- Masaharu Taniguchi -
O que é Vida, essa força misteriosa que nos anima? Suponhamos que alguém nos diga: "Mostre-me a Vida, apresente-a diante de mim, pois quero examiná-la". Claro que não podemos mostrar-lhe a Vida, pois ela é invisível. Sabemos que a Vida existe, mas não podemos apontá-la e dizer: Eis aqui a Vida. Podemos mostrar o corpo vivo, mas o corpo em si não é a própria Vida. Suponhamos que se corte um pedaço do corpo e se procure a Vida na carne ainda fresca e palpitante. Estaria ali a Vida? Não. Não se pode encontrar a Vida numa parte do corpo, separado do resto, seja ela um braço, uma perna ou o tronco. Então, a Vida estaria no cérebro, que comanda os movimentos do corpo? Se retirar o cérebro e o examinar, constatar-se-á que também ali não se encontra a Vida. Conclui-se, pois, que a Vida é invisível.
O corpo carnal não é a própria Vida. Então, o que é o corpo carnal? É a manifestação da Vida – não manifestação direta, e sim indireta. Pode-se argumentar que o coração é que mantém vivo os seres, pulsando e bombeando o sangue. Mas o coração está apenas cumprindo sua função de fazer circular o sangue. Ele não é a Vida em si. Pode-se argumentar, também, que os pulmões é que mantêm vivos os seres, enviando oxigênio ao organismo. Mas também os pulmões estão apenas cumprindo sua função de absorver o oxigênio do ar e expelir o gás carbônico resultante das queimas orgânicas. Essa função, em si, não é a Vida. Tanto o coração como os pulmões e demais órgãos do corpo não passam de manifestações a Vida. A Vida é invisível aos olhos físicos. Sabemos que a Vida existe, mas não podemos vê-la. O fato de a Vida não ser visível apesar de existir e manter o corpo animado leva-nos à compreensão de que a Vida transcende a matéria e o espaço tridimensional, e que ela constitui nossa Essência, ou seja, nosso "Eu verdadeiro". Pensávamos que nosso "eu" fosse o corpo carnal. Mas o corpo carnal é expressão do "Eu verdadeiro" que transcende a matéria e o espaço.
Já que o corpo carnal não é o "Eu verdadeiro", e sim expressão deste, podemos compará-lo a uma obra de arte. Quando o artista pinta um quadro, ele está expressando sua Vida num espaço bidimensional, que é a tela. Embora a Vida tenha infinitas dimensões, neste caso ela se manifesta na tela, que é uma superfície plana. E as pessoas, apreciando o quadro do artista, elogiam-no, comentando que é uma obra transbordante de Vida. De fato, ao ver uma verdadeira obra de arte, sentimos que dela emana a Vida do artista. Contudo, isso não significa que a Vida dele esteja presente nesse espaço bidimensional, que é a tela. O que se vê nela é apenas a expressão da Vida do artista. Por isso, mesmo que seguremos esse quadro, não teremos em nossas mãos a Vida em si. Expressão da Vida não é a Vida em si. Todas as formas manifestadas neste mundo são expressões – no espaço de dimensões limitadas – da Vida em si, que tem infinitas dimensões. Portanto, ao apontar algo manifestado no espaço tridimensional e dizer "eis aqui a Vida", a pessoa estará apontando indiretamente para a Vida em si, invisível aos olhos físicos. A Vida em si possui "conteúdo" transcendental, que os olhos físicos não conseguem captar.
Como a Vida é invisível, pode-se pensar que ela nada tem a ver com a forma. Porém, isso não é verdade. Se a Vida não abrangesse dentro de si elementos que constituem formas, não poderia expressar-se por meio delas. Ao pintar um quadro, o artista faz surgir uma forma sobre a tela. Essa forma já estava, por assim dizer, "dentro da Vida do pintor". A Vida, produzindo vibrações, forma dentro de si uma imagem e o artista pinta essa imagem sobre a tela. Portanto, a imagem pintada, visível aos olhos físicos, é reflexo da imagem mental, que é invisível.
Se a imagem visível tem forma, é porque a Vida que a projetou no mundo fenomênico traz, dentro de si, "elementos que constituem formas". Os elementos são contidos na Vida e na mente invisíveis, porque pertencem a uma dimensão mais elevada do que este mundo, mas isso não significa que eles não tenham formas. Não seria possível desenhar um círculo se essa forma não fosse delineada primeiro na mente. Se a forma não existisse na mente, não poderia ser representada na tela; assim como não seria possível desenhar um triângulo se, antes, a forma desse triângulo não fosse delineada na mente. Dentro da mente estão abrangidos o círculo, o triângulo, o quadrado, enfim, uma quantidade infinita de formas, e por isso somos capazes de expressar as mais variadas formas. Não podemos ver a mente, justamente porque ela abrange uma infinidade de formas ao mesmo tempo: o círculo, o triângulo, o quadrado, a esfera, o plano. etc. Nosso sentido de visão só consegue captar as faces que se apresentam nos planos frontal e lateral. Quanto à face que se projeta no terceiro plano (profundidade), o sentido de visão não consegue captá-la; assim, só podemos ter ideia dela, observando as faces projetadas nos planos visíveis. Nossos olhos não conseguem ver o lado oculto do objeto tridimensional. Mas a mente tem dentro de si infinitas formas, embora não projete todas elas no mesmo plano.
O que faz a mente conceber as mais variadas formas é a Vida. Assim como a mente, a Vida – que transcende os planos e abrange uma infinidade de formas –, não é captada pelo sentido da visão. Se queremos desenhar uma figura (um círculo, por exemplo), a Vida faz com que surja na mente essa forma. Dizemos, portanto, que "tudo que se delineia na mente é produto das ondas de pensamentos (ideias) geradas pela Vida". Todas as coisas/ideias estão abrangidas na Vida, antes de serem concebidas pela mente. A Vida é como um manancial inesgotável de riquezas – traz tudo dentro de si. Escolhido algo entre seu conteúdo infinito, formam-se ondas de pensamento. Quando pensamos em algum objeto, delineamos na mente a sua forma. Porém, antes de serem delineadas na mente, todas as formas estão abrangidas pela Vida: o triângulo, o quadrado, o pentágono, o hexágono, figuras planas, figuras tridimensionais, linhas retas, linhas curvas, etc., etc. A Vida é capaz de criar toda e qualquer forma, e no entanto ela própria não tem forma.
No budismo diz-se que "a Vida não tem forma e, ao mesmo tempo, possui infinitas formas". Tudo que tem uma forma definida é limitado por essa forma; por exemplo, o que tem forma triangular não pode tomar a forma quadrada. Porém, o que não tem forma pode apresentar uma infinidade de formas. A Vida, justamente por não ter forma, traz dentro de si infinitas formas (o triângulo, o quadrado, o pentágono, o hexágono, etc.). Esse é o verdadeiro aspecto da Vida.
Por abranger dentro de si infinitas formas, a Vida é totalmente livre. Conforme disse antes, tudo que tem uma forma definida é limitada, não tem liberdade de se manifestar sob outras formas. Um objeto cuja forma definida é quadrada não pode assumir a forma triangular, nem qualquer outra forma. Não podendo assumir nenhuma outra forma, não é livre. Nosso corpo carnal tem uma forma definida, e é limitado pelo tempo e espaço; portanto, não tem liberdade. Todas as coisas assumem uma forma definida e mensurável quando se manifesta neste mundo regido pelo tempo e espaço. Assim, embora a nossa natureza original seja a Vida infinitamente livre, quando nos manifestamos neste mundo, autolimitamo-nos e assumimos uma forma definida. Em outras palavras, apesar de sermos originalmente ilimitados, tornamo-nos limitados porque restringimos a nós mesmos. Podemos fazer a seguinte comparação: mesmo que uma garrafa esteja repleta de água, verterá apenas uma pequena quantidade de água se a saída (gargalo) for estreita e limitada. Assim também é o ser humano. Na verdade, somos ilimitados, mas neste mundo somos sujeitos a restrições impostas pelo tempo e espaço e, por conseguinte, pelo nosso corpo carnal que, por pertencer ao mundo regido pelo tempo e espaço, tem uma forma definida. O corpo carnal, por ter uma forma definida, não pode assumir outras formas, nem mudar de tamanho. Uma pessoa com cerca de 1,60 m de altura e 55 kg não pode transformar-se num gigante, e vice-versa. Por termos nos autolimitado e manifestado sob uma forma definida, perdemos a liberdade e a versatilidade. Porém, a Vida que constitui nossa Essência é infinitamente livre e versátil. Portanto, nosso "Eu verdadeiro" abrange dentro de si infinitas formas.
Abranger simultaneamente infinita variedade de formas – assim é a verdadeira natureza da Vida, assim é o "Eu verdadeiro". A Vida, embora abranja uma infinita variedade de formas, manifesta-se neste mundo limitando-se a si mesma, sob uma forma definida. Assim, nascemos com o corpo carnal, que tolhe a nossa liberdade original. É por isso que o ser humano odeia o seu próprio corpo. À primeira vista, parece que todas as pessoas gostam de seu próprio corpo, mas na verdade é o contrário. Alguns se apegam a seu corpo de tal modo, que vivem buscando prazeres para satisfazê-lo. Mas, no íntimo, mesmo essas pessoas odeiam seu próprio corpo. Embora pareçam amá-lo, proporcionando-lhe prazeres, na verdade estão destruindo-o pouco a pouco. Uns se deleitam com finas bebidas e iguarias; outros, buscam o prazer do fumo; e outros ainda, entregam-se à libertinagem. Tais pessoas estão, na verdade, "dilapidando" o próprio corpo. À primeira vista, a busca dos prazeres carnais parece ser a manifestação de amor ao próprio corpo; mas, na verdade, não o é. No fundo, o ser humano odeia o próprio corpo porque este o priva da liberdade total. Esse ódio se revela claramente nos atos de autoflagelação praticados por ascetas, que buscam o aprimoramento espiritual. A prática do jejum do asceta En-no-Gyoja, do profeta João Batista, e outros, são exemplos de autoflagelação.
A autoflagelação parte do pressuposto de que para libertar a alma é preciso submeter o corpo ao sofrimento; é um ato que traduz o desejo de voltar ao estado de total liberdade inerente à Vida. Isto é, pela tortura do corpo, busca-se destruir a barreira que impõe limitação, para que a Vida volte ao estado original de plena liberdade. Assim, flagelando o próprio corpo, os ascetas sentem o prazer de liberdade da alma. Efetuar jejum prolongado, tomar banho de água gelada, produzir ferimento no próprio corpo, enfim, qualquer que seja o método de autoflagelação, quanto mais o corpo sofre, maior é o prazer espiritual do asceta, pois experimenta a sensação de vitória. Segundo certos registros, alguns ascetas do bramanismo praticam métodos de autoflagelação muito dolorosos, tais como usar em torno da cintura nua um cinto com a superfície interna cheias de pontas de arame. Cada vez que o asceta se curva ou se alonga, as pontas de arame ferem-lhe a pele, causando-lhe muita dor. Mas, embora o corpo sofra, a alma experimenta o prazer da vitória. Quanto maior o sofrimento físico, maior é a sensação de liberdade da alma. Esse é o fundamento das práticas ascetas.
Não somente os ascetas, mas inúmeras outras pessoas buscam essa libertação. Citemos, como exemplo, os espectadores de shows, cinema, teatro, etc. Eles desejam expressar livremente a infinita variedade de aspectos que têm dentro de si, mas devido às limitações do corpo não podem exprimir tudo. Existem restrições de cunho social e moral, bem como restrições de tempo e espaço. Por isso, buscam a compensação, que consiste em assistir à atuação dos artistas no palco e sentir como se eles próprios estivessem vivenciando as experiências vividas pelos personagens da peça. Assim, em muitos casos, quando os personagens da peça choram, os espectadores também choram. Os espectadores se identificam com os personagens e através deles procuram liberar, pelo menos um pouco, as infinitas formas abrangidas na Vida.
Como afirmei há pouco, a arte nos faz liberar, pelo menos um pouco, as infinitas formas que trazemos dentro de nós. Por isso, a arte alegra a alma, proporcionando-lhe a sensação de libertação. Contudo, como a Essência da Vida do ser humano abrange infinita variedade de aspectos, não é possível manifestar plenamente toda a liberdade que lhe é inerente mesmo que tentemos expressá-la no universo da arte. Enquanto tiver corpo carnal, o ser humano não consegue, de modo algum, manifestar plenamente a sua natureza infinita. Por essa razão, em seu subconsciente, o ser humano odeia o próprio corpo; considera-o um inimigo que tolhe sua liberdade e, portanto, secretamente deseja fazer o possível para provocar-lhe sofrimento, fazê-lo adoecer e abreviar-lhe a existência. Assim, o subconsciente leva avante, em surdina, o "plano de aniquilar o corpo"; e é por isso que neste mundo não cessam as doenças, o sofrimento e as desgraças. Por mais que a medicina descubra novos medicamentos ou desenvolva novos métodos de tratamento, as doenças não param de surgir, porque o subconsciente da humanidade, por considerar o corpo carnal como o inimigo que tolhe a liberdade inata do ser humano e desejar fazê-lo sofrer, age no sentido de criar mais doenças. Por considerar o corpo carnal responsável pelos pecados, o subconsciente da humanidade odeia-o e deseja destruí-lo; em outras palavras, procura negar o corpo carnal. Por isso, Jesus Cristo deixou-se crucificar; o apóstolo João disse: "a carne para nada aproveita", o apóstolo Paulo ensinou: "... se viverdes segundo a carne, morrereis"; e São Francisco de Assis, orou para que seu corpo "passasse pelas mesmas dores que Jesus Cristo padeceu" e recebeu os estigmas.
E a Seicho-No-Ie, de que modo "aniquila" o corpo carnal? Declarando categoricamente que "o corpo carnal não existe de verdade". Assim sentenciamos, porque sabemos que o corpo carnal tolhe nossa Vida enquanto pensarmos que ele existe. Acreditar que o corpo carnal existe é admitir sua importância. Podemos fazer a seguinte comparação: Se um homem briga com a esposa, é porque reconhece a presença dela e o poder que ela exerce sobre ele. Com a senhora do vizinho, ele não teria motivo para brigar, porque é indiferente à presença dela. Justamente por passar despercebida, não ocorre desentendimento, e a vizinha leva uma vida livre e descontraída. Do mesmo modo, o corpo carnal também se descontrai e se torna vigoroso quando o ignoramos, acreditando firmemente que ele "não existe de verdade". Quem faz o corpo carnal sofrer, ainda não compreendeu que, na verdade, "o corpo carnal não existe". É por isso que odeia o próprio corpo e, no intuito de torturá-lo e destruí-lo, faz surgir doenças, infortúnios e desgraças. As pessoas comuns, embora odeiem o próprio corpo, não são capazes de se deixar pregar na cruz e morrer com o corpo atravessado pelas lanças, como Jesus Cristo. Por isso, tentam destruir o próprio corpo, por meio de doenças crônicas. Pode-se dizer que elas crucificam o corpo carnal, fazendo-o sofrer de doenças crônicas do aparelho digestivo, das vias respiratórias, da cabeça, etc.
É muito frequente ocorrer a cura da doença pela leitura do livro A Verdade da Vida. Isto porque ele expõe com clareza a Verdade de que "o corpo carnal é inexistente". À medida que a pessoa prossegue a leitura desse livro, seu subconsciente vai se libertando do apego ao corpo, e ela deixa de ter preocupações referentes a ele, tal como alguém que nem se dá conta da presença da vizinha. Então o corpo se descontrai e se torna mais vigoroso. Se o corpo carnal fosse existência verdadeira, seria realmente um obstáculo a tolher a alma; assim, para libertarmos a alma, precisaríamos fazer o corpo sofrer, ferindo-o ou submetendo-o à doença pulmonar, doença gástrica, doença renal, etc. Porém, o corpo carnal não é existência verdadeira e, quando compreendemos isso, percebemos que não há necessidade de fazê-lo sofrer. A partir do momento em que conseguimos a negação total do nosso próprio corpo pela compreensão do ensinamento "o corpo carnal não é existência verdadeira", preconizado pela filosofia da Verdade da Vida, desaparece do nosso subconsciente a ideia de que é preciso torturar o corpo para purificar a alma. Desaparecendo tal ideia, o subconsciente não cria doenças. Portanto, ao apreendermos a Imagem Verdadeira da Vida e compreendermos que "o corpo carnal não é existência verdadeira", a doença se extingue.
Mas, mesmo após compreendermos que "o corpo carnal não existe", o corpo carnal continua visível. Perguntamos, então: o que é, afinal, o ser humano que parece ser mero corpo carnal? Na verdade, o corpo material, é produto da ilusão. O "Eu verdadeiro" do ser humano é Vida infinitamente livre. Devemos despertar para o fato de que somos seres espirituais, perfeitos, desde o princípio. Então, o "eu material" dá lugar ao "eu espiritual", e manifesta-se a nossa natureza original sem pecado algum. Manifestando-se a perfeição original, é impossível ocorrer doenças.
A maioria das pessoas confunde o "eu carnal" com o "eu espiritual". Por isso, quando sofre uma agressão física, a pessoa fica furiosa com o agressor e diz: "Aquele canalha me agrediu". Como as pessoas pensam que seu "Eu verdadeiro" é o corpo carnal, é inevitável ficarem zangadas quando sofrem agressão física. Porém, o corpo carnal não é o "Eu verdadeiro" do ser humano, e sim uma imagem projetada pela mente. O corpo carnal não é o "eu espiritual" em si, criado por Deus; na verdade não passa de uma sombra projetada no mundo fenomênico, por meio de "vibrações mentais". Na Seicho-No-Ie diz-se: "mudança radical da consciência da natureza de si mesmo" ou "transformação completa da visão de si mesmo", referindo-se à conscientização de que o "Eu verdadeiro" não é o corpo carnal – que não passa de mera "sombra" projetada pela mente –, mas sim um "ser espiritual", a vida infinita que habita o corpo carnal, vivificando-o. Eu diria que essa "mudança da consciência" corresponde ao arrependimento e conversão, na linguagem do cristianismo. Conversão é a mudança total da consciência da natureza de si próprio, em que a pessoa compreende que seu "Eu verdadeiro" não é o corpo carnal – como ela acreditava – mas sim um ser espiritual, e se conscientiza de que, embora esteja manifestada como corpo carnal, na verdade, é um ser eterno e infinitamente livre.
Do livro "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 141-152