sábado, dezembro 07, 2013

O ato voluntário inicial na Meditação


Respondendo a uma pergunta enviada pelo internauta Mauro Falleiros sobre a necessidade do ato voluntário nos estágios iniciais da meditação, o nosso Amigo, aparecendo como o personagem Alsibar, aproveitou para fazer um pequeno vídeo com a resposta, além de um artigo sobre o mesmo tema. Tanto a pergunta como a resposta estão excelentes. Eis o que deve ser notado: o que está aqui sendo expressado sou Eu! O Eu Real que todos somos está aparecendo como aquele que pergunta, está aparecendo como aquele que responde, e está também aparecendo como aquele que lê/acompanha o artigo. Essa é a percepção que devemos ter, isso é o que deve ser percebido. Tudo o que ocorre, sem exceção, provém de Mim. Agradeço Aquele que na representação aparece como o personagem Alsibar, por compartilhar com o mundo este belo texto/vídeo. Muito obrigado! Namastê!
 
 
A meditação tem muitos estágios e fases. Nos estágios iniciais, o “querer” exerce papel crucial. Sem ele, o indivíduo não empreenderia a viagem inicial em direção às profundezas do desconhecido de si mesmo. Sendo assim, o ato voluntário inicial, não só é necessário – como é fundamental. Ao se perceber preso ao tempo, à dor e à degradação psicológica,  a pessoa procura uma forma, um caminho, uma maneira de dar um basta a isso tudo. Sem esta vontade inicial, o indivíduo não buscaria o conhecimento profundo de si mesmo. Esse movimento inicial é o que dá a partida, que faz o sujeito procurar uma maneira mais harmoniosa, mais plena de se viver.  Ora, se não fosse necessário tal movimento e se não precisássemos fazer realmente NADA, então  teríamos um mundo de iluminados e a Terra seria o paraíso, não é verdade?
 
Apesar de haver apenas dois movimentos: o da busca e o do abandono da busca, pois o resto não é da competência do sujeito – farei uma descrição mais detalhada desses movimentos com fins didáticos.
 
O primeiro movimento é o da busca, o segundo é o das técnicas e gurus e o terceiro é o do abandono de tudo isso e o quarto movimento? É o do movimento pelo “não-movimento”. Em outras palavras, é quando o movimento do “eu” enquanto “centro” dos desejos, da ânsia, dos pensamentos, do tempo, do vir-a-ser, etc. – cessa completamente. Daí por diante, não há mais a ilusão do “fazedor” e, portanto, nada a ser feito ou realizado, pois tudo passa a ser o que é.
 
Vou dar o exemplo do balão – penso que é uma boa metáfora: ora, para o balão subir é necessário, inicialmente,  que haja bastante "ar quente" em seu interior. Após a subida, o balão voa por si mesmo, levado pelas correntes do vento. O controlador só precisa “aproveitar” esses ventos da maneira mais inteligente – mas ele não os comanda. O erro do Ego é achar que ele controla tudo, quando ele não controla nada. A felicidade e liberdade está em não querer controlar os ventos. Mas deixar-se levar por eles exatamente como no caso do balão.
 
Vamos pegar outro exemplo: as correntes marítimas. É sabido que peixes, baleias, golfinhos e pinguins aproveitam as correntes marítimas pra viajarem milhares de kilomêtros com o mínimo de esforço possível. Ora, mas eles precisam se dirigir até as correntes e só depois aproveitar o impulso das mesmas.
 
Guardando as devidas proporções, podemos fazer as seguintes analogias: o primeiro movimento – o do acionamento do gás hélio no balão – equivale ao movimento inicial da meditação (postura, atenção, lembrança, respiração, observação)  e isso  parte da vontade deliberada do indivíduo. O segundo movimento é quando o balão deixa de estar sob o controle do baloeiro e os ventos “assumem” o comando – seria o estado meditativo. Nesse estado, cessam tanto o controlador, quanto o objeto controlado. Há apenas o movimento do Atemporal, do Indescritível. Ao ego (a pessoa) resta apenas observar e decidir se quer ficar ou não sob a influência deste movimento “desconhecido”. Mas isso não significa – como poderia pensar alguns – um estado mórbido. O movimento do Atemporal é vivo, dinâmico, cheio de nuances, variando de direção, intensidade e profundidade.
 
Tao – o Desconhecido – é uma força/inteligência além do nosso entendimento. Ele está  sempre em nós – todavia, nós (a consciência individual) é que não estamos nele. Como diz a música do Raul parafraseando as palavras de Krishna no Gita: “mas saiba que estou em você, mas você não está em mim”. E por que não estamos nele? Por que nossa consciência está geralmente voltada para o mundo dos sentidos, das cores e das formas. Ou então está identificada com os pensamentos, futuro, sonhos e desejos – criando, assim o tal do “tempo psicológico”.
 
Ao voltar a atenção para o espaço infinito que se manifesta antes dos pensamentos, no intervalo entre eles ou no fim deles. Ou ao observar/contemplar o espaço silencioso no qual os pensamentos se movimentam, o sujeito vai se tornando cada vez mais cônscio da necessidade de se voltar para dentro – e isso depende exclusivamente de sua vontade e iniciativa. Essa é a parte que lhe compete. É a única coisa que  pode realmente ser “feita” – pois além disso, nada mais pode ser feito ou dito. Resta apenas uma profunda entrega e tranquilidade. Apesar da mente não conseguir perceber  sua atuação, esse “algo” atua na consciência do indivíduo,  preparando-o para vôos cada vez mais altos e mergulhos cada vez mais profundos.
 
Então na próxima vez que for “mergulhar no Eterno”, saiba que a iniciativa deve partir de você e somente de você – principalmente nos estágios iniciais da meditação.

Namastê!
 
 
 
*Obs: Acessem o blog sobre meditação do nosso amigo Alsibar no seguinte endereço: www.alsibar.blogspot.com.br

6 comentários:

  1. Divinos personagens!
    Permitam-me compartilhar algo sobre a meditação.
    Considerem a água do oceano...
    Mantenham a água do oceano sob o foco de sua atenção e acompanhem o ciclo que se inicia a partir dela.
    A água do oceano se vapora, sobe para a atmosfera e na presença de núcleos higroscópicos de condensação formam as nuvens, que são levadas pelas correntes de ar e se precipitam sob a forma de chuva sobre vários relevos, sejam montanhas, vales, planícies, etc. Esta mesma água nutre tanto rios quanto correntes subterrâneas, assim como lagos, nascentes e fontes de água mineral, bem como as poças de água que se estagnam...
    O algo a ser aqui notado é que se trata da mesma água do oceano em diferentes situações. Ou seja, trata-se da mesma água “aparecendo como” chuva, como lago, como nascentes, como correntes subterrâneas e até como a água estagnada em poças...
    Façamos uma analogia da água do oceano que “aparece como” com o Eu, o Eu real que também “aparece como”... Notem que o Eu que “aparece como” o Gugu disse: Eis o que deve ser notado: o que está aqui sendo expressado sou Eu! O Eu Real que todos somos está aparecendo como aquele que pergunta, está aparecendo como aquele que responde, e está também aparecendo como aquele que lê/acompanha o artigo. Essa é a percepção que devemos ter, isso é o que deve ser percebido. Tudo o que ocorre, sem exceção, provém de Mim.
    Foi dito: “Mantenham a água do oceano sob o foco de sua atenção”... Qualquer que seja a forma em que ela aparece, mantê-la sob o foco de atenção nos mantém conscientes de que se trata da água do oceano!...
    De modo análogo, qualquer que seja a forma em que o “Eu Real” aparece, mantê-lo sob o foco de atenção nos mantém conscientes de que se trata do nosso “Eu Real”..., da nossa real identidade!

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  2. Na passagem em que os judeus questionam Jesus: “Você ainda não tem cinqüenta anos e conheceu nosso pai Abraão?”; Jesus responde: “Antes que Abraão existisse Eu Sou.”
    Esta passagem evidencia que a visão que os judeus tinham sobre Quem era Jesus era uma visão limitada e temporal; e que a visão que Jesus tinha sobre Quem ele era, era uma visão ilimitada e atemporal.
    Jesus mantinha sob o foco de atenção o “Pai”, Deus, o Eu Real, por isso ele se mantinha consciente de sua origem e real identidade de filho de Deus, ou seja, de que era emanado de Deus e de que era Um com Deus! Por isso declarou: “Eu e o Pai somos Um”.
    Nesse exemplo fica claro que os judeus tinham uma “percepção mental” de Jesus, enquanto ele tinha a “percepção consciencial” sobre si mesmo. É de se notar que Jesus iniciou seu ministério compartilhando na Sinagoga a leitura da passagem da Escritura onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, e me ungiu...” tornando claro que ele sabia “Quem faz”, “Quem realiza as obras”.
    Essa percepção consciente de Quem Somos e de Quem faz é a meditação.
    A declaração de sua origem divina, de sua unidade com Deus, e de Quem realiza as obras é a evidência de que Jesus vivia em constante meditação.
    Assim, qualquer que seja a forma em que o “Eu Real” aparece, mantê-lo sob o foco de atenção nos mantém conscientes de que se trata do nosso “Eu Real”..., da nossa real identidade; e também nos mantém conscientes de que é o Eu Real Quem faz, que é “Quem realiza as obras”...
    É preciso aqui notar que a palavra meditação no sentido em que é usada no Núcleo, como sinônimo de percepção consciencial, não tem o mesmo significado que comumente é lhe é atribuída, como sendo sinônimo de um “estado alterado de consciência” no qual o indivíduo se funde no Todo ou se percebe em unidade como o Todo... Segundo o ensinamento do Núcleo a meditação é a própria “percepção da Consciência”; é o “estado natural” de percepção do Eu Real. Nesse sentido, a “percepção mental” é que seria um “estado alterado de consciência” ou de percepção... só não o é porque ela não é uma real percepção, pois, não sendo real o personagem, não é real a percepção da mente do personagem, ou seja, a percepção mental.

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  3. Mas, na “representação” e para o personagem a percepção mental é real. Isto ocorre devido ao realismo, à perfeição da “representação divina”.
    Inclusive é comum que na “representação” a maioria dos personagens que são tidos como iluminados passem por um episódio em que se iluminam...
    Conta-se, por exemplo, que o jovem Sathya Narayana quando tinha uns 14 anos de idade foi picado por um escorpião; que ficou dias sem consciência e quando despertou declarou: “Eu sou Sai Baba”; nome de um iluminado, mas que era desconhecido na região onde vivia o jovem Sathya Narayana. Mais tarde, Sai Baba declarou que sempre teve a consciência de Quem ele É, e de Quem Somos; e que o episódio do escorpião nem mesmo foi real...
    Outro exemplo é o do divino iluminado personagem Masaharu Taniguchi, que teve uma experiência de iluminação na qual percebeu que, tal como Sakyamuni, sempre foi um ser búdico... O próprio Sakyamuni teve uma experiência de iluminação sob uma árvore na qual percebeu que era Buda.
    Da mesma forma outros iluminados descrevem as experiências nas quais se tornaram conscientes da Realidade divina e de suas reais identidades...
    Desses exemplos clássicos de “personagens que se iluminaram” surgiu a idéia de que todo personagem para se iluminar tem necessariamente que passar por um processo de iluminação, que culmina com a experiência de iluminação... Assim surge o pensamento guiado pela razão e pela lógica de que o personagem precisa fazer algo para se iluminar...
    Então aparentemente se apresentam dois caminhos para a iluminação:
    O primeiro parte de um pensamento, fundado na razão e no raciocínio de que há algo a ser feito pelo personagem para que ele se ilumine; Nesse caminho é como se a “iluminação” fosse o momento do encontro da água do rio que se funde no oceano, que se torna uma com a água do oceano... Nesse caso é como se a água do rio, que está prestes a se fundir ou já se fundindo com o oceano, se iluminando..., dissesse às outras “águas”: “Há um caminho a ser trilhado. Vocês têm que fazer algo; têm que continuar se movendo até se fundirem com o oceano... Ou como se dissesse à água das poças: “Vocês têm que morrer, têm que nascer novamente, têm que se evaporar para se livrar da condição estagnada em que se encontram ou jamais se fundirão no oceano; jamais se perceberão unidas ao oceano...

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  4. O segundo caminho para a iluminação parte de uma percepção, aquela na qual qualquer que seja a água... “mantém a água do oceano, a sua real origem e identidade, sob o foco de sua atenção”... Assim, qualquer que seja a forma em que a água apareça... manter a água do oceano sob o foco de atenção a mantém consciente de que é e sempre foi a própria água do oceano!... [É isso o que os que se iluminaram perceberam... Perceberam sua real identidade e a real identidade de todos os seres; perceberam que não é “quem estavam sendo” quem percebe, ou seja, perceberam que não é o personagem, a água das nascentes, a água das poças, a água dos rios, quem percebe, mas a própria água do oceano... ]
    Jesus, ao dizer que: “Eu deste mundo não sou, vós também não sois”... tornou evidente que segue o caminho da fé, o caminho da certeza das coisas que são se vêem..., que é o caminho da percepção, o caminho do segundo tipo, que é o caminho revelado e compartilhado no Núcleo, que diz: “Parta da percepção; da percepção do Ser, da real identidade; Não parta do pensamento, das razões, da lógica, da mente do personagem.”

    A propósito esta é justamente a diferença entre os dois caminhos; é que o caminho que parte do pensamento, da lógica, da razão humana, parte da “mente do personagem” e o caminho que parte da percepção [parte da percepção da Consciência do Ser], parte do próprio Ser, do “Eu real”.
    A esse respeito há um texto do Núcleo, cujo título é: “Diálogos conscienciais - Grande encontro que nos proporciona este Divino Presente”, publicado no nucleu.com em http://nucleu.com/2012/09/25/dialogos-conscienciais-grande-encontro-que-nos-proporciona-este-divino-presente/

    que ressalta essa diferença entre partir do pensamento ou da percepção, cuja leitura é aqui sugerida.

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  5. Pra finalizar, a percepção compartilhada por Daniel é: "Em imagens noturnas tive esta visão: Entre as nuvens do céu vinha alguém semelhante a um filho do homem" (Dn 7,13).
    “alguém semelhante a um filho do homem” é uma alusão ao Cristo, à Consciência ou percepção crística, iluminada, ou consciencial.
    Esta percepção vem “Entre as nuvens do céu”. Significa que vem do céu; vem da Realidade divina; não vem da terra, não vem da representação. Ou seja, não vem do pensamento, nem da lógica, nem das razões humanas.
    Há muitas outras passagens nas Escrituras que apontam a origem desta percepção. Contudo, o que importa é ressaltar o que foi dito por Aquele que “aparece como” Gugu: Eis o que deve ser notado: o que está aqui sendo expressado sou Eu! O Eu Real que todos somos está aparecendo como aquele que pergunta, está aparecendo como aquele que responde, e está também aparecendo como aquele que lê/acompanha o artigo. Essa é a percepção que devemos ter, isso é o que deve ser percebido. Tudo o que ocorre, sem exceção, provém de Mim.
    Namastê.

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