nós e se tornou nossa Vida, assim como disse Jesus: "O Pai do céu que habita em mim realiza essas obras". Não teremos a vida eterna simplesmente acreditando em Jesus Cristo ou no Pai do céu.

Não significa, portanto, que todas as pessoas que se consideram cristãs serão salvas. É necessário saber de modo verdadeiramente correto o que Jesus ensinou para nós. E a Seicho-No-Ie nos elucida isso corretamente. O próprio Jesus Cristo disse "Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor,  entra no reino de Deus", e não ensinou que apenas acreditando em Cristo serão alvos.

Para obter a salvação, é preciso que o homem conscientize verdadeiramente que aquele que me enviou, ou seja, Deus, mora em seu interior.


A causa da expulsão do paraíso

Diz-se que o homem se desligou da fonte da vida eterna chamada Deus e foi expulso do paraíso porque, enganados pela serpente, Adão e Eva comeram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, sendo esse o pecado original de Adão, ou seja, da humanidade. Diz-se "fruto da sabedoria" (Nota: versão em japonês do fruto da ciência do bem e do mal), mas não se refere à Sabedoria de Deus. Refere-se à sabedoria baseada no apego à matéria, considerando-a existente tal qual se apresenta, através da percepção dos cinco sentidos – visão, audição, olfato, gustação e tato.

Por exemplo, quando vemos o corpo carnal como um símbolo do Espírito, como instrumento destinado à percepção do valor espiritual, conscientes desse significado espiritual, temos em relação a ele apenas a sensação do belo, a sensação do sublime. Entretanto, se o vemos como corpo carnal material, ele se transforma em objeto do prazer sensorial, do jogo sexual, dando-nos a sensação de baixeza e de obscenidade. Esse é o primeiro ocultamento da natureza divina do homem da Imagem Verdadeira, o tsutsumi (pecado): considerar o corpo carnal como existência real.

Foi instituída, há algum tempo, a lei que reprime a prostituição. Mas o que gera atitudes ignóbeis como as da prostituição é a visão materialística do corpo humano. Enquanto considerarem o corpo carnal uma matéria, por mais que tentem reprimir a prostituição, não o conseguirão. E, enquanto as autoridades discutiam sobre a instituição da lei de repressão à prostituição, os jornais noticiaram que as prostitutas de certa região formaram um sindicato e, contrariando a intenção do governo e do partido socialista de acabar com a prostituição, reivindicaram a continuidade dessa profissão, alegando não terem outra alternativa de sobrevivência a não ser vendendo o próprio corpo.

Como se vê, enquanto considerarem o homem um corpo material, desaparecerá a sensação do belo, do sublime, que se tem ao considerá-lo expressão da natureza divina, e ele se tornará objeto de satisfação do prazer sensorial, provocando a sensação de imoralidade da nudez do corpo humano. Referindo-se a isso, a Bíblia diz que, após comer do fruto da ciência do bem e do mal, Adão sentiu vergonha da sua nudez e, ao saber que Deus se aproximava, coseu folhas de figueira para esconder seu corpo.

Consta também que Deus expulsou Adão e Eva do paraíso porque, desde que eles comeram do fruto da ciência do bem e do mal, passaram a ver o homem uma simples existência carnal e material, não podendo mais morar no "reino da Vida eterna" (Jardim do Éden). Assim está narrada a causa do desligamento do homem do "reino da Vida eterna".


O pecado original de Adão

Após expulsar o homem do "reino da Vida eterna", Deus deu a Eva (representante feminina da humanidade) a seguinte sentença: "Multiplicarei os teus trabalhos, e (especialmente os de) teus partos. Darás à luz com dor os filhos, e estarás sob o poder do marido, e ele te dominará".

Não devemos considerar isso um castigo divino, pensando que Deus puniu o homem e condenou eternamente a humanidade só porque um ancestral desobedeceu suas ordens. Isso não foi um castigo divino, e sim um fenômeno que ocorre por ação da Lei da Natureza quando o homem, enganado pelos cinco sentidos (serpente), passa a se considerar um simples corpo material. Ou melhor, para o bebê passar pela estreita saída do útero materno, há uma excessiva pressão física e, uma vez que o corpo humano seja considerado mera existência material, haverá limitação na abertura dessa saída e consequentes dificuldades e dores no parto. Entretanto, o corpo humano não é uma simples existência material e, para a gestante que acredita nessa Verdade, o canal por onde sai o bebê aumentará livremente de diâmetro de acordo com a necessidade, ou então, no caso de ser inconveniente o bebê permanecer no ventre até a data prevista para o nascimento, ocorrerá naturalmente um parto pré-maturo, de modo que jamais a parturiente sofra.

Ultimamente, as mulheres estão reivindicando intensamente a ampliação dos seus direitos, porém, enquanto considerarem o ser humano um corpo material, a mulher, que tem um corpo belo visualmente e agradável ao tato, continuará sendo objeto do prazer visual dos espectadores de strip-tease e do prase sensorial dos frequentadores de bordéis. E, no caso de a própria mulher não ter conscientização da sua natureza divina e espiritual, procurará por si mesma vender seu corpo para receber proteção do homem, oferecendo-lhe divertimento. Assim, a própria mulher torna-se objeto de prazer do homem e não se livra do domínio dele, exatamente como diz a Bíblia: "... o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará". Portanto, para restabelecer realmente os direitos da mulher, é preciso abandonar o conceito materialístico a respeito do ser humano, passando a acreditar que é um ser espiritual, sem ver o corpo carnal como mera matéria, e sim como templo de Deus ou expressão do ser espiritual, assim se conscientizando e levando os outros a se conscientizarem da sua dignidade.


De onde vem a paz verdadeira

Enquanto o homem acreditar que é um corpo material, a sua vida na Terra será de sofrimentos, segundo consta na Bíblia: "E disse a Adão: Porque destes ouvidos à voz de tua mulher, e comestes da árvore, de que eu te tinha ordenado que não comesses, a terra será maldita por tua causa; tirarás dela o sustento com trabalhos penosos todos os dias da tua vida" (Gênesis 3: 17)

O confronto entre EUA e URSS também nasceu do medo infundado de serem atacados, por terem a visão materialística do homem e, em consequência, não se respeitarem como filhos de Deus, irmãos espirituais, usurpando um ao outro. Realmente, a vida terrena está amaldiçoada. Está ocorrendo o que consta na Bíblia: "a terra será maldita por tua causa".

Que acontecerá a esse homem material que foi enganado pela sabedoria da serpente? Prosseguindo, assim disse Deus a Adão: "Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de que foste tomado; porque tu és pó, e em pós te hás de tornar".

Como se vê, não será garantida a Vida eterna a quem pensa equivocadamente que o corpo material seja o próprio homem. Sendo ele pó (matéria), com a morte do corpo carnal retornará ao pó (matéria). Portanto, só há um caminho para salvar a humanidade e fazer com que os homens tenham a Vida eterna: ensinar a toda a humanidade que a Imagem Verdadeira do ser humano é filho de Deus, um ser espiritual.


quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 4/11

- Masaharu Taniguchi - 


ESTADO MENTAL INABALÁVEL

O apego abre brechas na mente

Há mulheres que são seduzidas pelos homens, porque elas tinham em suas mentes o desejo de serem seduzidas. Foram movidas pelo desejo passional, pela ilusão, que abre na mente da pessoa uma brecha por onde entra o demônio.

Reiko, a personagem do romance Ueru Tamashii (Alma faminta) publicado no jornal Nippon Keizai, foi seduzida pelo jovem Tachibana. Nesse romance, também, aparentemente, o rapaz seduziu a mulher, no entanto, consta que Reiko, casada sem amor com um homem bem mais velho, vivia insatisfeita com o casamento e sentia o desejo de ser seduzida.

Nas questões amorosas entre homem e mulher, nem sempre a culpa recai apenas no lado masculino. Na mente da mulher há uma brecha, o sentimento que busca satisfação sexual, e isso seduz o homem. Sempre o demônio penetra por uma brecha chamada desejo passional, que é um sentimento de apego.

Escrevi outrora a história de Cristo em forma de drama teatral e descrevi a cena em que Satanás tenta Jesus, do seguinte modo: "O homem bom apega-se ao bem, e nessa brecha entra Satanás. O homem mau apega-se aos desejos egoísticos, e nessa brecha entra Satanás". (A Verdade da Vidavol. 31)

Todo tipo de apego abre uma brecha para a entrada de Satanás. Se quisermos eliminar da nossa vida qualquer brecha, devemos abandonar todo e qualquer apego.

Quando nos desligamos totalmente do mundo dominado pelo tempo e pelo espaço, ou seja, do mundo fenomênico, entramos num mundo onde não existe tempo nem espaço, e desaparecem todas as brechas.

A brecha existe quando estamos no mundo de tempo e espaço, mas, se estamos no mundo sem tempo e sem espaço, já não existe brecha alguma. Devemos anular o ego e ficarmos com a mente totalmente despreocupada, mas isso não significa que devemos agir como indolentes ou idiotas. Significa não segurarmos nada, voltarmos ao nosso estado natural. Devemos estar prontos para o que der e vier, mas sem assumirmos a postura de defesa ou de ataque, a exemplo do que fez o famoso espadachim Musashi Miyamoto. Ele assumia sempre uma postura livre, que lhe dava a possibilidade de se movimentar para todas as direções a qualquer momento, não deixando brecha alguma para o inimigo.

Apegar-se ao bem, achando que está correto; apegar-se a uma religião; apegar-se ao nada, ao saber que tudo vem do nada; apegar-se aos bens materiais; apegar-se ao amor conjugal, porque é necessário que haja amor entre homem e mulher – se desse modo ficar apegado a algo do mundo fenomênico, você estará abrindo uma brecha. Para fechar essa brecha é preciso que abandone tudo. Contudo, caso se apegue a essa necessidade de abandonar, abrirá imediatamente uma brecha. É importante abandonar sem abandonar, segurar sem segurar.

Em geral, as religiões procuram, essencialmente, fazer com que os fiéis se desliguem de tudo que está manifestado no espaço tridimensional, para que, assim, revelem a natureza totalmente livre da Vida.


Conquistar a total liberdade, desligando-se até da necessidade de abandonar os apegos

Se nos apegarmos até à necessidade de abandonar os apegos, abriremos uma brecha para o apego e alguém nos dirá "Se abandonou tudo, faça o que eu lhe disser", podendo assim abandonarmos até a nossa dignidade.

Precisamos, portanto, nos desligarmos até da necessidade de abandonar os apegos. Se, desse modo, voltarmos ao nada absoluto, onde até o nada inexiste, não haverá nenhuma brecha em nossa vida e, vivendo normalmente como se nada tivéssemos abandonado, levaremos uma vida sem qualquer falha nem descuido.

Por isso, o verdadeiro modo de viver preconizado pela Seicho-No-Ie não é diferente da vida de outras pessoas. Quando abandonamos até a necessidade de abandonar, continuamos vivendo normalmente uma vida sem qualquer brecha.


Religião que faz o fiel saltar, sem titubear, de um penhasco

Antes da Segunda Guerra Mundial, havia um espiritualista chamado Kunbi Watanabe que fundou a religião Tenge. A sede central dessa entidade religiosa estava situada na região de Yokohama e administrava a Tenge Yoko, uma rede de revendas de calçados de sola de borracha. Um adepto da Seicho-No-Ie, proprietário de uma loja revendedora desses calçados, contou-me que os ensinamentos dessa religião eram admiráveis.

Também o sr. Yoshitaka Nomura, já falecido, que procedia de uma família zen-budista e foi preletor da Seicho-No-Ie havia recebido os ensinamentos do mestre Kunbi Watanabe e me contou diversos casos a respeito da força espiritual dele. O sr. Nomura me disse que ficou surpreso com as obras milagrosas realizadas pelo mestre Watanabe. Eu jamais presenciei isso, mas ele realizava proezas como a de fazer o chá de uma chavena pegar fogo só com um Kiai (*Nota: Kiai é um som que se emite no auge da concentração da força mental). Aliás, tais proezas não merecem tanta admiração, pois um mágico faz isso, mas a essência de seus ensinamentos se resumia em abandonar tudo, assim como prega o budismo, o cristianismo, a Seicho-No-Ie.

Certo dia, uma jovem adepta caminhava por uma estrada das montanhas com o mestre Kunbi Watanabe. Conversavam sobre os ensinamentos, e ele perguntou à jovem:

– É preciso abandonar tudo, senão não conseguirá encontrar o caminho da Verdade. Você consegue abandonar tudo?
– Sim, abandono tudo – respondeu a jovem.

Um dos lados da estrada por onde caminhavam era um precipício muito profundo e, nesse momento, o mestre Kunbi ordenou à jovem que pulasse do penhasco. Se não conseguisse pular, significaria que não havia abandonado tudo. Se a pessoa realmente tivesse abandonado tudo para seguir o mestre, deveria pular ao receber essa ordem. Se vacilasse, ainda não teria anulado o ego. Essa jovem, de cerca de 20 anos, pulou realmente do penhasco, mas algo a agarrou suavemente. Foi um galho de árvore onde seu vestido ficou enganchado, e ela se salvou.

Não é preciso temer nada. Se você abandonar tudo, surgirá algo que o resguardará do perigo. O próprio Universo, a própria Existência, o protegerá. Para segurar algo é preciso de força, mas, para soltar, não. E, além disso, ao soltar, pode contar com a ajuda da força de Deus, e não há situação mais cômoda.


Estado mental que adentra subitamente na terra búdica

A Verdade religiosa é extremamente simples e, ao mesmo tempo, muito severa. Quando abandonamos tudo, devemos pular realmente de um penhasco como fez essa jovem. Mesmo que alguém diga que abandonou tudo, se estiver segurando algo, estará mentindo. Se entrar na água para nadar, os pés não deverão estar pisando na areia.

O caminho da Seicho-No-Ie é muito agradável, não temos necessidade de sofrer para nos aprimorarmos espiritualmente, porque não seguramos nada na mente. Abandonamos tudo e afirmamos: "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos". Isso equivale ao preceito que norteava a conduta do samurai: "O caminho de um samurai é a morte". A afirmação "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos" significa que devemos abandonar tudo que considerávamos existente. Se conscientizarmos que o corpo carnal não existe, não pensaremos em ter mais saúde nem em ser curados de doença. Simplesmente saltaremos rumo à nossa missão. Saltar não significa pular realmente do penhasco. Significa deixar para trás o penhasco chamado corpo carnal e posses materiais. Para que as pessoas possam dar esse salto, pregamos que "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos".

No âmbito da nossa convicção, a afirmação "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos" significa transcender todas as coisas do mundo fenomênico. Jogamos o nosso corpo, as nossas posses, todas as coisas fenomênicas no fundo do vale. É um estado mental vazio, onde nada existe. Alcançando esse estado de espírito, será impossível existir a doença. Mesmo que ela pareça existir, não existe de verdade. Se o corpo físico não existe, será impossível existir doença.

Entretanto, pessoas doentes desejam que alguém cure suas doenças e pedem: "Se vou me curar pulando do penhasco, pularei, mas, por favor, curem-me". Quem diz "Eu pularei, por isso, curem-me" não está pulando de verdade. Está ainda apegado ao corpo carnal e, na verdade, não quer pular e diz "Fingirei que pulei para que eu possa ser curado". Com tal estado mental a pessoa não abandonou o corpo carnal, e será difícil obter a cura.


Dar um salto, abandonando tudo

Pessoas que dizem "Não me curei na Seicho-No-Ie apesar de ter lido A Verdade da Vida" ainda não deram o salto decisivo. Não atingiram o despertar "Não existem matéria, corpo carnal, nem este fenômeno!!".

É um grande erro pensar que a afirmação "Não existem corpo carnal nem matéria" seja apenas uma filosofia de vida da Seicho-No-Ie e que nada tem a ver com a sua vida. Se alguém dessa forma dissociar a filosofia de vida da vida prática, estará fazendo o mesmo que os budistas de até agora, ou seja, afirmando "Compreendi intelectualmente a filosofia budista, mas não me curei da doença". Quem procura a Seicho-No-Ie não deve se limitar a isso. Compreender que não existe matéria nem corpo é abandonar tudo e dar um salto decisivo. Quando você assim transcender totalmente os fenômenos, entrará no mundo onde não há tempo nem espaço, e sua Vida se fundirá integralmente com Deus. Nessa hora, alcançará o despertar espiritual e conquistará a total liberdade. E é muito natural que a doença desapareça quando a Vida desfruta de liberdade absoluta. Se ainda persistem a doença, o sofrimento e as preocupações, significa que você não deu o salto e continua agarrado ao que não existe.


Libertar-se do viver, envelhecer, adoecer e morrer

Sakyamuni fundou o budismo para libertar a humanidade dos quatro sofrimentos básicos: viver, envelhecer, adoecer e morrer. O objetivo das religiões, portanto, não é o de curar determinada doença ou livrar o fiel de algum sofrimento específico. É o de fazer o fiel adentrar no mundo onde não há o viver com sofrimento, o envelhecer, o adoecer e o morrer. Lança-o dentro do mundo onde não existe o sofrimento da vida, no mundo onde não existe envelhecimento, no mundo onde não existe doença nem morte. Tem o objetivo de fazer com que o fiel se lance dentro do mundo onde não existe velhice, estando no mundo onde há envelhecimento; de fazer com que o fiel se lance dentro do mundo onde não existe doença, estando no mundo onde há doenças!

Faz também com que o fiel que permanece no mundo do corpo carnal, no mundo onde existe tempo e espaço, tome consciência do seu eu espiritual que não se encontra neste mundo. Em consequência, no mundo do corpo carnal também ocorrem graças temporárias, ou seja, escurecem os cabelos grisalhos, desaparecem as rugas, ou acabam os sofrimentos da velhice. Entretanto, essas graças não são graças verdadeiras, tal como Bodhidharma disse categoricamente ao imperador da dinastia Liang: "Não existe graça alguma!"

Portanto, mesmo que as doenças se curem e os cabelos grisalhos fiquem pretos, as graças materiais não são eternas. São fenômenos temporários. Mesmo que uma pessoa de 70 anos rejuvenesça tendo os cabelos grisalhos totalmente escurecidos, ela não viverá eternamente no mundo fenomênico, sem envelhecer, pois acabará envelhecendo e morrendo.

Esses acontecimentos do mundo fenomênico são sombras da mente e, mesmo que aconteçam momentaneamente, não significam que a pessoa adentrou no mundo onde não há envelhecimento. É impossível não ocorrer envelhecimento no mundo onde existe o tempo. Não importa se os cabelos são grisalhos ou pretos, deve-se saltar para dentro do mundo da Imagem Verdadeira, sem se importar com as graças fenomênicas. Nessa hora, a pessoa alcançará um estado mental firme e inabalável, a verdadeira salvação. Seja qual for o estado fenomênico da pessoa, ela transcenderá a vida e a morte, os sucessos e os fracassos fenomênicos, e adentrará no mundo onde não existe tempo nem espaço, no mundo onde já está salva.


Transcendendo o tempo e o espaço

Esse é o objetivo das religiões, e é por isso que o budismo também ensina a seguir o caminho da Verdade abandonando naturalmente os vínculos de amor e os apegos mundanos. Tanto a religião Tenge fundada pelo mestre Kunbi Watanabe que deu ordem para saltar, quanto a religião Tenri que prega "Entregue tudo para Deus", são todas iguais. Levam os fieis a abandonar tudo o que existe no mundo do tempo e do espaço e a saltarem para o mundo onde não há tempo nem espaço. Aí vivenciarão verdadeiramente o estado de liberdade infinita, como experiências de suas próprias Vidas. Desse modo, viver ou morrer, tudo ocorrerá em total liberdade. Os ensinamentos que só são compreendidos intelectualmente não são religiosos. A religião faz com que a Vida da pessoa salte verdadeiramente para dentro do mundo que transcende o tempo e o espaço, e alcance um estado mental inabalável.

Existe abalo quando ainda permanecemos no mundo onde existe a abertura do espaço e a corrente do tempo. Nesse mundo temos incertezas, perturbações e inquietações mentais. Quando estamos no mundo onde não existe tempo nem espaço, permanecemos inabaláveis tendo ou não rugas do envelhecimento, ocorrendo ou não a morte do corpo carnal aqui, neste momento.

Aliás, nesse estado mental, não morreremos mesmo que nos matem. E, como ocorreu com Jesus que foi crucificado, a própria crucificação se transforma em ressurreição. Descobrimos aqui e agora o eu que parece morrer mas não morre e vive eternamente. Se chegarmos a esse ponto, não pensaremos mais nas graças fenomênicas tal como desejar a cura da doença, mas veremos que a doença não existe e transcenderemos o mundo da causalidade.

Quem diz "Se cometer tal pecado, sofrerá consequência" está se referindo ao mundo da causalidade que, na Seicho-No-Ie, é chamada de Verdade Horizontal. Quando transcendemos o mundo da Verdade horizontal e adentramos no mundo da Verdade vertical, alcançamos o estado mental em que conscientizamos que somos a própria Vida de Deus, que tem dentro da mão o tempo e o espaço, e também colocamos todo o Universo sobre a palma da nossa mão. Ocorre isso quando penetramos no mundo que transcende o tempo e o espaço.


sábado, fevereiro 10, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 3/11

- Masaharu Taniguchi - 


AUTOCONFIANÇA E O DESTINO DO HOMEM

Tenha autoconfiança

A maioria dos jovens pensa equivocadamente que nasceu com poucos dotes, tem complexo de inferioridade e, devido a isso, restringe a capacidade inata, não conseguindo crescer adequadamente. Entretanto, boa parcela dos que se tornaram grandes líderes mundiais, dirigentes de grandes organizações, renomados inventores ou então notáveis estadistas, pareciam, à primeira vista, indivíduos medíocres, mas, em certa oportunidade, conseguiram sucesso em algo que realizaram, tomaram consciência de que são capazes e adquiriram autoconfiança. Assim, passaram a se esforçar seriamente na direção indicada por essa autoconfiança.

Por maior que seja o seu talento inato, ele não se manifestará enquanto você não empenhar esforços no sentido de aprimorá-lo, assim como uma barra de aço de boa qualidade não se transforma num perfeito e excelente aço enquanto não for temperada.

É necessário que, antes de tudo, você tenha autoconfiança. É preciso adquirir, fundamentalmente, a convicção de que é filho de Deus.

Muitos fatores contribuem para o nosso aprimoramento e enriquecimento pessoal neste mundo. Um deles é a influência dos parentes e amigos. Às vezes, conseguimos um bom emprego graças a essa influência. Outras vezes, muitas concretizações nos são facilitadas por termos bons amigos. Quem nos encoraja na hora do desespero é um amigo, como também aquele que nos alegra com a sua solidariedade quando lhe fazemos confidências.

Um amigo pode nos emprestar dinheiro ou nos oferecer um trabalho. Entretanto, por mais que tenhamos trabalho e dinheiro, se não tivermos autoconfiança, não conseguiremos manifestar nossa capacidade toda no trabalho e não utilizaremos adequadamente o dinheiro. Há dificuldades em qualquer trabalho. A autoconfiança é a força motriz que vence essas dificuldades e faz com que a pessoa deixe de encará-las como uma dificuldade.


O impasse faz manifestar a força infinita

Na qualidade de filhos de Deus, todos nós possuímos um talento inato. Basta nos esforçarmos para cultivar esse talento que conseguiremos ser alguém maravilhoso. A maioria, contudo, acaba permanecendo na camada social inferior, por achar que é mais cômodo depender de alguém ou imitar outra pessoa, em vez de cultivar a sua autonomia e revelar plenamente o seu talento. O ser humano possui força infinita e, numa circunstância de impasse, manifesta uma capacidade até então desconhecida. Entretanto, quando fica esperando que alguém o salve, não consegue manifestar seu talento congênito.

Não foi um fato gratificante, mas há um exemplo que pode ser citado aqui. Na Segunda Guerra Mundial, o Japão revelou tamanha pertinácia e intrepidez que os EUA se viram num impasse, e, para nos derrotar, deveriam, a qualquer custo, usar uma bomba bem mais potente do que qualquer outra já existente. Isso fez com que desenvolvessem a energia atômica, levando-os a produzirem armas nucleares. Assim é a força gerada numa situação aparentemente sem saída.

Atualmente (década de 70 a 80), porém, a corrida nuclear entre EUA e URSS chegou a um impasse, e isso está contribuindo para desenvolver ainda mais a criatividade dessas duas nações. É realmente lamentável que a capacidade humana seja usada para a produção de poderosas armas destruidoras. Contudo, torna-se evidente que não há limite dessa capacidade. Quando se encontra num impasse, o homem é capaz de realizar feitos maravilhosos. Tal é a capacidade humana.


Deus salva aquele que se salva por si

Aliás, certas pessoas caem realmente no desespero e se descontrolam em situações de extrema dificuldade. Tais pessoas perderam a autoconfiança. Enquanto tiverem autoconfiança, conseguirão, com certeza, despertar em si uma força bem maior que a manifestada normalmente. E a fonte dessa autoconfiança é a convicção "O homem é filho de Deus".

Além da autoconfiança, é preciso se esforçar, pois, se ficar esperando que alguém faça algo para si, sem empenhar qualquer esforço próprio, fará com que a capacidade latente adormeça.

Às vezes, encontramos pessoas que ficam a pensar comodamente "Deus fará isso da melhor forma", achando assim que têm fé, mas estão redondamente enganadas. "Deus salva aquele que se salva por si" – este é o mote da obra Self Help de Samuel Smiles. Deus está dentro de nós, e não devemos pensar comodamente que "Ele fará da melhor forma", sem evocarmos a força infinita alojada em nós.

Aquele que pensa "Quero um trabalho mais fácil possível" está criando um futuro infeliz. Só um jovem que enfrenta espontaneamente um trabalho difícil, com confiança, tem a garantia de um futuro promissor.

Não se deve ficar na dependência de outras pessoas. Não conte com a influência do presidente ou dos diretores da empresa onde trabalha. Se você se acomodar numa posição por demais vantajosa, sua capacidade adormecerá, tal qual um gato que dorme no sofá.

Não permita que sua força interior adormeça. Só quem abandona decididamente a almofada macia, a bengala, tudo que lhe traz dependência, e avança sem jamais esmorecer, consegue exteriorizar infinitamente a força que tem dentro de si.

Não é muito difícil dirigir um carro numa estrada larga, reta e com pouco movimento. No entanto, por ser fácil demais, não desenvolve a destreza do motorista. Para ser um bom motorista é preciso dirigir em estradas estreitas e íngremes das regiões montanhosas, enfrentando o perigo de cair do penhasco, como também numa avenida movimentada onde os carros andam quase colados uns aos outros.

Tomei como exemplo a habilidade de dirigir um carro, mas, na nossa vida, estão concentradas muito mais pessoas do que carros numa avenida movimentada. Quem decidir ser o campeão da humanidade, deve empenhar esforços para vencer todas as dificuldades. O ser humano revela ao máximo a sua potencialidade apenas em momentos de extrema dificuldade, e não quando está andando calma e despreocupadamente. Na hora do desespero, a pessoa revela ao máximo a sua força interior, a força de filha de Deus que, em situações normais, fica adormecida. Se a pessoa revelar uma vez essa força, sentirá maior autoconfiança e, na aventura seguinte, manifestará força ainda maior.

Sem uma constante luta contra as adversidades, o homem não revela sua capacidade máxima nem aperfeiçoa seu caráter. Enquanto permanecer na água agarrado a alguém, não aprenderá a nadar de fato. Somente conseguirá nadar se for levado para local de maior profundidade e, soltando a mão do treinador, nadar sozinho, com seu próprio esforço. Do mesmo modo, quando abandonar o sentimento de dependência, nascerá na pessoa o espírito de independência, e ela dará o primeiro passo com autoconfiança.


Confie no seu Eu verdadeiro

Sentimos muitas vezes que a ajuda de alguém nos salvou, mas isso cria em nós um espírito de dependência. Acabaremos habituados com as facilidades e ficaremos com um caráter fraco, que conta sempre com a ajuda do próximo. Essa ajuda, portanto, não trará felicidade para a nossa vida. Não devemos pensar que o indivíduo que nos empresta dinheiro quando estamos em dificuldades é um bom amigo. Um diretor que aumenta o salário de um funcionário indolente, apenas levando em consideração o tempo que ele está nesse emprego, não pode ser considerado um bom dirigente, mas sim aquele que recompensa o empregado de acordo com o esforço que ele despende no trabalho, pois está exercendo a função de fazê-lo exteriorizar a força adormecida no seu interior.

Há uma frase nas Palavras de Sabedoria que clama: "Levanta-te com a tua força". Quem só consegue caminhar usando bengala é um coxo. Uma pessoa que só consegue caminhar na estrada da vida dependendo de alguém, nada mais é que um "coxo". Por que há tanta gente sofrendo na sombra da sociedade? Em certa parte, porque o sistema social é falho (e considero uma atitude nobre lutar para a reforma desse sistema), mas não devemos esquecer que há pessoas, mesmo dentro desse sistema, aprimorando dia a dia a sua capacidade e conquistando posições cada vez mais elevadas.

As falhas do sistema social são meros obstáculos semelhantes aos usados propositadamente no hipismo. Um cavaleiro habilidoso ultrapassa esses obstáculos com brilhantismo e alcança a linha de chegada em primeiro lugar. Se você ficar culpando as condições externas porque não conseguiu exteriorizar sua capacidade, sem refletir sobre sua falta de desempenho, de autoconfiança, de esforço, jamais conseguirá desenvolver sua força interior de filho de Deus. Você é filho de Deus! Você possui o poder de dominar seu ambiente! Acredite mais, muito mais no seu Eu verdadeiro!

Se existe alguém neste mundo que mereça menosprezo, é o covarde que transfere a causa do seu fracasso para condições alheias a si, para a influência de outras pessoas.

Devemos saber que só será possível manifestar ao máximo a nossa capacidade inata, quando nos conscientizarmos de que somos antes de tudo filhos de Deus, possuidores da infinita força interior, que só se manifesta através da autoconfiança e esforço próprio ao transpor cada obstáculo.


quarta-feira, fevereiro 07, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 2/11

- Masaharu Taniguchi - 


COMO CONHECER A IMAGEM VERDADEIRA (JISSÔ)

Imagem Verdadeira é "nada" e ao mesmo tempo "infinita"

Certa ocasião, o sr. Tanaka veio de Kyoto e solicitou-me que lhe explicasse melhor sobre a Imagem Verdadeira. Eu já havia falado muito sobre a Imagem Verdadeira em diversos locais, mas ele me pediu que lhe explicasse mais detalhadamente. Contudo, não sendo possível ver a Imagem Verdadeira através dos olhos físicos, é muito difícil explicá-la por meio de palavras que foram feitas para falar de coisas visíveis, como é o caso da atual linguagem corrente. Por isso, é inevitável que a explicação se torne alegórica, metafórica e simbólica.

"Conhecer a Imagem Verdadeira" em termo zen-budista é kenshô. A sílaba shô significa natureza verdadeira. Kenshô, significa ver a natureza verdadeira da nossa Vida. Ken tem o sentido de ver e, ao mesmo tempo, de manifestar. A Imagem Verdadeira da Vida do homem se manifesta quando a visualizamos. Ver, visualizar e manifestar têm o mesmo sentido. Portanto, kenshô significa ver e manifestar a natureza verdadeira do homem.

Entretanto, a definição da Imagem Verdadeira da Vida do homem é impossível de ser feita através de palavras, por mais que se tente, e o zen-budismo diz gonsen fugyu, ou seja, não se chega à conclusão alguma, por mais que alguém discorra sobre isso. Dizem também que, sendo difícil transmitir através das palavras, transmite-se de mente para mente. Desse modo, a Imagem Verdadeira é algo que acreditamos ter compreendido para, no instante seguinte, acharmos que nada entendemos a seu respeito, sendo muito difícil compreendê-la e transmiti-la a outrem. É difícil transmitir, mas isso não significa que devemos ficar quietos, sem nada falar sobre ela. Se num Grande Seminário o palestrante ficasse calado, ninguém iria ouvi-lo. Isso deixa o preletor que tenta explicar sobre a Imagem Verdadeira numa situação desesperadora.

Diz-se que houve certa ocasião em que Sakyamuni subiu ao púlpito  e permaneceu imóvel sem nada dizer. Olhando bem, ele estava dormindo, soltando até baba pela boca. Então, Manjusri bateu um pedaço de madeira contra outro, avisando o termo do sermão, deixando perplexas as pessoas presentes. Isso consta numa escritura de certa seita zen-budista.

Sendo impossível explicar sobre a Imagem Verdadeira através de palavras, é preferível tirar uma soneca no púlpito, como fez Sakyamuni, a proferir uma palestra malfeita. Tal é a dificuldade de expressar em palavras a Imagem Verdadeira. Portanto, não adianta o leitor interpretar mecanicamente as palavras que escreverei a seguir, porque não conseguirá entender realmente. É preciso compreender telepaticamente, captando a atmosfera das palavras.

Deus é nada e ao mesmo tempo infinito. Sendo assim, a Imagem Verdadeira da Vida do homem, que emana de Deus, é também nada e infinita. Então, o corpo carnal que existe e é finito, não pode ser o Eu verdadeiro. Ele é um agrupamento de cinco agregados, constituídos de matéria, dos cinco sentidos, do pensamento, da ação, da consciência.O corpo carnal, portanto, não é o eu. Ele é uma projeção na tela do mundo fenomênico do filme composto pelo agrupamento das diversas ondas mentais. Este corpo é simples sombra, conforme a letra do Canto da Vida Eterna: "Este corpo é como a miragem, é como o eco...". A fonte dos versos desse canto está na Sutra Vimalakirti. O corpo carnal, portanto, é igual a uma miragem, um eco: parece ser real, mas é irreal e efêmero. Não existe corpo carnal. Não existe matéria. Se me perguntarem por que não existe, só posso responder: "Não existe, porque é inexistente". Mas essa resposta não satisfaz a quem ouve, nem a quem fala, e por isso preciso explicar o que é a nossa natureza verdadeira de uma forma compreensível.


O "vazio" se movimenta e dá origem a tudo

Pensem bem. Nada existia num passado muito remoto. Não havia planeta Terra, o Sol, as estrelas, nenhum corpo celeste, nada. Não foi a matéria que começou a entrar em ação onde nada existia. Se a matéria ainda não existia, tudo era imaterial. Foi algo imaterial que começou a se movimentar. Uma substância imaterial manifestou-se em forma de matéria e começou a se movimentar. A força motriz inicial que deu impulso a esse movimento não era uma energia material, pois não existia a matéria. Era uma energia imaterial, invisível aos sentidos, portanto, o "vazio". Esse "vazio" começou a se movimentar e deu origem a tudo. Tudo veio do vazio.

Não se movimentou de modo desordenado. Movimentou-se de forma absolutamente ordenada, respeitando uma ordem matemática e criou o átomo, a molécula, os corpos celestiais. Criou de forma extremamente elaborada um sistema articulado, tão exato a ponto de a Terra circular ao redor do Sol durante um milhão de anos sem atrasar um só segundo. É impossível criar algo tão elaborado ao acaso e sem obedecer às leis. Lei é manifestação da sabedoria. A energia imaterial que deu origem ao Universo possui uma Sabedoria misteriosa. Essa Sabedoria misteriosa não é a inteligência que está no cérebro de fulano ou sicrano. É a Sabedoria que preenche todo o Universo. O fato de a lei da Natureza estar relacionada com o todo comprova que essa Sabedoria misteriosa está presente em tudo.

Explicarei com exemplo o fato de a Sabedoria onipresente no Universo estar atuando em todo o Universo. Uma planta floresce aqui neste local. Por que desabrocha uma linda flor? Porque a flor deseja que uma abelha ou uma borboleta pouse nela e, ao sugar o seu néctar, leve o seu  pólen para outras flores. As flores têm aquele colorido vivo para chamar a atenção dos insetos. Nessas plantas, porém, não existe um "Centro de pesquisa das abelhas", nem um "Centro de pesquisa das borboletas". Por isso, se a Sabedoria inerente nelas precisasse de pesquisas, não saberia o que as abelhas desejam delas.

Logicamente, os vegetais não possuem cérebro. Mesmo que tivessem cérebro, na mente cerebral não existe centro de pesquisas, e não saberiam que tipo de vegetal agrada as abelhas. Por outro lado, as abelhas não encomendaram o néctar aos vegetais dizendo: "Gostamos de néctar e desejamos que o produzam para nós. Em troca, faremos a polinização". A planta não recebeu encomenda alguma, nem realizou pesquisas, mas sabe desde o início quais cores agradam as borboletas e as abelhas, como também de qual elemento elas gostam.

Desse modo, o mundo animal e o mundo vegetal são totalmente diferentes, mas os vegetais e os animais, embora pertençam a mundos diferentes, conhecem um ao outro e se relacionam mutuamente. Percebe-se que mantêm reciprocamente uma relação de interesses. Está evidente que a Vida que criou os vegetais e a que criou os animais são uma só. Mas não adianta pedirem para mostrar-lhes essa Vida, porque isso é impossível. Essa Vida impossível de ser mostrada é a Imagem Verdadeira. A Imagem Verdadeira em si não pode ser mostrada, mas, explicando sobre as coisas que surgiram dela, pode-se compreendê-la de modo considerável.


Ver as coisas através da mente

Quando estive em Shimonoseki em viagem de conferência, falei num amplo auditório de uma escola primária. Era um dia quente de verão e, lá pelas 16 horas, quando os raios solares começaram a penetrar transversalmente através dos vidros das janelas, o auditório esquentou ainda mais. Terminada a conferência, fui para a casa do sr. Jiichi Furutani, que antes morava em Shingai, e descansava após o jantar, quando apareceu a sra. Hiroko Inoue, professora primária.

Não costumo receber as pessoas que me procuram na minha casa de Tóquio, mas às vezes atendo as pessoas quando estou em viagem. Não atendo a ninguém em minha residência, porque estou sempre escrevendo. Se eu receber alguém interrompendo o meu trabalho, a minha mente capta as vibrações da atmosfera dessa pessoa e, até conseguir retomar a concentração, não consigo realizar um bom trabalho. E se eu receber uma pessoa e não outra, a que foi rejeitada virá se queixar revoltada "Por que me discriminou?". Como não tenho tempo para receber todas as pessoas que me procuram, não há outra alternativa senão estabelecer a regra de não receber ninguém, em absoluto.

Nessa ocasião, porém, a sra. Hiroko Inoue me procurou bem na hora do jantar e, então, pedi-lhe que entrasse. Começamos a conversar e ela me disse:

– Professor, graças ao senhor, vi o Sol pela primeira vez.
– Como? Nós vemos o Sol todos os dias – disse admirado.
– Acontece que, até hoje, jamais havia visto diretamente o Sol. Eu leciono numa escola primária, onde toda manhã dou aula de ginástica no pátio da escola. Fico de pé na parte oeste do pátio, voltada para o leste. Nessa hora, o Sol sobe do leste e eu fecho os olhos, sentindo-me ofuscada pelo seu brilho. Queria ver como era a forma do Sol, mas não o conseguia. Hoje, durante a palestra, o senhor disse que o mexilhão não possui olhos, mas consegue enxergar. Ouvia isso, quando comecei a sentir muito calor por causa dos raios solares que penetravam pela janela e olhei, sem querer, para o lado. Vi, então, nitidamente o enorme Sol que se punha no horizonte, Professor, entendi que realmente nós vemos com a mente, e não com os olhos.


O mexilhão possui olhos?

Havia, citado nessa palestra um professor de biologia de certo Colégio Feminino que perguntou às alunas:

– Vocês sabem a razão pela qual a concha do mexilhão é preta? Quem souber, levante a mão.
Muitas alunas levantaram a mão.
– Você, pode falar – o professor indicou uma delas que se levantou e respondeu:
– O mexilhão é preto para se proteger dos predadores. Ele muda a cor da sua concha de acordo com a cor do ambiente em que se encontra.
O professor disse:
– Muito bem, você respondeu corretamente.
Nisso, uma aluna ao lado levantou a mão e disse:
– Professor, tenho uma pergunta. O mexilhão não possui olhos, então como ele sabe a cor da terra ao seu redor?

O professor não soube responder a esta pergunta.

Se o mexilhão não possui olhos, como consegue saber que está num lugar escuro e escurece a cor da sua concha? Não é possível dar resposta à essa questão através do pensamento materialista. Esse professor não soube responder à pergunta da aluna, porque pensa erroneamente que só se enxerga através dos olhos físicos. Consta na Sutra Sagrada Palavras do Anjo que, segundo relatório do grande médico italiano Lombroso, um paciente sofreu deslocamento do sentido da visão e passou a ver com a ponta dos dedos; ocorreu nele uma transferência dos sentidos. Nas extremidades digitais não existem globo ocular nem nervo óptico, mas ele enxergou. Aliás, isso é muito conveniente, pois, se quiséssemos espiar por uma fresta, bastaria colocar o dedo. Esse fato comprova que o elemento que capta os sentidos não se encontra no corpo nem nas células nervosas, mas na mente. Por isso, ocorre o que consta na Sutra Sagrada Palavras do Anjo: "Quando a mente decide ver, até as extremidades digitais são capazes de ver. E, mesmo na ausência de extremidades digitais, consegue-se ver e também ouvir".

Todos sabem que a terra é um mineral e que o mexilhão é um molusco pertencente ao reino animal. O mineral e o animal pertencem a reinos diferentes, mas nota-se que o mexilhão possui uma mente que vê o mundo mineral, sem ter olhos. A inteligência do mexilhão e a inteligência que fez a terra preta são originalmente uma só. Por isso, o mexilhão sente a cor da terra, mesmo sem ter olhos, e faz com que sua concha tenha a mesma cor. Um mexilhão colhido na areia tem uma cor levemente marrom, porque ele percebeu, mesmo sem ter olhos, que a areia ao seu redor é marrom.

Este foi um dos assuntos sobre os quais discorri durante a conferência naquela escola primária. Bem no momento que falei sobre isso, mais ou menos às 16h30, os raios do Sol quente de verão penetraram pelo vidro da janela, e a professora primária, sra. Hiroko Inoue, deu uma olhada para o lado e viu nitidamente o Sol, grande e redondo, que brilhava esplendorosamente no poente, lançando seus raios dourados. Por isso, ela veio me agradecer dizendo: "Graças ao senhor, vi o Sol pela primeira vez".

Existe uma comunicação entre a Vida do molusco (animal) e a da terra (mineral), porque os minerais e os animais são originariamente manifestações de uma única Vida. Também a Vida da borboleta, a da abelha e a da flor, que citei anteriormente, estão interligadas por uma única Vida, apesar de pertencerem a reinos diferentes, o animal e o vegetal. Sendo assim, nem é preciso dizer que, apesar de estarem fisicamente separados uns dos outros, a Sabedoria misteriosa que criou o ser humano é a Vida universal única. Essa Vida universal que nos criou é a Imagem Verdadeira.


Tudo está dentro do nada

A Imagem Verdadeira é, portanto, a Vida universal única, que é originariamente o nada, vazio, mas que está presente em toda parte. Dizendo assim, parece se tratar de algo totalmente vazio, sem nenhuma substância, mas não é isso. Dentro do nada existem todas as formas. A essa forma que existe dentro do nada dá-se o nome de ideia original. Ideia original é, portanto, a forma genuína não materializada que se encontra dentro do nada. Poderia dizer que é uma forma mental, uma forma imaterial.

Pensamos comumente que seja impossível ter forma se não houver matéria, mas não podemos pensar numa forma sem a matéria, uma forma genuína imaterial? Experimente pensar nisso. Perceberá que é possível existir uma forma no mundo mental. Na nossa imaginação podem existir formas genuínas que não necessitam de matéria, nem qualquer outro componente. Essas forma genuínas, de infinitas espécies, já existem de modo latente no vazio. Por isso, diz-se que é um mistério, que é gonsen fugyu, ou seja, impossível de explicar.

No vazio não existe matéria, não existe nada. No entanto, dentro dele existe a forma genuína, a forma infinita. Para explicar isso, costumo citar o exemplo da semente de ipomeia. Dentro dessa semente existe a forma da flor de ipomeia, apesar de ser impossível vê-la, mesmo que alguém a observe com o mais potente microscópio. Enquanto a semente estiver viva, dará origem a um pé de ipomeia, seja qual for o ambiente onde for plantada e seja quais forem os elementos do fertilizante. Isso não significa que elementos materiais estejam dispostos dentro da semente em forma daquela flor. A forma invisível da flor de ipomeia está, digamos, dentro ou por trás da semente. Num ponto que transcende o mundo material, existe a genuína forma da flor, a forma criada pela mente, a forma imaterial. Espero que tenha compreendido.

Essa é a ideia original que existe infinitamente no mundo da Imagem Verdadeira. Por isso se diz que a imagem Verdadeira não tem forma mas, ao mesmo tempo, tem infinitas formas. Dentro do mundo da Imagem verdadeira existem as formas genuínas da flor de ipomeia, do Taniguchi, do Kimura, do Yamaguchi, enfim, de tudo e todos. Existem infinidades de formas genuínas, mas, não sendo formas materiais, permanecerão indestrutíveis por toda a eternidade. Elas se manifestam dando origem às diversas formas materiais. A essas manifestações chamamos de "fenômeno", que pode ser destruído porque é material. Entretanto, a Imagem Verdadeira que é imaterial, que é apenas uma forma mental (ideia original), jamais será destruída. A Imagem Verdadeira do homem jamais se destruirá, porque é o homem da ideia original. Essa forma genuína chamada ideia original foi criada pela palavra (pensamento) de Deus. Essa é a razão por que coloquei a pronúncia "palavra de Deus" no ideograma que representa ideia original em algumas passagens da coleção A Verdade da Vida.


Jisso - Imagem Verdadeira da Vida