sexta-feira, janeiro 08, 2010

A prática do amor na vida conjugal


Masaharu Taniguchi


Certa vez, conheci um senhor chamado Jo Shimizu, residente na Província de Gifu. Tendo-se tornado praticante da Seicho-No-Ie, ele promovia mensalmente uma reunião dos adeptos, em sua própria residência. Grade era o número de pessoas que apareciam nessas reuniões. E eram muitos os que encontravam o caminho ouvindo as palestras do Sr. Shimizu. Uns conseguiam a cura de doença; outros, a harmonia no lar. O Sr. Shimizu curava, assim, os sofrimentos de muita gente. Mas havia uma pessoa que ele não conseguia curar, de modo algum: justamente a sua esposa. Ela sofria de reumatismo em todo o corpo. Tratava-se de um reumatismo bastante grave: dores violentas percorriam incessantemente o seu corpo, como se fossem raios, e não havia meio de aliviá-las. O Sr. Shimizu, que vinha curando muita gente através da orientação espiritual, vivia explicando também à sua esposa que “a causa das doenças está na mente da própria pessoa”.

- Em sua mente existem pensamentos de ódio e censura aos outros. Esses pensamentos que ferem e causam dor ao próximo é que estão se manifestando em seu corpo, sob a forma de dor física. Você precisa abandonar esses pensamentos e procurar agradecer a todas as pessoas. Quando você se tornar capaz de sentir gratidão por tudo e por todos, a sua doença será curada.

Assim falava o Sr. Shimizu à sua esposa. Mas, por mais que ele repetisse esse “sermão”, sua esposa não apresentava o menor sinal de melhora.

- Olhe, já vi que os ensinamentos da Seicho-No-Ie não surtem nenhum efeito sobre a minha doença. Por isso eu quero que você chame um massagista...

Entre as pessoas que se reuniam em sua casa, muitas já tinha se curado de reumatismo – mesmo os mais graves e persistentes – depois de receberem com espírito dócil as orientações que o Sr. Shimizu ministrara. No entanto, ele não conseguia curar sua esposa, por mais que tentasse. Reconhecendo não haver outra alternativa, acabou concordando em chamar um massagista. Depois que o massagista saiu, sua esposa disse:

- Sinto-me bem melhor, agora. Seria tão bom, querido, se você me fizesse as massagens!

Estas palavras atingiram em cheio o coração do Sr, Shimizu. Percebeu, pela primeira vez, que o tratamento de que sua esposa mais carecia era a sua atenção e o seu carinho. Na verdade, a doença da Sra. Shimizu era manifestação do desejo de ser tratada com carinho pelo marido. No entanto, este vivia-lhe a pregar sermões, em tom de impaciência:

- Sua atitude mental está errada. Você está sofrendo de reumatismo porque o seu modo de pensar não é correto. É preciso aprender a agradecer, percebe?

A tentativa de melhorar as pessoas apontando os seus defeitos dificilmente traz resultados positivos. Neste mundo existe a lei mental que diz: “Tudo o que é reconhecido passa a existir”, e toda sorte de coisas ocorre segundo essa lei. Assim, sendo, o aspecto imperfeito de uma pessoa não desaparecerá enquanto continuarmos vendo seus defeitos. É claro que isto se aplica também aos casais. “Você precisa corrigir sua atitude mental” – estas não são palavras com que um marido consegue curar a esposa doente. Ela não quer ouvir sermões como esse. O que ela quer é amor e a ternura de seu marido. Na maioria dos casos, o marido, ocupado demais com seus afazeres, não pode ficar muito tempo com a esposa, cercando-a de atenção e carinho como nos tempos de namoro ou nos primeiros anos de casados. Vendo-o dedicar-se quase exclusivamente ao trabalho, a esposa sente-se rejeitada e pensa: “Meu marido já não precisa mais de mim. Ele já está saturado de mim. Já não me ama. Agora ele só ama o trabalho!”. Depois de ficar remoendo esses pensamentos e com o desejo de voltar a ser tratada com mais carinho, ela pensa: “Se eu ficasse doente, talvez me tratasse com mais atenção e carinho...”. Então o seu corpo passa a manifestar um estado doentio. E, assim, ela constata que “ficar doente” é realmente conveniente, pois o marido que não lhe dava atenção torna-se, de repente, muito carinhoso com ela. Mas acontece que, no caso de uma doença crônica como o reumatismo, torna-se impossível para o marido ficar todo tempo dispensando atenções à esposa. Não pode massageá-la diariamente. Então, ele a deixa entregue à própria sorte. E a esposa, insatisfeita em seu desejo de ser amada, permanece indefinidamente em estado doentio.

Em casos como esse, ocorrerá a cura se a própria esposa, fazendo um exame de consciência, perceber que “não devia ter tal conduta mental” e abandonar de uma vez o secreto desejo de ficar doente. Mas, na maioria dos casos, não se processará a cura, enquanto ela não satisfizer completamente o desejo de ser tratada com carinho pelo seu marido.

Voltemos ao caso do Sr. Shimizu. As palavras da esposa fizeram-no refletir com maior profundidade sobre os ensinamentos da Seicho-No-Ie:

- Só agora começo a perceber a verdade! Minha mulher apresenta esse estado doentio porque eu não sabia amá-la. Eu vivia pregando sermões. E aprendi que “Deus é amor”, e que o amor tem de ser manifestado através de palavras e atos. Não adiantam os sermões. Não adianta apenas ficarmos pregando o amor. O amor tem que ser manifestado através de nossas ações. Ensinaram-me que marido e mulher são “uma só vida, alojada em dois corpos separados”; e que, vivendo sob o mesmo teto, um reflete os pensamentos do outro, como se fossem dois espelhos colocados face a face. Ensinaram-me que o lar é uma escola da alma, onde os cônjuges devem buscar juntos o aprimoramento espiritual, cada qual examinando sua atitude mental refletida sobre o outro e procurando corrigir as próprias falhas. Assim, se o marido vê um aspecto imperfeito da esposa, deve compreender que esse aspecto é um reflexo de sua própria mente e procurar corrigir-se; e se a esposa vê um aspecto imperfeito do marido, deve compreender que é a sua mente que está refletida nele e esforçar-se para melhorar a si própria. Apesar de ter lido e ouvido todos estes ensinamentos, eu não vivia de acordo com eles. Eu só sabia pregar sermões. Não havia verdadeiro amor em meu coração. Só agora compreendo verdadeiramente o significado da expressão: “Deus é Amor”.

Pouco valor possuem os religiosos que pregam sermões mas não têm verdadeiro amor no coração. É necessário que o amor seja manifestado através de suas obras. Não adianta conhecer a verdade de que “Deus é Amor”... Não devemos ser como Tolstoi, que, apesar de pregar o amor à humanidade, vivia discutindo com sua mulher, e que um dia, depois de uma rusga muito violenta (nessa época ele já passava dos oitenta anos), resolveu ir para longe. Ele acabou morrendo miseravelmente em uma estação de aldeia solitária.

Agindo dessa forma, não estaremos realmente vivendo a verdade que diz que “Deus é Amor”. Se já compreendemos realmente que “Deus é Amor”, precisamos começar a manifestar o nosso amor através das nossas obras, dentro do nosso próprio lar, na convivência com a família.

- Faltava amor em meu coração – pensou o Sr. Shimizu. – Também é verdade que a causa da dolorosa doença de minha mulher está em sua mente, que oculta um pensamento de censura contra mim. Mas se ela me censura intimamente, é porque eu não soube lhe dar suficiente amor. Marido e mulher são um só corpo. Ela é minha esposa, a única dentre bilhões de pessoas que constituem a humanidade. E eu, se perceber que a minha única esposa ansiava por meu carinho, apenas proferi sermões com palavras tão severas. Errei. Estou arrependido. Vou me modificar. Se ela quer que eu lhe faça massagens, não me importo de passar a vida toda fazendo isso.

Mentalizando o “Canto Evocativo de Deus”, ele começou a fazer massagens em sua esposa. Ela dormitava com uma expressão de felicidade no rosto. De repente, acordou, olhou para o rosto do marido e disse: “Oh! Era você!”. Parecendo tranqüilizar-se, novamente fechou os olhos e dormiu. Porém, instantes depois, mais uma vez abriu os olhos, fitou o marido e disse: “Oh! Era você!”. Em seguida cerrou os olhos e dormiu serenamente. Depois que a mesma coisa aconteceu pela terceira vez, caiu num sono profundo. Quando acordou, depois de algumas horas, ela constatou, maravilhada, que seu reumatismo tinha desaparecido completamente. O marido, muito admirado, perguntou:

- Querida, me diga uma coisa: enquanto eu lhe fazia massagens, você acordou três vezes, e três vezes me olhou meio surpresa e disse: “Ah! Era você!”. Depois adormecia como se estivesse tranqüilizada. Por que?

E a esposa explicou:

- A massagem me dava uma sensação tão agradável que acabei pegando no sono. Então, vi um ancião de cabelos e barbas brancos, envolto numa auréola, com majestoso aspecto como se fosse um deus. Ele se aproximava de mim e me afagava suavemente. Profundamente emocionada, acordei e vi que quem estava me tocando era você. Aí vinha o sono novamente. E a mesma coisa aconteceu três vezes...

Conforme disse acima, a partir desse acontecimento, a Sra. Shimizu nunca mais voltou a sofrer de reumatismo. Mas vamos ver como foi que ocorreu esse milagre. Originariamente, Deus é um ser invisível. Porém, em casos como esse, em que o amor de uma pessoa por outra torna-se tão intenso a ponto de se manifestar “concretamente”, esse amor passa a constituir uma espécie de “aparelho receptor” que capta, de maneira concreta, as “vibrações de amor” emanadas da Vida de Deus, que estão irradiadas no Universo, e faz com que elas apareçam sob um determinado aspecto. É exatamente como o aparelho de rádio que capta as ondas de rádio, ou o televisor que capta as ondas eletromagnéticas e faz aparecer no vídeo as imagens de pessoas e coisas. As ondas eletromagnéticas que percorrem o espaço são invisíveis aos nossos olhos. Mas, através do aparelho receptor de televisão, elas se tornam visíveis, aparecendo no vídeo sob as mais variadas formas (pessoas, animais, objetos, paisagens, etc.). Analogamente, a imagem de Deus, de um anjo, de “Kanzeon-Bossatsu” (Deusa das Graças, do Budismo), etc., que aparecem em visões, são a materialização das ondas espirituais do amor de Deus que preenchem o Universo.

Sabemos que Deus, como “Lei que rege o Universo”, está em toda parte. É a Sua inteligência que, manifestando-se em forma de leis da natureza, faz todo o Universo se mover segundo uma rigorosa ordem. Lembremo-nos, porém, de que Deus não é apenas a “Sabedoria” que preenche o Universo. Ele é, ao mesmo tempo, o “Amor” que preenche todo o Universo; manifesta-Se não apenas como “Lei”, mas também em forma personificada. No caso do casal Shimizu, acima narrado, o que ocorreu foi a manifestação personificada de Deus, de modo semelhante ao aparecimento de uma imagem no vídeo do televisor.


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