quarta-feira, março 23, 2011

O seu estado natural

John Sherman

Ramana nos diz que a única diferença entre a experiência do jnani (termo com que se refere ao ser desperto) e a experiência do ajnani (nome que se dá àquele que ainda acredita estar preso à ignorância) é que o jnani não acredita em nada disso. Só isso! E, é claro, este negócio de acreditar ou não acreditar não pode ser fabricado, por mais que você tente acreditar no que lhe dizem que deveria acreditar, e não acreditar no que lhe dizem que não deveria acreditar. Esse "não acreditar" é o estado natural que está sempre presente quando a atenção repousa no ser; ele é simplesmente o seu estado natural.

Ramana também fala sobre o ego, a manifestação e o espetáculo de horror que fazem parte da vida espiritual, e se refere a eles como miragens. Uma miragem é diferente de uma alucinação ou uma ilusão. Na prática espiritual, pensamos que essas coisas são ilusões: o mundo é uma ilusão. E, portanto, com base em nossa experiência e entendimento limitados desses assuntos, concluímos que todas essas coisas desaparecerão, uma vez que a mente tenha despertado para si mesma, e que o despertar tenha se estabilizado.

Isso é bastante desconcertante. Tente imaginar um estado no qual o corpo se desloca, faz as coisas que faz, fala e se comunica, em meio a um branco absoluto, no qual a ilusão da existência desapareceu. Isto é desconcertante! E essa idéia causa um sofrimento considerável, por causa de nossas constantes tentativas de imitar, criar e fabricar um semelhante estado para poder atingí-lo.

Uma miragem é diferente e muito mais próxima da realidade. Mesmo quando você sabe que é uma miragem, ela não desaparece. O mundo não precisa desaparecer, mesmo quando visto com clareza, diretamente, inegavelmente pelo que é: simplesmente pensamento, apenas imaginação.

Tudo isso é para o seu prazer! O mundo não faz nada, não afeta nada. Nada está em jogo aqui. O pesar pode ser ainda maior, mais profundo e mais rico, na ausência de uma história a seu respeito, quando não se acredita que algo está em jogo. Mas ninguém é prejudicado por ele; ninguém se torna incapacitado por causa dele; não é preciso acabar com ele.

Tudo isso que aqui descrevo inadequadamente é o seu estado natural. É disso que Ramana fala: sahaja samadhi ou estado natural. Este é o seu estado natural de ser. E ele não passa a existir em algum ponto no tempo; ele simplesmente se revela quando sua atenção está voltada para o seu próprio ser, e não para o pesar, a confusão, para aquilo que você sabe, ou para a paz.

Quando a sua atenção está em você mesmo, este estado natural das coisas revela-se como algo que sempre esteve aqui. E percebemos que as estratégias utilizadas previamente para fugir a ele são mecânicas e muito pouco interessantes. Na verdade, elas perdem completamente o interesse. Elas são como os brinquedos de dar corda. Elas são tão pouco interessantes, que você nem se importa se elas desapareceram ou se vão desaparecer algum dia.


Um comentário:

  1. Quero apenas dizer que os textos deste blog são muito importantes para mim. Têm-me ajudado muito nesta caminhada, e a transcender momentos difíceis. Obrigado.

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