quinta-feira, abril 17, 2014

A experiência da Iluminação

 - Núcleo -


A questão é: Pode um “personagem” se iluminar?

Pode o “Cebolinha” [personagem criado por Maurício de Souza] se tornar consciente de que ele é uma ficção do próprio Maurício de Souza?

Mesmo que o Maurício de Souza escreva um enredo no qual o cebolinha adquira esta consciência (ou seja, se “ilumine”), seria esta uma experiência real do Cebolinha? O fato é que a “experiência de iluminação”, como toda “experiência”, está no campo da “representação”, na qual estão inseridos os personagens do Ser. Assim, a experiência de iluminação ocorre apenas na “representação”. O que todos os que se “iluminaram” descrevem é que eles se tornaram conscientes de que eles não são “personagens”, e que sua real identidade é a de Quem sempre foram, que é o Ser Real, porque nenhum personagem é real.

Se o “personagem” não é real, não há alguém [real] para se iluminar. E Aquele que é o real iluminado (a real identidade de todos os seres, o Real “Autor” dos personagens criados) não está na representação, mas sim em Sua própria Realidade! Assim, a experiência de iluminação é isso: uma experiência que ocorre apenas no âmbito da própria representação e que, então, altera “a fala” do personagem a respeito de Quem ele É e de Quem todos Somos.

O algo a ser notado aqui é que a percepção de Quem Somos não está na “mente do personagem” que estamos sendo, mas sim, está na “Consciência do Ser” que (já) somos. Ou seja, esta percepção está em Quem sempre fomos e sempre seremos; está além da realidade de “quem estamos sendo” (representação, dualidade), pois a realidade de "quem estamos sendo” é uma representação divina e não a Realidade.

Apenas em certo sentido é possível que um personagem se ilumine: no sentido de que ele perceba que não é quem está sendo (personagem) - que é Quem sempre foi “antes que houvesse mundo”, ou seja, antes que existisse a própria representação. “Antes”, não no sentido temporal, mas no sentido de a despeito de haver ou independentemente de haver alguma representação. A percepção é a de que não há um personagem que se ilumina; não há um personagem que percebe Sua real identidade; é o próprio Ser Real Quem Se percebe, como sempre Se percebeu. Na representação vai parecer que um personagem teve a “experiência de que se iluminou”!

Porém, nossa real identidade é a de que somos o Ator, não os personagens! Já somos Quem Somos, somos o Ser Real antes que houvesse mundo [antes que houvesse a representação divina].

O que a “mente do personagem” pensa sobre isso não altera a realidade! Se pensa que a iluminação é possível ou que é impossível; se pensa que é algo real ou não, isso não altera a realidade de que a “iluminação” é uma percepção, não um pensamento. Essa percepção não é do personagem e nem mesmo de um personagem específico. Apenas o Próprio Ser Se percebe e percebe que não há nenhum “outro”, não há nada além de Si mesmo e de Sua Realidade! E a bem-aventurança dessa percepção divina também só é percebida por Si mesmo!

Mas, enquanto identificado como sendo um personagem, ninguém deve se desesperar pensando que não terá a experiência de iluminação. Não pense assim, pois ela é inevitável! É o próprio ato de “pensar” que ativa a percepção da mente do seu personagem e cria a ilusão de separação, a visão dual de que existe o "personagem" e o "Ser", você e Deus... pois só o Ser é real. Enquanto a mente do personagem pensa em termos de “existência” [que significa "ex-sistere", ou seja, algo que está fora] a Consciência do Ser percebe a “seidade”, no sentido de aquilo que É em si mesmo, ou seja, algo que é o próprio “Ser”, e que É em “Si mesmo”; aquilo que É o que É! Portanto, não pense! Simplesmente perceba! Perceba Quem percebe em você e perceberá que não há um “você”, mas apenas Quem percebe... “Aquieta-te e saiba: Eu Sou Deus!”

Perceba apenas: “Eu Sou Aquilo”.
É o que na representação divina percebo, desfruto e compartilho!
Assim seja!
Assim É!


6 comentários:

  1. Divinos personagens,
    Foi dito que; "a experiência de iluminação é uma experiência que ocorre apenas no âmbito da própria representação".
    O que se segue é a "experiência de iluminação" compartilhada por Masaharu Taniguchi, que assim a descreveu: "Naquele momento, compreendi claramente que a mente em ilusão é
    inexistente e, consequentemente, não existe também a “mente que
    alcança a iluminação por meio do despertar”. Compreendi que é um
    equívoco pensar que a mente em ilusão evolui, alcança a iluminação e
    se torna Buda. Compreendi que só existe a Mente (EU) da Imagem
    Verdadeira, que é Buda, que é Deus desde o princípio. Só existe o
    Universo do Jissô, que é a extensão da Mente-Jissô. O Buda fenomênico (Sakyamuni), que saiu do palácio do seu
    pai, Suddhodana, e meditou sob uma figueira durante seis anos para
    alcançar a iluminação, não era existência verdadeira. Unicamente o
    Buda eterno a quem ele se referiu na declaração “Eu sou Buda desde o
    princípio dos tempos” é existência verdadeira, e esse Buda eterno vive
    aqui e agora. Jesus Cristo na condição de homem fenomênico, que,
    pregado na cruz, clamou “Deus meu, Deus meu, por que me
    desamparaste?”, não era existência verdadeira. Unicamente o Cristo
    eterno, a quem ele próprio se referiu na declaração “Antes que Abraão
    existisse, eu sou” é existência verdadeira, e esse Cristo eterno vive
    aqui e agora. Conscientizei-me de que eu também não sou um homem
    fenomênico nascido de minha mãe em 22 de novembro de 1893 e que só
    agora alcançou o despertar. Compreendi que sou um ser divino, um ser
    búdico, desde o princípio dos tempos.
    (Do livro “A Verdade da Vida, vol. 20″, pgs. 158 à 164)
    Obs.: O relato da experiência na íntegra, comentado, pode ser lido em http://nucleu.com/2012/06/18/256/

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  2. Excelente texto para para elucidar o conteúdo da mensagemd este post, meu Amigo.

    De fato, nada que ocorre na representação pode ser real (é apenas representação!), nem mesmo o episódio na vida do ser humano no qual ele passa por uma "experiência de iluminação". Um ser desperto, iluminado, realizado, que atingiu a Verdade, jamais poderia conceber algo como "até ontem eu estava na ignorância/trevas, e a partir de então passei a ser iluminado". Ou "Até ontem minha identidade não era o Ser, e sim o personagem, mas a partir de hoje eu sou o Ser". O Ser, a Verdade, a Iluminação, a Luz é algo que sempre é. É por isso que, quando os personagens se iluminam, eles percebem "Sou iluminado (Cristo, Buda) desde sempre." Nossa real identidade é aquela que está além do tempo, além da representação. E somente com a percepção (que também está além do tempo, além da representação) é que se pode perceber a realidade. Somente a percepção do Ser percebe o Ser.

    Grato pelo comentário!
    Namastê!

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  3. Meu Amigo Gustavo,

    Que belo comentário!
    Elucidativo, "nuclear"!

    Certamente elucida ainda mais a mensagem deste post e retoma nosso "Diálogo Divino", compartilhado em http://nucleu.com/2013/03/16/dialogo-divino/

    Compartilho ainda a percepção de que: “Tudo quanto existe é expressão da Vida de Buda. Essa mudança radical de visão de mundo é o que constitui o despertar espiritual.”

    E que: “todos os seres, dotados de sentimento ou não, são manifestações da Vida de Deus e que montes, rios, plantas, terra, enfim, tudo quanto existe é manifestação da sabedoria divina.”

    Namaste!

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  4. Estes personagens(que na verdade não são personagens)são magníficos!

    Mais claro que isso não é possível!

    Muitos, antes de tentarem ler e entender com a mente,os livros sagrados, por si, deveriam ,antes, conhecer estes escritos destes que percebem. Pois requer-se "discernimento espiritual".

    Egos espirituais não tem chance.
    Só se iludem.

    Como já dizia o padre jesuíta, indiano -um personagem desperto, autor do livro "Despertando para o
    Eu", "Espiritualidade significa despertar"

    Adorei!

    Reverências!
    Namastê!

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  5. Belíssimo comentário!

    É sempre muito gratificante ter a sua participação, SERgio.

    Melhor dizendo... SER.

    Reverências!
    Namastê!

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  6. Regozijo-me por este blog ,e por
    Aquele'aparecer como'você,Gustavo,
    e como o 'outro',o Silvano.

    Claro, Aquele/Aquilo(EU),não está sobre as nuvens!...


    Esqueci-me de citar,no comentário
    anterior, o nome de quem foi o "personagem desperto"(já falecido em 1987), que citou aquela frase.
    O nome dele era(ou é) Anthony de Mello. Livros do qual tenho comigo.

    Namastê!

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