segunda-feira, julho 31, 2017

"Aquele que fala contigo..."

- Núcleo -


"Disse Jesus ao que era cego: Crês tu no Filho de Deus?
Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia?
E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo." (João 9:35-37)


A questão essencial é: Quem é o Filho de Deus para que Nele possamos crer?

O Filho de Deus respondeu presencialmente ao que era cego: É aquele que fala contigo!

Embora esta resposta tenha sido dada pelo Filho de Deus há aproximadamente dois mil anos, trata-se em verdade de uma revelação divina de validade atemporal.

Para aqueles que deixaram de ser cegos, a resposta à questão "Quem é o Filho de Deus para que Nele possamos crer" ainda continua sendo a mesma: É aquele que fala contigo!

Assim como de nada adianta “ter olhos e não ver”, também não adianta “ter ouvidos e não ouvir” que o Filho de Deus É aquele que fala contigo! E não ouvir nada do que Ele diz!

Assim, a questão agora não é com quem o Filho de Deus fala, mas sim, quem ouve o que está sendo dito! Pois, o próprio Cristo já revelou que Ele É aquele que fala contigo!

Perceba algo que está sendo enfatizado nesta revelação divina ao que era cego: Ele fala!

Deixar a condição dos que “têm olhos e não vêem” [ou seja, deixar a condição daquele que era  cego] é perceber que o Cristo já realizou o milagre em você e perceber que Ele fala contigo!

Enquanto a sua mente disser que Ele não fala com você, ou seja, enquanto continuar dando foco à percepção [mental] de que você não ouve a voz do Filho de Deus em você, não estará dando foco à percepção [consciencial] de que: Ele fala! Pois, Ele É aquele que fala contigo!

Atente ao fato de que esta é uma “percepção consciencial” que está sendo compartilhada com você! Ou seja, algo de validade atemporal e impessoal está sendo percebido e compartilhado. Note que o ensinamento do Núcleo é centrado nas próprias percepções e não em personagens que tem as percepções. 

A percepção consciencial é como uma interface entre o personagem e o Ser Real, ela está ao alcance do personagem mas pertence ao Ser Real e é o que possibilita a percepção da nossa real identidade. Por isso quando Simão Pedro respondeu que Jesus era em realidade o Cristo, o Filho do Deus Vivo, Jesus enfatizou que aquela percepção de Sua real identidade não veio da “carne e sangue”, ou seja, não veio da mente de Simão Pedro, porque a mente e os personagens estão na representação, mas aquela percepção veio da Realidade na qual está o Pai, enfim, veio dAquele que está no céu, a Realidade subjacente à representação! [Mateus 16: 15-16]

Essa passagem bíblica evidencia que os personagens podem ter “percepções conscienciais”, ou seja, os personagens podem perceber a Realidade; e evidencia também que esta percepção não vem de suas mentes, mas do próprio Ator, o Ser Real que subjaz a todos os personagens. E essa passagem revela também o quanto Jesus enfatizou esta percepção compartilhada por Simão Pedro, a ponto de declarar que sobre esta “pedra” [sobre esta percepção sólida como Pedra, ou seja, fundada na Realidade que é o Pai, o Ser Real] iria edificar sua Eclésia [comunidade dos que percebem o Real]. É para que todos percebam a realidade de Deus que as comunidades espirituais são criadas. Elas normalmente emergem em torno de personagens despertos que são aqueles que percebem, desfrutam e compartilham o que percebem da Realidade de Deus e possibilitam que outros personagens também percebam o Real, e que percebendo desfrutem essa percepção, e que a desfrutando a compartilhem com todos.

Sobre Céu e Terra há toda uma simbologia bíblica. Alguns personagens despertos compartilharam suas percepções a esse respeito. Vamos a elas!

Em Gênesis 1: 1 está escrito: “No Princípio, criou Deus os céus e a terra”.

Deus é próprio Princípio Divino no qual tudo expressa o que Ele É.

A palavra Princípio não deve ser entendida em termos temporais como “início dos tempos”, mas como Origem de tudo o que É, da mesma forma como está escrito em: “No Princípio era o Verbo”, significando que o Verbo, a Palavra, a Substância divina, expressa a Si mesmo, manifesta a própria origem ou Princípio divino e existe atemporalmente no Ser, em sua própria Realidade e Consciência.

Assim, criou Deus “no Princípio”, ou seja, criou em Si mesmo, em Sua própria Consciência, céu e terra; Realidade e Representação.

As duas criações divinas são, portanto, o céu, a “Realidade divina” e a terra, a “representação divina”.

A natureza de tudo que é criado na “Realidade divina” é eternidade; e, daquilo que é criado na “Representação divina” é a efemeridade.

Assim, observa-se que o homem criado à “Imagem e Semelhança” de Deus é descrito no capítulo 1 do Gênesis. Este é o homem real, eterno, é o chamado “Eu Verdadeiro”, a real identidade humana.

Em contraposição a esta real identidade humana, o homem criado na representação divina, terra, como descrito em Gênesis 2:7, foi formado do “barro”, ou seja, foi formado da própria substância da “representação divina”. Assim, sendo o homem formado da própria “representação divina” ele é também uma “representação divina” e,  portanto, efêmero como tudo na terra ou “representação divina”.

Importa ainda observar que o próprio “Deus” descrito no capítulo 2, que formou o homem do barro, não é o mesmo Deus que criou o homem a Sua Imagem e semelhança, mas sim, o “Senhor Deus”, que é o Senhor que atua como a Lei da representação divina, a Lei de causa e efeito.

Vale lembrar que dois personagens despertos, Masaharu Taniguchi e Joel Goldsmith compartilharam a mesma percepção consciencial de que Deus, Aquele Ser que é Amor e Vida Eterna, está descrito no capítulo 1 do Gênesis. Na Representação divina Ele aparece como “Senhor Deus” e atua como Lei, a Lei que rege a representação, a Lei de causa e efeito, como está descrito no capítulo 2 do Gênesis.

Na Representação divina Aquele que aparece como “Senhor Deus” fez a “árvore da Vida” e fez também a “árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Sendo Deus Aquele que na representação divina aparece como “Lei de causa e efeito”, pelo fruto da “árvore da Vida” se faz perceptível a Realidade divina, e pelo fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, se faz perceptível a Representação divina. Desta forma, causa e efeito assim se relacionam: o fruto da “árvore da Vida” é a percepção da Consciência do Ser, que é unitária e a tudo vê como uma expressão do próprio Ser. Ao passo que o fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal” é a percepção da mente do personagem, que é dual, e a tudo vê como separado de si.

O que se deve notar é que embora tenha Deus criado céu e terra, Realidade e representação divinas, como descrito em Gênesis 1:1, as duas árvores e seus consequentes frutos, que representam as duas percepções, aparecem apenas na “representação divina”; ou seja, no céu [na Realidade divina] não há “árvore do conhecimento do bem e do mal”, não há “percepção mental”. É preciso adentrar à “representação divina” para se acessar á “árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Nesse sentido alguns ensinamentos absolutistas afirmam que a realidade desconhece a ilusão. De fato, é impossível ao homem criado à “Imagem e Semelhança” do Criador, conforme descrito em Gênesis 1:27 [o Eu Verdadeiro], ser iludido pelo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Assim, é evidente que a dualidade é uma ficção, é algo aparente e ocorre apenas quando o ator divino atua na “representação divina” – terra – assumindo uma identidade aparente, a identidade de um personagem, como se tivesse sido formado do “barro da terra”, como está descrito em Gênesis 2:7; ou seja, como se tivesse sido formado da substância [barro] da própria terra [representação divina], ou seja, o ator divino assume a identidade de um personagem na representação divina e passa a ver tudo como separado de si, o que faz da representação algo bastante realístico para a mente do seu próprio personagem.

Vale notar que Joel Goldsmith observou que através de Moisés a humanidade teve acesso ao “Senhor Deus”, isto é, ao Deus da representação divina, e assim a humanidade aprendeu como viver sob a Lei de Causa e Efeito, como se beneficiar da Lei que rege a terra. E observou que através de Jesus a humanidade teve acesso ao Deus Verdadeiro, ao Deus que é Vida Eterna e Amor.

Por sua vez, na representação Jesus declara ser o Filho de Deus e nos ensina como podemos ascender da Lei para a Graça! Ele afirma que não veio para revogar a Lei, mas sim para cumpri-la! E o cumprimento da Lei, Jesus revela que está condensado em dois mandamentos que são: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo!

O que Jesus está nos revelando é por si só algo divino e raramente enfatizado nos ensinamentos espirituais de quaisquer tradições do mundo! Ele está nos fazendo ver que mesmo estando imersos na representação é possível transcendermos a Lei de Causa e Efeito não a rejeitando ou a negando mas sim a cumprindo integralmente acessando a percepção da Consciência do Ser, a árvore da Vida, que é unitária e a tudo vê como uma expressão do próprio Ser.

Então, como os ramos são membros do próprio Ser que é a Videira, Jesus nos ensina a vê-lo de forma unitária, como partes do mesmo Ser único, revelando que ele é a Videira e nós somos os ramos!  E para ativarmos essa visão unitária, a visão da “árvore da vida” que está em nós ele ensina que: “O reino de Deus está dentro de vós.” Jesus também revela que: “Ninguém vai ao Pai senão por mim.” Todo seu ensinamento espiritual é no sentido de acessarmos essa “árvore da Vida” em nós, a fim de que possamos colher os seus frutos, que é percepção da Realidade Divina na qual semeador e ceifeiro são Um.

Amar é perceber de forma unitária. Por isso a ênfase na percepção de unidade se condensa naqueles dois mandamentos que são: Amar e amar!

Amar a Deus… sobre todas as coisas;
Amar ao próximo… como a ti mesmo.

A percepção que se deve ter destes dois mandamentos é essa:

Amar a Deus sobre [é perceber Sua onipresença subjacente a todas as aparências e interagir com Aquele que subjaz a] todas as coisas;

Amar ao próximo como [é perceber que Deus é Aquele que subjaz ao próximo como subjaz] a ti mesmo.

Deus é Amor. Sendo amor, Deus ama. Deus percebe. Por perceber que é amor, Deus ama. Amar é a forma como Deus percebe e age. No Núcleo é reiteradamente enfatizado o principio divino de que: “Não há percepção sem ação”. Se o Deus Verdadeiro é Amor e se Seu reino está EM nós, não há como acessar este reino EM nós sem amar, sem perceber de forma unitária, que é a forma de percebê-lO.

Por isso Jesus enfatizou os dois mandamentos e veio cumprir a Lei revelando como acessarmos a “arvore da Vida”, a visão de unidade representada pela parábola da Videira e os ramos.

É importante ainda observar que Jesus ora a Deus não para que nos tire deste mundo, desta representação, mas que nos livre do mal, da visão dual que é produzida pela árvore do conhecimento de bem e mal, pela qual Deus é visto apenas como o “Senhor Deus”, a Lei de causa e efeito, que castiga os maus e recompensa os bons. Por isso, a “figueira que não dá bons frutos”, Jesus mesmo a seca!

Por fim, se acessarmos a árvore do conhecimento de bem e do mal estaremos agindo sob os efeitos dos frutos dessa árvore, a saber, estaremos vendo apenas a representação e agindo “em pecado”, ou como enfatizou Masaharu Taniguchi, estaremos agindo com a visão encoberta (tsumi).

Nesse sentido, sabendo que os personagens que queriam testá-lo estavam agindo “em pecado”, ou seja, “com a visão encoberta”, Jesus disse: “Aquele que não estiver em pecado atire a primeira pedra”. Narra a Bíblia que nenhum deles foi capaz de atirar a pedra, pois, a palavra de Jesus foi dirigida aos próprios atores por traz daqueles divinos personagens. A Consciência divina de cada um deles lhes tornava conscientes de que seus personagens “agiam em pecado”, e que apenas o próprio personagem Jesus naquele contexto agia com a visão descoberta. Jesus deu ali uma lição prática de como acessar a “árvore da Vida”, a percepção unitária que está em nós, a percepção que fez com que cada um daqueles presentes naquela cena visse sobre si o que viam no “outro”.

Em síntese, mesmo estando na representação temos acesso direto à “arvore da Vida”, a essa percepção unitária que nos dá acesso ao reino de Deus, à certeza de que: “nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.”

Enfim, Céu é a Realidade, aquilo manifestado pela atividade da Consciência do Ser – É fruto da “árvore da vida”, fruto da percepção consciencial.

Terra é a Representação, aquilo gerado pelo pensamento da mente do personagem – É fruto da “árvore do conhecimento de bem e mal”, fruto da percepção mental.

Dando foco à “árvore da vida”, a interface que está na representação mas que pertence ao Ser Real, você acessa em você mesmo, no Reino de Deus em você, a percepção do Filho de Deus, a percepção unitária, consciencial, dAquele que fala contigo!

Um último detalhe contido nesta passagem, não menos importante, é este: Disse Jesus ao que era cego: Crês tu no Filho de Deus?… Note bem, o milagre já havia sido realizado, aquele divino personagem que era cego já havia sido curado por Jesus. Da mesma forma o mesmo já aconteceu com você, o milagre já se realizou em você, pois você tem acesso a esta percepção que agora está sendo compartilhada, assim como o cego já podia ver, você também já pode perceber! Você já pode perceber que O Filho de Deus É aquele que fala contigo.

Que todos os que eram cegos mas que agora podem ver, [ou seja, que todos os que não percebiam mas agora podem perceber] e que perguntam: “Quem é ele, Senhor, para que nele creia?” desfrutem a percepção da presença de Quem em si mesmos, no Reino de Deus, diz: Tu já o tens visto [já o tens percebido], Ele É aquele que fala contigo.

Namastê.


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