terça-feira, março 29, 2011

A Vida por trás da "situação de vida"

Eckhart Tolle

Descobrindo a vida por baixo da situação de vida

Não vejo como ser livre agora. Estou extremamente infeliz com a minha vida neste momento. Isso é um fato, e eu estaria me iludindo se tentasse me convencer de que tudo está bem, quando não está. Para mim, o presente é triste e nada libertador. O que me faz prosseguir é a esperança de um futuro melhor.

Você pensa que a sua atenção está no momento presente quando, na verdade, está totalmente envolvida pelo tempo. Você não pode estar infeliz e completamente presente no Agora, ao mesmo tempo. Aquilo a que nos referimos como vida deveria ser chamado, mais precisamente, de “situação de vida”. É o tempo psicológico, passado e futuro. Certas coisas do passado não seguiram o caminho que queríamos. Ainda resistimos ao que aconteceu no passado e agora estamos resistindo ao que é. A esperança nos leva a prosseguir, mas a esperança nos mantém focalizados no futuro, e esse foco contínuo perpetua a negação do Agora e, portanto, a nossa infelicidade.

É verdade que a situação atual da minha vida é o resultado de coisas que aconteceram no passado, mas ainda assim é a minha situação atual e estar preso a ela é o que me faz infeliz.

Esqueça a situação da sua vida por um instante e preste atenção à sua vida.

Qual é a diferença?

A nossa situação de vida existe no tempo. Nossa vida é agora. Nossa situação de vida é coisa da mente. Nossa vida é real. Encontre o “portão estreito que conduz à vida”. Ele é chamado de Agora. Restrinja a sua vida a este exato momento. Sua situação de vida pode estar cheia de problemas – a maioria das situações de vida está –, mas verifique se você tem algum problema neste exato momento. Não amanhã ou dentro de dez minutos, mas já.

Você tem um problema agora? Quando estamos cheios de problemas, não há espaço para nada novo entrar, nenhum espaço para uma solução. Portanto, sempre que você puder, crie algum espaço de modo a encontrar a vida sob a sua situação de vida. Utilize os seus sentidos plenamente. Esteja onde você está. Olhe em volta. Apenas olhe, não interprete. Veja as luzes, as formas, as cores, as texturas. Esteja consciente da presença silenciosa de cada objeto. Esteja consciente do espaço que permite cada coisa existir. Ouça os sons, não os julgue. Ouça o silêncio por trás dos sons. Toque alguma coisa, qualquer coisa. Sinta e reconheça o Ser dentro dela. Observe o ritmo da sua respiração. Sinta o ar fluindo para dentro e para fora. Sinta a energia vital dentro do seu corpo. Permita que as coisas aconteçam, no interior e no exterior. Deixe que todas as coisas “sejam”. Mova-se profundamente para dentro do Agora. Você está deixando para trás o agonizante mundo da abstração mental e do tempo. Está se libertando da mente doentia que suga a sua energia vital, do mesmo modo que, lentamente, ela está envenenando e destruindo a Terra. Você está acordando do sonho do tempo e entrando no presente.


Todos os problemas são ilusões da mente

É como se um grande peso tivesse sido tirado dos meus ombros. Sinto-me leve... mas os problemas ainda estão lá me esperando, não estão? Ainda não foram resolvidos. Será que não os estou evitando apenas temporariamente?

Se você estivesse no paraíso, sua mente não demoraria a encontrar algum problema. Não se trata, basicamente, de solucionar seus problemas. Trata-se de perceber que não existem problemas. Apenas situações com que temos de lidar agora ou deixar de lado e aceitar como uma parte do “ser” neste momento, até que se transformem ou possam ser negociadas. Os problemas são criados pela mente e precisam de tempo para sobreviver. Eles não conseguem sobreviver na atualidade do agora. Focalize sua atenção no Agora e verifique quais são os seus problemas neste exato momento. Não estou obtendo uma resposta porque é impossível termos problemas quando toda a nossa atenção está inteira no Agora. Pode ser que haja uma ou outra situação que você precise resolver ou aceitar. Por que transformar isso em problema? Por que transformar tudo em problema? A vida já não é bastante desafiadora do jeito que é? Para que precisamos de problemas?

A mente, inconscientemente, adora problemas porque eles podem ser de vários tipos. Isso é normal e doentio. A palavra “problema” significa que estamos lidando mentalmente com uma situação, sem que exista um propósito real ou uma possibilidade de agir no momento, e também que estamos inconscientemente fazendo dele uma parte do nosso sentido de eu interior. Ficamos tão sobrecarregados pela nossa situação de vida que perdemos o sentido da vida, ou do Ser. Ou então vamos carregando na mente o peso insano de uma centena de coisas que iremos fazer ou poderemos ter de fazer no futuro, em vez de focalizarmos a atenção sobre uma coisa que podemos fazer agora.

Quando criamos um problema, criamos sofrimento. Por isso, é preciso tomar uma decisão simples: não importa o que aconteça, não vou criar mais sofrimento nem problemas para mim. É uma escolha simples, mas radical. Ninguém faz uma escolha dessas a menos que esteja verdadeiramente sufocado pelo sofrimento. E não se consegue levar esse tipo de decisão adiante a não ser acessando o poder do Agora. Se não criar mais sofrimento para si mesmo, você não criará também para os outros. Deixará, assim, de contaminar nosso lindo planeta, seu próprio espaço interior e a psique humana coletiva com a negatividade da criação de problemas.

Se você alguma vez esteve numa situação de emergência, de vida ou morte, saberá que isso não foi um problema. A mente não teve tempo para se distrair e transformar a situação em problema. Numa emergência de verdade, a mente pára. Ficamos absolutamente presentes no Agora, e algo infinitamente mais poderoso passa a dominar. Essa é a razão pela qual existem inúmeros relatos de pessoas comuns que, de uma hora para outra, tornaram-se capazes de façanhas incrivelmente corajosas. Numa situação de emergência, ou você sobrevive ou morre. Em qualquer dos casos, não é um problema.

Algumas pessoas ficam furiosas quando me ouvem dizer que os problemas são ilusões. É que estou ameaçando afastar delas a imagem que têm de si próprias. Elas investiram muito tempo num falso sentido de eu interior. Durante muitos anos, definiram inconscientemente suas identidades de acordo com os problemas que tiveram. Quem seriam sem eles? Uma grande porção do que as pessoas dizem, pensam ou fazem é, na verdade, motivada pelo medo, que está sempre ligado com o foco no futuro e com o estar fora de contato com o Agora. Se não existirem problemas no Agora, não existirá o medo. Caso apareça uma situação com a qual você precise lidar agora, a sua ação vai ser clara e objetiva, se conseguir perceber o momento presente. Tem muito mais chances de dar certo. Não será uma reação vinda do condicionamento da sua mente no passado, mas sim uma resposta intuitiva à situação. Em situações em que a mente teria reagido, você vai achar mais eficaz não fazer nada. Fique só centrado no Agora.


Um salto quântico na evolução da consciência

Tive breves lampejos desse estado de liberdade da mente e do tempo que você descreveu, mas o passado e o futuro são tão fortes que não consigo mantê-los afastados por muito tempo.

O modelo da consciência condicionada pelo tempo está profundamente enraizado na psique humana. Mas o que estamos fazendo aqui é parte de uma profunda mudança que está se formando na consciência coletiva do planeta e ainda mais: o despertar da consciência dissociada do sonho da matéria, da forma e da separação. O fim do tempo. Estamos rompendo com padrões mentais que dominaram a vida humana por eras. Padrões mentais que criaram um sofrimento inimaginável, em larga escala. Não estou empregando a palavra demônio. É mais útil chamar de inconsciência ou insanidade.

Essa ruptura com o antigo modelo de consciência, ou melhor, inconsciência, é algo que temos de fazer ou vai acontecer de qualquer maneira? Em outras palavras, essa mudança é inevitável?

É uma questão de perspectiva. O fazer e o acontecer são, na verdade, um processo único. Como somos únicos e formamos um todo com a consciência, não podemos separar os dois. Mas não há uma garantia absoluta de que os seres humanos vão conseguir. O processo não é inevitável nem automático. Nossa cooperação é uma parte essencial do processo. Independentemente de como você o veja, trata-se de um importante salto na evolução da consciência, assim como a nossa única chance de sobreviver como raça.


A alegria do ser

Para demonstrar como você se deixou dominar pelo tempo psicológico, experimente usar o critério de se perguntar se existe alegria, naturalidade e leveza no que você está fazendo. Se não existir, é porque o tempo está encobrindo o momento presente e a vida está sendo percebida como um encargo ou uma luta. A ausência de alegria, naturalidade ou leveza no que estamos fazendo não significa, necessariamente, que precisemos mudar o que estamos fazendo. Talvez baste mudarmos o como. “Como” é sempre mais importante do que “o que”. Verifique se você pode dar muito mais atenção ao fazer do que ao resultado desejado através do fazer. Dê a sua inteira atenção para o que quer que o momento apresente. Isso implica que você aceitou totalmente o que é, porque não se pode dar atenção completa a alguma coisa e, ao mesmo tempo, resistir a ela. Ao respeitarmos o momento presente, toda a luta e a infelicidade se dissolvem e a vida começa a fluir com alegria e naturalidade. Ao agirmos com a consciência do momento presente, tudo o que fizermos virá com um sentido de qualidade, cuidado e amor, mesmo a mais simples ação. Portanto, não se preocupe com o resultado da sua ação, basta dar atenção à ação em si. O resultado surgirá espontaneamente. Essa é uma valiosa prática espiritual.

No Bhagavad Gita, um dos mais antigos e mais belos ensinamentos espirituais que existem, o desapego ao resultado da ação é chamado Karma Yoga. É descrito como o caminho da “ação santificada”. Ao fim dessa luta compulsiva contra o Agora, a alegria do Ser passa a fluir em tudo o que fazemos. No momento em que a nossa atenção se volta para o Agora, percebemos uma presença, uma serenidade, uma paz. Não dependemos mais do futuro para obtermos plenitude e satisfação, não o olhamos mais como salvação. Conseqüentemente, não estamos mais presos aos resultados. Nem o fracasso nem o sucesso têm o poder de alterar o estado interior do Ser. Você acabou de encontrar a vida sob a situação de vida. Na ausência do tempo psicológico, o nosso sentido do eu interior provém do Ser, não do nosso passado pessoal. Assim, desaparece a necessidade psicológica de nos tornarmos uma outra pessoa diferente de quem já somos. No mundo, levando em conta a situação de vida, podemos nos tornar ricos, conhecidos, bem-sucedidos, livres disso ou daquilo, mas, na dimensão mais profunda do Ser, estamos completos e inteiros agora.

Nesse estado de plenitude, ainda teríamos capacidade ou vontade de alcançar os objetivos externos?

Claro que sim, mas sem as expectativas ilusórias de que uma coisa ou alguém no futuro irá nos salvar ou nos fazer felizes. No que diz respeito à situação de vida, podem existir coisas a ser alcançadas ou adquiridas. Vivemos no mundo da forma, dos lucros e perdas. Mas, em um nível mais profundo, já estamos completos, e quando percebemos isso, tudo o que fizermos será impulsionado por uma energia alegre e jovial.

Estando livre do tempo psicológico, não perseguimos mais os objetivos com uma determinação implacável, movida pelo medo, pela raiva, pelo descontentamento ou pela necessidade de nos tornarmos alguém. Nem permanecemos imóveis com medo de falhar. Quando o nosso sentido profundo do eu interior é derivado do Ser, quando nos livramos do “tornar-se” como uma necessidade psicológica, nem a nossa felicidade nem o nosso sentido do eu interior dependem do resultado e, assim, nos libertamos do medo. Não buscamos permanência onde ela não pode ser encontrada, ou seja, no mundo da forma, dos lucros e perdas, do nascimento e da morte. Nem esperamos que situações, condições, lugares ou pessoas nos tragam felicidade, só para depois nos causarem sofrimento, quando nossas expectativas não forem correspondidas. Tudo inspira respeito, mas nada importa. As formas nascem e morrem, ainda que estejamos conscientes de uma eternidade subjacente às formas. Sabemos que “nada de verdade pode ser ameaçado” . Quando este é o seu estado de Ser, como é possível não alcançar o sucesso? Você já o alcançou.


sábado, março 26, 2011

Excertos - Mooji


Mooji

- O Ser assume todas estas máscaras. O Ser esquece a si mesmo, e por isso parece descobrir o seu Ser. No entanto o Ser permanece puro todo o tempo.

- O ego atua num processo sutil de querer atingir a libertação final. Muitas vezes o ser humano quer estar livre enquanto ego, mas na verdade ele ele deve se livrar DO ego. Estar livre do ego é compreender sua irrealidade.

- Você já é Isto. Não precisa dar nenhum passo para ser Isto – o passo é um passo de compreensão.

- O mais elevado propósito de estar em um corpo humano é despertar para a Verdade que você é. Se for usado para outros propósitos, então o corpo é apenas o pijama do Ser: estamos dormindo nele.

- Esvazia-te completamente, para que Deus possa fazer uso de ti.

- Quando você não está aí, você é supremamente feliz. Quando você está vazio de barulho pessoal, você tem espaço para o mundo inteiro.

- Deixe passar o que pode passar; descubra aquilo que não pode passar.

- A mente é a "versão pirata" – não é o real.

- Você é humano e divino. Seus problemas humanos lhe ajudam a descobrir sua natureza divina.

- O que quer que você possa descrever não é aquilo que você é.

- Se você for rumo ao Um, conhecerá também a multiplicidade. Mas se você for rumo à multiplicidade, conhecerá apenas fragmentação. O cientista estuda o mundo; o Buda estuda a si mesmo.

- Qual é a sua posição quando mesmo o “eu”, que é o mais íntimo, é testemunhado? Não há resposta para esta pergunta – apenas puro Ver.

- Onde quer que a Consciência se manifeste, há condicionamento. Então, que chance temos? Todas as chances! Porque maya só pode lhe tocar se você se identificar com o corpo-mente.

- O Ser não precisa escapar da mente. A voz que está dizendo isso vem da própria mente. Não se identifique com isso.

- A natureza da ilusão é tal que, quando exposta, ela desaparece.

- Você já é livre, mas não está consciente de sua liberdade. Confie em minhas palavras quando eu digo que você já é livre; aja nelas como se você já soubesse que elas são verdadeiras.

- Grande energia foi posta para acreditar no falso, mas nenhuma energia é necessária para permanecer como a Verdade, porque ela brilha por si só.

- Tudo o que você precisa fazer é reconhecer sua verdadeira posição como a testemunha. Você precisa fazer isso apenas por um tempo, até que o feitiço seja quebrado. Mesmo depois disso as tendências mentais [vasanas] podem ainda surgir, mas daí sem nenhum poder, tal como a luz da lua em um dia de sol.

- Permaneça fixo no coração. A todo o momento, onde quer que a atenção vá, traga-a de volta para o Ser-Consciência. Gradualmente, ela permanecerá lá sem esforço. Esta é a única prática que se precisa fazer.

- “O que fazer?” é o mantra da mente. O silêncio é a resposta, mas a mente não compreende este conselho excelso.

- Apenas permaneça em silêncio dessa forma. Apenas fique quieto. Você não tem nada para “fazer”, nada para “entender”. Não toque na ideia que algo está faltando para você. Não toque em nenhuma ideia em absoluto!

- Deixe que cada pensamento venha e lhe toque, mas você não toque em nada. Assim, gradualmente, o barulho desaparecerá.

- Se você agarrar-se à intuição, à sensação “eu sou”, e não permitir que isto se conecte com nenhum outro conceito, se você apenas deixar que o “eu sou” incube em si mesmo – imediatamente, alegria e espaço prevalecerão. Espontaneamente existe a silenciosa e intuitiva convicção: “Eu sou o Ser atemporal, sem limites.” Isto não é um ensinamento, mas uma poderosa experiência interna – inexplicável.

- Você já é a paz que você está buscando. Fique em silêncio e saiba disso.

- Nós sentimos que estamos voltando para Casa; mas na verdade nós somos a Casa, e a mente está voltando. Essa é a experiência.

- Transcender o pensamento é transcender o mundo.

- Uma vez que é compreendido que a Consciência inclui tudo, e ainda assim está além de tudo, então a aceitação é completa. A aceitação não é pessoal – é um estado de ser. Um estado muito pacífico.

- O aspecto mais simples da autoinquirição é apenas manter-se no sentimento EU SOU, no sentimento de ser, existir. Deixe o sentimento EU SOU sem associações. Qualquer um pode fazer esse exercício – ele traz resultados imediatos.

- Atravessar essa ideia de “eu” é a chave mestra. Todas as dúvidas da mente e todos os mistérios do universo são esclarecidos com a compreensão do que é este “eu”.

- Apenas quando o sentimento de “eu” pessoal, limitado, funde-se com o Ser universal é que a verdadeira vida começa, e não antes.

- Tudo que é necessário você já possui em abundância.

- Mantenha sua atenção naquilo que é anterior à atenção, naquilo em que tanto a atenção como a falta de atenção é percebido, e que está além de ambos.

- Eu vim aqui compartilhar com vocês estas boas novas: Você é completo. Você é perfeição além do conceito de perfeição. Você é o princípio eterno – você já está aqui, imóvel, antes mesmo do conceito “eu sou” surgir. A partir do ponto de vista mais alto, você percebe tudo como sendo a sua brincadeira. Você é tudo que há.


quarta-feira, março 23, 2011

O seu estado natural

John Sherman

Ramana nos diz que a única diferença entre a experiência do jnani (termo com que se refere ao ser desperto) e a experiência do ajnani (nome que se dá àquele que ainda acredita estar preso à ignorância) é que o jnani não acredita em nada disso. Só isso! E, é claro, este negócio de acreditar ou não acreditar não pode ser fabricado, por mais que você tente acreditar no que lhe dizem que deveria acreditar, e não acreditar no que lhe dizem que não deveria acreditar. Esse "não acreditar" é o estado natural que está sempre presente quando a atenção repousa no ser; ele é simplesmente o seu estado natural.

Ramana também fala sobre o ego, a manifestação e o espetáculo de horror que fazem parte da vida espiritual, e se refere a eles como miragens. Uma miragem é diferente de uma alucinação ou uma ilusão. Na prática espiritual, pensamos que essas coisas são ilusões: o mundo é uma ilusão. E, portanto, com base em nossa experiência e entendimento limitados desses assuntos, concluímos que todas essas coisas desaparecerão, uma vez que a mente tenha despertado para si mesma, e que o despertar tenha se estabilizado.

Isso é bastante desconcertante. Tente imaginar um estado no qual o corpo se desloca, faz as coisas que faz, fala e se comunica, em meio a um branco absoluto, no qual a ilusão da existência desapareceu. Isto é desconcertante! E essa idéia causa um sofrimento considerável, por causa de nossas constantes tentativas de imitar, criar e fabricar um semelhante estado para poder atingí-lo.

Uma miragem é diferente e muito mais próxima da realidade. Mesmo quando você sabe que é uma miragem, ela não desaparece. O mundo não precisa desaparecer, mesmo quando visto com clareza, diretamente, inegavelmente pelo que é: simplesmente pensamento, apenas imaginação.

Tudo isso é para o seu prazer! O mundo não faz nada, não afeta nada. Nada está em jogo aqui. O pesar pode ser ainda maior, mais profundo e mais rico, na ausência de uma história a seu respeito, quando não se acredita que algo está em jogo. Mas ninguém é prejudicado por ele; ninguém se torna incapacitado por causa dele; não é preciso acabar com ele.

Tudo isso que aqui descrevo inadequadamente é o seu estado natural. É disso que Ramana fala: sahaja samadhi ou estado natural. Este é o seu estado natural de ser. E ele não passa a existir em algum ponto no tempo; ele simplesmente se revela quando sua atenção está voltada para o seu próprio ser, e não para o pesar, a confusão, para aquilo que você sabe, ou para a paz.

Quando a sua atenção está em você mesmo, este estado natural das coisas revela-se como algo que sempre esteve aqui. E percebemos que as estratégias utilizadas previamente para fugir a ele são mecânicas e muito pouco interessantes. Na verdade, elas perdem completamente o interesse. Elas são como os brinquedos de dar corda. Elas são tão pouco interessantes, que você nem se importa se elas desapareceram ou se vão desaparecer algum dia.


segunda-feira, março 21, 2011

Transcender a morte

OSHO


A vida se estende por um longo período – sententa, cem anos. A morte é intensa, porque ela não se estende; ela se concentra num único instante. A vida tem de se prolongar por setenta , cem anos; ela não pode ser tão intensa. A morte vem de uma vez só; vem inteira, não vem em partes. Ela será tão intensa que nada que você conhece a superará em intensidade. Mas, se ficar com medo, você perderá uma oportunidade de ouro, o portal dourado. Se durante toda sua vida você aceitar as coisas, quando a morte vier, com paciência e passividade, você a aceitará também e irá ao encontro dela sem fazer nenhum esforço para fugir. Se você conseguir aceitar a morte passivamente, em silêncio, sem esforço, ela desaparece.

Nos Upanishads conta-se uma história antiga de que eu sempre gostei muito. Um grande rei chamado Yataji fez cem anos. Já era o suficiente; ele já vivera demais. Tinha aproveitado tudo o que a vida lhe dera. Fora um dos maiores reis de seu tempo. Mas a história é belíssima...

A morte chegou e disse a Yataji, “Prepare-se. Chegou a sua hora e eu vim buscá-lo”. Diante da morte, Yataji que fora um grande guerreiro e vencera muitas guerras, começou a tremer e disse, “Mas é cedo demais!” A morte então disse, “Cedo demais? Você viveu cem anos! Até os seus filhos já estão velhos. O seu primogênito tem oitenta anos. O que mais você quer?”

Yataji tinha cem filhos, pois tivera cem esposas. Ele perguntou à morte, “Você pode me fazer um favor? Eu sei que você tem de levar alguém. Se eu conseguir convencer um dos meus filhos, você pode me deixar aqui por mais cem anos e levá-lo no meu lugar?” A morte respondeu, “Para mim não há problema algum se há alguém preparado para ir. Mas eu acho que não haverá... Se você não está preparado, você que é o pai, já viveu mais e aproveitou tudo o que tinha para aproveitar, por que o seu filho estaria preparado?”

Yataji chamou os seus cem filhos. Os mais velhos permaneceram calados. Fez-se um grande silêncio, ninguém dizia nada. Só um filho, o mais novo, com dezesseis anos apenas, levantou-se e disse, “Eu estou preparado”. Até a morte lamentou pelo menino e disse, “Talvez você seja inocente demais. Não vê que os seus noventa enove irmãos ficaram em absoluto silêncio? Um tem oitenta anos, o outro tem setenta e cinco, o outro tem setenta, o outro tem sessenta – eles já viveram, mas querem viver mais. E você ainda nem viveu. Até mesmo eu me entristeço por levar você. Pense melhor”.

O rapaz respondeu, “Não, só de ver a situação já tenho certeza. Não se entristeça nem lamente. Eu vou com absoluta consciência. Posso ver que, se meu pai não se satisfez em cem anos, que sentido faz permanecer aqui? Como eu posso me sentir satisfeito? Estou vendo os meus noventa e nove irmãos; ninguém está satisfeito. Então para que perder tempo? Pelo menos eu posso fazer esse favor a meu pai. Na sua idade avançada, deixe-o aproveitar mais cem anos. Mas para mim acabou. Diante dessa situação em que ninguém mais está satisfeito, uma coisa ficou bem clara para mim: mesmo que eu viva cem anos, também não ficarei satisfeito. Portanto, que diferença faz partir hoje ou daqui a noventa anos? Pode me levar”.

A morte levou o rapaz. Depois de cem anos ela voltou e Yataji teve a mesma atitude. Ele disse, “Esses cem anos passaram tão rápido! Todos os meus filhos morreram, mas eu tenho outros. Posso lhe dar um deles. Só tenha misericórdia de mim”.

E essa situação, conta a história, continuou durante mil anos. Dez vezes a morte veio e nove vezes ela levou um dos filhos, deixando que Yataji vivesse mais cem anos. Na décima vez, Yataji disse, “Embora eu esteja tão insatisfeito quanto estava quando você veio pela primeira vez, agora, embora de má vontade, relutante, eu irei, pois não posso continuar a lhe pedir favores. Já chega. Uma coisa ficou clara para mim: se mil anos não me trouxeram contentamento, outros mil anos também não trarão”.

Isso é apego. Você pode continuar vivendo, mas como a idéia da morte é chocante, você ficará apreensivo. Mas, se você não estiver apegado a nada, a morte pode vir neste exato momento e você a receberá de bom grado. Estará absolutamente preparado para partir. Diante de uma pessoa assim, a morte é derrotada. Ela só é derrotada por aqueles que estão prontos para morrer a qualquer momento, sem nenhuma relutância. São esses que se tornam imortais, que se tornam budas.

Essa liberdade é o objetivo de toda busca religiosa.
Libertar-se do apego é libertar-se da morte.
Libertar-se do apego é libertar-se da roda de nascimento e morte.
Libertar-se do apego torna você capaz de seguir para a luz universal e de se fundir com ela. Essa é a maior de todas as bênçãos, o êxtase absoluto, além do que nada mais existe. Você estará em casa.

(...) Aconteceu no último dia de vida de Gautama Buda sobre a terra. Um homem muito pobre convidou-o para fazer uma refeição em sua casa. Esta era a rotina: Buda abria a porta cedo pela manhã e quem o convidasse primeiro teria o convite aceito para aquele dia, e Buda ia para a casa dessa pessoa. Ele costumava fazer apenas uma refeição por dia.

Era praticamente impossível para uma pessoa pobre convidá-lo, e dessa vez fora apenas acidental. O rei estava vindo para convidá-lo, mas no caminho aconteceu um acidente e a carruagem em que ele estava se quebrou; então o rei se atrasou, chegando alguns minutos depois. E, nesse meio tempo, Buda aceitou o convite do homem pobre.

O rei disse: "Conheço esse homem. Ele tenta convidá-lo sempre que você vem para esta cidade". E Buda gostava muito de alguns lugares, e aquela cidade, Vaishali, era uma das que Buda mais gostava. Em todos os seus 42 anos como mestre, ele visitara Vaishali pelo menos quarenta vezes, praticamente uma vez por ano. E ele ficou em Vaishali por pelo menos doze estações de chuva, pois costumava interromper suas andanças por ser muito difícil caminhar nessa época do ano.

O rei disse: "Conheço esse homem, eu o vi muitas vezes. Ele estava sempre tentando... e ele nada tem a oferecer! Por favor, descarte a idéia de ir à casa dele".

Mas Buda replicou: "Isso é impossível, não posso rejeitar o convite, preciso ir". E ele foi, e essa ida se tornou fatal para o seu corpo, porque em Bihar, onde Buda caminhava... o nome "Bihar" veio das andanças de Buda; Bihar significa "o lugar onde um buda viaja". Essa é a área em que ele continuamente viajou por 42 anos, essa fronteira define todo o estado de Bihar. Buda foi, e as pessoas pobres de Bihar juntam cogumelos, os secam e os guardam para a estação das chuvas. Eles os usam como alimento, mas alguns cogumelos são venenosos. E esse homem preparou cogumelos para Buda, pois não tinha mais nada a oferecer, apenas arroz e cogumelos.

Buda olhou o que o homem lhe ofereceu... mas dizer não ao pobre homem iria magoá-lo, então ele comeu aqueles cogumelos. Eles estavam muitos amargos, mas se dissesse isso, iria magoar o pobre homem, então ele comeu tudo se dizer nada; depois, agradeceu ao homem e foi embora. Buda morreu intoxicado por aquela comida.

E quando lhe perguntaram no último momento: "Por que você aceitou? Você sabia, o rei o preveniu, outros discípulos o preveniram dizendo que ele era tão pobre que não poderia lhe oferecer uma comida saudável. E você é velho, tem 82 anos de idade e precisa de uma alimentação adequada. Mas você não escutou".

Buda disse: "Foi impossível... Sempre que a verdade é convidada, ela tem de aceitar o convite. Ele me convidou com tal paixão e amor como ninguém jamais me convidou, e valeu a pena arriscar a minha vida".

Essa história é bela e também verdadeira no que se refere à verdade suprema: tudo o que é necessário de nossa parte é um convite total, sem reter nem mesmo uma pequena parte do nosso ser. Se estivermos totalmente disponíveis, abertos e prontos para receber o hóspede, o hóspede vem. Nunca foi diferente.

Esta é a lei da existência: a verdade não pode ser conquistada, mas pode ser convidada. A pessoa precisa apenas ser uma anfitriã para o convidado supremo. E é isso que chamo de meditação; ela simplesmente o deixa vazio de todo o lixo, ela o esvazia completamente para que você fique espaçoso, receptivo, sensível, vulnerável e disponível. E todas essas qualidades fazem com que você convide de uma maneira apaixonada, um convite para o desconhecido, um convite para o inominável, um convite que tornará sua vida uma satisfação, sem o qual a vida é um exercício de completa futilidade. Mas não se pode fazer mais nada além disso; apenas um convite e esperar.

É a isso que eu chamo de prece: um convite e uma espera em profunda quietude e confiança de que irá acontecer. E acontece, sempre aconteceu! Ais dhammo sanantano, diz Buda, essa é a lei suprema da existência.

No dia em que Buda morreu, pela manhã ele reuniu todos os discípulos, todos os seus sanyasins, e lhes disse: "Chegou agora o meu último dia, o meu barco chegou e preciso partir. E essa foi uma bela jornada, uma bela união. Se vocês tiverem alguma pergunta a fazer, podem fazer, pois não estarei mais disponível fisicamente para vocês".

Um grande silêncio caiu sobre os discípulos, uma grande tristeza. E Buda riu e disse: "Não fiquem tristes, pois é isto que repetidamente lhes venho ensinando: tudo o que começa termina. Agora deixe que eu lhes ensine também por meio da minha morte. Como vim ensinanando a vocês por meio da minha vida, deixe-me também ensinar-lhes por meio da minha morte". Ninguém conseguiu reunir coragem para fazer uma pergunta. Por toda a sua vida eles fizeram milhares e milhares de perguntas, mas aquele não era o momento de perguntar nada; eles não estavam no estado de ânimo adequado, mas chorando e soluçando.

Então Buda disse: "Adeus. Se vocês não têm nenhuma pergunta, então eu partirei". Ele se sentou sob uma árvore com os olhos fechados e desapareceu do corpo. Na tradição budista, isso se chama "a primeira meditação", desaparecer do corpo. Isso significa desidentificar-se do corpo, saber total e absolutamente que "Não sou o corpo".

Fatalmente uma questão surgirá em sua mente: "Buda não sabia disso antes"? Ele sabia, mas uma pessoa como Buda precisa criar alguma estratégia para que apenas um pouco de si permaneça conectado ao corpo. Senão, ele teria morrido há muito tempo, há 42 anos, no dia em que sua iluminação aconteceu. A partir da compaixão, ele criou um desejo, o desejo de ajudar as pessoas. "Tudo o que vim a saber, preciso compartilhar". Se você deseja compartilhar, precisará usar a mente e o corpo. Essa pequena parte permeneceu ligada. Agora ele corta até mesmo essa pequena raiz no corpo e se desidentifica do corpo. Quando a primeira meditação está completa, o corpo é abandonado.

Então a segunda meditação: a mente é abandonada. Ele abandonou a mente há muito tempo, ela deixou de ser uma mestra, mas como serva ela ainda era usada. Agora ela nem mesmo é necessária como serva, e é completamente abandonada, totalmente abandonada.

Então a terceira meditação: ele abandonou o coração. Até o momento ele fora necessário, Buda vinha vivendo por meio do coração; não fosse assim, a compaixão não teria sido possível. Ele tinha sido o coração, e agora ele se desconecta do coração.

Quando essas três meditações estão completas, acontece a quarta. Ela deixa de ser uma pessoa, uma forma, uma onda, e desaparece no oceano. Ele se torna aquilo que ele sempre foi, aquilo que conheceu há 42 anos, mas que de alguma forma conseguiu adiar, a fim de ajudar as pessoas.

A morte é um grande experimento em meditação. E conta-se que muitos dos presente, apenas ao vê-lo se mover lentamente... Primeiro eles perceberam que o corpo não era mais o mesmo; algo tinha acontecido, a vivacidade tinha desaparecido do corpo. O corpo estava ali, mas como uma estátua. Os que eram mais perceptivos, mais meditativos imediatamente perceberam que agora a mente tinha sido abandonada e que não havia mente ali dentro. E os que eram ainda mais perceptivos puderam ver que o coração tinha acabado. E os que estavam realmente na beira do estado búdico, ao perceber Buda desaparecer, também desapareceram.

Muitos discípulos se iluminaram no dia em que Buda morreu, muitos, apenas ao percebê-lo morrer. Eles o tinham observado viver, tinham visto a vida dele, mas agora havia chegado o crescendo, o clímax. Eles o viram morrer uma bela morte, com muita graça, num estado profundamente meditativo... ao perceber isso, muitos despertaram.

sexta-feira, março 18, 2011

Encarando a morte - Gangaji

[Gangaji.jpg]
Gangaji


"Você está morrendo agora, neste momento. Tudo que você pensa que é está morrendo agora, neste exato momento. Você como um corpo individual, como o mundo; você, como experiência, está morrendo neste instante. Há muitas mortes todos os dias. Há a morte de cada momento e a morte que vem todas as noites, quando você adormece. Há morte quando um relacionamento termina ou quando um filho deixa o lar. Mas a morte de que quero falar é a morte física. Em nossa cultura, esta morte é geralmente a mais evitada, a mais negada. Ela nos apavora; temos tanto medo de não ser nada.

Bhavo morreu. Ele se retirou silenciosamente, enquanto dormia, tendo ao seu lado três amigos; eu estava indo à sua casa para vê-lo. Estar com ele, durante as semanas que antecederam a sua morte, e naquela manhã, com seu corpo morto, foi um grande presente. Não foi uma teoria sobre a morte; foi a realidade de estar em um quarto com a morte. A morte se aproximando claramente, e então a morte presente, levando consigo a energia vital. Foi estar com um corpo quando não se faz nada para embelezá-lo: quando ele está mortalmente pálido. Simplesmente o fato nu e cru da morte da forma. A disposição de estar presente com a morte nua revela a absoluta e inegável beleza e presença daquilo que está eternamente vivo. Bhavo se foi, o que conhecíamos da forma de Bhavo se foi; ele foi cremado e agora é apenas cinzas. Desapareceu. Todos nós teremos lembranças de Bhavo, lembranças de sua personalidade gentil, de suas irritações, do universo completo de Bhavo.

A presença que animava a forma de Bhavo é exatamente a mesma presença que anima a sua forma e anima todas as formas. Despertar para si mesmo como essa presença é a disposição de conhecer a morte em todas as formas, inclusive esta que você chama de sua.

Ele deixou uma dádiva enorme para aqueles de nós que se dispuseram a acompanhá-lo em seu sofrimento físico até o fim. Sua morte teve um grande valor, porque ele sabia que ela estava vindo. Ele não estava negando a morte. Isto não quer dizer que ele não estivava combatendo a sua enfermidade; ele lutou, fez tudo que ele e seus médicos consideravam possível. Não se trata de não combater a doença. Trata-se de saber que você está combatendo a doença, mas a morte virá quando vier. E ter a capacidade, como ele teve, de encarar o fim. Ele ouviu: "Perdemos a luta. A luta acabou", e na manhã seguinte estava morto.

Muitas pessoas iniciam a busca espiritual procurando alcançar realização, mas a verdadeira realização espiritual é alcançada por meio da perda consciente de tudo. O que significa perder tudo? Na morte, perdemos tudo: nossas famílias, nossos entes queridos, nossa história, nosso passado, nosso futuro. Na disposição de perder tudo conscientemente, revela-se a verdade de nosso próprio ser.

Felizmente, Bhavo não teve que esperar que a enfermidade tomasse conta do seu corpo para encarar esta perda. Assim, ele pôde morrer livre, morrer em paz; perdendo algo muito precioso, mas ganhando mais do que jamais se pode perder. Nós, que estivemos com ele naquele dia, com seu corpo morto e pálido, sentimos uma incognoscível, incompreensível alegria de ser. Bhavo, com sua morte, foi um presente para nós. A verdade é que ele foi um presente para nós antes disso, porque ele havia encarado a morte muito tempo antes da morte física chegar. Tanto sua vida como sua morte foram, em última instância, relativa e absolutamente o mesmo presente.

Todos vão morrer um dia; isso é garantido pelo nascimento. Contudo, neste momento, você tem a oportunidade de encarar a morte antes de seu corpo morrer, para reconhecer seu amor e apego à forma física, e deixar este apego morrer. A identificação equivocada com a forma física precisa morrer. E, nesta morte, você desperta para a verdade de quem você realmente é. Se você estiver disposto a parar um instante e morrer para esse apego, é bem provável que lhe sobrará algum tempo para descobrir "Como é a vida depois de eu ter encarado a morte?" Então você poderá passar o resto da sua vida compartilhando a sua descoberta conosco. Há tamanha fome, tamanha sede do néctar que brota deste reconhecimento.

Para morrer assim, primeiro é preciso descobrir o mecanismo de resistência. Por exemplo, qual é o pensamento que sustenta a crença de que "Não posso encarar a morte neste momento", ou "Está bem, mas e se..."? A resistência a encarar a morte surge do medo e do pensamento de que "Não vou mais existir". Compreendo esse medo. Muito já disseram e eu repito: "Você é a existência". Não estou pedindo que você acredite no que eu digo; estou encorajando você a realmente encarar o medo da não-existência, a mergulhar na incognoscível possibilidade de não existir. Normalmente negamos esta possibilidade porém, investigar realmente e perguntar: "Quem ou o quê não vai existir?" é auto-investigação.

Pode-se dizer que você é Consciência Radiante; que você é a Luz, a Verdade, Deus ou a Beleza. Entretanto, você precisa reconhecer a si mesmo por si mesmo.

Você é o corpo? Sei que o corpo está obviamente impregnado de você, portanto não estou dizendo que você está separado do corpo.

Você está disposto a morrer agora mesmo, a morrer para quem você foi; a morrer para quem você pensa que é e quem você pensa que será?

Agora, o que permanece?"


quarta-feira, março 16, 2011

Meditação pelos familiares (Goldsmith)


Joel S. Goldsmith


Reserve um período de cinco minutos, todos os dias, para meditar por um membro diferente de sua família. Comece pelo seu marido, sua esposa, um de seus filhos, ou um de seus pais; mas tome uma pessoa diferente a cada dia, por apenas cinco, seis ou sete minutos. Espere até que esteja completamente livre de outras responsabilidades, de modo que você possa ir para um cômodo sozinho, sem interrupções de telefone, rádio, tv, ou visitas.

Esteja essa pessoa sabendo disso ou não, você reconhece que esta Presença, o Espírito de Deus, já está dentro dela. Saiba que essa Essência está batendo à porta dessa pessoa para reconhecimento, para ser vista como seu verdadeiro Eu. Não preste atenção à sua humanidade: o grau com que ela demonstra bem ou mal, doença ou saúde, ignorância ou sabedoria. Nesse momento, ignore tudo isso, consciente de que você a está vendo em sua verdadeira identidade espiritual.

domingo, março 13, 2011

Medite sem idéias pessoais em mente


Dárcio Dezolt


Mesmo que você esteja repleto de ideias, sonhos, ou planos, medite sempre esvaziado disso tudo! As meditações não são para que você apresente seus projetos à Mente infinita, mas, sim, para que a Mente infinita possa ser claramente discernida como sendo a sua! Meditando dessa forma, tudo aquilo que não faz parte da sua vida harmoniosa será apagado da memória, ou o fará perder o anterior entusiasmo pela sua concretização, e sem quaisquer motivos aparentes!

Habitue-se com o melhor, e o melhor, está sempre em você se amoldar à vontade de Deus. O próprio Jesus assim orava: "Pai, que se faça a Tua vontade e não a minha". O sentido é que "a nossa vontade é a mesma vontade de Deus", que é a única! Mas este processo faz com que o ego ilusório fique reduzido a nada logo no início das meditações!

Não estou dizendo que ninguém deva ter seus projetos de vida; estou dizendo que, durante as meditações, a pessoa deve estar totalmente interessada em realmente permanecer consciente de sua unidade com Deus e receptiva para "intuir" a pura Vontade da Mente infinita! Se seus projetos tiverem de ser realizados neste mundo, eles assim se deslancharão com êxito e facilidade; entretanto, se eles, ou parte deles, passarem a encontrar "barreiras", não veja nisso problema algum! Entenda que você está permanentemente sob a ação de "ajustes divinos", e agradeça a Deus pelas intervenções! Poderá ocorrer também o aparecimento repentino de novidades ligadas aos projetos! Encare-as também como "ajustes divinos"; caso forem avaliadas e vistas como válidas ou úteis, deverão ser lncorporadas aos planos destemidamente, e certamente se mostrarão como fatores determinantes na realização dos seus ideais iniciais.

O importante, portanto, é estar sempre em comunhão com Deus e meditando sem ficar com a mente presa a planos humanamente definidos; desse modo, estará sob a tutela da Onisciência, e os resultados lhe serão sempre os melhores possíveis.


sexta-feira, março 11, 2011

O Espírito é ofensa para a mente


Joel S. Goldsmith

Muitos dos discípulos de Jesus que o tinham ouvido disseram: “Dura é esta linguagem; quem a pode ouvir?” (João 6:60 e 66).


A mente humana sempre se ofende com a Verdade, porque esta é contrária a tudo o que ela conhece. Imagine que insulto, para ela, dizermos que quando está quieta ou inativa podem realizar-se curas maravilhosas! Imagina que afronta para o homem que se orgulha de seus conhecimentos intelectuais, dizermos que todo o seu dinamismo mental não fará tanto por ele quanto o fará um só momento de silêncio!

A mente humana se ofende quando tentamos dispensar seu auxílio.

“O espírito é que vivifica; a carne nada vale. As palavras que acabo de dizer-vos são espírito e são vida. Mas há entre vós alguns que não crêem” (João 6:63, 64).
Em que não acreditavam alguns deles? Que o Espírito vivificasse, e não a carne; isto é, que o silêncio e a paz fizeram realmente o trabalho, não a ginástica mental, não o que se aprende em livros ou por meio do intelecto. Nós, hoje, como outrora os discípulos de Jesus, também não estamos conseguindo muito, não estamos fazendo grande progresso. Como no tempo de Jesus, a mente humana se ofende, fica irritada com a idéia de que possa existir um Espírito que trabalha sem palavras ou pensamentos, ou com a idéia de que existe no homem um Espírito que pode levantá-lo, orientá-lo e acalmar-lhe as tempestades da vida, sem que para isto necessite pensar, falar ou recorrer a tratamento.

“O mundo não pode odiar a vós. A mim, porém odeia, porque eu dou testemunho de que as suas obras são más” (João 7:7).
O mundo jamais odiará quem usar as armas ou utilize os métodos de trabalho que ele considera válidos. O mundo odeia somente aqueles que dizem que tudo o que ele tanto preza é desnecessário, visto existir um poder mais alto: o poder do Espírito. Daí a perseguição, embora não seja inevitável. Atualmente estamos aprendendo a deixar que o Cristo impessoal absorva toda a perseguição que nos movam, ao invés de nos permitirmos tomá-la sobre nós. Aceitamos a perseguição, ou tomamo-la sobre nós, quando cremos que a mensagem que apresentamos seja de nossa propriedade particular. Cada um de nós deveria, em vez de aceitar essa perseguição, conscientizar-se do seguinte: “Esta verdade não é minha, mas de Cristo. Se alguém odiar-me por isto, que seu ódio recaia sobre ela (a Verdade), e não sobre mim, porque eu estou apenas mostrando o que o Mestre ensinou sobre a presença de Cristo e o poder d’Aquilo que constitui nosso verdadeiro ser, o Consolador no íntimo de cada um. Se o mundo quiser odiar esta verdade, que a odeie”. Este é o segredo do Mestre, o segredo da “paz que excede todo o entendimento (Filipenses 4:7), o segredo da paz que é poder.


terça-feira, março 08, 2011

Aplicando os princípios espirituais nos negócios


Joel S. Goldsmith


A apreensão ou tensão causada pelas atividades comerciais pode ser tratada mediante os princípios da cura espiritual, qualquer que seja a situação causadora. Tais princípios podem reduzir-se ao reconhecimento de que Deus aparece como ser individual – reconhecimento este que despersonifica e anula qualquer condição desarmoniosa, limitada ou limitante, e implica na compreensão espiritual de que existe um só poder – o que faz com que nossas atividades passem do ritmo da vida humana para o ritmo da vida de Deus.

Por exemplo, um comerciante que se dirige ao seu negócio, usualmente tem que fazer face a muitos problemas diferentes durante o dia: sempre há decisões a tomar e compromissos a cumprir, sempre há que tratar com os colegas e o público, que constantemente lhe fazem pedidos.

Talvez um de seus primeiros deveres seja o de cuidar da correspondência, o que lhe poderá tomar muito tempo ou ser um incômodo. Se, entretanto, antes de sair de casa, ou depois de chegar ao escritório, tomar uns poucos minutos para comungar com o seu Ser interior e encontrar seu centro de paz, então, ao abrir a correspondência, será como se houvesse Algo dentro de si lendo-a e dando-lhe respostas a qualquer consulta, ou a solução para qualquer problema.

Quando compreendemos que Deus é também a atividade do negócio, todo o senso de apreensão é aliviado, porque então estaremos permitindo a esse Algo invisível operar e realizar tudo quanto for necessário. Jesus o chamava de “o Pai interior”, que realizava as obras. E se Deus, o Pai interior, é quem faz o trabalho, como poderemos ficar apreensivos com o nosso negócio? Se nos sentimos sobrecarregados e apreensivos, admitamos ou não, isto somente indica que estamos tentando assumir o que é da responsabilidade de Deus. “O governo está sobre os Seus ombros”; mas, se não o reconhecermos e não confiarmos nisso, então estaremos assumindo uma responsabilidade que não nos cabe.

Se assumíssemos em nosso negócio a atitude interna de um expectador, observando o desdobramento da atividade do Infinito Invisível, logo constataríamos o desenvolvimento de tudo quanto fosse necessário à sua complementação: como capital - se dele carecêssemos -, como empregados, como fregueses, e, finalmente, como disponibilidade bancária para aquisição de mercadorias.

Em outras palavras, essa atividade seria completa, porque o preenchimento/abundância é próprio da natureza de Deus. Deus não cria um sistema telefônico sem que haja quem o utilize; Deus não cria automóveis sem criar o combustível com que se possa fazê-lo rodar. Deus não cria nenhuma atividade em nossa consciência, nem se torna responsável por nenhuma delas, sem a completar. Deus, a Consciência infinita, o Infinito Invisível, plenifica a Si mesmo manifestando-Se como atividade individual.


sábado, março 05, 2011

Contemplação e Atividade


Marie S. Watts


A nossa percepção de ser a Consciência Universal indivisível é revelada e evidenciada em nossa vida prática, nos nossos afazeres diários. Verifiquemos de que forma isso ocorre.

Suponha, por exemplo, que você esteja desempregado. Pode inclusive parecer que não haja qualquer emprego em vista. Você talvez sinta estar treinado e qualificado para determinado tipo de trabalho ou profissão, julgando-se incapacitado para ser bem-sucedido num outro tipo de atividade. Talvez sinta que, se pudesse apenas “fazer um contato correto”, iria encontrar um emprego que lhe fosse adequado. Isso é uma armadilha, meu caro, e você não se deixará cair nessa dualidade nem aceitar limitações. Você sabe que não há Consciência separada da Consciência Universal indivisível que você é. Você sabe que NÃO EXISTE DIVISÃO EM (OU COMO) A CONSCIÊNCIA QUE VOCÊ É, E QUE VOCÊ NÃO PODE CONTATAR NENHUMA OUTRA CONSCIÊNCIA, POIS INEXISTE OUTRA CONSCIÊNCIA PARA VOCÊ ENTRAR EM CONTATO.

Que acontece agora? Você acaba de perceber o glorioso fato onipotente de que todo aquele que for necessário para o seu emprego – ou o cumprimento de seu objetivo no momento – já está presente dentro da Consciência que você é, e como Ela própria. Você percebeu que não existe espaço de tempo em ou como sua percepção desta Verdade. Além disso, que não existe intervalo de “tempo” ou “espaço” capaz de atuar como barreira entre você e alguém que seja necessário à sua inteireza.

Esta mesma Verdade é real - e é ativa! - no que se refere ao seu emprego atual. Exatamente agora, você está conciente de seu emprego genuíno, pois exatamente agora sua Consciência está ativamente consciente de ser completa. Tudo que você deveria saber nesse momento, você sabe. Por que? Porque você é Consciência. Você está consciente neste exato momento; e a Consciência que você é, exatamente agora, é completa. O fato de sua Consciência ser completa implica a evidência de tudo que você devesse saber, tudo que você devesse compreender, tudo que devesse constituir o seu emprego. Sim, sua inteireza implica que você conheça toda a Verdade que devesse conhecer referente a esta situação, ou a quaquer outra. Oh! Há poder neste “conhecimento”!

Assim, após ter contemplado como expusemos, você poderá sentir que deveria fazer um telefonema, escrever uma carta, ou percorrer uma determinada área. E irá novamente perceber que isto é a sua Consciência universale específica – sabendo o que deveria ser sabido naquele dado momento. Você age – sem dúvida – de acordo com este estímulo ou impulso; e, sem dúvida, irá descobrir por que se sentiu impelido a telefonar, escrever a carta ou fazer a caminhada. Exatamente neste ponto, é preciso que permaneça bem alerta. Se você fizer quaisquer dessas coisas na esperança de que irá “contatar” alguém que lhe servirá de instrumento para encontrar emprego, talvez fique desapontado. A coisa não funciona assim. Você “não pensa nada”. Simplesmente age desta maneira, por sentir-se impelido a agir. É bom não levar em conta o que parecer constituir o problema, quando estiver nesse ponto. Em sua contemplação, você terá dado a atenção específica a este determinado aspecto de sua Existência. Deixe que tudo pare aí. Não se esforce. Antes, saiba que sua “visão” significa “ser” aquilo que você viu ou percebeu. Oh, coisas maravilhosas acontecem quando toda a preocupação com a solução de algum aparente problema é transcendida! Como se pode notar, uma vez que tenha contemplado aquilo que é verdadeiro, você saberá que a Verdade que você percebeu é evidente. Portanto, não mais estará preocupado com ela, ou a respeito dela.


quarta-feira, março 02, 2011

Extrair do Jissô a capacidade infinita

Masaharu Taniguchi

(*Mesa-redonda realizada na Sede Central da Seicho-No-Ie, em 22 de abril de 1934.)



Minami - Como ainda estamos em número reduzido de participantes, gostaria de aproveitar para expor ao Mestre o que penso, pois sinto-me um tanto acanhado em falar de minhas dúvidas diante de muitas pessoas.

Taniguchi - Pois não, tenha a palavra.

Minami - Dentro de nossa mente tanto há o inferno como o paraíso. Se mentalizarmos o mal, surgirá o inferno; e se mentalizarmos o bem, surgirá o paraíso. Em suma, nem o inferno nem o paraíso existem originariamente, mas estão em nossa própria mente. Compreender isso é despertar para o Jissô?

Taniguchi - Isso seria compreender a lei do fenômeno, e não o Jissô que existe realmente.

Minami - Ah, isto seria compreender a lei do fenômeno?

Taniguchi - Compreender que no mundo fenomênico surge o inferno ou o paraíso como manifestação da mente e que tal mundo não existe originariamente, é compreender o fenômeno, mas não o Jissô da Vida. O mundo fenomênico é o mundo mutável que se mostra ora como inferno, ora como paraíso, de acordo com a mente; e o mundo do Jisso é o paraíso constante e eterno onde só há felicidade e alegria.

Minami - Purificar a mente para manifestar somente o aspecto paradisíaco no mundo fenomênico, nisso consiste o treinamento espiritual, não?

Hara - É preciso criar um vento que dissipe as nuvens do fenômeno?

Taniguchi - Não é preciso pensar em dissipar a nuvem. Lançando-se ao mundo do Jissô, nascem a liberdade infinita, a força infinita. Não importa se há nuvem ou não; enquanto o indivíduo ficar preocupado com a existência ou não das nuvens, não poderá compreender a Verdade. É preciso buscar acima das nuvens o mundo radioso; havendo nuvens ou não, acima delas o Sol está brilhando. Quando a pessoa se lançar a esse mundo iluminado, as nuvens desaparecerão espontaneamente, porque já não estarão retidas pela força da mente dessa pessoa. Preocupar-se com 'esta' ou 'aquela' nuvem e pensar que não se salvará enquanto não eliminar essas nuvens, é prender-se ao fenômeno.

Hara - Pelo que o Mestre está nos dizendo, o homem já está originariamente salvo, já possui a liberdade infinita, a força infinita.

Minami - E como manifestar na vida concreta essa salvação e a força infinita que já temos?

Taniguchi - Basta fazer com que o Jissô, originariamente perfeito, se projete no mundo fenomênico, sem distorção. Para tanto, basta limpar a "lente mental" através da qual o "filme" do Jissô se projeta no mundo fenomênico. Para purificar a "lente mental", basta ver o aspecto perfeito do Jissõ, sem se prender a aspectos imperfeitos eventualmente manifestados no mundo fenomênico. Basta ver o seu Jissô originariamente salvo. Basta ver o seu Eu, originariamente um com Deus.

Minami - Mesmo orando a Deus para ver o Jissô sem se ater ao fenômeno, muitas pessoas não estão manifestando o paraíso no mundo fenomênico. Há sogras que oram a Deus mas maltratam as noras. Parece que a oração para se tornar um com Deus tem vários estágios.

Taniguchi - De fato, existem vários estágios. Há pessoas que pensam que Deus seja uma imagem de madeira ou de metal ou que Ele seja um ser exterior, e não o seu próprio Jissô. Mesmo que orem a Deus, se o fazem pensando em se tornar um com a imagem de madeira ou de metal, não poderão manifestar o paraíso. É preciso tornar-se um com o Jissô de felicidade eterna para que se manifeste o estado originário em que já se está salvo.

Suguino - Hoje recebi um folheto do sr. Matsunami, da Indústrua de Tabi* (uma espécie de meia) Hinomoto, contendo a transcrição de uma interessante palestra do sr. Maçao Takahashi. Diz ele que pensava que o paraíso ficasse no céu, mas descobriu que ele fica no fundo da caldeira do inferno. Se, ao contrário elas avançarem em direção ao inferno, baterem contra o fundo da caldeira e o roperem, lá encontrarão o paraíso. Por exemplo, num caso de dívida, quando se pensa que o credor é cruel como o demônio, forma-se o inferno. Para escapar desse inferno, a pessoa não deve fugir, pois, quanto mais assim proceder, maos o "demônio" a perseguirá. Deve, pois, procurar amar a dívida. Assim, quando a pessoa não teme e enfrenta a dívida (inferno) e trabalha (luta) arduamente para liquidar tal dívida (romper o fundo da caldeira do inferno), acaba-se livrando dela (encontrando o paraíso). Achei esse princípio do sr. Takahashi semelhante ao que foi comentado na mesa-redonda do mês retrasado, ou seja, "eliminar as reclamações do ambiente familiar amando-as e satisfazendo as exigências da situação".

O caso do sr. Maçao Takahashi se baseia numa dívida que ele herdou de seu pai: como dispunha de uns três mil ienes, o pai construiu uma casa nova; porém, a construção final custou seis mil ienes; nisso, ele falaceu, deixando ao filho cerca de três mil ienes de dívida. O sr. Takahashi decidiu então sair daquela casa, pois, eticamente, enquanto não pagasse a dívida, ela não seria sua. Mas o empreiteiro que construiu a casa lhe disse: "Se o senhor sair, nada melhorará para nós; não podemos morar nessa casa, nem podemos tomar uma parte da construção. Por favor, continue morando nela como antes". Sendo assim, o sr. Takahashi resolveu permanecer na casa. Então, ele pensou: "O que nos permitiu morar numa casa tão boa foi justamente a dívida. A dívida é uma benfeitora, portanto devo satisfazer as exigências desse benfeitor. Bendita dívida; graças a ela podemos morar aqui". Assim, decidiu atender à exigência da benfeitora, isto é, liquidar a dívida. Com essa decisão, nasceu nele uma infinita força para trabalhar e logo acabou pagando a dívida.

Taniguchi - O sr. Takahashi defende a mesma Verdade pregada pela Seicho-No-Ie, mas parte de uma premissa contrária, isto é, considera-se imerecedor de algo bom. Assim, no fundo ele pensa: "Apesar de não merecê-lo, podemos morar numa casa tão boa, graças a uma força superior". Antes ele pensava estar vivendo com a força do corpo carnal, do raciocínio cerebral e do dinheiro, mas compreendeu que era vivificado pela grandiosa força universal que nele se aloja, e conscientizou que essa força é o seu verdadeiro Eu. Essa conscientização anula o velho eu e deixa nascer o novo Eu; desaparecendo o falso eu, pode despontar o Eu verdadeiro; desaparecendo o falso eu, emerge o grande Eu. Quando ele diz "não sou merecedor", trata-se do falso eu. Na verdade, ele está diminuindo e anulando o falso eu, o que permite o surgimento do verdadeiro Eu. Essa também é uma maneira de exteriorizar o verdadeiro Eu. É a grande afirmação após a negação. A Seicho-No-Ie, no entanto, parte da enfatização do verdadeiro Eu, afirmando: "O verdadeiro Eu é filho de Deus; este é existência verdadeira e é sumamente perfeito. O falso eu não é existência verdadeira, embora pareça; não se apegue ao que não existe; não se preocupe com o que não existe".

Tanto o método do sr. Maçao Takahashi como o da Seicho-No-Ie consistem em manifestar o verdadeiro Eu mediante a negação do falso eu. Entretanto, é mais eficar negar o falso eu dizendo "isso não existe" do que afirmando "não sou merecedor".

O sr. Maçao Takahashi pensou: "Bendita dívida; graças a ela podemos morar nesta casa". E repetindo constantemente "Eu tenho dívidas! Vou lutar com toda a força!", trabalhou intensamente e conseguiu saldar a dívida. Isso foi possível por ser ele possuidor de grandes qualidades morais. Muitas pessoas ficariam desanimadas só de pensar que têm uma dívida de três mil ienes. Há também pessoas que achariam um disparate serem obrigadas a arcar com tamanha dívida do pai e se desesperariam. Convém lembrar também que o sr. Takahashi sentiu nascer uma força intensa ao declarar abertamente "tenho dívidas! Vou lutar com toda a força!". Não podemos nos esquecer da atuação do poder das palavras "Vou lutar com toda a força!" que ele acrescentou no final. Experimente proferir palavras com sentido contrário, tais como "Tenho dívidas! Que desespero!". Quem assim afirmar ficará desanimado e deprimido e não terá coragem para trabalhar. Portanto, não foi a lembrança constante de ter algo negativo chamado dívida que fez brotar no sr. Takahashi uma intensa força para lutar. Se nos esquecermos disso, estaremos deixando de ver a Verdade. Também não foi o mero acréscimo da frase "Vou lutar com toda a força" que gerou tal força, mas sim o sentimento de gratidão que lhe nasceu ao reconhecer o fato de poder morar imerecidamente numa casa tão boa não era devidoà sua pequena força, mas era graças à força da Grande Vida do universo que o vivifica, alojada nele. Tal sentimento de gratidão resulta da negação do pequeno eu e da conscientização do verdadeiro Eu que aloja em si a Grande Vida do universo. Essa conscientização é que faz brotar espontaneamente as palavras "vou lutar com toda a força" e permitiu que elas surtissem efeito, fazendo o sr. Takahashi trabalhar e liquidar a dívida.

A expressão "não sou merecedor" tem o poder de desanimar-nos,mas, quando ligada ao sentimento de gratidão "Apesar de não merecer, sou beneficiado. Obrigado, meu Deus!", anula o falso eu e faz emergir o verdadeiro Eu, de capacidade infinita, que nos impele a agir. O que desperta o verdadeiro Eu infinitamente capaz é o sentimento de profunda gratidão que resulta da conscientização "não é minha própria força que me faz viver, mas a Vida que permeia o Universo".

Suguino - E é preciso haver esse sentimento de gratidão entre os membros da família. Recebemos constantemente benefícios que, se partissem de estranhos, agradeceríamos toda vez, mas, sendo um parente, nem lembramos de agradecer. E quando o mesmo parente faz algo que não nos agrada, achamos que ele só nos aborrece e ficamos com raiva. O Mestre diz "É preciso agradecer aos familiares", o que é uma grande verdade. Se todos sentirem gratidão mútua, não só no lar, mas também no trabalho, tudo transcorrerá maravilhosamente, manifestar-se-á a capacidade infinita latente nas pessoas e a família prosperará.

(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 06"; pgs. 75 à 82)