Masaharu Taniguchi
Recentemente, uma pessoa que veio fazer treinamento espiritual disse-me: “Uma vez que todas as coisas do Universo, inclusive remédios, são criações de Deus, creio que não há problema algum em tomar remédios, não é mesmo?”. Respondi: “Como o homem é filho de Deus, não há problema algum em tomar o que quer que seja. Nada que tomemos nos poderá causar mal. Na verdade, mesmo que tomemos um produto tóxico, este não poderá fazer mal à nossa Vida, e muito menos um remédio. Jamais a nossa Vida será afetada só porque tomamos um remédio. O que pode causar mal à nossa Vida é a nossa própria mente. Por exemplo, tomar remédios com espírito de dependência à matéria é o mesmo que andar de muletas, e isso dificulta a exteriorização da natureza divina perfeita, harmoniosa. O senhor diz que o remédio é criação de Deus, mas ele não foi criado por Deus. O remédio foi criado pela ‘ilusão’ que consiste em acreditar que a doença existe. Como Deus não criou doença, não tem necessidade de criar remédios para curá-la. Foi a ‘ilusão’ quem criou a doença; logo, é a ‘ilusão’ quem se preocupa em curar a doença e foi ela quem criou os remédios. Procurar combater a ilusão com a ilusão ou tentar neutralizar o veneno com veneno é o método do tratamento medicamentoso. Para os que ainda não despertaram para a Verdade de que o homem é filho de Deus e, portanto um ser espiritual, e pensam que o homem é uma existência material chamada corpo carnal, os remédios produzem efeito temporário. Para os que acreditam que o homem é filho de Deus, de natureza espiritual, os remédios tornam-se desnecessários. Mas também torna-se desnecessária a insistência em recusar os remédios, pois ele compreende que o remédio nada pode acrescentar à Imagem Verdadeira da Vida do homem, nem diminuir-lhe coisa alguma”.
Conforme consta no capítulo intitulado “O Gênesis visto através da Seicho-No-Ie”, do volume 11 da coleção A Verdade da Vida, em todas as coisas deste mundo visível aos olhos carnais existem “dia” e “noite”. Este mundo é um lugar onde se entrelaçam a luz e a treva, a imagem projetada pela Verdade e a imagem projetada pela ilusão. Portanto, é equivocada a idéia de que o remédio seja criação de Deus só porque ele parece existir neste mundo visível, assim como é equivocada a idéia de que a doença seja criação de Deus só porque ela parece existir neste mundo visível. No mundo da Imagem Verdadeira, criado por Deus, não existem doenças; por conseguinte, também não existem remédios para curá-las. Portanto, também no mundo fenomênico, no qual esteja projetado corretamente o mundo da Imagem Verdadeira, não existem doenças nem remédios. Tanto o fato de parecer que a doença existe quanto o fato de parecer que existem os remédios para curar as doenças, que na verdade inexistem, ambos são projeções da mente em ilusão que não despertou para a Imagem Verdadeira.
Após negar assim todos os artifícios humanos, que irá restar? Restará unicamente a Vida original, que é filho de Deus totalmente livre. A Verdade que a Seicho-No-Ie prega é uma Verdade rigorosa. É o caminho que consiste em abrir mão de tudo e, no final, conseguirmos tudo. Mesmo que uma pessoa consiga abandonar os remédios, se não despertar para a Imagem Verdadeira da Vida e ficar com a mente apegada a outras coisas, terá um resultado contrário ao esperado. Existem também pessoas que sofrem por estar com a mente apegada à idéia de “abandonar os remédios” e entra em conflito com os familiares que com ele não concordam. Tais pessoas, na verdade, ainda não abandonaram tudo. Abandonando até mesmo a “idéia de abandonar” é que se alcança a liberdade total.
No livro Mumonkan, do zen-budismo, na oitava questão para meditação, consta que o bonzo Getsuan formulou a um sacerdote a seguinte questão: “Um homem chamado Keichu confeccionou uma carreta, mas retirou as rodas e arrancou o eixo. Que pretendia ele esclarecer com isso?”. Segundo o livro, a resposta é: “Quando se retiram todos os aspectos formais, a mente compreende a Verdade com a rapidez de um relâmpago”. Quando existem os trilhos, a locomotiva, as rodas e os eixos, pode-se viajar de trem e considerá-lo realmente um cômodo meio de transporte. Esse pensamento é idêntico ao da pessoa que considera o remédio um cômodo meio de combater a doença. Mas o que fará tal pessoa se deparar com um obstáculo chamado “falta de dinheiro para comprar remédio”? Como poderá evitar que se choque com esse obstáculo? Se um trem não consegue evitar o choque com algum obstáculo, é porque sua liberdade é tolhida pelos trilhos, pelas rodas e pelos eixos. Se retirarmos os trilhos, as rodas e os eixos e colocarmos o vagão sobre uma “carreta mágica” chamada “compreensão da Verdade”, seremos totalmente livres. Este é o estado de liberdade alcançado por aquele que despertou para a Imagem Verdadeira da Vida e não precisa mais de remédios. Se nos sentimos desorientados, é porque nossa mente se apega aos “trilhos” e às “rodas” da existência e pensamos que precisamos rodas necessariamente sobre esses trilhos. Se eliminarmos os “trilhos” e as “rodas” limitadores, conseguiremos conscientizar que, no tocante à Imagem Verdadeira da Vida, somos filhos de Deus livres de todas as restrições, e alcançaremos o estado de total liberdade em todos os sentidos. Entretanto, mesmo que retiremos e destruamos os “trilho” e as “rodas” da vida, se não nos colocarmos sobre a “carreta mágica” chamada “compreensão da Verdade”, ficaremos em situação ainda mais incômoda.
Na Seita Ittoen, por exemplo, mandam abandonar de vez todos os bens para se conseguir a liberdade econômica. A finalidade disso não é o simples abandono dos bens, mas a conscientização da Vida interior, exatamente como no caso do jovem monge cujo dedo foi decepado pelo bonzo Gutei. Quando abandonamos o que é sujeito à limitação, recuperamos toda a liberdade econômica. Ao abandonarmos totalmente as posses do “pequeno eu” ou da ilusão, nos são dadas de modo natural todas as coisas necessárias. No exemplo da Ittoen, não existem posses que pertençam ao “pequeno eu”, mas em seu vasto terreno denominado Koserin ergue-se um magnífico santuário.
A Seicho-No-Ie ensina que, para obtermos a liberdade da Vida, devemos abandonar todos os métodos materiais nos quais nos apoiávamos como se fossem muletas de nossa Vida, e ordenar: “Ó Vida, levante-se com a sua própria força!”. Quando abandonamos todas as coisas materiais em que nos apoiávamos, manifesta-se em nós a Vida infinita do filho de Deus que somos; quando abandonamos todas as posses do nosso “pequeno eu”, tudo no Universo torna-se nossa propriedade; e quando abandonamos todos os “remédios da ilusão”, a Vida infinita do Universo torna-se nossa.
No zen-budismo, o alimento é considerado remédio. O alimento é concretização da vibração espiritual do Amor de Deus. O alimento certo constitui o verdadeiro remédio. Até as substâncias tóxicas têm sua utilidade: o arsênico e o ácido cianídrico, por exemplo, são indispensáveis para fins industriais. Quando atua a Sabedoria de Deus, que utiliza as substâncias em lugares certos e em doses adequadas, nada existe que faça mal; todo medicamento artificial e inadequado à Vida é, para ela, um elemento estranho. A eficaz penicilina é uma bactéria de fungos, os quais podemos considerar um alimento novo, até então desconhecido. O alimento foi criado por Deus, conforme escrito também no Gênesis. Esse alimento (graça divina) criado por Deus no mundo da Imagem Verdadeira é que se projeta no mundo fenomênico como alimento material. No mundo da Imagem Verdadeira estamos alimentando-nos da graça divina, e a projeção disso é ingerirmos alimentos fenomênicos.
Mas, conforme afirmei antes, uma vez que Deus não cria a doença, também não cria remédios para curá-la. A doença, em suma, é um sinal de que se transgrediu a ordem estabelecida por Deus e se utilizou da matéria de modo inadequado. Se corrigirmos a inadequações, a doença será curada. O que criou a doença foi a ilusão, o pensamento errôneo de considerar o inadequado como adequado. Por isso, se abandonarmos essa ilusão, a doença desaparecerá. Se ficarmos perseguindo uma ilusão (doença) com outra ilusão (pensamento errôneo), a ilusão não terá fim, aumentando, consequentemente, cada vez mais o número de remédios e a procura de medicamentos e hospitais. Por isso, a Seicho-No-Ie ensina que, em vez de nos preocuparmos com remédios, devemos conscientizar que a Imagem Verdadeira da Vida é perfeita, livre de doenças.
Houve certa vez um médico que, lendo superficialmente o livro A Verdade da Vida, escreveu um artigo de protesto do seguinte teor: “Um paciente que estava internado no meu hospital abandonou totalmente os remédios, arrumou as malas e voltou para casa; não quis mais médico nem remédios, passeou de livre vontade, sofreu uma violenta hemoptise e acabou morrendo”. Lendo apenas a opinião desse médico, parece que o paciente sofreu hemoptise “porque saiu do hospital e abandonou os remédios”, e que não teria tido essa crise se não tivesse deixado o hospital e os remédios. No entanto, há um outro paciente internado no mesmo hospital que, mesmo tomando remédios, teve hemoptise, e por isso enviou telegrama à Seicho-No-Ie pedindo a mentalização à distância para a cura. Sendo assim, a hemoptise pode ocorrer independentemente de o paciente estar ou não internado e tomando ou não remédios. Não se pode afirmar que o paciente sofreu hemoptise porque deixou o hospital ou porque dispensou os remédios.
Tenho recebido muitas cartas de agradecimento de pessoas que se restabeleceram deixando o hospital e os remédios. Portanto, não posso relacionar a piora do estado do paciente, no caso relatado pelo citado médico, com abandono do hospital e dos medicamentos. É preciso buscar a causa em outro lugar. Raciocinemos bem: ainda que a doença de alguém se agrave após deixar o hospital e os remédios, e ainda que sucedam inúmeros casos idênticos, tal fato não constitui fundamento para se concluir que a dispensa do hospital e dos remédios seja a causa do agravamento. Se tal argumento fosse válido, poderíamos concluir também que o homem morre em conseqüência dos tratamentos médicos e da ingestão de remédios, pois milhões de pessoas no mundo inteiro têm morrido após se submeterem aos cuidados médicos e tomarem remédios. No entanto, os médicos não admitem tal conclusão. Eles alegam que os pacientes morrem porque chegou a hora deles, e não por intervenção médica. Eu também digo o mesmo, obviamente. Não sou tolo a ponto de afirmar que o fato A deve necessariamente ser a causa do fato B, só porque este ocorreu depois daquele. Digo que a medicina moderna é uma “crença de que a matéria domina a Vida”, pois restringe a causa a um ou a alguns fatores favoráveis à sua tese e ignora outros fatores desconhecidos ou desfavoráveis. Se a doença for curada após ministrar remédios, o mérito é apenas dos remédios e da medicina; mas, se o paciente morrer após tomar remédios, diz-se que morreu por si mesmo, excluindo a responsabilidade médica. No caso citado, em que o paciente sofreu hemoptise após sair do hospital, o médico deve analisar a causa psicológica dessa hemoptise. A meu ver, já que a palavra é semente, deve-se levar em consideração as palavras que o médico proferiu ao paciente que estava deixando o hospital. Em se tratando de médico capaz de protestar numa revista contra a saída de um paciente de seu hospital, pode ter dito categoricamente: “É muito arriscado deixar o hospital!”. Se foram ditas palavras semelhantes a estas, podemos concluir o seguinte: Mesmo que o doente não tenha dado atenção a tais palavras naquele momento, elas foram semeadas no fundo do subconsciente dele e depois germinaram.
Quando um portador de moléstia para a qual ainda não há remédio específico toma a grande decisão de abandonar os remédios, esse instante corresponde ao importante momento em que o bonzo Gutei cortou o dedo do jovem monge. Naquele momento, o bonzo Gutei mostrou ao jovem a Verdade de que o homem real é um ser espiritual e não um ser material e que, portanto, mesmo não tendo mais o dedo, pode levantá-lo. Graças a essa lição, o jovem monge pôde despertar para a Imagem Verdadeira de sua Vida e alcançou a verdadeira salvação. Mas a questão não se restringe a apenas um dedo: o homem precisa compreender que ele é um ser indestrutível, ainda que lhe cortem o corpo todo. Do contrário, não será salvo verdadeiramente. Se naquele momento o bonzo tivesse dito que o homem é uma existência material e que sem o dedo físico nada pode fazer, o jovem monge só teria sentido dor na sua mão sangrenta e não teria despertado para a Verdade, nem teria alcançado a iluminação. Também o médico, ao se dirigir a um paciente que dispensou decididamente os recursos medicinais, deve tomar a mesma atitude do bonzo em relação ao jovem monge. Quando, ao contrário, o médico tem a infeliz idéia de dizer “Se você dispensar os remédios materiais não será curado, porque o homem é feito de matéria”, poderá matar o paciente, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente.
Segundo escreveu certo médico numa revista, um tuberculoso convalescente tomava banho de sol. Achando desaconselhável tomar muito sol, advertiu-o: “Você não pode tomar tanto sol”. Como foi uma advertência, é evidente que o tom de suas palavras sugeria perigo. Nessa mesma noite, o paciente teve hemoptise grave e morreu. Esse médico escreve vangloriando-se de seu diagnóstico “acertado”, baseado em seus conhecimentos terapêuticos. Mas, a meu ver, podemos afirmar, ou pelo menos supor, que as palavras proferidas por ele ao paciente foram a causa da hemoptise, porque não era a primeira vez que o paciente tomava banho de sol; mas foi justamente no dia em que foi sugestionado pelo médico sobre o perigo do sol que vomitou muito sangue e morreu. Como essa pessoa morreu sugestionada pela idéia de que a Vida do homem é algo frágil que pode ser destruída pelo sol ou pela hemoptise, a sua alma não será salva facilmente após desencarnar, e isso é realmente lamentável. O médico, sendo uma pessoa que cuida da Vida do homem, tem a obrigação de saber, pelo menos, que suas palavras possuem grande poder de influência no paciente, sugestionando-o. Nesse sentido, o médico deve ser também um psicólogo. Considerando que a Vida do homem é eterna e que, geralmente, o médico é o único que assiste o homem nos derradeiros momentos que antecedem o abandono do corpo carnal, pode-se dizer que o médico deve ser também um religioso; deve ser um mestre e orientador capaz de ensinar o caminho para viver sem depender da matéria.
Conforme consta no capítulo intitulado “O Gênesis visto através da Seicho-No-Ie”, do volume 11 da coleção A Verdade da Vida, em todas as coisas deste mundo visível aos olhos carnais existem “dia” e “noite”. Este mundo é um lugar onde se entrelaçam a luz e a treva, a imagem projetada pela Verdade e a imagem projetada pela ilusão. Portanto, é equivocada a idéia de que o remédio seja criação de Deus só porque ele parece existir neste mundo visível, assim como é equivocada a idéia de que a doença seja criação de Deus só porque ela parece existir neste mundo visível. No mundo da Imagem Verdadeira, criado por Deus, não existem doenças; por conseguinte, também não existem remédios para curá-las. Portanto, também no mundo fenomênico, no qual esteja projetado corretamente o mundo da Imagem Verdadeira, não existem doenças nem remédios. Tanto o fato de parecer que a doença existe quanto o fato de parecer que existem os remédios para curar as doenças, que na verdade inexistem, ambos são projeções da mente em ilusão que não despertou para a Imagem Verdadeira.
Após negar assim todos os artifícios humanos, que irá restar? Restará unicamente a Vida original, que é filho de Deus totalmente livre. A Verdade que a Seicho-No-Ie prega é uma Verdade rigorosa. É o caminho que consiste em abrir mão de tudo e, no final, conseguirmos tudo. Mesmo que uma pessoa consiga abandonar os remédios, se não despertar para a Imagem Verdadeira da Vida e ficar com a mente apegada a outras coisas, terá um resultado contrário ao esperado. Existem também pessoas que sofrem por estar com a mente apegada à idéia de “abandonar os remédios” e entra em conflito com os familiares que com ele não concordam. Tais pessoas, na verdade, ainda não abandonaram tudo. Abandonando até mesmo a “idéia de abandonar” é que se alcança a liberdade total.
No livro Mumonkan, do zen-budismo, na oitava questão para meditação, consta que o bonzo Getsuan formulou a um sacerdote a seguinte questão: “Um homem chamado Keichu confeccionou uma carreta, mas retirou as rodas e arrancou o eixo. Que pretendia ele esclarecer com isso?”. Segundo o livro, a resposta é: “Quando se retiram todos os aspectos formais, a mente compreende a Verdade com a rapidez de um relâmpago”. Quando existem os trilhos, a locomotiva, as rodas e os eixos, pode-se viajar de trem e considerá-lo realmente um cômodo meio de transporte. Esse pensamento é idêntico ao da pessoa que considera o remédio um cômodo meio de combater a doença. Mas o que fará tal pessoa se deparar com um obstáculo chamado “falta de dinheiro para comprar remédio”? Como poderá evitar que se choque com esse obstáculo? Se um trem não consegue evitar o choque com algum obstáculo, é porque sua liberdade é tolhida pelos trilhos, pelas rodas e pelos eixos. Se retirarmos os trilhos, as rodas e os eixos e colocarmos o vagão sobre uma “carreta mágica” chamada “compreensão da Verdade”, seremos totalmente livres. Este é o estado de liberdade alcançado por aquele que despertou para a Imagem Verdadeira da Vida e não precisa mais de remédios. Se nos sentimos desorientados, é porque nossa mente se apega aos “trilhos” e às “rodas” da existência e pensamos que precisamos rodas necessariamente sobre esses trilhos. Se eliminarmos os “trilhos” e as “rodas” limitadores, conseguiremos conscientizar que, no tocante à Imagem Verdadeira da Vida, somos filhos de Deus livres de todas as restrições, e alcançaremos o estado de total liberdade em todos os sentidos. Entretanto, mesmo que retiremos e destruamos os “trilho” e as “rodas” da vida, se não nos colocarmos sobre a “carreta mágica” chamada “compreensão da Verdade”, ficaremos em situação ainda mais incômoda.
Na Seita Ittoen, por exemplo, mandam abandonar de vez todos os bens para se conseguir a liberdade econômica. A finalidade disso não é o simples abandono dos bens, mas a conscientização da Vida interior, exatamente como no caso do jovem monge cujo dedo foi decepado pelo bonzo Gutei. Quando abandonamos o que é sujeito à limitação, recuperamos toda a liberdade econômica. Ao abandonarmos totalmente as posses do “pequeno eu” ou da ilusão, nos são dadas de modo natural todas as coisas necessárias. No exemplo da Ittoen, não existem posses que pertençam ao “pequeno eu”, mas em seu vasto terreno denominado Koserin ergue-se um magnífico santuário.
A Seicho-No-Ie ensina que, para obtermos a liberdade da Vida, devemos abandonar todos os métodos materiais nos quais nos apoiávamos como se fossem muletas de nossa Vida, e ordenar: “Ó Vida, levante-se com a sua própria força!”. Quando abandonamos todas as coisas materiais em que nos apoiávamos, manifesta-se em nós a Vida infinita do filho de Deus que somos; quando abandonamos todas as posses do nosso “pequeno eu”, tudo no Universo torna-se nossa propriedade; e quando abandonamos todos os “remédios da ilusão”, a Vida infinita do Universo torna-se nossa.
No zen-budismo, o alimento é considerado remédio. O alimento é concretização da vibração espiritual do Amor de Deus. O alimento certo constitui o verdadeiro remédio. Até as substâncias tóxicas têm sua utilidade: o arsênico e o ácido cianídrico, por exemplo, são indispensáveis para fins industriais. Quando atua a Sabedoria de Deus, que utiliza as substâncias em lugares certos e em doses adequadas, nada existe que faça mal; todo medicamento artificial e inadequado à Vida é, para ela, um elemento estranho. A eficaz penicilina é uma bactéria de fungos, os quais podemos considerar um alimento novo, até então desconhecido. O alimento foi criado por Deus, conforme escrito também no Gênesis. Esse alimento (graça divina) criado por Deus no mundo da Imagem Verdadeira é que se projeta no mundo fenomênico como alimento material. No mundo da Imagem Verdadeira estamos alimentando-nos da graça divina, e a projeção disso é ingerirmos alimentos fenomênicos.
Mas, conforme afirmei antes, uma vez que Deus não cria a doença, também não cria remédios para curá-la. A doença, em suma, é um sinal de que se transgrediu a ordem estabelecida por Deus e se utilizou da matéria de modo inadequado. Se corrigirmos a inadequações, a doença será curada. O que criou a doença foi a ilusão, o pensamento errôneo de considerar o inadequado como adequado. Por isso, se abandonarmos essa ilusão, a doença desaparecerá. Se ficarmos perseguindo uma ilusão (doença) com outra ilusão (pensamento errôneo), a ilusão não terá fim, aumentando, consequentemente, cada vez mais o número de remédios e a procura de medicamentos e hospitais. Por isso, a Seicho-No-Ie ensina que, em vez de nos preocuparmos com remédios, devemos conscientizar que a Imagem Verdadeira da Vida é perfeita, livre de doenças.
Houve certa vez um médico que, lendo superficialmente o livro A Verdade da Vida, escreveu um artigo de protesto do seguinte teor: “Um paciente que estava internado no meu hospital abandonou totalmente os remédios, arrumou as malas e voltou para casa; não quis mais médico nem remédios, passeou de livre vontade, sofreu uma violenta hemoptise e acabou morrendo”. Lendo apenas a opinião desse médico, parece que o paciente sofreu hemoptise “porque saiu do hospital e abandonou os remédios”, e que não teria tido essa crise se não tivesse deixado o hospital e os remédios. No entanto, há um outro paciente internado no mesmo hospital que, mesmo tomando remédios, teve hemoptise, e por isso enviou telegrama à Seicho-No-Ie pedindo a mentalização à distância para a cura. Sendo assim, a hemoptise pode ocorrer independentemente de o paciente estar ou não internado e tomando ou não remédios. Não se pode afirmar que o paciente sofreu hemoptise porque deixou o hospital ou porque dispensou os remédios.
Tenho recebido muitas cartas de agradecimento de pessoas que se restabeleceram deixando o hospital e os remédios. Portanto, não posso relacionar a piora do estado do paciente, no caso relatado pelo citado médico, com abandono do hospital e dos medicamentos. É preciso buscar a causa em outro lugar. Raciocinemos bem: ainda que a doença de alguém se agrave após deixar o hospital e os remédios, e ainda que sucedam inúmeros casos idênticos, tal fato não constitui fundamento para se concluir que a dispensa do hospital e dos remédios seja a causa do agravamento. Se tal argumento fosse válido, poderíamos concluir também que o homem morre em conseqüência dos tratamentos médicos e da ingestão de remédios, pois milhões de pessoas no mundo inteiro têm morrido após se submeterem aos cuidados médicos e tomarem remédios. No entanto, os médicos não admitem tal conclusão. Eles alegam que os pacientes morrem porque chegou a hora deles, e não por intervenção médica. Eu também digo o mesmo, obviamente. Não sou tolo a ponto de afirmar que o fato A deve necessariamente ser a causa do fato B, só porque este ocorreu depois daquele. Digo que a medicina moderna é uma “crença de que a matéria domina a Vida”, pois restringe a causa a um ou a alguns fatores favoráveis à sua tese e ignora outros fatores desconhecidos ou desfavoráveis. Se a doença for curada após ministrar remédios, o mérito é apenas dos remédios e da medicina; mas, se o paciente morrer após tomar remédios, diz-se que morreu por si mesmo, excluindo a responsabilidade médica. No caso citado, em que o paciente sofreu hemoptise após sair do hospital, o médico deve analisar a causa psicológica dessa hemoptise. A meu ver, já que a palavra é semente, deve-se levar em consideração as palavras que o médico proferiu ao paciente que estava deixando o hospital. Em se tratando de médico capaz de protestar numa revista contra a saída de um paciente de seu hospital, pode ter dito categoricamente: “É muito arriscado deixar o hospital!”. Se foram ditas palavras semelhantes a estas, podemos concluir o seguinte: Mesmo que o doente não tenha dado atenção a tais palavras naquele momento, elas foram semeadas no fundo do subconsciente dele e depois germinaram.
Quando um portador de moléstia para a qual ainda não há remédio específico toma a grande decisão de abandonar os remédios, esse instante corresponde ao importante momento em que o bonzo Gutei cortou o dedo do jovem monge. Naquele momento, o bonzo Gutei mostrou ao jovem a Verdade de que o homem real é um ser espiritual e não um ser material e que, portanto, mesmo não tendo mais o dedo, pode levantá-lo. Graças a essa lição, o jovem monge pôde despertar para a Imagem Verdadeira de sua Vida e alcançou a verdadeira salvação. Mas a questão não se restringe a apenas um dedo: o homem precisa compreender que ele é um ser indestrutível, ainda que lhe cortem o corpo todo. Do contrário, não será salvo verdadeiramente. Se naquele momento o bonzo tivesse dito que o homem é uma existência material e que sem o dedo físico nada pode fazer, o jovem monge só teria sentido dor na sua mão sangrenta e não teria despertado para a Verdade, nem teria alcançado a iluminação. Também o médico, ao se dirigir a um paciente que dispensou decididamente os recursos medicinais, deve tomar a mesma atitude do bonzo em relação ao jovem monge. Quando, ao contrário, o médico tem a infeliz idéia de dizer “Se você dispensar os remédios materiais não será curado, porque o homem é feito de matéria”, poderá matar o paciente, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente.
Segundo escreveu certo médico numa revista, um tuberculoso convalescente tomava banho de sol. Achando desaconselhável tomar muito sol, advertiu-o: “Você não pode tomar tanto sol”. Como foi uma advertência, é evidente que o tom de suas palavras sugeria perigo. Nessa mesma noite, o paciente teve hemoptise grave e morreu. Esse médico escreve vangloriando-se de seu diagnóstico “acertado”, baseado em seus conhecimentos terapêuticos. Mas, a meu ver, podemos afirmar, ou pelo menos supor, que as palavras proferidas por ele ao paciente foram a causa da hemoptise, porque não era a primeira vez que o paciente tomava banho de sol; mas foi justamente no dia em que foi sugestionado pelo médico sobre o perigo do sol que vomitou muito sangue e morreu. Como essa pessoa morreu sugestionada pela idéia de que a Vida do homem é algo frágil que pode ser destruída pelo sol ou pela hemoptise, a sua alma não será salva facilmente após desencarnar, e isso é realmente lamentável. O médico, sendo uma pessoa que cuida da Vida do homem, tem a obrigação de saber, pelo menos, que suas palavras possuem grande poder de influência no paciente, sugestionando-o. Nesse sentido, o médico deve ser também um psicólogo. Considerando que a Vida do homem é eterna e que, geralmente, o médico é o único que assiste o homem nos derradeiros momentos que antecedem o abandono do corpo carnal, pode-se dizer que o médico deve ser também um religioso; deve ser um mestre e orientador capaz de ensinar o caminho para viver sem depender da matéria.
(Do livro “A Verdade da Vida, vol. 04", pgs. 45 à 55)
Ótimas essas transcrições do livro A Verdade Da Vida.
ResponderExcluirAinda não encontrei essa obra totalmente digitalizada na web.
Muito bom o trabalho desse blog!