quarta-feira, maio 06, 2015

O homem do Tao - 1/2

- OSHO -













 
"O homem em quem o Tao
Age sem impedimento
Não prejudica nenhum outro ser
Com suas ações.
No entanto, ele não se reconhece
Como “gentil” e “bondoso”.

Ele não luta para ganhar dinheiro
E não faz da pobreza uma virtude.
Ele segue o seu caminho
Sem depender dos outros.
E não se orgulha de andar sozinho.

O homem do Tao
Permanece anônimo.
A virtude perfeita
Não produz nada.
O não eu é o verdadeiro eu.
E o maior entre os homens
É ninguém." 

(Chuang Tzu)


A coisa mais difícil, quase impossível, para a mente, é permanecer no meio, é permanecer equilibrada. E o mais fácil é movimentar-se de um pensamento para o seu oposto. Movimentar-se de uma polaridade para a polaridade oposta é a natureza da mente. Isso tem que ser entendido muito profundamente, porque sem que você entenda isso, nada poderá levar você à meditação.

A natureza da mente é movimentar-se de um extremo a outro, ela depende do desequilíbrio. Se você estiver equilibrado, a mente desaparece. A mente é como uma doença: quando você está desequilibrado ela está presente, quando você está equilibrado ela não está ali.

É por isso que é fácil para uma pessoa que come muito fazer jejum. Isso parece sem lógica, porque nós pensamos que uma pessoa que é obcecada por comida não consegue jejuar. Mas você está errado. Somente uma pessoa que é obcecada por comida pode jejuar, porque jejuar é a mesma obsessão no sentido oposto. Na verdade não houve mudança em você. Você continua obcecado por comida. Antes você comia muito e agora você está faminto - mas o foco da mente continua na comida, a partir de um extremo oposto.

Um homem viciado em sexo pode ser tornar celibatário muito facilmente. Não há nenhum problema. Mas é difícil para a mente fazer uma dieta certa, é difícil para a mente ficar no meio.

Porque é difícil estar no meio? Isso é exatamente igual ao pêndulo de um relógio. O pêndulo vai para a direita, e daí se move para a esquerda, então de novo para a direita, e depois de novo para a esquerda. O relógio inteiro depende desse movimento. Se o pêndulo parar no meio, o relógio para. E quando o pêndulo se move para a direita, você pensa que ele está somente indo para a direita. Mas, ao mesmo tempo que ele está indo para a direita, ele está juntando momento para ir para a esquerda. Quanto mais ele se move para a direita, mais energia ele reúne para se mover para a esquerda, para o oposto. Quando ele está se movendo para a esquerda ele está de novo reunindo momento para se mover para a direita.

Sempre que você come demais, você está reunindo momento para fazer jejum. Sempre que você se entrega em demasia ao sexo, mais cedo ou mais tarde, o celibato, o brahmacharya se tornará atraente para você.

E o mesmo está acontecendo a partir do polo oposto. Vá e pergunte aos chamados sadhus, aos bhikkhus, aos sannyasins. Eles firmaram um propósito de permanecer celibatários; e agora a mente deles está reunindo momento para se movimentar em direção ao sexo. Eles firmaram um propósito de ficarem com fome, de passar fome e a mente deles está constantemente pensando em comida. Quando você está pensando muito a respeito de comida, isso mostra que você está reunindo momento para comer. Pensar significa momento. A mente começa fazer arranjos para ir ao oposto.

A primeira coisa: sempre que você se move, você também está se movendo para o oposto. O oposto está escondido, ele não é aparente.

Quando você ama uma pessoa, você está reunindo momento para odiá-la. É por isso que somente amigos podem se tornar inimigos. Você não pode se tornar um inimigo sem que primeiro você tenha se tornado um amigo. Amantes discutem e brigam. Só os amantes podem discutir e brigar, porque a não ser que você ame, como você poderá odiar?A não ser que você tenha se movido para a extrema esquerda, como você poderá se mover para a direita? Pesquisas modernas dizem que isso que se chama amor é um relacionamento de íntima inimizade. Sua esposa é a sua inimiga íntima e seu marido é o seu inimigo íntimo - ambos inimigos e íntimos. Parecem opostos, sem lógica, porque nós ficamos ponderando como alguém que é íntimo pode ser inimigo? Alguém que é amigo, como pode também ser o adversário?

A lógica é superficial. A vida vai mais fundo. Na vida, todos os opostos se juntam, eles existem juntos. Lembre-se disso, porque então meditação se torna equilíbrio.

Buda ensinou oito disciplinas e para cada disciplina ele usava a palavra certa. Ele dizia: o esforço certo, porque é muito fácil mover-se da ação para a inação, do despertar para o dormir, mas permanecer no meio é difícil. Quando Buda usa a palavra certa, ele estava dizendo: não se mova para o oposto, simplesmente permaneça no meio. A comida certa - ele nunca disse jejum. Não se entregue em demasia à comida e não se entregue ao jejum. Ele dizia: comida certa. Comida certa significa permanecer no meio.

Quando você permanece no meio você não está reunindo momento algum. E essa é a beleza disso: um homem que não está reunindo momento algum para se mover a qualquer lugar, pode estar à vontade consigo mesmo, pode se sentir em casa.

Você nunca pode se sentir em casa, porque qualquer coisa que você faz, imediatamente você terá que fazer o oposto para equilibrar. E o oposto nunca equilibra, ele simplesmente dá a você a impressão de que você está se tornando equilibrado, mas você terá que se mover para o oposto de novo.

Um buda não é amigo nem inimigo de alguém. Ele simplesmente parou no meio - o relógio não está funcionando... Quando a sua mente para, o tempo para, quando o pêndulo para, o relógio para...

O tempo é criado pelo movimento da mente, exatamente como o movimento do pêndulo. A mente se move, você sente o tempo. Se a mente está inerte, como você pode sentir o tempo? Quando não há qualquer movimento, o tempo não pode ser sentido. Cientistas e místicos concordam nesse ponto: que o movimento cria o fenômeno do tempo. Se você não está se movendo, se você está parado, o tempo desaparece, a eternidade passa a existir. O seu relógio está se movendo rapidamente e o seu mecanismo é movimento de um extremo ao outro.

A segunda coisa a ser entendida a respeito da mente é que a mente sempre quer o que está distante, nunca o que está perto. O que está perto é enfadonho, você fica farto dele. O distante lhe dá sonhos, esperanças, possibilidades de prazer. Assim, a mente sempre está pensando no distante. É sempre a mulher de alguma outra pessoa que é atraente e bonita; é sempre a casa de alguma outra pessoa que o obceca; é sempre o carro de alguma outra pessoa que fascina você. É sempre o que está distante. Você fica cego para o que está perto. A mente não consegue ver aquilo que está muito perto. Ela somente pode ver aquilo que está muito longe.

E o que está muito longe, o que está mais distante? O que está mais distante é o oposto. Você ama uma pessoa - agora o fenômeno mais distante é o ódio. Você está comendo demais - agora o fenômeno mais distante é o jejum. Você está celibatário - agora o fenômeno mais distante é o sexo. Você é um rei - agora o fenômeno mais distante é ser um monge.

O que está mais distante é aquilo com que sonhamos mais. Ele atrai, ele obceca, ele segue chamando, convidando você e então, quando você tiver alcançado o outro polo, este local de onde você partiu em caminhada se tornará belo novamente. Você se divorcia de sua esposa e, depois de alguns anos, ela ficou bonita novamente.

Para a mente, o oposto é magnético e a não ser que, através da compreensão, você transcenda isso, a mente vai continuar se movendo da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, e o relógio continua.

Ele tem continuado por muitas vidas e é assim que você tem sido enganado - porque você não compreende o mecanismo. De novo o distante se torna atraente e de novo você começa uma nova caminhada. E no momento em que você alcança o seu objetivo, aquilo que antes era seu conhecido e que agora está distante, de novo se torna atraente, agora se torna uma estrela, algo de valor.

Eu estive lendo a respeito de um piloto que estava voando sobre a Califórnia com um amigo. Ele lhe disse: "Veja lá embaixo aquele belo lago. Eu nasci perto dele, ali está a minha vila". Ele apontou para uma pequena vila numa colina próxima ao lago. E ele disse: "Eu nasci ali e quando eu era criança eu costumava sentar próximo ao lago para pescar. Pescar era o meu hobby. Mas naquela época, quando eu era criança e pescava no lago, os aviões sempre costumavam cortar o céu, passando sobre a minha cabeça, e eu sonhava com o dia em que eu próprio me tornaria um piloto e estaria pilotando um avião. Aquele era meu único sonho. Agora ele está realizado e que miséria! Agora eu continuamente olho para aquele lago lá em baixo e fico pensando no dia em que eu estiver aposentado para poder ir pescar nele de novo. Aquele lago é tão lindo..."

É assim que as coisas acontecem. É assim que as coisas têm acontecido com você. Na infância você queria crescer depressa porque as pessoas mais velhas eram mais poderosas. Uma criança quer crescer imediatamente. As pessoas mais velhas são sábias e a criança acha que tudo o que ela faz está sempre errado. Mas pergunte ao velho - ele sempre acha que, quando a infância acaba, tudo está acabado; o paraíso estava ali, na infância. E todos os velhos morrem pensando na infância, na inocência, na beleza, no mundo de sonhos.

Tudo o que você tem parece inútil; e tudo o que você não tem parece útil. Lembre-se disso porque senão a meditação não poderá acontecer, porque meditação significa isso - entender a mente, o funcionamento da mente, o próprio processo da mente.

A mente é dialética, ela faz com que você se mova repetidas vezes em direção aos opostos. E isso é um processo infinito, ele nunca se acaba, a não ser que você, de repente, o abandone, a não ser que, de repente, você se torne consciente do jogo, a não ser que, de repente, você se torne alerta a respeito da trapaça da mente, e você pare no meio.

Parar no meio é meditação.

A terceira coisa: porque a mente consiste em polaridades, você nunca é um todo. A mente não pode ser um todo, ela sempre é metade. Quando você ama alguém, você já observou que você está suprimindo o seu ódio? O amor não é total, ele não é um todo, exatamente atrás dele todas as forças escuras estão escondidas e elas podem entrar em erupção a qualquer momento. Você está sentado em cima de um vulcão.

Quando você ama alguém, você simplesmente se esquece de que você tem raiva, de que você tem ódio, de que você é ciumento. Você simplesmente deixa tudo isso de lado, como se isso nunca tivesse existido. Mas como você pode deixar tudo isso de lado? Você pode simplesmente esconder no inconsciente. Assim, na superfície você pode se tornar amoroso, mas lá no fundo o tumulto está escondido. Mais cedo ou mais tarde você vai ficar de saco cheio, o amado terá se tornado familiar.

Dizem que a familiaridade cria desprezo, mas não é que a familiaridade cria desprezo - a familiaridade faz você ficar de saco cheio. O desprezo esteve sempre ali, escondido. Ele vem à tona, ele só estava esperando o momento certo, a semente estava ali.

A mente sempre tem o oposto dentro dela e esse oposto vai para o inconsciente e fica ali esperando pelo seu momento para vir à tona. Se você observar minuciosamente, você sentirá isso a todo momento. Quando você diz para alguém "eu te amo" feche os seus olhos, seja meditativo, e sinta - existe algum ódio escondido? Você irá senti-lo. Mas você não quer encarar isso porque a verdade é muito feia - a verdade que você sente ódio pela pessoa que você ama - por isso você engana a si mesmo. Você quer escapar da realidade, assim você esconde. Mas, esconder não vai ajudar, porque assim você não está enganando à outra pessoa, você está enganando a si mesmo.

Assim, sempre que você sentir alguma coisa, feche os olhos e vá para dentro de si mesmo para encontrar o oposto em algum lugar. Ele está ali. E se você puder ver o oposto, isso dará a você um equilíbrio. Então você não irá dizer "eu amo você". Se você for uma pessoa verdadeira você irá dizer: "meu relacionamento com você é de amor e ódio".

Todos os relacionamentos são relacionamentos de amor e ódio. Nenhum relacionamento é puro amor e nenhum relacionamento é puro ódio. Ele é ambos: amor e ódio. Se você for verdadeiro você estará em dificuldades. Se você disser para uma garota: "meu relacionamento com você é ambos: amor e ódio. Eu amo você como nunca amei alguém e eu odeio você como nunca eu odiei alguém", será difícil para você se casar, a não ser que você encontre uma garota meditativa, que possa compreender a realidade, a não ser que você possa encontrar uma amiga que possa compreender a complexidade da mente.

A mente não é um mecanismo simples. Ela é muito complexa e através da mente você nunca pode se tornar simples, porque a mente segue criando enganos. Ser meditativo significa estar alerta para o fato de que a mente está escondendo alguma coisa de você, de que você está fechando os olhos para alguns fatos que estão perturbando. Mais cedo ou mais tarde aqueles fatos perturbadores virão à tona, vão se apoderar de você, e você irá em direção ao oposto. E o oposto não está lá longe, num lugar distante, em alguma estrela. O oposto está escondido atrás de você, dentro de você, em sua mente, no próprio funcionamento da mente. Se você puder compreender isso, você irá parar no meio.

Se você puder ver o eu amo e o eu odeio, de repente, ambos irão desaparecer, porque ambos não podem existir juntos na consciência. Você tem que criar uma barreira: um terá que existir no inconsciente e o outro no consciente. Ambos não podem existir na consciência, eles irão negar um ao outro. O amor destruirá o ódio, o ódio destruirá o amor, eles terão que equilibrar um ao outro e eles simplesmente irão desaparecer. A mesma quantidade de ódio e a mesma quantidade de amor irão negar um ao outro. De repente eles irão evaporar - você estará ali, mas nenhum amor e nenhum ódio. Então você estará equilibrado.

Quando você está equilibrado, a mente não está lá - então você está inteiro, você é um todo. Se você está inteiro, você é santo, sagrado; mas a mente não está presente. Assim, a meditação é um estado de não-mente, de ausência da mente. Através da mente esse estado não é alcançado. Através da mente, seja o que for que você faça, isso nunca poderá ser alcançado. Então, o que você está fazendo quando está meditando?

Pelo fato de você ter criado tanta tensão em sua vida, você agora está meditando. Mas isso é o oposto da tensão, e não a verdadeira meditação. Você está tão tenso que a meditação se tornou atraente. É por isso que no Ocidente a meditação atrai mais do que no Oriente. É porque no Ocidente existe mais tensão do que no Oriente. O Oriente ainda está relaxado, as pessoas não estão tão tensas, elas não estão se enlouquecendo tão facilmente, elas não cometem suicídio tão facilmente. Elas não são tão violentas, tão agressivas, tão apavoradas, tão amedrontadas - não, elas não estão tão tensas. Elas não estão vivendo essa correria louca onde nada além de tensão é acumulado.

Assim, se o Mahesh Yogi vier à Índia, ninguém o escutará. Mas na América, as pessoas ficam loucas com ele. Quando existe muita tensão, a meditação atrai. Mas essa atração é de novo a mesma armadilha. Isso não é verdadeira meditação, isso é de novo um engano. Você medita por uns poucos dias, você se torna relaxado e, quando você se torna relaxado, de novo surge a necessidade de atividades. Você fica de saco cheio e a mente começa a pensar em fazer alguma coisa, em se movimentar.

As pessoas chegam a mim e dizem: "nós meditamos por alguns anos mas agora isso ficou chato, perdeu a graça". Há poucos dias uma garota veio a mim e disse: "agora a meditação não tem mais graça alguma, o que eu devo fazer?"

Agora a mente está procurando por alguma outra coisa, agora ela já teve bastante meditação. Agora que ela já está relaxada, a mente está pedindo por mais tensões - alguma coisa que possa perturbá-la. Quando ela diz que agora a meditação não tem mais graça, ela quer dizer que agora não há mais tensão, assim como pode a meditação ter graça? Ela terá que ir atrás de tensões novamente, aí a meditação de novo se tornará algo valioso.

Veja o absurdo da mente: você tem que ir embora para chegar perto, você tem que se tornar tenso para ser meditativo. Mas isso não é meditação, de novo isso é uma trapaça da mesma mente.  O mesmo jogo continua num outro nível.

Quando eu digo meditação, eu quero dizer: ir além do jogo das polaridades opostas, cair fora do jogo todo, olhar para o absurdo que esse jogo é, e transcendê-lo. A própria compreensão se torna transcendência.

A mente forçará você a se mover para o oposto - não vá para o oposto. Pare no meio e veja que isso tem sido sempre uma trapaça da mente. É assim que a mente tem dominado você - por meio do oposto. Você já percebeu isso?

Depois de fazer amor com uma mulher, você de repente começa a pensar em abstinência sexual, brahmacharya, e isso exerce uma fascinação tão persuasiva que naquele momento você sente como se nada mais existisse para ser alcançado. Você se sente frustrado, enganado, você sente que não havia nada naquele sexo e que somente o celibato traz a felicidade. Mas depois de vinte e quatro horas, o sexo de novo se torna importante, e de novo você se move para ele.

O que a mente está fazendo? Depois do ato sexual ela começa a pensar no oposto, o qual, de novo, cria a vontade do sexo.

Um homem violento começa a pensar na não-violência, então ele poderá facilmente se tornar violento de novo. Um homem que fica raivoso repetidamente, sempre pensa em não ter raiva, sempre decide não ficar raivoso novamente. Essa decisão ajuda-o a ficar com raiva de novo.

Se você realmente não quiser ficar raivoso de novo, não tome decisão contra a raiva. Simplesmente olhe para a raiva e olhe para essa sombra da raiva que você pensa que é não ter raiva. Olhe para o sexo e para essa sombra do sexo que você pensa que é brahmacharya, abstinência sexual. Isso é só negatividade, ausência. Olhe para o excesso do comer e para a sua sombra que é o jejum. Jejuns sempre seguem o comer demais, a indulgência demasiada é sempre seguida por votos de celibato; a tensão é sempre seguida por algumas técnicas de meditação. Olhe para essas coisas juntas, sinta como elas estão relacionadas, como elas são parte de um só processo.

Se você puder compreender isso, a meditação acontecerá em você. Na verdade, ela não é algo a ser feito, ela é uma questão de compreensão. Ela não é um esforço, ela não é algo a ser cultivado. Ela é algo a ser profundamente compreendido.

Compreensão dá liberdade. Conhecer todo o mecanismo da mente é transformação. Então, de repente, o relógio pára, o tempo desaparece. E parando o relógio, não existe mente. Parando o tempo, onde você está? O barco está vazio.

Agora vamos voltar para este sutra de Chuang Tzu...
Continua...


 

Um comentário:

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