DEUS, A SUBSTÂNCIA DE TODA A FORMA
(Joel S. Goldsmith)
- Capítulo 7 -
O ÚLTIMO INIMIGO
Todos têm interesse no assunto da imortalidade – imortalidade aqui e agora, neste corpo, e não uma imortalidade a ser alcançada após a morte. É neste próprio corpo que podemos experienciar a imortalidade: neste próprio corpo que ora utilizamos como instrumento. Não iremos perder nosso corpo, mas perderemos o nosso falso conceito do corpo pela conscientização de sua natureza verdadeira.
Com a perda do sentido de doença, acidente e velhice, e com a conscientização do corpo perfeito não ocorre a perda do corpo: ocorre apenas a perda do falso conceito do corpo e a conscientização de sua natureza verdadeira. Do mesmo modo, experienciar a imortalidade aqui e agora não acarreta a perda do corpo, mas apenas na perda do falso sentido do corpo. Em nossa meditação diária vamos assim conscientizar a imortalidade aqui e agora – a imortalidade deste corpo e deste universo – para que possamos descartar o falso sentido que o mundo faz do corpo e do universo.
"Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte" (I Coríntios 15: 26). Para muitos, isto pode parecer bastante desencorajador. Mas, de uma coisa podemos estar certos, seja ou não este o último inimigo a ser aniquilado: ele não será vencido enquanto nós não começarmos a vencê-lo, enquanto nós não tomarmos alguma atitude em relação a ele. Passar de ano em ano somente repetindo: "Bem, a morte será o último inimigo a ser vencido", não fará com que ela seja adiada. Se desejamos adiar a morte e finalmente vencê-la, devemos começar agora mesmo.
O que é a morte? A morte parece ser um cessar momentâneo da consciência. Mas a consciência não pode permanecer ou estar em estado inconsciente. De fato, a consciência nunca pode se tornar totalmente inconsciente. O que chamamos de morte não passa de um lapso aparente de profunda inconsciência, do qual nos tornamos conscientes novamente, de forma similar àquela que ocorre quando dormimos.
O CORPO EXPRESSA A ATIVIDADE DA CONSCIÊNCIA
O passo inicial para vencermos a morte está na conscientização de que o corpo não possui qualquer inteligência pela qual possa viver ou morrer. O corpo não tem inteligência para apanhar um resfriado, e para conseguirmos um resfriado para ele precisamos permitir a atividade da mente carnal aceitando as crenças do pensamento humano; e teremos de agir do mesmo modo para contrair para o corpo doenças de qualquer natureza. A doença humana nunca é contraída pelo corpo ou através dele. O corpo não possui inteligência: ele não pode se mover; é inerte; e, como uma sombra, reflete nosso próprio estado de consciência. Toda doença, portanto, que pareça ser do corpo é contraída através da atividade da mente humana pela sua aceitação das crenças universais. O primeiro ponto então para que a morte seja vencida é superar a crença de que o corpo tem, por si, capacidade de viver ou morrer, e conscientizar que o corpo tem somente a capacidade de refletir ou expressar a atividade de nosso próprio estado de consciência.
Quando nós aceitamos na consciência o pensamento ou crença de morte, é que o corpo sucumbe a ela. Tem sido dito, repetidas e repetidas vezes, tanto pelos metafísicos como pelos médicos, que as pessoas morrem somente quando dão o seu consentimento. De uma maneira ou outra isto é verdade. Consciente ou inconscientemente é dado o consentimento para que ocorra a morte. Se você compreender este ponto de forma suficientemente clara, poderá não apenas adiar e provavelmente dominar a morte, mas estará de posse de uma verdade com a qual atenderá os chamados referentes a doenças e senilidade.
O fato de um indivíduo no caminho espiritual experimentar a morte ou passamento não significa necessariamente que ele tenha morrido. Por favor, lembre-se do seguinte: isto que venho dizendo não é produto de minhas suposições ou de algo que eu tenha lido em algum livro; tudo que tenho dito vem de experiência real em revelações interiores.
PROGRESSO OU RETROCESSO
Quando as pessoas na corrida normal da vida morrem, ocorre apenas momentâneo lapso de consciência do qual elas despertam praticamente no mesmo grau de mortalidade ou sentido material. Elas não se tornam mais avançadas ou mais espiritualizadas por causa da "passagem"; sua materialidade não se converte em espiritualidade. Elas talvez possam se livrar de uma dor imediata ou de uma doença imediata, mas tal libertação é similar à trazida pela medicina. A ajuda médica poderia livrá-las da dor ou da doença, mas nunca as faria avançar espiritualmente. Do mesmo modo, mesmo que o fenômeno da morte possa aliviá-las de alguma doença ou calamidade, isso não mudaria o nível de consciência delas; e iriam permanecer no mesmo nível material ou mortal, com a mesma oportunidade de a certos momentos avançar no caminho espiritual ou retroceder. A escolha é delas, tanto aqui como depois. Isso tudo, naturalmente, se aplica àqueles que no nível comum da existência humana morrem por acidente, doença ou pela comumente chamada "morte natural".
Os que deixam este plano de existência enquanto estão nas baixas esferas da vida, ou seja, como um alcoólatra, um viciado em drogas, um criminoso ou qualquer outro estado grosseiro da materialidade, irão permanecer no mesmo nível após a sua "passagem". A materialidade deles se tornará ainda mais densa, embora em alguma época, despertando para a verdadeira identidade, possam mudar o curso e iniciar a ascensão espiritual.
O estudante de religião ou metafísica que experiencia a morte ou "passagem" quando em ascensão espiritual, enquanto se eleva em sua trajetória, não somente desperta bem avançado no caminho, mas, em muitos casos, se for ampla a sua proximidade com relação à verdade espiritual, sua "transição" poderá significar uma libertação completa da experiência física ou mortal. É esta a libertação contida na mente dos seguidores de certas religiões ocidentais, que ao lado de seus ensinamentos sobre a reencarnação fazem referência ao estado que almejam atingir para não precisarem mais retornar à terra. Em outras palavras, alguns indivíduos atingem tal nível de consciência espiritual, que têm pleno conhecimento de sua verdadeira identidade e de que o chamado corpo físico não constitui o ser e não possui inteligência por si próprio, mas é um veículo ou instrumento através do qual eles aparecem como forma. A estes, a experiência da "passagem" pode fazer cessar o envolvimento com a consciência de sentido mortal ou material, fazendo com que eles passem à plenitude do viver espiritual.
VENCENDO O MUNDO
Temos a oportunidade de dominar a morte por completo, no sentido de permanecermos aqui na terra em nossa forma presente e nas contínuas e progressivas aparências que esta forma venha a assumir. Não sei se isso vem sendo feito ou não, mas há esta oportunidade. Contudo, o ponto importante não é este. Se iremos permanecer aqui por duzentos ou por dois mil anos não tem importância maior do que viajar para Nova York ou para a Califórnia ou Europa. Não há importância alguma o lugar em que iremos viver. O importante é como vivemos e porque vivemos. O ponto importante é em que nível de consciência estamos vivendo. Estamos nós vivendo de forma tal que, seja qual for o local ou plano de existência, dominamos os obstáculos da mortalidade e da materialidade?
Uma das últimas declarações de Jesus foi a seguinte: "Eu venci o mundo" (João 16: 33). Mas era ainda Jesus que estava dizendo aquilo, enquanto estava no mesmo corpo. "Eu venci o mundo". Nós, também, vencemos o mundo à medida de nossa conscientização:
"Este corpo não é um poder sobre mim. Eu sou a vida, a mente, a inteligência e o poder que governam este corpo. Não eu, um ser humano, mas Eu, a divina consciência do Ser, dirijo este corpo, este negócio, este lar, este ensinamento e este algo mais dentro da faixa da minha consciência."
O grau de nossa conscientização de que esta divina Consciência nos governa é o grau com que nós "vencemos o mundo". Então poderemos caminhar por sobre as águas, caminhar entre os micróbios, caminhar entre as guerras ou catástrofes, sem que nenhuma dessas condições tenha grande efeito ou poder sobre nós, porque dentro de cada um de nós estou Eu, e Eu sou o poder que rege toda a nossa experiência. Onde quer que estejamos, seja qual for a condição ao nosso redor, iremos nos encontrar diariamente alimentados, vestidos e abrigados. Se for necessário, encontraremos o maná caindo do céu; se for necessário, acharemos ouro na boca de um peixe; se for necessário, veremos pães e peixes serem multiplicados. De uma forma ou outra, seremos supridos diariamente com tudo o que se fizer necessário, seja na forma de pessoa, lugar, coisa, circunstância ou condição. Mas esta nossa experiência ocorrerá somente quando vencermos o mundo.
O processo para vencer o mundo tem início com a nossa compreensão da unidade, de nossa união com Deus, com a nossa conscientização de que "eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma" (João 5: 30), tudo que está fluindo através de mim é a vida, a saúde e a plenitude que é Deus.
"Isto disse o Senhor: Não se glorie o sábio no seu saber, nem se glorie a fonte na sua força, nem se glorie o rico nas suas riquezas; porém, aquele que se gloria, glorie-se em Me conhecer, e em saber que Eu sou o Senhor que exerce a misericórdia, a equidade e a justiça sobre a terra". (JEREMIAS 9: 23,24)
No momento em que começamos a perceber que tudo que temos é do Pai, que é universal, impessoal, imparcial e, portanto, que não temos direitos nem patentes, estaremos abrindo nossa consciência ao fluxo; e é quando aquele governo se responsabiliza por nosso corpo, nossos negócios, nosso lar, onde quer que estejamos.
RESSURREIÇÃO E ASCENSÃO
Na consciência de Deus não existe morte. Deus não pode morrer. Deus é vida eterna e a Consciência infinita não pode morrer ou ficar inconsciente. Deus, a divina Consciência, está sempre Se expandindo, Se revelando, manifestando e expressando ininterruptamente a Si mesma como consciência individual. Deus é a sua consciência individual e esta consciência não pode morrer. Se Deus pudesse morrer ou ficar inconsciente, então, e somente então, poderia você morrer. Como Deus é a vida individual, poderia esta vida morrer? Poderia esta vida, que aparece como sua forma ou corpo, desaparecer da terra? Não; pode somente sair do campo de visão da mortalidade, através do processo da "Ascensão".
Quando nós, por nós mesmos, erguermos a nossa consciência acima da crença de que a vida está no corpo e que o corpo controla a vida, experienciaremos a ressurreição; obteremos a convicção de Jesus, ao dizer: "Derrubai este templo, e em três dias o levantarei" (corpo). Quando estivermos imbuídos da compreensão de que a divina Consciência, que é a consciência individual, governa e controla nosso corpo, e quando nós percebermos individualmente a verdade de que a nossa própria consciência é o poder da ressurreição, de reconstrução, teremos a nossa experiência da ressurreição. E então virá a ascensão.
A ascensão vem com a conscientização de que Deus está revelando a Si próprio como o nosso ser individual, e como o Espírito deve aparecer ou manifestar-Se como forma, então este corpo é tão espiritual, imortal e eterno quanto a Espírito-substância com a qual é formado. Com a luz dessa conscientização, virá a nossa ascensão.
Existe um significado espiritual trazido a nós pelo nascimento, crucifixão e ascensão do Mestre: se existe uma progressiva expansão da consciência, até que o nascimento e a crucifixão se cumpram em nós e tenhamos atingido a ascensão, não mais no corpo, mas como uma lei sobre o corpo, nunca mais teremos de retornar àquelas experiências. A ascensão é o estado de consciência que sabe que o corpo não controla a vida, mas que a vida controla o corpo. O Mestre provou ter atingido aquele estado de consciência quando, referindo-se à sua vida, disse: "Eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la" (João 10: 18), e disse também: "Derrubai este templo (corpo), e em três dias o levantarei" (João 2: 19); ou, em outras palavras: "Eu, Consciência, controlo este corpo". A Consciência controla o corpo pelo deixar que a Consciência do Eu Sou forme de Si mesma as maravilhas e belezas que nós denominamos aqui e agora.
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