quarta-feira, dezembro 18, 2013

O grande valor da Inutilidade (Osho)

 OSHO
 
 
Hui Tzu disse a Chuang Tzu:
“Todo o seu ensinamento se baseia no que não tem utilidade.”
Chuang respondeu: 
“Se você não aprecia o que não tem utilidade, não pode começar a falar do que pode ser útil.
A terra, por exemplo, é ampla e vasta.
Mas de toda a sua extensão, o homem utiliza apenas alguns centímetros sobre os quais ele se mantém de pé.
Suponhamos agora que você tire tudo o que na verdade ele não está usando.
De modo que, em torno de seus pés, um abismo se abra, e ele fique de pé no Vazio, sem nada sólido, a não ser o que se encontra debaixo de cada pé:
Por quanto tempo ele vai ser capaz de utilizar o que está usando?
Hui Tzu disse: “Deixaria de servir a qualquer propósito.”
Chuang Tzu concluiu: “Isso mostra a necessidade absoluta do que não tem nenhuma utilidade”.


A vida é dialética, é por isso que não é lógica. Lógica significa que o oposto é de fato oposto, e a vida implica o oposto em si mesma. Na vida o oposto não é realmente oposto, é o complementar. Sem ele nada é possível. 

Por exemplo, a vida existe por causa da morte. Se não houver morte não pode haver vida. A morte não é o fim e a morte não é o inimigo – em vez disso, pelo contrário, por causa da morte a vida torna-se possível. Então a morte não está em algum lugar no final; ela está envolvida no aqui e agora. Cada momento tem sua vida e sua morte, caso contrário, a existência é impossível. 

Existe a luz, existem as trevas. Para a lógica eles são opostos, e a lógica vai dizer: Se há luz, não pode haver escuridão; se estiver escuro, então não pode haver luz. Mas a vida diz exatamente o contrário. A vida diz: Se há trevas é por causa da luz, se há luz é por causa das trevas. Podemos não ser capazes de ver o outro, mas ele está escondido ao virar da esquina. 

Há silêncio por causa do som. Se não houver som, você pode ficar em silêncio? O oposto é necessário como um pano de fundo. Aqueles que seguem a lógica sempre erram, porque a sua vida torna-se desequilibrada. Eles pensam na luz, então começam a negar a escuridão; eles pensam na vida, então começam a brigar com a morte.

É por isso que não existe nenhuma tradição no mundo que diz que Deus é luz e escuridão. Há uma tradição que diz que Deus é luz, não é a escuridão. Não existe escuridão em Deus para essas pessoas que acreditam que Deus é luz. Há outra tradição que diz que Deus é escuridão – mas para eles não existe luz. Ambas estão erradas, porque ambas são lógicas, negam o oposto. E a vida é tão vasta, ela carrega o oposto em si mesma. Ele não pode ser negado, tem que ser abraçado.

Uma vez alguém disse a Walt Whitman, um dos maiores poetas já nascidos: “Whitman, você continua se contradizendo. Um dia você diz uma coisa, outro dia você diz exatamente o oposto.”

Whitman riu e disse: “Eu sou vasto. Contenho todas as contradições.”

Só as mentes pequenas são coerentes; quando mais estreita a mente, mais coerente ela é. Quando a mente é muito vasta, ela envolve tudo – a luz está lá, a escuridão está lá. Se você entender esse processo misterioso da vida que se move através dos opostos, que é dialético, em que o oposto ajuda, dá equilíbrio, dá o tom, serve de pano de fundo, então você pode entender Chuang Tzu – porque toda a visão taoísta é baseada na complementariedade dos opostos.

Chuang Tzu diz que se você negar o inútil, então não haverá nada de útil no mundo. Se você negar o inútil, o lúdico, a diversão, não pode existir nenhum trabalho, nenhum dever. Isso é muito difícil. E para as pessoas do mundo toda a ênfase está no útil.

Se você olhar para uma porta, você verá as paredes. Se alguém lhe perguntar de que uma casa é constituída, você vai dizer: de paredes. Mas Chuang Tzu diria, assim como seu mestre Lao Tsé, que uma casa não consiste de paredes, mas em portas e janelas. Sua ênfase está em outra parte. Eles dizem que as paredes são úteis, mas seu uso depende do espaço inútil por trás.

Um quarto é um espaço, não paredes. Claro que o espaço é de graça e as paredes têm que ser compradas. Quando você compra uma casa, o que você compra? As paredes, o material, o visível. Mas você pode viver no material? Você pode viver nas paredes? Você tem que viver no quarto, no espaço vago. Você compra o barco, mas você tem que viver no vazio.

Então, na verdade, o que é uma casa? O vazio cercado por paredes. E o que é uma porta? Não há nada. Porta significa que não há nada, nenhuma parede, vazio. Mas você não pode entrar na casa se não houver porta. Se não houver nenhuma janela, então o sol não vai entrar, nenhuma brisa vai soprar. Você vai estar separado das fontes da vida, e sua casa se tornará um túmulo. 

Chuang Tzu diz: Lembre-se de que a casa é constituída de duas coisas: das paredes, o material – que vem do mercado, o utilitário – e do vazio rodeado pelas paredes, o não utilitário, que não pode ser comprado ou vendido, que não pode ser explorado, que não tem nenhum valor econômico.

Como você pode vender o vazio? Mas você tem que viver no vazio – se um homem vive só nas paredes, ele vai enlouquecer. É impossível fazer isso – mas nós tentamos fazer o impossível. Na vida, escolhemos o utilitário.

Por exemplo, se uma criança está brincando você diz: “Pare! O que você está fazendo? Isso é inútil. Faça algo útil. Não fique por aí, como um vagabundo.” Se você continuar insistindo com essa criança, aos poucos você vai matar o inútil. Então a criança vai se tornar apenas útil, e quando uma pessoa é simplesmente útil, ela está morta. Você pode usá-la, ela é uma coisa mecânica agora, um meio e não um fim em si mesmo.

Você é realmente você esmo quando está fazendo algo inútil – pintura, não para vender, apenas por prazer; jardinagem, apenas por prazer; deitado na praia, sem fazer nada, apenas para desfrutar, diversão inútil; sentado em silêncio ao lado de um amigo.

Muito poderia ser feito nesses momentos. Você poderia ir até a loja, ao mercado, você poderia ganhar alguma coisa. Você poderia organizar seus extratos bancários, porque esses momentos não vão voltar. E as pessoas loucas dizem que tempo é dinheiro – porque só conhecem uma maneira de usar o tempo – como convertê-lo em mais dinheiro. No final, você morre com um belo saldo bancário, mas por dentro totalmente pobre, porque a riqueza interior só surge quando você sabe apreciar o inútil.

O que é meditação? As pessoas vêm até mim e dizem: “Qual é a utilidade dela? O que vamos ganhar meditando? Qual é a vantagem disso?”

Meditação... e você pergunta sobre a vantagem? Você não pode entendê-la porque a meditação é simplesmente inútil. No momento em que digo inútil, você se sente desconfortável, porque toda a sua mente tornou-se tão utilitária, tão orientada para a mercadoria, que você precisa de um resultado. Você não pode admitir que algo possa ser um prazer por si só.

Inútil significa que você aprecia, mas não ganha nada com isso; você se deixa absorver profundamente, isso lhe dá felicidade. Mas, quando você está profundamente absorto, você não pode acumular essa bem-aventurança, você não pode fazer dela um tesouro.

Sempre que o mundo fica utilitarista demais, você cria muitas coisas, você possui muitas coisas, você se torna obcecado pelas coisas – mas o mundo interior está perdido, porque o interior pode florescer somente quando não há nenhuma tensão externa, quando você não está indo a lugar algum, apenas descansando. Então o interior desabrocha.

Chuang Tzu fala sobre um homem, um corcunda. Todos os jovens da aldeia eram obrigados a entrar para o serviço militar, para o exército, porque eram úteis. Apenas um homem, um corcunda, que era inútil, foi deixado para trás. Chuang Tzu disse: “Seja como o corcunda, tão inútil que não é morto na guerra.”

Ele vive elogiando o inútil, porque dizem que o útil sempre estará em dificuldade. O mundo vai usar você, todo mundo está pronto para explorar você, para manipular você, para controla-lo. Se você é inútil, ninguém vai olhar pra você, as pessoas vão se esquecer de você, elas vão deixar você em silêncio. 

Chuang Tzu insiste muito nisso: Fique atento e não se torne muito útil, caso contrário as pessoas vão explorá-lo. Então elas vão começar a manipular você e você estará em apuros. E, se você pode produzir coisas, irão forçá-lo a produzir durante toda a sua vida. Se você puder fazer uma determinada coisa, se você for habilidoso, então você não pode ser desperdiçado.

Ele diz que a inutilidade tem sua utilidade intrínseca. Se você pode ser útil para os outros, então você tem que viver para os outros. Inútil, ninguém olha para você, ninguém presta atenção em você, ninguém se incomoda com o seu ser. Você e deixado em paz. No mercado você vive como se vivesse no Himalaia. Nessa solidão você cresce. Toda sua energia se volta para dentro.

O inútil é o outro aspecto do útil. Você só pode falar sobre o útil por causa do inútil. É uma parte vital. Se você ignorá-lo completamente, então nada será útil. As coisas são úteis porque existem coisas que não inúteis.

Mas isso aconteceu com o mundo. Eliminamos todas as atividades lúdicas, pensando que, assim, toda a energia estará se movendo para o trabalho. Mas agora o trabalho tornou-se um aborrecimento. A pessoa tem que se deslocar para o polo oposto – somente então se sente rejuvenescida.

O dia inteiro você fica acordado, à noite você dorme – perdendo tempo – e não é pouco tempo. Se você vive noventa anos, você dorme durante trinta anos, um terço, oito horas por dia. Qual é a utilidade disso?

O que acontece depois de trabalhar o dia inteiro? Você dorme. O que acontece? Você vai do útil ao inútil. É por isso que de manhã você se sente tão revitalizado, tão vivo, tão leve. Suas pernas parecem dançar, sua mente pode cantar, seu coração pode voltar a sentir – toda a poeira do trabalho é espanada, o espelho está novamente cristalino. Você tem uma clareza pela manhã. Como ela vem? Ela vem por meio do inútil.

É por isso que a meditação pode lhe dar os maiores vislumbres, porque é a coisa mais inútil do mundo. Você simplesmente não faz nada, você simplesmente fica em silêncio. É maior do que o sono porque no sono você está inconsciente; por isso tudo o que acontece, acontece inconscientemente. Você pode estar no paraíso, mas não sabe disso.

Na meditação, você se move conscientemente. Então você se torna consciente do caminho: como passar do mundo útil de fora para o mundo inútil interior. E se você sabe o caminho, você pode simplesmente se voltar para dentro a qualquer momento. Sentado num ônibus você não precisa ficar fazendo nada, você está simplesmente sentado; viajando num carro ou trem ou avião, você não está fazendo nada, tudo está sendo feito pelos outros, você pode fechar os olhos e ir para o inútil, o interior. E de repente tudo se torna silencioso, e de repente tudo ganha um frescor, e de repente você está na fonte de toda a vida.

Mas ela não tem valor no mercado. Você não pode vende-la, não pode dizer: ‘Eu tenho uma ótima meditação. Alguém está disposto a compra-la?” Ninguém vai estar disposto a compra-la. Não é uma mercadoria, é inútil.
 
O sutra diz:
 
Hui Tzu disse a Chuang Tzu: “Todo o seu ensinamento se baseia no que não tem utilidade.”
 
Chuang respondeu: “Se você não aprecia o que não tem utilidade, não pode começar a falar do que pode ser útil. A terra, por exemplo, é ampla e vasta. Mas de toda a sua extensão, o homem utiliza apenas alguns centímetros sobre os quais ele se mantém de pé. Suponhamos agora que você tire tudo o que na verdade ele não está usando. De modo que, em torno de seus pés, um abismo se abra, e ele fique de pé no Vazio, sem nada sólido, a não ser o que se encontra debaixo de cada pé: Por quanto tempo ele vai ser capaz de utilizar o que está usando?”

Essa é uma bela metáfora. Chuang Tzu foi ao "x" da questão.  Você está sentado aqui, está usando apenas um espacinho, de dois por dois. Você não está usando toda a terra, toda a terra é inútil, você está aproveitando apenas uma pequena porção, dois por dois. Chuang Tzu diz: Suponhamos que toda a terra seja levada embora, só esse espaço de dois por dois seja deixado para você. Suponhamos que apenas isso lhe reste e toda a terra tenha sido retirada – quanto tempo você vai ser capaz de usar essa pequena parte?

Um abismo, um abismo infinito, se abrirá em torno de você – você vai ficar tonto imediatamente, você vai cair no abismo. A terra inútil suporta o útil e o inútil é vasto, o útil é muito pequeno. E isso é verdade em todos os níveis do ser: o inútil é vasto, o útil é muito pequeno. Se você tentar salvar o útil e esquecer o inútil, mais cedo ou mais tarde vai ficar tonto. E isso aconteceu, você já está tonto e caindo no abismo.

No mundo todo as pessoas pensam que têm um problema: acham que a vida não tem significado, que parece sem sentido. Pergunte a Sartre, Marcel, Jaspers, Heidegger – eles dize que a vida não tem sentido. Por que a vida fica tão sem sentido? Nunca foi assim antes. Buda nunca disse isso; Krishna podia dançar, cantar, se divertir, Maomé podia orar e agradecer a Deus pela bênção da vida que ele derramou sobre si. Chuang Tzu é feliz, tão feliz quanto possível, tão feliz quanto um homem pode ser. Eles nunca disseram que a vida é sem sentido. O que aconteceu com a mente moderna? Por que a vida parece tão sem sentido?

A terra inteira foi tirada e você foi deixado apenas com a parte onde está em pé. Você está ficando tonto. A toda a sua volta, você vê o abismo e o perigo; e você não pode usar a terra em que está de pé agora, porque só poderá usá-la quando o inútil se juntar a ela. O inútil deve estar lá. O que isso significa? Sua vida tornou-se só trabalho e nenhuma brincadeira. A brincadeira é o inútil, o grande; o trabalho é o útil, o trivial, o pequeno. Você tornou a sua vida completamente cheia de trabalho. Sempre que você começa a fazer algo, a primeira coisa que vem à mente é: qual é a utilidade disso? Se houver alguma utilidade, você faz.

A vida parece sem sentido, porque o significado consiste num equilíbrio entre o útil e o inútil. Você negou o completamente inútil. Você fechou a porta. Agora, apenas o útil está presente. O útil se tornou um fardo, você está sobrecarregado demais por ele.

O inútil deve estar presente. O útil é como um jardim, bem arrumado, limpo; o inútil é como uma vasta floresta, natural, não pode ser tão limpo e arrumado. A natureza tem sua própria beleza, quando tudo está arrumado e limpo, ele já está morto. Um jardim não pode ser muito vivo, porque você vai podá-lo, cortá-lo, administrá-lo. Uma vasta floresta tem uma vitalidade, uma alma muito poderosa. Entre numa floresta e você vai sentir o impacto; perca-se numa floresta e você vai ver o poder que ela tem. Num jardim você não pode sentir o poder; ele não está lá, o jardim é feito pelo homem. Você pode olhar para ele – ele é cultivado, ele é administrado, manipulado.

Na verdade, o jardim é uma coisa falsa – a floresta é a coisa verdadeira. O inútil é como uma vasta floresta, e o útil é como um jardim que você cultivou em torno da sua casa. Mas não vá cortar a floresta. Não há problema, o seu jardim é bom, mas deixe que exista uma parte da vasta floresta que não é o seu jardim, mas um jardim de Deus.

E você pode pensar em algo mais inútil do que Deus? Você pode usá-lo de alguma forma? Esse é o problema; é por isso que não podemos encontrar nenhum sentido em Deus. E aqueles que buscam muito o significado das coisas tornam-se ateus. Eles dizem que Deus não existe. Como pode existir um Deus, se Deus parece tão inútil? É melhor deixa-lo de lado, e então o mundo é deixado por nossa conta, para nós o gerirmos e controla-lo. Então podemos fazer do mundo todo um mercado. Mas a inutilidade de Deus é a base de toda a utilidade que existe.

Se você puder brincar, o seu trabalho vai se tornar um prazer. Se você puder se entregar a uma simples diversão, se você puder se tornar como crianças brincando, seu trabalho não será um fardo para você. Quando você entra na vastidão da inutilidade, sua alma se torna grande. 

Sem Deus, o mundo não pode continuar mais. Deus é a vasta inutilidade.
 
O mundo do homem é o mundo utilitário, o útil; sem o inútil, o útil não pode existir. Deus é a brincadeira e o homem é o trabalho; sem Deus, o trabalho fica sem sentido, um fardo a ser carregado. Deus é a diversão, o homem é sério; sem a diversão, a seriedade vai ser demais, será como uma doença. O oposto deve ser levado em conta, e o oposto é maior.

Qual é o propósito da vida? As pessoas continuam vindo e me perguntando. Não há nenhum propósito, não pode haver. Ela é divertida, sem propósito. Você tem que se divertir, você pode apenas se divertir, não pode fazer mais nada a respeito. 

Eu lhe digo: o homem tem um ser que não é de forma alguma orientado para um propósito. Esse ser (no homem) quer desfrutar sem causa e sem razão. Esse ser quer ser feliz, simplesmente por nada. 

A vida em si não tem nenhuma utilidade. Qual é o propósito dela? Aonde você vai? Qual é o resultado? Nenhum propósito, nenhum resultado, nenhum objetivo – a vida é um constante êxtase, a cada momento. Você pode apreciá-la, mas, se começar a pensar em resultados, você para de apreciá-la, suas raízes são arrancadas, você não está mais nela, você se tornou um estranho. Então você vai perguntar sobre o significado, sobre o propósito.

Você já observou que sempre que está feliz você nunca pergunta: “Qual é o propósito da felicidade?” Quando você está apaixonado você não pergunta “Qual é o propósito de tudo isso?”. Quando, de manhã, ao ver o sol nascente e um bando de pássaros riscando o céu, você já se perguntou: “Qual é o propósito disso”? Ao ver uma flor que floresce sozinha à noite, enchendo a noite inteira com sua fragrância, você já se perguntou: “Qual é o objetivo disso”?

Não há nenhum propósito. O propósito faz parte da mente, e a vida existe sem mente, por isso a insistência no inútil. Porque, se você é ligado demais no útil, não consegue soltar a mente. Como você pode soltar a mente se está procurando algum uso, algum resultado? Você só pode soltar a mente quando percebe que não há um propósito e a mente não é necessária. Você, então, pode coloca-la de lado. É uma coisa desnecessária. Claro, se você for ao mercado, leve-a com você. Se você se sentar na loja, use-a; é um dispositivo mecânico, tal como um computador.

Sua mente é um computador natural. Por que sobrecarregá-la o tempo todo? Quando ela não for necessária, coloque-a de lado. Mas você acha que ela é necessária, porque você tem que fazer algo útil. Quem vai dizer o que é útil e o que é inútil? A mente está constantemente classificando: Isto é útil, faça isso; isso é inútil, não faça isso. A mente é o seu gerente. A mente representa o útil. A meditação representa o inútil.

Passe do útil para o inútil, e faça esse movimento de modo tão espontâneo e natural que não haja luta, conflito. Torne-o tão natural quanto entrar e sair de casa. Quando a mente for necessária, use-a como um dispositivo mecânico; quando ela não estiver em uso, quando não houver nenhuma utilidade para ela, coloque-a de lado e esqueça-a. Então, seja inútil e faça algo inútil e sua vida será enriquecida, e sua vida se tornará um equilíbrio entre uso e não uso. E esse equilíbrio transcende ambos. Isso é transcendental – não é nem uso, nem não uso.
 
“Por quanto tempo ele vai ser capaz de utilizar o que está usando?”
 
Hui Tzu disse: “Deixaria de servir a qualquer propósito.”
 
Chuang Tzu concluiu: “Isso mostra a necessidade absoluta do que não tem nenhuma utilidade”.

Mesmo o útil não pode existir sem o inútil. O inútil é a base. Eu digo a você, sua mente não pode existir sem a meditação, e, se você tentar fazer o impossível, vai ficar louco. Isso é o que está acontecendo com muitas pessoas. Elas ficam loucas. O que é a loucura? A loucura é um esforço para viver sem meditação, de viver apenas com a mente. A meditação é a base, nem mesmo a mente pode existir sem ela. E se você tentar, a mente enlouquece, é demais para ela. É insuportável. Um louco é um homem que é um utilitário perfeito. Ele tentou o impossível, tentou viver sem meditação.

Os psicólogos dizem que, se você não puder dormir durante três semanas, você fica louco. Por que? O sono é inútil. Se o inútil é retirado, você fica louco. A loucura está crescendo a cada dia, porque a meditação não é considerada algo valioso. Você acha que só aquilo em que se pode fixar um preço é valioso? Só o que pode ser comprado e vendido é valioso? Então você está errado. Aquilo que não tem preço também é valioso. Aquilo que não pode ser vendido e comprado é muito mais valioso do que tudo o que pode ser comprado e vendido.

O amor é a base do sexo. Se você for completamente privado de amor, o sexo se torna pervertido. A meditação é a base da mente. Se você negar a meditação, a mente enlouquece. A diversão, a brincadeira, é a base do trabalho. Negue o divertimento e o lazer, e o trabalho se torna um fardo, um peso morto.

Olhe para o céu inútil. Sua casa pode ser útil, mas ela existe sob este vasto céu de inutilidade. Se você puder sentir ambos e for capaz de se mover de um para o outro sem nenhum problema, então pela primeira vez o ser humano perfeito nasceu em você.

O ser humano perfeito não sabe o que está dentro e o que está fora – ambos são parte dele. O ser humano perfeito não se preocupa com o que é útil e o que é inútil – ambos são suas asas. O ser humano perfeito usa o que não tem uso. O ser humano perfeito voa no céu com as asas da mente e da meditação, da matéria e da consciência, deste mundo e do outro, de Deus, de nenhum Deus. Ele é uma harmonia maior que extrapola e abrange os opostos.

Chuang Tzu enfatizou muito o que não tem uso, o que não tem utilidade, porque você enfatizou demais o útil. Caso contrário, a ênfase não seria necessária. É só para lhe dar equilíbrio. Você tem pendido muito para a esquerda, agora tem que ser puxado para a direita.

Lembre-se, por causa dessa ênfase excessiva, você pode voltar a passar para o outro extremo. E isso aconteceu com muitos seguidores de Chuang Tzu. Eles se tornaram viciados no inútil, eles ficaram loucos com o inútil. Eles se deslocaram demais para o inútil e esse não era o objetivo – eles o perderam.
 
Chuang Tzu enfatizava isso só porque você se tornou extremamente viciado no útil. É por isso que ele enfatizou o inútil. Mas devo lembra-lo – porque a mente pode se mover para o oposto e continuará na mesma – que a única coisa real é a transcendência. Você tem que chegar a um ponto em que pode usar o útil e o inútil, o propositado e o não propositado. Então você estará além de ambos, ambos vão servi-lo.

Há pessoas que não conseguem se livrar da mente e há pessoas que não conseguem se livrar da meditação. E lembre-se de que a doença é a mesma: a de você não conseguir se livrar de alguma coisa. Primeiro você não conseguia se livrar da mente, de alguma forma você conseguiu. Agora você não consegue se livrar da meditação. Mais uma vez você passa de uma prisão para outra.

Um homem perfeito, de verdade, um homem do Tao, não tem vícios. Ele pode passar facilmente de um extremo ao outro, porque ele permanece no meio. Ele usa as duas asas.

Chuang Tzu não deve ser mal interpretado, é por isso que eu digo isso. Ele pode ser incompreendido. Pessoas como Chuang Tzu são perigosas, você pode entendê-las erroneamente. E há mais possibilidade de um mal-entendido do que de compreensão. A mente diz: “Ok, vou dar um basta nesta loja, nesta família, agora vou me tornar um vagabundo.” Isso é um mal-entendido. Você vai levar a mesma mente, você vai se tornar viciado em sua nova condição, de vagabundo. Então você não será capaz de voltar à loja, ao mercado, à família. Então você vai ter medo.

Assim, a meditação, como um remédio, pode tornar-se uma nova doença, se você ficar viciado nela. Então, o médico deve se assegurar que ver se você ficou curado da doença, mas não ficou viciado no remédio – caso contrário ele não é um bom médico. 

Eu ouvi: o Mulá Nasruddin estava ensinando seu filho de sete anos de idade como abordar uma garota, como convidá-la para dançar, o que dizer e o que não dizer, como convencê-la.

Depois de meia hora, o menino chegou e disse: “Agora me ensine como me livrar dela.”

Isso também tem que ser aprendido, e é a parte mais difícil. Convidar é muito fácil, mas livrar-se é muito mais difícil. 

Para mim, o homem está num equilíbrio profundo, ele está no meio, livre de todos os opostos. Ele pode usar o útil e pode usar o inútil, ele pode usar o que tem propósito e o que não tem propósito, e ainda permanece além de ambos. Ele não é usado por eles. Ele se tornou um mestre.

Basta por hoje.


Um comentário:

  1. Eu amo Osho como amigo e mestre. Suas palavras vem da Existência!

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