Agora, um diálogo entre um mestre iluminado e um discípulo buscador da Verdade. Ele é bem extenso. Leia-o inteiro: Não abandone a leitura até terminar. Somente assim, você poderá entendê-lo da maneira correta: Não com sua mente ou sua lógica, mas com sua percepção. Atente-se para perceber a simplicidade da existência, que está inserida nesse bate-papo.
Medite sobre esse diálogo:
-Mestre: Responda... por que você existe?
-Discípulo: Bem... Eu estou aqui, agora, não é? Ou, pelo menos, penso que estou. O fato é que eu não posso ignorar isso.
-Mestre: E por que você está aqui agora?
-Discípulo: Porque eu posso me perceber aqui, oras!
-Mestre: A questão é "por que?"... Você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe? (...) Não entre em ciclos viciosos e dê uma resposta coerente. A questão persiste: Por que você existe?
-Discípulo: Porque EU SOU!
-Mestre: Você continua dando voltas, em ciclos. E não responde a pergunta. Você existe porque é, ou é porque existe?
-Discípulo: Então, se for assim,não há resposta para isso, mestre. Não há um porquê... há um fato não-motivado.
-Mestre: Não é só porque você não sabe a resposta que ela não exista! E te garanto que você não é o único que procura a resposta. Pense além... você consegue. Pense além... é uma pergunta simples. Perguntas simples possuem respostas simples. Se você pensar logicamente, você só irá entrar em ciclos e ficará dando voltas sem sair do lugar: "o corpo esquenta porque as moléculas se agitam.... as moléculas se agitam porque o corpo esquenta...." Bah!
-Discípulo: Mas essa pergunta pode ser pensada? Acho que a resposta só pode vir se você sentí-la.
-Mestre: O método é seu... contanto que você encontre a resposta. Se vai pensar ou sentir, isso é critério seu.
-Discípulo: Obrigado por este koan!
-Mestre: O que é koan?
-Discípulo: Koan, no zen, são perguntas passadas àqueles que buscam despertar... perguntas que só podem ser respondidas se você pensar além. Há uma famosa pergunta do ganso: "há um ganso preso dentro de uma garrafa. Como vc poderá tirá-lo de lá sem matá-lo e sem quebrar a garrafa?"
-Mestre: Hmmmm... e qual é a resposta para esta pergunta? fiquei curioso...
-Discípulo: a resposta clássica para aquele koan, a primeira que foi dada pelo discípulo que conseguiu respondê-la, foi: "mestre, o ganso está fora!!!!"
-Mestre: Mas será que ele respondeu?
-Discípulo: Dizem que essa resposta foi proveniente de ele ter pensado além...
-Mestre: E o que o mestre disse?
-Discípulo: Não sei, a história só vai até aí.
-Mestre: E você responderia o quê?
-Discípulo: Não sei... prefiro tentar responder o seu koan. Me sinto mais a vontade com ele: "você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe?"
-Mestre: Esse não foi meu koan... esse foi o SEU! Isso não é um koan... é uma tautologia, uma artimanha sem resposta criada pela sua mente lógica. Veja bem o que você me respodeu quando eu lhe perguntei.... eu havia lhe perguntado outra coisa!
-Discípulo: A pergunta do ganso, se analisada do ponto de vista da mente, também é uma tautologia.
-Mestre: Não. A do ganso é bem objetiva... assim como aquela que eu te fiz e você não respondeu. Repito: "Por que você está aqui agora"?... a questão é:"por que?"
-Discípulo: Eu não respondi, porque ainda não fui capaz de pensar além. (Se é que esses tipos de pensamentos podem ser percebidos...)
-Mestre: E será que você seria capaz de perceber se eu te desse a resposta?
-Discípulo: Você não pode me dar a resposta!
-Mestre: Sim, eu posso. Mas se você vai aceitá-la ou não, já é outra história.
-Discípulo: Mestre, para você que já está aí do outro lado da margem, pode parecer muito fácil. Você já chegou; você já compreende e é evidente demais para você. Mas pra mim, isso é uma grande dificuldade. Então, por que eu existo? Vou lhe dar uma resposta, e a resposta é: "Eu aceito que eu existo!".
-Mestre: Eu não perguntei se você aceitava, ou não. Eu perguntei POR QUE? preste atenção... a pergunta já contém a resposta.
-Discípulo: ... ... ...
-Mestre: Insisto...a dificuldade está na sua cabeça. A pergunta é simples, e a resposta também. Vou dar uma dica: olhe para você mesmo, procure os seus erros, procure o que tem de ser mudado... você vai descobrir a resposta. Eu tenho fé nisso.
-Discípulo: MU!
-Mestre: Aí!! Eu sabia que você conseguiria!
-Discípulo: Não sei o que eu consegui... eu ainda não percebi nada.
-Mestre: Eu também não percebi nada... deve ser porque você não respondeu certo. Definitivamente, "MU" não é a resposta.
-Discípulo: Eu apenas desisti da resposta. O vácuo, por acaso, pode ser percebido? O NADA... quando você tenta estender a mão até ele, ele é como uma miragem: vai se afastando conforme você vai se aproximando. Como eu poderia percebê-lo, então?
-Mestre: O vácuo? E por que não poderia? Se não pudesse, como você se perceberia sendo o NADA? Você não me disse que tens certeza da existência porque você a percebe?
-Discípulo: Continuemos!! Quero muito encontrar essa resposta!!... Por que eu existo? Você disse que a resposta está na própria pergunta.
-Mestre: Fácil, não? Apenas 4 palavras contém a pergunta.
-Discípulo: Minha mente está interferindo muito na resposta! Ela está pensando em mil coisas... e eu continuo aqui, observando ela.
-Mestre: Esqueça todas essas coisas que você já sabe... vamos lá: se você tivesse acabado de nascer, e lhe fizessem essa pergunta, o que você responderia? Pense com a inocência de uma criança!
-Discípulo: Minha mente gostou disso que você acabou de dizer. (...) Hmmmm... vamos tomar sorvete?
-Mestre: Vamos! Amanhã. Agora está chovendo. Uma curiosidade: você não acredita em reencarnação, acredita?
-Discípulo: Acredito, sim!
-Mestre: acredita? E pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: A persistência dos desejos, quando se morre... às vezes alguém morre com vários desejos... Então, o corpo fica pra trás. Mas você, que é uma energia cármica, continua a existir e carrega os desejos que não conseguiu realizar com você. Vai renascer, portanto, até que você consiga dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: É isso o que pensas? Ou você leu isso em algum livro sobre budismo? Me parece muito com o conceito de carma... mas vamos lá: eu não perguntei o que é carma.
-Discípulo: Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar. Emoções, sensações....
-Mestre: Opa!!! pára!!
-Discípulo: hmmmm?
-Mestre: Isso que você falou por último tem algo a ver.... você está quase lá.
-Discípulo: Sim... sensações e emoções.
-Mestre: Isso não! Aquilo que você falou antes.
-Discípulo: Você vai renascer até dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: Nada disso!... Era pra você perceber as coisas simples da vida. Olha isso que você disse: "Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar"... Você falou essa frase e não deu impotância à ela.
-Discípulo: Isso é o que o meu pai diz. Mas essa frase ficou muito vaga.
-Mestre: Pense como criança. O que uma criança recém-nascida sabe fazer?
-Discípulo: Ela só sabe existtir!! Aliás, nem isso ela sabe. Ela existe não porque ela quer... mas porque existe.
-Mestre: Ahh!! Desisto. Você insiste em julgar: "ela só sabe existir".... até as suas próprias palavras você julga.
-Discípulo: (!) ... ok. Pergunte de novo!! Por favor!
-Mestre: Eu sei que o mundo é uma merda... mas por que o mundo existe, então? Por que eu existo pra você? Porque você existe pra mim? Por que o mundo existe pra você? E por aí vai... (...) Eu só perguntei da reencarnação pra obter isso de você: "Sem contar... que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar.". Eu não queria saber sobre a sua teoria de carma, que deve ter lido em algum livro budista.
-Discípulo: Mas essa frase também foi um julgamento, não foi?
-Mestre: Não, não foi. Isso foi uma conjectura... é diferente.
-Discípulo: O que é uma conjectura?
-Mestre: É uma afirmação categórica. Ela tende a ser neutra e não migra para pólos de julgamento. Quando eu digo que está chovendo, isso é uma conjectura minha. Eu só digo, porque percebo a chuva caindo lá fora. Eu não julguei se a chuva é boa ou ruim, se ela é necessária ou fútil... enfim.
-Discípulo: Certo... Então, quem sou eu? Qual seria a sua resposta?
-Mestre: Você é sempre você. Mas a profundidade do seu EU, você só vai descobrir quando entender porque esse EU existe.
-Discípulo: Hmmmmm.... e quem é você?
-Mestre: eu sou EU.
-Discípulo: A resposta está bem na frente da minha cara, né!
-Mestre: Se você é você, e eu sou eu...então somos EU's iguais... suponho. É isso que você pensa?
-Discípulo: sim, sim!
-Mestre: (!) Nhaaa... Esqueça... você não vai saber tão cedo.
-Discípulo: Hahaha... me desculpe, mas eu não aceito isso. Isso que acaba de dizer me soou como uma bambuzada na minha cabeça. Fique com ela pra você. E eu saberei, sim!!!
-Mestre: Então faça por onde. E se soou como bambuzada, foi porque você quis.
-Discípulo: Juro que estou fazendo tudo que posso.
-Mestre: Você insiste em encontrar a resposta naquilo que você acumulou de conhecimento.
-Discípulo: Certo.
-Mestre: Como criancinhas.... lembre. Buda não criou doutrina; as pessoas que o estudaram criaram uma doutrina. O verdadeiro Budismo nasceu com Buda e morreu com Buda. Não se prenda a doutrinas. Pense...como criancinhas.
-Discípulo: (...) O bom dessas suas provocações é que elas me fazem ficar cada vez mais atento para alguma coisa que eu não consigo pensar.
-Mestre: Juro que eu não queria te provocar. Só queria que você entendesse uma coisa muito importante para que você pudesse seguir seu caminho, mas acho que falhei.
-Discípulo: Mas olha só... suas provocações me fazem ficar alerta para alguma coisa que eu não consigo pensar. Então, nenhuma resposta vem pra mim... somente um silêncio seria a resposta. Assim, eu teria de agir sem pensar.
-Mestre: Então aja! responda! tente! Tente!! ao menos uma vez!!!
-Discípulo: Sim! eu preciso tentar isso. Pergunte-me de novo!
-Mestre: Vamos começar do começo (como já dizia o sábio matemático)!
-Discípulo: Manda bala!
-Mestre: Você acredita em reencarnação?
-Discípulo: ahhhhhh!! baaaaa ahhhhhhhh!!! ugghhhhhh!!!
-Mestre: O que???? Como?? acredita, ou não?
-Discípulo: Estou inquieto.
-Mestre: O que que você está pensando? Você não tem certeza se acredita ou não? Você tem dúvida de sua própria fé? Eu não acredito nisso....... Oh God!
-Discípulo: Não quero pensar!! Eu quero agir!... (mas isso foi um pensamento)... Ah! então foda-se tudo!
-Mestre: Vamos lá, novamente... vou facilitar!
Você acredita em reencarnação? ( ) sim ( ) não. Marque apenas uma,ok?
-Discípulo: (...) ... Sim!
-Mestre: Aeeeeeeeewwwww!!! Viu... foi fácil. E veja que não estou te julgando, e nem me posicionando quanto a tua fé. Se você acredita, então ela existe pra você, e pronto! ok? próxima pergunta... Pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: as lições.
-Mestre: Use as frases de seu pai. Eu preferi... hehehehe.
-Discípulo: Ok! Nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui. E uma vida só não é o suficiente para aprender tudo o que ele tem a oferecer...
-Mestre: A palavra "nascer", pra você, é consectária da palavra "existir"? ( ) sim ( ) Não
-Discípulo: não.
-Mestre: Por que?
-Discípulo: Hmmm... consectária quer dizer que é a mesma coisa?
-Mestre: Não. Consectária, eu quis usar no sentido de consequência. Ahh...eu só quis perguntar: "você nasce porque existe?" (Só que eu tenho certeza que você vai se perder nessa pergunta..)
-Discípulo: Ah tá... então a resposta é "sim". Pra você nascer, você tem que existir antes. (...) Eu me perdi?
-Mestre: Não, não... felizmente.
-Discípulo: Oba! Então, próxima pergunta!
-Mestre: Você respondeu que o que justifica a reencarnação são as coisas que tem de fazer quando nasce... ("nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui")... Então, por que você nasce nesse planeta?
-Discípulo: Você já existe! (mas é vazio)... então você nasce para poder aprender a se preencher com as coisas do mundo. Isso cria um contraste que precisa ser percebido.
-Mestre: Preste atenção! A sua resposta estava em cima da pergunta. Pare de pensar e me responda.
-Discípulo: Você queria que eu repetisse a mesma coisa que eu disse antes?
-Mestre: Sim. Por acaso a sua resposta mudou?
-Discípulo: Então tá...nascemos aqui porque temos muitas lições a aprender. (A minha resposta não mudou em nada. Eu apenas disse ela de uma forma diferente.)
-Mestre: Mas eu perguntei VOCÊ... VOCÊ!! Responda na primeira pessoa.... você não colabora comigo. Vamos lá: Por que você nasce?
-Discípulo: Minha resposta não mudou, porque eu não mudei. Hahahaha.... nasço, logo existo!
-Mestre: Meu Deus!!! ok. Vou te dar a resposta. (Até você consegue me confundir)....
Por que você nasce? (perguntei)..... Porque tenho muitas coisas a aprender(você respondeu). Concorda que você me respondeu isso?
-Discípulo: Sim, foi isso o que eu respondi.
-Mestre: Affff! Eu mudo a forma da pergunta e você me responde outra coisa... que complexo! Até parece que eu perguntei outra coisa, hahahaha!! Pois bem, a próxima: Antes de você nascer, você não precisava aprender nada?
-Discípulo: Eu sabia algumas coisas.
-Mestre: Então por que você nasceu?
-Discípulo: Pra mim aprender mais.
-Mestre: Então, antes de nascer, você não sabia tudo?
-Discípulo: Eu não. Se eu soubesse, eu não precisaria estar aqui.
-Mestre: E antes de você nascer, o que você era?
-Discípulo: Uma outra pessoa, em algum outro lugar.
-Mestre: Uma pessoa não é um ser humano "nascido" com vida?
-Discípulo: Eu não quero discutir Direito Privado!
-Mestre: Hey... apenas responda. CONFIE EM MIM! ( ) sim ( ) não.
-Discípulo: Sim... pessoa é ser humano com vida.
-Mestre: Você era pessoa antes de nascer?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Yeah! Então, o que você era antes de nascer?
-Discípulo: Eu era um nascituro(feto)!! hahahaha... com expectativas de direito.
-Mestre: E antes de ser um nascituro, o que era você? (esperma não vale!)
-Discípulo: ok. Antes de ser nascituro....eu não me lembro.
-Mestre: Ok. Você disse que acredita em reencarnação. Entre o fim de sua vida passada e o nascimento de sua vida atual, o que era você?
-Discípulo:Apenas uma presença escura e silenciosa prevalece, quando eu volto minha atenção para essa sua pergunta.
-Mestre: Sim. O que você chama essa presença? É você?
-Discípulo: creio ser isso, a presença.
-Mestre: A presença é VOCÊ, ou seja, sua existência incondicional, seu EU imortal?( )sim ( ) não.
-Discípulo:Eu devo ser essa presença da qual eu não me lembro. (...) Sim!
-Mestre: Então... antes de nascer, você era você... essa EXISTÊNCIA... e que nasceu porque não sabia de tudo (pois, caso contrário, não teria nascido; pois vc me disse que nasce porque tem muito o que aprender)...ok? Então, você era você antes de nascer... mas não deixou de ser você após ter nascido, de forma que você não morre quando seu corpo morre.
-Discípulo: Sim. Eu sempre soube disso.
-Mestre: Agora, a pergunta final: Então... Por que você existe?
-Discípulo: (...)
-Mestre: Ajudinha!! ( ) pra nascer ( ) pra não nascer ... Marque apenas uma, ok?
-Discípulo: ok. (...)
-Mestre: Você tá pensando né...
-Discípulo: Estou reavaliando a sua pergunta.
-Mestre: Eu sei... você pensa. (...) Seja ao menos coerente com tudo o que você já respondeu até agora. Não é possível que você vai negar tudo o que você disse!...
-Discípulo: Pra nascer!
-Mestre: Ufaaaaaa! E você nasce por que?
-Discípulo: Porque eu já existia!
-Mestre: Não se canse... repita sem medo a resposta anterior... não tenha medo, confie em mim! Você nasce por que? Você reencarna por que?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Se você existe pra aprender muitas coisas... logo... você EXISTE para aprender muitas coisas. Ufaaaaaa........ Por que você existe?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Aeeeeewwww!! E isso é o que? Um propósito, um motivo ou um desmotivo?
-Discípulo: Um propósito.
-Mestre: Isso garoto! então, você existe porque você tem um propósito. (ainda que estejamos falando apenas do propósito de aprender.)
-Discípulo: Sim, eu existo.
-Mestre: E por que você existe? (lembra do raciocínio que você veio construindo até aqui, por meio das respostas!)
-Discípulo: Eu existo porque eu tenho um propósito.
-Mestre: Aeeeewwww!! E por que as coisas existem? há algo que exista em vão?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Se fosse em vão, então, por que você existiria?
-Discípulo: Eu não existiria.
-Mestre: Você tem propósitos!! Você não é um propósito.... senão você não precisaria nascer, óbvio.
-Discípulo: (!) .... Isso!
-Mestre: Você não precisa de algo que já é. Logo, você não é um propósito. Ao contrário: você existe porque TEM propósitos.... e não porque é um.
-Discípulo: Hmmmm, mestre, acho que estou começando a entender. Continue com as perguntas, por favor!
-Mestre: Você já respondeu a pergunta que, supostamente, não tinha resposta no ínício de nossa conversa hoje a noite. Você progrediu. Foi árduo, mas progrediu.
-Discípulo: Não, não foi. Eu não tive que fazer esforço algum para compreender isso. Ao contrário, eu deveria ter me desfeito de meu esforço o quanto antes. Mas foi só agora que eu consegui fazer isso.
-Mestre: Quando eu perguntei por que você existia, você me respondeu que existia porque podia se perceber. Veja como a sua resposta parece tola, diante disso que você acaba de concluir.
-Discípulo: "Eu existo porque posso me perceber" x "Eu existo por que tenho um propósito".... hmmmmmmm.
-Mestre: Isso. A primeira leva a uma tautologia...
-Discípulo: A segunda me deixa mais envolvido comigo mesmo!
-Mestre: Compare as duas. "Eu existo porque me percebo, ou me percebo porque existo?".... Percebe a tautologia que você superou?
-Discípulo: Agora eu percebo.
-Mestre: Você existe porque você tem um propósito... assim como tudo o que existe possui um propósito. Nada existe em vão. Deus é sábio em tudo o que faz!
-Discípulo: E mesmo que a mente julgue que os propósitos não sejam grande coisa, ainda sim são propósitos.
-Mestre: Sim. Então não julguemos. A mente tem o seu valor e isso basta.
-Discípulo: ok!
-Mestre: Quando as coisas perdem o propósito, o que acontece? Quando um lápis já não pode ser usado?
-Discípulo: Eu não posso escrever.
-Mestre: Quando uma flor já não dá mais frutos? O que acontece?
-Discípulo: Eu não posso comê-los, nem apreciá-la.
-Mestre: Sim... isso porque eles acabam. Quando as coisas cumprem seu propósito, elas acabam. Tudo acaba!... Tudo existe porque tem um propósito, e quando o cumpre, acaba. Nada é eterno.
-Discípulo: E o discípulo aqui? E depois que o discípulo cumprir o seu propósito... ficarei bem?
-Mestre: Eis a verdade que você buscava. Quando você deixar de ter propósitos, você irá parar de nascer, ou renascer... enfim, você irá apenas existir. Entrará no estado de existência não-motivada.
-Discípulo: Esse estado de existência não-motivada... isso é o nirvana?
-Mestre: Eu prefiro chamar de céu, paraíso... o estado original. Fomos todos criados nús. Mas o homem quis ter propósito. O homem quis comer do fruto proibido do conhecimento... e por isso saiu do paraíso.
-Discípulo: E porque o nirvana, um estado de existência não-motivada, seria mais importante do que essa existência motivada?
-Mestre: Quando você entra no nirvana, você pára de sofrer. Tudo o que existe sofre: sofremos ao nascer, sofremos ao viver, sofremos ao morrer... Ser iluminado não significa ter alcançado o nirvana, o céu, ou seja lá como você o chame.Ser iluminado é compreender isso. Se você compreendeu isso hoje, então eu posso dizer que você é iluminado. Que importância tem isso? Bom... eu não sei. Mas quando você atribui importâncias, você julga...e cria propósitos e sofrimentos e... e.... apenas aceite.
-Discípulo: Estou entendendo. E vou tentar carregar isso dentro de mim, daqui pra frente. Aliás, eu vou carregar isso comigo.
-Mestre: Então não lamente mais nada... celebre as coisas. Agora, parece que você já entendeu. Seu interior está curado. Agora falta colocar isso pra fora... que tal? Ajudar o próximo, sem perder a humildade... o que acha?
-Discípulo: Claro!
-Mestre: Que tal cumprir o seu propósito? O motivo de sua existência?
-Discípulo: Quando eu começar a fazer isso... o propósito tomará forma... e começará a se cumprir... até que eu... enfim. Acho que entendi.
-Mestre: Que bom amigo! Você se iluminou!
-Discípulo: Hahahaahaha... não, não pode ser só isso! (...) Sério? A iluminação é isso? Só isso? Mas eu esperava tanto...
-Mestre: Você está não no fim, mas no começo de uma jornada que só começa, realmente, agora! Finalmente, você conseguiu achar o que tanto buscava.E isso só te deu mais responsabilidades. Antes não tivesse achado, não é?
-Discípulo: É verdade. Eu sinto isso.
-Mestre: Não se frustre, aceite... é assim. Você não é a Luz; você não é Deus, apenas parte dEle... apenas parte do Todo.
-Discípulo: Bom... eu aceito o que está aqui pra mim agora. Mas esse "eu esperava tanto" foi um propósito... que já se cumpriu. Agora o propósito que está se manifestando é uma frustração.
-Mestre: Aceite-a!
-Discípulo: É que eu me sinto diferente... mas não é nada de mais.
-Mestre: Sim... é algo bom. Apenas não é o que você esperava.
-Discípulo: E o nirvana... o nirvana é aquilo que está fora dos propósitos.
-Mestre: Vida é sofrimento... sofrimento está fora do nirvana. Você não está querendo alcançar o nirvana em vida, está? Ficou louco? enfim... acho que agora você já sabe tudo isso.
-Discípulo: Sim... Então soframos todos nossos propósitos, certo!? E deixemos o nirvana quietinho lá onde ele está.
-Mestre: Sim.
-Discípulo: Ok. Vou desfrutar de minha frustração, quanto à iluminação, então. Vou saboreá-la... até que ela cumpra o seu propósito e vá embora.
-Mestre: Sim... ria bastante e desfrute de sua ingenuidade. É assim que é. Parece que essa noite foi a noite da frustração... hahaha! Agora sim, dê bambuzadas em sua cabeça... não pelo que você pensa agora, mas pelo que você já pensou.
-Discípulo: Muito obrigado!
-Mestre: Sim. A noite é avançada e já está quase amanhecendo... Vamos dormir.
Medite sobre esse diálogo:
-Mestre: Responda... por que você existe?
-Discípulo: Bem... Eu estou aqui, agora, não é? Ou, pelo menos, penso que estou. O fato é que eu não posso ignorar isso.
-Mestre: E por que você está aqui agora?
-Discípulo: Porque eu posso me perceber aqui, oras!
-Mestre: A questão é "por que?"... Você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe? (...) Não entre em ciclos viciosos e dê uma resposta coerente. A questão persiste: Por que você existe?
-Discípulo: Porque EU SOU!
-Mestre: Você continua dando voltas, em ciclos. E não responde a pergunta. Você existe porque é, ou é porque existe?
-Discípulo: Então, se for assim,não há resposta para isso, mestre. Não há um porquê... há um fato não-motivado.
-Mestre: Não é só porque você não sabe a resposta que ela não exista! E te garanto que você não é o único que procura a resposta. Pense além... você consegue. Pense além... é uma pergunta simples. Perguntas simples possuem respostas simples. Se você pensar logicamente, você só irá entrar em ciclos e ficará dando voltas sem sair do lugar: "o corpo esquenta porque as moléculas se agitam.... as moléculas se agitam porque o corpo esquenta...." Bah!
-Discípulo: Mas essa pergunta pode ser pensada? Acho que a resposta só pode vir se você sentí-la.
-Mestre: O método é seu... contanto que você encontre a resposta. Se vai pensar ou sentir, isso é critério seu.
-Discípulo: Obrigado por este koan!
-Mestre: O que é koan?
-Discípulo: Koan, no zen, são perguntas passadas àqueles que buscam despertar... perguntas que só podem ser respondidas se você pensar além. Há uma famosa pergunta do ganso: "há um ganso preso dentro de uma garrafa. Como vc poderá tirá-lo de lá sem matá-lo e sem quebrar a garrafa?"
-Mestre: Hmmmm... e qual é a resposta para esta pergunta? fiquei curioso...
-Discípulo: a resposta clássica para aquele koan, a primeira que foi dada pelo discípulo que conseguiu respondê-la, foi: "mestre, o ganso está fora!!!!"
-Mestre: Mas será que ele respondeu?
-Discípulo: Dizem que essa resposta foi proveniente de ele ter pensado além...
-Mestre: E o que o mestre disse?
-Discípulo: Não sei, a história só vai até aí.
-Mestre: E você responderia o quê?
-Discípulo: Não sei... prefiro tentar responder o seu koan. Me sinto mais a vontade com ele: "você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe?"
-Mestre: Esse não foi meu koan... esse foi o SEU! Isso não é um koan... é uma tautologia, uma artimanha sem resposta criada pela sua mente lógica. Veja bem o que você me respodeu quando eu lhe perguntei.... eu havia lhe perguntado outra coisa!
-Discípulo: A pergunta do ganso, se analisada do ponto de vista da mente, também é uma tautologia.
-Mestre: Não. A do ganso é bem objetiva... assim como aquela que eu te fiz e você não respondeu. Repito: "Por que você está aqui agora"?... a questão é:"por que?"
-Discípulo: Eu não respondi, porque ainda não fui capaz de pensar além. (Se é que esses tipos de pensamentos podem ser percebidos...)
-Mestre: E será que você seria capaz de perceber se eu te desse a resposta?
-Discípulo: Você não pode me dar a resposta!
-Mestre: Sim, eu posso. Mas se você vai aceitá-la ou não, já é outra história.
-Discípulo: Mestre, para você que já está aí do outro lado da margem, pode parecer muito fácil. Você já chegou; você já compreende e é evidente demais para você. Mas pra mim, isso é uma grande dificuldade. Então, por que eu existo? Vou lhe dar uma resposta, e a resposta é: "Eu aceito que eu existo!".
-Mestre: Eu não perguntei se você aceitava, ou não. Eu perguntei POR QUE? preste atenção... a pergunta já contém a resposta.
-Discípulo: ... ... ...
-Mestre: Insisto...a dificuldade está na sua cabeça. A pergunta é simples, e a resposta também. Vou dar uma dica: olhe para você mesmo, procure os seus erros, procure o que tem de ser mudado... você vai descobrir a resposta. Eu tenho fé nisso.
-Discípulo: MU!
-Mestre: Aí!! Eu sabia que você conseguiria!
-Discípulo: Não sei o que eu consegui... eu ainda não percebi nada.
-Mestre: Eu também não percebi nada... deve ser porque você não respondeu certo. Definitivamente, "MU" não é a resposta.
-Discípulo: Eu apenas desisti da resposta. O vácuo, por acaso, pode ser percebido? O NADA... quando você tenta estender a mão até ele, ele é como uma miragem: vai se afastando conforme você vai se aproximando. Como eu poderia percebê-lo, então?
-Mestre: O vácuo? E por que não poderia? Se não pudesse, como você se perceberia sendo o NADA? Você não me disse que tens certeza da existência porque você a percebe?
-Discípulo: Continuemos!! Quero muito encontrar essa resposta!!... Por que eu existo? Você disse que a resposta está na própria pergunta.
-Mestre: Fácil, não? Apenas 4 palavras contém a pergunta.
-Discípulo: Minha mente está interferindo muito na resposta! Ela está pensando em mil coisas... e eu continuo aqui, observando ela.
-Mestre: Esqueça todas essas coisas que você já sabe... vamos lá: se você tivesse acabado de nascer, e lhe fizessem essa pergunta, o que você responderia? Pense com a inocência de uma criança!
-Discípulo: Minha mente gostou disso que você acabou de dizer. (...) Hmmmm... vamos tomar sorvete?
-Mestre: Vamos! Amanhã. Agora está chovendo. Uma curiosidade: você não acredita em reencarnação, acredita?
-Discípulo: Acredito, sim!
-Mestre: acredita? E pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: A persistência dos desejos, quando se morre... às vezes alguém morre com vários desejos... Então, o corpo fica pra trás. Mas você, que é uma energia cármica, continua a existir e carrega os desejos que não conseguiu realizar com você. Vai renascer, portanto, até que você consiga dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: É isso o que pensas? Ou você leu isso em algum livro sobre budismo? Me parece muito com o conceito de carma... mas vamos lá: eu não perguntei o que é carma.
-Discípulo: Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar. Emoções, sensações....
-Mestre: Opa!!! pára!!
-Discípulo: hmmmm?
-Mestre: Isso que você falou por último tem algo a ver.... você está quase lá.
-Discípulo: Sim... sensações e emoções.
-Mestre: Isso não! Aquilo que você falou antes.
-Discípulo: Você vai renascer até dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: Nada disso!... Era pra você perceber as coisas simples da vida. Olha isso que você disse: "Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar"... Você falou essa frase e não deu impotância à ela.
-Discípulo: Isso é o que o meu pai diz. Mas essa frase ficou muito vaga.
-Mestre: Pense como criança. O que uma criança recém-nascida sabe fazer?
-Discípulo: Ela só sabe existtir!! Aliás, nem isso ela sabe. Ela existe não porque ela quer... mas porque existe.
-Mestre: Ahh!! Desisto. Você insiste em julgar: "ela só sabe existir".... até as suas próprias palavras você julga.
-Discípulo: (!) ... ok. Pergunte de novo!! Por favor!
-Mestre: Eu sei que o mundo é uma merda... mas por que o mundo existe, então? Por que eu existo pra você? Porque você existe pra mim? Por que o mundo existe pra você? E por aí vai... (...) Eu só perguntei da reencarnação pra obter isso de você: "Sem contar... que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar.". Eu não queria saber sobre a sua teoria de carma, que deve ter lido em algum livro budista.
-Discípulo: Mas essa frase também foi um julgamento, não foi?
-Mestre: Não, não foi. Isso foi uma conjectura... é diferente.
-Discípulo: O que é uma conjectura?
-Mestre: É uma afirmação categórica. Ela tende a ser neutra e não migra para pólos de julgamento. Quando eu digo que está chovendo, isso é uma conjectura minha. Eu só digo, porque percebo a chuva caindo lá fora. Eu não julguei se a chuva é boa ou ruim, se ela é necessária ou fútil... enfim.
-Discípulo: Certo... Então, quem sou eu? Qual seria a sua resposta?
-Mestre: Você é sempre você. Mas a profundidade do seu EU, você só vai descobrir quando entender porque esse EU existe.
-Discípulo: Hmmmmm.... e quem é você?
-Mestre: eu sou EU.
-Discípulo: A resposta está bem na frente da minha cara, né!
-Mestre: Se você é você, e eu sou eu...então somos EU's iguais... suponho. É isso que você pensa?
-Discípulo: sim, sim!
-Mestre: (!) Nhaaa... Esqueça... você não vai saber tão cedo.
-Discípulo: Hahaha... me desculpe, mas eu não aceito isso. Isso que acaba de dizer me soou como uma bambuzada na minha cabeça. Fique com ela pra você. E eu saberei, sim!!!
-Mestre: Então faça por onde. E se soou como bambuzada, foi porque você quis.
-Discípulo: Juro que estou fazendo tudo que posso.
-Mestre: Você insiste em encontrar a resposta naquilo que você acumulou de conhecimento.
-Discípulo: Certo.
-Mestre: Como criancinhas.... lembre. Buda não criou doutrina; as pessoas que o estudaram criaram uma doutrina. O verdadeiro Budismo nasceu com Buda e morreu com Buda. Não se prenda a doutrinas. Pense...como criancinhas.
-Discípulo: (...) O bom dessas suas provocações é que elas me fazem ficar cada vez mais atento para alguma coisa que eu não consigo pensar.
-Mestre: Juro que eu não queria te provocar. Só queria que você entendesse uma coisa muito importante para que você pudesse seguir seu caminho, mas acho que falhei.
-Discípulo: Mas olha só... suas provocações me fazem ficar alerta para alguma coisa que eu não consigo pensar. Então, nenhuma resposta vem pra mim... somente um silêncio seria a resposta. Assim, eu teria de agir sem pensar.
-Mestre: Então aja! responda! tente! Tente!! ao menos uma vez!!!
-Discípulo: Sim! eu preciso tentar isso. Pergunte-me de novo!
-Mestre: Vamos começar do começo (como já dizia o sábio matemático)!
-Discípulo: Manda bala!
-Mestre: Você acredita em reencarnação?
-Discípulo: ahhhhhh!! baaaaa ahhhhhhhh!!! ugghhhhhh!!!
-Mestre: O que???? Como?? acredita, ou não?
-Discípulo: Estou inquieto.
-Mestre: O que que você está pensando? Você não tem certeza se acredita ou não? Você tem dúvida de sua própria fé? Eu não acredito nisso....... Oh God!
-Discípulo: Não quero pensar!! Eu quero agir!... (mas isso foi um pensamento)... Ah! então foda-se tudo!
-Mestre: Vamos lá, novamente... vou facilitar!
Você acredita em reencarnação? ( ) sim ( ) não. Marque apenas uma,ok?
-Discípulo: (...) ... Sim!
-Mestre: Aeeeeeeeewwwww!!! Viu... foi fácil. E veja que não estou te julgando, e nem me posicionando quanto a tua fé. Se você acredita, então ela existe pra você, e pronto! ok? próxima pergunta... Pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: as lições.
-Mestre: Use as frases de seu pai. Eu preferi... hehehehe.
-Discípulo: Ok! Nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui. E uma vida só não é o suficiente para aprender tudo o que ele tem a oferecer...
-Mestre: A palavra "nascer", pra você, é consectária da palavra "existir"? ( ) sim ( ) Não
-Discípulo: não.
-Mestre: Por que?
-Discípulo: Hmmm... consectária quer dizer que é a mesma coisa?
-Mestre: Não. Consectária, eu quis usar no sentido de consequência. Ahh...eu só quis perguntar: "você nasce porque existe?" (Só que eu tenho certeza que você vai se perder nessa pergunta..)
-Discípulo: Ah tá... então a resposta é "sim". Pra você nascer, você tem que existir antes. (...) Eu me perdi?
-Mestre: Não, não... felizmente.
-Discípulo: Oba! Então, próxima pergunta!
-Mestre: Você respondeu que o que justifica a reencarnação são as coisas que tem de fazer quando nasce... ("nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui")... Então, por que você nasce nesse planeta?
-Discípulo: Você já existe! (mas é vazio)... então você nasce para poder aprender a se preencher com as coisas do mundo. Isso cria um contraste que precisa ser percebido.
-Mestre: Preste atenção! A sua resposta estava em cima da pergunta. Pare de pensar e me responda.
-Discípulo: Você queria que eu repetisse a mesma coisa que eu disse antes?
-Mestre: Sim. Por acaso a sua resposta mudou?
-Discípulo: Então tá...nascemos aqui porque temos muitas lições a aprender. (A minha resposta não mudou em nada. Eu apenas disse ela de uma forma diferente.)
-Mestre: Mas eu perguntei VOCÊ... VOCÊ!! Responda na primeira pessoa.... você não colabora comigo. Vamos lá: Por que você nasce?
-Discípulo: Minha resposta não mudou, porque eu não mudei. Hahahaha.... nasço, logo existo!
-Mestre: Meu Deus!!! ok. Vou te dar a resposta. (Até você consegue me confundir)....
Por que você nasce? (perguntei)..... Porque tenho muitas coisas a aprender(você respondeu). Concorda que você me respondeu isso?
-Discípulo: Sim, foi isso o que eu respondi.
-Mestre: Affff! Eu mudo a forma da pergunta e você me responde outra coisa... que complexo! Até parece que eu perguntei outra coisa, hahahaha!! Pois bem, a próxima: Antes de você nascer, você não precisava aprender nada?
-Discípulo: Eu sabia algumas coisas.
-Mestre: Então por que você nasceu?
-Discípulo: Pra mim aprender mais.
-Mestre: Então, antes de nascer, você não sabia tudo?
-Discípulo: Eu não. Se eu soubesse, eu não precisaria estar aqui.
-Mestre: E antes de você nascer, o que você era?
-Discípulo: Uma outra pessoa, em algum outro lugar.
-Mestre: Uma pessoa não é um ser humano "nascido" com vida?
-Discípulo: Eu não quero discutir Direito Privado!
-Mestre: Hey... apenas responda. CONFIE EM MIM! ( ) sim ( ) não.
-Discípulo: Sim... pessoa é ser humano com vida.
-Mestre: Você era pessoa antes de nascer?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Yeah! Então, o que você era antes de nascer?
-Discípulo: Eu era um nascituro(feto)!! hahahaha... com expectativas de direito.
-Mestre: E antes de ser um nascituro, o que era você? (esperma não vale!)
-Discípulo: ok. Antes de ser nascituro....eu não me lembro.
-Mestre: Ok. Você disse que acredita em reencarnação. Entre o fim de sua vida passada e o nascimento de sua vida atual, o que era você?
-Discípulo:Apenas uma presença escura e silenciosa prevalece, quando eu volto minha atenção para essa sua pergunta.
-Mestre: Sim. O que você chama essa presença? É você?
-Discípulo: creio ser isso, a presença.
-Mestre: A presença é VOCÊ, ou seja, sua existência incondicional, seu EU imortal?( )sim ( ) não.
-Discípulo:Eu devo ser essa presença da qual eu não me lembro. (...) Sim!
-Mestre: Então... antes de nascer, você era você... essa EXISTÊNCIA... e que nasceu porque não sabia de tudo (pois, caso contrário, não teria nascido; pois vc me disse que nasce porque tem muito o que aprender)...ok? Então, você era você antes de nascer... mas não deixou de ser você após ter nascido, de forma que você não morre quando seu corpo morre.
-Discípulo: Sim. Eu sempre soube disso.
-Mestre: Agora, a pergunta final: Então... Por que você existe?
-Discípulo: (...)
-Mestre: Ajudinha!! ( ) pra nascer ( ) pra não nascer ... Marque apenas uma, ok?
-Discípulo: ok. (...)
-Mestre: Você tá pensando né...
-Discípulo: Estou reavaliando a sua pergunta.
-Mestre: Eu sei... você pensa. (...) Seja ao menos coerente com tudo o que você já respondeu até agora. Não é possível que você vai negar tudo o que você disse!...
-Discípulo: Pra nascer!
-Mestre: Ufaaaaaa! E você nasce por que?
-Discípulo: Porque eu já existia!
-Mestre: Não se canse... repita sem medo a resposta anterior... não tenha medo, confie em mim! Você nasce por que? Você reencarna por que?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Se você existe pra aprender muitas coisas... logo... você EXISTE para aprender muitas coisas. Ufaaaaaa........ Por que você existe?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Aeeeeewwww!! E isso é o que? Um propósito, um motivo ou um desmotivo?
-Discípulo: Um propósito.
-Mestre: Isso garoto! então, você existe porque você tem um propósito. (ainda que estejamos falando apenas do propósito de aprender.)
-Discípulo: Sim, eu existo.
-Mestre: E por que você existe? (lembra do raciocínio que você veio construindo até aqui, por meio das respostas!)
-Discípulo: Eu existo porque eu tenho um propósito.
-Mestre: Aeeeewwww!! E por que as coisas existem? há algo que exista em vão?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Se fosse em vão, então, por que você existiria?
-Discípulo: Eu não existiria.
-Mestre: Você tem propósitos!! Você não é um propósito.... senão você não precisaria nascer, óbvio.
-Discípulo: (!) .... Isso!
-Mestre: Você não precisa de algo que já é. Logo, você não é um propósito. Ao contrário: você existe porque TEM propósitos.... e não porque é um.
-Discípulo: Hmmmm, mestre, acho que estou começando a entender. Continue com as perguntas, por favor!
-Mestre: Você já respondeu a pergunta que, supostamente, não tinha resposta no ínício de nossa conversa hoje a noite. Você progrediu. Foi árduo, mas progrediu.
-Discípulo: Não, não foi. Eu não tive que fazer esforço algum para compreender isso. Ao contrário, eu deveria ter me desfeito de meu esforço o quanto antes. Mas foi só agora que eu consegui fazer isso.
-Mestre: Quando eu perguntei por que você existia, você me respondeu que existia porque podia se perceber. Veja como a sua resposta parece tola, diante disso que você acaba de concluir.
-Discípulo: "Eu existo porque posso me perceber" x "Eu existo por que tenho um propósito".... hmmmmmmm.
-Mestre: Isso. A primeira leva a uma tautologia...
-Discípulo: A segunda me deixa mais envolvido comigo mesmo!
-Mestre: Compare as duas. "Eu existo porque me percebo, ou me percebo porque existo?".... Percebe a tautologia que você superou?
-Discípulo: Agora eu percebo.
-Mestre: Você existe porque você tem um propósito... assim como tudo o que existe possui um propósito. Nada existe em vão. Deus é sábio em tudo o que faz!
-Discípulo: E mesmo que a mente julgue que os propósitos não sejam grande coisa, ainda sim são propósitos.
-Mestre: Sim. Então não julguemos. A mente tem o seu valor e isso basta.
-Discípulo: ok!
-Mestre: Quando as coisas perdem o propósito, o que acontece? Quando um lápis já não pode ser usado?
-Discípulo: Eu não posso escrever.
-Mestre: Quando uma flor já não dá mais frutos? O que acontece?
-Discípulo: Eu não posso comê-los, nem apreciá-la.
-Mestre: Sim... isso porque eles acabam. Quando as coisas cumprem seu propósito, elas acabam. Tudo acaba!... Tudo existe porque tem um propósito, e quando o cumpre, acaba. Nada é eterno.
-Discípulo: E o discípulo aqui? E depois que o discípulo cumprir o seu propósito... ficarei bem?
-Mestre: Eis a verdade que você buscava. Quando você deixar de ter propósitos, você irá parar de nascer, ou renascer... enfim, você irá apenas existir. Entrará no estado de existência não-motivada.
-Discípulo: Esse estado de existência não-motivada... isso é o nirvana?
-Mestre: Eu prefiro chamar de céu, paraíso... o estado original. Fomos todos criados nús. Mas o homem quis ter propósito. O homem quis comer do fruto proibido do conhecimento... e por isso saiu do paraíso.
-Discípulo: E porque o nirvana, um estado de existência não-motivada, seria mais importante do que essa existência motivada?
-Mestre: Quando você entra no nirvana, você pára de sofrer. Tudo o que existe sofre: sofremos ao nascer, sofremos ao viver, sofremos ao morrer... Ser iluminado não significa ter alcançado o nirvana, o céu, ou seja lá como você o chame.Ser iluminado é compreender isso. Se você compreendeu isso hoje, então eu posso dizer que você é iluminado. Que importância tem isso? Bom... eu não sei. Mas quando você atribui importâncias, você julga...e cria propósitos e sofrimentos e... e.... apenas aceite.
-Discípulo: Estou entendendo. E vou tentar carregar isso dentro de mim, daqui pra frente. Aliás, eu vou carregar isso comigo.
-Mestre: Então não lamente mais nada... celebre as coisas. Agora, parece que você já entendeu. Seu interior está curado. Agora falta colocar isso pra fora... que tal? Ajudar o próximo, sem perder a humildade... o que acha?
-Discípulo: Claro!
-Mestre: Que tal cumprir o seu propósito? O motivo de sua existência?
-Discípulo: Quando eu começar a fazer isso... o propósito tomará forma... e começará a se cumprir... até que eu... enfim. Acho que entendi.
-Mestre: Que bom amigo! Você se iluminou!
-Discípulo: Hahahaahaha... não, não pode ser só isso! (...) Sério? A iluminação é isso? Só isso? Mas eu esperava tanto...
-Mestre: Você está não no fim, mas no começo de uma jornada que só começa, realmente, agora! Finalmente, você conseguiu achar o que tanto buscava.E isso só te deu mais responsabilidades. Antes não tivesse achado, não é?
-Discípulo: É verdade. Eu sinto isso.
-Mestre: Não se frustre, aceite... é assim. Você não é a Luz; você não é Deus, apenas parte dEle... apenas parte do Todo.
-Discípulo: Bom... eu aceito o que está aqui pra mim agora. Mas esse "eu esperava tanto" foi um propósito... que já se cumpriu. Agora o propósito que está se manifestando é uma frustração.
-Mestre: Aceite-a!
-Discípulo: É que eu me sinto diferente... mas não é nada de mais.
-Mestre: Sim... é algo bom. Apenas não é o que você esperava.
-Discípulo: E o nirvana... o nirvana é aquilo que está fora dos propósitos.
-Mestre: Vida é sofrimento... sofrimento está fora do nirvana. Você não está querendo alcançar o nirvana em vida, está? Ficou louco? enfim... acho que agora você já sabe tudo isso.
-Discípulo: Sim... Então soframos todos nossos propósitos, certo!? E deixemos o nirvana quietinho lá onde ele está.
-Mestre: Sim.
-Discípulo: Ok. Vou desfrutar de minha frustração, quanto à iluminação, então. Vou saboreá-la... até que ela cumpra o seu propósito e vá embora.
-Mestre: Sim... ria bastante e desfrute de sua ingenuidade. É assim que é. Parece que essa noite foi a noite da frustração... hahaha! Agora sim, dê bambuzadas em sua cabeça... não pelo que você pensa agora, mas pelo que você já pensou.
-Discípulo: Muito obrigado!
-Mestre: Sim. A noite é avançada e já está quase amanhecendo... Vamos dormir.
Mestre, tenho certeza que no dia em que esse diálogo ocorreu nós dois evoluímos muito: você, no seu propósito e eu, no meu (sejam eles quais forem). Espero que essa sabedoria singela tenha espaço nos corações de muitas e muitas outras pessoas... principalmente daquelas que só se vêem envolvidas com misérias, guerras, corrupção, destruição.... Desejo também que, se essas pessoas tiverem a mesma oportunidade que tive, reflitam se é esse o propósito delas para com o mundo, para com elas mesmas...
ResponderExcluirSe cada um olhasse para dentro do seu próprio interior, o mundo talvez seria um lugar bem melhor para se viver.
Mais uma vez, obrigado e até mais
Então ficamos assim: li tudinho até o fim.... agora quero mais, mais e mais (rsrs). Depois volto para ler o resto.
ResponderExcluirbjs
vim aqui, li e o proposito foi cumprido. simples, não?
ResponderExcluirpaz e amor
ferrari
a busca da Iluminação se encerra no fim da necessidade de entender para si ou explicar para outro o que é Iluminação.
ResponderExcluirViu, vim aqui ler antes de dormir...
ResponderExcluirAgora entendi. Até pq é muito diferente ler qdo sabemos quem é o mestre e quem é o discípulo, e em que contexto foi essa conversa. Qdo li a primeira vez achei confuso.
Mas acho que não há mestres, nem discípulos, nesse caso. As perguntas do discípulo tbém guiam os ensinmanetos do mestre.O mestre aprende cada dia mais um pouco com seus alunos, e , nesse caso acho que cada hora um será mestre e discípulo, revezando. Abençoados sejam os dois, mestre e discípulo, pois o que é uma amizade senão algo para nos ensinar, iluminar e fazer crescer, inclusive espiritualmente?
Agradeço ao mestre e ao discípulo, pela conversa de tantas horas. Que Deus fique sempre no coração de vcs. Eu sei que ficará.
Abraços!