domingo, agosto 16, 2020

Consciência vs. Pensamentos

- Dárcio Dezolt -


No Caminho espiritual, os passos rápidos são dados quando sabemos que o paraíso já existe, está pronto e dele já fazemos parte. Na Bíblia, esta percepção recebe o nome de “Renascimento”. O mundo que a humanidade aceita como existente se fundamenta totalmente em pensamentos: a pessoa pensa ser este o seu pai, pensa ser aquela a sua mãe; pensa ser o seu nome aquele registrado em seus documentos; pensa ser a sua existência algo temporal e inconstante; pensa ser o mundo material, pensa ser seu corpo material, e pensa ser constituído de matéria e mente humana. Em suma, até que se inicie a jornada espiritual, a pessoa ficará aparentemente vivendo somente neste “universo de pensamentos”, que acaba sendo por ela aceito sem a mínima contestação.

Que motivo teria alguém para contestar? Afinal, a maioria assim encara o mundo, e tal aceitação coletiva parece hipnoticamente dar a todos a certeza de que esta visão de mundo é, de fato, a visão correta. Todavia, num dado momento da vida, cada pessoa passa a notar que, em seu íntimo, além de seus pensamentos, existe a presença de ALGO mais. Sua antiga aceitação dos problemas do mundo passa a dar lugar a dúvidas e indagações, e “novo céu e nova terra” parecem despontar em seu horizonte. Quando há a percepção de que este ALGO INTERIOR, presente além dos pensamentos, constitui a TOTALIDADE do verdadeiro Ser, falamos que se dá o “Renascimento” da pessoa.

Para a Consciência, ou seja, para o ALGO além dos pensamentos, o tempo não existe. A Consciência é uma constância incólume: é “o que é, que era e que há de vir”, ao contrário dos pensamentos, que se alteram a cada instante. A conclusão importante, decorrente disto, é a seguinte: se pretendermos apreender alguma base confiável de vivência, esta deverá se fundamentar em algo IMUTÁVEL. Como os pensamentos ou crenças variam a cada instante, longe eles estão de nos servir como base de sustentação sólida. A Verdade Absoluta reconhece a Si mesma como sendo esta Consciência constante, que a TUDO abrange. Todas as crenças e pensamentos coletivos são o “NADA”.

A mudança brusca na maneira de se encarar o mundo, ou seja, o abandono consciente do conceito humano de mundo para a aceitação do paraíso, aqui e agora, dá-se pela Graça divina. A cada um de nós, cabe a parte da dedicação ou devoção, que consiste num estado máximo de receptividade interna às revelações. Precisamos desejar acolher esta Graça, abrindo-nos inteiramente ao Seu influxo, sem esforços mentais. Quando deixamos a janela do quarto aberta, em dia ensolarado, espontaneamente a luz flui para o seu interior. A Luz divina brilha de forma permanente, bastando-nos um reconhecimento e um processo de abertura plena a Ela, isto é, uma posição máxima de receptividade.

Como seria esta “receptividade plena”? Fecharmos os olhos e aguardarmos que a Luz divina nos iluminasse? De início, até poderíamos encarar dessa maneira. Porém, o mais preciso, o ideal, seria que soubéssemos o enfoque absoluto: A LUZ JÁ É O NOSSO SER! Este conhecimento elimina a crença dualista de que estaria existindo “outro ser” na posição de “receptor” desta Luz. CADA UM DE NÓS JÁ É A LUZ; CADA UM JÁ É O UNIVERSO ILUMINADO PELA LUZ. A LUZ QUE ILUMINA O UNIVERSO E O UNIVERSO POR ELA ILUMINADO SÃO UM. ESTE UM É VOCÊ, SOU EU, É A CONSCIÊNCIA DIVINA INFINITA!

O despertar espiritual nos revela que existe somente UM UNIVERSO, o ESPIRITUAL. Entretanto, quando alguém abre mão dos pensamentos e crenças para ficar receptivo à Verdade Absoluta, deve estar atento para não se deixar envolver pelos “efeitos aparentes” destas contemplações. Elas promovem uma “soltura de crenças” que dá a impressão de ser um período difícil, em termos de vida humana. As meditações e contemplações da Verdade revelam o “nada” que as crenças são, e essas crenças incluem a personalidade humana que falsamente se mostrava como sendo o nosso verdadeiro e único Ser. Conscientes disso, não nos deixemos levar pelas alterações de crenças que se mostram visíveis, e não nos identifiquemos com elas, considerando-as como algo relacionado conosco. A convicção de que Deus é o nosso Ser, aliada ao estado de alerta quanto à natureza ilusória deste “mundo das aparências”, constituirão a nossa certeza de segurança e amparo nesta aparente fase transitória.

A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza,… mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim, também vós, tendes tristeza agora; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” (João 16: 21, 23).

Se conseguirmos conservar a percepção de nossa IDENTIDADE, sem nos envolvermos com as alterações ocorridas nas crenças do mundo, o processo de desintegração das mesmas revelará que elas são o NADA. Jamais o nosso Ser real, que é Deus, participa destas alterações de crenças. Precisamos conservar isso em mente, para casos de surgimento de alguma “aparência desagradável”, que nada mais seria que o próprio desaparecimento de crenças infundadas e sempre destituídas de realidade, presença e substância. AS ALTERAÇÕES, BOAS OU MÁS, OCORRIDAS NO MUNDO APARENTE, NÃO TÊM NADA A VER CONOSCO. O SER QUE PARECIA ESTAR DESPERTANDO PARA A VERDADE, OU QUE PARECIA ESTAR SE LIVRANDO DAS CRENÇAS, FAZ PARTE DA PRÓPRIA CRENÇA, OU MIRAGEM, E, TAMBÉM, EM NADA SE RELACIONA CONOSCO.

Deus é a TOTALIDADE do nosso Ser. Todas as alterações visíveis são meras crenças; as aparentes alterações de crenças são, na verdade, acontecimentos que jamais existiram; portanto, jamais afetam o Ser divino que cada um e nós JÁ É! Permaneça firme nesta Verdade. Assim, aos poucos, também a aparência de mundo refletirá a HARMONIA PERENE que continuamente vinha reconhecendo como JÁ EXISTENTE no Universo harmônico e perfeito em que realmente “vivemos, nos movimentamos, e temos o nosso ser”.

Lembre-se: Você é a Sua Consciência e não os seus pensamentos. E Deus constitui a Sua Consciência.

Em João, 1:18, encontramos: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o fez conhecer.” Não existe nenhum “alguém” fora de Deus para vê-Lo. DEUS É O SER ÚNICO! Quando cada um de nós percebe a Presença divina aparecendo individualizada como nossa Identidade Iluminada, esta Presença é o citado Filho unigênito que está no seio do Pai.

Esta Verdade Absoluta está contida na declaração “Eu e o Pai somos um”. Todos nós já somos o Pai aparecendo como o Filho. Isto significa que também no dia-a-dia devemos não mais nos identificar com pais humanos. Não iremos desconsiderá-los, mas faremos algo que transcenderá os chamados laços humanos de parentesco: passaremos a contemplar o Filho unigênito que também eles já são, assim como toda a humanidade já é.

O mesmo se aplica aos demais relacionamentos humanos. É preciso que nos habituemos com o “novo céu e nova terra”. O Pai aparece como o Filho no ponto exato em que a crença cega reconhece a simples “aparência” de seres humanos, sob o disfarce de pais, parentes, amigos, vizinhos, patrões, funcionários, dirigentes, etc.

A VERDADE ABSOLUTA, DE FATO, É ESTA: EXISTE SOMENTE DEUS, APARECENDO COMO ESTE UNIVERSO E TUDO NELE CONTIDO. Não adianta ficarmos apenas falando ou pensando a respeito disso. DEVEMOS RECONHECER QUE ISTO JÁ CONSTITUI A NOSSA CONSCIÊNCIA; DEVEMOS RECONHECER QUE DEUS JÁ É A NOSSA CONSCIÊNCIA. Palavras e pensamentos são coisas das crenças, e não fazem parte de nosso Ser. A Consciência de Ser, esta sim, é Deus: esta é Você, aqui, agora, JÁ!


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