sexta-feira, novembro 21, 2014

Como as graças milagrosas vêm através da religião - 2/2

Masaharu Taniguchi


Até a fundadora da seita Tenri, tida como curadora de doenças, disse que sua missão principal não é a cura. Ela ensina que o homem, na essência, jamais enfraquece, adoece ou morre. Sobre os ensinamentos dessa seita, escrevi mais detalhadamente no volume 12 da coleção A Verdade da Vida, cuja leitura recomendo. Segundo a fundadora dessa seita, o homem é como uma pérola perfeita e imaculada que está só um pouquinho coberta de pó; portanto, basta eliminar o pó para que o homem revele a sua perfeição. E o que vem a ser o pó? Sua escritura diz: "A parcimônia, a ânsia, o apego e o atrevimento são o pó". Eis o pó que encobre a perfeição e a beleza de nossa Imagem Verdadeira.

A "parcimônia" deriva da ideia de que a capacidade ou a riqueza diminui à medida que é usada. Tal ideia surge quando a pessoa não conscientiza que sua Imagem Verdadeira é Deus e que possui o infinito em seu interior. Ela pensa que, se trabalhar muito, sua energia diminuirá, causando esgotamento e doença. Este pensamento é um pó que encobre a Imagem Verdadeira. A Imagem Verdadeira do homem é Deus, é Buda, é força infinita; logo, o homem não cansa, por mais que trabalhe ou estude. Por isso se diz que a parcimônia é o primeiro dos pós que encobrem a natureza verdadeira do homem.

Em seguida vem a "ânsia", outro pó condenado pela fundadora da seita Tenri. Dentre os tipos de ânsia existem a "ânsia de receber cura", a "ânsia de ganhar dinheiro", etc. Pedir ansiosamente justamente à divindade da seita Tenri, que condena a "ânsia" é muito atrevimento. Por isso, a divindade, embaraçada, diz que o "atrevimento" é um pó.

Agora vejamos porque a "ânsia" é condenável. É porque ela expressa a mente insatisfeita, a qual não existe, e que reclama "Ainda não recebi" ou "Ainda não me curei". Esta é a mente que desconhece a sua Imagem Verdadeira, a sua Vida, que já está e sempre esteve satisfeita, curada, provida de tudo e perfeita; é a mente que encobre a Imagem Verdadeira.

Não sei se está aqui presente algum adepto da seita Tenri, mas devo dizer que suplicar cura à divindade dessa seita é o mesmo que lhe confessar que está descumprindo os ensinamentos (risos na platéia). O que a fundadora da seita ensina é maravilhoso. A seita Tenri não é uma seita curandeira. Ela ensina que, em vez de ficarmos com a mente presa à doença e "ansiarmos" pela cura, devemos conhecer a Imagem Verdadeira isenta de doença.

Há cinco dias, uma senhora de sessenta e poucos anos de idade relatou o seguinte: Ela contraíra câncer uterino seis anos atrás. Passados três anos, seu estado se agravou, e ela, ansiosa de ser curada, procurou um especialista, o qual disse que, se não fosse operada logo, ela enfraqueceria gradativamente e acabaria morrendo dentro de um ano. Então ela perguntou ao médico quantos anos mais sobreviveria, se fosse operada. A resposta foi: "Como a senhora já está com a idade avançada, não posso garantir se sua vida será prolongada". Sendo operada ou não, o resultado seria o mesmo: pouco tempo de vida". Diante dessa situação, ela, que até então ansiava ser curada, abandonou essa ânsia. Desapareceram a ânsia de ser curada e o apego à vida. Tendo sessenta e poucos anos de idade, ela já havia ultrapassado em mais de dez anos a duração média da vida, que é de cinquenta anos (*obs: essa era a duração média de vida do ser humano naquela época). Ela pensou: "Graças a Deus, tive vida longa. Mais um ano de vida, para mim, é um presente do céu! O tempo que me resta, vou dedicar às pessoas a quem devo favores, em sinal de gratidão". Já sem nenhuma ânsia nem apego, e arrastando seu corpo idoso e enfraquecido pela doença, deu início à vida de gratidão e retribuição, fazendo tudo que estivesse dentro de suas possibilidades. Então aconteceu algo incrível: ela, que só teia um ano de vida segundo o médico, começou a melhorar de saúde a olhos vistos. Um ano depois, em vez de morrer, estava ficando cada vez mais saudável. E, passados três anos, estava até rejuvenescida e não parecia absolutamente uma pessoa doente. Assim contou ela. Entretanto, o corrimento indicativo de câncer uterino ainda não havia cessado. Acontece que ela tem uma sobrinha cujo marido, chamado Kazuiti Murakami, é tripulante do Katorimaru, um navio postal japonês da rota européia, que chegou ao porto de Yokohama há um mês aproximadamente. Enquanto o navio estava atracado na doca, o sr. Murakami lembrou-se dessa senhora, visitou-a há cerca de uma semana e lhe ofereceu um volume do livro A Verdade da Vida, dizendo: "A doença não é existência verdadeira. Leia umas dez ou vinte páginas deste livro, que o corrimento do câncer uterino vai cessar". Naquele dia mesmo, ela leu umas dez páginas com a ajuda de óculos. Incrivelmente, o corrimento cessou por completo no dia seguinte.

Essa senhora, no começo, ansiava ser curada, e com essa ânsia fora ao médico. Porém, quando chegou à conclusão de que morreria com ou sem operação, isto é, quando ficou sem saída, desapareceu a ânsia de ser curada. Em outras palavras, sua mente soltou a doença. Nessa situação a mente fora obrigada a soltar o que segurava. Quando é solta da mente, a doença desaparece porque é materialização de dores e sofrimentos criados na mente. Ela aceitou a ideia da morte, deixou o apego ao corpo e à vida, não ansiou mais pela cura, não desejou nada para si, e nela nasceu o sentimento de gratidão e retribuição. Ter sentimento de gratidão e retribuição significa servir à Vida global, anulando o ego. Quando a pessoa procede dessa forma, a Vida global (a Vida divina que preenche o Universo) passa a fluir nessa pessoa, e então ela se torna saudável. Esta é a razão por que a referida senhora recuperou a saúde. Mas o corrimento do câncer uterino não parava. Por que será? É porque ela fora sugestionada pelo médico com a ideia de que ela tinha no útero uma doença tão grave que lhe tiraria a vida em um ano se não fosse operada logo. Porém, quando leu o livro sagrado A Verdade da Vida, o corrimento cessou porque ela compreendeu que "o homem não é corpo carnal; por conseguinte, a doença não existe" e, assim, eliminou a ideia "existe em mim uma doença maligna chamada câncer uterino".

Sobre a cura de corrimento proveniente de câncer uterino, existe mais um caso interessante. O sr. Seiji Miura, fabricante de saquê de uma localidade chamada Kurozawajiri, que fica a umas dez léguas ao sul de Morioka, começou a ler A Verdade da Vida e, quando chegou na metade do livro, cessou o corrimento do câncer uterino de sua esposa. Parece estranho a esposa ser curada quando é o marido quem lê o livro, mas é um fato e assim deve ser segundo a teoria budista de que "os três mundos são projeções da mente". Muitos são os casos em que um dos cônjuges se cura quando desaparece o atrito mental entre eles.

A seita Konkô também, assim como a Tenri, não é uma seita curandeira, e sim uma doutrina que prega a "inexistência da doença". Identifica-se também com a Seicho-No-Ie, que prega: "Todos os bens já estão dados a você". O fundador da seita Konkô ensina: "Deus já te concedeu graças, antes de pedires" e "Afasta a dúvida e vê o caminho verdadeiro, amplo, e te descobrirás vivificado dentro das graças divinas". Ele quis dizer que sempre estivemos e estamos vivificados pelas graças divinas que nos envolvem, mas não o percebemos porque mantemos os olhos fechados; e que, se abrirmos os olhos, veremos que estamos mergulhados num mar de graças divinas. Mas, então, por que parece que uns recebem mais graças enquanto outros, menos? Isto porque no mundo fenomênico - que é projeção da mente - as graças, já concedidas infinitamente, manifestam-se conforme a mente de cada um. Referindo-se a isso a seita Konkô diz: "As graças estão em tua mente". Diz também que "as súplicas não alteram as graças".

Portanto, os adeptos da seita Konkô que oferendam dez ou cinquenta ienes a Deus e fazem súplicas interesseiras tais como "Concedei-me uma graça cem vezes maior que esta oferenda" estão, na verdade, contrariando os ensinamentos do fundador. Como Deus não aceita tal dinheiro, este se tornou alvo de disputa acirrada entre o grupo do presidente e do vice-presidente.

Religiões boas são aquelas que proporcionam ao ser humano a consciência de que "já está salvo!", "já está dentro das graças divinas!", "já está no paraíso (ou Céu)!", "já é filho de Deus, filho de Buda!". Quem pensa que ainda não está no paraíso (ou Céu) não poderá alcançá-lo, mesmo pagando indulgência. Por exemplo, os adeptos da seita budista Hoganji que levam donativos à seita, esperando ir ao paraíso após a morte, poderão ter, na hora de morrer, o seguinte remorso: "Doei à Hoganji uma boa soma de dinheiro, mas aquilo é insignificante, comparado a todos os bens que possuo. Eu estava com o pensamento egoísta, mesquinho, de querer ir para o Céu em troca daquela ninharia. O certo seria oferecer tudo a Buda. Talvez não mereça ir para o Céu". E , como consequência desse remorso, poderão cair no inferno, apesar de terem dado dinheiro à Hoganji.

Caros ouvintes, o paraíso está aqui, agora. O paraíso é onde vivem apenas Budas. Eu, que estou falando, sou Buda. Vocês, que estão me ouvindo, também são Budas. Eu e vocês somos todos Budas. Não me estou referindo ao corpo carnal, que é apenas sombra projetada e falsa existência. Não sendo existência verdadeira, muda constantemente. Vocês não devem considerar isso como seu Eu verdadeiro. No âmago transcendente do corpo existe a Imagem Verdadeira, que é o Eu verdadeiro de vocês. Essa Imagem Verdadeira é que é Buda, e ela é imutável. A Imagem Verdadeira de todos vocês é Buda em todos os tempos: no passado, no presente e no futuro. Somente Buda é existência verdadeira. Nada existe além de Buda. Compreender isto é oferecer tudo a Buda. Vivendo no mundo presente ou passando para o outro mundo, estaremos igualmente no mundo de Buda. Tendo esta fé, não ficaremos apreensivos ou abalados na hora da morte. Temos sempre a mente tranquila, pois sabemos que estamos agora no paraíso e nele também estaremos após a morte carnal.

Jesus Cristo também ensina: "Nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de Deus está dentro de vós". Isto coincide com o ensinamento da seita Konkô, que diz: "As graças divinas estão em tua mente", e com o do budismo, segundo o qual "os três mundos são projeções da mente". O apóstolo Paulo, quando orou pedindo a Deus que afastasse o "espinho", teve a seguinte resposta: "A minha graça te basta." Isto corresponde ao que a seita Konkô ensina: "Deus já te concedeu graças, antes de pedires". As graças já nos estão dadas. Já somos perfeitos, já estamos seguros, já somos filhos de Deus! Este é o verdadeiro significado da frase: "A minha graça te basta". Mas Paulo não compreendeu o verdadeiro sentido dessas palavras. Ele entendeu que o "espinho na carne" fosse uma "graça de Deus" destinada a frear sua arrogância. Tal como Paulo, existem muitos devotos que consideram a imperfeição, os sofrimentos e as doenças como "graças" concedidas por Deus para que possam refletir e se corrigir. Entretanto, Deus não é um ser incoerente que cria o homem pecável, imperfeito, e depois, quando comete pecado, manda-lhe infelicidade, sofrimento ou doença para conduzi-lo à reflexão.

"A minha graça te basta" - com estas palavras, Deus quis dizer que suas graças nos estão dadas suficientemente, que fomos criados perfeitos, que já estamos no reino de Deus, que somos saudáveis e isentos de todo e qualquer tipo de doença ou sofrimento. Assim é a Imagem Verdadeira, a natureza verdadeira dos filhos de Deus que somos. Ensinar isto é a função da verdadeira religião. Prometer graças em troca de contribuição ou serviço é comércio, e não função da religião.

Se na Seicho-No-Ie - que não cobra um centavo de oblata - as pessoas se curam de doenças cientificamente incuráveis ou passam a receber a provisão inesgotável apenas lendo os livros sagrados, é porque elas conscientizam as graças divinas, que lhes bastam. Isso é prova de que a Seicho-No-Ie não é uma religião que faz "transação comercial" com espírito ganancioso caracterizado pela "ânsia" e "parcimônia".


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 27", pgs. 36 à 44)

2 comentários:

  1. Caro,Amigo Gustavo,

    Mais um texto maravilhoso, apontando para a Essência!

    Este comentário é extensivo ao anterior "A Imortalidade Trazida à Luz".


    Parece coisa "de outro mundo"...e, de certa forma, é mesmo: o Mundo que está Aqui/Agora, mas não percebido pelos "sentidos intoxicados".

    O Mundo do Eu que é tudo em todos.

    Agradeço, a voSER por por mais esta postagem!

    Reverências!

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  2. Olá, SERgio!

    Reverências!

    Ultimamente os textos têm sido bastante profundos. Esse da "Imortalidade trazida à Luz", então, nem se fala. São textos que a mente se recusa a compreender, porque não é capaz de enxergar o que está sendo ali dito. Mas, quando lidos com a Consciência, fazem total sentido.

    Obrigado pelas palavras, e pelos comentários, sempre presentes.

    Grande Abraço! _/\_

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