sábado, julho 30, 2011

Religião vs. Espiritualidade




A religião não é apenas uma, são centenas.
A espiritualidade é apenas uma.
A religião é para os que ainda estão despertando.
A espiritualidade é para os que já estão despertos.
A espiritualidade é para todos. A religião é apenas um modo de desenvolvê-la, como vários outros modos que existem fora de religiões.
A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados. A religião pode ser uma guia para o encontro do mestre interno e a libertação da necessidade de quem diga quem sou, prá onde vou e como devo viver minha vida.
A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.
A espiritualidade nos coloca em contato conosco e nosso Deus interior,com plena atenção e consciência.
A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.
A espiritualidade é um estado de consciência que não precisa de regras, apenas é. Só é possível conhecer por meio da experiência de estar nesse estado.
A religião ameaça e amedronta.
A espiritualidade lhe dá Paz Interior.
A religião fala de pecado e de culpa.
A espiritualidade lhe diz: "aprenda com o erro".
A religião promete para depois da morte.
A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.
A religião é a fase da procura de Deus.
A espiritualidade é para os que já descobriram o nosso Deus Interior. Encontrar o Deus interno permite compreender e aceitar a espiritualidade que já existe em todos.
A religião reprime tudo, te faz ser bom por medo.
A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiramente bom!
A espiritualidade ilumina a consciência e transforma o ser.
A religião não é Deus.
A espiritualidade é Tudo, e portanto é Deus. A espiritualidade é Deus.
A religião cria.
A espiritualidade descobre.
A religião não indaga nem questiona.
A espiritualidade questiona tudo.
A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é Divina, sem regras.
A religião é causa de divisões.
A espiritualidade é causa de União.
A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade você tem que buscá-la.
A espiritualidade é experimentada por meio de práticas introspectivas, pois já existe em nós.
A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.
A espiritualidade é sagrada em todos os seres e tudo o que existe no universo.
A espiritualidade é amor e paz.
A religião faz viver no pensamento.
A espiritualidade faz Viver na Consciência.
A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com Ser.
A religião alimenta o ego.
A espiritualide nos faz Transcender.
A religião é adoração.
A espiritualidade é Meditação.
A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.
A religião vive no passado e no futuro.
A espiritualidade vive no presente.
A religião enclausura nossa memória.
A espiritualidade liberta nossa Consciência.
A religião crê na vida eterna.
A espiritualidade nos faz conscientes da vida eterna.

(Autor desconhecido)

quarta-feira, julho 27, 2011

"E vós, quem dizeis que eu sou?"

Eric Butterworth

Jesus uma vez perguntou a seus discípulos (Mt. 16:13-17): “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?” Eles responderam: “Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas”. Jesus disse-lhes: "E vós, quem dizeis que eu sou?”. Pode-se imaginar o silêncio constrangido dos discípulos confusos quanto ao seu significado e buscando dentro de si uma resposta. E foi Pedro quem corajosamente respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.” E Jesus disse-lhe: “Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas meu Pai que está nos céus.”

O ponto a ser destacado aqui é que não importa quem estamos avaliando, realmente não podemos saber sobre o homem por meio do nosso conhecimento da sua origem ou pela análise intelectual do seu caráter. A única avaliação correta de qualquer homem é em termos daquilo que ele pode ser, do seu potencial. Jesus está dizendo a Pedro: “Você não chegou a essa resposta através da racionalização da minha personalidade, da minha aparência física, ou por qualquer coisa através do sentido da observação. Teve uma revelação interior da divindade dentro de mim. Você viu o Cristo não pela visão, mas pelo esclarecimento.”

Vamos ser cuidadosos neste ponto, pois podemos perder o sentido do princípio da Divindade do Homem. Isto tem sido usado com frequência para provar que Jesus era o Cristo de Deus, que Ele era Deus que veio de “lá” para viver um tempo como homem. Observando novamente esta passagem, notaremos que é Pedro e não Jesus que está sendo louvado. Jesus comprovou as Suas capacidades divinas muitas vezes vendo o coração das pessoas e revelando as suas grandezas inatas. Porém, agora é Pedro quem tem um clarão de percepção espiritual e que vê além da pessoa para o verdadeiro - para o divino em Jesus. Pedro revela a sua própria divindade somente pelo fato de ver a divindade em Jesus.

Jesus fica feliz com a evidência de esclarecimento espiritual. E diz: “Eu digo-te que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minhaIgreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu tedarei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares sobra a terraserá ligado também nos céus; e tudo o que desatares sobre a terra será desatado também nos céus” (
Mt. 16:18,19).

A confusão estabelecida quanto a esta passagem foi a responsável pelo desenvolvimento da Igreja cristã. Inequivocamente, aceitamos que Jesus está dizendo: “Pedro, estou orgulhoso de ti e por isso erguerei a minha organização eclesiástica sobre ti, tu serás o líder.” Literalmente tem sido aceito que a Igreja de São Pedro, em Roma, foi construída sobre os ossos sepultados de Pedro.

O que Jesus realmente pensava? Primeiro, devemos lembrar que o nome do homem a quem chamamos Pedro era na verdade Simão. “Pedro” foi um apelido utilizado somente após este incidente. A primeira vez em que foi usado foi quando Jesus disse: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja.” Ele não estava dando um nome ao homem, mas louvando a qualidade apresentada pelo homem. A qualidade era petros, termo semelhante a “fé”, significando a firmeza semelhante à da rocha.

Jesus está elogiando Simão (Pedro) por ser firme e perceptivo. E diz que sobre essa percepção é que a Igreja será construída. Lemos na palavra “Igreja” tudo o que isto tem significado através dos séculos desde então. Porém naquela época não havia precedente. A palavra“Igreja” significava “escolhidos”. Sabendo que Jesus sempre falava dos pensamentos mais do que dos fatos, podemos ver que Ele estava se referindo a um aglomerado de idéias nas consciência espiritual. Paulo deve ter sentido este significado, pois disse: “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Cor.3:16).

A “Igreja” que Jesus fala em construir é a vida interior do homem. Ele diz que para construir esta vida interior devemos desenvolver a percepção para nos vermos e aos outros sob o contexto da Divindade do Homem. Na verdade, parece evidente que Jesus estava dando a Simão (Pedro) algo para o qual viver. Ele tinha o caráter semelhante a uma rocha. Era o mais impetuoso e instável de todos os discípulos. Provavelmente Jesus teve problemas com ele. Porém, com este clarão de insight, “Pedro” deu evidências de seu potencial interior. Jesus ficou feliz e orou para que ele construísse a sua consciência de fé e estabilidade. Passagens posteriores mostram que esta confiança surtiu algum efeito em Pedro, mas finalmente ele demonstrou tudo o que Jesus esperara dele e mais. Visto desta forma, isso traz esperanças paravocê e para mim.


Do livro “Descobrindo seu poder interior.”

Comentário:

Esse texto lembra estas passagens bíblicas, que dizem mais ou menos assim (transcrevo apenas o sentido das passagens):

1) "Os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem jamais sentiu o que Deus tem preparado para nós, desde a fundação dos tempos".

2) "O que é espiritual só pode ser discernido espiritualmente, de Espírito para Espírito."

3) "A mente humana é a inimizade contra Deus".

4) "Temos a Mente de Cristo".


Agora, analisando o texto postado,

Quando Jesus perguntou aos discípulos quem pensavam eles que ele (Jesus) era, quase todos estavam vendo-o segundo a mente humana ou carnal, que é a "inimizade contra Deus". Exceto Pedro, que disse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Pedro enxergou Jesus com outros olhos - olhos espirituais que revelam a visão espiritual. Jesus não foi discernido por Pedro de "mente para Espírito", mas de "Espírito para Espírito". Assim, o que permitiu a Pedro ver quem era Jesus? Foi a Mente de Cristo, que já estava nele presente "desde antes da fundação dos tempos". E a condição básica - o detalhe mais importante desta passagem que deve ser compreendido, e para o qual devemos atentar - é que Pedro teve de revelar sua própria divindade a fim de reconhecer a divindade em Jesus. Somente Deus em nós reconhece Deus no outro - o mesmo Deus em nós reconhece a Si mesmo no outro. Isso é apenas mais uma evidência que aponta para o fato de que "somos todos um só".

A Bíblia revela que "nós não recebemos o espírito do mundo que só vê as coisas do mundo, mas que foi-nos dada a Mente de Cristo para que pudéssemos dircernir tudo o que nos foi dado gratuitamente por Deus." E essa sagrada Escritura completa: "não recebemos a mente do mundo que só vê as coisas do mundo, mas temos a mente de Cristo." Nós já a temos agora mesmo, neste instante. De modo que não precisamos "desenvolvê-la" ou "despertá-la".

Enquanto os discípulos olhavam para Jesus com a "mente carnal", Jesus era o João Batista, o Jeremias, o Elias, ou algum dos profetas. Porque é assim que a mente humana vê, limitadamente, sempre com base "na carne e no sangue", ou seja, com base no mundo. Por isso é dito que a "mente carnal é a inimizade contra Deus". Por outro lado, a Mente de Cristo nos permite ver aquilo que foi "preparado para nós desde a fundação dos tempos", cujos "olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem jamais sentiu". Ao perceber que Pedro teve visão, devido a sua resposta diferenciada, Jesus disse-lhe: "Bem aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não lhe revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está no céus.".

Jesus disse: "Tende olhos, mas não vedes?"... "Quem me vê a mim, vê o Pai que me enviou". Mas a visão a que Jesus se refere exige a atuação da Mente de Cristo (que já é a nossa!), e não da mente humana do personagem (esta não é a nossa, mas a do personagem, apenas). A percepção que advém da Mente de Cristo é a pedra angular a que Jesus fez menção, quando disse a Simão Barjonas: "Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha igreja". Está claro, então, que a percepção iluminada a partir da qual Pedro respondeu a pergunta feita por Jesus é a própria base, o fundamento da mensagem de Cristo. Aos olhos da Mente de Cristo, a mente carnal (que é a inimizade contra Deus) não existe. Mas prefiro deixar o aprofundamento dessa questão para uma outra oportunidade.

O personagem, de si mesmo, nada pode fazer. Não pode perceber espiritualmente/consciencialmente por si mesmo. Quem percebe é o Pai, a Consciência do Ser nele. Por isso, a Bíblia ilustrativamente diz: "Ficai na cidade, até que do Alto sejais revestidos de poder". O homem precisa ser paciente e humilde; deve buscar, cumprir com a sua parte, e esperar (esse é o "ficai na cidade"). O homem não pode, por si mesmo, adquirir tal poder, assim ele o atinge/recebe não por esforços próprios, mas pela Graça (e isso é o "até que do Alto sejai revestidos de poder"). Esse "poder" é a percepção que advém da Consciência do Ser (que habita o Alto), e que a mente humana do personagem é impotente e incapaz de perceber. A revelação vem do Alto. Quem percebe é a Consciência do Ser em nós, o Ser que realmente somos. A percepção é de Ser para Ser. Jamais se comunica com a mente dos personagens, Porque o Ser é tudo o que há.


domingo, julho 24, 2011

O verdadeiro Lar




Bem-Amado,

O Ser é o seu verdadeiro Lar.
Corpo e mente assumiram uma jornada,
mas o verdadeiro Lar é o seu próprio Coração.
É infinito e, portanto, onde quer que você vá,
você está sempre em casa!

Om,

Mooji.

Expert Author Jason Campbell

sexta-feira, julho 22, 2011

Quem é você? - Eu Sou

Novos vídeos do Mooji, com legenda
Mooji


Pergunta: Mooji, você sempre lança a pergunta "Quem é você?" na nossa cara... Então, agora eu lhe pergunto: "Quem é você?"

Mooji: Eu sou o atemporal, o imutável, o Real.

P: De onde você veio?

M: De lugar nenhm.

P: Mas você está aqui!

M: Sim, sempre assim.

P: Por que você veio?

M: A pergunta "por que?" é irrelevante. Eu nunca vim, eu nunca irei; eu sou a existência além de qualquer razão ou causa; Eu Sou, além da mente e de seu mundo, assim como você.

P: Mas eu posso vê-lo, sentado aqui perante mim!

M: Sim, antes de "mim", eu sou. O que você vê não é o que eu sou.

P: Eu não entendo...

M: Você não pode entender a Verdade, você pode apenas conhecê-la, realizando que você é a própria Verdade. Não pense que a mente o ajudará. O papel dela é lhe confundir, é provocar dúvidas em você - um trabalho que ela faz muito bem. [Risadas]

A única coisa é que ela precisa da sua cooperação para enganá-lo - um trabalho que você faz muito bem [Risadas]

É um jogo, e é por isso que é chamado de leela - o jogo de Deus. É a sua própria Maya brincando com você.

Pensamentos vêm e vão; o Ser, não. Você testemunha os pensamentos. Você é a tela imutável na qual os pensamentos são percebidos, e você é quem os percebe também - essa é a charada da existência.

Enquanto você se identificar com a mente-ego, você não percebe o óbvio - a sua própria presença sem forma.

P: Como eu posso encontrar esta presença da qual você está falando?

M: Ela não pode ser "encontrada". Ela apenas é, e você já é isso. Pode você traçar uma linha entre você e o Ser? Encontre primeiro aquele que tenta encontrar alguma coisa, e então veja se ainda existe algo para encontrar.

P: Mas, na verdade, eu não sei o que é "presença sem forma"!

M: Claro que você não sabe! Ela também não pode ser "conhecida". Quem é que está buscando? O que é isso que quer saber?

P: Eu!

M: Certo, e o que é "eu"? Apresente-se.

P: Tudo isso: meu corpo, minha mente, meus pensamentos, desejos também, minha alma...

M: Quem ou o que diz isso? Quem vê isso? Antes que elas alcançassem sua boca, de onde é que essas palavras emergiram? Você me dá uma lista de coisas, você diz: "meu" corpo. Eu digo: corpo de quem? Ele lhe pertence, assim como o seu carro ou suas roupas? Você também diz: "minha mente", não diz? Significando que é sua, não você. Até mesmo "minha alma" - você diz: "minha alma está se deleitando" ou "minha alma estava pesada com mágoas..."

A alma está mudando; você permanece por trás, você testemunha o que acontece em sua alma. Então, quem é você?

P: Eu, eu mesmo...

M: Anterior aos pensamentos e às palavras, anterior ao seu surgimeto, aquilo que nem os precede nem os segue - o que é aquilo?

Não toque neste "eu". Isso é apenas uma palavra, apenas um conceito. Olhe. Não pense. Permaneça em silêncio. Observe.

P: Nada... Eu vejo absolutamente nada (nothing)!

M: "Nada" (No thing) está correto. "Nada" querendo dizer sem forma, além da forma, além do tempo. Você não é uma "coisa"; como poderia ser? Qualquer coisa, mental ou física, aparece, flutua ou se move, através da sua consciência. E nós somos a testemunha desta consciência, do seu conteúdo e atividade. Você pode confirmar isso?

P: Sim... sim... então eu sou o mesmo que você?

M: Sim. Apenas remova o pensamento "o mesmo que".

P: Eu sou você.

M: Sim. [Pausa] E que tal apagar o "você"? Você pode fazê-lo?

P: [Longo silêncio]

M: Quando você disse "eu sou você", a palavra "você" se refere a Mooji? Você se refere a este corpo sentado nesta cadeira? [Mooji sacode seu corpo como se fosse um boneco] Este corpo é Mooji? Quem é Mooji?

Este corpo não é diferente daquele corpo ou todos os outros corpos [apontando para as pessoas na sala]. Ele é feito dos elementos e é comida elementar. Os vermes ou o fogo estão esperando por ele. É isto que você é?

Muitos místicos dizem estas coisas: "Tudo é Um, Eu sou você, você é eu, sem diferença...". Mas se não é a sua experiência, são apenas palavras para você, palavras vazias, e isto pode ser sentido imediatamente. É melhor não dizer nada, ficar quieto.

Então, novamente, o que é você?

P: Eu sou.

M: Sim, muito bem. Agora solte o "eu sou".

[Longo silêncio]

P: Quem é que vai apagar/soltar o "eu sou"?

M: Você é que me diz!

[O questionador sorri]

P: Se eu não sou nada, então nada apaga coisa nenhuma, o apagar acontece.

M: De fato. Muito verdadeiro. Agora, nem se preocupe com "apagar" e "acontecer". Não pegue nenhuma arrogância. Não pegue nenhuma ideia. Não pegue absolutamente nada.


quarta-feira, julho 20, 2011

O Verdadeiro Guru


Nisargadatta Maharaj


Pergunta: Outro dia você disse que na raiz de sua realização estava a confiança em seu Guru. Ele lhe assegurou que você já era a Realidade Absoluta e nada mais havia a fazer. Você confiou nele e deixou por isso mesmo, sem tensão, sem esforçar-se. Minha pergunta agora é: sem a confiança no Guru, você teria se realizado? Afinal de contas, o que você é, você é, confie sua mente ou não. A dúvida obstruiria a ação das palavras do Guru tornando-as inoperantes?

Maharaj: Você o disse – elas se tornariam inoperantes – por um tempo.

P: E o que aconteceria para a energia, ou para o poder das palavras do Guru?

M: Permaneceria latente, não manifestada. Mas toda a pergunta está baseada em um mal-entendido. O mestre, o discípulo, o amor e a confiança entre ambos, tudo isto é um fato, não tantos fatos independentes. Cada um é parte do outro. Sem amor e confiança, não haveria nem Guru nem discípulo, nem relação entre eles. É como pressionar um interruptor para acender uma lâmpada elétrica. É porque a lâmpada, os fios, o interruptor, o transformador, as linhas de transmissão e a central de força formam um todo único que se obtém a luz. Se faltasse algum desses fatores, não haveria luz. Você não deve separar o inseparável. As palavras não criam fatos; elas os descrevem ou os distorcem. O fato sempre é não verbal.

P: Eu ainda não entendo; as palavras do Guru podem não se realizar ou, invariavelmente, serão provadas como verdadeiras?

M: As palavras de um homem realizado nunca fracassam em seus propósitos. Elas esperam pelas condições corretas, o que pode levar algum tempo, e isto é natural, visto que há uma estação para semear e uma estação para colher. Mas a palavra de um Guru é semente que não pode perecer. Certamente, o Guru deve ser um Guru real, alguém que esteja além do corpo e da mente, além da própria consciência, além do tempo e do espaço, além da dualidade e da unidade, além da compreensão e da descrição. As boas pessoas que leram muito e têm muito a dizer podem ensinar-lhe muitas coisas úteis, mas elas não são os Gurus reais cujas palavras invariavelmente se realizam. Elas também podem dizer-lhe que você é a própria realidade suprema, mas o que resulta disto?

P: Não obstante, se por alguma razão acontecer que neles confie e obedeça, serei eu o perdedor?

M: Se você for capaz de confiar e obedecer, logo encontrará o seu Guru verdadeiro, ou melhor, ele o encontrará.

P: Todo conhecedor do Ser se converte em um Guru, ou alguém pode ser um conhecedor da Realidade sem ser capaz de levar os outros a ela?

M: Se você sabe o que ensina, pode ensinar o que sabe. Aqui a capacidade de ver e a capacidade de ensinar são uma coisa só. Mas a Realidade Absoluta está além de ambas. Os Gurus auto-designados falam de maturidade e esforço, de méritos e realizações, de destino e graça; tudo isso são meras formações mentais, projeções de uma mente viciada. Em lugar de ajudar, obstruem.

P: Como posso decidir a quem seguir e de quem desconfiar?

M: Desconfie de todos até que esteja convencido. O verdadeiro Guru nunca o humilhará nem o afastará de você mesmo. Constantemente, ele o levará de volta ao fato de sua perfeição inerente e o encorajará a buscá-la dentro de si mesmo. Ele sabe que você não necessita de nada, nem mesmo dele, e nunca se cansa de lembrá-lo a você. Mas o Guru auto-designado está mais interessado nele mesmo que em seus discípulos.

P: Você disse que a realidade está além do conhecimento e do ensinamento do real. O conhecimento da realidade não é o próprio supremo, e o ensinamento, a prova de tê-lo alcançado?

M: O conhecimento do real, ou do eu, é um estado da mente. Ensinar outro é um movimento na dualidade. Eles dizem respeito à mente apenas. Sattva é igualmente um guna.

P: O que é real então?

M: Aquele que conhece a mente como não realizada e realizada, que conhece a ignorância e o conhecimento como estados mentais, é o real. Quando dão a você diamantes misturados com cascalho, você pode encontrar ou não os diamantes, mas o que importa é a visão. Onde estão o cinzento do cascalho e a beleza do diamante, sem o poder para ver? O conhecido é apenas uma forma e o conhecimento, apenas um nome. O conhecedor é somente um estado da mente. O real está além.

P: Certamente, o conhecimento objetivo e as ideias das coisas, e o autoconhecimento, não são um e a mesma coisa. Um necessita de um cérebro, o outro não.

M: Para o propósito de discussão, você pode arranjar palavras e dar-lhes significado, mas o fato que persiste é que todo conhecimento é uma forma de ignorância. O mais preciso mapa é ainda apenas papel. Todo conhecimento está na memória; ele é apenas reconhecimento, enquanto a realidade está além da dualidade de conhecedor e conhecido.

P: Então mediante o que se conhece a realidade?

M: Quão enganadora é a sua linguagem! Inconscientemente, você supõe que a realidade também é acessível através do conhecimento. E então você introduz um conhecedor da realidade além da realidade! Compreenda que a realidade não necessita ser conhecida para ser. A ignorância e o conhecimento estão na mente, não no real.

P: Se não existe o conhecimento do real, então como eu o alcanço?

M: Você não necessita estender a mão para o que já está com você. Seu próprio estender a mão o faz perdê-lo. Abandone a ideia de que não o encontrou e simplesmente deixe-o vir ao foco da percepção direta, aqui e agora, removendo tudo o que é da mente.

P: Quando tudo o que pode desaparecer desaparece, o que resta?

M: O vazio permanece, a Consciência permanece, a pura luz do ser consciente permanece. É como perguntar sobre o que fica em um quarto quando se retiram todos os móveis. Fica um quarto mais aproveitável. E, mesmo quando as paredes são derrubadas, o espaço permanece. Além do espaço e do tempo está o aqui e o agora da realidade.

P: A testemunha permanece?

M: Enquanto há consciência, sua testemunha também está ali. As duas aparecem e desaparecem juntas.

P: Se a testemunha também é transitória, por que se lhe dá tanta importância?

M: Simplesmente para quebrar o encanto do conhecido, a ilusão de que apenas o perceptível é real.

P: A percepção é primária, a testemunha é secundária.

M: Este é o cerne da questão. Enquanto você acredita que só o mundo exterior é real, você permanece seu escravo. Para libertar-se, sua atenção deve ser levada ao ‘Eu sou’, a testemunha. Certamente, o conhecedor e o conhecido são um, não dois, mas, para quebrar o encanto do conhecido, o conhecedor deve ser trazido à frente. Nenhum dos dois é primário, ambos são reflexos na memória da experiência inefável, a qual é sempre nova e sempre no agora, intraduzível, mais rápida que a mente.

P: Senhor, eu sou um humilde buscador, errando de Guru em Guru em busca da liberação. Minha mente está doente, ardendo de desejo, gelada de temor. Meus dias passam rapidamente com o vermelho da dor e com o cinza do tédio. Minha idade avança, minha saúde decai, meu futuro é escuro e pavoroso. Nesse ritmo, viverei na aflição e morrerei em desesperação. Há alguma esperança para mim? Ou cheguei tarde demais?

M: Não há nada errado em você, mas as idéias que tem sobre si mesmo são totalmente incorretas. Não é você quem deseja, teme ou sofre, mas a pessoa construída sobre o alicerce de seu corpo pelas circunstâncias e influências. Você não é aquela pessoa. Isto deve ser claramente estabelecido na mente e nunca perdido de vista. Normalmente, requer um prolongado sadhana, anos de austeridades e meditação.

P: Minha mente é débil e vacilante. Não tenho nem a força nem a tenacidade para fazer o sadhana. Meu caso é sem esperança.

M: Em certo modo, o seu é um caso muito esperançoso. Há uma alternativa ao sadhana, que é a confiança. Se você não pode ter o convencimento nascido de uma busca frutífera, então aproveite minha descoberta, a qual anseio compartilhar com você. Eu posso ver com a maior claridade que você nunca esteve, nem está, nem estará separado da realidade, que você é a plenitude da perfeição aqui e agora e que nada pode privá-lo de sua herança, do que você é. Você não é de forma alguma distinto de mim, apenas não sabe disto. Você não sabe o que você é e, portanto, imagina ser o que você não é. Daí os desejos e medos e o desespero devastador. E uma atividade insensata para escapar deles.

Confie em mim e viva mediante esta confiança. Eu não o induzirei a erro. Você é a Realidade Suprema além do mundo e de seu criador, além da consciência e de sua testemunha, além de todas as afirmações e negações. Recorde-a, pense-a, atue de acordo com ela. Abandone todo o sentido de separação, veja-se em tudo e atue em concordância. Com a ação, chegará a felicidade e, com a felicidade, a convicção. Apesar de tudo, você duvida de você mesmo porque está aflito. A felicidade natural, espontânea e duradoura, não pode ser imaginada. Ou ela existe ou não existe. Uma vez que comece a experienciar a paz, o amor e a felicidade, os quais não necessitam causas exteriores, todas as suas dúvidas se dissolverão. Somente compreenda bem o que lhe disse, e viva por isso.

P: Você está me dizendo que viva mediante a recordação?

M: Você está vivendo pela recordação de qualquer modo. Estou lhe pedindo meramente que substitua as velhas recordações pela recordação do que eu lhe disse. Do mesmo modo que agiu sobre suas velhas memórias, aja de acordo com o novo. Não tema. Durante algum tempo, é inevitável que haja conflito entre o velho e o novo, mas se você se puser resolutamente do lado do novo, a luta acabará logo e você compreenderá o estado sem esforço de ser o que é, de não ser enganado por desejos e temores nascidos da ilusão.

P: Muitos Gurus têm o costume de dar sinais de sua graça – seus panos de cabeça ou seus bastões, ou a tigela de mendigo, ou a veste, transmitindo ou confirmando assim a autorrealização de seus discípulos. Eu não vejo valor em tais práticas. O que se transmite não é a autorrealização, mas a autoimportância. De que serve que nos digam algo muito lisonjeiro, mas não verdadeiro? Por um lado você me previne contra os muitos autointitulados Gurus e, por outro, quer que confie em você. Por que você pretende ser uma exceção?

M: Não lhe peço que confie em mim. Confie em minhas palavras e recorde-as; eu quero sua felicidade, não a minha. Desconfie daqueles que colocam uma distância entre você e seu ser verdadeiro e se ofereçam como intermediários. Eu não faço nada parecido. Nem sequer faço alguma promessa. Meramente digo: se você confia em minhas palavras e as põe à prova, descobrirá por si mesmo quão absolutamente verdadeiras são. Se você pede uma prova antes de arriscar-se, só posso dizer-lhe: eu sou a prova. Eu confiei nas palavras de meu mestre e as mantive em minha mente, e achei que ele tinha razão, que eu era, sou e serei a Realidade Infinita, abarcando tudo, transcendendo tudo.

Como você disse, você não tem nem o tempo nem a energia para práticas prolongadas. Ofereço-lhe uma alternativa. Aceite minhas palavras em confiança e viva de novo, ou viva e morra na aflição.

P: Parece demasiado bom para ser verdade.

M: Não se deixe enganar pela simplicidade do conselho. Muito poucos são os que têm a valentia de confiar – os inocentes e os simples. O amanhecer da sabedoria é saber que você está prisioneiro de sua mente, que vive em um mundo imaginário de própria criação. A seriedade consiste em não querer nada dele, em estar pronto a abandoná-lo inteiramente. Só tal seriedade, nascida do verdadeiro desespero, fará você confiar em mim.

P: Não sofri o bastante?

M: O sofrimento o embotou, incapacitando-o de ver sua enormidade. Sua primeira tarefa é ver a dor em você e ao seu redor; a seguinte é desejar intensamente a liberação. A própria intensidade do desejo o guiará; não necessita outro guia.

P: O sofrimento me tornou insensível, indiferente inclusive ao próprio sofrimento.

M: Talvez não tenha sido a dor, mas o prazer que o fez insensível. Investigue.

P: Qualquer que seja a causa, eu estou embotado. Não tenho nem vontade nem energia.

M: Oh, não! Tem o suficiente para dar o primeiro passo. E cada passo gerará suficiente energia para o seguinte. A energia vem com a confiança e a confiança vem com a experiência.

P: É correto trocar de Guru?

M: Por que não trocar? Os Gurus são como marcos no caminho? É natural seguir adiante, de um a outro. Cada um indica a direção e a distância, enquanto o sadguru, o Guru eterno, é o próprio caminho. Uma vez que compreenda que o caminho é a meta e que você sempre está no caminho, não para alcançar uma meta, mas para apreciar sua beleza e sua sabedoria, então a vida deixa de ser uma tarefa e se torna natural e simples, um êxtase em si mesma.

P: Não há então necessidade de adoração, de orar, de praticar Ioga?

M: Um pouco de varredura, lavagem e banho diário não pode causar dano. A autoconsciência diz, a cada passo, o que é necessário fazer. Quando tudo está feito, a mente permanece quieta.

Agora você está em estado de vigília, uma pessoa com nome e forma, alegrias e penas. A pessoa não existia antes que você nascesse, nem existirá depois de sua morte. Em vez de lutar com a pessoa para convertê-la ao que não é, por que não vai além da vigília e deixa totalmente a vida pessoal? Não significa a extinção da pessoa; apenas significa vê-la na perspectiva correta.

P: Uma pergunta mais. Você disse que antes de nascer eu era um com o puro ser da realidade; se foi assim, quem decidiu que eu deveria nascer?

M: Na realidade você nunca nasceu, nem nunca morrerá. Mas agora imagina que você é, ou tem um corpo, e pergunta o que produziu este estado. Dentro dos limites da ilusão, a resposta é: o desejo nascido da recordação o atrai a um corpo e o faz pensar que você é um com ele. Mas isto é verdadeiro apenas do ponto de vista relativo. De fato, não há nenhum corpo, nem um mundo para contê-lo; há apenas uma condição mental, um estado como o do sonho, fácil de dissipar pelo questionamento da realidade.

P: Depois que você morrer, voltará outra vez? Se eu viver o bastante, tornarei a encontrá-lo novamente.

M: Para você o corpo é real, para mim não há nenhum. Eu, como você me vê, existo apenas em sua imaginação. Sem dúvida, você novamente me verá se necessitar de mim e quando me necessitar. Isto não me afeta, exatamente como o Sol não é afetado por amanheceres e ocasos. Porque ele não é afetado, certamente estará aí quando for necessário.

Você é propenso ao conhecimento, eu não. Não tenho esse sentido de insegurança que o faz ansiar o conhecimento. Eu sou curioso, como uma criança é curiosa. Mas não há nenhuma ansiedade que me faça buscar refúgio no conhecimento. Portanto, não estou preocupado se deverei renascer, ou quanto durará o mundo. Estas são perguntas que nascem do temor.

*Do livro: "Eu sou Aquilo - Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj"

sexta-feira, julho 15, 2011

Descanse no que é permanente


Papaji

Todo mundo, qualquer um, quer desfrutar dos objetos dos sentidos.

Isso envolve todos, todos os seres estão envolvidos em gozar dos sentidos. Talvez vendo,ouvindo, cheirando, tocando, saboreando, isto é tudo. Então como desapegar nossa mente destas coisas? E como isto pode trazer quietude?

Quando você souber, que todos estes objetos, não lhe trazem nenhum descanso ou paz. Então mais e mais, pense nisto, isto que eu tanto gosto, não me dá real satisfação. Mais e mais, eu quero repeti-la; novamente, eu quero repeti-la, mas ainda eu não consegui paz. Você está criando uma espécie de desgosto com isso, com esses objetos. Agora você quer desapegar-se dessas coisas, porque elas não lhe deram paz ou relaxamento.

Um santo Telegu, um santo-poeta muito famoso de 500 anos atrás. Seu nome era Tyagaraja. O pessoal que se interessa por música conhecem muito bem esse nome, Tyagaraja, o rei dos músicos cantores, o rei dos músicos. Ele também disse “sianta malaika sowkya malaidu”, isto é em Telegu. “Quando não há quietude, nem o reinado pode dar-lhe felicidade”. Isso é o que ele diz, quando nós sabemos que os objetos sensoriais não vão trazer-nos permanente felicidade, nós vamos lentamente retirando nossa mente desses objetos. Continuamente, até nos Vedas isto é declarado, “yatra yatra manayadhi, tatra tatra samadhyd”—Sempre que a mente entra em contato com objetos sensoriais, traga-a de volta, traga-a de volta para a paz, traga-a de volta para a quietude.

Acalme-a, onde quer que ela for, sempre que ela for, seja muito cuidadoso e traga-a de volta, porque você tem visto que estes objetos sensoriais não trazem paz para você.

Portanto, este é abhyasa, a prática, que Krishna falou a Arjuna. Desapegue, onde quer que a mente vá, separe isto dos respectivos objetos sensoriais, novamente e novamente.

Então, lado a lado, está o desapego e lado a lado o desejo pela sabedoria de Brahman,liberdade, desejo por liberdade, ambos devem estar correndo juntos. Desapegue-se dessas coisas, que não são permanentes, e descanse no que é permanente, sempre.

quarta-feira, julho 13, 2011

"A busca" - Krishnamurti


Jiddu Krishnamurti


Longamente peregrinei por este mundo de coisas efêmeras. Dele conheci os passageiros deleites. Como o belo arco-íris, que muito cedo em nada se desfaz. Assim, desde as origens do mundo, vi todas as coisas passarem – belas, festivas, deleitáveis.

Na busca do Eterno, perdi-me entre as coisas finitas; de todas provei, em busca da Verdade.

No perpassar das idades, conheci as delícias do mundo efêmero – a terna mãe com seus filhos, o arrogante e o livre, o mendigo que erra pela face da terra, o conforto dos ricos, a mulher tentadora, o belo e o feio, o autoritário, o poderoso, o homem importante, o benfeitor, o protetor, o oprimido e o opressor, o libertador e o tirano, o homem de muitas posses, o renunciante – o sannyasi, o homem prático e o sonhador, o arrogante sacerdote de suntuosas vestes e o humilde devoto, o poeta, o artista, o criador.

Prostrei-me diante de todos os altares do mundo, todas as religiões me conheceram, cerimônias inúmeras pratiquei, regalei-me das pompas do mundo. Combatente fui, de batalhas ganhas e perdidas, desprezei e fui desprezado, conheci as tristezas e agonias de inúmeras desditas.

Nadei em prazeres e na opulência. Nos secretos recantos de meu coração, exultei. Conheci nascimentos e mortes sem conta – todas essas efêmeras esferas percorri, entre êxtases passageiros, crendo-as eternas, no entanto jamais encontrei o eterno Reino da Felicidade.

Outrora eu Te buscava – Ó Verdade imperecível, ó Felicidade eterna, culminância de toda a Sabedoria! - no topo da montanha, no céu constelado, nas sombras do terno luar, nos templos do homem, nos livros dos doutos, na tenra folha primaveril, nas águas irrequietas, no rosto do homem, no regato cantarolante, na tristeza, na dor, na alegria e no êxtase – mas não Te encontrei.

Assim como o alpinista ascende aos altos picos, largando a cada passo seus múltiplos fardos, assim também me alcei às alturas, abandonando as coisas transitórias. Como o sannyasi de áureas vestes a buscar felicidade, com sua taça de mendicante, assim também renunciei. Como o jardineiro que mata as ervas daninhas de seu jardim, assim também aniquilei o ego. Como os ventos sou livre e sem entraves. Forte e diligente como o vento que penetra os ocultos recantos do vale, rebusquei os recessos de minha alma, purificando-me de todas as coisas passadas e presentes.

Qual o silêncio que, de súbito, se estende sobre o mundo rumoroso, assim também subitamente, Te encontrei no fundo do coração de todas as coisas e do meu próprio.

Sobre a trilha da montanha, sentado numa pedra, a meu lado e dentro de mim Te encontrei e, em Ti e em mim contidas, todas as coisas. Feliz o homem que encontra a Ti e a mim em todas as coisas!

Na luz do sol poente, a filtrar-se entre as delicadas rendas de uma árvore primaveril, eu Te contemplei. Nas lucilantes estrelas, Te contemplei. Na ave que passa célere e desaparece no negror da montanha, Te contemplei.

Tua glória despertou a glória que em mim dormia. Tendo encontrado, ó mundo, a Verdade, a Felicidade eterna, dela desejo dar.

Vem, meditemos juntos, juntos ponderemos e sejamos felizes, raciocinemos juntos e façamos surgir a Felicidade.

Tendo provado e conhecido a pleno as tristezas e dores, os êxtases e alegrias deste mundo efêmero, compreendo tua aflição. A glória de uma borboleta só dura um dia, assim também, ó mundo, são teus deleites e prazeres. Como as tristezas da criança, assim, ó mundo, são tuas tristezas e dores; teus prazeres, que levam a muitas tristezas, tuas desditas, que levam a maiores desditas, incessante luta e fúteis vitórias.

Como o delicado botão, após padecer longo inverno, desabrocha e de fragrâncias o ar embalsama, para murchar antes de cair o sol, assim são tuas lutas, teus grandes feitos e tua morte – uma roda de dor e de prazer, de nascimento e morte.

Assim como andei perdido entre as coisas transitórias, em busca daquela eterna Felicidade, assim também tu, ó mundo, estás perdido na esfera do efêmero!

Desperta e reúne tuas forças, olha em torno e medita! Aquela Felicidade imarcescível, Felicidade que é a única Verdade, que é o fim de toda busca, de toda indagação e dúvida, que liberta do nascimento e da morte, Felicidade que é a única lei, o único refúgio, a fonte de todas as coisas, que dá perene conforto, essa real Felicidade, que é Iluminação – em ti habita!

Tendo-me fortalecido, desejo dar desta Felicidade; tendo alcançado o desprendimento afetuoso, desejo dar desta Felicidade. Tendo alcançado a tranqüilidade apaixonada, desejo dar desta Felicidade. Tendo vencido a vida e a morte, desejo dar desta Felicidade.

Larga, ó mundo, tuas vaidades e segue-me, pois sei o caminho que leva ao alto da montanha – sei o caminho que leva ao fim desta agitação e tormento.

Só existe uma Verdade, uma Lei, um Refúgio, um Guia para aquela eterna Felicidade.

Desperta, ergue-te, medita e reúne tuas forças!

domingo, julho 10, 2011

A maha Yoga de Ramana Maharshi


Ramana Maharshi



Os trechos a seguir foram retirados do Capítulo XII do livro Maha Yoga, que já foi traduzido pelo Prof. Hermógenes e publicado no Brazil na década de 1950. Fizemos uma nova tradução do texto e há possibilidade de publicação neste ano (2011). Os trechos abaixo são provenientes da nova tradução. Em negrito são os subtítulos colocados pelo autor (K. Lakshmana Sarma) e entre aspas são os ensinamentos do Maharshi.



O CORAÇÃO. “Não há necessidade de saber onde o Coração está e o que Ele é. Ele desempenhará seu papel se você se empenhar na Busca do Ser.”

INTELECTO. “O intelecto não pode deixar de imaginar o Ser como tendo o tamanho e a forma do corpo.”

MENTE. “A mente é como a lua, e a luz de sua consciência provém do Ser, que, assim, se assemelha ao Sol. Portanto, quando o Ser começa a brilhar, a mente torna-se inútil, tal como a lua durante o dia.”

AUXÍLIO AOS OUTROS. “O Sábio auxilia o mundo simplesmente por ser o Ser Real. O melhor meio de servir ao mundo é alcançar o Estado sem ego.” Em outra ocasião disse: “Se você está ansioso por auxiliar o mundo, mas pensa que não poderá fazê-lo alcançando o Estado sem ego, então entregue a Deus todos os problemas do mundo, junto com os seus.”

VISÃO DA FORMA CÓSMICA DE DEUS TIDA POR ARJUNA. “Sri Krishna disse a Arjuna: ‘Não tenho forma e transcendo todos os mundos.’ Contudo, mostrou a Arjuna sua ‘forma cósmica’. Arjuna vê a si mesmo, os deuses e todos os mundos dentro dela. Krishna também disse: ‘Nem os deuses nem os homens podem Me ver’. E, apesar disso, Arjuna vê Sua forma. Krishna diz: ‘Eu sou o Tempo’. O Tempo tem forma? Novamente, se o universo fosse realmente Sua forma, deveria ser uno e imutável. Por que diz ele a Arjuna: ‘Veja em Mim tudo que você quiser ver’? A resposta é que a visão era mental – de acordo com os desejos do contemplador. Portanto, não deve ser interpretada literalmente. Não era uma visão de acordo com a Verdade de Deus. Chamam-na ‘visão divina’. Contudo, cada um a pinta de acordo com seus próprios pontos de vista. E também há um observador na visão! Se um hipnotizador lhe mostra algo, você diz que é truque, mas isso você diz que é divino! Por que essa diferença? Krishna deu a Arjuna o olho divino (divya chakshus) e não o Olho da Sabedoria (janana chaksus), o Olho que é Pura Consciência e que não tem visões. Nada que é visto é real.”

A AÇÃO DO YOGA E A RENÚNCIA DA AÇÃO. (Karma-Yoga e Karma-Sannyasa). Quando certa vez perguntado a respeito, o Maharshi não respondeu imediatamente, mas dirigiu-se à floresta da montanha, seguido pelo interlocutor, e tirou dois galhos de uma árvore. Talhou-os, transformando-os em bengalas, e deu uma ao interlocutor e a outra a alguém mais. Depois disse: “A confecção das bengalas é Karma-Yoga e a doação delas é Karma-Sannyasa”. O Sábio não as fez para si mesmo.

O CENTRO ESPIRITUAL não é geográfico. Inclui todos os homens. Tanto as forças destrutivas como construtivas pertencem a Ele.

CONCILIAÇÃO DAS DOUTRINAS DE SANKARA E RAMANUJA. Ramanuja diz que o mundo é real, e que Maya não existe. Shankara nos exorta a descobrir a Realidade que sustenta o mundo sempre mutável. O que Ramanuja chama de mutabilidade, Shankara classifica como ilusão [maya]. “A diferença é apenas verbal. Ambas levam ao mesmo objetivo.”

O SÁBIO MEDITA SOBRE DEUS? “Meditar é pensar, e pensar é relativo ao esquecer. Aquele que esquece Deus deve pensar em Deus. O Sábio nunca esquece Deus, assim como nós nunca esquecemos nós mesmos. Portanto, ele não medita sobre Deus. Mas, como ele nunca esquece Deus, pode-se dizer verdadeiramente que ele está sempre meditando em Deus.”

VISÕES DE DEUS. Alguém que não tenha estudado os ensinamentos do Sábio, nem as escrituras, formulou uma série de perguntas, uma das quais é a seguinte: “Você já viu Deus?” O Sábio respondeu, rindo suavemente: “Se alguém tivesse aparecido para mim dizendo: ‘Eu sou Siva’, ou ‘Sou Rama’ ou ‘Sou Krishna’, eu poderia saber que tinha visto tal pessoa. Mas ninguém apareceu para mim, dizendo quem era.” A resposta estava de acordo com a ignorância do inquiridor. Deus, que é o Eu Real, não tem forma, e não pode ser visto como um objeto. Em outra ocasião, quando perguntaram ao Sábio sobre “ver Deus em todas as coisas” – que é uma prática prescrita na sabedoria sagrada –, ele respondeu: “Ver objetos e conceber Deus neles são processos mentais. Mas isso não é ver Deus, porque Ele está dentro”. A expressão “ver Deus em todas as coisas” significa a compreensão de que Deus é a Realidade na qual a manifestação do mundo é sobreposta. Isso se chama pravilapa drishti – lembrando a Verdade que subjaz à variedade – e é recomendado pelo Sábio como meio de purificar e fortalecer a mente.

POR QUE AS ESCRITURAS NÃO NOS DIZEM O QUE É O SER? “Tudo que precisamos fazer para encontrarmos o Ser é remover os não eu, os revestimentos. Um homem em dúvida quanto ao que ele é dirige-se a alguém e lhe pergunta. Este lhe diz que ele não é uma árvore, nem uma vaca, e assim por diante, deixando evidente que ele não é outra coisa senão um homem. Se o sujeito não ficar satisfeito e perguntar: “Você não me disse o que sou”, a resposta será: “Eu não lhe disse que você não era um homem.” Se até mesmo assim ele não puder entender que é um homem, será inútil dizer-lhe. Dessa forma, [as escrituras] também nos dizem o que nós não somos, de modo que pela eliminação de tudo isso, encontraremos o Remanescente, o Eu Real.”

COMO EMPREENDER A BUSCA “QUEM SOU EU?” “A forma é subjetiva, não objetiva, de modo que não pode e nem precisa ser mostrada por outrem. Alguém precisa lhe mostrar o interior de sua própria casa? Se o buscador conservar sua mente imóvel, isso será suficiente.”

RESPOSTA À PERGUNTA “QUEM SOU EU?” “Uma resposta que surge na mente e através dela, não é resposta, em absoluto.” A resposta é o Estado sem ego.

O QUE É CONHECIMENTO DIRETO? “As pessoas supõem que não existe Consciência separada dos pensamentos da mente. Portanto, pensam que só a percepção dos sentidos é conhecimento direto. Mas os objetos dos sentidos não se manifestam por si sós. Logo, a percepção sensorial não é conhecimento direto. O Ser existe por si mesmo e, por isso, o conhecimento do Ser é direto. Mas se perguntarmos às pessoas ‘Por acaso o Ser não é visto diretamente sem o intermédio de qualquer agente?’ elas não entendem, porque o puro Eu não lhes aparece com uma forma.”

A VIDA ETERNA. “Esquecer o Ser é morte; lembrá-Lo é Vida. Você deseja a vida eterna. Por quê? Porque a vida presente (na relatividade) é insuportável. Por que é assim? Porque ela não é a sua Natureza real. Na verdade, você é o Espírito puro; mas você o identifica com um corpo, que é uma projeção da mente, um pensamento transformado em objeto. E a mente, por sua vez, originou-se do puro Espírito. A simples mudança de corpo não adianta, porque simplesmente há uma transferência do ego para o novo corpo. Além disso, o que é Vida? É Existência (como Consciência), e isso é Você mesmo. Isso é verdadeira vida, e Ela é eterna (além do tempo). A vida no corpo é vida condicionada. Mas você é Vida Incondicional. Você recuperará sua verdadeira natureza como Vida não condicionada quando a ideia ‘eu sou o corpo’ cessar.”

HÁ GRAUS DE REALIDADE? “Pode haver graus de experiência da Realidade – decorrentes do quanto nos libertamos de pensamentos – mas não há graus de Realidade.”

PODEMOS PERDER O SER? Disse alguém: “A Bíblia declara que a alma pode ser perdida”. O Sábio então observou: “O ego pode (e deve) ser perdido, mas o Ser nunca.” “O sofrimento é devido ao grande número de pensamentos discordantes que reinam na mente. Se todos os pensamentos forem substituídos por um único pensamento, não haverá infortúnios. Então o sentimento de ser o agente das ações e a consequente expectativa dos resultados dessas ações cessarão.”

A GÊNESE DO PRAZER. “Quando um pensamento ocupa toda a mente, ele exclui todos os outros pensamentos. Então, esse pensamento único também desaparece no Ser, e a Bem-Aventurança se manifesta como prazer. Mas essa manifestação está no anandamaya. A perfeita Bem-Aventurança só é alcançada quando todos os revestimentos são retirados.”

IDENTIDADE ENTRE DEUS E O SER. “Se Deus fosse diferente do Ser, então Ele não possuiria um Ser, o que é absurdo.”

O VERDADEIRO ESTADO. “Seu dever é simplesmente SER, e não ser isso ou ser aquilo. Quando o eu sai pela tangente, dizendo ‘eu sou isto’, é egoísmo, ignorância. Quando brilha como o puro ‘EU’ é o Ser.”


*retirado do site: www.advaita.com.br

sexta-feira, julho 08, 2011

Morte e reencarnação segundo Ramana Maharshi


Ramana Maharshi


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Trecho de ensinamentos extraídos do livro "Os Ensinamentos de Sri Ramana Maharshi em Suas Próprias Palavras". Os trechos descritos entre parênteses são os comentários do editor da obra, Arthur Osborne.
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(Em nenhum outro ponto o Bhagavan mostrou mais claramente que a teoria deve ser adaptada ao nível da compreensão do buscador do que quando ele respondia perguntas sobre a morte e renascimento. Para aqueles que eram capazes de compreender a teoria não-dualista em sua forma pura ele apenas explicava que esta pergunta não surge, pois como o ego não tem uma existência real agora, também não o terá após a morte.)

Discípulo.: As ações de uma pessoa nesta vida afetam os seus nascimentos futuros?

Bhagavan.: Você nasceu? Por que você se preocupa com nascimentos futuros? A verdade é que não existe nascimento e nem morte. Que aquele que nasceu pense sobre a morte e outros consolos para ela.

D.: A doutrina Hindu da reencarnação é correta?

B.: Não é possível dar uma resposta definitiva. No Bhagavad Gita, por exemplo, até a presente encarnação é negada.

D.: A nossa personalidade não é sem começo?

B.: Primeiro descubra se ela existe e depois faça a pergunta. Nammalwar diz: “Por ignorância tomei o ego pelo Eu Real, mas com o conhecimento correto [percebemos que] o ego não existe e você permanece como Eu Real.” Tanto os dualistas quanto os não-dualistas concordam que a Auto-Realização é necessária. Primeiro atinja-a e depois faça outras perguntas. Dualismo ou não-dualismo – isso não pode ser resolvido por meio de teorias apenas. Se o Eu Real for realizado, esta pergunta não surgirá.

Tudo o que nasce deve morrer; tudo o que é adquirido será perdido. Você nasceu? Não, você existe eternamente. O Eu Real nunca pode ser perdido.


(O Bhagavan, de fato, desencorajava a preocupação com esses temas metafísicos, já que eles apenas distraem a pessoa do esforço de realizar o Eu Real aqui e agora.)

D.: Dizem que depois da morte temos a escolha de desfrutar dos nossos méritos ou dos nossos deméritos, que depende apenas de nossa escolha. Isto é assim mesmo?

B.: Para que perguntar sobre o que acontece após a morte? Para que perguntar se você nasceu ou não, se você colhe os frutos de seu karma passado ou não? Você não terá essas perguntas daqui a pouco quando estiver dormindo. Por quê? Por acaso você agora é uma pessoa diferente do que era enquanto dormia? Não, você não é. Descubra porque essas perguntas não surgem quando você está dormindo.


(Ocasionalmente, entretanto, o Bhagavan aceitava um ponto de vista menos elevado para aqueles que não podiam ater-se à teoria não-dualista pura.)

B: No Bhagavad Gita Sri Krishna primeiro diz a Arjuna, no Capítulo II, que ninguém nunca nasceu e depois, no Capítulo IV, que “você e eu já passamos por inúmeras encarnações. Eu as conheço mas você não.” Qual dessas declarações é verdadeira? O ensinamento varia de acordo com a compreensão do ouvinte.

Quando Arjuna disse que não iria lutar contra e matar seus parentes e professores para conquistar o reinado, Sri Krishna disse: “Não é que estes, você ou eu, não éramos antes, não somos agora, nem seremos depois. Ninguém nasceu, ninguém morre e não será assim daqui para a frente.” Ele posteriormente desenvolveu este tema, dizendo que ele havia dado instruções ao Sol e, através dele, a Ikshvaku; e Arjuna indagou como isso seria possível já que Krishna havia nascido apenas há alguns anos atrás e eles tinham vivido em eras passadas. Então Krishna entendeu seu ponto de vista e disse: “Sim, você e eu já passamos por inúmeras encarnações. Eu as conheço mas você não.”

Essas declarações parecem contraditórias, mas cada uma é verdadeira de acordo com o ponto de vista do ouvinte. Cristo também disse “Antes de Abraão ser, eu sou.”

Assim como nos sonhos você acorda depois de várias experiências novas, também depois da morte um novo corpo é encontrado.

Assim como os rios perdem a sua individualidade quando deságuam no oceano – e mesmo assim as águas evaporam e descem como chuva de volta para o rio e depois para o oceano -, os indivíduos também perdem a sua individualidade quando vão dormir mas retornam novamente de acordo com as suas tendências inatas prévias. Similarmente, na morte o ser também não é perdido.

D.: Como isso?

B.: Veja como uma árvore cresce novamente depois de seus galhos serem cortados. Enquanto a fonte da vida não é destruída, ela continua crescendo. Da mesma forma, no momento da morte as tendências latentes retornam ao coração, mas não são destruídas. É assim que os seres renascem.

No entanto, de um ponto de vista mais elevado ele responderia: Em verdade não existe nem semente nem árvore – existe apenas Ser.


(Ocasionalmente ele explicava o processo mais detalhadamente, mas sempre com a ressalva de que na verdade só existe o Eu imutável.)

D.: Quanto tempo dura o intervalo entre a morte e o renascimento?

B.: Pode ser longo ou curto, mas o Homem Realizado não passa por isso; ele é absorvido diretamente pelo Ser Infinito, segundo a descrição do Brihad Aranyaka Upanishad. Alguns dizem que, após a morte, aqueles que tomam o caminho da luz não mais renascem, enquanto que aqueles que tomam o caminho da escuridão renascem depois de ter colhido os frutos do seu karma (destino auto-produzido) em seus corpos sutis.

Se os méritos e deméritos de um homem são iguais ele renasce imediatamente na Terra; se os seus méritos superam seus deméritos ele primeiro vai ao céu em seu corpo sutil, já se seus deméritos superam seus méritos ele vai primeiro ao inferno. Mas em ambos os casos ele renasce posteriormente na Terra. Tudo isso é descrito nas escrituras, mas na verdade não existe nem nascimento nem morte; cada um simplesmente permanece como realmente é. Apenas isso é a Verdade.


(Maharishi nunca aceitou que as diferentes formas de se expressar ou de formular as doutrinas entre as religiões representassem contradições substanciais, já que a Verdade para a qual elas apontam é Uma e Imutável.)

D.: É correta a visão Budista de que não existe uma entidade contínua que funcione como uma alma individual? Ela está de acordo com a doutrina Hindu de um ego que reencarna? A alma é uma entidade contínua que reencarna inúmeras vezes, como prega a doutrina Hindu, ou é um mero conglomerado de tendências mentais, como ensina a Budista?

B.: O Eu Real é contínuo e não é afetado por nada. O ego que reencarna pertence ao plano inferior, o do pensamento. Ele é transcendido pela Auto-Realização.

As reencarnações acontecem devido a um falso desdobramento do Ser, e são por isso negadas pelos Budistas. O estado humano é o resultado de uma junção do insensível e do sensível.


(Às vezes a questão não era a reencarnação em si, mas sim a dor da perda de um ente querido. Uma senhora que veio do norte da Índia perguntou ao Bhagavan se era possível conhecer o estado póstumo de um indivíduo.)

B.: Sim, é possível, mas para que tentar? Esses fatos são tão irreais quanto a pessoa que os vê.

S.: O nascimento de uma pessoa e sua vida e morte são reais para nós.

B.: Sim, como você erroneamente se identifica com o corpo você pensa o outro como sendo um corpo também. Mas nem você nem ele são um corpo.

S.: Mas a partir de meu próprio nível de entendimento eu vejo a mim mesma e ao meu filho como reais.

B.: O nascimento do pensamento “eu” é o nascimento da pessoa, e a sua morte é a morte da pessoa. Depois de surgir o pensamento “eu”, a errônea identificação com o corpo também surge. Se você se identifica com o corpo você erroneamente identifica os outros com seus corpos também. Assim como você pensa que o seu corpo nasceu, cresceu e vai morrer, você também pensa que o corpo do outro nasceu, cresceu e morreu. Você pensava sobre o seu filho antes dele nascer? O pensamento veio depois dele nascer, e continua após sua morte. Ele só é o seu filho na medida em que você pensa nele. Para onde ele foi? Para a fonte de onde ele surgiu. Enquanto você continuar existindo ele continua também. Mas se você deixar de se identificar com o corpo e realizar o Eu Real essa confusão desaparecerá. Você é eterna, e descubrirá que os outros também o são. Enquanto isso não for realizado haverá sempre a tristeza e o desgosto, fruto dos falsos valores que são produzidos pelo conhecimento errôneo e pela identificação errônea.

Na ocasião da morte do Rei George V dois devotos estavam discutindo o assunto no salão, e pareciam chateados. O Bhagavan disse: “O que importa para vocês quem morre ou o que é perdido? Morram vocês mesmos e se percam, tornando-se assim, com a extinção do ego, um com o Eu de todas as coisas.”


(E, finalmente, sobre a importância da morte. As religiões em geral dão importância ao estado mental em que a pessoa morre, e a seus últimos pensamentos antes da morte. Mas o Bhagavan alertava as pessoas que é preciso estar bem preparado antes, caso contrário tendências mentais indesejáveis podem surgir com força demais, não podendo ser controladas.)

D.: Se eu não puder me iluminar nesta vida, que eu possa pelo menos não esquecer da iluminação no meu leito de morte. Que eu possa ter um vislumbre da Realidade no meu último momento de vida, a fim de ter um bom estado no futuro!

B.: No Capítulo VIII do Bhagavad Gita é dito que o último pensamento de uma pessoa no momento da morte determina o seu próximo nascimento. Mas é necessário experimentar a Realidade agora, nesta vida, a fim de poder experimentá-la no momento da morte. Reflita se este momento é de qualquer maneira diferente do último momento na morte, e tente estar no estado desejado.




terça-feira, julho 05, 2011

Verdade Absoluta, Prática Absoluta


Dárcio Dezolt


Estudar a Verdade Absoluta sem a prática absoluta dos seus princípios seria o mesmo, por exemplo, que estudar na Matemática que duas vezes dois são quatro e continuar achando que outro resultado, que não o quatro, pudesse existir para ser o resultado dessa conta. Os erros poderão ser seguidamente sugeridos! Alguém até poderia vir e lhe dizer: “Duas vezes dois são oito!” Você se abalaria? Acreditaria? Ficaria desesperado para fazer com que o erro desaparecesse? Ou contemplaria serenamente a Verdade, discernindo que: “Esse oito é um erro; o quatro é verdade permanente!”?


DEUS É TUDO!

“Ao lado de MIM, Perfeição infinita absoluta, NADA EXISTE!”


Esta é a Verdade Absoluta! Qual é o seu papel, diante deste princípio? É permanecer na “prática absoluta”, ou seja, diante de quaisquer sugestões mentais discordantes da Verdade, ver em todas elas o “oito” sendo-lhe sugerido como possível resultado para a conta “duas vezes dois”. Com a mesma segurança com que você admitiria o “quatro”, você irá admitir que "ao lado de MIM, perfeição absoluta, NADA EXISTE!" A Verdade Absoluta requer “prática absoluta”. Portanto, grave bem o princípio a ser posto em prática, pois, por dominá-lo, você ficará imune às imagens hipnóticas puramente ilusórias que a suposta mente humana capta e lhe apresenta como fatos verídicos. Não são! DEUS É TUDO!

"Eu sei que tudo quanto Deus faz durará ETERNAMENTE; nada se lhe deve acrescentar e nada se lhe deve tirar. E isto faz Deus para que haja temor diante dele." (Eclesiastes 3:14)

domingo, julho 03, 2011

Passos no desenvolvimento da Consciência espiritual

Joel S. Goldsmith


Quando o estudante deste caminho se põe sob a orientação de um Instrutor, é-lhe ensinado que o primeiro e importante passo que deve dar, é o do RECONHECIMENTO CONSCIENTE do governo de Deus; é submeter-se, sincera e voluntariamente à orientação do Divino interno, como Sua Lei e Substância. Deve praticar diariamente a conscientização da Presença interna, recordando-se constantemente dela como inspiração e ajuda; como poder que supera qualquer problema ou desafio na vida exterior.

Com esta prática ele chegará à firme convicção do que disse o Mestre: “Eu venci o mundo”. Que desejou o Mestre significar com isto? Que havia alcançado um alto nível de consciência, onde não mais podia ser afetado pela “consciência da massa”, ou leis mentais e materiais. O comportamento dos governos, a segurança do mundo, o clima, as flutuações econômicas, os alimentos, as crenças reinantes, os eventos todos — nada disso já o podia afetar. Ele havia atingido tal alto nível de consciência que lá só podiam funcionar as leis espirituais.

Os primeiros passos para o alcance desse elevado estado de consciência são:

a) o reconhecimento da Presença interna;
b) o reconhecimento de que esse Espírito interno é o único poder, a única Lei e a única Realidade.


Desde manhã, através do dia, até à noite, somos bombardeados pelas crenças mundanas em poderes materiais, mentais e legais. Devemos estar alertas para não nos deixarmos afetar por elas. Cada um de nós deve conquistar algum grau de reconhecimento de que o único poder real é o espiritual: a Lei, a Vida espiritual, onipresente. As leis materiais e mentais não têm poder – a não ser o poder que lhes damos quando nelas acreditamos. Eis a Verdade que liberta o homem das restrições deste mundo. Este é o principio básico; a serena e firme convicção a que devemos chegar:


"o poder espiritual é a única realidade!"


Deste modo podemos começar a compreender, ainda que em pequena medida, o que disse o Mestre: “Levanta-te, toma o teu leito e anda!” “Estende a tua mão!” Jesus quis dizer: Qual poder poderia existir fora de Deus? Há outro poder que não seja Deus? O erro será um poder? Ou a doença? Ou o dinheiro? Será que existe realmente um poder fora de Deus e de seu amoroso governo?

Gradual e seguramente, também chegaremos àquele ponto em que diremos: “Levanta-te, toma o teu leito e anda!” – porque aquilo que reconhecíamos como poder ou limitação, fora de nós (em virtude de nossas crenças em dois poderes: o bem e o mal) – já não representam poder e nem limitação para nós. Enquanto aceitamos dois poderes, ficamos sujeitos a eles. Logo, o primeiro passo de realização que devemos fortalecer, é de que há somente uma Presença e um Poder internos, que governam nossa vida e circunstanciais. E esse poder é espiritual. Essa Lei é espiritual. Essa atividade é espiritual. Tudo o mais é desprovido de poder, de presença, de continuidade, de causa e de efeito – porque não tem lei que o sustente. A única Lei é Deus e Deus é amor!