Joel S. Goldsmith
No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne... "O Verbo se fez carne" — mas ainda é o Verbo. Não mudou sua natureza, sua qualidade ou substância por ter-se feito carne. A Causa tornou-se visível como efeito, mas a essência ou substância continua sendo o Verbo, o Espírito ou Consciência.
Por este prisma, podemos compreender que não há um universo espiritual e um universo material, mas que o que se nos apresenta como o nosso mundo é o Verbo feito carne, o Espírito tornado visível, ou a Consciência que se expressa como idéia.
Todo o erro que se consumou durante os séculos baseia-se na teoria ou crença em dois mundos, um sendo o reino celeste ou vida espiritual e o outro um mundo material ou existência mortal, separados um do outro.
Apesar desta crença em dois mundos, o homem sempre tentou levar a harmonia às mazelas da existência humana, tentando, por meio da oração, fazer contato com o tal 'outro mundo', ou reino espiritual, para que o Espírito, ou Deus, atue na chamada existência material.
Comecemos por entender que o nosso mundo não é um mundo errôneo, mas trata-se do reino da realidade do qual mantemos um falso conceito. Para obtermos saúde e harmonia em nossa vida, não temos de nos desfazer nem mesmo mudar este universo material e efêmero, mas bastará corrigirmos a visão limitada que temos da nossa existência.
O pesquisador da verdade começa sua busca com um problema — talvez com vários deles. Os primeiros anos de sua busca são empregados na superação da desarmonia e na cura das doenças pela oração a um Poder mais alto ou pela aplicação das leis espirituais ou da verdade às condições humanas. Chega, porém, o dia em que percebe que a aplicação da verdade aos problemas humanos já não funciona mais, ou, pelo menos, não como funcionava no início, e que já não traz a mesma inspiração e satisfação aos seus estudos.
Por fim receberá, eventualmente, a grande revelação: os mortais podem assumir a imortalidade apenas na medida em que anulem a mortalidade — eles não podem acrescentar harmonia de espiritualidade imortal às condições humanas. Deus não criou nem rege as coisas humanas. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois que lhe parecem loucura: nem pode entendê-las, porque só se podem discernir espiritualmente."
Estaremos nós buscando as "coisas do Espírito de Deus" com algum propósito humano? Ou de fato estamos nos esforçando para nos livrar do que é mortal, para podermos contemplar a harmonia do reino espiritual?
Enquanto lutamos e combatemos os pretensos poderes deste mundo, combatendo a doença, o pecado e a carência, o sentido espiritual, por sua vez, revela-nos que "O meu reino não é deste mundo". Somente quando soubermos transcender o desejo de melhorar nossa vida humana é que nos colocaremos na posição de compreender o sentido desta mensagem vital; quando deixamos os limites do aperfeiçoamento humano, temos o primeiro vislumbre do significado das palavras: "eu venci o mundo".
Não teremos vencido o mundo enquanto mais buscarmos seus prazeres e menos desejarmos suas dores. E se não superarmos a postura de luta contra as coisas do mundo, não entraremos no reino das coisas do céu.
"Porque todo o que é nascido de Deus, vence o mundo." A consciência espiritual vence o mundo — tanto os prazeres como as dores do mundo. Não podemos conseguir a evangelização da humanidade pelo poder mental ou pela força física, mas apenas pela visão espiritual da vida, que pode ser cultivada por todos que devotam seus pensamentos às coisas do Espírito.
"Porque tudo o que está no mundo, os prazeres da carne, os prazeres dos olhos, o orgulho, não vem do Pai — vem do mundo." Observemos, por um pouco de tempo, nossos pensamentos, nossas ambições e interesses e vejamos se a nossa mente está voltada para a nossa saúde, para os prazeres dos sentidos ou para os ganhos mundanos. Se constatarmos tais pensamentos mundanos, aprendamos a afastá-los, pois já não estamos no caminho do aperfeiçoamento das coisas humanas, mas a caminho do reino espiritual.
"Não tenhas amor ao mundo nem ao que é do mundo. Pois no homem que ama o mundo não está o amor do Pai." Significaria isto que devemos nos tornar ascetas? Deveríamos desejar uma vida diferente do que é normal, desprovida de alegria e de sucesso? Não nos enganemos. Somente aqueles que aprenderam a manter sua atenção nas coisas do Espírito saborearam a completa alegria do lar, do companheirismo e dos empreendimentos de sucesso. Somente aqueles que em certo grau se centraram em Deus encontraram segurança, proteção e paz em um mundo combalido pela guerra. O pensamento espiritual não nos afasta do nosso meio normal, não nos priva do amor e do companheirismo tão necessários para uma vida plena. Ele apenas coloca tudo isto em um nível mais alto, onde não mais dependemos da sorte, das mudanças ou do azar, onde se manifesta o valor do que chamamos de cenário da vida.
"Não vos esforceis pelo alimento que perece, mas pelo alimento que dura pela vida eterna... Pois que o Reino de Deus não consiste em comer e beber, mas na justiça, na paz e no contentamento no Espírito Santo."
Quando nos defrontarmos com um problema humano, em vez de nos esforçarmos para melhorar as humanas condições, afastemos essa imagem e concentremo-nos na presença do Espírito divino em nós. Esse Espírito dissolve as aparências humanas e revela a harmonia espiritual, ainda que essa harmonia se nos apresente como uma melhora de saúde ou de riqueza. Quando Jesus alimentou as multidões, o que apareceu como pão e peixe foi a sua consciência espiritual de abundância. Quando curou os doentes, foi o seu sentimento da Presença Divina que se manifestou como saúde, força e harmonia.
Tudo isso pode ser resumido nas palavras de Paulo: "Voltai vosso olhar para as coisas do alto, não para as coisas da terra".
Vivemos em um universo espiritual, mas a finitude de nossos sentidos desenhou para nós uma imagem de limitações. Enquanto tivermos nossos pensamentos voltados para o cenário à nossa frente — "este mundo" —, estaremos nos esforçando para melhorá-lo ou mudá-lo. Mas, assim que elevarmos nosso olhar e não mais nos preocuparmos com o que comer, beber ou vestir, começaremos a perceber a realidade espiritual; e embora nos pareça apenas uma crença mais perfeita, é de fato a manifestação mais intensa da realidade. Esta manifestação traz consigo uma alegria inimaginável, aqui e agora, uma satisfação com a qual nem sonhamos e o amor de todos com quem fazemos contato, mesmo daqueles que desconhecem a fonte da nova vida que descobrimos.
"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não como o mundo a dá." "Não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus... Coisas que também falamos, não com as palavras ditadas pela sabedoria dos homens, mas como as ensina o Espírito Santo... O homem natural não compreende as coisas do Espírito, que lhe parecem loucura; nem pode compreendê-las porque elas se discernem espiritualmente."
Quantas vezes nos enganamos neste ponto! Com quanta freqüência tentamos compreender a verdade espiritual com nosso intelecto humano! E isso leva à indigestão mental, pois que tentamos digerir alimento espiritual com nossa mente erudita. Isso não funciona. A verdade não é um processo de raciocínio, e por isso só pode ser entendida espiritualmente. A verdade não está normalmente na esfera do nosso entendimento, e, quando parece estar, deve ser investigada mais profundamente para verificar sua autenticidade. Temos de desconfiar de uma verdade que nos pareça fácil de compreender.
Jesus caminhou sobre as águas, alimentou multidões com poucos pães e peixes, curou os doentes e ressuscitou os mortos — parece aceitável para o seu intelecto? Se o princípio subjacente a essas experiências pudesse ser entendido com a inteligência, todas as igrejas o ensinariam como um meio viável e recomendariam seu uso. Este princípio, porém, só é apanhado pelo sentido espiritual, e esta 'consciência espiritual elevada' pode fazer as coisas que o Cristo fez. Aquilo que foi possível à Cristo-consciência no tempo de Jesus, é possível à mesma Consciência agora.
Cultivando este sentido espiritual, nosso sucesso será tanto maior na proporção que abandonarmos o esforço mental e nos tornarmos receptivos às coisas que o Espírito de Deus nos ensina. Em vez de tentarmos fazer que o Espírito atue sobre nossos corpos e nossas coisas materiais, aprendamos a desviar nosso olhar desses quadros terrenos, dirigindo-o para as coisas do alto. Quando "descermos novamente à terra", perceberemos que as desarmonias e as limitações dos sentidos desapareceram, e apareceu mais claramente a Realidade.
O Reino de Deus não consiste em mais e melhor matéria, nem encerra um mais rico vocabulário sobre a verdade. Todavia, os frutos da compreensão espiritual são uma maior harmonia, paz, prosperidade, contentamento e amizades e relacionamentos mais próximos do ideal.
Assim compreendemos que "agradecemos por isso continuamente a Deus pois vós, que recebestes a palavra de Deus ouvida de nós, não a recebestes como palavra humana, mas como ela é de fato — a palavra de Deus, que atua sobre vós para que nela creiais".
Para recebermos a Palavra de Deus, ou sentido espiritual, precisamos mais sentir que raciocinar.
E é a isso que a Bíblia se refere com a expressão receber a palavra "no coração". Notemos que o desenvolvimento da consciência espiritual redunda em maior capacidade de intuir a harmonia do Ser. Compreendemos que nem a visão, nem o ouvido, o tato, o olfato ou o paladar podem nos revelar a verdade espiritual ou sua harmonia; por isso tal revelação só pode nos acontecer através de outra faculdade, a intuição, que atua pelo sentimento.
Até o momento, ao orar ou meditar, vinha-nos de imediato uma enxurrada de palavras e pensamentos. Talvez estivéssemos começando a reafirmar a verdade e a rejeitar o erro. É, porém, evidente que isso ocorria completamente no domínio da mente humana.
Ao cultivarmos o sentido espiritual, tornamo-nos receptivos aos pensamentos que emanam das profundezas do nosso ser. Mais do que falar a Palavra, tornamo-nos seus ouvintes. Nesse estado, a sintonia com o Espírito é tal que sentimos a harmonia do Ser; sentimos a presença real de Deus. Transcendidos os cinco sentidos materiais, nossa faculdade intuitiva fica desperta, receptiva e sensível às coisas do Espírito; e após este renascimento espiritual, começamos uma nova existência.
Estávamos, até aqui, ocupados com a palavra da Verdade; e daqui em diante nos ocuparemos apenas com o Espírito da Verdade. Já não nos interessa saber o que seja a Verdade, mas sim em sentir a Verdade. E isso conseguimos na medida em que dedicarmos menos empenho na letra do que à receptividade e ao sentir. A palavra "sentir", aliás, se refere também à revelação, à consciência e ao sentido da verdade. Agora já não estamos falando da verdade, e sim recebendo a verdade, e aquilo que recebemos no silêncio, podemos falar abertamente e com autoridade.
A cura espiritual é o resultado natural de uma consciência divinamente iluminada. Mas esta iluminação só nos é dada na medida em que estejamos receptivos e sensíveis a ela.
É um mal entendido associarmos a idéia de imortalidade à pessoa humana ou ao sentido individualista de eu. A morte não produz a imortalidade nem põe fim ao sentido do eu, e tampouco a continuação do humano viver leva à obtenção da imortalidade.
Obtemos a imortalidade na medida em que superamos o sentido pessoal do eu, nesta vida ou depois dela. E, ao nos despojarmos do nosso ego e alcançarmos a consciência do nosso Eu verdadeiro — nossa Realidade, ou Consciência divina —, chegamos à imortalidade. E isso pode acontecer aqui e agora.
Ao contrário, o desejo de perpetuarmos nosso falso conceito de corpo e seu bem-estar nos amarra à morte, nos enleia na mortalidade.
Mais que a idéia de "acréscimo" vindo de 'fora', o primeiro passo para obtermos a imortalidade é viver a partir do CENTRO do nosso ser, como uma IDÉIA de DESDOBRAMENTO DO NOSSO ÍNTIMO.
É mais no sentido de DAR do que de receber, de SER mais que obter. Nessa consciência não há julgamento ou crítica, ódio ou medo, e sim um sentimento contínuo de amor e de perdão.
Não é coisa fácil descrever a alegria e a paz da imortalidade, pois para aqueles que não querem abandonar seus atuais conceitos de ser, ela pode transparecer um processo de extinção. Mas não é bem isso: ela é a eterna preservação de tudo o que é real, belo, nobre, harmonioso, gracioso, altruísta e pacífico. É a realidade, trazida à luz, em substituição à ilusão dos sentidos. É o despertar da consciência da infinitude do ser individual, em substituição ao sentido finito de existência. O egoísmo e o amor-próprio se vão de nós quando temos a percepção da divindade do nosso ser.
Esta percepção nos ensina a ser pacientes e indulgentes com aqueles que ainda lutam com a consciência material, mortal. E isto é estar no mundo, mas sem pertencer ao mundo.
Por este prisma, podemos compreender que não há um universo espiritual e um universo material, mas que o que se nos apresenta como o nosso mundo é o Verbo feito carne, o Espírito tornado visível, ou a Consciência que se expressa como idéia.
Todo o erro que se consumou durante os séculos baseia-se na teoria ou crença em dois mundos, um sendo o reino celeste ou vida espiritual e o outro um mundo material ou existência mortal, separados um do outro.
Apesar desta crença em dois mundos, o homem sempre tentou levar a harmonia às mazelas da existência humana, tentando, por meio da oração, fazer contato com o tal 'outro mundo', ou reino espiritual, para que o Espírito, ou Deus, atue na chamada existência material.
Comecemos por entender que o nosso mundo não é um mundo errôneo, mas trata-se do reino da realidade do qual mantemos um falso conceito. Para obtermos saúde e harmonia em nossa vida, não temos de nos desfazer nem mesmo mudar este universo material e efêmero, mas bastará corrigirmos a visão limitada que temos da nossa existência.
O pesquisador da verdade começa sua busca com um problema — talvez com vários deles. Os primeiros anos de sua busca são empregados na superação da desarmonia e na cura das doenças pela oração a um Poder mais alto ou pela aplicação das leis espirituais ou da verdade às condições humanas. Chega, porém, o dia em que percebe que a aplicação da verdade aos problemas humanos já não funciona mais, ou, pelo menos, não como funcionava no início, e que já não traz a mesma inspiração e satisfação aos seus estudos.
Por fim receberá, eventualmente, a grande revelação: os mortais podem assumir a imortalidade apenas na medida em que anulem a mortalidade — eles não podem acrescentar harmonia de espiritualidade imortal às condições humanas. Deus não criou nem rege as coisas humanas. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois que lhe parecem loucura: nem pode entendê-las, porque só se podem discernir espiritualmente."
Estaremos nós buscando as "coisas do Espírito de Deus" com algum propósito humano? Ou de fato estamos nos esforçando para nos livrar do que é mortal, para podermos contemplar a harmonia do reino espiritual?
Enquanto lutamos e combatemos os pretensos poderes deste mundo, combatendo a doença, o pecado e a carência, o sentido espiritual, por sua vez, revela-nos que "O meu reino não é deste mundo". Somente quando soubermos transcender o desejo de melhorar nossa vida humana é que nos colocaremos na posição de compreender o sentido desta mensagem vital; quando deixamos os limites do aperfeiçoamento humano, temos o primeiro vislumbre do significado das palavras: "eu venci o mundo".
Não teremos vencido o mundo enquanto mais buscarmos seus prazeres e menos desejarmos suas dores. E se não superarmos a postura de luta contra as coisas do mundo, não entraremos no reino das coisas do céu.
"Porque todo o que é nascido de Deus, vence o mundo." A consciência espiritual vence o mundo — tanto os prazeres como as dores do mundo. Não podemos conseguir a evangelização da humanidade pelo poder mental ou pela força física, mas apenas pela visão espiritual da vida, que pode ser cultivada por todos que devotam seus pensamentos às coisas do Espírito.
"Porque tudo o que está no mundo, os prazeres da carne, os prazeres dos olhos, o orgulho, não vem do Pai — vem do mundo." Observemos, por um pouco de tempo, nossos pensamentos, nossas ambições e interesses e vejamos se a nossa mente está voltada para a nossa saúde, para os prazeres dos sentidos ou para os ganhos mundanos. Se constatarmos tais pensamentos mundanos, aprendamos a afastá-los, pois já não estamos no caminho do aperfeiçoamento das coisas humanas, mas a caminho do reino espiritual.
"Não tenhas amor ao mundo nem ao que é do mundo. Pois no homem que ama o mundo não está o amor do Pai." Significaria isto que devemos nos tornar ascetas? Deveríamos desejar uma vida diferente do que é normal, desprovida de alegria e de sucesso? Não nos enganemos. Somente aqueles que aprenderam a manter sua atenção nas coisas do Espírito saborearam a completa alegria do lar, do companheirismo e dos empreendimentos de sucesso. Somente aqueles que em certo grau se centraram em Deus encontraram segurança, proteção e paz em um mundo combalido pela guerra. O pensamento espiritual não nos afasta do nosso meio normal, não nos priva do amor e do companheirismo tão necessários para uma vida plena. Ele apenas coloca tudo isto em um nível mais alto, onde não mais dependemos da sorte, das mudanças ou do azar, onde se manifesta o valor do que chamamos de cenário da vida.
"Não vos esforceis pelo alimento que perece, mas pelo alimento que dura pela vida eterna... Pois que o Reino de Deus não consiste em comer e beber, mas na justiça, na paz e no contentamento no Espírito Santo."
Quando nos defrontarmos com um problema humano, em vez de nos esforçarmos para melhorar as humanas condições, afastemos essa imagem e concentremo-nos na presença do Espírito divino em nós. Esse Espírito dissolve as aparências humanas e revela a harmonia espiritual, ainda que essa harmonia se nos apresente como uma melhora de saúde ou de riqueza. Quando Jesus alimentou as multidões, o que apareceu como pão e peixe foi a sua consciência espiritual de abundância. Quando curou os doentes, foi o seu sentimento da Presença Divina que se manifestou como saúde, força e harmonia.
Tudo isso pode ser resumido nas palavras de Paulo: "Voltai vosso olhar para as coisas do alto, não para as coisas da terra".
Vivemos em um universo espiritual, mas a finitude de nossos sentidos desenhou para nós uma imagem de limitações. Enquanto tivermos nossos pensamentos voltados para o cenário à nossa frente — "este mundo" —, estaremos nos esforçando para melhorá-lo ou mudá-lo. Mas, assim que elevarmos nosso olhar e não mais nos preocuparmos com o que comer, beber ou vestir, começaremos a perceber a realidade espiritual; e embora nos pareça apenas uma crença mais perfeita, é de fato a manifestação mais intensa da realidade. Esta manifestação traz consigo uma alegria inimaginável, aqui e agora, uma satisfação com a qual nem sonhamos e o amor de todos com quem fazemos contato, mesmo daqueles que desconhecem a fonte da nova vida que descobrimos.
"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não como o mundo a dá." "Não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus... Coisas que também falamos, não com as palavras ditadas pela sabedoria dos homens, mas como as ensina o Espírito Santo... O homem natural não compreende as coisas do Espírito, que lhe parecem loucura; nem pode compreendê-las porque elas se discernem espiritualmente."
Quantas vezes nos enganamos neste ponto! Com quanta freqüência tentamos compreender a verdade espiritual com nosso intelecto humano! E isso leva à indigestão mental, pois que tentamos digerir alimento espiritual com nossa mente erudita. Isso não funciona. A verdade não é um processo de raciocínio, e por isso só pode ser entendida espiritualmente. A verdade não está normalmente na esfera do nosso entendimento, e, quando parece estar, deve ser investigada mais profundamente para verificar sua autenticidade. Temos de desconfiar de uma verdade que nos pareça fácil de compreender.
Jesus caminhou sobre as águas, alimentou multidões com poucos pães e peixes, curou os doentes e ressuscitou os mortos — parece aceitável para o seu intelecto? Se o princípio subjacente a essas experiências pudesse ser entendido com a inteligência, todas as igrejas o ensinariam como um meio viável e recomendariam seu uso. Este princípio, porém, só é apanhado pelo sentido espiritual, e esta 'consciência espiritual elevada' pode fazer as coisas que o Cristo fez. Aquilo que foi possível à Cristo-consciência no tempo de Jesus, é possível à mesma Consciência agora.
Cultivando este sentido espiritual, nosso sucesso será tanto maior na proporção que abandonarmos o esforço mental e nos tornarmos receptivos às coisas que o Espírito de Deus nos ensina. Em vez de tentarmos fazer que o Espírito atue sobre nossos corpos e nossas coisas materiais, aprendamos a desviar nosso olhar desses quadros terrenos, dirigindo-o para as coisas do alto. Quando "descermos novamente à terra", perceberemos que as desarmonias e as limitações dos sentidos desapareceram, e apareceu mais claramente a Realidade.
O Reino de Deus não consiste em mais e melhor matéria, nem encerra um mais rico vocabulário sobre a verdade. Todavia, os frutos da compreensão espiritual são uma maior harmonia, paz, prosperidade, contentamento e amizades e relacionamentos mais próximos do ideal.
Assim compreendemos que "agradecemos por isso continuamente a Deus pois vós, que recebestes a palavra de Deus ouvida de nós, não a recebestes como palavra humana, mas como ela é de fato — a palavra de Deus, que atua sobre vós para que nela creiais".
Para recebermos a Palavra de Deus, ou sentido espiritual, precisamos mais sentir que raciocinar.
E é a isso que a Bíblia se refere com a expressão receber a palavra "no coração". Notemos que o desenvolvimento da consciência espiritual redunda em maior capacidade de intuir a harmonia do Ser. Compreendemos que nem a visão, nem o ouvido, o tato, o olfato ou o paladar podem nos revelar a verdade espiritual ou sua harmonia; por isso tal revelação só pode nos acontecer através de outra faculdade, a intuição, que atua pelo sentimento.
Até o momento, ao orar ou meditar, vinha-nos de imediato uma enxurrada de palavras e pensamentos. Talvez estivéssemos começando a reafirmar a verdade e a rejeitar o erro. É, porém, evidente que isso ocorria completamente no domínio da mente humana.
Ao cultivarmos o sentido espiritual, tornamo-nos receptivos aos pensamentos que emanam das profundezas do nosso ser. Mais do que falar a Palavra, tornamo-nos seus ouvintes. Nesse estado, a sintonia com o Espírito é tal que sentimos a harmonia do Ser; sentimos a presença real de Deus. Transcendidos os cinco sentidos materiais, nossa faculdade intuitiva fica desperta, receptiva e sensível às coisas do Espírito; e após este renascimento espiritual, começamos uma nova existência.
Estávamos, até aqui, ocupados com a palavra da Verdade; e daqui em diante nos ocuparemos apenas com o Espírito da Verdade. Já não nos interessa saber o que seja a Verdade, mas sim em sentir a Verdade. E isso conseguimos na medida em que dedicarmos menos empenho na letra do que à receptividade e ao sentir. A palavra "sentir", aliás, se refere também à revelação, à consciência e ao sentido da verdade. Agora já não estamos falando da verdade, e sim recebendo a verdade, e aquilo que recebemos no silêncio, podemos falar abertamente e com autoridade.
A cura espiritual é o resultado natural de uma consciência divinamente iluminada. Mas esta iluminação só nos é dada na medida em que estejamos receptivos e sensíveis a ela.
É um mal entendido associarmos a idéia de imortalidade à pessoa humana ou ao sentido individualista de eu. A morte não produz a imortalidade nem põe fim ao sentido do eu, e tampouco a continuação do humano viver leva à obtenção da imortalidade.
Obtemos a imortalidade na medida em que superamos o sentido pessoal do eu, nesta vida ou depois dela. E, ao nos despojarmos do nosso ego e alcançarmos a consciência do nosso Eu verdadeiro — nossa Realidade, ou Consciência divina —, chegamos à imortalidade. E isso pode acontecer aqui e agora.
Ao contrário, o desejo de perpetuarmos nosso falso conceito de corpo e seu bem-estar nos amarra à morte, nos enleia na mortalidade.
Mais que a idéia de "acréscimo" vindo de 'fora', o primeiro passo para obtermos a imortalidade é viver a partir do CENTRO do nosso ser, como uma IDÉIA de DESDOBRAMENTO DO NOSSO ÍNTIMO.
É mais no sentido de DAR do que de receber, de SER mais que obter. Nessa consciência não há julgamento ou crítica, ódio ou medo, e sim um sentimento contínuo de amor e de perdão.
Não é coisa fácil descrever a alegria e a paz da imortalidade, pois para aqueles que não querem abandonar seus atuais conceitos de ser, ela pode transparecer um processo de extinção. Mas não é bem isso: ela é a eterna preservação de tudo o que é real, belo, nobre, harmonioso, gracioso, altruísta e pacífico. É a realidade, trazida à luz, em substituição à ilusão dos sentidos. É o despertar da consciência da infinitude do ser individual, em substituição ao sentido finito de existência. O egoísmo e o amor-próprio se vão de nós quando temos a percepção da divindade do nosso ser.
Esta percepção nos ensina a ser pacientes e indulgentes com aqueles que ainda lutam com a consciência material, mortal. E isto é estar no mundo, mas sem pertencer ao mundo.
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