Agora, um diálogo entre um mestre iluminado e um discípulo buscador da Verdade. Ele é bem extenso. Leia-o inteiro: Não abandone a leitura até terminar. Somente assim, você poderá entendê-lo da maneira correta: Não com sua mente ou sua lógica, mas com sua percepção. Atente-se para perceber a simplicidade da existência, que está inserida nesse bate-papo.
Medite sobre esse diálogo:
-Mestre: Responda... por que você existe?
-Discípulo: Bem... Eu estou aqui, agora, não é? Ou, pelo menos, penso que estou. O fato é que eu não posso ignorar isso.
-Mestre: E por que você está aqui agora?
-Discípulo: Porque eu posso me perceber aqui, oras!
-Mestre: A questão é "por que?"... Você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe? (...) Não entre em ciclos viciosos e dê uma resposta coerente. A questão persiste: Por que você existe?
-Discípulo: Porque EU SOU!
-Mestre: Você continua dando voltas, em ciclos. E não responde a pergunta. Você existe porque é, ou é porque existe?
-Discípulo: Então, se for assim,não há resposta para isso, mestre. Não há um porquê... há um fato não-motivado.
-Mestre: Não é só porque você não sabe a resposta que ela não exista! E te garanto que você não é o único que procura a resposta. Pense além... você consegue. Pense além... é uma pergunta simples. Perguntas simples possuem respostas simples. Se você pensar logicamente, você só irá entrar em ciclos e ficará dando voltas sem sair do lugar: "o corpo esquenta porque as moléculas se agitam.... as moléculas se agitam porque o corpo esquenta...." Bah!
-Discípulo: Mas essa pergunta pode ser pensada? Acho que a resposta só pode vir se você sentí-la.
-Mestre: O método é seu... contanto que você encontre a resposta. Se vai pensar ou sentir, isso é critério seu.
-Discípulo: Obrigado por este koan!
-Mestre: O que é koan?
-Discípulo: Koan, no zen, são perguntas passadas àqueles que buscam despertar... perguntas que só podem ser respondidas se você pensar além. Há uma famosa pergunta do ganso: "há um ganso preso dentro de uma garrafa. Como vc poderá tirá-lo de lá sem matá-lo e sem quebrar a garrafa?"
-Mestre: Hmmmm... e qual é a resposta para esta pergunta? fiquei curioso...
-Discípulo: a resposta clássica para aquele koan, a primeira que foi dada pelo discípulo que conseguiu respondê-la, foi: "mestre, o ganso está fora!!!!"
-Mestre: Mas será que ele respondeu?
-Discípulo: Dizem que essa resposta foi proveniente de ele ter pensado além...
-Mestre: E o que o mestre disse?
-Discípulo: Não sei, a história só vai até aí.
-Mestre: E você responderia o quê?
-Discípulo: Não sei... prefiro tentar responder o seu koan. Me sinto mais a vontade com ele: "você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe?"
-Mestre: Esse não foi meu koan... esse foi o SEU! Isso não é um koan... é uma tautologia, uma artimanha sem resposta criada pela sua mente lógica. Veja bem o que você me respodeu quando eu lhe perguntei.... eu havia lhe perguntado outra coisa!
-Discípulo: A pergunta do ganso, se analisada do ponto de vista da mente, também é uma tautologia.
-Mestre: Não. A do ganso é bem objetiva... assim como aquela que eu te fiz e você não respondeu. Repito: "Por que você está aqui agora"?... a questão é:"por que?"
-Discípulo: Eu não respondi, porque ainda não fui capaz de pensar além. (Se é que esses tipos de pensamentos podem ser percebidos...)
-Mestre: E será que você seria capaz de perceber se eu te desse a resposta?
-Discípulo: Você não pode me dar a resposta!
-Mestre: Sim, eu posso. Mas se você vai aceitá-la ou não, já é outra história.
-Discípulo: Mestre, para você que já está aí do outro lado da margem, pode parecer muito fácil. Você já chegou; você já compreende e é evidente demais para você. Mas pra mim, isso é uma grande dificuldade. Então, por que eu existo? Vou lhe dar uma resposta, e a resposta é: "Eu aceito que eu existo!".
-Mestre: Eu não perguntei se você aceitava, ou não. Eu perguntei POR QUE? preste atenção... a pergunta já contém a resposta.
-Discípulo: ... ... ...
-Mestre: Insisto...a dificuldade está na sua cabeça. A pergunta é simples, e a resposta também. Vou dar uma dica: olhe para você mesmo, procure os seus erros, procure o que tem de ser mudado... você vai descobrir a resposta. Eu tenho fé nisso.
-Discípulo: MU!
-Mestre: Aí!! Eu sabia que você conseguiria!
-Discípulo: Não sei o que eu consegui... eu ainda não percebi nada.
-Mestre: Eu também não percebi nada... deve ser porque você não respondeu certo. Definitivamente, "MU" não é a resposta.
-Discípulo: Eu apenas desisti da resposta. O vácuo, por acaso, pode ser percebido? O NADA... quando você tenta estender a mão até ele, ele é como uma miragem: vai se afastando conforme você vai se aproximando. Como eu poderia percebê-lo, então?
-Mestre: O vácuo? E por que não poderia? Se não pudesse, como você se perceberia sendo o NADA? Você não me disse que tens certeza da existência porque você a percebe?
-Discípulo: Continuemos!! Quero muito encontrar essa resposta!!... Por que eu existo? Você disse que a resposta está na própria pergunta.
-Mestre: Fácil, não? Apenas 4 palavras contém a pergunta.
-Discípulo: Minha mente está interferindo muito na resposta! Ela está pensando em mil coisas... e eu continuo aqui, observando ela.
-Mestre: Esqueça todas essas coisas que você já sabe... vamos lá: se você tivesse acabado de nascer, e lhe fizessem essa pergunta, o que você responderia? Pense com a inocência de uma criança!
-Discípulo: Minha mente gostou disso que você acabou de dizer. (...) Hmmmm... vamos tomar sorvete?
-Mestre: Vamos! Amanhã. Agora está chovendo. Uma curiosidade: você não acredita em reencarnação, acredita?
-Discípulo: Acredito, sim!
-Mestre: acredita? E pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: A persistência dos desejos, quando se morre... às vezes alguém morre com vários desejos... Então, o corpo fica pra trás. Mas você, que é uma energia cármica, continua a existir e carrega os desejos que não conseguiu realizar com você. Vai renascer, portanto, até que você consiga dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: É isso o que pensas? Ou você leu isso em algum livro sobre budismo? Me parece muito com o conceito de carma... mas vamos lá: eu não perguntei o que é carma.
-Discípulo: Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar. Emoções, sensações....
-Mestre: Opa!!! pára!!
-Discípulo: hmmmm?
-Mestre: Isso que você falou por último tem algo a ver.... você está quase lá.
-Discípulo: Sim... sensações e emoções.
-Mestre: Isso não! Aquilo que você falou antes.
-Discípulo: Você vai renascer até dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: Nada disso!... Era pra você perceber as coisas simples da vida. Olha isso que você disse: "Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar"... Você falou essa frase e não deu impotância à ela.
-Discípulo: Isso é o que o meu pai diz. Mas essa frase ficou muito vaga.
-Mestre: Pense como criança. O que uma criança recém-nascida sabe fazer?
-Discípulo: Ela só sabe existtir!! Aliás, nem isso ela sabe. Ela existe não porque ela quer... mas porque existe.
-Mestre: Ahh!! Desisto. Você insiste em julgar: "ela só sabe existir".... até as suas próprias palavras você julga.
-Discípulo: (!) ... ok. Pergunte de novo!! Por favor!
-Mestre: Eu sei que o mundo é uma merda... mas por que o mundo existe, então? Por que eu existo pra você? Porque você existe pra mim? Por que o mundo existe pra você? E por aí vai... (...) Eu só perguntei da reencarnação pra obter isso de você: "Sem contar... que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar.". Eu não queria saber sobre a sua teoria de carma, que deve ter lido em algum livro budista.
-Discípulo: Mas essa frase também foi um julgamento, não foi?
-Mestre: Não, não foi. Isso foi uma conjectura... é diferente.
-Discípulo: O que é uma conjectura?
-Mestre: É uma afirmação categórica. Ela tende a ser neutra e não migra para pólos de julgamento. Quando eu digo que está chovendo, isso é uma conjectura minha. Eu só digo, porque percebo a chuva caindo lá fora. Eu não julguei se a chuva é boa ou ruim, se ela é necessária ou fútil... enfim.
-Discípulo: Certo... Então, quem sou eu? Qual seria a sua resposta?
-Mestre: Você é sempre você. Mas a profundidade do seu EU, você só vai descobrir quando entender porque esse EU existe.
-Discípulo: Hmmmmm.... e quem é você?
-Mestre: eu sou EU.
-Discípulo: A resposta está bem na frente da minha cara, né!
-Mestre: Se você é você, e eu sou eu...então somos EU's iguais... suponho. É isso que você pensa?
-Discípulo: sim, sim!
-Mestre: (!) Nhaaa... Esqueça... você não vai saber tão cedo.
-Discípulo: Hahaha... me desculpe, mas eu não aceito isso. Isso que acaba de dizer me soou como uma bambuzada na minha cabeça. Fique com ela pra você. E eu saberei, sim!!!
-Mestre: Então faça por onde. E se soou como bambuzada, foi porque você quis.
-Discípulo: Juro que estou fazendo tudo que posso.
-Mestre: Você insiste em encontrar a resposta naquilo que você acumulou de conhecimento.
-Discípulo: Certo.
-Mestre: Como criancinhas.... lembre. Buda não criou doutrina; as pessoas que o estudaram criaram uma doutrina. O verdadeiro Budismo nasceu com Buda e morreu com Buda. Não se prenda a doutrinas. Pense...como criancinhas.
-Discípulo: (...) O bom dessas suas provocações é que elas me fazem ficar cada vez mais atento para alguma coisa que eu não consigo pensar.
-Mestre: Juro que eu não queria te provocar. Só queria que você entendesse uma coisa muito importante para que você pudesse seguir seu caminho, mas acho que falhei.
-Discípulo: Mas olha só... suas provocações me fazem ficar alerta para alguma coisa que eu não consigo pensar. Então, nenhuma resposta vem pra mim... somente um silêncio seria a resposta. Assim, eu teria de agir sem pensar.
-Mestre: Então aja! responda! tente! Tente!! ao menos uma vez!!!
-Discípulo: Sim! eu preciso tentar isso. Pergunte-me de novo!
-Mestre: Vamos começar do começo (como já dizia o sábio matemático)!
-Discípulo: Manda bala!
-Mestre: Você acredita em reencarnação?
-Discípulo: ahhhhhh!! baaaaa ahhhhhhhh!!! ugghhhhhh!!!
-Mestre: O que???? Como?? acredita, ou não?
-Discípulo: Estou inquieto.
-Mestre: O que que você está pensando? Você não tem certeza se acredita ou não? Você tem dúvida de sua própria fé? Eu não acredito nisso....... Oh God!
-Discípulo: Não quero pensar!! Eu quero agir!... (mas isso foi um pensamento)... Ah! então foda-se tudo!
-Mestre: Vamos lá, novamente... vou facilitar!
Você acredita em reencarnação? ( ) sim ( ) não. Marque apenas uma,ok?
-Discípulo: (...) ... Sim!
-Mestre: Aeeeeeeeewwwww!!! Viu... foi fácil. E veja que não estou te julgando, e nem me posicionando quanto a tua fé. Se você acredita, então ela existe pra você, e pronto! ok? próxima pergunta... Pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: as lições.
-Mestre: Use as frases de seu pai. Eu preferi... hehehehe.
-Discípulo: Ok! Nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui. E uma vida só não é o suficiente para aprender tudo o que ele tem a oferecer...
-Mestre: A palavra "nascer", pra você, é consectária da palavra "existir"? ( ) sim ( ) Não
-Discípulo: não.
-Mestre: Por que?
-Discípulo: Hmmm... consectária quer dizer que é a mesma coisa?
-Mestre: Não. Consectária, eu quis usar no sentido de consequência. Ahh...eu só quis perguntar: "você nasce porque existe?" (Só que eu tenho certeza que você vai se perder nessa pergunta..)
-Discípulo: Ah tá... então a resposta é "sim". Pra você nascer, você tem que existir antes. (...) Eu me perdi?
-Mestre: Não, não... felizmente.
-Discípulo: Oba! Então, próxima pergunta!
-Mestre: Você respondeu que o que justifica a reencarnação são as coisas que tem de fazer quando nasce... ("nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui")... Então, por que você nasce nesse planeta?
-Discípulo: Você já existe! (mas é vazio)... então você nasce para poder aprender a se preencher com as coisas do mundo. Isso cria um contraste que precisa ser percebido.
-Mestre: Preste atenção! A sua resposta estava em cima da pergunta. Pare de pensar e me responda.
-Discípulo: Você queria que eu repetisse a mesma coisa que eu disse antes?
-Mestre: Sim. Por acaso a sua resposta mudou?
-Discípulo: Então tá...nascemos aqui porque temos muitas lições a aprender. (A minha resposta não mudou em nada. Eu apenas disse ela de uma forma diferente.)
-Mestre: Mas eu perguntei VOCÊ... VOCÊ!! Responda na primeira pessoa.... você não colabora comigo. Vamos lá: Por que você nasce?
-Discípulo: Minha resposta não mudou, porque eu não mudei. Hahahaha.... nasço, logo existo!
-Mestre: Meu Deus!!! ok. Vou te dar a resposta. (Até você consegue me confundir)....
Por que você nasce? (perguntei)..... Porque tenho muitas coisas a aprender(você respondeu). Concorda que você me respondeu isso?
-Discípulo: Sim, foi isso o que eu respondi.
-Mestre: Affff! Eu mudo a forma da pergunta e você me responde outra coisa... que complexo! Até parece que eu perguntei outra coisa, hahahaha!! Pois bem, a próxima: Antes de você nascer, você não precisava aprender nada?
-Discípulo: Eu sabia algumas coisas.
-Mestre: Então por que você nasceu?
-Discípulo: Pra mim aprender mais.
-Mestre: Então, antes de nascer, você não sabia tudo?
-Discípulo: Eu não. Se eu soubesse, eu não precisaria estar aqui.
-Mestre: E antes de você nascer, o que você era?
-Discípulo: Uma outra pessoa, em algum outro lugar.
-Mestre: Uma pessoa não é um ser humano "nascido" com vida?
-Discípulo: Eu não quero discutir Direito Privado!
-Mestre: Hey... apenas responda. CONFIE EM MIM! ( ) sim ( ) não.
-Discípulo: Sim... pessoa é ser humano com vida.
-Mestre: Você era pessoa antes de nascer?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Yeah! Então, o que você era antes de nascer?
-Discípulo: Eu era um nascituro(feto)!! hahahaha... com expectativas de direito.
-Mestre: E antes de ser um nascituro, o que era você? (esperma não vale!)
-Discípulo: ok. Antes de ser nascituro....eu não me lembro.
-Mestre: Ok. Você disse que acredita em reencarnação. Entre o fim de sua vida passada e o nascimento de sua vida atual, o que era você?
-Discípulo:Apenas uma presença escura e silenciosa prevalece, quando eu volto minha atenção para essa sua pergunta.
-Mestre: Sim. O que você chama essa presença? É você?
-Discípulo: creio ser isso, a presença.
-Mestre: A presença é VOCÊ, ou seja, sua existência incondicional, seu EU imortal?( )sim ( ) não.
-Discípulo:Eu devo ser essa presença da qual eu não me lembro. (...) Sim!
-Mestre: Então... antes de nascer, você era você... essa EXISTÊNCIA... e que nasceu porque não sabia de tudo (pois, caso contrário, não teria nascido; pois vc me disse que nasce porque tem muito o que aprender)...ok? Então, você era você antes de nascer... mas não deixou de ser você após ter nascido, de forma que você não morre quando seu corpo morre.
-Discípulo: Sim. Eu sempre soube disso.
-Mestre: Agora, a pergunta final: Então... Por que você existe?
-Discípulo: (...)
-Mestre: Ajudinha!! ( ) pra nascer ( ) pra não nascer ... Marque apenas uma, ok?
-Discípulo: ok. (...)
-Mestre: Você tá pensando né...
-Discípulo: Estou reavaliando a sua pergunta.
-Mestre: Eu sei... você pensa. (...) Seja ao menos coerente com tudo o que você já respondeu até agora. Não é possível que você vai negar tudo o que você disse!...
-Discípulo: Pra nascer!
-Mestre: Ufaaaaaa! E você nasce por que?
-Discípulo: Porque eu já existia!
-Mestre: Não se canse... repita sem medo a resposta anterior... não tenha medo, confie em mim! Você nasce por que? Você reencarna por que?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Se você existe pra aprender muitas coisas... logo... você EXISTE para aprender muitas coisas. Ufaaaaaa........ Por que você existe?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Aeeeeewwww!! E isso é o que? Um propósito, um motivo ou um desmotivo?
-Discípulo: Um propósito.
-Mestre: Isso garoto! então, você existe porque você tem um propósito. (ainda que estejamos falando apenas do propósito de aprender.)
-Discípulo: Sim, eu existo.
-Mestre: E por que você existe? (lembra do raciocínio que você veio construindo até aqui, por meio das respostas!)
-Discípulo: Eu existo porque eu tenho um propósito.
-Mestre: Aeeeewwww!! E por que as coisas existem? há algo que exista em vão?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Se fosse em vão, então, por que você existiria?
-Discípulo: Eu não existiria.
-Mestre: Você tem propósitos!! Você não é um propósito.... senão você não precisaria nascer, óbvio.
-Discípulo: (!) .... Isso!
-Mestre: Você não precisa de algo que já é. Logo, você não é um propósito. Ao contrário: você existe porque TEM propósitos.... e não porque é um.
-Discípulo: Hmmmm, mestre, acho que estou começando a entender. Continue com as perguntas, por favor!
-Mestre: Você já respondeu a pergunta que, supostamente, não tinha resposta no ínício de nossa conversa hoje a noite. Você progrediu. Foi árduo, mas progrediu.
-Discípulo: Não, não foi. Eu não tive que fazer esforço algum para compreender isso. Ao contrário, eu deveria ter me desfeito de meu esforço o quanto antes. Mas foi só agora que eu consegui fazer isso.
-Mestre: Quando eu perguntei por que você existia, você me respondeu que existia porque podia se perceber. Veja como a sua resposta parece tola, diante disso que você acaba de concluir.
-Discípulo: "Eu existo porque posso me perceber" x "Eu existo por que tenho um propósito".... hmmmmmmm.
-Mestre: Isso. A primeira leva a uma tautologia...
-Discípulo: A segunda me deixa mais envolvido comigo mesmo!
-Mestre: Compare as duas. "Eu existo porque me percebo, ou me percebo porque existo?".... Percebe a tautologia que você superou?
-Discípulo: Agora eu percebo.
-Mestre: Você existe porque você tem um propósito... assim como tudo o que existe possui um propósito. Nada existe em vão. Deus é sábio em tudo o que faz!
-Discípulo: E mesmo que a mente julgue que os propósitos não sejam grande coisa, ainda sim são propósitos.
-Mestre: Sim. Então não julguemos. A mente tem o seu valor e isso basta.
-Discípulo: ok!
-Mestre: Quando as coisas perdem o propósito, o que acontece? Quando um lápis já não pode ser usado?
-Discípulo: Eu não posso escrever.
-Mestre: Quando uma flor já não dá mais frutos? O que acontece?
-Discípulo: Eu não posso comê-los, nem apreciá-la.
-Mestre: Sim... isso porque eles acabam. Quando as coisas cumprem seu propósito, elas acabam. Tudo acaba!... Tudo existe porque tem um propósito, e quando o cumpre, acaba. Nada é eterno.
-Discípulo: E o discípulo aqui? E depois que o discípulo cumprir o seu propósito... ficarei bem?
-Mestre: Eis a verdade que você buscava. Quando você deixar de ter propósitos, você irá parar de nascer, ou renascer... enfim, você irá apenas existir. Entrará no estado de existência não-motivada.
-Discípulo: Esse estado de existência não-motivada... isso é o nirvana?
-Mestre: Eu prefiro chamar de céu, paraíso... o estado original. Fomos todos criados nús. Mas o homem quis ter propósito. O homem quis comer do fruto proibido do conhecimento... e por isso saiu do paraíso.
-Discípulo: E porque o nirvana, um estado de existência não-motivada, seria mais importante do que essa existência motivada?
-Mestre: Quando você entra no nirvana, você pára de sofrer. Tudo o que existe sofre: sofremos ao nascer, sofremos ao viver, sofremos ao morrer... Ser iluminado não significa ter alcançado o nirvana, o céu, ou seja lá como você o chame.Ser iluminado é compreender isso. Se você compreendeu isso hoje, então eu posso dizer que você é iluminado. Que importância tem isso? Bom... eu não sei. Mas quando você atribui importâncias, você julga...e cria propósitos e sofrimentos e... e.... apenas aceite.
-Discípulo: Estou entendendo. E vou tentar carregar isso dentro de mim, daqui pra frente. Aliás, eu vou carregar isso comigo.
-Mestre: Então não lamente mais nada... celebre as coisas. Agora, parece que você já entendeu. Seu interior está curado. Agora falta colocar isso pra fora... que tal? Ajudar o próximo, sem perder a humildade... o que acha?
-Discípulo: Claro!
-Mestre: Que tal cumprir o seu propósito? O motivo de sua existência?
-Discípulo: Quando eu começar a fazer isso... o propósito tomará forma... e começará a se cumprir... até que eu... enfim. Acho que entendi.
-Mestre: Que bom amigo! Você se iluminou!
-Discípulo: Hahahaahaha... não, não pode ser só isso! (...) Sério? A iluminação é isso? Só isso? Mas eu esperava tanto...
-Mestre: Você está não no fim, mas no começo de uma jornada que só começa, realmente, agora! Finalmente, você conseguiu achar o que tanto buscava.E isso só te deu mais responsabilidades. Antes não tivesse achado, não é?
-Discípulo: É verdade. Eu sinto isso.
-Mestre: Não se frustre, aceite... é assim. Você não é a Luz; você não é Deus, apenas parte dEle... apenas parte do Todo.
-Discípulo: Bom... eu aceito o que está aqui pra mim agora. Mas esse "eu esperava tanto" foi um propósito... que já se cumpriu. Agora o propósito que está se manifestando é uma frustração.
-Mestre: Aceite-a!
-Discípulo: É que eu me sinto diferente... mas não é nada de mais.
-Mestre: Sim... é algo bom. Apenas não é o que você esperava.
-Discípulo: E o nirvana... o nirvana é aquilo que está fora dos propósitos.
-Mestre: Vida é sofrimento... sofrimento está fora do nirvana. Você não está querendo alcançar o nirvana em vida, está? Ficou louco? enfim... acho que agora você já sabe tudo isso.
-Discípulo: Sim... Então soframos todos nossos propósitos, certo!? E deixemos o nirvana quietinho lá onde ele está.
-Mestre: Sim.
-Discípulo: Ok. Vou desfrutar de minha frustração, quanto à iluminação, então. Vou saboreá-la... até que ela cumpra o seu propósito e vá embora.
-Mestre: Sim... ria bastante e desfrute de sua ingenuidade. É assim que é. Parece que essa noite foi a noite da frustração... hahaha! Agora sim, dê bambuzadas em sua cabeça... não pelo que você pensa agora, mas pelo que você já pensou.
-Discípulo: Muito obrigado!
-Mestre: Sim. A noite é avançada e já está quase amanhecendo... Vamos dormir.
Medite sobre esse diálogo:
-Mestre: Responda... por que você existe?
-Discípulo: Bem... Eu estou aqui, agora, não é? Ou, pelo menos, penso que estou. O fato é que eu não posso ignorar isso.
-Mestre: E por que você está aqui agora?
-Discípulo: Porque eu posso me perceber aqui, oras!
-Mestre: A questão é "por que?"... Você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe? (...) Não entre em ciclos viciosos e dê uma resposta coerente. A questão persiste: Por que você existe?
-Discípulo: Porque EU SOU!
-Mestre: Você continua dando voltas, em ciclos. E não responde a pergunta. Você existe porque é, ou é porque existe?
-Discípulo: Então, se for assim,não há resposta para isso, mestre. Não há um porquê... há um fato não-motivado.
-Mestre: Não é só porque você não sabe a resposta que ela não exista! E te garanto que você não é o único que procura a resposta. Pense além... você consegue. Pense além... é uma pergunta simples. Perguntas simples possuem respostas simples. Se você pensar logicamente, você só irá entrar em ciclos e ficará dando voltas sem sair do lugar: "o corpo esquenta porque as moléculas se agitam.... as moléculas se agitam porque o corpo esquenta...." Bah!
-Discípulo: Mas essa pergunta pode ser pensada? Acho que a resposta só pode vir se você sentí-la.
-Mestre: O método é seu... contanto que você encontre a resposta. Se vai pensar ou sentir, isso é critério seu.
-Discípulo: Obrigado por este koan!
-Mestre: O que é koan?
-Discípulo: Koan, no zen, são perguntas passadas àqueles que buscam despertar... perguntas que só podem ser respondidas se você pensar além. Há uma famosa pergunta do ganso: "há um ganso preso dentro de uma garrafa. Como vc poderá tirá-lo de lá sem matá-lo e sem quebrar a garrafa?"
-Mestre: Hmmmm... e qual é a resposta para esta pergunta? fiquei curioso...
-Discípulo: a resposta clássica para aquele koan, a primeira que foi dada pelo discípulo que conseguiu respondê-la, foi: "mestre, o ganso está fora!!!!"
-Mestre: Mas será que ele respondeu?
-Discípulo: Dizem que essa resposta foi proveniente de ele ter pensado além...
-Mestre: E o que o mestre disse?
-Discípulo: Não sei, a história só vai até aí.
-Mestre: E você responderia o quê?
-Discípulo: Não sei... prefiro tentar responder o seu koan. Me sinto mais a vontade com ele: "você existe porque pode se perceber, ou pode se perceber porque existe?"
-Mestre: Esse não foi meu koan... esse foi o SEU! Isso não é um koan... é uma tautologia, uma artimanha sem resposta criada pela sua mente lógica. Veja bem o que você me respodeu quando eu lhe perguntei.... eu havia lhe perguntado outra coisa!
-Discípulo: A pergunta do ganso, se analisada do ponto de vista da mente, também é uma tautologia.
-Mestre: Não. A do ganso é bem objetiva... assim como aquela que eu te fiz e você não respondeu. Repito: "Por que você está aqui agora"?... a questão é:"por que?"
-Discípulo: Eu não respondi, porque ainda não fui capaz de pensar além. (Se é que esses tipos de pensamentos podem ser percebidos...)
-Mestre: E será que você seria capaz de perceber se eu te desse a resposta?
-Discípulo: Você não pode me dar a resposta!
-Mestre: Sim, eu posso. Mas se você vai aceitá-la ou não, já é outra história.
-Discípulo: Mestre, para você que já está aí do outro lado da margem, pode parecer muito fácil. Você já chegou; você já compreende e é evidente demais para você. Mas pra mim, isso é uma grande dificuldade. Então, por que eu existo? Vou lhe dar uma resposta, e a resposta é: "Eu aceito que eu existo!".
-Mestre: Eu não perguntei se você aceitava, ou não. Eu perguntei POR QUE? preste atenção... a pergunta já contém a resposta.
-Discípulo: ... ... ...
-Mestre: Insisto...a dificuldade está na sua cabeça. A pergunta é simples, e a resposta também. Vou dar uma dica: olhe para você mesmo, procure os seus erros, procure o que tem de ser mudado... você vai descobrir a resposta. Eu tenho fé nisso.
-Discípulo: MU!
-Mestre: Aí!! Eu sabia que você conseguiria!
-Discípulo: Não sei o que eu consegui... eu ainda não percebi nada.
-Mestre: Eu também não percebi nada... deve ser porque você não respondeu certo. Definitivamente, "MU" não é a resposta.
-Discípulo: Eu apenas desisti da resposta. O vácuo, por acaso, pode ser percebido? O NADA... quando você tenta estender a mão até ele, ele é como uma miragem: vai se afastando conforme você vai se aproximando. Como eu poderia percebê-lo, então?
-Mestre: O vácuo? E por que não poderia? Se não pudesse, como você se perceberia sendo o NADA? Você não me disse que tens certeza da existência porque você a percebe?
-Discípulo: Continuemos!! Quero muito encontrar essa resposta!!... Por que eu existo? Você disse que a resposta está na própria pergunta.
-Mestre: Fácil, não? Apenas 4 palavras contém a pergunta.
-Discípulo: Minha mente está interferindo muito na resposta! Ela está pensando em mil coisas... e eu continuo aqui, observando ela.
-Mestre: Esqueça todas essas coisas que você já sabe... vamos lá: se você tivesse acabado de nascer, e lhe fizessem essa pergunta, o que você responderia? Pense com a inocência de uma criança!
-Discípulo: Minha mente gostou disso que você acabou de dizer. (...) Hmmmm... vamos tomar sorvete?
-Mestre: Vamos! Amanhã. Agora está chovendo. Uma curiosidade: você não acredita em reencarnação, acredita?
-Discípulo: Acredito, sim!
-Mestre: acredita? E pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: A persistência dos desejos, quando se morre... às vezes alguém morre com vários desejos... Então, o corpo fica pra trás. Mas você, que é uma energia cármica, continua a existir e carrega os desejos que não conseguiu realizar com você. Vai renascer, portanto, até que você consiga dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: É isso o que pensas? Ou você leu isso em algum livro sobre budismo? Me parece muito com o conceito de carma... mas vamos lá: eu não perguntei o que é carma.
-Discípulo: Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar. Emoções, sensações....
-Mestre: Opa!!! pára!!
-Discípulo: hmmmm?
-Mestre: Isso que você falou por último tem algo a ver.... você está quase lá.
-Discípulo: Sim... sensações e emoções.
-Mestre: Isso não! Aquilo que você falou antes.
-Discípulo: Você vai renascer até dominar a natureza dos desejos.
-Mestre: Nada disso!... Era pra você perceber as coisas simples da vida. Olha isso que você disse: "Sem contar que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar"... Você falou essa frase e não deu impotância à ela.
-Discípulo: Isso é o que o meu pai diz. Mas essa frase ficou muito vaga.
-Mestre: Pense como criança. O que uma criança recém-nascida sabe fazer?
-Discípulo: Ela só sabe existtir!! Aliás, nem isso ela sabe. Ela existe não porque ela quer... mas porque existe.
-Mestre: Ahh!! Desisto. Você insiste em julgar: "ela só sabe existir".... até as suas próprias palavras você julga.
-Discípulo: (!) ... ok. Pergunte de novo!! Por favor!
-Mestre: Eu sei que o mundo é uma merda... mas por que o mundo existe, então? Por que eu existo pra você? Porque você existe pra mim? Por que o mundo existe pra você? E por aí vai... (...) Eu só perguntei da reencarnação pra obter isso de você: "Sem contar... que essa Terra aqui tem muitas lições para nos ensinar.". Eu não queria saber sobre a sua teoria de carma, que deve ter lido em algum livro budista.
-Discípulo: Mas essa frase também foi um julgamento, não foi?
-Mestre: Não, não foi. Isso foi uma conjectura... é diferente.
-Discípulo: O que é uma conjectura?
-Mestre: É uma afirmação categórica. Ela tende a ser neutra e não migra para pólos de julgamento. Quando eu digo que está chovendo, isso é uma conjectura minha. Eu só digo, porque percebo a chuva caindo lá fora. Eu não julguei se a chuva é boa ou ruim, se ela é necessária ou fútil... enfim.
-Discípulo: Certo... Então, quem sou eu? Qual seria a sua resposta?
-Mestre: Você é sempre você. Mas a profundidade do seu EU, você só vai descobrir quando entender porque esse EU existe.
-Discípulo: Hmmmmm.... e quem é você?
-Mestre: eu sou EU.
-Discípulo: A resposta está bem na frente da minha cara, né!
-Mestre: Se você é você, e eu sou eu...então somos EU's iguais... suponho. É isso que você pensa?
-Discípulo: sim, sim!
-Mestre: (!) Nhaaa... Esqueça... você não vai saber tão cedo.
-Discípulo: Hahaha... me desculpe, mas eu não aceito isso. Isso que acaba de dizer me soou como uma bambuzada na minha cabeça. Fique com ela pra você. E eu saberei, sim!!!
-Mestre: Então faça por onde. E se soou como bambuzada, foi porque você quis.
-Discípulo: Juro que estou fazendo tudo que posso.
-Mestre: Você insiste em encontrar a resposta naquilo que você acumulou de conhecimento.
-Discípulo: Certo.
-Mestre: Como criancinhas.... lembre. Buda não criou doutrina; as pessoas que o estudaram criaram uma doutrina. O verdadeiro Budismo nasceu com Buda e morreu com Buda. Não se prenda a doutrinas. Pense...como criancinhas.
-Discípulo: (...) O bom dessas suas provocações é que elas me fazem ficar cada vez mais atento para alguma coisa que eu não consigo pensar.
-Mestre: Juro que eu não queria te provocar. Só queria que você entendesse uma coisa muito importante para que você pudesse seguir seu caminho, mas acho que falhei.
-Discípulo: Mas olha só... suas provocações me fazem ficar alerta para alguma coisa que eu não consigo pensar. Então, nenhuma resposta vem pra mim... somente um silêncio seria a resposta. Assim, eu teria de agir sem pensar.
-Mestre: Então aja! responda! tente! Tente!! ao menos uma vez!!!
-Discípulo: Sim! eu preciso tentar isso. Pergunte-me de novo!
-Mestre: Vamos começar do começo (como já dizia o sábio matemático)!
-Discípulo: Manda bala!
-Mestre: Você acredita em reencarnação?
-Discípulo: ahhhhhh!! baaaaa ahhhhhhhh!!! ugghhhhhh!!!
-Mestre: O que???? Como?? acredita, ou não?
-Discípulo: Estou inquieto.
-Mestre: O que que você está pensando? Você não tem certeza se acredita ou não? Você tem dúvida de sua própria fé? Eu não acredito nisso....... Oh God!
-Discípulo: Não quero pensar!! Eu quero agir!... (mas isso foi um pensamento)... Ah! então foda-se tudo!
-Mestre: Vamos lá, novamente... vou facilitar!
Você acredita em reencarnação? ( ) sim ( ) não. Marque apenas uma,ok?
-Discípulo: (...) ... Sim!
-Mestre: Aeeeeeeeewwwww!!! Viu... foi fácil. E veja que não estou te julgando, e nem me posicionando quanto a tua fé. Se você acredita, então ela existe pra você, e pronto! ok? próxima pergunta... Pra você, o que justifica a reencarnação?
-Discípulo: as lições.
-Mestre: Use as frases de seu pai. Eu preferi... hehehehe.
-Discípulo: Ok! Nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui. E uma vida só não é o suficiente para aprender tudo o que ele tem a oferecer...
-Mestre: A palavra "nascer", pra você, é consectária da palavra "existir"? ( ) sim ( ) Não
-Discípulo: não.
-Mestre: Por que?
-Discípulo: Hmmm... consectária quer dizer que é a mesma coisa?
-Mestre: Não. Consectária, eu quis usar no sentido de consequência. Ahh...eu só quis perguntar: "você nasce porque existe?" (Só que eu tenho certeza que você vai se perder nessa pergunta..)
-Discípulo: Ah tá... então a resposta é "sim". Pra você nascer, você tem que existir antes. (...) Eu me perdi?
-Mestre: Não, não... felizmente.
-Discípulo: Oba! Então, próxima pergunta!
-Mestre: Você respondeu que o que justifica a reencarnação são as coisas que tem de fazer quando nasce... ("nascemos nesse planeta porque temos muitas coisas para aprender aqui")... Então, por que você nasce nesse planeta?
-Discípulo: Você já existe! (mas é vazio)... então você nasce para poder aprender a se preencher com as coisas do mundo. Isso cria um contraste que precisa ser percebido.
-Mestre: Preste atenção! A sua resposta estava em cima da pergunta. Pare de pensar e me responda.
-Discípulo: Você queria que eu repetisse a mesma coisa que eu disse antes?
-Mestre: Sim. Por acaso a sua resposta mudou?
-Discípulo: Então tá...nascemos aqui porque temos muitas lições a aprender. (A minha resposta não mudou em nada. Eu apenas disse ela de uma forma diferente.)
-Mestre: Mas eu perguntei VOCÊ... VOCÊ!! Responda na primeira pessoa.... você não colabora comigo. Vamos lá: Por que você nasce?
-Discípulo: Minha resposta não mudou, porque eu não mudei. Hahahaha.... nasço, logo existo!
-Mestre: Meu Deus!!! ok. Vou te dar a resposta. (Até você consegue me confundir)....
Por que você nasce? (perguntei)..... Porque tenho muitas coisas a aprender(você respondeu). Concorda que você me respondeu isso?
-Discípulo: Sim, foi isso o que eu respondi.
-Mestre: Affff! Eu mudo a forma da pergunta e você me responde outra coisa... que complexo! Até parece que eu perguntei outra coisa, hahahaha!! Pois bem, a próxima: Antes de você nascer, você não precisava aprender nada?
-Discípulo: Eu sabia algumas coisas.
-Mestre: Então por que você nasceu?
-Discípulo: Pra mim aprender mais.
-Mestre: Então, antes de nascer, você não sabia tudo?
-Discípulo: Eu não. Se eu soubesse, eu não precisaria estar aqui.
-Mestre: E antes de você nascer, o que você era?
-Discípulo: Uma outra pessoa, em algum outro lugar.
-Mestre: Uma pessoa não é um ser humano "nascido" com vida?
-Discípulo: Eu não quero discutir Direito Privado!
-Mestre: Hey... apenas responda. CONFIE EM MIM! ( ) sim ( ) não.
-Discípulo: Sim... pessoa é ser humano com vida.
-Mestre: Você era pessoa antes de nascer?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Yeah! Então, o que você era antes de nascer?
-Discípulo: Eu era um nascituro(feto)!! hahahaha... com expectativas de direito.
-Mestre: E antes de ser um nascituro, o que era você? (esperma não vale!)
-Discípulo: ok. Antes de ser nascituro....eu não me lembro.
-Mestre: Ok. Você disse que acredita em reencarnação. Entre o fim de sua vida passada e o nascimento de sua vida atual, o que era você?
-Discípulo:Apenas uma presença escura e silenciosa prevalece, quando eu volto minha atenção para essa sua pergunta.
-Mestre: Sim. O que você chama essa presença? É você?
-Discípulo: creio ser isso, a presença.
-Mestre: A presença é VOCÊ, ou seja, sua existência incondicional, seu EU imortal?( )sim ( ) não.
-Discípulo:Eu devo ser essa presença da qual eu não me lembro. (...) Sim!
-Mestre: Então... antes de nascer, você era você... essa EXISTÊNCIA... e que nasceu porque não sabia de tudo (pois, caso contrário, não teria nascido; pois vc me disse que nasce porque tem muito o que aprender)...ok? Então, você era você antes de nascer... mas não deixou de ser você após ter nascido, de forma que você não morre quando seu corpo morre.
-Discípulo: Sim. Eu sempre soube disso.
-Mestre: Agora, a pergunta final: Então... Por que você existe?
-Discípulo: (...)
-Mestre: Ajudinha!! ( ) pra nascer ( ) pra não nascer ... Marque apenas uma, ok?
-Discípulo: ok. (...)
-Mestre: Você tá pensando né...
-Discípulo: Estou reavaliando a sua pergunta.
-Mestre: Eu sei... você pensa. (...) Seja ao menos coerente com tudo o que você já respondeu até agora. Não é possível que você vai negar tudo o que você disse!...
-Discípulo: Pra nascer!
-Mestre: Ufaaaaaa! E você nasce por que?
-Discípulo: Porque eu já existia!
-Mestre: Não se canse... repita sem medo a resposta anterior... não tenha medo, confie em mim! Você nasce por que? Você reencarna por que?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Se você existe pra aprender muitas coisas... logo... você EXISTE para aprender muitas coisas. Ufaaaaaa........ Por que você existe?
-Discípulo: Pra aprender muitas coisas.
-Mestre: Aeeeeewwww!! E isso é o que? Um propósito, um motivo ou um desmotivo?
-Discípulo: Um propósito.
-Mestre: Isso garoto! então, você existe porque você tem um propósito. (ainda que estejamos falando apenas do propósito de aprender.)
-Discípulo: Sim, eu existo.
-Mestre: E por que você existe? (lembra do raciocínio que você veio construindo até aqui, por meio das respostas!)
-Discípulo: Eu existo porque eu tenho um propósito.
-Mestre: Aeeeewwww!! E por que as coisas existem? há algo que exista em vão?
-Discípulo: Não.
-Mestre: Se fosse em vão, então, por que você existiria?
-Discípulo: Eu não existiria.
-Mestre: Você tem propósitos!! Você não é um propósito.... senão você não precisaria nascer, óbvio.
-Discípulo: (!) .... Isso!
-Mestre: Você não precisa de algo que já é. Logo, você não é um propósito. Ao contrário: você existe porque TEM propósitos.... e não porque é um.
-Discípulo: Hmmmm, mestre, acho que estou começando a entender. Continue com as perguntas, por favor!
-Mestre: Você já respondeu a pergunta que, supostamente, não tinha resposta no ínício de nossa conversa hoje a noite. Você progrediu. Foi árduo, mas progrediu.
-Discípulo: Não, não foi. Eu não tive que fazer esforço algum para compreender isso. Ao contrário, eu deveria ter me desfeito de meu esforço o quanto antes. Mas foi só agora que eu consegui fazer isso.
-Mestre: Quando eu perguntei por que você existia, você me respondeu que existia porque podia se perceber. Veja como a sua resposta parece tola, diante disso que você acaba de concluir.
-Discípulo: "Eu existo porque posso me perceber" x "Eu existo por que tenho um propósito".... hmmmmmmm.
-Mestre: Isso. A primeira leva a uma tautologia...
-Discípulo: A segunda me deixa mais envolvido comigo mesmo!
-Mestre: Compare as duas. "Eu existo porque me percebo, ou me percebo porque existo?".... Percebe a tautologia que você superou?
-Discípulo: Agora eu percebo.
-Mestre: Você existe porque você tem um propósito... assim como tudo o que existe possui um propósito. Nada existe em vão. Deus é sábio em tudo o que faz!
-Discípulo: E mesmo que a mente julgue que os propósitos não sejam grande coisa, ainda sim são propósitos.
-Mestre: Sim. Então não julguemos. A mente tem o seu valor e isso basta.
-Discípulo: ok!
-Mestre: Quando as coisas perdem o propósito, o que acontece? Quando um lápis já não pode ser usado?
-Discípulo: Eu não posso escrever.
-Mestre: Quando uma flor já não dá mais frutos? O que acontece?
-Discípulo: Eu não posso comê-los, nem apreciá-la.
-Mestre: Sim... isso porque eles acabam. Quando as coisas cumprem seu propósito, elas acabam. Tudo acaba!... Tudo existe porque tem um propósito, e quando o cumpre, acaba. Nada é eterno.
-Discípulo: E o discípulo aqui? E depois que o discípulo cumprir o seu propósito... ficarei bem?
-Mestre: Eis a verdade que você buscava. Quando você deixar de ter propósitos, você irá parar de nascer, ou renascer... enfim, você irá apenas existir. Entrará no estado de existência não-motivada.
-Discípulo: Esse estado de existência não-motivada... isso é o nirvana?
-Mestre: Eu prefiro chamar de céu, paraíso... o estado original. Fomos todos criados nús. Mas o homem quis ter propósito. O homem quis comer do fruto proibido do conhecimento... e por isso saiu do paraíso.
-Discípulo: E porque o nirvana, um estado de existência não-motivada, seria mais importante do que essa existência motivada?
-Mestre: Quando você entra no nirvana, você pára de sofrer. Tudo o que existe sofre: sofremos ao nascer, sofremos ao viver, sofremos ao morrer... Ser iluminado não significa ter alcançado o nirvana, o céu, ou seja lá como você o chame.Ser iluminado é compreender isso. Se você compreendeu isso hoje, então eu posso dizer que você é iluminado. Que importância tem isso? Bom... eu não sei. Mas quando você atribui importâncias, você julga...e cria propósitos e sofrimentos e... e.... apenas aceite.
-Discípulo: Estou entendendo. E vou tentar carregar isso dentro de mim, daqui pra frente. Aliás, eu vou carregar isso comigo.
-Mestre: Então não lamente mais nada... celebre as coisas. Agora, parece que você já entendeu. Seu interior está curado. Agora falta colocar isso pra fora... que tal? Ajudar o próximo, sem perder a humildade... o que acha?
-Discípulo: Claro!
-Mestre: Que tal cumprir o seu propósito? O motivo de sua existência?
-Discípulo: Quando eu começar a fazer isso... o propósito tomará forma... e começará a se cumprir... até que eu... enfim. Acho que entendi.
-Mestre: Que bom amigo! Você se iluminou!
-Discípulo: Hahahaahaha... não, não pode ser só isso! (...) Sério? A iluminação é isso? Só isso? Mas eu esperava tanto...
-Mestre: Você está não no fim, mas no começo de uma jornada que só começa, realmente, agora! Finalmente, você conseguiu achar o que tanto buscava.E isso só te deu mais responsabilidades. Antes não tivesse achado, não é?
-Discípulo: É verdade. Eu sinto isso.
-Mestre: Não se frustre, aceite... é assim. Você não é a Luz; você não é Deus, apenas parte dEle... apenas parte do Todo.
-Discípulo: Bom... eu aceito o que está aqui pra mim agora. Mas esse "eu esperava tanto" foi um propósito... que já se cumpriu. Agora o propósito que está se manifestando é uma frustração.
-Mestre: Aceite-a!
-Discípulo: É que eu me sinto diferente... mas não é nada de mais.
-Mestre: Sim... é algo bom. Apenas não é o que você esperava.
-Discípulo: E o nirvana... o nirvana é aquilo que está fora dos propósitos.
-Mestre: Vida é sofrimento... sofrimento está fora do nirvana. Você não está querendo alcançar o nirvana em vida, está? Ficou louco? enfim... acho que agora você já sabe tudo isso.
-Discípulo: Sim... Então soframos todos nossos propósitos, certo!? E deixemos o nirvana quietinho lá onde ele está.
-Mestre: Sim.
-Discípulo: Ok. Vou desfrutar de minha frustração, quanto à iluminação, então. Vou saboreá-la... até que ela cumpra o seu propósito e vá embora.
-Mestre: Sim... ria bastante e desfrute de sua ingenuidade. É assim que é. Parece que essa noite foi a noite da frustração... hahaha! Agora sim, dê bambuzadas em sua cabeça... não pelo que você pensa agora, mas pelo que você já pensou.
-Discípulo: Muito obrigado!
-Mestre: Sim. A noite é avançada e já está quase amanhecendo... Vamos dormir.