terça-feira, junho 30, 2015

Ensinamentos Essenciais da Oneness - 2/4

- Sri AmmaBhagavan - 


- “Todo o esforço desse movimento (Oneness) é para ajudá-lo a experienciar a realidade como ela é. Quando isso acontecer, você vai descobrir o amor incondicional, a alegria incondicional. Você se sente conectado com todas as coisas e com todas as pessoas. Você não sente que você é um indivíduo separado. Você não vive mais para si mesmo; porque o ‘si mesmo’ terá se tornado ‘todo mundo’. Você vive para o bem da humanidade, o que não é um conceito ou algo imaginário, essa é a realidade cotidiana, quando você se torna iluminado.”

- “Você não pode experienciar a realidade como ela é. O que você precisa entender é que não há como você, por si mesmo, compreender e experienciar a realidade como ela é. Quando você se sentir completamente impotente, então o que chamamos de Kundalini sobe. Quando a Kundalini sobe, o experienciar da realidade como ela é acontece, não é que você tente experienciar. Isso acontece naturalmente.”

- “Para o não desperto, se você tentar ficar no momento você enlouquecerá. O despertar tem que acontecer. É uma forma diferente de acionar os neurônios. Você não pode fazer isso. É uma cirurgia que nem mesmo um médico pode fazer. Apenas o Divino pode fazer isso. A kundalini tem que ser acionada de uma forma particular que apenas o Divino pode fazer. A Deeksha vai fazer isso.”

- “Isso deve ser entendido: a Oneness não é um culto. Se fosse um culto, nós diríamos para você se relacionar com apenas um ser, um mestre em particular, um ritual em particular. E esse não é o caso. A fotografia de AmmaBhagavan pode estar lá, mas o que você deve fazer é: você deve invocar o professor, o mestre, aquele Deus com quem você pode se relacionar, e invocar os Seus ensinamentos.”

- “Consciência é o desconhecido. Não o desconhecido que poderá ser conhecido amanhã. Ela é o não cognoscível. E permanecerá para sempre não conhecida. Tudo que existe, é consciência. Aquele que faz a pergunta “o que é consciência?”, é consciência. Aquele que está respondendo, é consciência. O próprio processo de perguntar e responder é, em si, consciência. Se tudo for consciência, como você poderia um dia conhecê-la? Para conhecer algo, você precisa estar fora dele. Para compreender alguma coisa, você tem que estar fora dela. Você não pode ser parte daquilo que busca conhecer. A parte nunca pode compreender o todo. Consciência deverá permanecer não conhecida para sempre.”

- “Todas as coisas são por fim como a cebola. Se você for descascando a cebola, verá que não há nada lá no final. Da mesma forma, se você fosse retirando as camadas das experiências de vida, da Consciência, Deus ou de qualquer coisa, no fim você perceberia que não há nada além de silêncio. Todas as coisas emergem desse silêncio e retornam a esse silêncio. Você também irá, eventualmente, imergir nesse silêncio de onde você originalmente surgiu. A vida é um mistério a ser vivido, não a ser resolvido ou compreendido. Isso é tudo o que ela é.” 

- "Se você conhece o seu Ser, a questão de se tornar deixa de existir. Tudo o que você jamais imaginou que poderia um dia se tornar, você já é. Vocês são deuses que se esqueceram quem são. Vocês são imperadores que adormeceram e estão sonhando que se tornaram mendigos. Agora os mendigos estão tentando se tornar imperadores; nos sonhos, eles estão fazendo grandes esforços para se tornarem imperadores. E tudo o que é necessário é despertar." 

- “Todas as coisas vêm de uma única fonte. Pode ser Deus ou energia. Não há um início ou fim à vida. Se você identificar esta fonte, você não diferenciará entre o bom, o mau, o certo e o errado. Todas estas coisas são nossos pontos de vista. Tudo veio de uma só fonte.”

- “A mente é divisiva por natureza. Você está constantemente dividido entre o certo e o errado; o bom e o ruim; o perfeito e o imperfeito; o que ‘deveria-ser’ e o que ‘não-deveria-ser’, e portanto há conflito. O conflito provoca um vazamento de energia. E isso é sofrimento. Quando o conflito cessa, há uma quietude de energia. E essa quietude de energia é inteligência.”

- "Tudo no Universo se move da ordem para a desordem, da desordem à ordem; do ódio para o amor, do amor ao ódio; da inteligência para a não inteligência, desta para a inteligência; de emoções negativas para positivas e de emoções positivas para negativas. Esta é a natureza da mente. Se você precisa escapar, é da mente que você precisa escapar. Vá além da mente. É assim que você se torna iluminado. Se você se mantiver nos confins da mente, o problema estará lá. Despertar é sair da prisão da mente. Se você sair da mente, então estará vivendo de verdade."

- "Existe uma Consciência Coletiva que guia cada espécie, que protege cada espécie. É a Presença que está em tudo. Está viva e é sagrada. É por isso que se diz que tudo o que há é um Ser Único. A Consciência Coletiva é uma emergência sinérgica de todas as pequenas consciências colocadas juntas. É a Inteligência que flui todas as coisas, e em todas as coisas. Quando a Consciência Coletiva desperta no seu coração, é o que se chama Antaryamin (Ser Interior). O Divino está em todas as partes, e em nenhum lugar. Tudo é o Divino. E é por isso que devemos respeitar tudo na vida. Porque tudo o que é apenas o Ser Único."

- “A mente inconsciente é 2 milhões de vezes mais poderosa do que a sua mente consciente, e na maior parte do tempo é o inconsciente que está funcionando. Mas a mente consciente pensa que é ela mesma que está fazendo as coisas. A pessoa que está desperta (iluminada) é plenamente ciente de que o inconsciente está funcionando a maior parte do tempo. A pessoa que está desperta constantemente testemunha a mente inconsciente atuando. Dessa forma, conforme todas as coisas vão ocorrendo, essa pessoa sente como se não estivesse fazendo nada.”

- "É a Consciência que está testemunhando. É isso o que denominamos ‘Chit’. E a consciência também é bem-aventurança, que denominamos ‘Ananda’. É por isso que cantamos Sat-Chit-Ananda. Essas são as propriedades da consciência, portanto, ela também é a própria capacidade de testemunhar. Ela não pode participar, mas ela pode testemunhar. Então é a consciência que está testemunhando a mente, que está testemunhando os pensamentos. E quando a consciência testemunha, ela não se identifica. Ela simplesmente vê os pensamentos, vê a mente, vê as ações. E Você é essa pura consciência."

- “O Universo é, basicamente, imprevisível. Porque o Universo é uma coisa viva, e está mudando a cada momento. Quando a pessoa vê que a vida está além de seu controle, então entregar-se com aceitação à vontade Divina se torna algo sábio.”

- "Abrir sua mente para o silêncio que é a fonte da sua mente é abrir-se para o seu verdadeiro Ser. O silêncio consciente já está aberto. Você já está aberto. Permita que sua mente pare de juntar informações, pare de imaginar o futuro, e pare de elaborar estratégias de sobrevivência. Deixe que sua mente seja simplesmente possuída por sua própria fonte. Reconheça que a capacidade de se abrir à verdade do seu Ser está sempre aqui."

- “Quando você se entregar, o divino vai agir. Entrega é quando você sente que não pode fazer mais, e então você relaxa e dá passagem ao Divino. É nesse momento que a Deeksha vem e te leva pra longe da mente. Então você dirá: 'Ver está acontecendo, consciência está acontecendo, tudo está acontecendo automaticamente.' Quando você se liberta da mente, naturalmente você pode testemunhá-la. E uma vez que você se liberte todos os ensinamentos que falamos se tornam realidade. Até lá, serão apenas ensinamentos, e não a sua experiência.”

- “O ensinamento diz que você não pode mudar e não há necessidade de mudar porque você foi projetado assim. Você é Isso. Isso é tudo. Esse é o único ensinamento. Portanto você aceita ‘Eu não posso mudar, então o que há a fazer? Nada a fazer. E não há nada errado nisso, porque eu fui projetado dessa forma’. Você não projetou a si mesmo. Deus desenhou você dessa forma. Ele tem algum propósito em projetar você assim. E então a completa aceitação acontece.”

- "É nesse ponto que você entrega: quando você realiza que não pode fazer nada mais. Mas enquanto você puder fazer alguma coisa, você deve fazer. E não deve ficar à procura da ajuda que possa vir do Divino. Apenas no ponto em que você diz 'eu não posso fazer', nesse ponto você vai ter que rezar e pedir ajuda. E então a Graça definitivamente virá."

- "A Graça é como uma brisa fresca, cuja hora de chegada não pode ser prevista. Tudo o que você pode fazer é esperar por ela na sua janela. Você aprecia a brisa quando ela vem, e assim é com a Graça. Sua parte é rezar/meditar e esperar. E quando a Graça o alcançar, aceite-a com humildade."

- "O Universo inteiro está atuando em você, da mesma forma que você atua e afeta todo o Universo. A sua transformação vai afetar milhares de pessoas, e o Universo como um todo."

- "Perceba que tudo que você experiencia na sua vida é pela graça de Deus. Suponha que você escorregue enquanto estiver caminhando, tente perceber isso como sendo a graça de Deus também. Se você enxergar a graça de Deus em todas as coisas, sua vida se tornará maravilhosa."

- "Perceba que tudo que você experiencia na sua vida é apenas um 'teste' dado a você por Deus. Não se trata de uma experiência ruim. Se fosse considerada uma experiência ruim, então isso significaria que Deus não é compassivo. Se você experiencia um problema, considere isso uma oportunidade para você enfrentá-lo e sair dele. A você foram dadas pessoas, saúde e confiança para enfrentar os desafios. Se você compreender isso, sua confiança irá aumentar. Apenas para verificar a sua confiança, Deus dá a você um teste."

- "Uma pessoa feliz é uma pessoa espiritual. Ela naturalmente semeia a felicidade para os outros. Uma pessoa infeliz causa miséria e angústia ao seu redor. Uma pessoa feliz não precisa de código moral ou ético, porque ela é verdadeiramente virtuosa. Ela não precisa praticar a bondade. Quando você está feliz, naturalmente há um sentimento de amor, serviço e alegria. Você está inclinado a crescer e a ajudar os outros a crescerem. Uma pessoa feliz é aquela que está confortável com quem ela é. Assim, busque identificar as coisas que você não gosta em si mesmo, e receba a energia Deeksha com a intenção de auto-aceitação e amor."

- "A Bênção da Unidade vem do Divino, então não é a pessoa que está dando a bênção; a bênção é que está vindo do Divino. O Divino está tentando conectar-se com Ele mesmo. Portanto, o mais importante é se aproximar do Divino. E o Divino é nosso próprio Eu Superior; não é algo externo a nós. É a nossa própria natureza humana. Isso é o que chamamos de Divino. E a Benção vem do Eu Superior para que possamos tornar-nos Um. Não devemos perder isso de vista."

- "A função dos Guias e dos Trainers é conectar você com o seu Divino Interior, conectar você com os seus AmmaBhagavan, fazer você se dar conta de que cada um de nós tem um Deus pessoal pronto para nos responder, pronto para chegar a nós. E uma vez que você esteja conectado com o seu Divino, automaticamente depois disso há apenas você e o seu Divino. À medida que você se conecta com o seu Divino, automaticamente através de você, outras pessoas vão se tornar mais próximas do Divino, vão descobrir a Deeksha, vão descobrir a Oneness – todas as coisas vão acontecer. Para isso, primeiro você deve se conectar com o seu Divino. Esse é o primeiro e o último passo.”

- "Para fortalecer a sua devoção, você deve constantemente se manter falando com o seu Divino. Você deve falar da forma na verdade como você falaria com um amigo. Não há uma maneira especial de falar com o Divino. É simplesmente a forma como você fala com os seus pais ou amigos. Mas deve haver emoção na sua fala. Se não houver emoção, sua fala será em vão. À medida que você continua falando, uma ligação se estabelece. Uma vez que essa ligação é estabelecida, você pode pedir qualquer coisa que quiser, e você receberá!"

- "Pobreza ou prosperidade começam no pensamento. Prosperidade muito freqüentemente torna você espiritual, porque as suas necessidades e prazeres logo se tornam satisfeitos. E então você naturalmente se move para propósitos e sentimentos mais elevados."

- "Cada um de vocês tem uma opção, ficar à deriva como uma folha seca carregada aqui e acolá pelos ventos, ou voar como uma flecha em direção ao seu destino e o Universo o ajudará a alcançar o que você quer. O Universo é como a lâmpada mágica de Aladin. Ele dará a você o que quer que você busque."

- “Por favor, foque na solução, não no problema. Muito frequentemente, quando você reza, o seu foco está no problema. Por favor, não faça isso. Se você quer dinheiro, não reze explicando quais são as suas dificuldades, simplesmente diga eu quero esse dinheiro e então visualize esse dinheiro em três dimensões, com cores e com completa emoção, como se ele já tivesse sido dado a você; está aí nas suas mãos. É dessa forma que você deve rezar, seja se for por dinheiro, por saúde ou por relacionamentos, o que for. E então, seja autêntico na sua prece e reze a partir de um estado de transformação, não de um estado de depressão. A postura física deve ser uma postura de um estado de transformação. Os pensamentos devem ser pensamentos de transformação. A partir desse estado, reze, não a partir de um estado de depressão. Então as três coisas são: a solução, autenticidade e prece a partir de um estado de transformação, e então você verá quão belos os resultados são.”

- “As coisas boas que acontecem na vida de um indivíduo se devem a uma boa programação no inconsciente dele. Similarmente, os eventos negativos que ocorrem na vida de uma pessoa se dão devidos à programação negativa que existe no inconsciente dessa pessoa. Da mesma forma, o que quer que aconteça em um país, depende dos programas existentes no inconsciente coletivo. Se há um programa negativo, coisas negativas acontecem entre as pessoas do país. Se existem programas positivos no inconsciente coletivo, coisas positivas acontecem entre as pessoas daquele país."

- "Muitos trabalhos curam programas na mente consciente, enquanto os problemas reais estão no inconsciente. A Deeksha atua sobre o inconsciente, mudando os programas que estão lá. Essa é a diferença entre a Deeksha e outros tipos de trabalhos de cura, meditação, cursos de yoga, etc."

- "Como você pode continuar crescendo? Fortalecendo a sua conexão com seu Divino interno. E como você pode fortalecer esta conexão? Você primeiro pratica a Integridade Interior. Você permanece com a verdade a respeito de si mesmo. Encare a verdade sobre si mesmo. Aceite a si mesmo. Ame a si mesmo."

- Você deve primeiro investigar e através da indagação você vai saber o que está acontecendo dentro. Assim, corajosamente, vá em frente. A Bênção (Deeksha) vai ajudá-lo a ir para dentro, a ver diversas coisas que você nunca imaginou antes. É isso o que todos os grandes fizeram. Seja um Buda ou um Cristo. Eles fizeram isso. Eles foram para dentro. Eles viram o que está lá e disseram 'então que seja assim'. Quando você diz "então que assim seja", você fica livre. Tudo está lá, mas você está livre."


domingo, junho 28, 2015

Ensinamentos Essenciais da Oneness - 1/4

- Sri AmmaBhagavan -


- “Existe apenas um Eu – o Eu Universal. Tal como quando nos referimos à Consciência, só existe uma Consciência. Não há plural para a palavra Consciência. Da mesma forma, só há um Eu, uma Consciência, uma só Alma. A palavra Eu não se refere ao pequeno ego do qual nós estamos cientes, mas ao Eu Universal que está em você, que está em mim, que está em toda parte. É o mesmo Eu. Não importa se você não percebe isso, basta que entenda intelectualmente e a concretização disso acontecerá com o tempo.”

- "O Eu, ao experienciar a si mesmo como separado, gera resistência, aversões, desejos, comparações e julgamentos, que são o núcleo de todo sofrimento. Quando o "eu" separado ou fixo desaparece, o sofrimento termina, e você experiência a si mesmo como uma simples dança de personalidades que surgem e desaparecem continuamente no oceano da consciência. Você está iluminado."

- "Iluminação é o primeiro passo, é o início da verdadeira jornada. Inicialmente você consegue um estado de iluminação, uma experiência de pico, que irá mais cedo ou mais tarde resultar em iluminação. Depois disso, é um processo sem fim. O processo terminará somente quando você se dissolver em luz. Até lá, ele continua e continua, e continuará enquanto você estiver nesse planeta. E depois que você deixar o planeta ele ainda continuará. Não há um fim para isso."

- "O sentido de 'eu' também é gerado pela estrutura neurobiológica do cérebro. A transmissão da Deeksha dá início a um processo neurobiológico, e isso conduz à dissolução da sensação de um 'eu' separado ou fixo."

- "Seu corpo não é seu corpo. Quando o "eu" desaparece, seu sentimento de que o corpo é seu desaparece e você o experiência como um veículo para a dança Divina da consciência. Eventualmente, toda a criação se converte em seu corpo."

- "Sendo uma ilusão, o 'eu' não pode ser iluminado. O 'eu' é apenas um conceito. 'Você' não Desperta, 'você' não alcança a Iluminação, 'você' não consegue a liberação. O Despertar lhe ocorre, a Iluminação acontece com você. É um presente de seu Divino!. Dizer 'eu estou Desperto' é uma mentira. A consciência ou a divindade Despertou em você. É o destino natural de cada ser humano."

"A convicção da crença egóica 'Eu sou este corpo' é na realidade o único impedimento para reconhecer a verdade de quem você é. Esta crença é mantida a cada hora por pensamentos incessantes em torno da imagem de quem você imagina ser. Quando você cessa esses pensamentos, e, em vez deles, você vira a sua mente para dentro, para o Eu central, você descobre a consciência pura, ilimitada, inerentemente livre de todo pensamento e livre de qualquer necessidade de segurança."

- "Nós (na Oneness) não tentamos controlar os nossos pensamentos, porque em primeiro lugar, nós não acreditamos que haja um controlador. O controlador é uma ilusão. O "eu" não existe, é apenas uma ilusão. Quando a ilusão desaparece, você se torna desperto ou iluminado. Tudo o que pedimos é: por favor, continue observando seus pensamentos. Estranhamente, enquanto você observa seus pensamentos, eles não vão incomodá-lo. Eles diminuem a velocidade e não perturbam. E então, naturalmente, a concentração se desenvolve."

- "Você existe em um estado de alienação com toda a vida. Essa divisão é a fonte de todas as lutas entre os indivíduos, famílias e culturas, religiões e nações. A única solução para todos os problemas humanos é o estado de Unidade - unidade consigo mesmo, com o mundo ao seu redor, e com Deus." 

- "Viver sem estar desperto não é vida. É apenas um constante esforço para sobreviver. É a mente que nos impede de viver e não nos permite experimentar a vida como ela é, pois permanece nomeando todas as coisas, julgando e tentando converter tudo em memória. Quando você experienciar a realidade como é, livre da identificação com o processo da nomeação e memorização da mente, você estará vivendo." 

- “Você é parte do Todo. E a parte está tentando entender o Todo. Impossível... E com o nosso pequeno entendimento estamos tentando explicar como funciona. Deus não é apenas desconhecido. Deus é incognoscível. Tudo que é incognoscível é um mistério. E você pode apenas experienciar. E então vem o senso de sacralidade, apenas quando você experiencia. Toda vez que você achar alguém ou alguma coisa insignificante, é porque você sente que sabe. E quando você sente que sabe, você perde a capacidade de se maravilhar com todas as coisas, você perde o senso de sacralidade, a sua alegria se vai... Você não pode conhecer nada verdadeiramente. E só nesse entendimento é que você pode começar a se maravilhar com todo o mistério da Existência.”

- Estamos todos repletos de conflitos internos. Inicialmente você deve se tornar ciente destes conflitos internos. Em seguida, devemos estar conscientes deste conflitos internos. Na medida em que você se torna mais e mais consciente dos seus conflitos internos, acontece uma aceitação interior. Quando a aceitação interior acontecer, acontece um florescimento da sabedoria e da inteligência.”

- "Quando você experiencia as coisas completamente, existe apenas alegria. O que está sendo experienciado não é importante. O conteúdo é sem consequência. Mas os seres humanos perderam a capacidade de experienciar qualquer coisa completamente. Você não experiencia o alimento que come, a caminhada que faz. É uma experiência magnífica andar com duas pernas. Você não experiencia isso. Você nunca está consigo mesmo porque tudo está acontecendo dentro. Se você experienciar o que está acontecendo dentro, a vida será absolutamente perfeita."

- "Se você quiser atingir um nível onde experiencia as coisas como são, então os pensamentos devem parar. E isso é possível. Quando estiver bebendo café, você deve apenas beber o café. Por que deveria se importar com outra coisa? Deveria ser apenas o “beber café”. E é então que todo o sofrimento desaparece por completo. E nesse ponto não existe nada, apenas alegria incondicional; amor incondicional. Você poderia ser um mendigo, e sentir alegria incondicional. Essa alegria não depende de nada que você esteja ganhando ou perdendo. Ela apenas existe."

- Você não experiencia a realidade como ela é porque sua mente está todo o tempo interferindo, o tempo todo julgado, comentando. A mente é um fluir de pensamentos, e o pensamento é um instrumento para medir. Ele está todo o tempo calculando. A mente não é nada além de um fluir de pensamentos, e o pensamento vem do passado. E passado é memória. E a memória é algo que está morto. Então a morte está fluindo através de você. Ao passo que se você verdadeiramente morrer para o passado e para o futuro, se morrer psicologicamente para eles, você poderá então viver no presente. E haverá grande alegria e bênção aí. É isso o que estamos tentando fazer com vocês."

- "Para nós, a meditação é um acontecimento; concentração é um acontecimento. Você não medita. Você não se concentra. Nada de errado com isso, essa é uma maneira de abordar a mente. Mas a nossa maneira é diferente. Nós sentimos que esse tipo de concentração se torna um obstáculo para o despertar, porque nos torna excessivamente focados em despertar e na iluminação. Concentração é bom para determinados fins, mas não ajuda você a se tornar desperto. Nós praticamos um tipo de conscientização em que naturalmente você se torna concentrado e desperto. Você deve aprender a observar a si mesmo. O processo da Unidade está completamente conectado à observação de si mesmo. Observe a si mesmo e permaneça com o que está aí. Isso é Unidade."

- "O propósito da vida é simplesmente viver, experienciar a realidade como ela é - aquele estado natural no qual os sentidos estão despertos, o coração está aberto, em contato direto com a Unidade de todas as coisas."

- “A primeira coisa é ver. Ver é o ponto chave no Dharma. Quando se trata de problemas interiores, crescimento interior ou progresso espiritual, você deve aprender a arte de ver. Suponha que o ciúme esteja aí, você deve aprender a ver o ciúme. Nós não estamos preocupados com o ciúme em si. O que está aí não é importante para nós, mas você deve ‘ver’ o que está aí. ‘Ver é ser livre’. Isso não é para ser entendido como libertar-se do ciúme; o mero ato de ver é liberdade. Essa liberdade é meditação. Ela é Alegria. Ela é Paz. Ela é Amor.”

- "O conteúdo da sua mente não é importante para nós. A forma como você percebe esse conteúdo é a nossa questão. Você percebe ele de uma forma muito natural, sem assumir lados, apenas observando o que está acontecendo? Se você faz isso, para nós isso é sadhana (prática espiritual). Isso dará a você imensa alegria."

- "Você não precisa se preocupar com suas preocupações. Apenas seja. Não tente ser calmo; não transforme o 'estar tranquilo' numa tarefa a ser executada. Não se torne inquieto sobre o 'estar tranquilo', não se torne miserável sobre o 'ser feliz'.  Apenas esteja ciente de que você É, e permaneça consciente. Não diga: 'Sim, eu sou; e o que vem depois disso?'. Não há 'depois' no 'Eu sou'. Esse é um estado atemporal."

- "A questão não é desistir do passado ou deixá-lo ir. O passado deve ir por si só. Como uma folha seca cai por conta própria, o passado também deve cair por vontade própria. Você não deve tentar desistir dele. A simples tentativa de desistir do passado vai tornar você ainda mais agarrado a ele. Portanto, torne-se consciente do fato de que você vem tentando se livrar do passado (apenas veja isso!). Ao receber Deeksha, ela fará o trabalho. Você não pode fazer nada sobre isso, exceto se tornando impotente. O seu trabalho, o seu esforço é realizar/ver que você é impotente. Isso é tudo. Todo esforço termina nesse ponto. O único esforço é ver que você está impotente. E então o processo se inicia. A Deeksha assume, e naturalmente vai acontecer."

- "Ver é estar consciente. Ver é estar desperto. Ver é estar iluminado. Isso é tudo. E você imagina que ao fazer isso chegará a algum lugar. Não há um lugar para ir. Há apenas o ver. Isso é tudo. Então não tente chegar a algum lugar, este é o erro que vocês estão cometendo sempre e sempre. Vocês estão pensando que existe um lugar para se chegar. Não há um lugar – para onde você poderia ir? Você apenas pode estar onde está. Por isso eu digo que o primeiro passo (ver) é o último passo. Não há um segundo passo.”

- “Ver não leva a coisa alguma. Ver é estar desperto. Você não deve achar que você vai ver e por isso alguma coisa irá acontecer. Ver é o estado desperto. No início ele vem e vai, por isso dizemos que você está entrando e saindo de um estado desperto. Então consequentemente quando você se tornar desperto este será um estado permanente e irreversível. Não que você esteja fazendo alguma coisa – você estará completamente mudado.”

- "À medida que você for mais fundo em si mesmo, você irá na verdade descobrir quem você é. Agora, quem você é na realidade é bem diferente daquilo que você pensa que é. Uma vez que você descubra quem você é, o próximo passo será aceitar a si mesmo como você é. O terceiro passo é amar a si mesmo como você é. Quando isso acontecer, a Presença irá automaticamente e naturalmente responder a você."

- "Nesse momento você está se identificando com a mente. É por isso que você está aprisionado dentro dela. Mas uma vez que você salte fora, está livre das garras da mente. E então, tudo o que você faz é testemunhar. Para testemunhar você precisa testemunhar e ver como é. Eu não tenho que descrever isso, senão você formará conceitos. Uma vez que você chegue lá, tudo ficará muito claro. Ninguém precisa ensinar nada a você. Você vai saber por si mesmo. Você vai chegar lá, não se preocupe."

- "Você é o mestre. E o ensinamento é o seu próprio eu. Está aí bem dentro de você, o ensinamento. Isso é o verdadeiro ensinamento, o que está acontecendo em você. Nada mais. Se você recebe um ensinamento e o transforma em um conceito, não chega em lugar nenhum. Eu estou apenas dando a vocês alguma ajuda. Isso é tudo. Os ensinamentos devem vir de dentro, da sua observação daquilo que você vê de si mesmo. E então você deve falar, e verá o poder que isso tem."

- “O estado de Unidade é um estado de conexão, um estado de amor e de relacionamento. Você experiencia uma percepção de relacionamento com todas as coisas que estão à sua volta, e na verdade, um melhor relacionamento consigo mesmo. Estar em Unidade é sentir-se um no interior de si mesmo, sentir-se um com os outros seres humanos, sentir-se um com toda a vida. E, finalmente, sentir-se um com a Presença Divina que permeia todas as coisas.”

- "Uma vez que você esteja desperto você sentirá um natural estado de Unidade com a natureza, você se tornará muito cuidadoso e envolvido na conservação da natureza E todas estas coisas acontecem naturalmente – estas são as qualidades de uma pessoa desperta – ela não cultiva estas qualidades; no momento em que você desperta estas qualidade virão a você naturalmente, e a natureza também responde muito favoravelmente a estas pessoas."

- "O estado Desperto não traz necessariamente efeitos especiais. É o nosso estado natural, caracterizado por experienciar a realidade como ela é, livre das interferências da mente, livre do conflito e da resistência. Um estado de clareza e alegria, sem o senso de separação, e que se aprofunda na medida em que nos tornamos mais conscientes do momento presente e reforçamos a nossa conexão com o divino."

- "Todas as coisas estão conectadas. O que quer que você venha a fazer afetará a tudo mais. Quando a percepção de uma existência separada desaparece, o que permanece é vida, ou pura consciência." 

- “O que vocês devem entender também é que as pessoas que estão meditando juntas são aquelas que estão contribuindo diretamente para essa transformação na consciência de todo o planeta."

- À medida que vocês meditam juntos estarão afetando a consciência de todo o planeta. São as pessoas meditando que irão trazer essa transição para um nível mais elevado de consciência ou despertar, e em seguida elas irão sustentá-lo, e então levá-lo a níveis ainda mais elevados.”

- "Você não precisa esperar pelo seu despertar para ajudar os outros a despertar. À medida que ajuda os outros a despertar, você irá muito natural e facilmente se tornar desperto."


quinta-feira, junho 25, 2015

O que é a Iluminação?



(Obs: clique no botão "legendas" para acompanhar o texto no próprio vídeo)


"Mukti poderia ser definida de várias maneiras. A definição geral que dou de Mukti é a libertação dos sentidos. Agora, quando você vê algo, você não vê sem a interferência da mente. Se você puder ver sem a interferência da mente, isso é Mukti. Se puder ouvir sem a interferência da mente, isso é Mukti. O mesmo se aplica ao olfato, tato, inclusive ao próprio pensamento. Mesmo o pensamento pode ser observado sem a interferência do julgamento da mente.  É possível observar os pensamentos sem se envolver com eles.

O que acontece é que você pensa que está pensando, mas de fato, é possível ver os pensamentos fluírem independentes de você. Isso é a realidade física. De fato, podemos ver os pensamentos. Qualquer tipo de pensamento pode chegar e sair de você, e você pode apenas observá-los. Então, é este o estado de Mukti. Mukti quer dizer: a completa liberação dos sentidos do controle da mente.

Somente tal Ser é quem de fato vive. Sempre que a mente tenha controle, você não está vivendo. Quando a mente não está no controle, então você de fato está vivendo.

É por isso que quando as pessoas me perguntam: "qual é o propósito da vida?", minha resposta é: "Se você estivesse vivendo, você não me faria esta pergunta. O propósito da vida é Viver." O que significa isso? Viver a vida dos sentidos. Os sentidos devem ser independentes e livres do julgo da mente.

O que está acontecendo agora com você, é que você não está experimentando a realidade. A realidade para você é aquilo que flui pelos sentidos. Mas se ficar todo o tempo interpretando a realidade, e qualquer informação que chega...  Por exemplo, você olha uma árvore e interpreta: "esta é uma árvore grande, verde, carregada de frutas, isto e aquilo...". Todo o tempo há comentários sendo tecidos pela mente. Quando você se senta na mesa para comer, não estás comendo. Está preocupado com o teu trabalho, a tua família, ou isto ou aquilo... ou a mente comenta sobre a comida mesmo. Isso mostra que a comida não está sendo experimentada.

É por isso que tenho dito que, se experimentar a realidade tal como ela é, então somente aí é que está verdadeiramente experimentando. E verá que a criação inteira é perfeita, que é maravilhosa, e que já estás no paraíso aqui mesmo. Você é que tem convertido este paraíso em um inferno.

É possível liberar os sentidos das amarras do pensamento. O pensamento só é necessário quando se necessita de outra forma. De outro modo, qual a necessidade que o pensamento?  Nenhuma. Não há necessidade de que o pensamento interfira na experiência em si.

Por isso dizemos que, quando os sentidos se libertam do controle dos pensamentos da mente, então é que se descobre a felicidade incondicional, o amor incondicional, e essa felicidade será tão grande que você se sentirá conectado com todos. Você de fato descobre o amor verdadeiro.

A felicidade verdadeira e o amor incondicional não são coisas separadas - são uma e a mesma. O estado de Mukti (libertação, iluminação) é um acontecimento natural.  Isso é o que fomos "projetados" para ser.  Isso é o que o ser humano deveria experimentar todo o tempo. Quando não experimentamos isto, a vida se torna miserável. E para escapar dessa miséria criamos vários caminhos de fuga, através dos quais estamos escapando. E a miséria é por que não estão experimentando a realidade pura e simplesmente, não a estamos experimentando diretamente. É por isso que as pessoas recorrem às drogas, álcool, sexo e outras formas de fuga. Porque de outra forma sua vida se torna sem sentido.

Então, a intenção deste movimento (Oneness) é ajudar a experimentar a realidade tal como ela é. Quando essa experiência acontece, você descobre o amor incondicional, a alegria incondicional. Você se sente conectado com tudo e todos, não se sente um indivíduo separado. Você já não vive para si mesmo somente, porque te tornas o Todo, vives para bem da humanidade. Isto não é um conceito ou algo mágico, esta é uma realidade do dia a dia. Uma vez que te iluminas ou te tornes Mukta... e milhões de pessoas já tem alcançado este estado, há inclusive aqui algumas pessoas que estão nesse estado."


terça-feira, junho 23, 2015

Artimanhas sutis do ego

- Mooji -


"Se o 'eu' está identificado com o corpo e a pessoa, então, torna-se responsabilidade da pessoa o cuidar da vida corporal. 
Mas se o 'eu' se torna identificado como Consciência, então é responsabilidade do Universo cuidar do corpo e da vida do corpo, e ele irá fazer um trabalho melhor do que a sua mente pode fazer.

Você diz que está meditando para alcançar a Consciência, mas o aparente 'alguém' meditando com a intenção de se fundir com a Consciência já é observado a partir da Consciência.
O meu indicador é tão simples, mas você não consegue compreendê-lo porque é demasiado simples para a mente pessoal, cuja tendência é a de complicar o que é natural e simples. 
Somente quando você está livre da identidade pessoal, você é capaz de ouvir e confirmar o que é sem esforço e eternamente presente.
Mas, se você tem investimento nem que seja num pequeno traço de identidade, você não consegue ouvir e seguir a minha orientação, porque, embora a identidade pareça estar a trabalhar para a libertação, ao mesmo tempo, ela está também a trabalhar para a auto-preservação. 
Ela quer a libertação, mas ela quer que a libertação inclua ela, o ego. Mas a libertação não é para o ego; a libertação é do ego. Uma coisa muito sutil."


domingo, junho 21, 2015

Vocês JÁ são iluminados

Pergunta: "Amado Osho, eu ouvi você dizer que nós somos todos Budas, iluminados, já realizados. Se isso é verdade, por que estou esperando que algo aconteça? Trata-se de um velho hábito ou de um truque da mente?"



Osho: Veet Vigyanam,

Uma coisa é ouvir, a outra coisa é entender. Você me ouviu dizer que nós somos todos iluminados, mas você não confiou nisso - pelo menos você excluiu a si próprio. 

"Talvez todos sejam, mas eu sou um iluminado?"

Isto era demais para você aceitar, consequentemente, fez a pergunta. Sua questão mostra a sua mais profunda agitação. Você está dizendo: "Se é assim..." Veja: eu não disse que sua iluminação trata-se da probabilidade que talvez você seja iluminado, talvez você não seja. Não há nenhum "se" e nenhum "mas"... é uma simples declaração: "você é iluminado e não pode ser qualquer outra coisa que não seja um iluminado".

Eu entendo a sua dificuldade. Disseram que você é ignorante e você aceitou, que não é bonito e você aceitou. Apenas observe quantas coisas você tem aceitado. Desde a sua infância, não lhe deram a observação correta. Você tem sempre sido puxado e empurrado de uma forma ou de outra: "Torne-se isso, torne-se aquilo." 

Ninguém sequer pensou que se a existência quisesse apenas "Gautamas Budas", ela teria manufaturado "Gautamas Budas", exatamente da mesma forma como uma fábrica Ford produz carros Ford, numa linha de montagem - todos exatamente iguais, com tremenda eficiência. A cada minuto um carro novo sai da linha de montagem, vinte e quatro horas por dia, mas a existência não acredita numa situação na qual todos são iguais. 

A iluminação de Gautama Buda está fadada a ser a iluminação de Gautama Buda. A sua iluminação está fadada a ser a sua iluminação.

Seu problema também surge da comparação. Você começou a pensar: "Se eu sou iluminado, então por que eu não sou um Gautama Buda, ou um Jesus Cristo, ou Bodhidharma? Eu sou apenas Veet Vigyanam. Ninguém venera-me. Eu saio por aí e ninguem sequer me nota. Que tipo de iluminação é esta? Certamente eu ainda não a atingi. Certamente ela não ocorreu ainda, ela terá de acontecer."

A ideia de que a iluminação é algo a atingir tem sido propagada com enorme consistência, por milhares de anos. Eu digo a você que iluminação não é algo a obter, é a sua própria natureza. Se você a está perdendo, a razão não é que você ainda não a atingiu. A razão é que você está procurando por ela a sua volta, em todos os lugares, excluindo você mesmo. Indo a todos os templos, lendo cada escritura sagrada, visitando todos os tipos de pessoas estúpidas que pretendem ser mestres.

Eu quero que declare, neste mesmo instante, que você é iluminado. Não importa! Não é necessário que todos devam adorar você. Por que alguém deveria adorá-lo? Você está criando condições desnecessárias para a iluminação. Deixe-me dizer de um modo diferente.

No momento em que você respeita a si próprio como iluminado, não pode fazer outra coisa a não ser respeitar a todos como iluminados da forma que eles são. Não existe a necessidade de que todos se enquadrem em certa categoria. Iluminação não é só uma categoria "x" onde você tem de comer certo tipo de comida. Se tivesse certa regra como esta - como a de comer espagete - eu teria renunciado à iluminação. É bom que nenhuma escritura sagrada diga que espaguete é a característica de um homem iluminado.

Se você me entende, que na sua própria ordinariedade, você é perfeitamente bom. Nada precisa ser acrescido à você. 

E se pode relaxar nessa ordinariedade, esta própria ordinariedade, devido ao seu relaxamento, tornar-se-á radiante, começará a desabrochar. A sua aceitação, o respeito com você mesmo, será uma nutrição, trará a primavera para seu ser e as flores começarão a abrir suas pétalas.

Mas você nunca está em casa. Você está procurando na casa dos outros. Alguns estão na casa de Gautama Buda, outros estão na casa de Lao Tsé, uns na casa de Jesus Cristo, outros na casa de Moisés... É uma situação muito estranha que você tenha se desviado de tal forma a ponto de todos estarem em um outro lugar, onde não se espera que ele esteja. Ele não está onde a existência quer que ele esteja.

Eu ensino a imediata e definitiva ordinariedade. É a mais bonita experiência, porque agora não existe nenhum desejo, nenhuma tensão, nenhuma busca, nenhuma inquirição, nenhum lugar para onde você ir. Você já está onde você gostaria de estar. E mesmo assim você está perguntando: "Se é assim, por que eu ainda estou esperando que algo aconteça?" Agora, eu tenho que responder isto? 

Talvez esta seja a sua única iluminação, onde, apesar de ser iluminado, você, ainda assim, procura por algo que ainda vai acontecer. Um pouco maluco - mas isso não destrói a sua iluminação. E um pouco de pessoas malucas também são necessárias. Elas trazem sal para a existência. A existência sem pessoas malucas perderá algo bastante interessante. 

Mas você não pode aceitar isso. Você continua perguntando: "Trata-se de um velho hábito?". Apenas tentando consolar a si próprio que, apesar de ser iluminado, devido a um velho hábito, continua procurando aqui e ali. Mas, por mais que você procure aqui e ali, sempre será nutrido pelo velho hábito. Estará praticando o velho hábito. É dificil comer sua comida silenciosa e graciosamente, dormir com o máximo de bem aventurança, tendo uma vida ordinária de ser um carpinteiro ou um sapateiro, ou ser um pintor, um poeta, um dançarino e relaxando no que quer que você seja, sem ter ideais...

Minha própria abordagem é tomar de você os ideais e jogar fora a própria idéia de que a iluminação é algo que acontecerá no futuro. O futuro não existe! De fato, a idéia de que ela irá acontecer no futuro é simplesmente para evitar o respeito a si mesmo que você pode ter apenas no presente. Há professores e eles não foram mestres, eles foram tão inconscientes quanto você é. Eles não estavam conscientes da própria iluminação. Ensinaram moralidade, disciplina, métodos, como se tornar iluminado. Trata-se de uma coisa muito simples. Se você pode se tornar doente, pode se tornar saudável e pode se tornar doente novamente. Iluminação não é algo que você tenha que alcançar, porque o que pode ser conquistado pode ser roubado.

Eu lhe digo isso: "Você é a própria Iluminação". Eu não quero que você atinja a iluminação. Eu quero que você a vivencie. A partir desse momento, o que quer que você faça, faça-o do jeito que a iluminação o faria. A iluminação deve ser uma experiência individual, a mais individual das experiências, incomparável e única para todos. Uma vez que isso é entendido, todas as nuvens escuras começam a se dissipar.

Veet Vigyanam, eu continuarei repetindo de novo e de novo, até que isso fique bem claro, que voce é um iluminado. E você não tem de fazer nada de especial por isso; tem apenas que ser o que você é, totalmente relaxado, em paz com a existência.

Não indo a lugar algum, não tendo de atingir meta alguma. Toda a orientação para as metas é que está tornando as pessoas miseráveis. Disperse todos os objetivos e você começará a dançar neste momento, você tem muita energia envolvida nesse processo de adquirir. Por mover-se distante em sua imaginação, você não tem tempo, não tem espaço, não tem energia para estar aqui (no agora). Se você puder juntar toda a sua energia neste momento, apenas a acumulação daquela energia se tornará uma dança em seu coração. E a dança transforma tudo, não os seus esforços.

Apenas aproveite a vida. Ela é perfeita do jeito que é. Toda idéia de perfeccionismo cria apenas neurose, patologia e desarranjo da mente.


sexta-feira, junho 19, 2015

Um segredo: apenas desista, e veja! (Mooji)

~ Mooji ~


Vou lhe dizer uma coisa agora, que você não ouve muitas vezes no mundo, 
e eu me uso como exemplo para você.
Se você quer ir até ao fim, desista da sensação de que você tem quaisquer direitos na vida.
Não tenha quaisquer direitos. Não tenha direito a nada.
Então tudo é uma dadiva.
Quando você não merece nada, tudo é uma dadiva.
Apenas tente.
Só para você. Ok?
Esta não é uma decisão política.
Desista desta sensação de que você tem direitos, 
que a vida lhe deve alguma coisa, 
e sinta o espaço que permanece. 
Talvez, inicialmente, você sinta vulnerabilidade como: 
"Oh meu Deus, eu não posso lutar pelos meus direitos. Vou ser abusado."
Mas, vá além deste sentimento.
Sacrifique-o por uma verdade maior.
Você deve começar a pensar com a sua mente de Deus.
Deus não tem direitos.
Deus não precisa de quaisquer direitos.
Você tem que ser como Deus.
Desista desta sensação de que você tem direitos.
Você deseja ir até ao fim?
Desista do orgulho também.
Desista do futuro também.
Se você desistir do futuro, você desiste do passado também.
Apenas para você. Você não tem que dizer a ninguém.
E desista desta dependência: "Quem irá estar aqui para mim?"
E desista de projeções tais como: 
"Sim, daqui a dois anos eu estarei em um relacionamento sólido e terei o meu próprio apartamento."
Não há nada de importante sobre isso.
Apenas mantém você como um idiota.
Você não quer ser um idiota.
Existem coisas mais importantes que isto para vir.
Você perde a aventura completa e o poder que vêm do Espírito Santo, 
se você começar a escolher por você mesmo.
Se você sentir que escolhe por você mesmo, 
Ele irá deixar você para que você escolha por você mesmo.
Mas assim que você desista desta sensação de direitos; se você diz:
"Você me deu a sensação de escolha. Você é a minha escolha",
então algo diferente irá acontecer.
No mundo ninguém lhe diz isto.
Lá você tem que se orgulhar e dizer: "Escute, eu tenho direitos!"
Quando eu tenho direitos (certos), o mundo fez-me um monte de errados.
Desista do orgulho.
Orgulho em ser mulher.
Orgulho em ser bonito.
Orgulho em ser realizado em alguma coisa.
Orgulho de que você é de uma determinada raça, religião ou nação.
Desista de todas estas coisas.
Elas pertencem ao diabo.
Elas não pertencem a você.
E experimente, e veja o que permanece.
Um grande espaço irá abrir dentro de seu Coração.
Enorme humildade.
Enorme aceitação, amor, sabedoria e liberdade, 
conforme você experimenta a integração com o ser cósmico.
E nenhuma força na terra pode manipular ou prender você, 
porque você fez-se vazio de tudo o que constitui uma "pessoa".
Porquê pensar que é tão grandioso ser uma pessoa?
Por um tempo, nós temos de provar esse estado de "pessoalidade",
mas deve vir o tempo em que você retorna à pureza.
Volte para a sua pureza, o seu ser original!
Você pergunta: "Como?"
Caia aos pés de Deus. Esta não é uma queda comum.
Não é cair para baixo.
É cair para cima, para o abraço do Deus Vivo.


terça-feira, junho 16, 2015

Iluminação - O Meu Despertar (OSHO)


Este pode ser o registro mais vívido jamais escrito da experiência de como é tornar-se um iluminado...


"Eu me recordo do dia fatídico de 21 de março de 1953. Durante muitas vidas eu trabalhei – trabalhei duro em mim mesmo, lutando, fazendo o que fosse preciso fazer — e nada aconteceu.

Agora eu entendo por que nada acontece. O próprio esforço era a barreira, a própria escada estava impedindo, o próprio impulso de busca era o obstáculo. Nada é atingido sem a busca — buscar é necessário — mas chega um ponto em que a busca precisa ser abandonada. O barco é necessário para vocês atravessarem o rio, mas chega o momento em que vocês têm de largar o barco, esquecer tudo sobre ele e deixá-lo para trás. O esforço é necessário, sem esforço nada é possível. Mas também somente com esforço, nada é possível.

Pouco antes do dia 21 de março de 1953, sete dias antes, parei de trabalhar em mim mesmo. Chega o momento em que vocês veem toda a futilidade do esforço. Vocês fizeram tudo o que podiam fazer e nada aconteceu. Vocês fizeram tudo o que era humanamente possível. O que mais podem fazer então? No mais absoluto desamparo, toda a busca é abandonada.

E no dia em que acabou a procura, no dia em que eu não buscava mais coisa alguma, no dia em que eu não esperava que algo acontecesse, começou a acontecer. Uma nova energia surgiu — do nada. Ela não provinha de uma fonte. Ela vinha de lugar nenhum e de todos os lugares. Ela estava tanto nas árvores como nas pedras, no céu, no sol, no ar — ela estava em tudo. Eu tinha buscado tão arduamente, pensando que ela estivesse muito distante e estava tão perto! Os olhos estiveram focados no longínquo, no horizonte, e tinham perdido a capacidade de ver o que estava próximo.

No dia em que o esforço cessou, eu também cessei — porque vocês não podem existir sem esforço, não podem existir sem desejos e não podem existir sem empenho. O fenômeno do ego, do eu, não uma coisa — é um processo. Não é uma substância sentada lá dentro de vocês; vocês têm de criá-lo a cada momento. É como pedalar uma bicicleta: se vocês pedalam, ela continua sempre andando; se vocês não pedalam, ela pára. Na verdade, ela ainda consegue andar um pouco mais por causa da inércia; mas no momento em que vocês param de pedalar, a bicicleta começa a parar. Não há mais energia, não há mais força para ir a lugar algum. Ela vai cair e entrar em colapso.

O ego existe porque nós continuamos a pedalar nossos desejos, porque continuamos a nos empenhar para conseguir alguma coisa, porque continuamos saltando à frente de nós mesmos. É exatamente esse o fenômeno do ego — vocês saltam à sua própria frente, um salto no futuro, um salto no amanhã. O salto no inexistente cria o ego. Como resulta do inexistente ele é como uma miragem. Ele consiste somente em desejos e nada mais. Ele consiste só em apetite e nada mais.

O ego não está no presente; ele está no futuro. Se vocês estiverem no futuro, então o ego vai parecer bastante substancial. Se vocês estão no presente, o ego é uma miragem; ele começa a desaparecer.

No dia em que eu parei de buscar... não está correto dizer que eu parei de buscar; melhor seria falar no dia em que a busca parou. Deixe-me repetir: a melhor maneira de dizer é “no dia em que a busca parou”. Porque, se eu a parei, então “eu” estou novamente aqui. Nesse caso, parar torna-se um esforço meu, torna-se um desejo meu, e o desejo continua a existir de uma maneira muito sutil.

Vocês não conseguem parar o desejo; conseguem apenas compreendê-lo. É na própria compreensão do desejo que está a parada dele. Lembrem-se: ninguém consegue parar de desejar — mas a realidade só acontece quando o desejo pára.

Portanto, esse é o dilema. O que fazer? O desejo está dentro de nós, mas os budas vivem dizendo que o desejo precisa ser parado e, no momento seguinte, dizem que nós não conseguimos parar o desejo. Então, o que fazer? As pessoas se veem diante de um dilema. Elas estão desejando, com certeza. Vocês dizem a elas que o desejo tem de ser parado — tudo bem. E depois vocês lhes dizem que o desejo não pode ser parado. O que se pode fazer então?

O desejo tem de ser compreendido. Você pode compreendê-lo, ver simplesmente a sua futilidade. Uma percepção direta é necessária, uma penetração imediata é necessária.


No dia em que o desejo parou, eu me senti muito desesperançado e desamparado. Sem esperança porque sem futuro. Nada a esperar, pois todas as esperanças se provaram fúteis; elas não levam a parte alguma. Vocês andam a esmo. Elas continuam lá à sua frente, acenando, criando novas miragens, chamando: “Venha, corra mais rápido que você vai alcançar”. Mas, por mais rápido que vocês corram, nunca alcançam. É como o horizonte que vemos ao redor da Terra. Ele aparece, mas não está lá. Vocês vão ao encontro dele, mas ele continua andando à sua frente. Quanto mais rápido vocês correm, mais rápido ele se afasta. Quanto mais devagar vocês vão, mais devagar ele se move. Mas uma coisa é certa — a distância entre vocês e o horizonte continua sendo absolutamente a mesma. Vocês não conseguem reduzir nem sequer um centímetro da distância entre vocês e o horizonte.

Vocês não conseguem reduzir a distância entre vocês e as suas esperanças. A esperança é o horizonte. Com a esperança, com um desejo projetado, vocês tentam construir uma ponte entre vocês e o horizonte. Os desejos são pontes — pontes feitas de sonhos, porque o horizonte não existe. Desse modo, vocês são incapazes de construir uma ponte até ele; só conseguem sonhar com a ponte. É impossível vocês se juntarem ao inexistente.

No dia em que o desejo parou, no dia em que eu o encarei e percebi que ele era só futilidade, fiquei desamparado e desesperançado. Mas, nesse exato momento, algo começou a acontecer. Começou a acontecer algo pelo qual eu vinha trabalhando durante muitas vidas e que ainda não havia acontecido. Porque na nossa desesperança está a única esperança, porque na nossa ausência de desejo está a nossa única satisfação e por causa do nosso imenso desamparo, de repente, toda a existência começa a nos ajudar.

A existência está esperando. Enquanto ela vê que vocês estão trabalhando por si mesmos, ela não interfere. Espera. Pode esperar indefinidamente, pois não há pressa para a existência. Ela é a eternidade. Mas no momento em que vocês não estão por sua própria conta — no momento em que vocês desistem, no momento em que vocês desaparecem —, a existência inteira corre ao encontro de vocês, entra em vocês. E, pela primeira vez, as coisas começam a acontecer.

Durante sete dias, eu vivi num estado bastante desesperançado e desamparado, mas, ao mesmo tempo, alguma coisa estava surgindo. Quando digo “desesperançado”, não quero dizer aquilo que normalmente se entende por essa palavra. Quero simplesmente dizer que não havia esperança em mim. A esperança estava ausente. Não estou dizendo que eu estava desesperado e triste. Na verdade, estava feliz; estava muito tranquilo, calmo, controlado e centrado. Desesperançado, mas num sentido totalmente novo. Não havia esperança; então, como podia haver desesperança? Ambas tinham desaparecido.

A desesperança era absoluta e total. A esperança tinha desaparecido e, com ela, a sua contrapartida, a desesperança, também desaparecera. Era uma experiência totalmente nova — a de estar sem esperança. Não era um estado negativo. Eu tenho de usar palavras, mas não era um estado negativo. Era absolutamente positivo. Não era apenas uma ausência, eu sentia uma presença. Algo estava me inundando, jorrando sobre mim.

E quando digo que estava desamparado, não me refiro ao sentido que o dicionário dá a essa palavra. Digo apenas que eu estava sem o meu apoio. É isso o que quero dizer quando falo em desamparo. Eu havia reconhecido o fato de que eu não existia — não podia então depender de mim mesmo, não podia me pôr de pé no meu próprio solo. Não havia solo sob meus pés; eu estava sobre um abismo, um abismo sem fundo. Mas não havia medo porque não havia nada para ser protegido. Não existia medo porque não havia ninguém para ter medo.

Esses sete dias foram de imensa transformação, de total transformação. E, no último dia, a presença de uma energia totalmente nova, uma nova luz e um novo deleite, tornaram-se tão intensos que eram quase insuportáveis — era como se eu estivesse explodindo, como se estivesse ficando louco de felicidade. A geração mais jovem, no Ocidente, tem a expressão certa para isso — eu estava “na maior glória”, “chapadão”.

Era impossível extrair algum sentido daquilo, o que estava acontecendo. Era um mundo de contra-sensos — difícil de decifrar, difícil de colocar em categorias; um mundo onde era difícil usar as palavras, a linguagem, as explicações. Todas as escrituras davam a impressão de estar mortas e todas as palavras que foram usadas para descrever essa experiência pareciam muito pálidas, anêmicas. Estava tudo tão vivo. Como uma gigantesca onda de bem-aventurança.

O dia inteiro foi estranho, atordoante, e essa experiência foi arrasadora. O passado estava desaparecendo como se nunca me tivesse pertencido, como se eu tivesse lido sobre ele em algum lugar. Como se eu tivesse sonhado com o passado, como se eu tivesse ouvido a história de outra pessoa. Eu estava me libertando do meu passado, me extirpando da minha história. Perdendo a minha biografia. Estava me tornando um não-ser, o que Buda chama de anatta. As fronteiras estavam desaparecendo, as distinções desapareciam.

A mente desaparecia; estava a milhões de quilômetros de distância. Era difícil agarrá-la; ela corria cada vez para mais longe e não havia o impulso de mantê-la próxima. Eu estava simplesmente indiferente em relação a todas as coisas. Tudo bem. Não havia vontade de continuar ligado ao passado. À noite, tornou-se muito difícil suportá-la — machucava, era doloroso. Como quando a mulher entra nas dores de parto, quando a criança está para nascer e a mulher sofre dores terríveis — a agonia do nascimento.

Nesses sete dias, eu ia dormir perto da meia-noite ou uma da madrugada, mas nesse último dia foi impossível permanecer acordado. Meus olhos se fechavam, era difícil mantê-los abertos. Alguma coisa era iminente; alguma coisa estava para acontecer. Difícil dizer o que era – talvez fosse a minha morte -, mas não havia medo. Eu estava pronto para ela. Esses sete dias foram tão belos que eu estava pronto para morrer; nada mais era necessário. Eles tinham sido tão extraordinariamente felizes, eu estava tão satisfeito que, se a morte viesse, seria bem-vinda.

Mas alguma coisa estava para acontecer — algo como a morte, algo muito drástico, algo que viria a ser ou uma morte ou um novo nascimento, ou uma crucificação ou uma ressurreição —, algo de um extraordinário significado estava chegando muito perto. Mas era impossível manter os olhos abertos; eu estava como que drogado.

Fui dormir por volta das oito horas. Mas aquele não foi um sono comum. Agora posso entender a que Patanjali se referia quando disse que o sono e o samadhi eram semelhantes. Com apenas uma diferença — no samadhi você está plenamente desperto e também adormecido — adormecido e desperto ao mesmo tempo. O corpo inteiro relaxado, cada célula do corpo totalmente relaxada, todas as funções relaxadas e, contudo, uma chama de percepção consciente queima dentro de vocês clara, sem fumaça. Vocês continuam alertas, embora relaxados; soltos, mas plenamente despertos. O corpo está no sono mais profundo possível e a consciência está no cume. O cume da consciência e o vale do corpo se encontram.

Fui dormir. Aquele foi um sono muito estranho. O corpo estava adormecido, eu estava desperto. Foi tão estranho — como se eu tivesse sido separado em duas direções, em duas dimensões; como se a polaridade entrasse completamente no foco, como se estivessem juntas ambas as polaridades... o encontro do positivo e do negativo, o encontro do sono e da percepção consciente, o encontro da morte e da vida. Esse era o momento em que se pode dizer que o criador e a criação se encontraram.

Foi sobrenatural. Pela primeira vez, vocês são abalados até as raízes, sacudidos até os alicerces. Vocês nunca mais serão os mesmos depois de uma experiência como essa; ela traz uma nova compreensão para as suas vidas, traz uma nova qualidade.

Perto da meia noite, meus olhos se abriram de repente – eu não os havia aberto. Alguma coisa havia quebrado meu sono. Eu senti uma grande presença em volta de mim, dentro do quarto. O quarto era bastante pequeno. Eu senti uma vida pulsando em todo redor de mim, uma vibração gigantesca – quase como um furacão, uma grande tempestade de luz, alegria, êxtase. Eu estava mergulhado/me afogando nela.

Aquilo era tão tremendamente real que tudo se tornou irreal. As paredes do quarto tornaram-se irreais, a casa tornou-se irreal, meu próprio corpo não era mais real. Tudo era irrealidade porque agora a Realidade estava, ali, presente pela primeira vez.

É por isso que quando Buda e Shankara afirmam que o mundo é maya, uma miragem, é difícil para nós entendermos. Porque nós conhecemos apenas este mundo, nós não temos nada para servir como meio de comparação, contraste. Essa é a única realidade que conhecemos. O que essas pessoas estão dizendo – esse maya, ilusão? Essa é a única realidade. A menos que você conheça a realidade verdadeira, as palavras deles não podem ser compreendidas, suas palavras permanecem teóricas, nada mais são do que hipóteses. Talvez este homem esteja propondo uma filosofia – “O mundo é irreal”.

Quando Berkley, no ocidente, disse que o mundo era irreal, ele estava caminhando com um dos seus amigos, um homem muito lógico; o amigo era quase um cético. Ele apanhou uma pedra na rua e atingiu em cheio a perna de Berkley. Berkley gritou, o sangue apareceu, e o cético disse, “E agora, o mundo é irreal? Você diz que o mundo é irreal? Então por que você está gritando? Essa pedra é ilusória? Por que segura sua perna e por que está mostrando tanta dor e angústia no seu rosto? Pare isto! É tudo ilusão/irreal.”

Esse tipo de homem não pode entender aquilo a que Buda se refere quando diz que o mundo é uma miragem. Ele não está afirmando que você pode atravessar uma parede. Ele não está dizendo isto – que você pode comer pedras e que não faz diferença alguma se você come um pão ou uma pedra. Não é isso.

Ele está dizendo que há uma realidade. E uma vez que você a conheça, esta assim chamada ‘realidade’ empalidece, simplesmente se torna irreal. A visão da realidade mais elevada faz surgir a comparação. Não há outro modo.

Durante o sonho, o sonho é real. Você sonha todas as noites. Sonhar é uma das maiores atividades que você segue fazendo. Se você vive sessenta anos, vinte anos você irá dormir e quase dez anos você sonhará. Dez anos durante a vida... não há outra coisa que você faça tanto como sonhar. Dez anos de sonho contínuo – apenas pense sobre isso. Sonha a cada noite... e a cada manhã você sabe que aquilo foi irreal; e quando a noite chega novamente e você sonha, o sonho se torna real.

Dentro do sonho é muito difícil de lembrar de que aquilo se trata de um sonho. Mas quando é de manhã é tão fácil! O que acontece? Você é a mesma pessoa. No sonho existe apenas uma realidade. Como comparar? Como dizer que é irreal? E comparado a quê você poderá dizer? Só há aquela realidade. Quando não existe algo com o que se possa comparar, não importa do que se trata: todas as coisas parecem ser reais. De manhã você abre seus olhos e outra realidade está lá. Então você pode afirmar que tudo foi irreal. Comparado com esta realidade, o sonho se torna irreal.

Existe um despertar – comparado com a realidade desse despertar, toda esta realidade se torna irreal.

Naquela noite, pela primeira vez, eu compreendi a significação da palavra maya. Não que eu nunca tivesse tido o conhecimento dessa palavra antes, nem que eu nunca estivesse atento para o significado da palavra. Assim como você tem consciência dessa palavra hoje, eu também tinha o conhecimento da definição do termo ‘maya’ – mas eu nunca a compreendera antes. Como você pode entender sem experimentar?

Naquela noite outra realidade abriu suas portas, uma outra dimensão se tornou disponível. De repente ela estava lá, a outra realidade, a realidade separada, a verdadeira realidade, ou como você desejar chamá-la – chame-a de Deus, chame-a verdade, chame-a dhamma, diga Tao, ou o que preferir. Aquilo não tinha nome. Era inominável. Mas estava lá – tão opaco, tão transparente e, ainda assim, tão sólido, que qualquer um poderia tocá-la. Eu estava sendo sufocado naquele quarto. Aquilo era demais e eu ainda não tive a capacidade de absorvê-lo.

Tive a necessidade urgente de sair pra fora do quarto, de ir para baixo do céu – aquilo estava me sufocando, era demais para mim! Vai me matar! Se eu tivesse permanecido por mais alguns momentos, eu teria sido sufocado – foi assim que pareceu.

Corri para fora do quarto em direção à rua. Havia um grande desejo de apenas estar de baixo do céu com as estrelas, com as árvores, com a terra... de estar com a natureza. E quando eu corri para fora, imediatamente o sentimento de estar sendo sufocado desapareceu. O lugar era muito pequeno para um fenômeno tão imenso. Até mesmo o céu é um lugar pequeno para um fenômeno tão grande. Aquilo era maior que o céu. Mesmo o céu não era o limite para aquilo. Mas assim eu me senti mais aliviado.

Eu fui em direção ao jardim mais próximo. Foi uma caminhada totalmente nova, como se a gravidade tivesse desaparecido. Eu estava caminhando, ou eu estava correndo, ou estava simplesmente voando; era difícil de decidir. Não havia gravidade, eu estava me sentindo leve – como se uma energia estivesse me levando. Eu estava nas mãos de alguma outra energia.

Pela primeira vez eu não estava sozinho, pela primeira vez eu não era mais uma individualidade, pela primeira vez a gota havia caído no oceano. Agora todo o oceano era meu, eu era o oceano. Não havia limitação. Uma força tremenda insurgiu como se eu pudesse fazer qualquer coisa que quisesse. Eu não estava lá, apenas o poder estava lá.

Cheguei ao jardim onde eu costumava ir todos os dias. O jardim estava trancado, fechado para a noite. Já era muito tarde, era quase uma hora da manhã. Os jardineiros dormiam sorrateiramente. Eu tive de entrar no jardim como um ladrão, tive que escalar/saltar o portão. Mas algo estava me empurrando em direção ao jardim. E eu não podia evitar; não tinha capacidade de poder me impedir. Eu estava apenas flutuando.

Essa é a significação de quando eu digo de novo e de novo "flutue com o rio, não force o rio a correr”. Eu estava relaxado, eu estava num ‘deixar acontecer’. Eu não estava lá. AQUILO estava lá, chame-o Deus – Deus estava lá.

Eu gostaria de chamá-lo de AQUILO, porque deus é uma palavra muito humana, e se tornou muito impura de tanto uso, se tornou muito poluída por tantas pessoas. Cristãos, hindus, maometanos, padres, políticos – todos eles desgastaram, corromperam a beleza da palavra. Então, vou chamá-lo de ISSO/AQUILO. AQUILO estava lá e eu estava apenas sendo levado... carregado por uma onda colossal.

No momento em que adentrei o jardim, tudo ficou luminoso; AQUILO estava ao redor de todo o lugar – a bem aventurança, a beneficência. Eu podia ver as árvores pela primeira vez – o verde delas, a vida delas, a própria seiva. O jardim inteiro estava repousando, as árvores dormiam. Mas eu podia ver todo o jardim vivo. Até mesmo as pequenas folhas das gramas eram tão bonitas.

Eu olhava para todos os lados. Uma árvore em especial estava tremendamente luminosa -- a árvore 'maulshree'(maulshree tree).Fui sendo atraído, empurrado em direção à ela. Eu não a havia escolhido, foi Deus quem escolheu. Fui até a árvore e sentei-me embaixo dela. E à medida que eu me sentava e me acomodava no chão, as coisas começaram a se ajustar em mim. O universo inteiro se tornou uma bendição.

É difícil dizer por quanto tempo eu fiquei naquele estado. Quando voltei para casa, o horário passava de quatro horas da manhã; então, pelo tempo do relógio, eu devia ter estado lá por pelo menos três horas – mas pareceu infinito. Nada teve a ver com o tempo do relógio. Foi uma experiência atemporal. Aquelas três horas levaram uma eternidade inteira, uma eternidade sem fim. O tempo não passava porque simplesmente não existia; era uma realidade virgem/intacta – imaculada, intocável, imensurável.

E naquele dia aconteceu algo que, desde então, tem sido contínuo – não na qualidade de uma continuidade, um continuum –, mas de forma excepcional, totalmente original. Cada novo segundo não era resultante de um instante anterior – era desconectado, independente, vivo em si mesmo. E a cada momento isso tem acontecido de novo e de novo. Cada instante tem sido um milagre.

Naquela noite... e desde aquela noite nunca mais eu estive no corpo. Eu estou pairando sobre ele. Eu me tornei imensamente poderoso e ao mesmo tempo muito frágil. Eu fiquei muito forte, mas essa força não era a força de um Mohammed Ali. A potência que me refiro não é a força de uma pedra, é a força de uma flor de rosa – uma força tão sutil... tão suave, graciosa, delicada.

Com a pedra nada acontecerá, mas a flor pode desaparecer em segundos. Mesmo assim a flor é mais poderosa do que a pedra porque ela é mais avivada, mais cheia de vida. Ou o poder de uma gota de orvalho que brilha na folha de uma árvore – tão linda, tão preciosa, e ainda assim pode escorregar a qualquer momento. Tão incomparável em graça/perfeição, e basta apenas uma pequena brisa soprar para a gota de orvalho cair e se perder para sempre.

Os budas possuem uma força que não é deste mundo. A força deles está totalmente ligada ao amor... assim como a rosa ou a gota de orvalho. A força deles é muito frágil, vulnerável. É a força da vida, e não da morte. O poder dos budas não é um poder que mata; o poder deles consiste num poder criativo. Não é um poder violento, agressivo; a força deles está relacionada à compaixão.

Eu nunca mais estive no corpo outra vez, estive apenas pairando ao redor. E é por isso que eu digo que tem sido um tremendo milagre. A cada momento eu fico surpreso de ainda estar aqui, isso não deveria acontecer. Este momento está desconectado de tudo, e não há nenhuma garantia de que o próximo minuto – o próximo segundo! – estará aqui. A qualquer momento eu poderia deixar de existir, mas eu ainda estou aqui. Todas as manhãs eu abro os olhos e digo “Então, novamente, ainda continuo por aqui?”. Porque algo assim é quase impossível. O milagre tem sido contínuo.

Outro dia alguém veio até mim e perguntou: “Osho, você está tão cada vez mais frágil e delicado e sensível aos cheiros de óleos de cabelo e shampoos, que parece que nós não conseguiremos mais vê-lo a não ser que fiquemos todos calvos”. A propósito, não há nada de errado em ser calvo – ser careca é bonito. Assim como o preto é belo, a calvície também é bela. Mas é verdade! E você precisa tomar cuidado com isso, do contrário não poderá ver-me.

Eu sou frágil, delicado e sensível. Essa é a minha força. Se você atira uma pedra numa flor, nada irá acontecer à pedra, e a flor será destruída. Contudo você não poderá dizer que a pedra é mais poderosa do que a flor. A flor terá sido destruída porque ela possuía mais vida. E com a pedra – nada irá acontecer, porque a pedra é só um corpo bruto, matéria morta. A flor será devastada – irá se extinguir – porque a flor não possui força alguma de destruição. A flor irá meramente desaparecer e abrir caminho para a pedra. A pedra só tem poder de destruição porque ela é matéria morta, inanimada.

Lembre-se, desde aquele dia eu nunca mais estive no corpo; eu ainda permaneço unido a ele, mas é como se eu houvesse me separado um pouco de mim mesmo, passando a observar tudo como um simples expectador. Apenas um fio muito frágil, muito delicado, me mantém conectado com o corpo. E eu fico continuamente surpreso que de algum modo o Todo esteja desejando a minha presença aqui, porque eu não estou mais aqui por conta de minhas próprias forças. É a vontade do Todo que continua me mantendo aqui, de permitir que eu me demore um pouco mais neste porto. Talvez o Todo queira compartilhar algumas coisas mais com vocês, através de mim.

Daquele dia em diante o mundo se tornou irreal. Outro mundo me foi revelado. Ao afirmar que o mundo é irreal eu não estou dizendo que estas árvores não existem. Essas árvores são absolutamente reais – é o modo como vocês veem as árvores que as tornam irrealidade. As árvores não possuem irrealidade em si mesmas – elas existem em Deus, existem em absoluta realidade! – mas o modo como vocês as veem... vocês nunca viram as árvores; o que vocês veem é uma outra coisa, uma miragem.

Você cria seu sonho ao redor de você. E a menos que você abra os olhos, a menos que você desperte, você continuará sonhando. O mundo é irrealidade porque este mundo, que você conhece, é o mundo visto em seus sonhos. Quando o sonho acaba e você se depara com o mundo que está aí... eis então o mundo real.

Não existem duas coisas tais como Deus e o mundo. Deus é o mundo se você tiver olhos para ver, olhos limpos, nítidos, polidos... sem resquícios de sonho, sem ter a poeira dos sonhos em seus olhos. Se seus olhos estiverem abertos, se você estiver perceptivo o suficiente, verá que tudo o que existe é Deus.

Então em algum lugar Deus é uma árvore, em algum outro Deus é uma estrela cintilante, em outro é um ‘passarinho cuckoo’, e em algum outro é uma flor, uma criança, um rio – então somente Deus é. Quando você começa a ‘ver’, apenas Deus existe.

Mas neste momento o que quer que você esteja vendo não é a verdade, é uma mentira projetada. Essa é a significação de uma miragem. E uma vez que você possa ‘ver’, mesmo que seja apenas pela fresta de uma única fração de segundo, se você puder ‘ver’, se permitir a si mesmo notar/observar/testemunhar, você irá descobrir uma imensa bendição presente em todas as coisas, em todos os lugares – nas nuvens, no sol, na terra.

Este mundo é belo. Mas eu não estou falando do seu mundo, eu me refiro ao meu mundo. O seu mundo é um mundo feio, é um mundo criado por um self/um ego; o seu mundo é um mundo projetado. Você está usando o mundo real como uma tela, e está projetando suas próprias ideias nela.

Quando digo que o mundo é real e afirmo que o mundo é tremendamente belo, falo do mundo que é iluminado com a luz do infinito; um mundo que é só luz e deleite, uma grande celebração. Eu faço referência ao meu mundo – ou ao seu, se puder abandonar seus sonhos.

Ao abdicar/abandonar seus sonhos, você avista o mesmo mundo que todos os Budas sempre viram. Quando você sonha, você o faz particularmente. Já notou isso? – que sonhos são sempre particulares. Você não pode compartilhá-lo sequer com sua amada. Vocês não podem convidar suas esposas para entrar em seus sonhos – nem seus esposos ou amigos. É impossível dizer, “por favor, venha para os meus sonhos esta noite”. Eles são fenômenos particulares, realidades distintas. Sonhos não coexistem. Portanto o sonho é ilusório, e não possui realidade objetiva.

E Deus é uma coisa universal. E quando você acorda/sai de seus sonhos particulares, ei-lo ali! Ele sempre esteve lá. Uma vez que seus olhos estejam claros, uma iluminação súbita – de repente você é inundado com a beleza, a grandeza e a graça. Esse é o objetivo, é esse o destino.

Permita-me repetir: sem o esforço você nunca alcançará a iluminação. E apenas com esforço ninguém jamais conseguiu atingi-la. Você necessitará fazer um grande esforço, somente então o momento chega em que o esforço se torna completamente inútil. O caminho da verdade, o Tao, é entrega... é ausência de esforço. Isso não quer dizer que ele – o esforço – não seja necessário. Inicialmente o esforço é requerido. Você faz um grande esforço para viver de acordo com a Verdade; então, aos poucos, entende que seu grande esforço ajuda um pouco, mas dificulta bastante. Daí o esforço começa a ser abandonado. Você tenta arduamente viver de acordo com o Tao e, pouco a pouco, começa a compreender que nenhum esforço é necessário para viver de acordo com a natureza... do contrário o próprio esforço continua caindo como um peso sobre você. Mas ele só se torna fútil apenas quando você tiver chegado no auge, no pináculo de todo o seu empenho, nunca antes disso. Quando você tiver atingido o topo de todos os seus esforços – quando tiver feito tudo o que era possível fazer – então de repente não há mais a necessidade de fazer coisa alguma. Você abandona o esforço.

Mas ninguém renuncia o esforço na metade. Ninguém consegue. O esforço só pode ser renunciado na ponta dos extremos. Então se quiser abandoná-lo vá até o extremo. É por isso que insisto sempre: faça tantos esforços quanto puder, ponha toda sua energia e todo seu coração nisso para que você venha a ver – “agora o esforço não pode mais me levar a lugar algum”. E nesse dia não será você quem terá abandonado o esforço, mas o esforço terá caído por terra por conta própria. E quando ele cai por si só, sobrevém a meditação.

Meditação não é um resultado dos seus esforços, ela é um acontecimento. Quando seus esforços cessam, de repente lá está ela... toda a bendição, todas as bênçãos, toda a glória dela. É uma presença... luminosa, que abrange você e inclui todas as coisas. Perfaz a terra inteira e todo o céu.

Essa meditação não pode ser criada por esforços humanos. O esforço humano é muito limitado. Aquela bênção é tão infinita... Ninguém é capaz de manipulá-la. Ela acontece apenas quando você se solta, numa entrega tremenda, total. Quando você se torna um não-ser – sem desejos, sem lugar algum para onde ir – quando você está aqui e agora, não fazendo coisa alguma em particular, apenas sendo, a meditação acontece. Ela vem em ondas, e as ondas se tornam tidais. Vêm como uma tempestade e o levam embora para uma realidade totalmente nova.

Mas primeiro você tem de fazer tudo o que puder ser feito, e então você deve aprender a não-fazer. Ao aprender a ‘não-fazer’ você terá feito o maior dos fazeres! E o esforço para o ‘não-esforço’ é o maior dos esforços.

A meditação que você cria pela recitação/canto de um mantra, ou por forçar a si mesmo a sentar-se em silêncio, é uma meditação bem medíocre. Ela é criada por você, portanto não pode ser algo maior do que você, e o criador é sempre maior do que a sua criação. Você criou sua meditação, forçando-se numa certa postura de yoga, cantando ‘rama, rama, rama’ ou alguma outra coisa – “blá, blá, blá” – qualquer coisa. Você forçou a mente a ficar quieta, em silêncio.

É um silêncio forçado. Não é a quietude que surge de quando você ‘não é’. Não é aquele silêncio mágico que aparece quando você é quase ‘não-existencial’. Não é como a beatitude que desce sobre você como uma pombinha.

Conta-se que quando Jesus foi batizado por João Batista no Rio Jordão, Deus desceu sobre ele, ou o Espírito Santo veio sobre ele em forma de pomba. Sim, é exatamente assim que acontece. Quando você ‘não é’ a paz desde sobre você... pairando como uma pomba... até o seu coração, fazendo morada e habitando ali para sempre.

Você é a sua atividade, você é a barreira. A meditação só 'é' quando o meditador 'deixa de ser'. Quando a mente cessa com todas as suas atividades – percebendo que são todas fúteis/vãs – então o desconhecido vem e desce, submergindo-o completamente.

A mente deve parar à fim de que Deus possa ser. O conhecimento deve cessar para que a sabedoria seja. Você precisa desaparecer, precisa desistir. Você deve se tornar ‘vazio’ para que, somente então, possa ser preenchido.

Naquela noite eu me tornei vazio e fui totalmente preenchido. Tornei-me ‘não existencial’ e tornei-me a existência. Naquela noite eu morri e renasci. Mas o que renasceu absolutamente nada tem a ver com o que morreu; é algo completamente descontínuo/desconexo. No plano da superfície parece haver continuidade, mas não há. Aquele que morreu, morreu totalmente, não sobrou nada dele.

Acredite em mim: nada permaneceu, nem mesmo a sombra. Ele morreu inteiramente, completamente. Eu não sou um ser alterado, transformado, modificado à partir do antigo. Não! não há elos. Naquele dia de vinte e um de março, a pessoa que vinha vivendo por muitas vidas, durante milênios, simplesmente morreu. Outro ser, absolutamente novo, desprovido de qualquer conexão com o velho, começou a existir.

A religião lhe oferta uma morte total. Talvez seja por isso que durante todo o dia anterior àquele acontecimento, me sobreveio um sentimento da morte, como se eu fosse morrer – e eu de fato morri. Eu conheci vários tipos de mortes, mas elas não eram nada se comparadas àquela; foram mortes parciais.

Algumas vezes o corpo morreu, outras vezes uma parte da mente morria; em outras, uma parte do ego... mas, até onde a pessoa importava, algo permaneceu. E renovou-se muitas vezes, decorou-se muitas vezes, enfeitou-se muitas vezes, mudou um pouquinho aqui e ali, mas algo permaneceu, a continuidade permaneceu.

Naquela noite a morte foi total. Foi um encontro concomitante com a morte e com Deus."




OSHO - Extraído de "The Discipline of Transcendence"; vol. 2; cap. 11.

sexta-feira, junho 12, 2015

Surdo, Mudo e Cego (Osho) - 2/2


- Osho -
*Acesse a primeira parte do texto clicando aqui


Agora nós devemos compreender esta bela história: Surdo, Mudo e Cego...

Gensha queixou-se aos seus seguidores um dia: "Outros mestres estão sempre falando da necessidade de salvar a todos – mas suponha que você encontre uma pessoa que seja surda, muda e cega: ela não poderá ver os seus gestos, ouvir sua pregação ou fazer perguntas a respeito. E, incapaz de salvá-la, você vai provar a si mesmo que é um budista sem valor".

Mestres geralmente não se queixam, mas quando eles se queixam isso significa alguma coisa. Aqui não é apenas Gensha reclamando, são todos os mestres reclamando. Mas essa é a experiência deles, porque onde quer que você vá você encontra pessoas surdas, mudas e cegas, porque toda a sociedade é assim. E como salvá-las? Elas não podem ver, não podem ouvir, não podem sentir, não podem compreender nenhum gesto. Se você tentar demais salvá-las, elas vão fugir. Elas vão pensar: "Este homem está atrás de alguma coisa, ele quer me explorar ou ele quer aplicar um golpe". Se você não faz muito por elas, elas sentem: "Este homem não é para mim, porque ele não está se importando o suficiente." E qualquer coisa que se faça, elas não conseguem entender.

Esta não é a história de Gensha, porque pessoas iluminadas nunca reclamam por si mesmas. Essa queixa é geral, é assim que acontece. Alguém como Jesus se sente da mesma maneira, alguém como Buda se sente da mesma maneira. Onde quer que você vá, você tem que encontrar pessoas que são surdas, mudas e cegas. Você faz gestos... e elas não podem ver, ou pior ainda, elas veem outra coisa. Você conversa com elas, e elas não conseguem entender, ou, ainda pior, elas compreendem mal. Você diz algo, elas entendem outra coisa, porque o significado não pode ser transmitido através de palavras. Apenas as palavras podem ser comunicadas, o significado tem de ser fornecido pelo ouvinte.

Se eu digo uma palavra, eu quero dizer uma coisa. Mas se dez mil pessoas estão ouvindo, haverá dez mil significados, porque cada uma irá ouvir conforme sua cabeça, o seu preconceito, o seu conceito e filosofia e religião. A pessoa vai ouvir a partir do seu condicionamento, e seu condicionamento vai fornecer o significado.

É muito difícil, praticamente impossível. É como se você fosse a um hospício e conversasse com as pessoas. Como você vai se sentir? Isso é o que Gensha sente, essa é a queixa.

Essa é a minha reclamação também. Trabalhando com você, eu sempre sinto um bloqueio. Ou seus olhos estão bloqueados, ou os seus ouvidos estão bloqueados, ou o seu nariz está bloqueado, ou o seu coração está bloqueado. Num lugar ou noutro, algo está bloqueado, está petrificado. E é difícil penetrar, porque se eu forçar demais para penetrar nesse bloqueio, você fica com medo – por que estou tão interessado? Se eu não faço muito, você se sente negligenciado. É assim que funciona uma mente ignorante. Faça isso, e ela interpretará mal; faça aquilo, e ela também entenderá mal. Uma coisa é certa: ela vai entender mal.

Gensha queixou-se aos seus seguidores um dia: "Outros mestres estão sempre falando da necessidade de salvar a todos".

Buda disse que, quando você está salvo, a única coisa a fazer é salvar os outros. Quando você atingiu a iluminação, a única coisa a fazer é espalhar isso para os outros, porque todo mundo está lutando. Todo mundo está avançando aos tropeços no caminho, todo mundo está avançando sabendo ou não sabendo, e você atingiu. Ajude os outros.

E isso é uma necessidade também, uma necessidade interior de energias, porque um homem que se tornou iluminado terá de viver alguns anos, porque a iluminação não é um destino; ela não é fixa, não é causada. Quando ela acontece, nem sempre é necessariamente quando o corpo morre. Não há necessidade de que esses dois acontecimentos (iluminação e morte do corpo) aconteçam juntos. Na verdade, é quase impossível, porque a iluminação é um fenômeno súbito, sem causa. Você se empenha para atingi-la, mas isso nunca acontece através de seu empenho. Seu empenho ajuda a criar a situação, mas isso acontece por meio de outra coisa – essa outra coisa é chamada "graça". É um presente da existência, não é produto de seus esforços; eles não causam isso. É claro que eles criam uma situação: eu abro a porta e a luz entra. Mas a luz é uma dádiva do Sol. Eu não posso criar a luz apenas abrindo a porta. A abertura da porta não é motivo para isso. A não abertura da porta era um obstáculo, mas a abertura da porta não é a causa. Eu não posso causar. Se você abrir a porta e for de noite, a luz não entrará. Abrir a porta não é criar a luz, mas fechando a porta você atrapalha.

Assim, todos os esforços que você fizer para a realização consistem apenas em abrir a porta. A luz vem quando vier. Você tem que ficar com a porta aberta de modo que, sempre que ela vier, sempre que ela bater à sua porta, você estará lá e a porta estará aberta para que a luz possa entrar. É sempre uma dádiva – e tem que ser assim, porque se você puder alcançar o supremo através dos seus esforços, será um absurdo. A mente limitada se esforçando... como ela pode encontrar o infinito? Com uma mente finita se esforçando, todos os esforços serão finitos. Como pode o infinito acontecer através de esforços finitos? A mente ignorante está se esforçando, e esses esforços são feitos na ignorância; como eles podem mudar, transformar-se em iluminação? Não, não é possível.

Você se esforça; os esforços são necessários, eles preparam você, eles abrem a porta – mas a coisa acontece quando acontece. Você permanece disponível. Deus bate várias vezes à sua porta, o Sol nasce todos os dias. E lembre-se, em nenhum outro lugar é dito o que agora eu vou de dizer a você, algo que poderá ajudá-lo. Isso não é dito porque, se você não entender, isso pode se tornar um obstáculo também. Existe um dia para Deus e existe uma noite também. Se você abrir a porta à noite, a porta permanecerá aberta, mas Deus não virá. Há um dia – se você abrir a porta no momento certo, imediatamente Deus vem.

E tem que ser assim, porque toda a existência tem opostos. Há também um período de descanso para Deus, no qual ele dorme. Se você abrir a porta, ele não vai vir. Há um momento em que ele está acordado, quando ele está em movimento – tem que ser assim, porque toda a energia se move através de dois opostos: descanso e movimento; e Deus é energia infinita! Ele tem movimentos e tem um descanso. É por isso que um mestre é necessário.

Se você fizer isso por conta própria, você pode estar trabalhando duro e nada estar acontecendo, porque você não está trabalhando no momento certo. Você está trabalhando durante a noite... você abre a porta e só entra escuridão. Com medo, você a fecha novamente. Você abre a porta e não há nada, só um imenso vazio ao redor. Você fica com medo, você a fecha novamente, e depois que você vê esse vazio, você nunca se esquece – e você vai ter tanto medo que vai demorar muitos anos para reunir coragem novamente para abri-la. Porque... depois de ver o abismo infinito, quando Deus está dormindo, quando Deus está em repouso – se você vê esse momento de negatividade infinita e abismo e escuridão –, você vai ficar com tanto medo, que por muitos anos você não vai fazer outra tentativa.

E eu sinto que muitas pessoas têm medo de ir para a meditação – eu sei que em algum lugar em sua vida passada, elas fizeram algum esforço e tiveram um vislumbre do abismo no momento errado. Elas podem não saber, mas inconscientemente o medo está lá, então sempre que chegam perto da porta e põem a mão na maçaneta e torna-se possível abrir a porta, elas ficam com medo. Elas voltam exatamente nesse momento, imediatamente correm de volta – elas não a abrem, Um medo inconsciente as aflige. Tem que ser assim, porque há muitas vidas você vem lutando e se esforçando.

Daí a necessidade do mestre. Um mestre é aquele que sabe, aquele que atingiu a iluminação. Ele conhece o momento certo. Ele irá dizer a você para fazer todos os esforços quando for a noite de Deus. E não vai lhe dizer para abrir a porta. Ele irá lhe dizer para se preparar no meio da noite: prepare-se tanto quanto possível para estar pronto e, quando a manhã romper e os primeiros raios surgirem, ele irá lhe dizer para abrir a porta. De repente, a iluminação! Então, é totalmente diferente, porque quando existe luz é totalmente diferente.

Quando Deus está acordado, o vazio não existe. É uma realização; é perfeita plenitude. Tudo está preenchido, mais do que preenchido, é perfeição sempre fluindo. É o pico, e não o abismo. Se você abrir a porta no momento errado, é o abismo. Você vai ficar tonto, tão tonto que, por muitas vidas, você nunca vai tentar reabri-la. Mas só aquele que sabe, só aquele que se tornou uno com Deus, só aquele que sabe quando é noite e quando é dia, pode ajudar; porque agora dia e noite acontecem nele também – ele tem uma noite, ele tem um dia.

Os hindus tiveram um vislumbre disso, e eles têm uma bela hipótese: chamam isso de dia de Brahma, o dia de Deus. Quando a criação acontece, eles a chamam de dia de Deus. Mas mesmo a criação tem um limite de tempo, e a criação se dissipa; então, a noite de Brahma, a noite de Deus, se inicia. Doze horas de dia de Brahma é toda a criação. Depois, exaurida, toda a existência desaparece na inexistência. Então, por doze horas é noite de Brahma. Para nós é de milhões e bilhões de anos, mas para Deus é de doze horas – o seu dia.

Os cristãos também tinham uma teoria, ou uma hipótese – porque eu chamo todas as teorias religiosas de hipóteses, pois nada é provado, nada pode ser provado pela própria natureza da coisa. Dizem que Deus criou o mundo em seis dias e, em seguida, no sétimo dia, descansou. é por isso que o domingo é um dia de descanso, de férias. Durante seis dias ele criou, e no sétimo dia descansou. Eles tinham uma visão de que mesmo Deus devia descansar.

Essas são duas hipóteses, ambas lindas, mas você tem que encontrar a essência disso. O essencial é que, todos os dias, Deus tem um dia e uma noite. E todos os dias há um momento certo para entrar e um momento errado; no momento errado você dá de cara com a parede; no momento certo você simplesmente entra. Por causa disso, aqueles que bateram no momento errado dizem que atingir a iluminação é uma coisa gradual, você a atinge em etapas; e aqueles que vieram até a porta no momento certo dizem que a iluminação é súbita, acontece num instante. Um mestre é necessário para decidir quando é o momento certo.

Contam que Vivekananda começou o seu discipulado e então um dia alcançou o primeiro vislumbre. Você pode chamar isso de satori, a palavra zen para samadhi, porque é uma visão, não é uma coisa permanente. É como se as núvens não estivessem lá no céu – o céu está claro e de uma distância de mil quilômetros você tem um vislumbre do Everest em toda a sua glória, mas, em seguida, o céu fica nublado e o vislumbre se esvai. Não é realização, não se atingiu o Everest, você ainda não alcançou o topo; de milhares de quilômetros você teve um vislumbre – isso é satoriSatori é um vislumbre do samadhi. Vivekananda teve um satori.

No ashram de Ramakrishna havia muitas pessoas, muitas pessoas estavam trabalhando. Um homem, seu nome era Kalu - um homem muito simples, muito inocente -, também trilhava e se empenhava em seu próprio caminho. E Ramakrishna aceitou todos os caminhos. Ele era um homem raro, ele aceitou todas as técnicas, todos os métodos, e ele disse que todo mundo tem que encontrar o seu próprio caminho, não existe uma superestrada. E isso é bom, caso contrário haveria um engarrafamento! Portanto isso é bom, você pode trilhar o seu próprio caminho. Não há mais ninguém lá para criar problema ou deixar tudo lotado.

Aquele Kalu era um homem muito simples. Ele tinha pelo menos cem deuses – como os hindus são amantes de muitos deuses, um não é suficiente para eles. Então, eles vão colocando em seu altar este deus, aquele deus, todos que podem encontrar. Não há nada de errado nisso; se você o ama, tudo bem. Mas Vivekananda era um intelectual lógico, muito arguto, inteligente. Ele sempre discutia com esse homem inocente e ele não conseguia responder. Vivekananda disse: "Por que esse absurdo? Um é suficiente, e as escrituras dizem que eles são todos um, então porque centenas de deuses?". E eles era de todos os tipos e formas, e Kalu tinha que trabalhar com esses deuses pelo menos durante três horas pela manhã e três à noite. E isso tomava o dia todo – porque com todos os deuses ele tinha que trabalhar –, e por mais rápido que ele trabalhasse, levava três horas pela manhã e três horas à noite. Mas ele era um homem muito, muito silencioso, e Ramakrishna o amava.

Vivekananda sempre discutia: "Jogue esses deuses fora!". Quando teve um vislumbre de satori, ele se sentiu muito poderoso. De repente, surgiu-lhe a ideia de que, com esse poder, se ele simplesmente enviasse uma mensagem telepática para Kalu dizendo para que ele pegasse todos os seus deuses e os jogasse no Ganges – e ele estava prestando culto em seu quarto, era a hora da adoração – isso iria acontecer.

Ele simplesmente enviou a mensagem. Kalu era realmente um homem simples. Ele reuniu todos os seus deuses num lençol e os levou para o Ganges. Mas naquele momento Ramakrishna estava chegando, e disse: "Espere! Não é você quem vai jogá-los. Volte para o seu quarto e coloque-os no lugar". Mas Kalu disse: "Chega! Acabou!"

Ramakrishna disse: "Espere! Venha comigo!".

Ele bateu na porta de Vivekananda. Vivekananda abriu a porta e Ramakrishna disse: "O que você fez? Isso não é bom e esse não é o momento certo para você. Então eu vou tirar a sua chave de meditação e mantê-la comigo. Quando chegar o momento certo eu vou dá-la a você". E, por toda a sua vida, Vivekananda tentou de milhões de maneira atingir a iluminação, mas ele não conseguiu esse vislumbre de novo.

Pouco antes de morrer, três dias antes, Ramakrishna apareceu em sonho e deu-lhe a chave. Ele disse: "Agora você pode pegar a have. Agora, chegou o momento certo para você abrir a porta". 

E no dia seguinte de manhã ele teve o segundo vislumbre.

Um mestre sabe quando é a hora certa. Ele ajuda você, prepara-o para o momento certo, e ele vai lhe dar a chave quando o momento certo chegar. Então você simplesmente abre a porta e o divino entra – porque se você abrir a porta e entrar na escuridão, isso será parecido com a morte, não com a vida. Não há nada de errado nisso, mas você vai ficar com medo, e você pode ficar tão assustado que pode carregar esse medo para todo o sempre.

Buda diz que sempre que uma pessoa atinge a iluminação, começa a ajudar os outros, porque todas as suas energias que estavam se movendo para o desejo... agora essa porta está aberta, essa jornada não existe mais, essa viagem não existe mais. Agora deixe que todas as suas energias, que antes estavam se movendo para o desejo, vasana, tornem-se compaixão, deixe que se tornem karuna. E só existe uma compaixão – como ajudar o outro a alcançar o supremo, porque não há nada mais a ser alcançado. Tudo o mais é besteira. Só o divino vale apena alcançar. Se conseguir alcançar isso, você alcançou tudo; se você perder isso, terá perdido tudo.

Quando uma pessoa se torna iluminada, ela vive por alguns anos antes de o corpo completar o seu ciclo. Buda viveu por quarenta anos, porque o corpo tinha chegado a um momento especial: dos pais o corpo tinha conseguido os cromossomos, a carga genética; e do seu próprio karma passado o corpo tinha começado um ciclo de vida. Ele deveria viver oitenta anos, iluminado ou não. Independente de a iluminação acontecer, ou não, ele teria de viver oitenta anos. Aconteceu quando ele tinha em torno de 40 anos, e ele viveu mais quarenta anos. O que fazer com as energias agora? Agora não há desejo, não há ambição. E você tem energias infinitas fluindo. O que fazer com essas energias? Elas podem ser aplicadas na compaixão. Agora também não há nenhuma necessidade de meditação; você atingiu, você está transbordando – agora você pode compartilhar. Você pode compartilhar com milhões de pessoas, você pode dar isso a elas.

Então Buda fez com que isso se tornasse uma parte básica do seu ensinamento. Ele chama a primeira parte de dhyana, meditação, e a segunda parte de prajna, atingir a sabedoria. Por meio da meditação, você chega à prajna. Estes são os seus dois fenômenos interiores: primeiro você meditou, depois você atingiu. Agora, para equilibrar o interior com o exterior – porque um homem de iluminação é sempre equilibrado. Antes, fora de você - quando não havia meditação interior, nem sabedoria -, havia o desejo. E agora, que em você há uma sabedoria interior, deve haver compaixão. As energias externas devem se tornar compaixão. As energias internas se converteram em sabedoria, iluminação. Iluminação dentro, compaixão fora. O homem perfeito é sempre equilibrado. Por isso Buda diz: continue e ajude a salvar as pessoas.

Gensha queixava-se: como fazer isso se você encontra alguém que é surdo, mudo e cego? E você quase sempre se depara com pessoas assim, porque elas simplesmente existem. Você não se depara com um buda – e um buda não precisa de você. Você se depara com uma pessoa impotente, ignorante, sem saber o que fazer, sem saber para onde ir. Como ajudá-la?

Incomodado com essas palavras, um dos discípulos de Gensha foi consultar o mestre Ummon.

Ummon era um discípulo irmão para Gensha; eles eram discípulos do mesmo professor, Seppo. Então o que fazer? Gensha disse uma coisa tão preocupante para esse homem: como ajudar as pessoas? Ele foi procurar Ummon.

Ummon é um mestre muito famoso. Gensha era um mestre muito silencioso. Mas Ummon tinha milhares de discípulos e ele tinha muitos recursos para trabalhar com eles. Ele criava situações, porque só as situações pode ajudar. Se você for estúpido, surdo... palavras simplesmente não poderão ajudar. Se você é cego, os gestos serão inúteis. Então o que fazer? Somente as situações podem ajudar.

Se você é cego, não poderei lhe mostrar a porta através de gestos, porque você não pode ver. Eu não posso lhe falar sobre a porta, porque você é surdo e não pode ouvir. Na verdade, você não pode nem mesmo fazer a pergunta: "Onde está a porta?". Isso é assim porque as pessoas conseguem ser estúpidas desse tanto. O que fazer? Eu tenho que criar uma situação.

Eu posso ter de segurar a sua mão, eu posso pegar você pela mão e levá-lo em direção à porta. Nenhum gesto, nenhuma palavra. Eu tenho que fazer alguma coisa; eu tenho que criar uma situação em que os mudos, os surdos e os cegos possam avançar.

Incomodado com essas palavras, um dos discípulos de Gensha foi consultar o mestre Ummon.

... Porque ele sabia muito bem que Gensha não diria muito; ele não era um homem de muitas palavras e ele nunca criou nenhuma situação; ele diria coisas e ficaria quieto. As pessoas tinham que procurar outros mestres para perguntar o que ele queria dizer. Ele era um tipo diferente, um tipo silencioso de homem, como Ramana Maharshi; ele não diria muito. Ummon também não era um homem de palavras, mas ele criaria situações; se ele usasse as palavras, seria apenas para criar situações.

Ele foi consultar o mestre Ummon que, como Gensha, era discípulo de Seppo.

E Seppo foi totalmente diferente de ambos. Dizem que ele nunca falava. Ele permaneceu completamente silencioso. Portanto, não havia problema para ele – ele nunca se deparara com um homem surdo, mudo e cego, porque ele nunca saía dali. Somente as pessoas que estavam intensamente na busca espiritual, apenas as pessoas cujos olhos estavam ligeiramente abertos, apenas as pessoas que fossem surdas mas que seriam capazes de ouvir alguma coisa caso você falasse alto... é por isso que muitas pessoas tornavam-se iluminadas perto de Seppo, porque somente aqueles que era casos limítrofes atingiam a iluminação.

Esse Ummon e esse Gensha, esses dois discípulos tornaram-se iluminados com Seppo, um homem totalmente silencioso; eles simplesmente se sentavam, e se sentavam e não faziam nada. Se queria aprender, você poderia ficar com ele; se você não queria, você podia ir embora. Ele não dizia nada. Você tinha que aprender, ele não iria ensinar. Ele não era um professor, mas muitas pessoas aprenderam.

O discípulo foi até Ummon.

"Curve-se, por favor", disse Ummon.

Ele começou imediatamente, porque as pessoas que são iluminadas não perdem tempo, elas simplesmente vão direto ao ponto, imediatamente.

"Curve-se, por favor", disse Ummon.
O monge embora tomado de surpresa...

Porque... não é assim que acontece! Na tradição zen, ninguém pede a ninguém para se curvar. E não há necessidade. Se alguém quer se curvar, vai se curvar, se quer lhe prestar respeito, vai prestar. Se não quer, então não vai. Que tipo de homem é esse Ummon? Ele diz "Curve-se, por favor", antes de o monge perguntar qualquer coisa; ele apenas entrou em seu quarto, e Ummon diz: "Curve-se, por favor".

O monge, embora tomado de surpresa, obedeceu à ordem do mestre – então aprumou-se na expectativa de ter a sua pergunta respondida.
Mas, em vez de uma resposta, recebeu um golpe de cajado. Ele saltou para trás. 
"Bem", disse Ummon, "você não é cego. Agora se aproxime".

Ele disse: Você pode ver o meu cajado, então uma coisa é certa: você não é cego.

Agora se aproxime.

O monge fez como lhe foi ordenado. "Bom", disse Ummon, "você também não é surdo.

Você pode ouvir: Eu digo aproxime-se e você se aproxima.

"Bem, entendeu?"
"Entendeu o que, senhor?", disse o monge.

O que ele está dizendo? Ele diz:

"Bem, entendeu?".
"Entendeu o que, senhor?", disse o monge.
"Ah, você também não é burro!", disse Ummon.
Ao ouvir essas palavras, o monge despertou de um sono profundo.

O que aconteceu? O que Ummon está apontando? Primeiro ele está dizendo que, se não é um problema seu, por que se preocupar? Há pessoas que vem a mim...

Um homem muito rico veio, um dos mais ricos da Índia, e disse: "E os pobres, como você vai ajudar os pobres?". Então, eu disse a ele: "Se você é pobre, então pergunte; caso contrário, deixe que os pobres perguntem. Por que isso é um problema para você? Você não é pobre, então por que criar um problema por causa disso?".

Uma vez o filho de Mulá Nasrudin perguntou a ele... eu estava presente, e a criança estava se esforçando muito, resmungando, é claro, para fazer o dever de casa, e então de repente ele olhou para Nasrudin e disse: "Pai, o que é essa coisa de educação? Para quê serve toda essa educação afinal?"

Nasrudin disse: "Bem, não há nada como a educação. Ela torna você capaz de se preocupar com todos os outros no mundo, exceto com você mesmo".

Não há nada como a educação. Toda a sua educação simplesmente torna você capaz de se preocupar com situações em todo o mundo, relativas a todos exceto a você mesmo – com todos os problemas que existem no mundo. Eles sempre existiram, eles sempre vão existir. Não é porque você está aqui que os problemas estão lá. Você não estava aqui e eles estavam lá; logo você não vai mais estar aqui e eles continuarão lá. Eles mudam de cor, mas permanecem. O próprio esquema do universo é tal que parece que por meio dos problemas e da miséria algo está crescendo. Parece ser um passo, parece ser uma instrução necessária, uma disciplina.

A primeira coisa que Ummon está apontando é: Você não é cego, nem mudo, nem surdo – então por que está preocupado e por que está aborrecido? Você tem olhos: por que perder tempo pensando nos cegos? Por que não olha para o seu mestre? Porque os cegos sempre vão existir, seu mestre não vai existir para sempre. E você pode pensar nos cegos e surdos e se preocupar com eles, em como salvá-los, mas o homem que pode salvar você não vai estar aí para sempre. Então se preocupe consigo mesmo.

Minha experiência também diz que as pessoas estão preocupadas com os outros. Uma vez um homem me fez exatamente a mesma pergunta. Ele disse: "Nós podemos ouvir você, mas o que acontece com aqueles que não podem vir e ouvir, o que fazer? Podemos ler sobre você, disse ele, mas o que acontece com aqueles que não podem ler?"

Eles parecem relevantes, mas são absolutamente irrelevantes. Porque, qual a razão de você estar tão preocupado? E se você está preocupado assim, então você nunca pode se tornar iluminado, porque uma pessoa que vive desperdiçando e dissipando sua energia com os outros, nunca olha para si mesma. Esse é um truque da mente para escapar de si mesma. Você pensa nos outros e se sente muito bem, porque está se preocupando com os outros. Você é um grande reformador social ou revolucionário ou um utopista, um grande servo da sociedade, mas o que você está fazendo? Você está simplesmente evitando a questão básica: é com você que algo deve ser feito.

Esqueça toda a sociedade, e só então algo pode ser feito a você. E quando você for salvo, pode começar a salvar os outros. Mas, antes disso, por favor não pense em fazê-lo – é impossível. Antes de estar curado, você não pode curar ninguém. Antes de estar cheio de luz, você não pode ajudar ninguém a inflamar o próprio coração. Impossível! Apenas uma chama acesa pode ajudar alguém. Primeiro torne-se uma chama acesa – esse é o primeiro ponto.

E o segundo ponto é: Ummon criou uma situação. Ele poderia ter dito isso, mas ele não o disse; ele está criando uma situação, pois somente numa situação você está totalmente envolvido. Se eu disser algo, só o intelecto está envolvido. Você escuta com a cabeça, mas suas pernas, seu coração, seus rins, seu fígado, sua totalidade não estão envolvidos. Mas quando o monge bateu nele com o cajado, ele saltou totalmente. Então a ação foi total; então, não só a cabeça e as pernas, os rins, o fígado, mas todo o seu ser saltou.

Esse é o objetivo de minhas técnicas de meditação: o todo de você tem de tremer, saltar, todo o seu ser tem que dançar, todo o seu ser tem que se mover. Se você simplesmente se sentar com os olhos fechados, apenas a cabeça estará envolvida. Você pode continuar por um longo período dentro da cabeça – e há muitas pessoas que continuam se sentando por anos juntas, apenas com os olhos fechados, repetindo um mantra. Mas o mantra circula só na sua cabeça, sua totalidade não está envolvida – e sua totalidade é o requisito necessário, porque a existência esté sempre envolvida com a totalidade. A existência não se relaciona com "partes", porque ela sempre está envolvida com a totalidade. Sua cabeça está em Deus tanto quanto o seu fígado e os seus rins e os seus pés. Você está totalmente nele, e a cabeça sozinha não pode perceber tudo isso.

Qualquer coisa intensamente ativa será útil. Inativo, você pode ficar apenas dando voltas dentro da mente. E elas não têm fim, os sonhos, os pensamentos, eles não tem fim. Eles prosseguem infinitamente.

Kabir disse: Existem dois infinitos no mundo – um é a ignorância e o outro é Deus. Duas coisas são infinitas: Deus é infinito, e a ignorância é infinita. Você pode continuar repetindo um mantra, mas isso não vai ajudar a menos que toda a sua vida se torne um mantra, a menos que você esteja completamente envolvido nisso – sem se conter, sem divisão. Isso é o que Ummon fez. O monge bateu com o cajado nele.

"Bem", disse Ummon, "você não é cego. Agora se aproxime".
O monge fez como lhe foi ordenado. 
"Bom", disse Ummon, "você também não é surdo."

O que ele está enfatizando? Ele está enfatizando o seguinte: "Você pode entender, então por que perder tempo?". Então ele pergunta: "Bem, entendeu?". Ummon tinha acabado. A situação estava completa. Mas o discípulo ainda não estava pronto, não tinha chegado ao ponto. Ele perguntou: "Entendeu o quê, senhor?". A coisa toda estava ali agora. Ummon tinha dito tudo o que havia para ser dito. E ele tinha criado uma situação onde os pensamentos não existiam: quando alguém bate em você com um cajado, você salta sem pensar. Se você acha que não pode saltar, no momento em que você decidisse saltar, o cajado teria batido em você. Não haveria tempo.

A mente precisa de tempo, o pensamento precisa de tempo. Quando alguém bate em você com um cajado, ou se de repente você encontrar uma cobra em seu caminho, você salta! Você não pensa, você não faz um silogismo lógico, você não diz: "Aqui há uma cobra, a cobra é perigosa, a morte é possível, eu devo saltar". Você não segue Aristóteles ali. Você simplesmente coloca Aristóteles de lado – você salta! Você não se importa com o que Aristóteles diz, você é ilógico. Mas sempre que você é ilógico, você é total.

Foi isso que Ummon disse. Você salta totalmente. Se você consegue saltar totalmente, por que não medita totalmente? Quando batem em você com um cajado, você salta sem se importar com o mundo. Você não pergunta: "Tudo bem, mas o que dizer de um homem cego? Se você bater com o cajado, como isso vai ajudar o cego?". Você não faz uma pergunta – você simplesmente salta, você simplesmente evita a pancada. Naquele momento o mundo inteiro desaparece, só você é o problema. E o problema está ali: você tem que resolvê-lo e sair dele.

"Entendeu?" – Foi isso o que Ummon perguntou. O ponto está completo.

"Entendeu o quê, senhor?", disse o monge.

Ele ainda não conseguiu.

"Ah, você também não é burro!", você pode falar também.
Ao ouvir estas palavras, o monge despertou de um sono profundo.

A situação toda – não verbal, ilógica, total. Como se alguém fosse sacudido até acordar de seu sono. Ele acordou; por um momento, tudo ficou claro. Por um momento houve um relâmpago, não havia escuridão. Satori aconteceu. Agora o sabor está lá. Agora, esse discípulo pode seguir o sabor. Agora, ele sabe; ele jamais poderá se esquecer. Agora, a busca será totalmente diferente. Antes disso, era uma busca por algo desconhecido – e como você pode procurar por algo desconhecido? E como você pode renunciar a toda a sua vida por isso? Mas agora ela vai ser total, agora não é algo desconhecido – um vislumbre foi dado a ele. Ele provou o oceano, talvez de uma xícara de chá, mas o  gosto é o mesmo. Agora ele sabe. Foi realmente uma pequena experiência – uma janela aberta, mas todo o céu estava lá. Agora, ele pode sair de casa, sair sob o céu e viver nele. Agora ele sabe que a questão é individual.

Não faça dela algo social. A questão é você, e quando eu digo você, eu quero dizer você, cada um individualmente; não como um grupo, não você como sociedade. Quando eu digo você, eu me refiro a você simplesmente, ao indivíduo – e o truque da mente é fazer desse eu algo social. A mente quer se preocupar com os outros, então não há nenhum problema. Você pode adiar o seu próprio problema; é assim que você vem perdendo a sua vida há muitas vidas. Não a desperdice mais.

Estou travando essas conversas, mais sutis do que as de Ummon, mas se você não me ouvir, talvez eu tenha que encontrar coisas mais grosseiras.

Não pense demais. Primeiro resolva o seu problema, então você vai ter clareza para ajudar os outros também. E ninguém pode ajudar a menos que tenha iluminado a si mesmo.

Basta por hoje.