Masaharu Taniguchi
Em Verdade vos digo que, se não vos converteres e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. (Mateus 18: 3-5)
Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus. (Mateus 19:14)
A fundadora da religião Tenri, famosa por cura de doenças, disse: "Este é o ensinamento em que as pessoas sobem, dizendo sim, sim". Quando um pai chama o seu filhinho, estendendo-lhe os braços abertos, essa criança sobe no colo do pai docilmente, dizendo "Sim, papai". Da mesma forma, quem sobe no colo de Deus com mente dócil e humilde é que entra no reino de Deus.
No Evangelho de Lucas está escrito: "aquele que se humilhar como esta criança". "Aquele que se humilha" é aquele que não sustenta arrogantemente o seu eu, aquele que tem a mente humilde, dócil e natural; em termos do Velho Testamento, é como o homem anterior à expulsão do jardim do Éden, que ainda não comeu do fruto da árvore do conhecimento. Pessoas assim, com o seu eu limpo, que aceitam docilmente as boas novas – somente estas é que serão salvas.
Boa nova é a feliz mensagem da Imagem Verdadeira (Jissô) segundo a qual o homem é Filho de Deus, e quem nela acredita docilmente tem o coração de criança. Se ensinarem que "o homem não tem doença porque é filho de Deus", é preciso acreditar nisso docilmente. Na religião Tenri diz: "os intelectuais e os ricos, deixe-os para depois".
Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos. (Mateus 11:25)
Como vemos, também no cristianismo os intelectuais e fariseus foram rejeitados por Jesus. Isso não quer dizer que a erudição seja má ou que os cientistas não possam conhecer a Deus. A ciência tem seus objetivos, mas ela não pode apreender a Vida em sua totalidade.
Apreender a Vida em sua totalidade significa apreender a Vida em si como totalidade unificada de todas suas funções. A Ciência apreende as coisas, analisando as partes pelo lado fenomênico, isto é, cada um apreende apenas os aspectos pertinentes à respectiva especialidade. É como se fotografassem uma pessoa de diferentes ângulos. Isso não é errado; porém, mesmo que unam as diversas fotos de forma a montar uma "foto panorâmica", não poderão apreender o homem em si, vivo, com sangue circulando. Nós próprios, como Vida em si, precisamos apreender a Vida em sua totalidade, intensamente. Esta é a apreensão filosófica. Apreender a Vida em sua totalidade em comunhão com Deus – nisto consiste a religião. Mesmo que a pessoa domine e saiba de cor um milhão de sermões, isso não constitui o despertar em sentido religioso. Mesmo Ananda, que sabia de cor todos os sermões que ouvira e os ditou (os quais foram escritos e se tornaram sutras), não foi aprovado por Sakyamuni como pessoa que alcançou o despertar.
A transmissão legítima da essência do budismo, de Sakyamuni para Kashô, foi realizada por telepatia quando, em público, o primeiro agitou as sobrancelhas e girou uma flor de lótus (Sakyamuni fez esse gesto como se dissesse: "Vocês entenderam a essência do ensinamento?"), e o segundo sorriu calado (significando que ele entendeu a mensagem de Sakyamuni).
A religião não é feita pela inteligência humana. Mas isso não quer dizer que a inteligência seja má. A apreensão pura da Vida ocorre quando a pessoa, sendo inteligente, transcende a inteligência. Para isso, precisamos tornar a ter o coração de criança. Mas isso não significa que devemos voltar ao útero materno e nascer de novo; nos tornamos crianças sem deixar de ser adulto. Para isso, precisamos abandonar tudo o que temos e ser "pobres". Mas ser "pobre" não significa ser carente. Adão e Eva, que eram pobres, viviam no jardim do Éden de provisão infinita. Porém, quando comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e se tornaram ricos em sagacidade, foram expulsos da paraíso de provisão infinita.
Cont...
Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 108-111
Neste texto, Masaharu Taniguchi fala sobre a importância da aceitação pura e simples da Verdade. É importante saber receber uma Verdade docilmente, assim como as crianças recebem e assimilam os ensinamentos que lhes são transmitidos por seus pais. Esse é o caminho mais simples e direto para acessar as Verdades que nos são reveladas.
ResponderExcluirUma Verdade espiritual - dizem os ensinamentos - é a coisa mais simples e ao mesmo tempo a mais difícil/complexa de compreender. Se não fosse simples, o coração de criança não poderia acessá-la. E, se não fosse difícil/complexo, a mente poderia concebê-la facilmente. Quanto mais nos distanciamos do estado "receptivo e dócil de uma criança", mais difícil e complexa a Verdade se torna de ser compreendida. Pois, à medida que nos distanciamos do "coração de criança", a mente entra e toma cada vez mais espaço. E, quando tentamos compreender a Verdade com a mente, a Verdade se torna a coisa mais complicada do mundo.
Jesus disse que deveríamos ser capazes de ser simples como as criancinhas, porque elas possuem essa humildade e docilidade de apreender puramente aquilo que lhes é transmitido. Neste mundo, tudo o que consideramos ser verdadeiro para nós foi construído passo a passo através dos condicionamentos que recebemos através dos tempos. No início nada sabíamos a respeito da vida, então pouco a pouco fomos construindo nossa visão pessoal do mundo e a tomamos como realidade. E toda essa construção foi sendo realizada, aos poucos, através de nossa aceitação. Portanto, da mesma forma que a nossa interpretação do mundo foi sendo construída através da aceitação, o mesmo poder (aceitação) pode ser usado para desconstruir de vez nossa visão pessoal (mental) do mundo e apreender a Verdade revelada pelos ensinamentos.
Nisargadatta Maharaj, por exemplo, conta que ele simplesmente confiava absolutamente em tudo o que seu Mestre lhe falava, mesmo que sua mente não pudesse ver/perceber aquilo que lhe era ensinado. Ele diz que isso fez toda a diferença, e que apenas isso basta, mas as pessoas não são capazes de confiar totalmente. Então, elas se distanciam do coração de criança, e começam a trilhar os caminhos da mente. É então que a Verdade se torna cada vez mais distante.
Os ensinamentos da Índia que dizem para se entregar e confiar totalmente no Guru, se compreendidos verdadeiramente, tem como fundamento esse coração receptivo e dócil como o de uma criança. Verdadeiramente compreendido, não se trata de confiar cegamente em um Guru, mas sim de confiança e entrega conscientes. A confiança cega pode levar o indivíduo a se entregar a charlatões. Ao passo que, se a pessoa souber realmente como confiar em seu Guru - como fez Nisargadatta Maharaj - a Verdade torna-se simples de ser acessada. Isso porque a confiança verdadeira cria uma abertura e estabelece uma tremenda receptividade no próprio ser da pessoa.
Nesse post, Masaharu Taniguchi está revelando que cada ser humano (eu e você) é um Filho de Deus. Se pudermos receber docilmente essa informação (que na verdade é mais do que uma informação: é uma revelação!), a própria força da aceitação começa a desfazer os conceitos retidos em nossa mente. Rapidamente, a mente vai se esvaziando das crenças que até então vinha aceitando (crenças como: "eu, um filho de Deus? Não consigo perceber que sou Filho de Deus..."), e ao se tornar vazia ela está disponível para preencher-se com algo novo. É impossível colocar nova água em nossa xícara, se o recipiente estiver preenchido com água velha. "Esvazie sua xícara" - dizem os ensinamentos orientais.
Em nós, tudo começa com a aceitação. É apenas depois que algumas coisas foram aceitas que tem-se elementos fixos/prontos e sobre eles entra o processo de raciocínio, lógica... e a partir desses elementos fixos é que o mundo começa a funcionar. Então o mundo passa a ser regido pelo raciocínio e pela lógica, e nisso as pessoas pautam toda sua vida. Em outras palavras, somente depois que algumas coisas foram concebidas/estabelecidas através da aceitação é que a lógica começa, e o mundo passa a funcionar a partir daí. Por isso é que, quando trabalhamos com a lógica (a mente) torna-se tão difícil apreender as Verdades a que se referem os ensinamentos espirituais. Para apreendê-las, é necessário retornar ao plano anterior da aceitação, e a partir de lá começar todo o trabalho. Esse é um caminho mais simples.
ResponderExcluirQuem confia verdadeiramente em um mestre espiritual (ou em um ensinamento contido numa Escritura Sagrada), possui muito mais chances de acessar o que está sendo apontado pelos ensinamentos do que aqueles que não confiam. Se Jesus aparecesse para um devoto (um verdadeiro devoto de Jesus) e lhe dissesse: "Você confia verdadeiramente em mim? Então eu lhe digo: a matéria não existe; você não é o corpo físico que julga ser. Seu ser é divino, é um com o Universo, um com Deus, Comigo. Neste instante você está no reino de Deus", ele descartaria de imediato todos os falsos conceitos que vinha aceitando em sua mente sobre si mesmo e sobre sua realidade. Para ele, a palavra de Jesus seria a palavra final, definitiva! Tudo estaria resolvido ali mesmo. Se as aparências dissessem a ele "você é um corpo físico", a atitude dele seria: "essa conversa está acabada, eu sei que sou um ser divino, um com Deus". Então a abertura criada possibilitaria o acesso à percepção da qual Jesus está falando. Um verdadeiro devoto, pela força e pureza de sua devoção (constituída de profunda confiança, amor e entrega a Deus), consegue transcender as tentações ou influências mentais.
Se um devoto estivesse doente e Jesus aparecesse e dissesse "eu lhe digo que você não está doente, seu ser é perfeito", imediatamente (sem pensar/ sem raciocinar/ sem querer argumentar / sem questionar / sem tecer qualquer consideração mental) ele descartaria a ideia de doença de sua mente. Por sua vez, isso abriria espaço para que a saúde inerente à perfeição se manifestasse. Esse é o poder da aceitação pura e simples, dócil como um coração de criança.
"Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino de Deus".
Namastê!