Masaharu Taniguchi
Taniguchi - Até logo, sra. Mizuta! Pode estar certa de que a partir de agora a senhora se restabelecerá rapidamente. (Volta-se novamente para a multidão que lota o salão e o quintal) Bem, agora vou falar a respeito da casa em Sumiyoshi, onde morávamos antes e que funcionava como sede da Seicho-no-ie. Um mês antes de nos mudarmos, a sra. Miya manifestou o desejo de alugar aquela casa; queria mudar-se para lá e abrir uma escola para noivas, sob a orientação da Seicho-no-ie. Acontece que o aluguel da casa de Sumiyoshi era mais caro do que o de sua residência. Então, os adeptos da Seicho-no-ie que moram nas adjacências de Sumiyoshi ofereceram-se para cobrir a diferença de aluguel, pois poderiam continuar realizando reuniões da Seicho-no-ie naquela casa. Naturalmente, a sra. Miya ficou contentíssima com essa oferta, e contou o caso a seu marido. Este, em vez de ficar contente, disse categoricamente: "Se precisamos contar com a ajuda de outros, é melhor não mudarmos".
Neste mundo existem pessoas de espírito dependente, que vivem sempre contando com o auxílio dos outros e não se empenham em empregar sua própria força, e outras que, ao contrário, consideram vergonhoso receber a ajuda dos outros. Tanto esses como aqueles demonstram ter perdido a naturalidade e a liberdade mental. Os primeiros, isto é, os que vivem contando com a ajuda dos outros, estão presos à idéia de que "o ser humano deve contar com a ajuda dos outros". E os que consideram vergonhoso receber ajuda dos outros estão presos à idéia de que "o ser humano não deve contar com a ajuda dos outros". Quando as pessoas ficam presas à idéia de "dever" ou "não dever", perdem a liberdade. O verdadeiro estado do ser humano é aquele em que ele não deve estar tolhido pela idéia de "dever" ou "não dever". A Seicho-no-ie faz com que as pessoas se libertem das amarras do "dever" ou "não dever".
Usando a terminologia budista, o ser humano torna-se Buda quando se liberta de todas as amarras. Tornar-se Buda não significa morrer, mas sim alcançar o estado em que se libertou de todas as amarras. Uma certa doutrina fala de "oito tipos de poeira da alma", citando os sentimentos de apego, desejo, rancor, entre outros. Também a seita Tenri ensina que as imperfeições do ser humano são meras "poeiras" que o cobrem. Assim, contanto que se retire essa poeira, surge a verdadeira natureza do ser humano, que é bela, clara e límpida como uma esfera de cristal. Se surge na alma de uma pessoa as "poeiras" como o desejo e o apego, é porque essa pessoa está presa à idéia de que o ser humano deve depender da ajuda e do apoio dos outros.
É o caso do marido da a sra. Miya. Ele ainda não havia conseguido libertar-se da prisão da idéia de que não se deve depender dos outros. Por isso, disse severamente à esposa: "Se precisamos contar com a ajuda dos outros, é melhor não mudarmos". Ampliando-se a mente, amplia-se o mundo; estreitando-se a mente, estreita-se o mundo. Se a mente do marido da sra. Miya não estivesse tolhida por aquela ideia estreita e aceitasse com gratidão a citada oferta, seu mundo se ampliaria. Isto é, aqueles adeptos residentes próximo a Sumiyoshi cobririam a diferença de aluguel com satisfação, e o casal Miya poderia mudar-se para uma casa bem mais ampla e ainda proporcionaria alegria a grande número de pessoas que ali se reuniria. Assim, não só ele, mas muita gente ficaria feliz. Isso seria ampliar o seu mundo. Como já disse, ampliando nossa mente, amplia-se também o nosso mundo, como reflexo dessa ampliação interior. Mas o marido da sra. Miya, embora fosse uma pessoa de caráter elevado, tinha excessivo orgulho e estava preso à ideia de que sua dignidade ficaria comprometida se recebesse auxílio dos outros para complementar o aluguel. Ele era também bastante autoritário para com a esposa, e um dia chegou a dizer-lhe: "Você não tem nada que ficar ouvindo o que o Taniguchi diz. O que uma esposa deve fazer é simplesmente obedecer ao marido". Bem, o fato é que o plano da a sra. Miya, de instalar a escola para noivas, foi por água abaixo. A sra. Miya, mesmo vivendo com o marido de gênio bastante difícil e a sogra de 85 anos, devota fanática da seita Shin, tem praticado o modo de viver da Seicho-no-ie com verdadeira sabedoria.
Mais ou menos na mesma época do episódio acima narrado, a sra. Miya abrigava em sua casa um jovem chamado Sato, que tinha aparecido na vizinhança, em busca de um emprego. No princípio, esse jovem era contra os ensinamentos da Seicho-no-ie, mas a sra. Miya orientou-o pacientemente. E quando, finalmente, ele passou a compreender e aceitar a filosofia da Seicho-no-ie, arranjou-lhe um emprego, na granja da propriedade de seu irmão, também adepto da Seicho-no-ie. Uma das tarefas diárias do jovem era entrar no galinheiro e recolher os ovos. Nessas ocasiões, frequentemente as galinhas bicavam con força as mãos dele. Após sofrer muitas bicadas, o jovem refletiu: "Se as galinhas vivem me bicando, deve ser porque eu não estou harmonizado com elas. Pois bem, de hoje em diante procurarei harmonizar-me verdadeiramente com elas". Assim pensou o jovem e, a partir desse dia, sempre que entrava no galinheiro para recolher os ovos, dizia às galinhas: "seja boazinha e me dê um ovo". Nunca mais recebeu bicadas.
Certo dia, ele foi incumbido de ir buscar lenha até uma serraria junto com outro empregado. A viagem de volta, com a carroça cheia de lenha, era bastante penosa. Os dois jovens tinham que puxar a carroça com bastante força. Quando começaram a subir uma ladeira, o jovem Sato mentalizou: "O ser humano é dotado de força infinita proveniente de Deus. As forças necessárias surgem, de algum modo". Logo apareceu uma pessoa que, sem nada dizer, começou a empurrar a carroça. O jovem agradeceu-lhe a ajuda e prosseguiu, pensando consigo mesmo: "Oh! que bênção! Essa é a a manifestação da força duplificada proveniente de Deus". Mais adiante, havia outra ladeira. Os dois jovens começaram a puxar a carroça com toda a força. Esse trecho do caminho havia sido consertado recentemente, e a terra ainda não estava suficientemente compactada. As rodas da carroça afundaram-se no chão macio, a carroça não se movia. Então, o jovem Sato começou a mentalizar novamente a força infinita proveniente de Deus. Logo surgiu um homem trazendo um cavalo pelas rédeas, e fez o animal puxar a carroça. Como podemos perceber, quando se confia na força infinita do Jissô (Deus interior), ela se manifesta, seja em forma de pessoa que se oferece para empurrar a carroça, seja em forma de cavalo que vem puxar a carroça.
Se digo que quando se confia na força infinita proveniente de Deus surge a força ilimitada, alguém poderá pensar que pode extrair força suficiente para puxar sozinho carroças com cargas de 400kg ou mais. Existem casos em que isso ocorre, mas geralmente não é assim. Se o leitor tiver consciência da unidade intrínseca de todos os seres, compreenderá bem a forma como se manifesta a força infinita proveniente de Deus. Cada um de nós, seres humanos, é um duto que se origina de um único manancial de Vida Infinita e Força Infinita. Quando não flui de um duto quantidade suficiente de água da Vida, pode-se juntar a ele tantos outros dutos quanto forem necessários. Deus é o todo, Ele rege todos os seres e todas as coisas. Assim sendo, Ele nos envia auxílios necessários nas medidas necessárias. Quando nossa força não é suficiente para executarmos algo, outros dutos vêm juntar-se a nós para aumentar a força.
Isto se aplica não só no tocante à força física - como é o caso de puxar a carroça -, como também no que se refere à força para realizar um empreendimento. Admito que há empreendimentos que podem ser realidados por um único homem, porém os grndes empreendimentos não podem ser realizados sem a união de muitos homens. É preciso reunir financiadores, planejadores, executores, etc. Quando eu sugeri a fundação de uma distribuidora dos livros da Seicho-no-ie, muitas pessoas ofereceram-se para me ajudar. Como eu era leigo em matéria de administração empresarial, muitas pessoas que entendiam do assunto vieram colaborar comigo, dando-me valiosos conselhos. Isto é um exemplo de que quando nos propormos a realizar algo, vêm juntar-se em torno de nós pessoas adequadas para serem coordenadores, conselheiros, executores, etc. Como já disse, quando se constata que a quantidade de água que flui de um duto é insuficiente, juntam-se a ele outros dutos.
Aqueles que não entendem a Verdade de que seu eu é um com os outros, tendem a possuir uma estranha ideia fixa de que é humilhante receber ajuda dos outros. Compreendendo a Verdade de que "eu e o outro somos um", libertamo-nos da estreita concha do individualismo e saímos para um mundo amplo. Descobrimos, então, a alegria de servir aos outros e também de receber a colaboração deles. Ficando dentro de nossa pequena concha, não podemos realizar grandes empreendimentos. Todo empreendimento de grande porte realiza-se com o esforço conjunto de grande número de pessoas. Foi o que aconteceu com o jovem Sato. Como ele estava com a mente sintonizada com a força infinita de Deus, surgiram ajudas necessárias sob a forma de uma pessoa que se ofereceu para empurrar a carroça, e de uma outra pessoa que trouxe o cavalo para puxar a carroça. Compreendendo esta Verdade, a pessoa deixará de teimar em recusar o auxílio dos outros. E então descortinará uma vida em harmonia com o infinito.
(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 12", pgs. 123-128)
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