quinta-feira, setembro 02, 2010

Você já está salvo originariamente

Masaharu Taniguchi


Minami - Creio que é no Tan-ni-sho da seita Shin, há um poema que diz: "Se mesmo o bom é salvo, então, com muito mais razão o pecador". Está-se dizendo que se até uma pessoa boa alcança a salvação, aquela que é má deve ser salva muito mais. Mas não haverá um equívoco nisso? Não estaria querendo dizer "Se mesmo um pecador é salvo, com muito mais razão será o bom"?

Taniguchi - A seita Shin prega: "ao pecador, uma chance" - de forma que esta citação está correta. Não significa que o homem é salvo por ser um pecador, mas que o pecador tem maior facilidade para tornar o seu coração apto para receber a salvação. A maioria dos assim chamados homens bons, que possuem a convicção de serem bons, vangloriam-se do bem praticado com o seu próprio esforço. Sentem-se orgulhosos do bem praticado às custas de seus esforços individuais, e acham que serão salvos em função do valor desses atos de bondade, ou que adquiriram o direito de serem salvos. Entretanto, sermos salvos - em outras palavras, atingir o estágio que se identifica com o Ser que é Bem Infinito chamado Deus ou Buda - jamais será alcançado com o simples acumular passo a passo de uma, duas, ou três boas ações. O Bem Infinito está situado para além do infinito-caminhar, e aqueles que ficam a se vangloriar de uma ou duas boas ações praticadas jamais conseguirão se aproximar desse infinito além. Isso porque, a Torre de Babel jamais atinge o céu, por mais alto que se erga. Porém, o pecador não é capaz de se orgulhar de suas boas ações; por isso, não tenta caminhar apenas com o seu próprio esforço em direção ao Bem Infinito; e certo de que somente a força de Deus, a força de Buda, pode salvá-lo, ele se aconchega na "nave da salvação" do Nyorai (O que vem da Verdade) e, entregando-se por completo, considera que sua salvação se deve à infinita Força Divina.

Dessa forma, aquele que se considera o mais vil dos homens, e que não é orgulhoso de seus feitos, tem maior facilidade em se entregar verdadeiramente. Cristo também ensinou ao apóstolos servindo-se da seguinte parábola: "Dois homens se apresentaram diante do altar. Um deles orou: 'Ó Deus, hoje eu pratiquei essa boa ação, e ontem também pratiquei tal boa ação. Levai em consideração esses bons atos e salvai-me'. O outro, arrependido, arrancando os cabelos como penitência, implorou pela salvação, orando: 'Ó Deus, sou um pecador que nada fez de bom'." À pergunta de qual dos dois iria primeiro para o Céu, a resposta de Cristo também foi: "Irá aquele pecador que não é capaz de praticar nenhum bem". Isso se assemelha bastante às palavras do Mestre Shinran: "Se até mesmo um bom é salvo, com muito mais razão o pecador". Isso porque a salvação não depende de cada "boa ação" física, mas sim do Bem do "Jisso".

O Bem do Jisso não é alcançado mesmo que se acumule, um a um, ao infinito, o bem que se percebe na forma; mas, somente será conseguido quando se eliminar tudo que é formal, como fez o bonzo Nansen que degolou o gato (motivo de discussão entre os noviços). O bem fenomênico, ou seja, o fenômeno, é originariamente inexistente; portanto, por mais que seja acumulado não se tornará força verdadeira. Consta no Mappo To Myoki do sábio Dengyo: "Pelo fato de existir este tatami, pode-se levantar a hipótese de ele estar ou não rasgado. Não há como discutir sobre um tatami originariamente inexistente - não há como guardar ou violar mandamentos". Não significa que seja um mal acumular boas ações. Significa que a verdadeira boa ação se manifesta quando a pessoa não se apega a toda e qualquer boa ação externa, a cada ação formalizada. O mesmo se passa com os métodos de higiene. No instante em que se abandona todo e qualquer método de preservação da saúde é que se torna possível viver de modo verdadeiramente higiênico.

Na Seicho-No-Ie se pratica o Shinsokan, que é parecido ao Zen; por isso pode haver pessoas que pensem ser a Seicho-No-Ie um "caminho do esforço individual". Na Seicho-No-Ie, entretanto, a salvação, sem depender de cada uma das boas ações, depende do Jisso; sem depender da força individual, sem depender da força alheia, depende da força absoluta. Essa força absoluta do Jisso, em estado puro, está imanente em todas as pessoas, e unicamente esse Jisso é a essência da pessoa; portanto, o homem já está salvo originariamente. Não deixará de ser salvo só porque deixou de chamar pelo nome de Amithaba que está no tão distante além. Sem que se tome qualquer providência, o homem, pelo Jisso, ou seja, pelo seu aspecto original, já está salvo. Basta chamar: "Jisso, Jisso". O nosso Jisso é o próprio Amithaba. Na Seicho-no-Ie dizemos que o Amithaba não fica no remoto além, mas que está no interior do "Jisso da Vida" de si próprio. A pessoa que chama o Jisso espontaneamente manifesta o seu aspecto originário e por isso é um Amithaba. O Mestre Shinran, pelo visto, também passou por esse estado mental, pois, em Hinos do Paraíso consta: "As pessoas que se alegram com a fé são semelhantes ao Nyorai. Fé é natureza búdica. Natureza de Buda é Nyorai". Isso significa que, se estivermos chamando constantemente "Jisso, Jisso", no nosso interior estará presente Nyorai, estará presente a natureza de Buda, assim como a Divindade Amaterasu e também Cristo. No nosso Jisso está presente tudo o que se relaciona com Deus e com Buda; portanto, estamos salvos assim mesmo como somos, sem nenhuma complementação.

(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 10", pgs. 178-181)


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