sábado, fevereiro 21, 2009

É Deus nosso servo? (01)


Joel S. Goldsmith

Para a maior parte dos homens, Deus continua sendo o grande “Desconhecido”, cultuado pelos ignorantes. Poucos são os que tenham feito a tentativa de saber o que é Deus; poucos são os que tomam a sério a pergunta: “há um Deus?” De onde sei eu que Deus existe? Foi-me dito que há um Deus; leio livros sobre Deus; mas, poderia eu afirmar sob juramento que Deus existe, se fosse convidado a isto? Que prova tenho eu da existência de Deus? Será que o vi face a face? Será que o senti em mim?...”

Como responderias tu a estas perguntas? Poderias dizer: “Sim, eu sei que Deus existe; Ele é assim e assim”?

Como o descreverias? Será que Deus pode ser descrito?

Deus não é aquilo e não é assim como o grosso da humanidade o imagina. Ele não é nada daquilo que se possa pensar ou imaginar, porque todo o pensamento que o homem possa ter de Deus é necessariamente limitado – porquanto esse pensamento foi creado por nós ou foi recebido de outros homens.

Espera um momento e reflete, onde os teus pensamentos sobre Deus têm a sua origem? De onde os recebeste? Não é que tu mesmo fabricaste essas tuas idéias sobre Deus, depois de teres lido ou desde a infância, te foram impingidas? Ou poderás afirmar que o teu conceito de Deus é resultado de tua própria experiência interior?

Para Jesus, que havia realizado a sua perfeita unidade com Deus, era Deus o “Pai” – “o Pai em mim”. Para nós, porém, a idéia de Deus como Pai reveste a forma de um determinado pai. Cada um de nós tem do pai uma idéia determinada, que é o resultado de suas próprias experiências humanas. Hoje em dia, os filhos consideram, muitas vezes, seus pais como seus servos, cuja função é fazer todas as vontades deles. E muitos adultos transferiram para o Deus Pai, simplesmente, o conceito que eles têm do pai humano; Deus é, para eles, feito à imagem e semelhança do pai que eles conheceram desde pequenos. Imaginam Deus como um ser sobre-humano sempre à espera de fazer favores aos homens; e esses favores divinos podem ser assegurados pelo homem, deste ou daquele modo; acham que, por meio da combinação de certas fórmulas verbais, o homem possa levar Deus a lhe conceder sua graça, ao ponto de realizar para eles a cura de qualquer doença.

Mas esse Deus não existe. Não necessitamos do favor de Deus, assim como não necessitamos do favor dos homens. Toda a benevolência de Deus que já necessitamos – já a temos agora mesmo.

Que queria Jesus dizer quando chamava Deus nosso Pai? Não o sabes?

Tampouco sabia eu, outrora, quando me perguntava: “Que é Deus como Pai?”

E veio-me a resposta: “Pai é o princípio creador”. Deus é a força creadora do Universo, e sua natureza é infinito amor, universal.

A natureza de Deus, pois, é esta: O que Deus não está fazendo agora mesmo, não o poderá fazer nunca, e ninguém o pode levar a fazê-lo.

É importante que compreendamos claramente esta verdade. Seria pura perda de tempo pedir a Deus e esperar que ele faça algo que já não esteja fazendo agora mesmo. Deus é imutável, e ninguém o pode tornar mutável. Ninguém pede a Deus para que, de manhã, faça nascer o Sol, e, à noite, o faça pôr-se; ninguém pede a Deus para que haja maré e vazante nos mares; ninguém pede a Deus para que brotem flores na roseira, que nasçam abacaxis no pé de abacaxi, que o leite produza manteiga; ninguém pede a Deus que mude as leis da gravitação para os automóveis ou para os aviões. Em resumo, parece que os homens reconhecem a Deus o direito de governar o seu mundo assim como o está governando – enquanto isto não atinja o seu pequeno ego. Mas, quando entra em questão o ego, o homem se dirige a Deus e diz: “ó Deus faze o favor de fazer isto ou aquilo por amor de mim! Protege-me, protege os meus! Providencia para que eu e os meus tenhamos de comer e de vestir!...”

É evidente que Deus não reage a semelhante oração. Deus providenciou para que, na terra e no fundo dos mares, haja mais alimentos do que todos os povos do globo possam consumir. É inútil pedir a Deus por mais. A obra de Deus estava concluída desde o início – e ele viu que tudo era bom. É inútil querer pedir a Deus que modifique o seu Universo por causa de ti ou de mim, em prol da tua ou da minha família, em prol do teu ou do meu povo. Se quisermos receber a graça de Deus, é necessário que assumamos para com Deus uma atitude tal que a sua graça possa fluir para dentro de nós, assim como sempre fluiu e sempre fluirá. Em Deus nada pode mudar – no homem muito pode mudar.

O que importa é conhecer verdadeiramente a Deus, e isto se faz pela meditação da verdade. Quando, na meditação, focalizamos a natureza de Deus, logo percebemos que Deus é sabedoria e amor. Esse Deus sábio e amoroso nos dá plena certeza de que as nossas mudinhas de roseira vão nos dar rosas quando as fincamos no chão, e não alguma outra coisa indesejável.

No meio de uma tal meditação, certamente, sentirás em ti a certeza: “Que teria eu de temer? Há um Deus e esse Deus é amor. E isto põe termo a todos os meus problemas. Se Deus não fosse amor, existiria um problema real para mim. Mas, no momento em que eu sei que Deus é infinita sabedoria e que lhe apraz dar-me o reino, que é que poderia me inquietar? Posso esquecer tudo o que me poderia inquietar, e posso desde já começar a ajudar os homens que ainda não sabem que Deus é amor; ajudar àqueles que já ouviram estas palavras, mas não têm experiência delas; e enquanto eu os ajudo, surge em mim a consciência deste conhecimento.

No decurso da tua meditação sobre Deus, descobrirás que nunca houve um tempo em que Deus não existisse e, mesmo da limitada perspectiva do olhar humano isto significaria que também nunca haverá um tempo em que Deus deixe de existir. E com esta convicção nasce a consciência de que Deus é eterno. Da mesma forma, não há lugar em que Deus não exista. Os descobrimentos da astronomia mostram quão imensa é a creação de Deus; os sóis, as estrelas, as luas, os planetas mostram também a ordem sapiente que rege as suas órbitas.

Daí se segue o conhecimento natural: Se é verdade que tudo que é do Pai também é meu, então os atributos do Pai também são atributos do meu próprio ser; a mesma lei, a mesma ordem, a mesma sabedoria atuam também em minha vida. Tudo que perfaz a natureza e o modo-de-agir de Deus, isto perfaz também o meu e o teu ser humano.

Ora, uma vez que Deus é, ontem, hoje e sempre o mesmo Deus, não pode ele fazer algo hoje que não fez ontem ou não fará amanhã. Deus não pode dar saúde a ninguém; Deus não pode distribuir harmonia, prosperidade ou posição a ninguém. E, sendo Deus amor, não pode negar saúde, harmonia ou paz a ninguém.

Que espécie de Deus seria esse que te deixasse ficar doente até que tu resolvesses a lhe pedir saúde? Esse Deus não é senão um ser humano divinizado por ti, mas nunca o Deus verdadeiro. Deus é um Deus de onipotência, de onipresença, de onissapiência; e Ele conhece as tuas necessidades antes que tu mesmo as conheças. É do seu agrado dar-te o reino, e isto antes de qualquer tentativa da sua parte para o influenciares neste sentido. Mas não é precisamente isto que os homens tentam fazer? Não gastam os homens o seu tempo em descobrir meios e modos para induzir Deus a fazer algo por eles?

Quem não compreende a natureza de Deus como sendo o Sumo Bem procura utilizar-se de Deus para seus fins peculiares; tenta pôr a Verdade a seu serviço. Nós, porém, estejamos prontos para que Deus nos ponha a seu serviço, para que a Verdade nos ponha a serviço dela. Façamos de nós instrumentos idôneos pelos quais a Verdade possa se revelar, mas nunca tentemos pôr Deus a nosso serviço. Deus ou a Verdade não são servos nossos. São nossos senhores e soberanos, e nós somos servos deles.

Quem compreende a natureza de Deus nunca lhe pedirá coisa alguma. Deus só poderá doar a si mesmo, e este dom é suficiente para todas as nossas necessidades. Um Deus diferente deste, de qualquer modo, é uma fábula inventada pelos homens, um mito que os pagãos excogitaram, séculos antes do divino Mestre. Os gentios cultuavam muitos deuses, sempre com o fim de conseguirem deles alguma coisa. Quando não chovia, pediam chuva; quando chovia demais, pediam que a chuva cessasse; quando eram flagelados por enchentes e tempestades, suplicavam que Deus lhe pusesse termo; em tempo de carestia de víveres, pediam a Deus que lhes desse alimento. Orações dessa natureza são relíquias do tempo pagão em que os homens imaginavam Deus à sua própria imagem e semelhança, quando não tinham idéia do Deus verdadeiro. Quando não conseguiam obter de um único Deus o que tinham mister, inventavam muitos deuses; de um deles pediam chuva; de outro, boa colheita; de um terceiro, fertilidade; de um quarto deus, isto ou aquilo.

Mais tarde, quando Abraão trouxe a doutrina de um Deus único, a única mudança que seus adeptos fizeram consistiu no seguinte: em pedirem de um só Deus as dez coisas que outrora pediam a dez deuses. Rezavam a um só Deus, que os recompensava quando eram bons, e os castigava quando eram maus.

Deus, porém, não é assim. O Deus verdadeiro é aquele cuja chuva cai tanto sobre justos como sobre injustos, e cujo sol beneficia tanto os bons como os maus. Deus está igualmente ao alcance dos santos e dos pecadores. Olha imparcialmente para todos, independentemente de raça, cor ou credo, independentemente de religião ou falta de religião. As diferenças na vida de cada homem individual nada tem a ver com Deus; a sua causa está na ignorância ou na imperfeita experiência que os homens têm de Deus.

Quem pede a Deus por determinadas coisas – saúde, dinheiro, casa, amigos – procura fazer de Deus o seu servo, ao qual se possa dar ordens para cumprir a sua vontade de seu senhor humano. Pensas tu que Deus seja um instrumento a serviço de teu bel-prazer – ou deves tu ser um servo e uma alegria para ele? Acreditas realmente que o Deus do céu, ou do teu interior, esteja à espera do teu clamor para atender às tuas intenções e satisfazer os teus desejos? Ou é Deus o princípio creador espiritual do Universo, ao qual o cosmos serve, e ao qual também tu deves servir?

A humanidade vai a caminho do inferno enquanto espera que Deus seja o seu servo, em vez de reconhecer humildemente que tu e eu existimos para servir a Deus – assim como servem a Deus o Sol, a lua, as estrelas, as aves, os peixes e os mamíferos. Toda a creação tem por fim glorificar o Creador, e não o homem. Não é Deus que deve glorificar o homem, mas o homem deve glorificar a Deus. É necessário que invertamos o conceito tradicional que temos de Deus: não somos nós que tenhamos de ensinar e aconselhar a Deus – mas Deus tem de ensinar e aconselhar a nós.

Homem, mantém-te sempre pronto para receberes do teu interior o impulso da Verdade, para que a Verdade seja revelada por ti. Os céus proclamam a glória de Deus, e a terra anuncia de mil modos as suas obras – e também tu, ó homem, tens de entoar essa sinfonia universal, proclamando a glória de Deus – e não a tua. Não és tu que dás expressão a Deus – tu apenas o refletes – Deus se dá expressão a si mesmo, e tu és uma das formas pelas quais Deus se exprime. Deus se exprime a si mesmo de mil modos, e uma dessas expressões divinas se revela na forma do teu Eu – mas tu nada tens a ver com isto. Deus se reflete em tua pessoa. Tu és um reflexo de Deus. Deus não glorifica a ti ou a mim. Deus Se glorifica através de ti ou de mim. Quanto mais te aproximares desta idéia, tanto maior será a glória de Deus que testificas.

Perante Deus se desdobrará todo o joelho e se descobrirá toda a cabeça. “Lembra-te dele em todos os teus caminhos – e Ele te conduzirá”.

Não lhe fales sempre e por toda a parte dos teus desejos, das tuas virtudes, das virtudes da tua família, do teu povo. Não, não digas nada a Deus. Pensa nele. E como poderias pensar nele senão do seguinte modo:


“Deus, tu és a infinita sabedoria que creou este Universo, a sabedoria que sabe governar tudo sem nenhum auxílio da minha parte. Perdoa-me, Pai, se alguma vez te falei das minhas necessidades, das necessidades da minha família ou do meu povo. Perdoa-me, Pai, as muitas vezes que ergui a ti meus olhos, na esperança de que tu servisse aos meus desejos. Concede-me a compreensão de que fui creado a tua imagem e semelhança, a fim de testificar a tua glória. Os céus proclamam a tua glória e o firmamento anuncia as obras das tuas mãos.”



Um comentário:

  1. "Muitas pessoas fazem orações pedindo saúde e prosperidade. Essa é uma postura egocêntrica. A verdadeira oração é aquela em que se pede que seja feita a vontade de Deus." (Masaharu Taniguchi)

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