segunda-feira, agosto 11, 2014

Estados e estágios de consciência

DEUS, A SUBSTÂNCIA DE TODA A FORMA
(Joel S. Goldsmith)

- Capítulo 11 -

ESTADOS E ESTÁGIOS DE CONSCIÊNCIA

"Em seguida o Senhor estendeu a sua mão, tocou-me na boca e disse-me o Senhor: Eis que eu pus as minhas palavras na tua boca; eis que te constituí hoje sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares e destruíres, para arruinares e dissipares, para edificares e plantares." (Jeremias 1: 9-10)

Aquilo não foi dito a um homem; foi dito a um estado de consciência, um estado de consciência espiritual. Aquele estado de consciência não apenas arranca, mas também planta; ele destrói, mas edifica. A única coisa que é posta abaixo e destruída é um falso conceito, um falso conceito de Deus, um falso conceito de universo, um falso conceito de seu ser e corpo individual: O que é edificado é a conscientização de sua identidade verdadeira – um conhecimento do mundo e de tudo que nele está como realmente são.

Existem estados e estágios de consciência, e ao trabalharmos no mundo humano com nossos recursos humanos, sabedoria humana e força física, estamos vivendo em um estado material e através de um estado material de consciência.

Até a metade do século dezenove, o mundo estava em sua maior parte num estado de consciência material, quando então avançou para um estado mais mental de consciência. Sempre existiram algumas poucas pessoas que em certa extensão conheciam o reino mental – os artistas, escritores e visionários de todas as épocas. Quando o poder da mente atraiu em grande escala a atenção do mundo, durante a metade do último século, o mundo parecia estar pronto para avançar a um estado mental de consciência e passou a realizar mentalmente aquilo que antes era feito fisicamente. Em outras palavras, as curas do corpo que antes eram realizadas por remédios, ervas e ataduras, passaram a ser feitas por “pensamentos”, por sugestões mentais, e às vezes até mesmo por auto-sugestão. Vieram todos os tipos de tratamentos mentais, desde o hipnotismo até as mais leves formas de sugestão ou auto-sugestão.


O ESTADO MÍSTICO DE CONSCIÊNCIA

Através de todas as épocas, tem sido conhecido que além do material e mental, existe um terceiro tipo mais elevado de consciência, a consciência espiritual, atingida pelos místicos do mundo, por aqueles que conscientemente encontraram sua unidade com Deus. O misticismo é todo ensinamento ou religião que conhece a possibilidade de haver uma união consciente com Deus. Em seu sentido correto, o misticismo reconhece a capacidade de se receber, sem benefício ou ajuda externa, a comunicação com Deus, de comungar com Deus e receber diretamente Sua orientação. Nada há de oculto ou de misterioso no misticismo. Corretamente compreendido, o misticismo é a linguagem de todos os ensinamentos metafísicos, pois trata da unidade consciente com Deus.

O estado místico da consciência – consciente unidade com Deus – é o estado mais elevado que existe. Nele, a mente consciente que pensa apenas funciona como veículo da mente divina, da Sabedoria universal, que Se individualiza como sua e como minha mente.

Assemelha-se a um artista, que em momentos de elevada inspiração concebe um quadro de rara beleza: logo ele irá cristalizar aquela visão em uma tela, com a ajuda não apenas de suas mãos, mas também de sua mente humana, através de seus conhecimentos de cor, perspectiva e técnica de pintura. Com toda a sua habilidade ele executaria a ideia oriunda de sua percepção do infinito sentido espiritual do ser.

Da mesma forma, o tom, a melodia ou a harmonia que um compositor incorpora em seu trabalho também tem sua origem no Infinito, na Consciência universal, que Se individualiza como a obra deste compositor. Porém tal músico teria que fazer uso dos seus conhecimentos de teoria e harmonia musical, obtidos por ele individualmente, e através da mente humana teria de traduzir sua ideia na forma de uma peça musical, possível de ser executada por algum artista habilidoso na arte do instrumento musical pretendido.

O maior místico de todos os tempo foi João, o discípulo predileto. Foi quem escreveu: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (João 1: 14). O verdadeiro místico não é um visionário no sentido de considerar algo impraticável, e este ensinamento não é o de um visionário que se põe sentado, com a cabeça nas nuvens. Aquilo pode ser permitido e ter a sua importância, desde que enquanto a cabeça estiver nas nuvens, seus pés fiquem firmemente plantados no chão, isto é, embora pareça algo intangível ou visionário para os sentidos, torna-se tangível como forma e demonstração.

Neste estado espiritual de consciência você não apenas sonha, mas tem visões e recebe ideias. Você não fala delas aos homens comuns, porque “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente” (I Coríntios 2: 14). É melhor retê-las na própria consciência, sempre trabalhando no seu desenvolvimento, até finalmente você receber a prova de que o Verbo se fez carne. Ele se torna tangível; Ele se torna visível; Ele habita entre nós como demonstração. No Caminho Infinito da vida, nós sempre estamos nos empenhando na aquisição de maior compreensão espiritual, e caminhando nessa direção, observamos como ela se torna tangível e visível em nossa experiência.

Ver espiritualmente é bem diferente de ver psiquicamente. Quando nos tornamos conscientes de experiência psíquicas, tais como ver cores ou ter visões, mesmo que elas possam ter alguma aplicação em nossa experiência humana, isto é, que possam ser usadas como profecia ou aviso, ou mesmo como orientação, lembre-se de que elas pertencem inteiramente ao nível psíquico ou mental da consciência. Esse tipo de experiência psíquica em nada se relaciona com o mundo do Espírito. Na literatura espiritual você nunca encontrará alguma referência a elas como sendo de natureza espiritual. Somente na literatura psíquica ou ocultista é que encontramos referências àquelas experiências.


O UNIVERSO “REAL” E O “IRREAL”

Ao nos iniciarmos na metafísica aprendemos sobre o “mundo real” e o “mundo irreal”, sobre o “homem real” e o “homem irreal”. Por enquanto pode ser necessário fazermos esta distinção entre o que aparece a nós como um mortal (um ser humano) e o tipo ideal de homem, que chamamos homem-Cristo, o mais elevado ideal de ser individual que pode ser concebido.

Quando estamos neste caminho como neófitos ou mesmo iniciados, podemos fazer aquela distinção e falar em termos de “realidade”, “homem real” ou “universo irreal”. Jesus disse: “O meu reino não é deste mundo” (João 18:36). Isto poderia dar-nos a entender que existem dois mundos, mas é somente um meio temporário destinado a separar o nosso pensamento da crença de que o ser humano mortal, pecador ou doente, é creação de Deus. Assim, no início de nosso estudo e prática, seremos capazes de olhar para esse mundo humano e dizer: “Obrigado, Pai. Eu sei que isto não é obra de Suas mãos!”

De fato, Deus nunca creou aquilo que vemos, pois o que nos é visível não é realmente o que está naquele local. O que vemos é apenas um conceito que temos daquilo que ali se encontra, e esse conceito nada tem a ver com a creação de Deus. Tal conceito se baseia em nossa bagagem cultural, em fatores hereditários e em nossas experiências humanas na vida. Por exemplo, se alguém tiver sido roubado algumas vezes, não confiará mais em nenhuma pessoa, ou se tiver sido enganada repetidamente, não acreditará mais em ninguém. Também pode ocorrer o extremo oposto: a pessoa que tenha conhecido somente pessoas de integridade, nunca pensará na possibilidade de existir a desonestidade ou existirem pessoas que intencionalmente prejudicam os outros. Em ambos os casos os conceitos mantidos por aquelas pessoas foram consequência do ambiente e experiência por que passaram.

O mesmo se aplica a cada um de nós. Os conceitos que mantemos do mundo e de tudo que nele existe são moldados pelo meio-ambiente, pelas influências hereditárias e pela educação que tivemos. Todos esses fatores contribuem na formação dos conceitos que retemos do universo.

O quadro que temos à frente, do bem e do mal humanos, é este o mundo “irreal” sobre o qual ouvimos falar em metafísica, e que a maioria dos metafísicos interpreta como um mundo que não existe, ou como um homem que não existe e que não é o homem-Cristo. Isto não é verdade. A única irrealidade sobre este universo e sobre o homem que estamos vendo é somente o nosso conceito, e não aquilo que realmente lá se encontra.

Neste período em que avançamos do humano ao divino, um aprendizado que precisaremos conseguir para prosseguirmos em nosso desenvolvimento espiritual será o da conscientização de que aquilo testificado pelos cinco sentidos físicos não é realidade. Por esse motivo é que encontramos na literatura metafísica os temos “mundo real” e “mundo irreal, “homem real” e “homem irreal”, homem material e homem espiritual.


O HOMEM ESPIRITUAL E O UNIVERSO ESPIRITUAL ESTÃO AQUI E AGORA

Ao se elevar neste caminho espiritual, você fará uma grande descoberta. Você próprio é aquele homem espiritual, e exatamente aqui e agora é o universo espiritual: para alcança-lo você não precisará nem morrer e nem mesmo tornar-se alguém que você já não seja agora. A única coisa necessária é abandonar os falsos modelos da humanidade, os medos infundados e a ignorância da existência de um Princípio que a tudo governa.

Não temos de nos tornar algum outro além do que já somos a fim de recebermos a orientação divina, a sabedoria divina, a proteção divina e o suprimento divino. O porque disso é que tão logo nós relaxamos o pensamento humano, isto é, os pensamentos de medo e de dúvida, tão logo aprendemos a soltar a crença num poder separado de Deus e retornamos descontraidamente ao estado natural e normal do ser, passamos ao reconhecimento: “Ah, sim, Deus é!”. E é quando o mundo todo de temores, ansiedades e dúvidas humanas desaparece juntamente com toda necessidade de planejamentos ou programas de caráter humanos.

Não há necessidade alguma de ficar pensando sobre o amanhã, pois a cada minuto de cada dia eu recebo um impulso para fazer o que deve ser feito naquele momento. Nenhuma obstrução existe, pois nada há em meu pensamento que possa barrar o fluxo desse Impulso divino. Não há hesitação ou indecisão, já que não existe nenhum sentimento de que eu tenha de realizar algo através de minha ingenuidade humana. Portanto, com esta conscientização, eu me torno uma transparência para o Impulso divino, e Ele mantém todo o desenvolvimento através do tempo.

Tendo esta conscientização, atingimos um conhecimento mais profundo do plano divino para o mundo e desta forma ficamos relaxados, depositando nele toda a nossa confiança.

O mesmo se aplica às suas atividades, no lar e nos negócios do mundo. No estágio onde, pela metafísica, você é denominado “homem humano” ou “homem pensante”, muito do seu tempo é perdido no planejamento de cada dia, em preocupações sobre o que irá fazer no ano seguinte, ou sobre o que deveria ser feito com relação a isto ou aquilo em seu mundo pessoal. Este é o estado ou estágio de consciência em que você é um mortal, um ser humano. Mas através da metafísica, você aprende que há um “homem real” e passa a erguer imediatamente um ideal, visualizando Jesus Cristo, ou alguma outra pessoa, ou visualizando a si próprio se aproximando daquele estado de espiritualidade e divindade atribuído ao homem real. Isto, por algum tempo, atenderá seu objetivo dando-lhe um ideal em cuja direção irá caminhar.

Mas queremos lembra-lo que durante todo o tempo você é aquele homem ideal, e tudo que é necessário para trazer este homem à manifestação é a sua conscientização de que existe um Princípio divino operando no universo. No instante em que aquilo for percebido, você ficará descontraído, soltando tudo o que constituía a sua humanidade – suas preocupações, receios, dúvidas, ansiedades, medos e planejamentos. E ao mesmo tempo em que o falso senso de humanidade se vai, você passa a descobrir a si mesmo como sendo aquele homem espiritual, aquele homem real, aquele homem que você estava tentando se tornar.

Você não chegará ao reino dos céus enquanto não começar a perceber que já é agora aquele homem espiritual, aquele homem que está agora no paraíso, sob regra e jurisdição divina. Aprenda mais e mais relaxar e deixar que aquela lei se torne visível em sua experiência, operante em sua vida. Você não irá nunca ser transformado em outro homem; mas pelos ensinamentos, estudos, pela prece e meditação, fará desenvolver uma elevada consciência da verdade: será o mesmo homem, porém sem as suas antigas limitações humanas.

Estou considerando tudo isso para deixar clara a resposta sobre a diferença entre a visão psíquica e a visão espiritual, pois uma vez atingida a conscientização de que exatamente aqui e agora você é um ser espiritual que é a própria manifestação de tudo que Deus é, então você deixará de lado todo o mundo psíquico com suas visões, cores, ou desejos de ver algo de qualquer natureza.


A VISÃO ESPIRITUAL

A verdade é que você tem sido sempre aquele “homem real”, embora não tivesse a consciência desse fato. Mas quando aquele momento de consciência vier, você olhará para este mundo e perceberá:

"Este é o mundo que Deus creou; este é ele. A mente humana não o está vendo como ele é, mas apesar disso, este é ele. A mente humana não me vê como eu sou, mas eu sou Ele (soham). Se olhar para o espelho e tentar encontra-Lo, eu não serei capaz de vê-Lo, pois novamente estaria tentando localizá-Lo. Estaria novamente olhando para um conceito e tentando encontra-Lo, aquele que está aqui como a própria presença de meu ser. Como poderia ser eu algum outro além do que Eu sou? E aquele Eu é a manifestação de tudo que Deus é: Aquele Eu é o Cristo, e Eu sou Ele. Neste momento de conscientização, eu encontro-me relaxado, e Eu sou Ele."

Esta é a razão pela qual no início de seu ministério Jesus falava somente do Pai interior, negando a sua humanidade. “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma... a minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.” Ele proclamava que aquilo que o mundo via como um ser humano não era, em si ou de si mesmo, a realidade do ser, mas apenas o veículo ou transparência através do que o ser real era manifestado.

Mas como encerrou Jesus o seu ministério? “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o pai... Eu e o Pai somos um.” (João 14:9; 10:30). Nesta visão final, ele contou a eles a verdade total: despojado dos temores e ansiedades humanos, dos traçados e planejamentos humanos, o Eu que eu sou é aquele próprio Ser espiritual.

Tem sido dito que a mais elevada concepção é aquela que permite o olhar de frente a face do diabo e ver somente a face de Deus. Este estado espiritual está muito acima do mental ou psíquico, e é o estado que nos possibilita a olhar a cada homem e mulher do mundo e dizer: “Eu estou olhando a face de Deus”. Você somente conseguirá realizar isto quando sua própria consciência estiver despida de desejos, quando você não desejar mais nada dos outros, quando você puder olhar para o mundo sem aspirações, luxúria, animalidade, ódio ou medo. Você será a mesma pessoa que há vinte e cinco anos poderia ter olhado para o mundo e visto alguém a quem cobiçasse ou alguém que lhe causasse medo, mas agora você a olharia dizendo: “Eu vejo a face de Deus!”. Percebeu o que eu quis dizer? Não há dois de você. Há apenas um, e Eu sou aquele um.

Mas você é aquele um somente na proporção em que tiver crescido através de todos esses ensinamentos espirituais ao lugar que poderá olhar para o mundo sem desejar algo, ou sem cobiçar as coisas carnais, sabendo que na realidade de seu próprio ser a realização de Deus é feita manifesta, e que tudo que lhe for necessário tornar-se-á manifesto no momento adequado. Seja dinheiro, companhia, transporte – ou qualquer outra necessidade – Deus dá expressão a Si mesmo como ser individual, como o meu ser individual e como o seu ser individual. Ao assimilarmos isto, estaremos de posse da mais elevada revelação da verdade espiritual. Não existe céu e terra; não existe Deus e homem; não existe ser espiritual e ser material. Existe somente um, e Eu sou Ele.

O Mestre do Cristianismo nos deu dois grandes ensinamentos:

1) Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. (Lucas 10:27)

2) Se alguém diz: Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (I João 4:20)

Se nós não amarmos ao homem a quem podemos ver, como iremos amar a Deus que nós não vemos, se Deus e homem são um? Ao senso finito, que vê através de limitada visão, é verdade que Deus é invisível; mas uma vez atingido este elevado estado, esta elevada realização do ser espiritual, passamos a olhar para o mundo e ver cada pessoa, cada circunstância e cada condição como sendo Deus aparecendo, e então Deus se torna visível para nós. Até que tenhamos atingido aquele estado, contudo, Deus será invisível para nós, porque para honrarmos a Deus, o Invisível Infinito, nós devemos honrar ao homem com Deus feito manifesto de forma visível.


GRATIDÃO

Como nós amamos a um indivíduo? Precisamos compreender a individualidade como sendo Deus, compreender que Deus é o ser individual – e a única individualidade que há. Tal individualidade aparece infinitamente, e ela surge como o seu eu individual e como o meu eu individual. Portanto, ao honrar e respeitar o indivíduo, estaremos cultuando Deus.

Eis o porque de eu vir dizendo que o primeiro dever do discípulo ou estudante é o da gratidão. A gratidão deve ser expressada tangivelmente, e isto não pode ser feito num plano abstrato. Portanto ela precisa ser expressada a um indivíduo. Somente expressando gratidão a um indivíduo, estará você expressando gratidão à individualidade de Deus numa de suas formas. Você estará reconhecendo a Deus como a origem daquilo pelo que você está agradecido.

Nunca deveríamos dar ou receber dinheiro, tomar algum alimento ou bebida, sem que houvesse um momento de reconhecimento e de gratidão àquela infinita Fonte que também é a Fonte de nosso ser. Se isso, porém, for feito, mas falharmos em sermos igualmente gratos ao indivíduo pelo qual o bem vem a nós, a nossa gratidão ficaria no plano do abstrato. Estaríamos com a cabeça nas nuvens sem manter os nossos pés no chão.

Há diversas maneiras ou formas para expressarmos gratidão a um indivíduo. Uma delas, naturalmente, é através do dinheiro; uma outra é pelo reconhecimento. Reconheçamos a parte que cada um de nós toca na vida das outras pessoas e sejamos desejosos de fazer com que nossa gratidão flua a elas em alguma forma tangível. Poderia ser em forma de serviço, em forma de palavra falada ou mesmo em forma de dinheiro. Qualquer forma que seja, ela deve acontecer, deve ser expressada, e deve ser expressada a um indivíduo a fim de ser ofertada a Deus, pois Deus aparece a cada um de nós como o indivíduo.

Omar Khayyam teve a visão correta ao dizer: “O paraíso é uma visualização dos desejos realizados”, e você e eu estamos no paraíso no exato momento em que sentimos estarmos vivendo a vida para a qual fomos trazidos para viver, e nós sabemos quando aquilo está acontecendo pelo sentimento de retidão existente em nossas vidas. Não há alegria real na realização de um trabalho que não gostamos, mas quando amamos o nosso trabalho, não vemos a hora de executá-lo. Naquele senso de retidão nós encontramos o nosso céu, a nossa harmonia. Omar Khayyam teve esta mesma visão quando escreveu: “Um pedaço de pão, um copo de vinho, e você”. Naquela simples experiência de uma companhia humana, naquele preenchimento das necessidades físicas de alimento e bebida, ele via um senso de felicidade, um senso de paz e de contentamento. Era uma visão mística, não contendo maior sensualidade do que o Cântico de Salomão. Era algo espiritual, traduzido à linguagem cotidiana da experiência humana.

Se eliminássemos aquela experiência humana de todos os dias, como iríamos poder experimentar aquela coisa transcendental chamada felicidade ou paz mental? Não, é justamente nessa vida comum de todo dia, nos simples e pequenos gestos de cortesia, bondade, estima, gratidão, ajuda e cooperação, que nós por fim encontramos nossa paz espiritual? Somente nessas pequenas coisas humanas de lugar comum, nesses relacionamentos humanos, iremos por fim encontrar a nossa paz espiritual e a divindade do nosso ser.


ATINGINDO A CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL

É preciso que nós acabemos com o mistério do “homem real” e do “universo real” para conscientizarmos que este é o paraíso, exatamente aqui e agora. Se não estamos encontrando o paraíso aqui, isto não significa que existe algum outro mundo que devemos procurar ou que existe algum outro homem no qual devemos nos tornar. Precisamos somente relaxar a nossa humanidade, despindo-nos dos temores, preocupações e dúvidas de natureza humana. Mas isso não pode ser feito simplesmente com o poder de nossa vontade. Só há um meio de se perder o senso humano ou mortal de existência, e é estarmos conscientes de uma Presença que nós conhecemos e compreendemos ser Deus. Aquela consciência é atingida através de nossa receptividade, através de meditação e ponderação das verdades da Escritura ou da literatura espiritual.

Não se trata de afirmar ou negar algo até que uma verdade seja memorizada e enraizada na mente humana. Trata-se de um ponderar suave, calmo e pacífico dessas verdades espirituais até elas serem absorvidas de forma a se tornarem parte de nossa consciência. Assim, nós adquirimos a convicção da presença de Deus; experimentamos e sentimos realmente aquela Presença, perdemos todo o falso senso humano, aquele senso humano negativo, e nos encontramos numa condição considerada pelo mundo como um estado de boa humanidade, mas que na realidade não se trata daquilo, absolutamente: trata-se da divindade do nosso próprio ser, feita manifesta. Tal divindade apresenta-se como você e eu, individualmente – o Verbo se torna carne e habita entre nós, e aquele Verbo se faz carne como você e como eu.

Observe que não é nossa intenção tentar destruir ou mesmo inativar a mente humana. O nosso esforço está voltado na direção de nos tornarmos cônscios da verdade espiritual; nós tentamos adquirir a consciência da paz, quando então a mente humana passará a ser o que lhe fora destinado a ser originariamente – um veículo de nossa sabedoria e conhecimento. De forma similar, nosso corpo não desaparecerá em virtude do atingimento da consciência espiritual, mas atuará como era pretendido inicialmente, ou seja, como veículo de nossa expressão individual.

"Antes que eu te formasse no ventre de tua mãe, te conheci; e, antes que tu saísses do teu seio, te santifiquei e te estabeleci profeta entre as nações" (Jeremias 1: 5).

Conscientize-se, agora, de que antes da concepção deve ter havido uma consciência que a causou, uma consciência que formou o seu corpo. Nós, como pais, não poderíamos formar um corpo nem para nossos próprios filhos, embora possamos ser veículos através dos quais aquilo pode ser feito. Uma consciência formou aquilo que somos. E esta só poderia ser a Consciência divina, que nos formou conforme os Seus padrões, e que nos mantém e sustém sob custódia. O que vem ocorrendo, no transcorrer desses anos todos, é que temos assumido toda a responsabilidade de nossos trabalhos, esquecidos de que aquilo que nos formou como seres individuais, dando-nos forma e corpo, e que aparece ao mundo como creação, foi um estado de consciência executante de um plano eterno. Portanto, o que foi formado é homem espiritual.

“E te estabeleci profeta entre as nações.” A consciência que o formou, formou-o como uma entidade espiritual, como um profeta, ou como um estado perfeito de consciência.

"Não digas: Sou um menino; porquanto a tudo o que te enviar irás, e dirás tudo o que eu mandar" (Jeremias 1: 7).

Em outras palavras, há sempre esta consciência infinita, eterna, imortal e espiritual, que age, fala e desempenha como sendo você. Nós é que nos mantínhamos separados d’Ela, assumindo todo o trabalho como quis fazer o filho pródigo. Mas, através deste ensinamento, estamos retornando ao Pai-consciência e começando a nos conscientizar: “Ora, eu sou aquele profeta, eu sou aquele vidente espiritual perfeito.”.

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