quinta-feira, junho 16, 2011

O VERDADEIRO REVERENCIAR - Parte 2

Masaharu Taniguchi


O próprio sacerdote Kyoguen, que foi mestre de Oo-Baku e também do príncipe Sen-Soo (que posteriormente tornou-se imperador), no princípio buscava Buda no mundo exterior. Vamos falar um pouco desse sacerdote famoso que, segundo consta nos livros, alcançou o despertar espiritual no momento em que ouviu o som produzido por uma pedrinha ao bater-se num bambu.

Kyoguen foi discípulo do sacerdote Içan durante muito tempo. Porém, por mais que ouvisse os sermões do mestre e lesse livros, não conseguia apreender a Verdade. Conhecia bem todas as sutras e era capaz de citá-las fluentemente, mas não conseguia penetrar no âmago delas. Certo dia, o mestre Içan ordenou: "Diga como é Buda. Diga-o com suas próprias palavras, com as palavras que vêm de dentro de você, e não aquelas escritas nos livros ou transmitidas por outras pessoas". Kyoguen foi incapaz de responder, pois não sabia, afinal, como era Buda. Então, queimou todos os seus livros, desistiu de continuar como discípulo do mestre Içan e retirou-se para uma localidade distante, onde construiu uma cabana e passou a viver sem se preocupar em saber como é Buda. Certo dia, estava ele a varrer o quintal que ficava ao lado de um bambuzal, quando o movimento da vassoura atirou uma pedrinha em direção a um bambu. No momento em que ouviu o som da pedrinha chocar-se na haste do bambu, Kyoguen teve a súbita compreensão de que o bambu, a pedra, o céu, a terra e ele próprio eram "um só" em sua essência - isto é, compreendeu que havia união intrínseca entre o céu, a terra e todos os seres - e alcançou o despertar espiritual.

Contanto que apuremos os "ouvidos da mente", podemos apreender a Verdade em qualquer lugar. Em todo lugar existem "mestres" que transmitem a Verdade. Seja uma pedrinha à beira do caminho, o capim que cresce por aí ou o bambu que cresce no mato revelam-se como portadores da mensagem da Verdade, quando os vemos com os "olhos da mente" e os ouvimos com os "ouvidos da mente".

O mestre fundador da seita Konkô disse: "Ouve agora o soar do universo abrindo-se". Antes de mais nada, é preciso saber onde se encontra o universo. A maioria das pessoas pensa que o universo se encontra fora de seu mundo interior. E muitos são os que pensam que os seres humanos são como fundos ou vermes que proliferam na face da terra. Se lhes for dito para "ouvir soar do universo abrindo-se", talvez eles pensem que haja alguma porta na terra ou no céu e passem a procurá-la aqui e acolá.

Para compreender o significado dessas palavras, é preciso, em primeiro lugar, saber que o universo existe dentro de nós mesmos. É também um engano pensar que Buda existe fora de nós; Ele está dentro de nós mesmos, e quando conscientizamos isso, as graças búdicas surgem naturalmente. Em última análise, não é preciso rogar as graças búdicas, pois elas estão em nós mesmos. Empenhar-se na busca de graças búdicas, sem perceber que elas estão dentro de nós mesmos - esse é o estado de ilusão. Como sabia disso, o mestre Oo-Baku disse: "Não estou buscando, com apego, nem Buda, nem a Verdade, nem a salvação dos homens. Estou, pura e simplesmente, reverenciando Buda". O próprio fato de se ansiar pelas graças búdicas constitui um grande erro. A mente que anseia alcançar o despertar, que anseia chegar ao estado búdico, é a mente em estado de ilusão. Buda está presente dentro de cada um de nós. A Verdade está dentro de cada um de nós. E as graças búdicas existem, abundantes, em cada um de nós.

No entanto, muitos vivem a buscar algo, pensando que o que procuram existe no mundo exterior. Acredito que as pessoas aqui presentes não sejam assim. Mas parece que a maioria das pessoas que queriam ser discípulos do mestre Oo-Baku vivia buscando algo que pudesse vir de fora. Certa vez, o mestre Oo-baku reuniu seus discípulos e ralhou-os, dizendo: "Todos vocês não passam de bebedores de resíduos de sakê". Se uma pessoa não passa de um bebedor de resíduos de sakê, naturalmente ela não está à altura de beber o sakê de primeira qualidade. Portanto, o que o mestre quis dizer foi o seguinte: "Nenhum de vocês está procurando a Verdade pura. Todos vocês estão apenas pensando em receber as graças búdicas". Buscar apenas as graças búdicas é como buscar apenas os resíduos de sakê. A Seicho-no-ie ensina que, em última análise, as graças também são "projeções" da mente. Corrigindo-se a atitude mental, desaparecem as distorções manifestadas no plano fenomênico.

O sr. Nakabayashi, que há pouco fez a palestra inicial, sofria de uma doença que o impedia de mover os braços e de manter o corpo ereto, e não apresentava sinais de melhora enquanto vivia brigando com seu irmão, mas, quando houve a reconciliação, logo ficou curado. O fato de ele ter recuperado a capacidade de mover os braços e manter o corpo ereto foi uma graça búdica, mas, em última análise, essa foi a "projeção" da mente do próprio sr. Nakabayashi, que deixou de odiar o irmão. Em outras palavras, o aspecto manifestado no plano fenomênico mudou porque a mente do sr. Nakabayashi mudou.

A maioria das pessoas fica exultante com as graças alcançadas - que, afinal, são projeções da mente -, esquecendo-se de se rejubilar com o que deu origem a essa graça. Aí está o equívoco. O mais importante não é a cura em si, mas sim o que deu origem a ela. Portanto, se uma pessoa procura reconciliar-se com os pais, irmãos ou qualquer outra pessoa por achar que esse é o meio para conseguir a cura, ela não está procedendo corretamente.

Como já disse, as graças são "projeções" da mente. Buscar apenas a graças é como buscar sombras. O mestre Oo-Baku poderia ter dito, portanto, a seus discípulos praticantes do Zen: "Vocês não passam de perseguidores de sombras".

Quando se fala no Zen, algumas pessoas podem pensar que o Zen consiste em ficar-se horas e horas sentado, com a mente concentrada, na expectativa de compreender alguma Verdade, mas o Zen não é isso. Zen é a própria Vida que existe em toda a parte do Universo. Portanto, é o próprio Buda, na linguagem budista, e é o próprio Deus, na linguagem do cristianismo. Buda (ou Deus, para os que preferem essa designação) está presente em toda parte. O já citado Rinzai foi esbofeteado pelo mestre Oo-Baku porque, sem compreender essa Verdade, perguntou-lhe onde poderia encontrar Buda. Buda (ou Deus) é onipresente. Portanto, está presente também dentro de nós mesmos. Muitas pessoas pensam que o grande mestre que conduz o homem à iluminação está em algum lugar do mundo exterior. Mas, na verdade, esse mestre está dentro de cada um.

Algumas pessoas, tendo-se curado através de remédios, dizem que "os remédios curaram sua doença"; outras, tendo-se curado através dos ensinamentos da Seicho-no-ie, dizem que "a Seicho-no-ie curou sua doença". Ambas as afirmações são incorretas. Nem remédios nem a Seicho-no-ie curam doenças. Então, o que é que as cura? A vida. A Vida é que cura doenças. Experimentem ministrar remédios num corpo sem Vida. Eles não surtirão nenhum efeito, é claro. Mas se ministrarmos remédios num corpo em que ainda existe Vida, esse corpo inicia o processo de cura, estimulado pelos remédios. Um cadáver não reage, por mais que lhe ministremos remédios ou apliquemos injeções de cânfora, de iodo, etc. Mas um corpo vivo reage. A Vida em ação - esse é o processo de cura.

Mas muitas pessoas pensam, equivocadamente, que a Seicho-no-ie é que as curou, ou os remédios é que as curaram. Tais pessoas, se fossem discípulos do mestre Oo-Baku, certamente seriam esbofeteados por ele três vezes, como aconteceu com Rinzai.

Muitas pessoas conseguiram a cura de suas doenças depois que passaram a frequentar a Seicho-no-ie. Mas, estritamente falando, não é a Seicho-no-ie que as curou. Quem as curou foi a própria Vida delas. A função da Seicho-no-ie é fazer com que as pessoas conscientizem que tudo existe dentro de si mesmas. Exortamos, pois: "Não tentem apoiar-se naquilo que vocês pensam existir no mundo exterior. Ergam-se com a força de sua própria Vida!" Erguer-se com a força de sua própria Vida - é assim que se alcança a paz espiritual e a independência. Quando se ergue com a força de sua própria Vida, a pessoa passa a não temer coisa alguma.

Na Prajña-paramitá-sutra está escrito: "Afastando as ilusões, não mais sentireis temor". Ilusão é o equívoco de julgar realidade aquilo que não é existência real e de buscar alguma coisa ou alguém onde eles não existem. Por exemplo: buscar no mundo exterior as graças búdicas, sem conscientizar a nossa própria natureza búdica, ou pensar que no mundo exterior existem muitas coisas que nos fazem mal - tudo isso é ilusão. Quando destruímos por completo e eliminamos da mente as ilusões, passamos a não temer coisa alguma. É isso o que está escrito na citada sutra.

Falamos em abrir-se o universo dentro de nós, e na manifestação de nossa natureza búdica. Isso ocorre quando abrimos os olhos de nossa mente. O ser humano está envolto pela Luz desde o princípio, mas não a vê porque mantém cerrado os olhos de sua mente, por si mesmo. Precisamos abrir os olhos da mente. Então, o paraíso se manifestará aqui mesmo e todas as graças nos serão dadas. É inútil buscarmos algo, movidos pelo apego. O apego é uma espécie de bloqueio. No entanto, a maioria das pessoas pensam, com apego: "Quero que me seja concedida essa graça". Para os que perseguem as graças com apego, a Luz da Verdade não se manifesta, e eles não conseguem alcançar as graças. Há pessoas que dizem: "Fui a Seicho-no-ie, mas a minha doença não sarou". Se não conseguiram a cura, é porque tinham a mente apegada à ideia de curar-se pela Seicho-no-ie. O apego, em relação ao que quer que seja, tolhe a nós mesmos. É por isso que a Seicho-no-ie ensina que não devemos nos apegar a coisa alguma. Devemos nos tornar livres de apego. Aquele que vive sem nenhum apego, em total conformidade com o fluxo da Vida, já é um "iluminado". É a própria imagem de Buda, manifestada aqui e agora. Buda se revela em toda parte, e isso é uma grande bênção.

A Sra. Yassukawa e o sr. Sato, citados no começo, estavam na entrada do salão de conferências e reverenciavam cada pessoa que entrava ou saía. Eles estavam fazendo isso com espírito totalmente isento. Espírito isento é espírito sem nenhum apego. Aquelas duas pessoas não estavam reverenciando os outros por achar que isso lhes traria alguma vantagem ou faria com que suas famílias recebessem graças. Ambos estavam reverenciando os outros com espírito totalmente isento. Com esse reverenciar, revelam sua natureza búdica. E também os outros revelavam espontaneamente a sua natureza búdica, ao serem assim reverenciados.
Cont...

("A Verdade da Vida, vol. 12", pgs. 168-174)

2 comentários:

  1. Deus abençoe muito mais a sua vida, Gugu. Há 2 anos que sigo este blog e você sempre trazendo esses textos iluminados que não encontramos em nenhum outro lugar da web.
    Fico muito grato por ter a oportunidade de ler esses textos extraordinários.
    Peço a Deus que te der muita felicidade, muitos anos de vida e saúde.
    Fica com Deus. Muito obrigado.
    Jurandir.

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  2. Muito obrigado, Jurandir!

    Receber, de vez em quando, palavras como essas suas, é algo vivificante. Nos dá ânimo, alegria, motivação e gratidão.

    E que Deus lhe retribua todos esses votos. Da mesma forma como você fica grato por existir este site, este site também é grato por existir pessoas como você.

    Continue nos acompanhando... e preste bastante atenção na última parte deste texto "O Verdadeiro Reverenciar". A última parte é a mais importante. Em breve será postado um texto fazendo menção a ela, e é importante estar com a mensagem bem clara na mente

    Grande Abraço!

    Grande Abraço.

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