domingo, junho 30, 2013

Onde está Jesus?

 - Núcleo -
 

Onde está Jesus ?
 
Para a percepção mental, para a qual existe tempo e espaço, Jesus viveu há dois mil anos e foi condenado a morte por crucificação. Mas, o Cristo que ele personificou é imortal; Ele é a Consciência de Deus em nós. Cristo está vivo em nós! A percepção de Deus em nós nos torna conscientes da condição de "Filhos de Deus", como Jesus Cristo referia a si mesmo. Ele expressou de várias formas e muitas vezes essa percepção de que Deus está em nós.
 
Para ativarmos essa percepção é preciso desejarmos estar com a atenção voltada para a realidade divina em nós. Na Bíblia está escrito: "Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, cogitam das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, dá para a vida e paz." (Rm 8.6). Assim, nossa atenção pela realidade humana, as preocupações do mundo, a realidade percebida pela mente, nos induz a estarmos inconscientes da realidade divina da qual somos expressão. Isso é o que dá para a morte. Em realidade estamos em Deus, somos a evidência da presença de Deus. Essa é a percepção que "dá para a vida e paz".
 
A percepção da mente do personagem, que estamos representando, nos faz acreditar na verdade de que "somos do mundo"...  Contudo, a percepção da Consciência do Ser, que realmente somos, nos faz conscientes da verdade de que nós deste mundo não somos.
 
Então, onde está Jesus?
 
Alguns dizem que Jesus foi o homem que morreu há dois mil anos e que tinha esse nome, e que Cristo foi o espírito de Deus que Se expressou através de Jesus. Essa é uma explicação mental. Contudo, nenhum homem tem vida em si mesmo. A vida é de Deus. O homem consciente desta realidade sabe que não tem vida separada de Deus. 
 
Aquele que não está consciente desta realidade está condenado a viver a vida que imagina. A Bíblia chama a condição em que se encontram estas pessoas de "escravos do pecado"... Pecado é ignorar que o Espírito Santo existe e que está em nós, em nossa realidade divina. Estes que não ignoram esta realidade da verdade divina, são os chamados filhos de Deus. 
 
Na Bíblia está assim escrito: "Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis. Pois, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (Rm 8.13-14).
 
Aqueles que interagem com o Espírito de Deus, que ouvem a voz da Consciência divina, e que a seguem, são os chamados filhos de Deus. É esse Espírito de Deus em nós quem nos conscientiza de que somos filhos de Deus. Na Bíblia revela que: "O próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16). No Núcleo nós dizemos que: é a Consciência do Ser (Espírito) quem revela à mente do personagem (nosso espírito) o que realmente somos.
 
Então, voltando à questão inicial, onde está Jesus?
 
Jesus é o revelador da verdade de que o Espírito Santo, o Espírito de Deus, existe em nós! O que faz essa "mediação", essa "ponte" de percepção entre a realidade que vivemos, a realidade humana, que percebemos mentalmente, e a realidade divina, que podemos perceber consciencialmente, esse é Jesus, o Cristo, chamado "mediador entre Deus e os homens". Sem essa mediação, sem essa ponte de percepção entre as realidades, não acendemos à percepção de que Deus é a nossa verdade. É na dimensão consciencial que encontramos o Cristo vivo!
 
Para os homens, Jesus morreu há dois mil anos na dimensão humana percebida pela mente (mundo da representação). Mas, ele pessoalmente respondeu com ênfase que: "Antes que Abraão existisse Eu Sou". Jesus deixou claro que existia antes de Abraão, ou seja, ele existia antes de haver nascido como Jesus. Isto é real. Ele está em nós, na realidade da Consciência do Ser, que somos.
 
Para despertar a percepção consciencial precisamos ativar essa interação com o Cristo que vive em nós. Se não Ele continuará sendo um ponto inacessado em nossa consciência.
 
Essa interação se faz em três etapas: pelo silêncio, pela oração e pela meditação. Pela oração nós falaremos com Deus e pela meditação nós O ouviremos. Contudo, não devemos começar pelo fim, mas pelo início...
 
A primeira etapa fundamental é o silêncio. Trata-se de um tipo especial de silêncio, um silêncio contemplativo. Antes de falar com Deus, fique em silêncio, e conscientize-se do ato que está por fazer: Falar com Deus. Depois, ore. Das orações possíveis, escolha se possível a oração de agradecimento. Faça novamente silêncio. Ouça! Dê uma chance para que Deus fale com você. Medite. Meditar é perceber consciencialmente. Enquanto houver "vozes" falando com você, isso ainda não será a voz de Deus, mas apenas vozes mentais.
 
A voz de Deus tem a característica de ser inconfundível. Enquanto houver dúvidas tenha a certeza de que essa não é a voz de Deus. A "voz de Deus" nem sempre são "palavras". Ela se manifesta como uma percepção clara. Por exemplo, nesse exato momento Deus, a voz do Ser em Mim, me revela que este texto aqui é muito importante para alguém e que ele deve ser publicado.
 
Eu, o personagem, não teria necessidade alguma de estar enviando isso. Muitas vezes escrevo e não envio, apenas interajo com Deus, e me realizo simplesmente assim. Mas agora estou "consciente de que" (poderia escrever "estou ouvindo que", mas eu não ouvi nada, apenas "percebi" ) devo fazer isso, que devo compartilhar isso com alguém.  É assim que sigo, sem questionar, a "palavra de Deus", voz interna às vezes sem palavras.

Esse texto pergunta: onde está Jesus?  E cada um deve obter a resposta interna.
 
 

quinta-feira, junho 27, 2013

Quem está na Consciência do Ser é o próprio Ser

- Núcleo -


Pergunta:  Seria correto dizer que "Deus é a Consciência onde todas as coisas aparecem"? E se Deus for a Consciência onde tudo aparece, as coisas que aparecem nela  na Consciência de Deus  também são Consciência/Deus?


Resposta: Você perguntou: "Estaria correto dizer que Deus é a Consciência onde todas as coisas aparecem?”

O mundo onde as coisas "aparecem" é aquele que a mente humana "vê". Em Deus, na Consciência do Ser, todas as coisas "são": você É, nós SOMOS. Estaria correto dizer que "Deus é a Consciência onde todas as coisas SÃO."

E você também pergunta: "as coisas que aparecem na Consciência que Deus é também são Consciência/Deus?"

Na Consciência do Ser não existem "coisas". Tudo o que É é o próprio Ser que Deus É manifestando-se como. Na percepção consciencial não há percepção de nada além de Deus, além do próprio Deus que Deus É, além do próprio Ser que o Ser É.

As manifestações do Ser, numa multiplicidade de formas, são o próprio Ser Real. No universo da Consciência do Ser há uma multiplicidade de seres, todos eles são o próprio Ser em diferentes manifestações. Em todo o universo só há o "Ser Real". Só Deus é Real. "Eu Sou" (eu sou pleno) é a percepção de Deus, o Ser único.

Mesmo no nosso mundo, nesse "universo que a mente do personagem percebe" também tudo é Deus, porém a mente projeta a dualidade, ela percebe muitos onde só há Um. "Estive preso e fostes Me visitar, tive fome e Me destes de comer".

"Homem: Suba a montanha!". Eleve-se em espírito. "Desperta, tu que dormes; Ergue-te do leito, e o Cristo (O Cristo do teu Ser) te dará luz (te proporcionará a visão unitária, a percepção da unicidade de tudo)."

Todas as perguntas e dúvidas provém da mente dos personagens; as respostas estão na Consciência do Ser. As perguntas "parecem" provir de seu personagem humano (que levantou a pergunta) e as respostas "parecem" ser dadas por mim, que estou lhe falando. Mas "só há um de nós".

Nós estamos contracenando com a divindade, num universo divino, onde só Deus é real. Se parece haver "você", se parece haver um "eu" (o que está respondendo à pergunta feita por você), e se parece haver alguém mais que esteja lendo esse diálogo entre mim e você, tudo não é o que parece.

Contemple o "Ser Real" aparecendo como um personagem, num cenário divino e perceberá que você não é o personagem (não é o que aparece); você é o Ser que está observando o cenário e os personagens que contracenam. Saia do espelho! Tudo o que está no espelho do "mundo visível pela mente" não é o que parece. A mente é a percepção do personagem que está "dentro do espelho", a visão do personagem. A Consciência do Ser é a visão do Observador, que Se percebe "fora do espelho". Essas percepções revelam realidades diferentes. O Observador percebe apenas a imagem de Si mesmo e seus reflexos no espelho, reflexos perfeitos, harmoniosos. Tudo o que Deus faz "é bom" (Deus criou o mundo e viu que tudo era bom). Mas, dentro do espelho, no mundo das imagens, no universo visto pelos personagens, no universo criado pela mente do personagem, Deus, o Ser Real, não é percebido. Nós existimos em Deus! Não há realidade fora do Ser. O que há é uma realidade aparente. É preciso transcender a mente para ouvir a Consciência Se expressar.

Transcender a mente é ativar uma percepção que está além dos cinco sentidos. Até que esta percepção seja ativada Deus não será percebido pelos sentidos da percepção mental: visão, audição, tato, olfato, paladar. Em contrapartida, quando esta percepção é ativada todos os cinco sentidos percebem a Presença de Deus em tudo! O mundo revela a maravilha que é, em toda a sua grandiosidade, tanto nas pequenas quanto nas grandes manifestações. Quando a Consciência do Ser é alcançada, então a vida do personagem se transforma, as "coincidências divinas" passam a se suceder no cotidiano, o suprimento vem, as maravilhas acontecem.

Cristo disse: "Eu vim para que tenha Vida em abundância". Cristo é Filho de Deus, Ele não vem da mente humana, Ele vem da parte do Pai, da Consciência do Ser, em nós. É preciso permitir que o "Filho de Deus" se manifeste em nós para que o "reino de Deus" (o Universo real, aquele que Deus criou) seja percebido por nós. Enquanto isso não acontece permanecemos no universo da mente (criado por nós). O universo aparente e mutável é o que a mente percebe, é aquilo que "parece" ser, é a interpretação que a mente dá às coisas. O Universo real é o que Deus criou (descrito no primeiro capítulo do Gênesis).

As manifestações mudam, mas é sempre o mesmo Ser, a mesma Fonte. Quando se contempla a indescritível beleza e imensidão do Oceano, está se percebendo a manifestação visível do Deus Invisível. Quando se contempla o céu, as estrelas, uma flor, a vida e inteligência que há nas plantas e nos animais, ou o movimento de uma folha ao vento, o equilíbrio do voo dos insetos; tudo isso está revelando o que está por trás, Deus Onipresente, Aquele que sempre É, de Eternidade à Eternidade. As diversas manifestações revelam apenas o mesmo Ser, em diferentes formas – uma infinidade delas. Em síntese, perceba Deus "aparecendo como", desfrute-O, contemple essa visão, ela é sua por herança divina. O Homem é "Filho de Deus". Então, seja o que você É, assuma sua real Identidade. Descarte a ilusão. Você é real.

Perceba o Real, contemple o Real, interaja com o universo como um Ser Espiritual que você É. Dirija-se ao Ser, à sua Realidade interna. Não procure nenhum mestre exterior, no mundo físico. Se surgir algum em seu caminho será Deus aparecendo em sua realidade visível, mas a percepção será a de que as respostas do mestre SEMPRE ESTIVERAM EM VOCÊ. São como os ensinamentos de Goldsmith ou de Jesus, que emergem de nosso Ser como verdades que não haviam sido antes percebidas, mas que se tornam plenamente compreensíveis, porque vêm da mesma Fonte interna do Ser, que está neles e que está em você. Quando você se dirige a Deus com suas dúvidas, Ele move o Universo para responder. Seus instrumentos poderão ser uma música, um encontro casual, um ruído, um texto, um livro, um e-mail ou mesmo o silêncio.

Esteja atento!


terça-feira, junho 25, 2013

O Centro Único

 Osho


"O homem não tem um centro separado do centro do todo.

Há apenas um centro na existência; os antigos costumavam chamá-lo de Tao, Dharma. Essas palavras agora se tornaram antigas; então, você pode chamar esse centro de verdade. Há apenas um centro de existência. Não há muitos centros, do contrário o universo não seria realmente um universo, seria um multiverso. Ele é uma unidade, por isso é chamado de "universo"; tem apenas um centro.

Mas é preciso meditar um pouco sobre isso. Esse único centro é o meu centro, o seu centro, o centro de todo mundo. Esse único centro não significa que você é desprovido de centro, esse centro significa simplesmente que você não tem um centro seu.

Cada um pode reivindicar esse centro como sendo seu. E, de certa maneira, ele é o seu centro mas não é apenas seu. O ego surge com a afirmação " O centro é meu, só meu. Não é o seu centro, é o meu centro; sou eu". A ideia de um centro separado é a raiz do ego.

Quando uma criança nasce ela chega com um centro próprio. Durante nove meses no útero da mãe ela funciona com o centro da mãe como o sendo o seu centro; ela não é separada; aí ela nasce. Então é utilitário pensar em si mesmo como tendo um centro separado; do contrário a vida vai se tornar muito difícil, quase impossível; Para sobreviver e para lutar pela sobrevivência na luta da vida, todos necessitamos de alguma ideia de quem são. E ninguém tem nenhuma ideia. Na verdade ninguém pode ter nenhuma ideia, porque no âmago mais profundo você é misterioso. Você não pode ter nenhuma ideia disso. No âmago mais profundo você não é um indivíduo, você é universal.

Por isso se você perguntar a Buda: "Quem é você?". Ele vai permanecer em silencio, não vai responder. Ele não pode porque agora ele não está mais separado. Ele é o Todo. Mas na vida corriqueira, até Buda tinha de usar a palavra "eu". Se ele sentisse sede, tinha de dizer: "Eu estou com sede. Ananda traga-me um pouco de água. Eu estou com sede". Para ser exatamente correto, ele diria: "Ananda, traga um pouco de água. O centro universal está com um pouco de sede". Mas isso pareceria um pouco estranho. E dizer isso repetidas vezes – às vezes o centro universal está com fome, às vezes o centro universal está cansado – seria desnecessário, absolutamente desnecessário. Então ele continua a usar a velha palavra significativa "eu". Ela é muito significativa: ainda que seja uma ficção, ela continua sendo significativa; Muitas ficções são significativas.

Por exemplo, você tem um nome. Isso é uma ficção. Você chegou sem um nome, não trouxe um nome com você – o nome lhe foi dado. Então, pela repetição constante, você começa a se identificar com ele. Você sabe que o seu nome é Sally, Rahim ou David. Isto está tão profundamente arraigado em você que, se todas as três mil pessoas que estão aqui agora, adormecerem e alguém chegar e chamar "Rahim, onde está você?", ninguém ouvirá, exceto Rahim. Rahim vai dizer: "Quem me chamou?". Até mesmo no sono ele sabe o seu nome; o nome atingiu o inconsciente, ele foi se infiltrando. Mas é uma ficção.

Mas quando digo que ele é uma ficção, não quero dizer que não seja necessário. É uma ficção necessária, é útil; do contrário, como você iria se dirigir às pessoas? Se você quisesse escrever uma carta para alguém para quem iria escrever? (...) Se ninguém tivesse um nome seria difícil. Embora na verdade ninguém tenha um nome, ainda assim esta é uma bela ficção, uma ficção útil. 

Os nomes são necessários para os outros poderem chamá-lo, o "eu" é necessário para você se referir a si mesmo, mas também é uma ficção. Se você penetrar profundamente dentro de você, verá que o nome desapareceu, a ideia de "eu" desapareceu; ficou apenas um puro Ser, uma existência.

E esse Ser não é algo separado, não é seu nem meu; Esse Ser é o Ser de Tudo. Rochas, rios, montanhas, árvores, tudo está incluído. É totalmente inclusivo, não exclui nada. Todo passado, todo o futuro, este imenso universo, tudo está ali incluído. Quanto mais profundo você penetrar em si mesmo, mais descobrirá que as pessoas não existem, que os indivíduos não existem. Então, o que existe é uma pura universalidade.

Na circunferência nós temos nomes, egos, identidades. Quando saímos da circunferência em direção ao centro, todas essas identidades desaparecem. O ego é apenas uma ficção útil. Use-o, mas não se deixe enganar por ele."
 
 
 

domingo, junho 23, 2013

Estar no mundo mas não ser do mundo

Núcleo
 
 
Divinos personagens,
 
Jesus orou assim: “Pai, não te peço que os tire do mundo mas que os livre do mal.”
 
Em termos da linguagem usada no Núcleo o “mundo” é a “representação divina”. Notem que Jesus não orou a Deus para que fôssemos tirados do mundo, ou seja, não orou a Deus para que fôssemos tirados da representação, mas sim para que fôssemos libertos do mal, que é o pecado (tsumi, envoltório, conforme ensina Masaharu Taniguchi). Ou seja, o pecado é a “visão encoberta”, que vê somente a representação divina e nos faz permanecer inconscientes da “realidade divina” que subjaz à “representação divina”. Se permanecermos apenas na percepção mental, que vê somente a representação, iremos apenas “reagir aos personagens ou ao cenário”, e não iremos “interagir com o Ser”, por permanecermos inconscientes de Sua presença e realidade (em tudo).
 
Assim, estejam no mundo mas não sejam do mundo! Em outras palavras, estejam na representação mas não sejam da representação... E para estarmos na representação mas não sermos da representação, é preciso estarmos “interagindo com o Ser” e não “reagindo aos personagens ou ao cenário”.
 
Uma correlação direta do que acaba de ser compartilhado está na Bíblia em Romanos, capítulo 8, no qual é ensinado que: “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne e os que se inclinam para o Espírito, cogitam das coisas do Espírito.” A palavra “carne” diz respeito a tudo que se refere à “representação divina”, ou seja, ao mundo; e a palavra “Espírito” diz respeito a tudo que se refere à “realidade divina”, ou seja, a Deus. Assim, estarmos “no mundo” e não sermos “do mundo” significa que devemos “cogitar das coisas do Espírito”, ou seja, devemos “interagir com o Ser” e, que não devemos “cogitar das coisas da carne”, ou seja, não devemos “reagir aos personagens ou ao cenário”, porque é assim que a percepção mental se sustenta [reagindo aos personagens. Quando não reagimos ela se esvai e revela-se a face do Ser, o amor de Deus em nós]. Por isso Jesus ensinou que se alguém nos ferir a face devemos “oferecer a outra face” o que significa que devemos “não reagir a quem nos fere a face” e, mais que isso, devemos “oferecer a outra face”, a real face de Quem Somos, que é a compaixão, a bondade, a compreensão e o Amor!
 
No versículo 9 do capítulo 8 de Romanos está escrito que: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós.”. Ou seja, “Vós, porém, não estais na percepção mental (que cogita das coisas da representação e reage de forma inconsciente ao que acontece na representação), mas na percepção consciencial (que cogita das coisas da realidade divina e interage de forma consciente com Deus), se, de fato, o Espírito de Deus (a percepção da Unidade) habita em vós.”
 
Por isso está escrito: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo (a percepção da Unidade pela qual Jesus orou em sua oração sacerdotal) esse alguém não é dele.” E ainda está escrito: “Se habita em vos o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, este mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do Seu Espírito (que percebe a Unidade) que em vós habita.”             
 
Enfim, Filhos de Deus, estejam na representação mas não sejam da representação...
 
Namastê.
 
 

sexta-feira, junho 21, 2013

Um mergulho na imensidão oceânica do Ser!

 
 - Núcleo -
 
 
Há um Ser Real, Oceânico...
Deus é este Oceano de Luz, infinito e eterno. 
De Suas profundezas Deus emerge à superfície de Si mesmo como Ondas do Oceano...
 
O Ser oceânico, infinito e eterno, é Quem somos!
Quando imergimos nas profundezas, nos percebemos em Unidade com Deus.
Quando emergimos à superfície, aparecemos como Ondas do Oceano de Luz.
 
Assim, há apenas um Oceano de Luz e Ondas neste Oceano.
Na superfície sou uma Onda e nas profundezas, Oceano.
Quando emerjo Me percebo apenas como a Onda.
Quando imerjo Me percebo como o vasto Oceano.
 
Vi cada um de nós como essa Unidade oceânica e muitas Ondas.
Sei que esta é a nossa essência e Realidade, é Quem somos.
Saibam que vocês são todos Ondas de um Oceano de Luz.
É o que percebo, o que desfruto e o que aqui compartilho.
 
 
 
Divinos personagens,

Assim como há incontáveis ondas no oceano, há incontáveis personagens no Ser. Assim como o oceano se manifesta como incontáveis ondas e isso não altera Sua natureza e unicidade, o Ser se manifesta como incontáveis personagens e isso não altera Sua natureza e unicidade. Do ponto de vista de uma onda o oceano é imenso, mas há incontáveis outras ondas. Do ponto de vista de um personagem o Ser é imenso, mas há incontáveis outros personagens. Embora possa haver, do ponto de vista do oceano, incontáveis ondas, todas serão percebidas como manifestações do próprio oceano. E embora possa haver, do ponto de vista do Ser, incontáveis personagens, todos serão percebidos  como manifestações do próprio Ser.
 
Assim como o Ser se percebe como Único, os personagens se percebem como incontáveis. O Ser se percebe como real e os personagens se percebem como reais… Eis a representação divina! Os personagens se percebem como reais. Personagens não são seres reais, a não ser para si mesmos. Assim, a não ser na representação, ou seja, a não ser do ponto de vista dos personagens, a representação é real. Por ser uma representação divina ela é realística, ou seja, parece ser real para os personagens.
 
Assim, o universo material, por ser uma representação divina, ele é realístico, ou seja, parece ser real para os personagens. O tempo, por ser uma representação divina, ele é realístico, ou seja, parece ser real para os personagens. O espaço, por ser uma representação divina, é realístico, ou seja, parece ser real para os personagens. Os personagens, por serem representações divinas, eles são realísticos, ou seja, parecem ser reais para os personagens. Enfim, todo o cenário material, tempo, espaço e os próprios personagens, por serem representações divinas, eles são todos realísticos, ou seja, parecem ser reais para os personagens.
 
Há duas percepções possíveis, uma delas percebe o Ser Real; a outra, percebe a representação do Ser. A primeira percepção é real; a outra é realística. No momento em que perceber que a representação é o que é, ou seja, que é apenas uma representação, estará percebendo o real! Não haverá o que temer, pois ela já não será o seu Senhor e não te afetará como pode estar te afetando hoje. Você poderá inclusive descartá-la! O fim da representação não acarreta o fim do Ser, nem sequer o afeta! [Quem você É não é afetado por quem você está sendo!] No Núcleo temos falado sobre as duas percepções possíveis e temos enfatizado que a percepção que vê a representação e o realismo é a percepção mental; e que a percepção que vê o real é a percepção consciencial.

Na Bíblia, em sentido figurado, mas como uma profunda revelação, há a seguinte afirmação: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Ap 21:3-4)

As “primeiras coisas” a que se refere esta revelação bíblica é aquilo percebido pela mente, ou seja, é a representação, na qual existe mundo material, tempo, espaço e personagens.

O capítulo 21 do Apocalipse descreve “o novo céu e a nova terra”, e relata uma experiência consciencial de João. Há que se observar que no Núcleo temos enfatizado que por ser uma “experiência consciencial”, ela não pertence apenas a quem a teve, ou seja, não é válida somente para quem a teve, mas também, é válida para quem a percebe! As “experiências conscienciais” são percepções da realidade do Ser, e como tal são atemporais, são não espaciais, imateriais e impessoais. Isto quer dizer que as “experiências conscienciais” não são experiências da mente de um personagem, são revelações da Consciência do Ser Real [por isso são experiências conscienciais]. E uma vez vivenciadas, podem ser desfrutadas e compartilhadas com todos. Relatos de “experiências conscienciais” estão presentes nas Sagradas Escrituras de todas as religiões e devem ser assimilados consciencialmente. Não fará sentido analisar mentalmente uma “experiência consciencial”, e pretender contextualizá-la como sendo de alguém [personalizá-la]; ou como sendo de algum tempo [passado, presente ou futuro]; ou como sendo de algum lugar [um local na terra, ou no espaço].

Aceite com naturalidade, a princípio, a percepção mental, sem esforço, sem lutar contra a representação, sem negá-la, sem pretender desmascará-la. Apenas observe todo o cenário e os personagens. Observe seus argumentos, seus gestos, suas convicções e não julgue, apenas observe. Observe a tudo. Depois, siga adiante! Imerja-se em sua própria observação e a contemple! Sim, veja seu personagem observando a tudo.

Se seguiu estes dois passos [se observou a tudo sem julgar e se contemplou seu personagem observando a tudo] estará a um passo de meditar, de ter “uma experiência consciencial”! Note que sua parte vai apenas até aqui! Concentração e contemplação. Não pretenda ir além, não tente “meditar”, pois, não é a mente Quem medita, é a Consciência, e ela não é influenciada por nada que a mente [a percepção do personagem] possa fazer.

Quando você decide se concentrar e contemplar o cenário, parece ser você quem está “batendo à porta” da Consciência para que você tenha a “experiência de meditação”, mas não é isso o que realmente está ocorrendo. É algo muito mais divino. É algo além da imaginação! É o próprio Ser Real “Quem” está “batendo à porta” da sua mente e te convidando a deixá-la.

Do ponto de vista do personagem parece que ele se dirigiu ao Ser, mas, em verdade foi o Ser Quem se dirigiu ao personagem! Isto é assim porque todo o enredo do personagem é escrito pelo Ser. Como exemplo, um personagem de quadrinhos, como o “cebolinha” não dá um passo se o Maurício de Souza [se o Autor do personagem “cebolinha”] não o desenhar dando um passo! Assim o “cebolinha” só pode ter a percepção de que ele, “cebolinha”, é um personagem, se o Maurício de Souza escrever este enredo para o “cebolinha”. Mesmo assim, o “cebolinha” jamais terá “esta percepção” [A percepção consciencial é sempre do Autor, nunca do personagem]. É a “Consciência do Ser” Quem percebe “consciencialmente”, não a “mente do personagem”.

Apenas quando o personagem se volta ao Ser Real é que ele está prestes a perceber Quem realmente É. Em qualquer outra busca o personagem está se enveredando na representação. No momento em que percebe Quem É, percebe que não é ele, enquanto personagem, Quem percebe; mas sim, que é Deus Quem percebe; e que há apenas o Ser; que somente Deus é Real.
 
Este texto é endereçado aos que estão compartilhando a Verdade de si mesmos, a percepção de sua real identidade! Nesta visão não há porque deixar de estar na representação. Nós não somos “personagens”; essa não é nossa real identidade! Somos Quem sempre fomos, Quem sempre seremos! Sabemos que "antes que houvessem personagens, nós somos"! Cada um de nós É Quem realmente É. Somos o Ser Real, a divindade atemporal.

O que muda entre nós, enquanto personagens, é a percepção deste fato! Muitos estão completamente imersos na ilusão, e se vêem separados de Deus, se imaginam “filhos pródigos”. Outros se vêem imersos em Deus, e se percebem “Filhos de Deus”! O que muda é a percepção que cada um quer ter, não o fato em si, pois, a única realidade, a “real identidade” de todos é Deus!

A humanidade sempre teve esse conhecimento. Krishna veio ao mundo e revelou este conhecimento divino; Buda veio ao mundo e revelou este conhecimento divino; Jesus Cristo veio ao mundo e revelou este conhecimento divino. Muitos mestres, como Yogananda, Ramakrishna, Ramana Maharishi e Masaharu Taniguchi vieram ao mundo e revelaram este conhecimento divino. Não é um conhecimento novo, nem uma “verdade nova”. Trata-se apenas de uma “revelação da Fonte”, uma “revelação do Núcleo”. Todos os que convergem para esta Fonte têm esta percepção. É uma percepção para ser desfrutada e compartilhada entre todos, não para ser imposta, mas apenas para ser vivenciada.

Assim, os que estão no Núcleo não devem ter a intenção de reunir seguidores de uma nova doutrina ou de uma nova religião, mas sim, devem ter a intenção de compartilhar com aqueles que quiserem, de todas as religiões, esta visão da divindade!

Afinal, não faz diferença para Deus que o personagem esteja na representação percebendo apenas a representação, mas, faz enorme diferença para o personagem que ele esteja na representação percebendo a divindade! É a diferença entre estar “vivendo o que a mente concebe” ou “vivendo o céu”!

Por fim, lembro esta revelação do Cristo, a divindade que “apareceu como” o divino personagem, o Filho de Deus: O “reino de Deus” está dentro de vós! O Ser Real é o “Oceano de Luz e Bem-aventurança”! E no Núcleo desfrutamos a imensidão deste Oceano. Glorifiquemos a Deus por compartilhar esta percepção!

A paz seja com todos.

Muito obrigado.
 
 
 

quinta-feira, junho 20, 2013

A verdade está sendo você


Osho
 
 
"Se você encontrou a verdade dentro de você, não há mais nada para descobrir em toda esta existência.
 
A verdade está atuando através de você.
 
Quando você abre os olhos, é a verdade abrindo seus olhos.
 
Quando fecha os seus olhos, é a verdade que está fechando os olhos.
 
Esta é uma meditação extraordinária.
 
Se você puder simplesmente entender o mecanismo, não precisará fazer nada...
 
O que quer que estiver fazendo, estará sendo feito pela verdade.
 
Se você estiver andando, será a verdade andando; se estiver dormindo, será a verdade dormindo.
 
Se estiver falando, será a verdade falando; se estiver em silêncio, será a verdade em silêncio.
 
Esta é uma das mais puras técnicas de meditação.
 
Pouco a pouco, tudo se acomoda segundo esta fórmula singela.
 
E então, não há mais necessidade da técnica.
 
Quando você está curado, joga fora a meditação, joga fora o remédio.
 
Então você vive como verdade, cheio de vida, radiante, satisfeito, abençoado, uma canção em si mesmo.
 
Toda a sua vida se transforma em uma prece sem palavras... melhor dizendo, em um estado de oração!
 
Toda a sua vida se transforma em um estado de graça, de beleza que não pertence a este mundo!
 
Toda a sua vida se transforma em um raio de luz vindo do além, iluminando a escuridão do nosso mundo.
 
E quando você entrar no mais íntimo âmago do seu ser, você não acreditará em seus próprios olhos:
 
Você estava carregando tanta alegria, tantas bençãos, tanto amor, e você estava fugindo de seus próprios tesouros."



 

domingo, junho 16, 2013

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 4/4

Gugu


Continuando a explanação do esquema de duas colunas:



 
14 – A realidade consciencial não pode ser percebida pela mente do personagem. As verdades conscienciais não estão ao alcance da mente. O máximo que a mente consegue fazer é "acreditar" ou "não acreditar" nas revelações da Consciência. Por exemplo, Jesus pode vir até cada um e dizer que o reino de Deus está dentro de nós. Essa é uma revelação consciencial que não pode ser percebida pela mente. A mente, então, só conseguirá acreditar ou não acreditar na revelação de Jesus. Jesus não depende de “acreditar” ou “não acreditar” que o reino de Deus está em nós – ele sabe! O saber está além do mero “acreditar” ou “não acreditar”. O saber é consciencial.

Para elucidar ainda mais, vamos utilizar um exemplo bastante simples aqui mesmo da representação: se perguntarmos às pessoas se é possível um ovo de galinha ser colocado em pé sem tombar para um dos lados, algumas pessoas acreditarão ser possível, enquanto outras acreditarão ser impossível. Conta-se que Cristóvão Colombo provou ser possível um ovo ficar perfeitamente imóvel, equilibrado e em pé. Alguns personagens acreditam, outros desacreditam. Mas o fato é: um ovo pode ficar em pé. Quem já conseguiu ou viu um ovo ser colocado em pé, deixou o campo do “acreditar” ou “não acreditar” e passou a saber que um ovo pode ficar em pé. A questão do "acreditar" ou "não acreditar" para ele não mais existe. No caso deste exemplo, os personagens que responderam “eu acredito” estão mais próximos da realidade do que aqueles que responderam “eu não acredito”;  porém, mesmo que tenham escolhido a resposta mais aproximada, isso não os leva para dentro da realidade. Assim, podemos perceber que até mesmo o acreditar não é suficiente; o saber está além inclusive do acreditar.

A mente também tem o hábito de querer concordar ou discordar. Da mesma forma que o "acreditar" e o "não acreditar", a concordância ou discordância da mente não irá ajudar. Sempre que a mente concorda ou discorda, a verdade (realidade consciencial) fica encoberta pela realidade mental. Esta é uma outra verdade consciencial: tudo o que está acontecendo na representação é divino. A representação não é apenas representação – ela é uma representação divina! A Consciência do Ser pode ser percebida/sentida em tudo e em todos. Você concorda? Você discorda? Então você teceu juízo de valor e isso é o suficiente para acionar a percepção mental e mantê-lo fora da percepção consciencial. Se pudermos lançar um olhar desprovido de qualquer julgamento, a Consciência do Ser passa a Se evidenciar nas coisas grandes e pequenas. Apenas olhe, contemple! Quando algo estiver acontecendo, apenas permita que isso esteja ali, sem julgamentos, sem interferir, sem querer concordar ou discordar disso. A mente sentirá vontade de entrar e dizer: "sim, isso está acontecendo, é assim mesmo! Concordo com o que estou presenciando", ou poderá dizer: "isso não está certo, não pode ser assim, pois jamais vi isso antes". A mente sempre mede, analisa, julga. O julgamento é o que lhe dá energia. Com a concordância ou discordância, nada se resolve, apenas uma crença é criada. E a realidade consciencial fica ocultada, encoberta pela realidade mental.

Para percebermos a verdade basta não deixarmos que a mente interfira, ocupando o foco de nossa percepção. Muitos sinceros buscadores espirituais pensam que devem se esforçar para tentar neutralizar ou eliminar a mente (a visão dual, a percepção mental) para ter a percepção unitária (percepção consciencial). Contudo, este esforço do personagem é em vão porque atua sobre a própria “mente do personagem” na tentativa de neutralizá-la ou eliminá-la; enquanto somente o próprio Ser pela “Consciência do Ser” pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Não é necessário eliminar a mente para perceber a verdade; a mente pode estar presente, mas deve estar quieta, silenciosa. É necessário saber presenciar silenciosamente um acontecimento, colocando a mente de lado.

Quando você vai para a natureza e escuta o som de uma cachoeira, você concorda ou discorda disso? Nesses momentos, você tenta entender ou decifrar o som que está escutando? Ao invés disso, você está relaxado, entregue, em harmonia, integrado ao que está presenciando. Você apenas escuta, observa, presencia, contempla – sem julgamentos. O som da cachoeira nos soa tranquilo, leve e revigorante. A tranquilidade, paz e beleza que encontramos no som de uma cachoeira na verdade não advém da cachoeira (fenômeno externo) em si. A beleza que sentimos é espiritual, consciencial. A natureza é selvagem, devido a isso ela tem o poder de diminuir a interferência da mente e aumentar o silêncio. Por isso, os ensinamentos são unânimes em dizer que quando estamos na natureza estamos mais próximos de Deus. A natureza aumenta o silêncio e facilita nosso contato com a dimensão consciencial, por isso sentimos ela ser tão bonita. Mas o que sentimos na natureza podemos sentir com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta acessar a dimensão do silêncio.  Escute tudo a sua volta como você escutaria o som de uma cachoeira.

Na concordância ou discordância é necessário haver "dois", você e a cachoeira, separados. Você está na dimensão da separação, das partes: uma parte (você) está escutando a outra parte (cachoeira). Ao presenciar silenciosamente o som da cachoeira, subitamente não há mais "você" e a "cachoeira", ambos foram integrados/unidos e agora há apenas o todo. A dimensão do todo apareceu, o todo entrou na frente. Agora é o todo que está acontecendo – agora, antes de haver um personagem escutando a cachoeira ou uma cachoeira sendo escutada por um personagem, há o todo aparecendo simultaneamente como o personagem e como a cachoeira. Tudo passa a ocorrer ao mesmo tempo. A presença do personagem, a presença da cachoeira, o sentido de escutar, o som escutado, o processo de escuta... Os elementos que antes estavam separados são juntados em uma só leva, e toda uma sincronicidade surge, uma música começa a ser formada. Essa música repleta de sincronia ocorre no todo e só é percebida pelo todo, mediante a percepção que está no próprio todo. O todo é a Consciência do Ser. Silêncio é música, é a melodia divina.


15 – A intuição está relacionada à percepção consciencial. E os cinco sentidos estão relacionados à percepção da mente do personagem. Os cinco sentidos a que se refere o Núcleo são: visão, audição, olfato, paladar e tato. Também o sexto sentido faz parte da mente do personagem. O sexto sentido da mente significa: visão mediúnica, audição mediúnica, olfato mediúnico e demais percepções mediúnicas. Ou seja, o sexto sentido corresponde aos cinco sentidos do corpo, só que utilizados para perceber fenômenos espirituais de cunho mediúnico, tais como ver, ouvir e falar com espíritos desencarnados. Os sentidos mentais do personagem incluem também o intelecto, a razão e a lógica. Tudo isso é percepção mental.

A intuição é um fenômeno não mental, ela não tem a sua fonte na mente (intelecto, razão ou lógica) do personagem. A mente do personagem não pode compreender a intuição por ser ela própria um fenômeno irracional, ilógico. Alguém talvez pergunte: “A intuição pode ser explicada?”, mas essa pergunta na verdade significa: “A intuição pode ser reduzida ao intelecto?”. E a intuição é algo acima do intelecto, ela provém da Consciência do Ser. O intelecto é sempre contínuo, linear: “A” está ligado a “B”, que está ligado a “C”, que se liga a “D” e assim por diante. O intelecto é constituído por: causalidade, linearidade, conexões lógicas. A intuição é não-linear: quando atua a intuição, as ligações da mente são quebradas, o que torna possível à percepção passar diretamente de “A” para “D”, ou para qualquer outro ponto. A intuição cria uma lacuna – uma desconexão e descontinuidade completas – o que permite à percepção dar um salto. Esse salto é inconcebível para a mente. Assim, a intuição é um pulo, um salto direto e imediato de um ponto a outro ponto, sem nenhuma interligação entre os dois. A percepção consciencial é imediata; com ela a coisa é captada de súbito, diretamente do interior, sem a interferência linear ou lógica da mente. E o interior é vasto, infinito, tudo já está contido nele. No interior está o reino de Deus inteiro. 

A mente pode sentir a intuição, mas não pode explica-la. A intuição pode penetrar a mente e a mente pode notar que algo aconteceu, mas não pode explicar. Deve-se entender que uma realidade superior pode penetrar uma realidade inferior, mas a realidade inferior não consegue penetrar a realidade superior. A intuição pode penetrar o intelecto porque ela é superior, mas o intelecto não pode penetrar a intuição e tampouco explica-la. Não existe uma explicação do superior no inferior, porque o superior é muito vasto e os próprios termos da explicação tornam-se inadequados demais para fazerem sentido ali. Mas a mente pode sentir a lacuna, ela sente que: “aconteceu algo que está além de mim”. Assim, é possível utilizar a mente, o intelecto, sem estar fechado à intuição. Podemos utilizar a razão como um instrumento, permanecendo abertos, estando receptivos ao superior. O intelecto pode ser usado como um auxiliar a serviço de algo maior.


16 – O Amor é simplesmente Unidade, Totalidade, UM. A percepção consciencial pode revelar a Divindade manifestada no mundo da representação (1), como também pode revelar o Universo Consciencial no qual a representação está ausente (2). Conforme já dito, o espaço (silêncio, vazio) divide-se em duas partes ou aspectos. De um lado do espaço está Deus e o universo da representação; ali Ele está consciente de tudo – da criação inteira – em Si mesmo. Do outro lado do espaço, Deus está sozinho, habitando a ilimitada faixa da eternidade, existindo como Consciência inqualificada, Bem-aventurada, sempre existente, sempre nova. Nenhum mundo, nenhuma outra coisa existe em Sua Consciência, naquela região da infinitude onde Ele reina como o Absoluto.
 
Percebendo consciencialmente, podemos penetrar o Silêncio e contemplar a Luz da qual toda a representação emerge. Podemos contemplar a Divindade aparecendo como todo o universo da representação, ou seja, podemos perceber o oceano do Espírito com as ondas de Sua criação. O Divino revela-Se como Amor em todo o universo da representação. Nesse aspecto, o Oceano está completamente mesclado às ondas, ambos são UM. Deus se faz presente na representação da mesma forma que o oceano se faz presente em suas ondas. Nosso aparente universo físico quando percebido consciencialmente é um esplêndido oceano de luz, algo inconcebível pela percepção mental. Aumentando ainda mais o Silêncio, a nossa experiência transcende até a Luz manifestada e adentra o puro Universo Consciencial, que existe sozinho em um espaço onde o universo da representação está ausente. Isto é, podemos perceber o mesmo Oceano espiritual existindo transcendentalmente de forma serena, sem as ondas da criação. Isso significa que "Quem somos" pode perceber-Se manifestado em toda a criação, como também pode perceber-Se como o Universo Consciencial que existe desde antes do surgimento da representação. Em ambos os casos, a percepção é de UNIDADE.  

Este assunto do Universo Consciencial merece ser mais aprofundado. O Universo consciencial existe fora do universo da representação – é onde habita Deus Universal (Paramatman) e o filho de Deus (Atman). É uma realidade de pura Unidade, Bem-Aventurança, Alegria, Amor perfeito.

O ensinamento Um Curso em Milagres apresenta uma cosmologia com uma ilustração bastante plausível do que vem a ser essa Realidade Divina suprema e absoluta. Nele, é contada a seguinte história: no Princípio (antes do surgimento da representação) existiam unicamente Pai e Filho vivendo na realidade perfeita denominada "Céu". Antes do início, não havia inícios nem fins; havia apenas o Eterno Sempre, que ainda está "lá" – e sempre estará. Havia apenas uma Consciência de uma unicidade imaculada, e essa unicidade era tão completa, tão espantosa e ilimitada em sua alegre extensão, que seria impossível que qualquer coisa (extensão) estivesse consciente de algo que não fosse Si Mesmo. Havia e há apenas Deus nessa realidade, chamada pelo Curso de “Céu”. O que Deus cria em Sua extensão de Si Mesmo é chamado de Cristo (o Filho, o Atman). Mas Cristo de maneira alguma é separado ou diferente de Deus (Paramatman). Eles são exatamente a mesma coisa. Cristo não é uma parte de Deus, Ele é uma extensão do todo. A única diferença possível entre Cristo e Deus – se uma distinção fosse possível – seria que Deus criou Cristo; Ele é o Autor. Cristo não criou Deus ou a Si Mesmo. Contudo, por causa da perfeita unicidade inerente ao próprio Deus, isso realmente não importa no Céu. Deus criou Cristo para ser exatamente como Ele, e para compartilhar Seu eterno Amor e alegria, em um estado de êxtase livre, ilimitado e inimaginável. Tal estado constante e bem-aventurado de consciência é completamente abstrato, eterno, imutável e unido. Cristo, então, estende a Si Mesmo, criando novas Criações, ou extensões simultâneas do todo, que também são exatamente as mesmas em sua perfeita unicidade com Deus e com Cristo. Portanto, Cristo, como Deus, também cria – porque Ele é exatamente o mesmo que Deus.

Essas extensões não vão para "dentro" ou para "fora", porque no Céu não existe conceito de espaço; existe apenas em todo o lugar. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que está além da compreensão. Pai e Filho em um alegre e eterno compartilhar. A condição da realidade consciencial é puro Amor e tudo funciona de acordo com  esse Amor Eterno, que é o próprio Deus (Eu) sendo. Deus compartilha a integralidade de Seu Ser com seus Filhos. E os Filhos de Deus também compartilham tudo o que têm e são com outros Filhos de Deus, sendo que todos estão sempre conscientes de Quem são. O resultado disso é o enriquecimento e engrandecimento do Céu. O Infinito se ultrapassa e se expande ainda mais, contrariando tudo o que qualquer lógica possa conceber. Assim é (funciona) a realidade divina. 

Podemos, então, compreender que Deus Universal (o Pai Eterno, Paramatman) não criou a representação. Ele criou o Universo Consciencial para desfrutar a Vida una, eterna e perfeita, a qual foi descrita de modo bastante plausível na história narrada. O Universo Consciencial é constituído somente por Deus (Paramatman) e filho de Deus (Atman). Quando surge o universo da representação, isso ocorre devido a vontade do filho de Deus. Por meio de Seu sonho/imaginação/representação, o filho de Deus concebe a existência irreal mas aparente de um universo de separação. É Ele quem possibilita o jogo da dualidade. E no universo da representação o filho de Deus aparece como sendo tudo o que existe... “Eu apareço como”.

Quando a representação é percebida consciencialmente (com a visão do filho de Deus) o senso de separação é impossível – mesmo na representação. A representação inteira assume uma qualidade divina de unidade, amor, plenitude, bem-aventurança. É como se Deus, o Amor, fosse trazido para dentro do universo da representação, e a representação ficasse totalmente impregnada, afetada pelo Divino. A representação torna-se uma representação divina, ela passa a expressar Deus em todos os seus aspectos.

Porém, quando a representação é percebida mentalmente, o senso de separação torna-se possível. E quando entra a separação, o Amor dá lugar ao medo ou temor. A separação provoca a divisão do um. Concomitantemente com a divisão do um, surge a noção falsa/irreal do "outro", do "desconhecido", do “estranho”. O "outro", o "desconhecido", o "estranho" é tudo aquilo que está separado de "mim", é tudo aquilo que não sou "eu". Esse fator gera insegurança, vulnerabilidade e medo e, com isso, o "eu" sente a necessidade de proteger-se e defender-se a si mesmo. O medo ou temor está ligado ao "eu" do personagem, que se vê separado do todo.


17 – Ação dhármica é a ação praticada com renúncia aos frutos. Significa agir desinteressadamente de modo a não se apegar ao resultado da ação. A ação dhármica implica em transcender o sentimento de querer satisfazer os desejos pessoais (eu-personagem). Na ação dhármica, o personagem age para o Todo e não para si mesmo. Ele é um canal, um veículo, um instrumento através do qual a Consciência (impessoal) do Ser se expressa.

Aqueles que praticam a ação dhármica agem com amor incondicional, desinteressado. Eles cumprem o dever de desempenhar fielmente o papel que lhes compete na representação. No universo da representação, tudo tem em si a Consciência divina. O Ser Real também se percebe, se vê presente, em personagens que não têm "mente", que não são humanos, como os vegetais e os minerais. Embora não tenham mente, todos tem a Consciência. E esta é a Consciência do próprio Ser. Ela está no Ser, não pertence aos personagens. A maioria dos personagens no cenário não pensam, mas desempenham perfeitamente seus papéis de personagens do Ser. Eles cumprem o seu papel específico ou o "dharma" que lhes foi designado.

Por exemplo, a flor cumpre incondicionalmente o papel de desabrochar e espalhar a sua fragrância. Ela não se importa se haverá alguém lá para presenciar ou apreciá-la, ela apenas continua exalando o seu perfume, quer alguém aprecie ou não. A flor não diz: "ali vem se aproximando um grande ser que poderá me apreciar, vou exalar a minha fragrância". Mesmo se ninguém estiver passando, a flor irá espalhar a sua fragrância. Da mesma forma, o sol cumpre o papel que lhe foi designado, enviando sua luz e calor a fim de aquecer e beneficiar todos os seres, indistintamente. Ele não diz que: "esta é uma boa pessoa que merece se beneficiar do meu calor; aquela outra é uma má pessoa, ela não merece ser aquecida com a minha luz". E assim também é com a água, as estrelas, os insetos, os animais, todos! Eles só cumprem os seus papéis – só existem – porque neles há uma presença, uma força que os mantém como tal. Essa força é a “Consciência” presente em cada personagem. De fato, a Consciência já está presente em cada personagem do cenário, e no próprio cenário! De forma que não existe cenário nem personagem sem esta “presença divina”, onipresente. É ela quem sustenta todas as formas e quem governa e mantém todas as leis naturais.

Todos os personagens possuem o seu dharma (missão) para cumprir perante o Todo aqui na representação. O Bhagavad Gita conta a história do príncipe Arjuna que, para reconquistar o seu reino, se vê obrigado a guerrear contra a sua própria família. Ele deseja recuperar o trono mas, para fazer isso, deverá matar um grande número de parentes que estão do outro lado da linha de combate. A situação é difícil, o príncipe Arjuna está num impasse,  ele não sabe o que fazer. Então Krishna aparece e lhe dá a ordem para lutar, derrotar todos os adversário e vencer a guerra. Krishna está lá para revelar o dharma de Arjuna, ou seja, o papel que ele está destinado a cumprir no mundo da representação. Ele diz: "Não cedas à fraqueza, que de nada te serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és. Apenas vá e lute; e deixe que Eu me encarregue dos resultados". Durante todo o Gita, Krishna irá revelar a Arjuna a verdade suprema – verdades universais, divinas, conscienciais; somente desse modo Arjuna poderá compreender a razão pela qual deverá cumprir na representação o seu papel de guerreiro. Mas Arjuna resiste às palavras de Krishna – e resiste enormemente. É somente no final do Gita que Arjuna compreende a necessidade de cumprir o seu dharma. Estas são algumas palavras de Krishna a Arjuna sobre o dharma:

"Agir é tua missão; mas não deves visar aos frutos da tua atividade. Não permitas que a tua atividade seja inspirada pelo desejo dos teus frutos. Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus. Eu, que ajo, não sou afetado por minhas ações, nem viso ao fruto da minha atividade. Quem isso compreende pode agir sem estar apegado ao que faz; não deseja lucro; quem está unido a Mim é livre e imaculado em suas obras. Tu, porém, ó Arjuna, refere a Mim, a fonte do Ser, todos os teus atos! Supera todos os desejos pessoais e o egoísmo! Liberta-te do apego! O que quer que fizeres, faze-o no espírito da renúncia, tendo em mente a Mim, o Senhor do mundo. Deixa a Mim o cuidado pelo sucesso; pensa em Mim e oferece-Me o teu coração e a tua alma. Confia em Mim e vive na fé em Mim. Pelo poder da Minha graça alcançarás a vitória sobre todos os obstáculos; mas se confiares somente em tua força pessoal, e não em Mim, serás derrotado.

Isento de egoísmo, violência, ganância e cobiça, desapegado do "eu" e do "meu", sereno e calmo dentro de si mesmo  este homem se torna um com Brahman. E integrado no espírito de Brahman, alcança o seu Eu divino; já não chora por nada, não tem desejo de nada, não luta por nada, não tem cobiça de coisa alguma. Porque dentro de si mesmo possui tudo. Quando o homem se integra a Mim é um Comigo. Dele é a Minha Grandeza, Meu Poder, Meu Ser, Minha Vida, Minha Sabedoria, Minha Beatitude. E agora escuta a mais sagrada das minhas revelações: Amo-te, e por isto te revelo o que é pelo teu bem."
 
A história do Bhagavad Gita é muito, muito simbólica. O diálogo ali contido ocorre na verdade entre a Consciência do Ser (representada por Krishna) e a mente do personagem (representada por Arjuna). O Gita é Deus conversando com o homem. Durante todo o diálogo, Arjuna tenta compreender os mistérios divinos que são exaustivamente revelados por Krishna. Mas, por mais que Krishna fale, Arjuna não entende. Isso carrega um significado: a mente do personagem é incapaz de compreender os mistérios revelados pela Consciência Divina. O Bhagavad Gita é, na verdade, uma escritura sagrada universal, que diz respeito a todo os seres. Ele descreve a história de cada ser humano: a de Arjuna, a minha, a sua... a história que vale para Arjuna vale para todos. Para que Arjuna pudesse compreender Krishna, ele teve de aprender a superar a mente de seu personagem. Ocorre o mesmo conosco.

Um outro significado muito importante que o Gita comporta é o seguinte: Arjuna está indo para o campo de batalha e sendo carregado por uma carruagem – e Krishna é o cocheiro, o condutor da carruagem! Com essa simbologia, o Gita quer dizer que Krishna (a Consciência do Ser) deve sempre ocupar o papel de "condutor da carruagem". Mas os personagens estão sempre tentando conduzir eles mesmos a carruagem. Enquanto Arjuna (a mente do personagem) estava querendo conduzir a carruagem, ele não compreendeu. E foi por esse motivo que ele demorou tanto a entender. O assento da frente da carruagem já tem dono – um dono oficial! –, somente a Ele compete o papel de ser o condutor de nossa carruagem. A história do Gita foi montada perfeita até mesmo nesse pequeno detalhe.

Se quisermos compreender o ensinamento de seres tais como Krishna, Buda e Jesus, precisamos desenvolver a habilidade de perceber consciencialmente. E como fazer isso? Uma das maneiras ensinadas no Núcleo é estar alerta para esta pergunta: “O que você prefere: reagir aos personagens/representação ou interagir Comigo?”. Essa pergunta (princípio nuclear) nos fornece todos os elementos necessários que nos ajudarão a perceber e interagir com a Consciência do Ser. Devemos estar cientes de que no mundo da representação Eu está aparecendo como tudo: como palco, roteiro, cenário e todos os personagens. Sabendo disso, deixamos de ser meros personagens (que apenas interagem com outros personagens), e passamos a ser como atores cientes de que aquele que está diante de nós na representação não é somente um personagem, ele é também um ator. Assim, podemos escolher continuar representando o papel de nossos personagens (1), ou podemos escolher romper com a representação e passar a interagir com o ator (2).

Por exemplo: imagine a situação em que dois personagens de teatro estão conversando; um deles desiste de seguir a conversa traçada no roteiro e de súbito inicia um diálogo diretamente com o ator. A atitude dele seria: “cansei de interagir com o personagem, agora eu quero conversar diretamente com o real, e não mais com o personagem que ele está representando”. Essa atitude rompe de imediato com a encenação. Um personagem nunca toma a decisão de romper com a representação, é sempre o ator. No momento em que se manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a representação, isso já é o ator agindo. Agora veja: o ator está sempre lá onde o outro personagem também está. Tudo o que for dito ao outro personagem, o ator irá ouvir – com os mesmos ouvidos. As palavras ou ações (fora do roteiro) que forem dirigidas ao outro personagem serão ouvidas pelo ator. E quando um dos atores rompe a representação (com palavras ou ações diferentes das contidas no script), como poderá o outro personagem seguir em frente com a sua representação? Ela começa a deixar de fazer sentido. Sempre que um ator manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a encenação, a representação inteira é afetada. Seus atos criam uma perturbação, um desequilíbrio ou uma descontinuidade na própria estrutura da representação. E, naquele ponto, a representação vai perdendo a força, o sentido. A representação se enfraquece. Esse procedimento traz à tona o ator que está por detrás do outro personagem. Ao romper assim com a representação, o ator criou uma descontinuidade na linha de representação do outro personagem – o outro não poderá mais seguir na linearidade de sua representação conforme prevista no roteiro. Uma lacuna foi criada. A resposta (palavra ou ato do outro personagem) que surgir a partir dessa lacuna virá, não do personagem, mas do ator. Assim, a interação ator-e-ator foi totalmente estabelecida.

É muito importante notar que, se o ator apenas mantivesse a intenção de romper com a representação, mas não manifestasse o seu intuito por meio de atos ou palavras (ou seja, ação), a representação simplesmente continuaria seguindo em frente, feliz. Não basta a mera intenção de romper com a representação, é necessário agir! No Núcleo é ensinado que não há percepção sem ação. A verdadeira percepção deverá sempre vir acompanhada de uma ação consciente. Estando na representação, para transcendermos a percepção da mente é imprescindível "perceber e agir"!

Retomando: Saiba que na representação Eu está aparecendo como tudo: a história, o cenário, os personagens. Tome a atitude de romper com a representação (aja!) e fique atento às respostas que virão da Consciência do Ser (através dos acontecimentos, dos outros personagens, o que for). Você pode aplicar esse princípio a tudo o que acontecer na sua vida. Por exemplo: você está dirigindo o seu automóvel; um outro carro passa e lhe dá uma fechada. Nesse instante, a mente condicionada do personagem sentirá vontade de fazer aquilo a que sempre esteve habituada: reagir. Se você reagir, vai ficar bravo, reclamar, xingar, etc. Ou você pode romper com a representação, sair da mente do personagem, e começar a ter uma interação com o Ser. Faça silêncio, tente entender porque na representação o Ser lhe deu uma fechada, e fique atento. Se você romper com a representação, a resposta virá pela lacuna. Então, você poderá constatar que, graças à fechada que você levou, você acabou chegando segundos ou minutos mais tarde ao local onde você estava indo, e naquele exato momento lá estava alguém que você desejava rever. Você passa a notar pequenos milagres acontecerem.

Outro exemplo: você está dirigindo o seu carro, quando um outro vem e acerta a sua traseira. Esse é o instante em que você deverá escolher entre "reagir aos personagens/representação" ou "interagir Comigo". Se preferir reagir à colisão, ficará triste, bravo, aborrecido e poderá até entrar numa briga com o outro personagem. Todavia, se escolher romper com a representação e interagir Comigo, ficando atento aos acontecimentos (respostas), logo você entenderá por que na representação o Ser acertou a traseira do seu carro. Algo bom deverá advir disso. Se nós apenas escolhermos romper a representação e permitirmos  nossas carruagens (vidas) serem conduzidas pela Consciência do Ser, a realidade da nossa representação é encaminhada para um rumo diferente daquele que estaria destinado a ocorrer caso escolhêssemos acionar a mente de nossos personagens e reagir à representação.

Para que você possa interagir com a Consciência do Ser, não é necessário que o outro personagem esteja consciente da sua realidade como ator. Basta que você esteja ciente de que Eu está aparecendo como. Um dos princípios do Núcleo diz que: "Eu apareço como. Às vezes nem eu mesmo percebo; mas se você perceber, já é o suficiente.". Deus está Se manifestando como os personagens. A cada momento, de inúmeras formas, a divindade está "aparecendo como" diante de nós. Às vezes o próprio personagem não percebe que está sendo instrumento de manifestação de Deus. Mas se apenas um de nós estiver consciente de que o Ser está "aparecendo como", e escolher romper com a representação e interagir com o Ser, isso será o suficiente para criar a brecha, através da qual ocorrerá a interação entre o personagem e o Ser.

Tudo o que foi aqui explanado abrange o significado do que vem a ser a ação dhármica. Ela é a ação que advém da percepção consciencial, na qual, despertos, os nossos personagens interagem com a Consciência do Ser.


18 – A oração de agradecimento é a verdadeira oração. O agradecimento não provém da mente do personagem, ele tem origem em Deus, na Consciência do Ser.  O Ser é sempre pleno de tudo, preenchido, completo. Em Deus, tudo está consumado, nada mais há para acontecer. Tudo o que poderia acontecer já aconteceu – daí porque o Ser desfruta de um eterno estado de plenitude. O Ser está derramando, transbordando, compartilhando toda a Sua plenitude com o infinito inteiro, com o qual é uno. E a gratidão absoluta nasce desse derramamento, desse transbordamento de todas as Suas qualidades divinas. Devido a isso, o estado de gratidão é o que mais nos sintoniza com Deus. Deus, a Consciência do Ser, está em unidade com todas as coisas, Ele não se percebe separado de nenhum objeto. Ele é o próprio objeto percebido. Se Ele deseja ser feliz, a felicidade está imediatamente lá, como Ele próprio. Se Ele deseja amar, a experiência do amor está imediatamente lá, como Ele próprio. O Ser transborda dessa plenitude de "tudo está feito". Nada há que reste a não ser um estado de gratidão absoluta. Quando o agradecimento é verdadeiro, absoluto, não é o personagem quem agradece, mas a própria Consciência do Ser agradecendo através do personagem. A gratidão é um estado consciencial.

A mente do personagem não é capaz de agradecer de forma absoluta, pois enxerga a separação, a carência, a ausência, a falta. A percepção da mente do personagem enxerga o "eu" separado do "objeto visado". Para ela, a felicidade existe separada do "eu", o amor existe separado do "eu", a sabedoria existe separada do "eu". O "eu" está presente, mas as outras coisas estão ausentes. É então que, em sua oração, o personagem pedirá/suplicará para que lhe seja concedido aquilo que lhe falta. A oração de súplica é própria da mente do personagem.

A gratidão verdadeira  é um estado consciencial. Mas até mesmo no mundo da representação (dimensão mental da realidade) a oração de agradecimento é mais eficaz que a oração de súplica. Por uma razão muito simples: se estamos em estado de agradecimento, criamos em torno de nós a atmosfera de que estamos satisfeitos, felizes, supridos, plenos. Essa atmosfera nada mais é que vibração, palavra, energia que juntamos em torno de nós e enviamos para o todo, o universo. Consequentemente, nosso estado positivo de gratidão atrai  pessoas, coisas e situações condizentes com nosso estado de felicidade, satisfação, plenitude. O universo da representação é regido pela lei mental de afinidade: semelhante atrai semelhante. O amor atrai mais amor, a alegria atrai mais alegria e, inversamente, tristeza atrai mais tristeza e o medo atrai ainda mais medo. O semelhante atrai ainda mais o seu semelhante. Agradecer é a melhor forma de fortalecer nossa conexão com o Divino, pois quanto maior for nossa gratidão, mais bênçãos de amor, alegria, paz, virtudes positivas e prosperidade ele nos enviará. A gratidão gerada a partir de nosso interior se manifesta-se e atrai no mundo exterior situações que nos farão sentir ainda mais gratos.

A gratidão é um estado da alma. Sentir-se grato é sentir-se feliz, pleno, alegre. Não há ser humano na vida que não tenha nada a agradecer. Só o fato de existir já é um grande motivo para ser grato à Vida, ao Universo, a Deus. São tantas as coisas que podemos agradecer: saúde, alimento, família, amigos, casa, trabalho, educação, inteligência, posses materiais e as imateriais. Reconhecer que tudo que temos nos foi dado por Deus é um excelente ponto de partida para exercitamos a nossa gratidão. E ela nos trará todos os seus frutos. Sempre que lembrar, sinta-se grato, mesmo que seja por algo aparentemente banal e simples. Sempre que puder, silencie sua mente e sinta a gratidão. Não deixe que o pessimismo, a reclamação, a amargura ou o desgosto poluam sua mente e seu espírito. Vigie sempre. Através da gratidão silenciosa você sintonizará com as forças milagrosas da vida que lhe trarão os mais diversos benefícios.

Por todos esses motivos, a gratidão é preferível à suplica. Na oração de súplica, ocorre o seguinte: quando estamos pedindo por "x", lá no fundo de nossas mentes (por detrás das cortinas) estamos reconhecendo simultaneamente que: "eu não tenho x". Esse reconhecimento (feito por nossa mente subconsciente) constitui afirmação, declaração, palavra para o universo. Por sua vez, o universo (que sempre responde "sim" às nossas palavras) confirmará a nossa oração dizendo: "Sim, você não tem. Assim seja.". Na superfície de nossas mentes podemos não estar afirmando nada, mas lá no fundo de nossas mentes (na região subconsciente, inconsciente) estamos declarando expressamente para o todo que não temos "x". Se, ao invés de suplicarmos, simplesmente agradecermos a Deus reconhecendo que Ele já atendeu nossa oração (ou seja, já temos "x"), as profundezas de nossa mente ficarão impregnadas de afirmações/declarações/palavra de que: "eu já tenho", e o universo nos confirmará dizendo: "Sim, você já tem. Assim seja.". Portanto, o agradecer está relacionado à unidade (Consciência do Ser), enquanto que a súplica importa em dualidade, separação.

Importante ressaltar que o agradecimento ao qual estamos nos referindo é o agradecimento relativo (mental), e não a verdadeira gratidão. A verdadeira gratidão é consciencial (absoluta), uma expressão da Consciência do Ser. Por fim, fiquemos com esta sabedoria expressada no livro sagrado da Bíblia: "Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus!" (1 Ts 5:18).





Esta série "Preleções Nucleares: a Unidade Essencial" foi apresentada a fim de que o leitor possa ter condições de compreender claramente (cristalinamente!) os futuros textos do Núcleo que serão postados neste blog. A fim de transmitir sua mensagem, o Núcleo utiliza termos (metodologia) bastante específicos, que poderiam soar talvez um pouco "estranho" ou "nebuloso" para aqueles que desde o início entram em contato com os textos/mensagens que só fazem sentido levando em consideração o seu contexto. É impossível transmitir a totalidade do que é ensinado no Núcleo em uma única série de textos. Mas nesta série muitas coisas (bastantes mesmo!) foram explicitadas, toda a essência do ensinamento está contida aqui. Atentem-se sempre para Aquele que está aparecendo como tudo, rompa com a representação (aja!) e passe a interagir com Ele (Comigo). Agradeço a Quem aparece como Núcleo. Agradeço a quem aparece como esta divina mensagem. Agradeço a Quem está aparecendo como você que está lendo. Agradeço a Quem aparece como aqueles que ainda virão. Percebo Eu se manifestando como todos. E a todos agradeço. Namastê!